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Alfabetização Digital e Neo-Escritores1

                                                                   Jean Douglas Silva Prestes2

        Resumo:
        A Sala de Leitura Íris Silveira, sede do Proler/UESB, dispõe de 03
computadores, utilizados para o Programa de Alfabetização Digital, iniciado em 2005.
A maior parte dos usuários é constituída por jovens estudantes de escolas públicas
circunvizinhas, com faixa etária entre 10 e 14 anos. Os exercícios de digitação são
realizados com poesias, contos, cordel de autores renomados da Literatura Brasileira
e autores regionais. Entre as pessoas que aprenderam a usar o computador para
digitar os seus escritos criativos encontram-se os neo-escritores: Hamilton Chagas,
que trabalha como garçom numa churrascaria e é autor de diversas poesias, como
Terra de Pobres Miseráveis e Condor; e Arnaldo Ferreira, dono de uma pequena
venda, e é autor do romance Rone e Rosa: o amor é azul. A produção literária dos
neo-escritores é digitada corrigida, impressa e reproduzida por fotocópias e tem
incentivado outros usuários do computador a escrever e a criar histórias. Em 2007
foram cadastrados 19 usuários com uma média de 45 atendimentos por mês.

Palavra Chave: alfabetização digital, escrita, identidade, inclusão social, memória.

Introdução:

        Muitas pessoas que saem da condição de iletradas permanecem apartadas do
usufruto das inovações tecnológicas, e excluídas das informações que ampliam as
possibilidades de outras perspectivas de vida, apesar dos avanços na democratização
da educação e da cultura. Conhecer o computador suas possibilidades de uso
pessoal, desmitificando conceitos que separam as tecnologias para uso apenas de
especialistas é um dos propósitos do projeto de Alfabetização Digital do Proler/UESB.
A ampliação dos espaços sociais de leitura implica o uso do computador para
conhecimento das informações que transitam nas infovias. Textos criativos de pessoas
que decidem escrever em prosa ou em verso, da maneira que sabem e podem, para
compartilhar com o leitor sentimentos, emoções e acontecimentos, encontram guarida
no Proler/UESB e os neo-escritores encontram no programa de Alfabetização Digital
um espaço de materialização de livros que se tornam possíveis, pela redução de custo
de edição e impressão que o computador, a impressora e a fotocópia oferecem.
Preserva-se a memória cultural e social de diversos segmentos da sociedade quando
os mecanismos de interdição ao discursos são desconsiderados, fazendo valer para
todos, o direito de falar, de contar, de dizer, de inventar e expressar idéias.

Material e Métodos

        Os computadores disponibilizados para o Programa de Alfabetização Digital
foram doados pela Receita Federal (02) e pela Pro-Reitoria de Extensão da UESB.
Pessoas interessadas em usar o equipamento para aprender informática, ou para
digitar trabalhos escolares e escritos criativos podem se inscrever sem restrições e
sem custos. As aulas são iniciadas com informações sobre as habilidades básicas
1
  Alfabetização Digital programa do Proler/Uesb: campus de Vitória da Conquista. Comitê do Programa
Nacional de Incentivo à Leitura da Fundação Biblioteca Nacional FBN em Vitória da Conquista.
Coordenação e orientação da Profa. Dra. Heleusa Figueira Câmara e Mônica Figueira Câmara . Apoio da
Pró-Reitoria de Extensão da UESB.
2
 Aluno do III Semestre do Curso de Administração da UESB. Bolsista do Proler/UESB: campus de V. da
Conquista e responsável pelo curso de Alfabetização Digital.
para o uso do teclado, do mouse, noções preliminares de digitação e como desenhar e
jogar no computador. Cada usuário da Alfabetização Digital recebe duas aulas por
semana com duração média de uma hora. É sugerido como exercício a digitação de
poesias, contos, cordel, extraídos de livros de autores renomados da Literatura
Brasileira e assim são apresentados os recursos básicos dos editores de textos, como
formatação, configuração da página e outros. Ao final da aula, os usuários ficam livres
para desenhar no computador ou fazer uso dos jogos educativos, como caça-palavras,
palavra-cruzadas, etc. É permitido aos cadastrados no programa trazer escritos para
digitar, como poesias, documentos, ofícios e outros. Os trabalhos são salvos em
disquetes para serem impressos em outro lugar, em razão do custo financeiro de
papel e cartucho. Todo atendimento é registrado no livro de freqüência. com
anotações do que foi realizado. Os livros escolhidos para digitação são, também,
registrados.

