A entrevista destaca 3 principais pontos:
1) A Junta de Freguesia de S. Vítor tem desenvolvido projetos nas áreas da educação, desporto e apoio social com poucos recursos, recebendo um prémio por boas práticas.
2) Defende a reorganização administrativa das freguesias de forma pacífica, reconhecendo a importância das pequenas freguesias.
3) Gostaria de ver implementado um fórum cívico em S. Vítor para dar resposta a necessidades sociais, culturais e
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SEGUNDA-FEIRA, 19 de março de 2012
Entrevista Diário do Minho/Rádio FF ao presidente da Junta de S. Victor
Ninguém nos apanha a choramingar
DR
A entrevista a Firmino ação social e a solidariedade, cendo o nosso passado, pro-
Marques afirma o dinamis- a cultura, mesmo o despor- jetando o futuro, mas viven-
mo empreendedor da Jun- to, não têm fronteiras, embo- do intensamente o presente.
ta de Freguesia de S. Vic- ra façamos uma planificação É uma fórmula que respon-
muito objetiva para a nossa de aos que dizem que não é
tor. Ninguém nos apanha
comunidade. possível cumprir este plano
a choramingar – garante.
com tão pouco dinheiro. Ain-
Em vez de lamentações, a LM Em questões de educa- da nos sobra vontade, força
Junta concretiza obras nos ção, por exemplo. e até dinheiro para fazermos
domínios da educação, do FM Nós trabalhamos com as mais, no ano seguinte.
desporto, do âmbito social, escolas básicas e jardins de
nomeadamente no apoio à infância. O ensino básico 1 e LM Isso é que é um exem-
família, o que leva a gerir, os jardins de infância depen- plo..
com todo o rigor, os recur- dem financeiramente das jun- FM De facto. Ninguém nos
tas de freguesia, para mate- apanha a choramingar. Esta-
so disponíveis. Daí o prémio
rial, limpeza e expediente. É mos num momento de gran-
de boas práticas administra-
assim que esta consignado de crise, mas as dificuldades
tivas que lhe foi atribuído em lei. Quando se acrescen- geram sempre boas oportu-
pelo anterior Governo. tou esta responsabilidade às nidades e respostas. Queria
Firmino Marques destacou contributo que as juntas podem dar à comunidade
A entrevista pode ser ou- juntas de freguesia, o acrés- dizer-lhe que nós fazemos
vida integralmente no site cimo, em termos verbas, ci- grande cumplicidade entre na freguesia, embora não seja FM É um desafio que deixo questão de celebrar a vida,
da Rádio FF, www.facfil.bra- frou-se em mais 150%. agentes educativos, famílias natural de S. Vítor, o nosso sempre aos membros das as- ao contrário do que se con-
ga.ucp.pt e a junta de freguesia. amigo Luís de Matos. Uma sembleias das freguesias que sagrou em lei ao institucio-
LM Foi um grande desa- capa de um plano de ativi- se vêm sucedendo desde nalizar a possibilidade de
Luís da Silva Pereira fio... LM Sei que a junta de fre- dades absolutamente arroja- 2002: lerem o que fizemos abortar. Por cada nascimen-
Luísa Magalhães/FF FM Foi um grande desafio e guesia tem algumas ativi- da feita por um artista que ou não fizemos. Ficamos sem- to na freguesia de S. Vítor,
um gesto de reconhecimen- dades ligadas à ocupação respondeu ao nosso desafio, pre por cima, porque ainda oferecemos um enxoval para
Luísa Magalhães (LM) – Sr. to da importância que estes dos tempos livres, excur- que era provocar um impac- acrescentamos mais ativida- bebé. Se forem gémeos, ofe-
Firmino Marques, como é estabelecimentos de ensino sões, campos de férias... to de imagem sobre a reali- des às que nos propomos fa- recemos dois ou três, confor-
que tem desenvolvido o têm. Mas trabalhamos tam- FM Procuramos fundir na zação dos nosso sonhos. Pen- zer. O que é preciso é ter von- me a situação. Esta é uma
seu trabalho autárquico, bém com as escolas secun- mesma ação todos esses ob- samos que é possível sonhar, tade, servir as pessoas e dei- forma diferente de estar na
que projetos gostaria de dárias EB 2/3 Francisco San- jetivos, na área de interven- mas mais do que isso, é pos- xá-las felizes. política.
ver desenvolvidos no fu- ches, a de Lamaçães, a esco- ção social e também lúdica/ sível concretizar esses so-
turo próximo, quais os me- la secundária Carlos Amaran- cultural/patrimonial. nhos. Esta imagem consegue LM Não quer referir algu- LM É um grande incenti-
lhores projetos que já acon- te, a Universidade Católica e comunicar que é possível, a mas dessas atividades? vo...
