1. STRESS, EMOÇÕES E CANCRO
João Paulo Pestana
Núcleo de Psicologia AOA
psicologia@aoa.pt
Portimão, 10 de Julho 2010
2. O que é o stress?
O STRESS é uma reacção do organismo
(mente-corpo) perante uma situação
(estímulo) potencialmente ameaçadora
(interpretação) para a integridade física ou
psicológica do indivíduo e que resulta em
respostas psicofisiológicas e/ou
comportamentais (Dhabhar & McEwen, 1997)
O STRESS intensifica-se quando a pessoa
não dispõe dos recursos suficientes para
satisfazer as solicitações (Burnout)
O STRESS é a ausência de homeostase
(equilíbrio) no organismo.
3. O que é o stress?
Popularmente o termo stress está associado a algo de negativo. No entanto,
quando realizamos investigação nesta área importa distinguir entre:
Eustress = stress positivo Distress = stress negativo
4. Síndrome Geral de Adaptação (SGA) de
Hans Selye (1956)
1. Reacção de alarme
(resposta Fuga ou Luta de Cannon)
2. Estado de adaptação ou resistência
3. Esgotamento
(Burnout)
Resposta ao stress de Walter Cannon, (1911)
“Luta ou Fuga”
O que é o stress?
5. Curva do Stress
Stress Agudo = Positivo (aumenta desempenho)
Stress Crónico = Negativo (contribui para o esgotamento físico e psicológico)
8. Lutar… ou Fugir…
Stress como mecanismo fundamental de
sobrevivência e desenvolvimento da
espécie humana.
Face à ameaça de um animal selvagem
ou de uma tribo inimiga, era crítico
tomar decisões instantâneas quanto ao
melhor comportamento a adoptar:
“fugir ou atacar”, “matar ou morrer”,
“comer ou ser comido”.
Os antepassados que demoravam muito
tempo a decidir o que fazer, tinham
menos probabilidades de sobreviver e
de, assim, poderem transmitir os seus
genes aos seus descendentes.
11. STRESS
efeitos secundários
dos tratamentos
mudança nos
papéis familiares
mudanças a
nível social
decisões sobre
o tratamento
medo do
sofrimento
diagnóstico
dor fantasma da morte
CANCRO E STRESS
capacidade física e
funcional reduzida
medo de recidiva
12. Consequências Psicossociais Associadas ao
Diagnóstico e Tratamento do Cancro
Nível Psicológico
Medo do diagnóstico (morte)
Depressão e ansiedade
Luto patológico
Medo da dor
Questão existencial (planos de
vida)
Mudanças na imagem corporal
Medo de recidiva
Distress Psicossocial – 50%Distress Psicossocial – 50%
Zabora J. (2001)
Nível Social/Familiar
Problemas familiares (dificuldades
de comunicação e troca de papéis)
Medo da rejeição e isolamento
social
Limitações físicas que podem
comprometer o desempenho e
estatuto sócio-profissional
Medo de não conseguir cumprir
com as obrigações financeiras
13. Benefícios do Acompanhamento
Psicossocial
Melhoria da qualidade de vida do doente e da sua família.
Redução da depressão e da ansiedade associadas.
Alívio do stress e de problemas físicos (dor, náuseas, vómitos)
Aumento da capacidade de adaptação face à doença e aos seus tratamentos.
Fortalecimento da adesão terapêutica e melhoria da comunicação médico-paciente.
Fortalecimento do sistema imunitário.
Aumento da sobrevida (inconclusivo)
Redução de custos (menos medicação e visitas ao médico por problemas emocionais).
NCCN, (2007). Distress Management Clinical Practice Guidelines in Oncology
14. Stress, Emoções e Cancro
Cancro = Stress e Perturbações Emocionais √√
Stress e Perturbações Emocionais = Cancro ??
