Aprendizagem ativa na educação básica: implicações para o ensino
ENADE e formação de professores
1.
Pedagogia – Education – Pedagogia | | Revista UniABC – v.2, n.1, 2011 ‐ ISSN: 2177‐5818
8. O ENADE e a formação de professores em
contextos sociais em mudança.
Prática reflexiva e participação crítica.
Profª. Ms. Monica Lopes de Oliveira
1
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Resumo
Este artigo aborda o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), atual
modelo de avaliação do Ensino Superior e Formação de Professores, em contextos sociais em
mudança, tema que faz parte das investigações do Grupo de Estudos e Pesquisas Histórico‐
linguístico‐sociais da Universidade do Grande ABC ‐ UniABC, cuja Linha de Pesquisa se dá em
Língua e Literatura e as múltiplas linguagens: do saber acadêmico à prática de ensino.
Palavras‐chaves:
Exame nacional; qualidade de ensino; formação de professores.
Abstract
This paper deals with the Test of Students’ Performance (ENADE), current assessment
model of College and Professors’ Formation for social contexts in change, a subject that is part of
the investigations of the Group of Studies and Research‐historic social‐linguistic of UniABC, whose
Line of Research was built on Language, Literature and multiple languages: from academic
knowledge to Education practice. The objective of this issue consists of studying, analyzing this
way and trying to identify if the ENADE results can produce references that allow the definition of
actions capable of improving the quality of graduation courses, by professors and the Institution’s
administrators.
Keywords:
National Test; Quality of Education; Professor’s Formation.
Resumen
Este artículo aborda el Examen Nacional de Desempeño de los Estudiantes (ENADE), actual
modelo de evaluación de la Enseñanza Superior y Formación de Profesores, en contextos sociales
1
Mestre em Linguística Aplicada aos Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica‐ PUC de São Paulo
(2007). Pesquisadora e Professora da UNIABC. Professora de Pós‐graduação da FACCAMP. Supervisora de Ensino –
SEE‐SP. Experiência na área de Educação e Linguística. monicalopes10@terra.com.br
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en transformación, tema que forma parte de las investigaciones del Grupo de Estudios e
Investigaciones Histórico‐lingüístico‐sociales de la Universidad del Gran ABC ‐ UniABC, cuya Línea
de Investigación se da en Lengua y Literatura y los múltiples lenguajes: desde el saber académico
hasta la práctica de la enseñanza.
Palabras‐llaves:
Examen nacional; calidad de enseñanza; formación de profesores.
1. Introdução
O artigo aborda o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), que faz parte do
atual modelo de avaliação do Ensino Superior e a Formação de Professores em contextos sociais em
mudança.
Este tema foi escolhido tendo em vista as próprias experiências docentes da pesquisadora, que
necessita compreender como ocorre a interação do processo de Formação de Professores e o
desempenho acadêmico dos estudantes atrelado às exigências do ENADE.
O objetivo deste artigo consiste em identificar se os resultados do ENADE podem produzir
referenciais que permitam a definição de ações voltadas para a melhoria da qualidade dos cursos de
graduação, por parte de professores e dirigentes da Instituição.
Os objetivos específicos são:
• Analisar as representações de um grupo de professores da Universidade em relação a esta
avaliação;
• Refletir sobre a importância da formação docente continuada rumo às exigências do
ENADE.
Como pressuposto teórico utiliza‐se Perrenoud, que discorre, dentre outros temas, sobre
Formação de Professores. Faz‐se uso, também, dos documentos do ENADE, que abordam a legislação
que fundamenta os estudos do trabalho.
A metodologia utilizada neste estudo é de abordagem qualitativa, de caráter exploratório. Os
procedimentos de coleta se realizam por meio de levantamento de dados e fontes de informação
colhidas em pesquisa de campo.
Este estudo se dá na Universidade do Grande ABC‐ UniABC, localizada em Santo André ‐ SP.
Os participantes são cinco professores; e o método de coleta se faz com a utilização de
questionários. Os dados são analisados de forma a identificar o perfil e como eles veem o ENADE e a
sua prática docente.
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O ENADE e a formação de professores em contextos sociais em mudança. Prática reflexiva e participação crítica.
