Este documento contém vários textos sobre o carnaval e a infância dos autores. Dois textos falam sobre como o carnaval era uma época de liberdade e alegria onde as pessoas escapavam da realidade e viviam suas loucuras, enquanto outro texto contrasta como era a infância dos autores no passado em comparação com as crianças de hoje.
Baile da Saudade / Loja Maçônica Segredo, Força e União de Juazeiro Ba
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1. AGRISSÊNIOR
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EDITORES: Luiz Ferreira da Silva
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Edição 367 – ANO VIII Nº 26 – 21 de fevereiro de 2012
2011
O DIABO DO CARNAVAL
Merlânio Maia
Ninguém se engane ou se Sai da sua vida normal No passo desengonçado
iluda Muda o jeito empiriquita O certo é quem tá errado
Que em tempo de carnaval Bota um vestido de chita E o torto é quem tá direito
O “capirôto” se solta Pinta a boca de baton
E a debandada é geral Sai rebolando e beijando É “caboquim” mascarado
A cachaça dá o tom Os outros homens cantando: E embriagado na rua
E a droga aumenta o som - Isso é que é carnaval bom! É caboquinha aos pinote
O povo perde o pudor Bebendo e ficando nua
Ninguém tem pena de nada A história se repete E o diabo até dança frevo
E a multidão desvairada Que a quebradeira é geral Apalpa todo relevo
Bota o diabo no andor Tem gente que cai na dança No calor do “vuco-vuco”
Pensando em fazer o mal E é nesse esfrega-esfrega
Na onda do “pula-pula” Roubo, furto e violência Que toda moral se entrega
Com a “zuada” “truano” Nessa data é ocorrência Num “ribuliço” maluco
Quem tá vestido se despe Que nem polícia dá conta
Fulano agarra sicrano É o “ninguém é de ninguém!” Ninguém pensa no amanhã
Pois seja homem, ou mulher Só chamego e xenhenhem! Que é hoje que a coisa vai
Venha de onde vier E ali a doideira apronta Tem pai que fica tam-tam
Que o sexo louco se faz Filho que na droga cai
Mulher com mulher se agarra A bebida é consumida Na cinza da quarta-feira
Homem com homem na farra Como soro em hospital A ressaca é a companheira
Santo vira satanás Se pudesse era na veia De um remorso infernal
E a droga encontra um canal É imenso o prejuízo
Tem cabra que o ano inteiro O batuque é louvação Desses que perdem o juízo
Sonha com o carnaval Desse reinado do cão Com o diabo do Carnaval!
E quando chega esse dia Onde o doido mete os peito
NO TEMPO DA MINHA INFÂNCIA!
(Ismael Gaião)
No tempo da minha infância Sempre alguém ensina a Da minha vaca Quitéria
Nossa vida era normal gente E nunca fiquei de cama
Nunca me foi proibido Que comer tudo faz mal Com uma doença séria
Comer muito açúcar ou sal As crianças de hoje em dia
Hoje tudo é diferente Bebi leite ao natural Não bebem como eu bebia
2. Pra não pegar bactéria E a hiperatividade Também cantei Tororó
É coisa que não se via Brinquei de Escravos de Jó
A barriga da miséria Falta de concentração E o Sapo não lava o pé
Tirei com tranquilidade Se curava com carão
Do pão com manteiga e queijo E disso ninguém morria Com anzol e jereré
Hoje só resta a saudade Muitas vezes fui pescar
A vida ficou sem graça Nesse tempo se bebia E só saía do rio
Não se pode comer massa Água vinda da torneira Pra ir pra casa jantar
Por causa da obesidade De uma fonte natural Peixe nenhum eu pagava
Ou até de uma mangueira Mas os banhos que eu
Eu comi ovo à vontade E essa água engarrafada tomava
Sem ter contra indicação Que diz-se esterilizada Dão prazer em recordar
Pois o tal colesterol Nunca entrou na nossa feira
Pra mim nunca foi vilão Tomava banho de mar
Hoje a vida é uma loucura Para a gente era besteira Na estação do verão
Dizem que qualquer gordura Ter perna ou braço Quando papai nos levava
Nos mata do coração engessado Em cima de um caminhão
Ter alguns dentes partidos Não voltava bronzeado
Com a modernização Ou um joelho arranhado Mas com o corpo queimado
Quase tudo é proibido Papai guardava veneno Parecendo um camarão