15. Psico-oncologia
Actualmente, a psico-oncologia é definida como uma sub-especialidade do
tratamento integral da pessoa com cancro, que engloba duas dimensões:
Tratamento das perturbações psicológicas dos pacientes com cancro e seus
familiares em todos os níveis de progressão da doença, bem como o stress dos
próprios técnicos de saúde;
Estudo dos factores psicológicos, sociais e comportamentais que contribuem
para o desenvolvimento do cancro e para a sobrevida dos doentes.
16. Investigações Pioneiras
1950 – primeiros trabalhos que tentam perceber a resposta psicológica
e a adaptação à doença de pacientes internados nos EUA.
existência de uma correlação forte entre alguns factores psicológico, como a culpa
e a vergonha, e o estigma do cancro (Holland, 2000).
1960 – Informar o doente ou não informar?
Psis. começam a falar com doentes e a trocar impressões com médicos.
Intervenção clínica nos doentes com cancro monstrou a existência de:
características de personalidade semelhantes.
histórias de vida com um elevado número de acontecimentos de vida
traumáticos não resolvidos.
17. Inventário de Stress de Holmes
& Rahe (1967)
Resultados:
0-149: sem problema.
150-199: stress ligeiro. 35% de
probabilidade de desenvolver uma
doença ou problema de saúde.
200-299: stress moderado: 50% de
probabilidade de desenvolver uma
doença ou problema de saúde.
300+: stress severo. 80% de
probabilidade de desenvolver uma
doença ou problema de saúde.
18.
19.
20. Mente & Corpo
Psiconeuroimunologia (Solomon e Moos, 1964)
Psiconeuroimunoendocrinologia (Ader e Cohen, 1975)
Supressão do sistema imunitário por condicionamento ambiental clássico.
Compreensão das náuseas e vómitos antecipatórios nos doentes de quimioterapia como um
fenómeno aprendido (condicionado).
34 homens saudáveis foram condicionados durante quatro sessões em três dias
consecutivos. Receberam o fármaco imunossupressor Ciclosporina A como estimulo
incondicionado emparelhada com uma bebida com sabor característico (estimulo
condicionado), cada 12 horas. Na semana seguinte, os indivíduos foram novamente
expostos ao estímulo condicionado (bebida), mas desta vez emparelhada com um
placebo. Como resultado, verificou-se que as cápsulas placebo induziram a uma
supressão da resposta imunitária (Goebel et al., 2002)
21. Uma crença não é apenas uma ideia que a mente possui,
é uma ideia que possui a mente.
Robert Oxton Bolt
Stress crónico diário activa mecanismo do stress, mas…
Características de personalidade regulam a resposta ao stress.
Acontecimentos de vida traumáticos por resolver provocam activação
do mesmo mecanismo do stress (stress crónico). PORQUÊ?
A mente não distingue a diferença entre uma imagem real e uma
imagem vividamente imaginada.
“Recordar é viver” – psicofisiologicamente.
O pensamento “materializa-se” no corpo.
22. Existência de depressão = maior probabilidade
de cancro nos 20 anos seguintes (Persky et al.,
1987)
Relação directa entre depressão e mortalidade
(controverso) (Hjerl et al., 2003)
Relação positiva entre depressão e cancro;
- Relação negativa entre depressão clínica e
cancro (Bieliauskas, 1980)
Contradição entre resultados (Massie, 2004)
Distinção entre depressão, depressividade e
depressibilidade (Coimbra de Matos, 2001)
Depressão
23. Características de personalidade mais comuns:
traumas emocionais infantis por resolver;
supressão de emoções fortes (revolta);
tendência geral para o desespero;
complacência com os desejos dos outros – “NÃO”
evitamento de conflitos;
auto-estima fragilizada . (Temoshok, 1987)
Valores altos de acting out e de expressão
emocional = -1% risco de cancro
Inibição da expressão emocional = 16x maior
propensão vir a desenvolver cancro (Shaffer et al., 1987)
“O cancro é a doença das pessoas boas ” (Siegel, 2004)
Personalidade Tipo C
24. Apoio Social
Relações interpessoais fracas ou inexistentes e
maior probabilidade de desenvolvimento de
cancro (Reinolds & Kaplan, 1986)
Importância do comportamento (Pereira & Lopes, 2002)
Relações interpessoais fracas e maior
desregulação do sistema neuroendócrino (Turner-
Cobb et al., 2000)
Relações interpessoais fracas e supressão do
sistema imunitário (Kiecolt-Glaser et al., 2002)
25. Investigação
Estudos efectuados em humanos, têm vindo a demonstrar que o
stress crónico pode provocar:
a activação contínua da resposta ao stress conduzindo à supressão do
sistema imunitário e à desregulação do sistema endócrino (Cohen et al.,
1999, 2001; (Boscarino & Chang, 1999; Coker et al., 2003; Nielsen et al., 2005).