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Espera‐se que este estudo possa contribuir para produzir referenciais que permitam a
definição de ações voltadas para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação, por parte de
professores e dirigentes da instituição em um contexto social em mudança e em uma prática reflexiva
e de participação crítica..
2. O ofício de professor está se transformando
Trabalho em equipe e por meio de projetos, autonomia e responsabilidades crescentes,
pedagogias diferenciadas, situações de aprendizagem são práticas inovadoras, nas quais as
competências emergentes são aquelas que deveriam orientar as formações iniciais e contínuas,
aquelas que contribuem para busca de qualidade de ensino e desenvolvem a cidadania, aquelas que
recorrem à pesquisa e enfatizam a prática reflexiva.
Segundo Perrenoud (2001), a função de professor ainda não pode ser considerada uma
profissão plena. O autor enfatiza as características das profissões e dos ofícios:
a. “o exercício de uma profissão implica uma atividade intelectual que compromete a
responsabilidade individual de quem a exerce;
b. é uma atividade erudita, e não de natureza rotineira, mecânica ou repetitiva;
c. no entanto, ela é prática, pois é definida como o exercício de uma arte, em vez de algo
puramente teórico e especulativo;
d. sua técnica é aprendida após uma longa formação;
e. o grupo que exerce essa atividade é regido por uma forte organização e uma grande coesão
interna;
f. trata‐se de uma atividade de natureza altruísta, que presta um serviço precioso à
sociedade” (Perrenoud 2001, p. 18).
Assim, “o ofício não é imutável”, segundo Perrenoud (2001, p. 14), suas transformações
passam pela emergência de novas competências.
No livro Dez Novas Competências para Ensinar, o autor escolhe um referencial que acentua as
competências julgadas prioritárias por serem coerentes com o novo papel dos professores, com a
evolução da formação contínua, com as reformas da formação inicial e com as ambições das políticas
educativas. Este referencial apreende o movimento da profissão nas 10 grandes famílias de
competências resumidas no Quadro 1, a seguir:
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Quadro 1 ‐ Dez Novas Competências para Ensinar
1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem
Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem ensinados e sua tradução
em objetivos de aprendizagem
Trabalhar a partir das representações dos alunos
Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem
Construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas
Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de conhecimento
2. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação
Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma
Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto
Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de grandes dificuldades
Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples de ensino mútuo
Uma dupla construção
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação
Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma
Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto
Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de grandes dificuldades
Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas simples de ensino mútuo
Uma dupla construção
4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho
Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o saber, o sentido do trabalho
escolar e desenvolver na criança a capacidade de auto-avaliação
Instituir um conselho de alunos e negociar com eles diversos tipos de regras e de
contratos
Oferecer atividades opcionais de formação
Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno
5. Trabalhar em equipe
Elaborar um projeto em equipe, representações comuns
Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões
Formar e renovar uma equipe pedagógica
Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e problemas profissionais
Administrar crises ou conflitos interpessoais
6. Participar da Administração da Escola
Elaborar, negociar um projeto da instituição
Administrar os recursos da escola
Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros
Organizar e fazer evoluir, no âmbito da escola, a participação dos alunos
Competências para trabalhar em ciclos de aprendizagem
7. Informar e Envolver os pais
Dirigir reuniões de informação e de debate
Fazer entrevistas
Envolver os pais na construção dos saberes
8. Utilizar Novas Tecnologias
A informática na escola: uma disciplina como qualquer outra, um savoir-faire ou um
simples meio de ensino ?
Utilizar editores de texto
Explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação aos objetivos do ensino
Comunicar-se à distância por meio da telemática
Utilizar as ferramentas multimídia no ensino
Competências fundamentadas em uma cultura tecnológica
9. Enfrentar os Deveres e os dilemas da Profissão
Prevenir a violência na escola e fora dela
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O ENADE e a formação de professores em contextos sociais em mudança. Prática reflexiva e participação crítica.
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Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais
Participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina na escola, às
sanções e à apreciação da conduta
Analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em aula
Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justiça
Dilemas e competências
10. Administrar sua própria formação contínua
Saber explicitar as próprias práticas
Estabelecer seu próprio balanço de competências e seu programa pessoal de formação
continua
Negociar um projeto de formação comum com os colegas (equipe, escola, rede)
Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do sistema educativo
Acolher a formação dos colegas e participar dela
Ser agente do sistema de formação continua
Fonte: Perrenoud (2001).