Pois sempre tem uma Lei Em um armário pequeno
Que nos deixa reprimido Sem chave e sem cadeado Sem ter tanta evolução
Fazendo tudo que eu fiz O Playstation não havia
Hoje me sinto feliz Nunca fui envenenado E nenhum jogo de vídeo
Só por ter sobrevivido Com as tintas dos brinquedos Naquele tempo existia
Remédios e detergentes Não tinha vídeo cassete
Eu nunca fui impedido Se guardavam, sem segredos Muito menos internet
De poder me divertir E descalço, na areia Como se tem hoje em dia
E nas casas dos amigos Eu joguei bola de meia
Eu entrava sem pedir Rasgando as pontas dos O meu cachorro comia
Não se temia a galera dedos O resto do nosso almoço
E naquele tempo era Não existia ração
Proibido proibir Aboli todos os medos Nem brinquedo feito osso
Apostando umas carreiras E para as pulgas matar
Vi o meu pai dirigir Em carros de rolimã Nunca vi ninguém botar
Numa total confiança Sem usar cotoveleiras Um colar no seu pescoço
Sem apoio, sem air-bag Pra correr de bicicleta
Sem cinto de segurança Nunca usei, feito um atleta, E ele achava um colosso
E eu no banco de trás Capacete e joelheiras Tomar banho de mangueira
Solto, igualzinho aos demais Ou numa água bem fria
Fazia a maior festança Entre outras brincadeiras Debaixo duma torneira
Brinquei de Carrinho de Mão E a gente fazia farra
No meu tempo de criança Estátua, Jogo da Velha Usando sabão em barra
Por ter sido reprovado Bola de Gude e Pião Pra tirar sua sujeira
Ninguém ia ao psicólogo De mocinhos e Cawboys
Nem se ficava frustrado E até de super-heróis Fui feliz a vida inteira
Quando isso acontecia Que vi na televisão Sem usar um celular
A gente só repetia De manhã ia pra aula
Até que fosse aprovado Eu cantei Cai, Cai Balão, Mas voltava pra almoçar
Palma é palma, Pé é pé Mamãe não se preocupava
Não tinha superdotado Gata Pintada, Esta Rua Pois sabia que eu chegava
Nem a tal dislexia Pai Francisco e De Marré Sem precisar avisar
3. Mas hoje a sociedade Com um pouco de insensatez.
Comecei a trabalhar Essa visão não alcança Eu me lembro com detalhes
Com oito anos de idade E proíbe qualquer pai De tudo que a gente fez,
Pois o meu pai me mostrava Dar trabalho a uma criança Por isso tenho saudade
Que pra ter dignidade Prefere ver nossos filhos E hoje sinto vontade
O trabalho era importante Vivendo fora dos trilhos De ser criança outra vez...
Pra não me ver adiante Num mundo sem esperança (Enviada por Doris Tenório)
Ir pra marginalidade
A vida era bem mais mansa,
“ONDE FOI QUE NÓS ERRAMOS”
(Autor desconhecido)
Entre 1959 e 2011
Cenário 1: velho nos castigava sem piedade e no resto
Luiz, de sacanagem quebra o farol de um da semana não incomodávamos mais
carro, no seu bairro. ninguém.
Ano 1959: Ano 2011:
Seu pai tira a cinta e lhe aplica umas sonoras Fazemos bagunça na classe. O professor nos
bordoadas no traseiro. A Luiz nem lhe passa pede desculpas por repreender-nos e fica
pela cabeça fazer outra nova "cagada", cresce com a culpa por fazê-lo. Nosso velho vai até o
normalmente, vai à universidade e se colégio dar queixa do professor e para
transforma num profissional de sucesso. consolá-lo compra uma moto para o filhinho.
Ano 2011: Cenário 4:
Prendem o pai de Luis por maus tratos. O Horário de Verão.
condenam a 5 anos de reclusão e, por 15 Ano 1959:
anos deve abster-se de ver seu filho. Sem o Chega o dia de mudança de horário de
guia de uma figura paterna, Luis se volta para inverno para horário de verão. Nada
a droga, delinqüe e fica preso num presídio acontece.
especial para adolescentes. Ano 2011:
Cenário 2: Chega o dia de mudança de horário de
José cai enquanto corria no pátio do colégio, inverno para horário de verão. A gente sofre
machuca o joelho. Sua professora Maria, o transtornos de sono, depressão, falta de
encontra chorando e o abraça para confortá- apetite, nas mulheres aparece até celulite.
lo... Cenário 5:
Ano 1959: Rapidamente, João se sente Fim das férias.
melhor e continua brincando.