Resultados e discussão

São vários os motivos que fazem as pessoas procurarem o Programa de Alfabetização
Digital. Muitas vezes, o novo usuário tem vontade de aprender a usar os recursos do
computador para acompanhar as exigências do mercado de trabalho. Outras pessoas
vêm pela curiosidade e desejo de conhecer algo novo. Já as crianças e jovens, além
de aprender a usar o computador, também buscam uma nova forma de diversão.

As crianças, a partir do conhecimento do computador, optam por digitar, na maioria
das vezes, livros de poemas. Como exemplos desses livros pode-se citar Amores
diversos, de Arnaldo Antunes, Renata Pallottini e outros e Poemas do mar, de Ana
Maria Machado, Dorival Caymmi e outros. Ao digitar os livros, os usuários se
interessam pela história e acabam se envolvendo não só com a digitação, mas
também com a própria leitura, levando, muitas vezes, o livro por empréstimo para ler a
história em casa. Quando é hora de desenhar, as meninas se interessam mais por
casas e paisagens. Já os meninos adoram desenhar carros e caminhões. Também
criou-se o costume de se escrever recados para outros usuários, através de desenhos.
Sobre os jogos, os que mais atraem o interesse das crianças são o caça-palavras e o
quebra-cabeça com imagens de quadros de Leonardo da Vinci.

Também há as pessoas que fazem uso do computador para digitação de textos
pessoais, como é o caso de Arnaldo Ferreira, autor do romance Rone e Rosa, o amor
é azul, que já foi totalmente digitalizado. Esse livro conta a história do romance entre
dois jovens – Rone e Rosa – que tiveram um relacionamento na juventude, mas,
devido ao fato de não terem trocado informações (nem sequer sabiam o nome um do
outro), eles ficam separados, um sem saber o paradeiro do outro, mas ambos
continuam preservando o amor existente desde a adolescência. O escritor Arnaldo
Ferreira se impressiona muito com todos os recursos que o computador pode oferecer.
Possui a bem fundada opinião de que não é possível se conhecer tudo sobre o
computador e que ninguém é capaz de dominar todos os recursos, devido à
complexidade da máquina. O seu livro foi digitado em sua maioria, pelos membros do
Proler. Porém o próprio Arnaldo também participou da digitação, aprendendo assim os
recursos básicos do programa Microsoft Word. Durante a digitação de seu livro, a cada
capítulo que era concluído, Arnaldo abria um enorme sorriso. “É um sonho que está
sendo realizado”, dizia sempre.

Cada usuário, quando começa a se aprofundar nos recursos disponíveis no
computador, começa a ficar maravilhado com esse mundo completamente novo para
eles que é a informática. As crianças, que normalmente já são amigas umas das
outras, se divertem com os desenhos, jogos e aprendem muito com a digitação dos
livros clássicos. O Alfabetização Digital proporciona uma grande interação entre
usuário, literatura e computador e vem cumprindo o seu objetivo de incluir socialmente
as pessoas que nele se cadastram.

Conclusões

O Programa de Alfabetização Digital do Proler/UESB é importante por estabelecer
interação do uso da máquina com a literatura, estimulando a leitura e provocando
comentários sobre os poemas digitados, propiciando a socialização das produções
dos participantes. As ligações das tecnologias com as ciências humanas podem
mudar conceitos cristalizados sobre saberes para o aperfeiçoamento pessoal.

Referências bibliográficas:

    1 - AFONSO, Carlos A. Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? São
    Paulo, Friederich Ebert Stiftung, Policy Paper, nº 26, setembro de 2000.

    2 - RANGEL, Ricardo. Passado e futuro da era da informação. Rio de Janeiro,
    Nova Fronteira, 1999.

    3 - SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da
    informação. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2001.

    4 - LASTRES, Helena e ALBAGLI, Sarita (orgs.). Informação e globalização na
    era do conhecimento. Rio de Janeiro, Campus, 1999.