Assim, Perrenoud (2001) sugere que professores inseridos em um contexto em mudança, no
qual as transformações da sociedade clamam automaticamente por evoluções na escola e na
formação de profissionais, preocupem‐se com sua formação, numa perspectiva de prática reflexiva e
participação crítica como orientações prioritárias de sua formação.
3. O ENADE e suas competências
O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) faz parte do atual modelo de
avaliação do Ensino Superior ‐ Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) instituído
em abril de 2004, e veio substituir o Exame Nacional de Cursos (Provão). O ENADE é operacionalizado
pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), e tem por objetivo
acompanhar o processo de aprendizagem e o desempenho acadêmico dos estudantes em relação aos
conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação, suas
habilidades para ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e suas
competências para compreender temas exteriores ao âmbito específico de sua profissão, ligado à
realidade brasileira e mundial, e a outras áreas do conhecimento, considerando a evolução dos alunos
concluintes em relação aos ingressantes no ensino superior.
Isso exige conhecimentos sobre conteúdos programáticos e habilidades específicas esperadas
em cada curso avaliado, ou seja, o ENADE avalia o valor agregado do egresso em relação ao iniciante. E
seus resultados podem produzir referenciais que permitam a definição de ações voltadas para a
melhoria da qualidade dos cursos de graduação, por parte de professores, técnicos, dirigentes e
autoridades educacionais.
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De acordo com a Lei nº 10.861, de 14/04/2004, o ENADE é componente curricular obrigatório
a todos os alunos dos cursos de graduação que serão avaliados. Com base no desempenho dos
estudantes, os cursos receberão conceitos de 1 a 5.
Ao se analisar a legislação nas Portarias Inep dos cursos avaliados em 2009, em relação à
Formação Geral, veremos o Artigo 1º, 2º e 3º, no Quadro 2:
Quadro 2 ‐ Portarias Inep, 2009.
Art. 1º O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), parte integrante do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), tem como
objetivo geral avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos
programáticos previstos nas diretrizes curriculares, às habilidades e competências
para a atualização permanente e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira,
mundial e sobre outras áreas do conhecimento.
Art. 2º A prova do Enade 2009, com duração total de 4 (quatro) horas, terá a avaliação
do componente de formação geral comum aos cursos de todas as áreas e um
componente específico do Curso.
Art. 3º No componente de Formação Geral será considerada a formação de um
profissional ético, competente e comprometido com a sociedade em que vive.
Além do domínio de conhecimentos e de níveis diversificados de habilidades e
competências para perfis profissionais específicos, espera-se que os graduandos
das Instituições de Ensino Superior (IES) evidenciem a compreensão de temas
que possam transcender ao seu ambiente próprio de formação e sejam
importantes para a realidade contemporânea. Essa compreensão vincula-se a
perspectivas críticas, integradoras e à construção de sínteses contextualizadas.
§ 1º As questões do componente de Formação Geral versarão sobre alguns
dentre os seguintes temas:
I - ecologia;
II - biodiversidade;
III - arte, cultura e filosofia;
IV – mapas geopolíticos e socioeconômicos;
V - globalização;
VI - políticas públicas: educação, habitação, saneamento, saúde, segurança,
defesa, desenvolvimento sustentável;
VII - redes sociais e responsabilidade: setor público, privado, terceiro setor;
VIII - relações interpessoais: respeitar, cuidar, considerar, conviver;
IX – sociodiversidade: multiculturalismo, tolerância, inclusão;
X - exclusão e minorias;
XI – relações de gênero;
XII - vida urbana e rural;
XIII - democracia e cidadania;
XIV - violência;
XV - terrorismo;
XVI - avanços tecnológicos;
XVII - inclusão/exclusão digital;
XVIII - relações de trabalho;
XIX - tecnociência;
XX - propriedade intelectual;
XXI - diferentes mídias e tratamento da informação.
§ 2º No componente de Formação Geral, serão verificadas as capacidades de:
I - ler e interpretar textos;
II - analisar e criticar informações;
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O ENADE e a formação de professores em contextos sociais em mudança. Prática reflexiva e participação crítica.