Ano 1959:
Ano 2011: Depois de passar férias com toda a família
A professora Maria é acusada de não cuidar enfiados num Gordini ou Fusca, é hora de
das crianças. José passa cinco anos em voltar após 15 dias de sol na praia. No dia
terapia pelo susto e seus pais processam o seguinte se trabalha e tudo bem.
colégio por danos psicológicos e a professora
Ano 2011:
por negligência, ganhando os dois juízos.
Maria renuncia à docência, entra em aguda Depois de voltar de Cancun, numa viagem 'all
depressão e se suicida... inclusive', terminam as férias e a gente sofre
da síndrome do abandono, "panic attack",
Cenário 3: seborréia, e ainda precisa de mais 15 dias de
Disciplina escolar readaptação...
Ano 1959: Cenário 6:
Fazíamos bagunça na classe... O professor Saúde.
nos dava uma boa "mijada" e/ou encaminhava
Ano 1959:
para a direção; chegando em casa, nosso
4. Quando ficávamos doentes, íamos ao INPS multa, o funcionário é indenizado e o chefe é
aguardávamos 2 horas para sermos demitido.
atendidos, não pagávamos nada, tomávamos Cenário 8:
os remédios e melhorávamos. Assédio.
Ano 2011: Ano 1959:
Pagamos uma fortuna por plano de saúde. A colega gostosona recebe uma cantada de
Quando fazemos uma distensão muscular, Ricardo. Ela reclama, faz charminho mas fica
conseguimos uma consulta VIP para daqui a envaidecida, saem para jantar, namoram e se
3 meses, o médico ortopedista vê uma casam.
pintinha no nosso nariz, acha que é câncer, Ano 2011:
nos indica um amigo dermatologista que pede
uma biópsia, e nos indica um amigo Ricardo admira as pernas da colega
oftalmologista porque acha que temos uma gostosona quando ela nem está olhando, ela
deficiência visual. Fazemos quimioterapia, o processa por assédio sexual, ele é
usamos óculos e depois de dois anos e mais condenado a prestar serviços comunitários.
15 consultas, melhoramos da distensão Ela recebe indenização, terapia e proteção
muscular. paga pelo estado... e fica solteirona.
Cenário 7: Cenário 9:
Trabalho. Comportamento.
Ano 1959: Ano 1959:
O funcionário era "pego" fazendo cera Homem fumar era bonito, dar o rabo era feio.
(fazendo nada). Tomava uma regada do Ano 2011:
chefe, ficava com vergonha e ia trabalhar. Homem fumar é feio, dar o rabo é bonito.
Ano 2011: Pergunta-se:
O funcionário pego "desestressando" é EM QUE MOMENTO FOI, ENTRE 1959 E
abordado gentilmente pelo chefe que 2011, QUE NOS TRANSFORMAMOS NESTE
pergunta se ele está passando bem. O BANDO DE BOSTAS ! (Enviada por Celso
funcionário acusa-o de bullying e assédio Monerat)
moral, processa a empresa que toma uma
CARNAVAL
(Débora Bottcher)
"Quanto riso! Oh! Quanta alegria! / Mais de Cada um vende seu sonho e vive sua loucura,
mil palhaços no salão..." (Trecho de 'Máscara despido de cotidiano, alheio à preocupação.
Negra', de Zé Kéti) Dos salões de baile às avenidas, a mentira é
soberana: ela governa os cinco dias do ano
Quase todo mundo com mais de 30 anos teve em que tudo é permitido. A quarta-feira - e só
uma infância e/ou adolescência que vibrou ao depois do meio-dia - é que aciona o botão da
som das marchinhas de carnaval. realidade novamente.