dificuldades na reparação do ADN (Kiecolt-Glaser & Glaser,1986)
26. Hoje sabemos que existe uma interligação
entre o sistema nervoso central, o sistema
endócrino e o sistema imunitário que é
mantida por vários mensageiros químicos
(peptídeos) segregados pelas células
nervosas, por alguns órgãos do sistema
endócrino ou por células imunitárias (Mendes,
2002)
Stress Crónico = Supressão Imunitária e
Desregulação Endócrina CANCRO
Stress Emocional, Imunidade e Cancro
27. STRESS vs RELAXAMENTO
A Resposta de Relaxamento (Benson, 1996)
Estado psicofisiológico de relaxamento do
organismo que é contrário à resposta de
stress de Fuga-ou-Luta.
Relaxamento homeostase
Melhor Qualidade de Vida
29. Factores de Risco Populacional
• Envelhecimento
• Antecedentes Familiares
• Mutações genéticas e hormonais
• Radiação ionizante
• Substâncias Químicas
Genética e Meio Ambiente
• Tabaco
• Álcool
• Excesso de peso e sedentarismo
• Tipo de alimentação
• Factores Psicológicos(Comportamento)
Cerca de 90% de todos os cancros podem atribuir-se a factores externos
que, de forma geral, a pessoa pode modificar e assim diminuir o risco de
desenvolver cancro.
30. ETIOLOGIA
MODELO
BIOMÉDICO
Factores Genéticos
- Mutações genéticas
- Metabolismo
- Condições Imunitárias
Factores Ambientais
- Radiação
- Tabaco
- Químicos Sintéticos
Organismo = corpo
(passivo)
Cancro
Indivíduo…
- Vítima
- Passivo
-Powerless
Os genes controlam a vida
(saúde e doença)
32. EPIGENÉTICA
Epi – genética = acima do gene
“Estudo dos mecanismos moleculares pelos quais o meio ambiente
controla a actividade (expressão) genética”.
Meio ambiente = extracelular (nutrição, hormonas, químicos artificiais, stress emocional)
Ser Humano
Organismo de 100 triliões de células que reagem continuamente a estímulos do ambiente.
O comportamento intracelular é “determinado” pelo ambiente extracelular.
Bruce Lipton, The Biology of Belief.
33. EPIGENÉTICA E CANCRO
CANCRO
GENES
SINAIS
BIOQUÍMICOS
(extracelular)
COMPORTAMENTO
PERCEPÇÃO (interpretação)
CRENÇAS
Nutrição, hormonas, químicos
artificiais, radiação, emoções
Stress
Crónico
EXPERIÊNCIAS PRECOCES
As nossas CRENÇAS controlam os nossos genes
Genes orientam, mas não determinam!
Fumar, beber, alimentação
saudável, realizar exercício
físico, descansar, exames
médicos de rotina…
34. “Na vida, o mais importante não são as cartas que
a vida nos dá, o mais importante é a forma como
jogamos as cartas que a vida nos dá”
Josh Billings