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III - extrair conclusões por indução e/ou dedução;
IV - estabelecer relações, comparações e contrastes em diferentes situações;
V - detectar contradições;
VI - fazer escolhas valorativas avaliando conseqüências;
VII - questionar a realidade;
VIII - argumentar coerentemente.
§ 3º No componente de Formação Geral, os estudantes deverão mostrar
competência para:
I - propor ações de intervenção;
II - propor soluções para situações-problema;
III - elaborar perspectivas integradoras;
IV - elaborar sínteses;
V - administrar conflitos.
§ 4º O componente de Formação Geral do Enade 2009 terá 10 (dez) questões,
sendo 2 (duas) discursivas e 8 (oito) de múltipla escolha, que abordarão
situações-problema, estudos de caso, simulações e interpretação de textos,
imagens, gráficos e tabelas.
§ 5º As questões discursivas avaliarão aspectos como clareza, coerência, coesão,
estratégias argumentativas, utilização de vocabulário adequado e correção
gramatical do texto.
Fonte: http://www.inep.gov.br/superior/enade/default.asp, 2010.
Podemos notar que a respeito da Formação Geral do aluno exigida no ENADE, os professores
precisam trabalhar temas não específicos de sua disciplina, ou seja, temas da atualidade, além de
trabalhar habilidades de leitura, interpretação de texto, análise crítica, comparações,
questionamentos, argumentações, e também trabalhar para que o aluno apresente competências de
intervenções, soluções, integrações, sínteses.
Neste contexto de Formação Geral é considerada a formação de um profissional ético,
competente e comprometido com a sociedade em que vive. É necessário que os professores
trabalhem situações‐problema, estudos de caso, simulações e interpretação de textos, imagens,
gráficos e tabelas, além de exercitar, nas questões discursivas, clareza, coerência, coesão, estratégias
argumentativas, utilização de vocabulário adequado e correção gramatical do texto.
O professor precisa se preparar para trabalhar, nesse contexto em mudanças, numa
perspectiva de prática reflexiva e participação crítica.
Será observado no decorrer desse artigo como acontece à articulação entre as exigências do
ENADE e o perfil do professor.
A seguir, esclarecemos os procedimentos metodológicos na análise de dados.
4. A metodologia de aplicação do estudo
A metodologia utilizada neste estudo, segundo a natureza dos dados, é de abordagem
qualitativa.
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Entende‐se por pesquisa qualitativa que “o pesquisador estuda em seu ambiente natural com o
objetivo de entender e interpretar fenômenos em termos dos significados que as pessoas atribuem a
eles” (Denzin & Lincoln, 1998). Outras características de pesquisa apontadas por eles: pesquisa
contextual, que significa pesquisa no contexto no qual os sujeitos normalmente moram e trabalham, e
interpretativa, em relação à análise de dados.
Este estudo se dá nesta Universidade. A UniABC apresenta sua filosofia voltada para a missão
de contribuir para o desenvolvimento e progresso do país, formando bons profissionais, com boa base
de conhecimento técnico e científico, para contribuir para a solução de problemas sociais da região na
medida em que produz, aplica e dissemina o trabalho que é fruto do processo de ensino e
aprendizagem dos alunos e professores. Ressalta sua visão para o futuro tendo como objetivo tornar‐
se centro de referência consolidado na região do Grande ABC, irradiador e aglutinador de questões
educativo‐culturais, firmando‐se como instituição capaz de contribuir para a solução de seus
problemas, bem como para o desenvolvimento da cidadania.
Participa desta pesquisa um grupo de cinco professores desta Universidade. Eles foram
convidados de forma a compor um quadro formado por profissionais da área docente. Esclareça‐se
que no Quadro 3, abaixo, os nomes dos participantes são substituídos por Participante A, B, C, D e E.
Quadro 3 – Especificações de perfil dos participantes
Participante Faixa Etária Área Acadêmica Curso/disciplina
Carga
Horária
Tempo na
Educação/
Tempo na
Universidade
A 40 - 45 -Engenharia
Elétrica Industrial
-Gestão de
Corporações
-Engenharia de
Fabricação
-Processos Integrados
de Usinagem
27 h 20/8 anos
B 45 - 50 -Educação
Matemática
-Cálculo I e II 30 h 20/2 anos
C 35 - 40 -Analise de
sistema
-Redes de
computadores
-Engenharia de
software
-Empreendedorismo 32 h 14/7 anos
D 50 - 55 -Administração de
Empresas
-Administração de
Sistemas de Informação
- Formação de
Empreendedores em
Informática
30 h 12/6 anos
E 35 - 40 -Letras
-Pedagogia
-Comunicação
Empresarial
15 h 20/5 anos
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O ENADE e a formação de professores em contextos sociais em mudança. Prática reflexiva e participação crítica.