Para mim, a Festa do Rei Momo sempre teve Eu me lembro das nossas noites de carnaval.
um inexplicável ar de melancolia. Máscaras e Meu pai, diretor de um clube de elite em
sombras desfilando, abrindo passagem para a Campinas, tinha mesa especial reservada.
orgia. A nudez vestindo-se de luz e purpurina, Vestida a caráter - e isso quer dizer Odalisca,
brilhando e despertando sensações – aquelas Havaiana, Bruxa ou Mulher-Gato -, eu
que ficam guardadas nos sótãos da alma, o cruzava a entrada principal de braço dado
ano inteiro escondidas... Fantasias... com ele, muito antes da idade permitida de
Atrás da maquiagem, dos véus e das cores, fato, para freqüentar os bailes luminosos.
pode-se ser quem quiser: o palhaço, a Acho que era mais nisso que residia o
bailarina, o pirata, a feiticeira, o índio, a encanto pra mim: burlar as regras. Porque, na
cigana, o super-homem, a fada madrinha. verdade, não posso dizer que efetivamente
5. me divertia. A música muito alta, depois de glamour e eu não quis mais ir aos bailes. Meu
umas duas horas, começava a me incomodar; pai, que era muito festeiro, tentou me
o empurra-empurra também não me deixava convencer a mudar de idéia e se entristeceu
confortável, assim como os excessos (de um pouco quando não me dissuadiu - e eu só
bebidas e afins). o acompanhei mais uma única vez depois
Tudo isso ia me deixando um tanto cansada. disso, em 1998, quando ele, já em fase
Eu me sentava então num dos degraus da terminal, quis dar uma última olhada no que
imensa arquibancada de concreto, bem lá no chamava de 'a maior festa do ano'.
alto, para observar a desordem instalada: Fato é que o tom da amargura que me invadia
rostos borrados, corpos suados, adereços em desde os primeiros tempos, foi se
frangalhos. A beleza inicial desvanecida, agigantando e eu me dei conta de que não
perdida entre confetes e serpentinas. havia fantasia capaz de burlar aquela
De longe eu avistava meu pai tentando me desencantada emoção. As cinzas da quarta-
encontrar no meio da confusão. Peguei-me feira me consumiam muito antes de tudo
pensando agora, enquanto escrevo, se em começar e eu pensei que estar quieta durante
algum momento ele adivinhava que eu não aqueles dias, era o jeito certo de acalmar o
estava lá - já que quando eu retornava para interior melancólico sem razão.
junto dele, nunca estava desgrenhada como a Talvez tenha sido um certo Pierrot. Talvez a
multidão. Às vezes, dançávamos juntos no minha Máscara Negra. Quem sabe uma
espaço próximo às mesas: isso era bom - seu enrustida saudade, um beijo que nunca
riso aberto, a alegria nos enlaçando. aconteceu. Ou a lágrima que ficou engasgada
Mas eu ainda era jovem (ia completar 18 anos) e assim desmanchou de vez a ilusão
quando o carnaval perdeu completamente o
A PIADA DA SEMANA
Um jovem casal e convidado para uma festa e seu marido. Finalmente, ele sussurra
de máscaras. A esposa por causa de uma alguma coisa em seu ouvido e ela concorda.
terrível dor de cabeça, diz para o seu marido Vão para o carro e fazem amor como uns
ir a festa sozinho e divertir-se. Ele diz que não loucos, duas, três, quatro vezes, sempre sem
quer ir sozinho, mas ela insiste e diz que vai tirarem as mascaras. Depois separam-se e
tomar uma aspirina e dormir, e que não há ela vai para casa, sem se revelar, e volta para
motivo para ele perder a festa. Então, a cama imaginando qual será a explicação
contrariado, ele pega na sua mascara e vai. A que ele dará sobre o seu comportamento na
esposa, após dormir uma hora, acorda sem festa. Quando ele chega ela esta a ler um
dor de cabeça, e como ainda é cedo decide ir livro na cama e pergunta-lhe: - Então,
a festa. Como o seu marido não sabe qual e a divertiste-te? Ele responde: - A mesma coisa
mascara dela, ela acha que vai ser uma boa de sempre. Tu sabes que eu nunca me divirto
oportunidade de observar como e que o seu quando tu não estas. Ela pergunta-lhe: -
marido se comporta quando ela não esta por Dançaste muito? E ele responde: - Vou-te
perto. Ela chega a festa e vê logo o seu contar uma coisa: não dancei nada! Quando
marido mascarado na pista de dança com eu ia para a festa encontrei o Zé e o resto da
uma mulher muito bonita, pegando aqui e malta e decidimos ir para casa dele jogar as
beijando ali. A mulher arranja maneira de se cartas. Foi a noite inteira! Mas vou-te dizer
insinuar para que ele largue a outra. Ela uma coisa... o gajo a quem emprestei a minha
deixa-o ir ate onde ele quer porque, afinal, ele mascara diz que teve uma noite fabulosa...
oOo
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