Fotos:




    FIGURA 1. Sala do Proler/UESB Alfabetização digital 2006.
FIGURA 2. Sala do Proler/UESB Alfabetização digital 2007.

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Alfabetização digital e neo escritores

  • 1. Alfabetização Digital e Neo-Escritores1 Jean Douglas Silva Prestes2 Resumo: A Sala de Leitura Íris Silveira, sede do Proler/UESB, dispõe de 03 computadores, utilizados para o Programa de Alfabetização Digital, iniciado em 2005. A maior parte dos usuários é constituída por jovens estudantes de escolas públicas circunvizinhas, com faixa etária entre 10 e 14 anos. Os exercícios de digitação são realizados com poesias, contos, cordel de autores renomados da Literatura Brasileira e autores regionais. Entre as pessoas que aprenderam a usar o computador para digitar os seus escritos criativos encontram-se os neo-escritores: Hamilton Chagas, que trabalha como garçom numa churrascaria e é autor de diversas poesias, como Terra de Pobres Miseráveis e Condor; e Arnaldo Ferreira, dono de uma pequena venda, e é autor do romance Rone e Rosa: o amor é azul. A produção literária dos neo-escritores é digitada corrigida, impressa e reproduzida por fotocópias e tem incentivado outros usuários do computador a escrever e a criar histórias. Em 2007 foram cadastrados 19 usuários com uma média de 45 atendimentos por mês. Palavra Chave: alfabetização digital, escrita, identidade, inclusão social, memória. Introdução: Muitas pessoas que saem da condição de iletradas permanecem apartadas do usufruto das inovações tecnológicas, e excluídas das informações que ampliam as possibilidades de outras perspectivas de vida, apesar dos avanços na democratização da educação e da cultura. Conhecer o computador suas possibilidades de uso pessoal, desmitificando conceitos que separam as tecnologias para uso apenas de especialistas é um dos propósitos do projeto de Alfabetização Digital do Proler/UESB. A ampliação dos espaços sociais de leitura implica o uso do computador para conhecimento das informações que transitam nas infovias. Textos criativos de pessoas que decidem escrever em prosa ou em verso, da maneira que sabem e podem, para compartilhar com o leitor sentimentos, emoções e acontecimentos, encontram guarida no Proler/UESB e os neo-escritores encontram no programa de Alfabetização Digital um espaço de materialização de livros que se tornam possíveis, pela redução de custo de edição e impressão que o computador, a impressora e a fotocópia oferecem. Preserva-se a memória cultural e social de diversos segmentos da sociedade quando os mecanismos de interdição ao discursos são desconsiderados, fazendo valer para todos, o direito de falar, de contar, de dizer, de inventar e expressar idéias. Material e Métodos Os computadores disponibilizados para o Programa de Alfabetização Digital foram doados pela Receita Federal (02) e pela Pro-Reitoria de Extensão da UESB. Pessoas interessadas em usar o equipamento para aprender informática, ou para digitar trabalhos escolares e escritos criativos podem se inscrever sem restrições e sem custos. As aulas são iniciadas com informações sobre as habilidades básicas 1 Alfabetização Digital programa do Proler/Uesb: campus de Vitória da Conquista. Comitê do Programa Nacional de Incentivo à Leitura da Fundação Biblioteca Nacional FBN em Vitória da Conquista. Coordenação e orientação da Profa. Dra. Heleusa Figueira Câmara e Mônica Figueira Câmara . Apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UESB. 2 Aluno do III Semestre do Curso de Administração da UESB. Bolsista do Proler/UESB: campus de V. da Conquista e responsável pelo curso de Alfabetização Digital.
  • 2. para o uso do teclado, do mouse, noções preliminares de digitação e como desenhar e jogar no computador. Cada usuário da Alfabetização Digital recebe duas aulas por semana com duração média de uma hora. É sugerido como exercício a digitação de poesias, contos, cordel, extraídos de livros de autores renomados da Literatura Brasileira e assim são apresentados os recursos básicos dos editores de textos, como formatação, configuração da página e outros. Ao final da aula, os usuários ficam livres para desenhar no computador ou fazer uso dos jogos educativos, como caça-palavras, palavra-cruzadas, etc. É permitido aos cadastrados no programa trazer escritos para digitar, como poesias, documentos, ofícios