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5. Análise e discussão dos dados
Uma vez coletadas as informações, o processo de análise dos dados se propôs a manter
diálogo com os objetivos do artigo e também com a base teórica deste estudo.
As representações que os participantes apresentam em relação à avaliação externa (questão 7)
são identificadas como importantes para avaliar alunos, avaliar o comprometimento das instituições
de ensino superior atrelados aos programas definidos pelo MEC.
Os participantes relacionam a importância dos resultados do ENADE para a Universidade
(questão 8) acreditando que se trata de uma forma de aplicar um critério com uma visão externa da
organização e que pode influenciar nas futuras decisões da mesma (Participante A); que os resultados
do ENADE podem orientar os professores quanto à sua prática, a fim de saberem se estão conduzindo
e orientando de forma correta os alunos que se encontram sob sua ação, (Participante B); fazendo
com que a universidade tenha o compromisso, (Participante C); ressalta‐se que os resultados podem
ser “maquiados”, conforme conveniência (Participante D); que estes resultados podem servir para
atrair mais alunos, tendo em vista que há uma concorrência grande de Universidades na região do ABC
(Participante E).
Sobre a importância da formação docente continuada rumo às exigências do ENADE, em
primeira análise (questão 6), revela‐se que os participantes não realizam cursos de formação docente
continuada, somente em seus cursos de graduação e, principalmente de pós graduação, apesar disso
afirmam que o que aprenderam foi útil para entender melhor a complexidade do ensino e suas
características. Nenhum Participante abordou as reuniões de Planejamento do início e as do fim do
semestre como formação docente continuada.
Foi questionado (questão 10) se eles veem alguma relação da sua prática docente refletida nos
resultados do ENADE na Universidade, os Participantes A e C dizem que ainda não tem como avaliar,
eles justificam que a Universidade está no começo do processo de mudança; o Participante B acredita
que a maneira de orientar o raciocínio dos alunos no sentido de interpretar o enunciado de
problemas, e o raciocínio no sentido de resolvê‐los tem reflexo direto nos resultados do exame; o
Participante D não soube se posicionar adequadamente e o Participante E diz que se trata de uma
cultura a ser implantada e implementada pela Universidade, e acredita que os resultados positivos
acontecem sequencialmente.
A maioria dos Participantes acredita que a Universidade tem trabalhado rumo às exigências do
ENADE (questão 9), dizem que está em processo de mudança, ressaltam a importância da Avaliação de
Conhecimentos Gerais – ACG, como uma forma de articulação com o ENADE, mas ressalto aqui, o
Participante B que revela não acreditar que a Universidade possa trabalhar neste rumo, pelo fato dos
alunos, principalmente os que são egressos de escolas públicas, serem quase “analfabetos”, sendo que
os professores da graduação se veem obrigados a abordar conteúdos que os alunos não viram, ou
seja, os pré‐requisitos para o curso escolhido.
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Na questão sobre o ENADE ser considerado um instrumento de avaliação e/ou ação
pedagógica de melhoria de qualidade de ensino (questão 11), todos os Participantes dizem que além
de instrumento de avaliação pode ser tratado também como forma a orientar os procedimentos
metodológicos de aula, e consequentemente, a melhoria da qualidade de ensino, utilizando‐se os
parâmetros do MEC.