teceram... a Universidade do Minho. LM Como é que isso se partir de pouco, produzir FM Uma das atividades que FM Praticamente todas as se-
Firmino Marques (FM) – faz? muito. Conseguimos fazer mais repercussão têm é “res- manas, oferecemos enxovais
Quero agradecer terem-se LM E têm-se dado bem? FM Primeiro, tendo vontade muito com pouco. Quem pirar feliz em S. Vítor”. Envol- de bebés. Primeiro, socorría-
lembrado daqueles que eu FM Damo-nos muito bem. Se de fazer as coisas. A nossa aprecia este plano e o nosso ve atividades dos jovens, in- mo-nos da Associação Famí-
chamo operários da demo- perguntar a qualquer uma produtividade advém daqui- orçamento diz que não é pos- cluindo o património. Aco- lias. Neste momento, somos
cracia, porque mais próxi- destas escolas, facilmente re- lo que planificámos. Aprovei- sível concretizar o que pro- lhemos mais de 30 jovens du- nós que lhe oferecemos todos
mos do poder local. O tra- conhecerá o trabalho que se to para lhe mostrar a capa pomos. rante o mês de julho, em par- os anos um megaenxoval. Te-
balho que fazem e que não tem feito. Ajudamos estes es- do plano de atividades para ceria com a Jovemcoop, e co- mos ajuda para todos os que
se vê é merecedor dos maio- tabelecimentos de ensino, 2012. É uma obra de arte fei- LM Isso é um verdadeiro de- locamo-los a aprender a gos- venham a ser pais, seja qual
res encómios. Houve um volta mas vamos muito mais além ta por um artista residente safio tar do que é nosso, conhe- for a condição social. Devemos
muito grande na forma de fa- das necessidades em mate- preocupar-nos em dar condi-
zer política a nível das juntas riais, limpeza e expediente. ções para que haja mais nata-
“
de freguesia, pelo contributo Colocamos também nessa ru- lidade. Se não tivermos nasci-
que estas instituições podem brica outros projetos de in- mentos, estamos falidos. É nes-
teresse educativo, desde a
Temos ajuda para todos os que venham a ser pais, sa perspetiva também que
dar à comunidade. E não só
nas comunidades onde se in- prevenção rodoviária à sema-
seja qual for a condição social. Devemos preocupar- queremos dar um contributo
tegram. Em muitas interven- na da matemática, que reu- nos com dar condições para que haja mais para a economia do país.
ções das juntas de freguesia niu mais de 1.500 alunos. Isto natalidade. Se não tivermos nascimentos,
”
não pode haver fronteiras. A só se pode conseguir com estamos falidos. Continua na página 17
2. Diário do Minho
SEGUNDA-FEIRA, 19 de março de 2012 Entrevista www.diariodominho.pt 17
Com quatro cêntimos,
fazemos mais que o Estado com dez
DR
Continuação da página 16 vidade ao seu trabalho. A As- bém, desde que se evitem FM É o que falta fazer no con-
sembleia Municipal de Lisboa desperdícios. Não é conce- celho, e no país. Muitos dos
LM É um risco que o Esta- tem preparado já uma redu- bível uma freguesia de um projetos que gostaríamos de
do Social corre e a junta de ção de cerca de 50%. Mas o lado de um rio ter um equi- ver implementados nunca fo-
freguesia procura contrariar conceito de freguesia do sul pamento desportivo para ram respondidos. Quando
de forma eficaz. para o norte varia bastante. uma comunidade de cem entra em equação a cor po-
FM Muito eficaz. Quanto à Ca- Em Lisboa, a associação está pessoas e do outro lado ha- lítica de quem está a gerir, a
pital Europeia da Juventude mais ligada aos bairros do ver o mesmo equipamento objetividade cai por terra.
2012, S. Vítor vai colaborar que às freguesias. De manei- para outra comunidade de Não pode acontecer. Não se
com a fundação Bracara Au- ra que é mais fácil conseguir cem pessoas. Isto acontece corresponde ao que a União
gusta que é quem gere toda um acerto nessas regiões do por vício dos autarcas que Europeia exige, que é trans-
a programação. A nossa com- que a norte. A norte são mi- não têm o sentido da utili- parência, independência e
ponente desportiva está dis- lhares as freguesias organiza- dade das coisas para as co- competência. Se estes três
ponível para poderem apre- das. munidades. fatores fossem aplicados, al-
ciar o que é Braga na área da guns dos nossos projetos já
ginástica artística. Temos um LM Por vezes, ligadas à or- LM Tem que haver maximi- estariam, pelo menos, com
excelente centro de formação ganização religiosa... zação das valências. meias respostas.