e outros. Os trabalhos são salvos em disquetes para serem impressos em outro lugar, em razão do custo financeiro de papel e cartucho. Todo atendimento é registrado no livro de freqüência. com anotações do que foi realizado. Os livros escolhidos para digitação são, também, registrados. Resultados e discussão São vários os motivos que fazem as pessoas procurarem o Programa de Alfabetização Digital. Muitas vezes, o novo usuário tem vontade de aprender a usar os recursos do computador para acompanhar as exigências do mercado de trabalho. Outras pessoas vêm pela curiosidade e desejo de conhecer algo novo. Já as crianças e jovens, além de aprender a usar o computador, também buscam uma nova forma de diversão. As crianças, a partir do conhecimento do computador, optam por digitar, na maioria das vezes, livros de poemas. Como exemplos desses livros pode-se citar Amores diversos, de Arnaldo Antunes, Renata Pallottini e outros e Poemas do mar, de Ana Maria Machado, Dorival Caymmi e outros. Ao digitar os livros, os usuários se interessam pela história e acabam se envolvendo não só com a digitação, mas também com a própria leitura, levando, muitas vezes, o livro por empréstimo para ler a história em casa. Quando é hora de desenhar, as meninas se interessam mais por casas e paisagens. Já os meninos adoram desenhar carros e caminhões. Também criou-se o costume de se escrever recados para outros usuários, através de desenhos. Sobre os jogos, os que mais atraem o interesse das crianças são o caça-palavras e o quebra-cabeça com imagens de quadros de Leonardo da Vinci. Também há as pessoas que fazem uso do computador para digitação de textos pessoais, como é o caso de Arnaldo Ferreira, autor do romance Rone e Rosa, o amor é azul, que já foi totalmente digitalizado. Esse livro conta a história do romance entre dois jovens – Rone e Rosa – que tiveram um relacionamento na juventude, mas, devido ao fato de não terem trocado informações (nem sequer sabiam o nome um do outro), eles ficam separados, um sem saber o paradeiro do outro, mas ambos continuam preservando o amor existente desde a adolescência. O escritor Arnaldo Ferreira se impressiona muito com todos os recursos que o computador pode oferecer. Possui a bem fundada opinião de que não é possível se conhecer tudo sobre o computador e que ninguém é capaz de dominar todos os recursos, devido à complexidade da máquina. O seu livro foi digitado em sua maioria, pelos membros do Proler. Porém o próprio Arnaldo também participou da digitação, aprendendo assim os recursos básicos do programa Microsoft Word. Durante a digitação de seu livro, a cada capítulo que era concluído, Arnaldo abria um enorme sorriso. “É um sonho que está sendo realizado”, dizia sempre. Cada usuário, quando começa a se aprofundar nos recursos disponíveis no computador, começa a ficar maravilhado com esse mundo completamente novo para eles que é a informática. As crianças, que normalmente já são amigas umas das outras, se divertem com os desenhos, jogos e aprendem muito com a digitação dos
  • 3. livros clássicos. O Alfabetização Digital proporciona uma grande interação entre usuário, literatura e computador e vem cumprindo o seu objetivo de incluir socialmente as pessoas que nele se cadastram. Conclusões O Programa de Alfabetização Digital do Proler/UESB é importante por estabelecer interação do uso da máquina com a literatura, estimulando a leitura e provocando comentários sobre os poemas digitados, propiciando a socialização das produções dos participantes. As ligações das tecnologias com as ciências humanas podem mudar conceitos cristalizados sobre saberes para o aperfeiçoamento pessoal. Referências bibliográficas: 1 - AFONSO, Carlos A. Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? São Paulo, Friederich Ebert Stiftung, Policy Paper, nº 26, setembro de 2000. 2 - RANGEL, Ricardo. Passado e futuro da era da informação. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. 3 - SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Exclusão digital: a miséria na era da informação. São Paulo, Fundação Perseu Abramo, 2001. 4 - LASTRES, Helena e ALBAGLI, Sarita (orgs.). Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro, Campus, 1999. Fotos: FIGURA 1. Sala do Proler/UESB Alfabetização digital 2006.
  • 4. FIGURA 2. Sala do Proler/UESB Alfabetização digital 2007.