A última questão discorre sobre o objetivo geral deste artigo que consiste em identificar se os
resultados do ENADE podem produzir referenciais que possam permitir a definição de ações voltadas
para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação, por parte de professores e dirigentes da
Instituição. Os Participantes A, C e E acreditam que sim, por meio dos dados coletados pelo ENADE, as
autoridades responsáveis pelo ensino superior no Brasil podem refletir e interferir na busca de
possíveis ações para busca de soluções. Os Participantes B e D não acreditam muito que por meio dos
resultados do ENADE se possa melhorar a qualidade do ensino superior e justificam que, como vem
sendo aplicado, somente em determinados cursos, deixa a desejar e de ter sua devida importância,
pois seleciona apenas uma parte dos alunos e, muitas vezes, justamente aqueles alunos que não
apresentam comprometimento algum com o curso e desta forma, na opinião deles (B e D), não
apresenta parâmetro para a qualidade de ensino
6. Análise e discussão dos dados
Este artigo abordou o ENADE e a Formação de Professores em contextos sociais em mudança,
partiu do Grupo de Pesquisa GEPHILIS ‐ Grupo de Estudos e Pesquisas Histórico‐linguístico‐sociais da
Universidade do Grande ABC‐UNIABC, e a Linha de Pesquisa se deu em Língua e Literatura e as
múltiplas linguagens: do saber acadêmico à prática de ensino.
Este trabalho realizado com a participação de um pequeno grupo de professores procurou
refletir sobre o tema e se propôs ainda em estudar, analisar e identificar se os resultados do ENADE
podem produzir referenciais que possam permitir a definição de ações voltadas para a melhoria da
qualidade dos cursos de graduação, por parte de professores e dirigentes da Instituição.
Após análise das representações dos professores participantes em relação à avaliação externa,
um dos objetivos específicos deste artigo, compreendemos que eles pensam tratar‐se de uma política
pública um pouco distante do cotidiano acadêmico, não se apropriando como integrante deste
processo, embora ressaltem a importância dos resultados do ENADE para a Universidade.
Sobre a importância da formação docente continuada rumo às exigências do ENADE, outro
objetivo específico do artigo, percebi, por meio da análise das respostas, que eles parecem não
perceber a articulação, por exemplo, das reuniões de Planejamento do início e do fim do semestre, a
necessidade de se elaborar o Plano de Ensino e de Aula baseado em competências e habilidades,
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como formação docente continuada. Isto significa que veem pouca relação da sua prática docente
refletida nos resultados do ENADE, apesar de reconhecerem que a Universidade está num processo de
mudança numa busca de uma cultura a ser implantada e implementada, principalmente na alteração
do sistema de avaliação (citado em algumas respostas), a importância da Avaliação de Conhecimentos
Gerais – ACG, como uma forma de articulação com o ENADE. Nas questões de Formação Geral os
alunos precisam evidenciar a compreensão de temas que possam transcender ao seu ambiente
próprio de formação e sejam importantes para a realidade contemporânea, numa perspectiva crítica,
integradora e com construção de sínteses contextualizadas, para tanto os alunos devem mostrar
competência para propor ações de intervenção; propor soluções para situações‐problema; elaborar
perspectivas integradoras; elaborar sínteses; administrar conflitos.
Assim, pode‐se constatar que o ofício de professor está se transformando, conforme
Perrenoud (2001), e as transformações passam pela emergência de novas competências coerentes
com o novo papel dos professores e com a evolução da formação contínua.
Portanto, conclui‐se que os resultados do ENADE podem produzir referenciais que possam
permitir a definição de ações voltadas para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação, embora
não se apresente de modo claro e objetivo, mas as ações dos professores representadas aqui revelam
que além de instrumento de avaliação, o ENADE pode ser tratado também como forma a orientar os
procedimentos metodológicos de aula.
Dentre as diversas pesquisas que lidam com o tema ENADE e Formação de Professores,
nenhuma delas enfocou as visões dos professores em relação ao tema, conforme proposto aqui.
Os resultados nos indicaram que os participantes estão convencidos da importância do ENADE,
embora se refiram a ele como instrumento de avaliação e não como ação pedagógica de melhoria de
qualidade de ensino.
A pesquisa pretende ter contribuído para os estudos da avaliação ao mostrar os resultados.
Assim, apresenta uma colaboração original para poder produzir referenciais que possam permitir a
definição de ações voltadas para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação, por parte de
professores e dirigentes da Instituição.
Espera‐se ainda, que este trabalho incentive e ajude em pesquisas futuras não só da área da
Linguística Aplicada, mas como da Educação.
Esta pesquisa procura compreender como ocorre a interação do processo de Formação de
Professores e o desempenho acadêmico dos estudantes atrelados às exigências do ENADE. Nesse
sentido, pode trazer benefícios e auxiliar outros profissionais da Educação.