desportiva na área da ginás- FM Há situações onde isso
Firmino Marques salienta a importância do trabalho em rede
FM Dois equipamentos po-
tica que é o Centro de For- acontece. Temos ligadas qua- diam reduzir-se a um só. Falo LM Dê-me um exemplo
mação da Escola Secundária tro paróquias à nossa fregue- tra. Há pequenas freguesias LM E facilitará a gestão? deste exemplo, mas podia fa- FM O fórum cívico, que é ab-
Alberto Sampaio, um nosso sia. É possível maximizar o que se justificam, porque têm FM A situação económica do lar de milhares. A grande res- solutamente necessário. Nós
parceiro insubstituível. trabalho concertadamente na junta a única ligação es- país não enferma da boa ges- ponsabilidade do desperdí- já o temos, mas sem estru-
com as paróquias. Há objeti- trutural ao Estado. Não falo tão que foi feita a nível das cio está nas câmaras munici- tura física para funcionar
LM Pergunto-lhe, agora, vos que podem ser comuns. de Braga, mas de uma fre- autarquias. Se fizermos con- pais, que autorizam e fazem como serviço público acessí-
qual é a posição da junta O trabalho em rede dá me- guesia do interior que per- tas entre o deve e o haver a gestão dos dinheiros públi- vel às pessoas e instituições.
em relação à redução do lhores resultados. Não estou deu tudo: os centros de saú- do trabalho por elas produ- cos. O bom exemplo deveria Este fórum cívico de S. Vítor,
número de freguesias. contra a reorganização admi- de, as escolas... Se perde a zido, o saldo é altamente po- começar logo aí. É necessá- que vimos reclamando há
FM A minha posição, e a po- nistrativa do país. Penso que freguesia, perde tudo. E é pos- sitivo. Com quatro cêntimos, rio fazer pedagogia. muitos anos, daria respostas
sição institucional da ANA- será pacífica a reorganização sível também reorganizar as fazemos mais que o Estado sociais, culturais e até eco-
FRE, é reconhecer que é pos- no plano eleitoral, nas em- freguesias onde for essa a com dez. LM Dr. Firmino Marques es- nómicas. Não sabemos o que
sível reorganizar melhor o Es- presas municipais, na sua ren- vontade das comunidades. É tamos a aproximarmo-nos é que o município pensa. Há
tado a partir da base. É pos- tabilidade e eficácia. Quanto muito mais fácil fazer esse LMA relação de proximida- do final. Vou perguntar-lhe sonhos que não podemos
sível haver associação de fre- à supressão das freguesias a trabalho, de forma pacífica, de é muito maior. o que é que falta fazer em concretizar sem meios físicos
guesias e dar maior produti- régua e esquadro, sou con- nos centros urbanos. FM E o grau de eficácia tam- S. Vítor. em condições.
Um prémio de boas práticas administrativas fala por si
LM Um dos maiores problemas da Junta de Freguesia, pelo que LM Pode citar algumas? com o karaté e o basquetebol, que tem que pegar em malas e
ouço, são as instalações... FM Por exemplo, a Associação Musical Sinfonieta de Braga, que bagagens e ir para outras freguesias treinar. Temos o Monabolei
FM A estrutura física da junta de freguesia é pequena demais tem coro e orquestra e a que faltam condições infraestruturais que se dedica à formação em andebol. Temos também as esco-
para tanto que fazemos. Temos que alargar este fórum que para fazer um serviço melhor. Temos a Estudantina de Braga, las de formação como as dos Águias, dos Alegrienses. Se tivessem
pretende ser uma resposta na área da prestação de serviços uma tuna que junta músicos de várias faculdades. Temos pintu- as condições doutras freguesias, os índices de progressão seriam
complementares de saúde às pessoas com mais dificuldades. ra, temos o grupo de mulheres Cantares do Minho, que ali ensaia muito melhores. Também está prometido um pavilhão na rua
Nós até já fazemos rastreios pela freguesia. Mas era possível todas as semanas, o grupo de cavaquinhos, a escola de viola. de S. José. Neste momento é um desperdício de dinheiros pú-
ter um local onde as pessoas se pudessem dirigir mais Temos 7 cursos a funcionar. As instalações é que são poucas. blicos, porque é um espaço desportivo descoberto. Queremos
facilmente... Justificamos, pelo trabalho que temos desenvolvido, melhores repartir com a Câmara Municipal a construção deste pavilhão
condições físicas para caberem os nossos sonhos. desportivo, participando com algum valor. Tenho fundadas es-
LM Poderia descongestionar o centro de saúde. peranças de que estas questões possam levar uma volta.
FM Exatamente. Temos um excelente centro, o Carandá Mais, LM E em termos de equipamentos desportivos?
que dá boas respostas. Este gabinete serviria também de pro- FM Tem faltado resposta. Por exemplo, um equipamento des- LM Vamos ver se a partir do nosso Periscópio e com a parceria
moção do que temos como oferta dentro do Serviço Nacional portivo que possibilite às instituições desportivas praticarem que estabelecemos com o Diário do Minho podemos chegar a
de Saúde e aliviaria o serviço que lá se presta. Depois estou a desporto, em salas cobertas. Temos boas instituições a fazerem alguém.
falar de muitas instituições que têm como teto a junta de fre- formação sem condições nenhumas. Têm que ir para outras FM Só para concluir. A atribuição a S. Vítor, pelo Governo anterior,
guesia. freguesias. Estou a falar de Sporting Clube Leões das Enguardas, de um prémio de boas práticas administrativas fala por si...