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CARGO/ESPECIALIDADE: ANALISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS

                                                        SERVIÇO SOCIAL
                                                                            ÍNDICE

CONHECIMENTOS GERAIS
1. A política pública da assistência social no contexto da política de seguridade social no Brasil. ......                                                    1
2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema Único de Assistência Social:
seus objetivos, princípios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institucional, programas,
projetos e seus usuários. .......................................................................................................................             3
3. Concepção de Assistência Social no Brasil: com ênfase na sua gestão (informação, avaliação e
monitoramento), execução, controle e financiamento. ..........................................................................                               18
4. Tipificação dos serviços socioassistenciais. ......................................................................................                       26
5. Benefícios assistenciais. ....................................................................................................................            42
6. A atuação de assistentes sociais e psicólogos no SUAS: ênfase no trabalho com famílias..............                                                      47

Legislação:

1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. (versão atualizada)........................                                                 53
2. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 8.742 de 7 de de-
zembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993. ........................................................                                          64
3. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 12.435, de 6 de julho
de 2011, altera a Lei n.° 8.742 de 7 de dezembro de 1993. .................................................................                                  70
4. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 12.470, de 31 de
agosto de 2011, altera a Lei n°. 8.742 de 7 de dezembro de 1993. .....................................................                                       73
5. Brasil. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n°. 8.069, de 13 de
julho de 1990. ........................................................................................................................................      74
6. Brasil. Presidência da República:
Lei n°. 12.010 de 03 de agosto de 2009. - Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13 de
julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga
dispositivos da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, e da Consolidação das Leis
do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943; e dá outras provi-
dências. .................................................................................................................................................   97
7. Brasil. Presidência da República. Lei n°. 8.842 de 4 de janeiro de 1994 dispõe sobre a Política
Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências..................................                                              104
8. Brasil. Presidência da República. Estatuto do IDOSO. Lei n°. 10.741, de 1° de outubro de 2003.....                                                        106
9. Brasil. Presidência da República. Decreto Lei n°. 3298 de 20 de dezembro de 1999 - Regulamen-
ta a Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências...........                                                        113
10. Prefeitura de Belo Horizonte. Lei Municipal n°. 9.078 de 19 de janeiro de 2005 que estabelece a
Política da pessoa com deficiência para o município de Belo Horizonte. .............................................                                         119
11. Brasil. Presidência da República. Lei 13.340 de 07 de agosto de 2006 - Lei Maria da Penha -                                                              123
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. ...........................- 123
12. Brasil. Presidência da República. Decreto 7.492 de 02 de junho de 2011 - Institui o Plano Brasil
sem Miséria. 13. Brasil. Presidência da República. Lei 12.101 de 27 de novembro de 2009 - Dispõe
sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social; regula os procedimentos de
isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993
... e dá outras providências. ..................................................................................................................             127
14. Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. - Brasília: Ministério do De-
senvolvimento Social e Combate à Fome, UNESCO, 2009. Parte 1. ...................................................                                                              132
15. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistên-
cia Social - PNAS. Brasília, 2004. 150
16. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica
NOB/Suas. Brasília, 2005. .....................................................................................................................                                151
17. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica de
Recursos Humanos NOB-RH/Suas. Brasília, 2006. ..............................................................................                                                   160
18. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais - Resolução 109, de 11 de novembro de
2009, publicada no Diário Oficial da União em 25 de novembro de 2009. ............................................                                                             172
19. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Protocolo de Gestão Integrada
de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único da Assistência Soci-
al. ...........................................................................................................................................................                188
20. Brasil. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução n° 017. .............................................                                                           193
21. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 1 -
Configurando os Eixos de Mudança. Março/2007. ................................................................................                                                 194
22. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 2 - De-
safios da Gestão do SUAS nos Municípios e Estados. Março/2007......................................................                                                            207
23. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 3 - Pla-
nos de Assistência Social: Diretrizes para Elaboração. Março/2007. ...................................................                                                         225
24. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Benefícios Eventuais da Assis-
tência Social - Cadernos de Estudos n.°12 - Desenvolvimento Social em Debate. Março/2010...........                                                                            240
25. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Centros de Referência de As-
sistência Social - CRAS - Orientações Técnicas. ano/2009. .................................................................                                                    246
26. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações sobre a Gestão do
Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS - 1ª Versão. ano/2011................                                                                         258
27. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações sobre o Centro de
Referência Especializado para População em Situação de Rua e Serviço Especializado para Pes-
soas em Situação de Rua - Centro Pop. ano/2011. ..............................................................................                                                 264
28. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Metodologia de Trabalho Social com Família na Assis-
tência Social. Belo Horizonte, 2007. ......................................................................................................                                    265
29. Benefícios da Previdência Social. ....................................................................................................                                     266
30. Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais e Psicólogos na política de Assistência Social.
Série: Trabalho e Projeto profissional nas Políticas Sociais. Brasil-2009..............................................                                                        267


CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
1. Estado, Política Social e Questão Social: no contexto da globalização e da reestruturação produtiva. .............                                                           1
2. Concepção de Seguridade Social no Brasil: formulação, administração, gestão, financiamento e execução
das políticas públicas. ..............................................................................................................................................          8
3. Legislação Social: direitos sociais na atual conjuntura brasileira. .......................................................................                                 13
4. Direitos humanos e a interface com o Serviço Social. ........................................................................................                               23
5. Realidade brasileira e Serviço Social: trajetória histórica e debate contemporâneo. ..........................................                                              29
6. Desafios ético-políticos e demandas à profissão: orientação e acompanhamento social a indivíduos, grupos e
famílias; mobilização social e práticas educativas; supervisão de estagiários de serviço social; Instruções soci-
ais de processos, sentenças, decisões e pareceres. ..............................................................................................                              36
7. Planejamento e trabalho profissional, com ênfase no trabalho interdisciplinar na Política de assistência Soci-
al: objetivos, intervenção, investigação, sistematização, avaliação e elaboração de projetos de pesquisa............                                                           59
8. Serviço social e o projeto ético-político: Código de Ética Profissional do assistente social e regulamentação
profissional. ..............................................................................................................................................................   67
9. Família e Serviço Social. .....................................................................................................................................             79
10. Avaliação e monitoramento de políticas, programas e projetos sociais.............................................................                                          84
Brasil Concursos
                                                                               A passagem para o século XX, com a transição do capitalismo
                                                                          de tipo concorrencial para o monopolista, fez o Estado assumir, de
 CARGO/ESPECIALIDADE: ANALISTA                                            vez por todas, a sua função de “empresário” da classe capitalista.
 DE POLÍTICAS PÚBLICAS/SERVIÇO                                            Assim, desenvolveu políticas públicas – com recursos públicos,
                                                                          oriundos da extração de mais-valia da classe trabalhadora – volta-
 SOCIAL E PSICOLOGIA(ÁREA DE A-                                           das para o processo de monopolização capitalista. A partir da déca-
                                                                          da de 1930 – com a crise de 1929 – até os anos 1960/1970, configu-
  TUAÇÃO: ASSISTÊNCIA SOCIAL)                                             rou-se o que conhecemos por padrão fordista-keynesiano: um pa-
1. A política pública da assistência social no contexto da política de    drão de produção em massa voltado para o consumo em massa
seguridade social no Brasil.                                              articulado à feroz ação estatal de impulso da economia capitalista,
2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema       através de ações voltadas para a área de infra-estrutura, políticas
Único de Assistência Social: seus objetivos, princípios, diretrizes,      fiscal, monetária, salarial e, por fim, políticas sociais, que proporcio-
conceitos fundamentais, organização institucional, programas, proje-      naram salários indiretos à classe trabalhadora, liberando parte de
tos e seus usuários.                                                      seus salários para a realização do consumo em massa. Este pro-
                                                                          cesso foi estratégico para o “equilíbrio” das insatisfações da classe
3. Concepção de Assistência Social no Brasil: com ênfase na sua           trabalhadora e a ameaça concreta de construção de outra socieda-
gestão (informação, avaliação e monitoramento), execução, controle        de (socialista) no contexto de um mundo bipolar. Por sua vez, trata-
e financiamento.                                                          ram-se também de demandas efetivas e conquistas da classe traba-
4. Tipificação dos serviços socioassistenciais.                           lhadora por melhores condições de vida.
5. Benefícios assistenciais.                                                   O padrão fordista-keynesiano manteve-se até o final dos anos
6. A atuação de assistentes sociais e psicólogos no SUAS: ênfase          1960, ao deparar-se com um esgotamento dos mercados europeu e
no trabalho com famílias.                                                 japonês. A década de 1970 marca a eclosão de nova crise capitalis-
                                                                          ta e é preciso realizar um reordenamento societário global. A partir
                                                                          deste período temos o desenvolvimento de processos de reestrutu-
1. A política pública da assistência social no contexto da políti-        ração produtiva, a mundialização do capital financeiro e o avanço da
ca de seguridade social no Brasil.                                        ideologia neoliberal por todo o globo. O Estado, mais uma vez, é o
                                                                          sujeito principal que irá transferir recursos, antes voltados para o
     Políticas Públicas de Assistência Social brasileira: avanços,        provimento de políticas sociais, para os interesses do capital, sobre-
limites e desafios                                                        tudo o financeiro. Irá, ainda, desregulamentar a legislação trabalhis-
     Larissa Dahmer Pereira                                               ta e social, abrir mercados, e proporcionar as leis necessárias para
                                                                          o processo global de reação burguesa à crise capitalista, o que
     Introdução
                                                                          afetará a classe trabalhadora em suas condições de vida e trabalho
     Ao abordarmos as políticas públicas de assistência social, seus      e em suas formas tradicionais de organização. A partir daquele
avanços, limites e desafios, é imprescindível pontuar a concepção         período até o momento atual, o desemprego e a precarização do
da qual se parte acerca das políticas públicas. As políticas públicas     trabalho tornam-se ameaças constantes na vida dos trabalhadores.
são compostas por políticas de cunho social e econômico e foram
                                                                               Políticas públicas no Brasil: breve histórico
construídas ao longo do desenvolvimento da ordem burguesa, com
a emergência do Estado-Nação, a partir do século XVI.                          O processo supra-referido ocorreu de diversas formas nos dife-
                                                                          rentes países capitalistas, concomitante à erosão do bloco soviético.
     A transição de uma sociedade de organização feudal para a or-
                                                                          No Brasil – um país capitalista periférico – entramos no mundo
dem burguesa teve no Estado um sujeito fundamental, que permitiu
                                                                          industrial somente a partir da década de 1930. O Estado foi o impul-
a territorialização da política, o controle monetário, a garantia de
                                                                          sionador central daquele processo - no contexto ideológico nacional-
proteção à propriedade privada dos meios de produção e o discipli-
                                                                          desenvolvimentista - com políticas econômicas voltadas para a
namento brutal de homens “livres como pássaros” para a venda de
                                                                          indústria, na nascente zona urbana, e que mantinham o poder do
sua força de trabalho à futura indústria capitalista. O Estado, desde
                                                                          latifúndio, no campo. O padrão brasileiro de políticas sociais base-
sua origem, nasce voltado para o fortalecimento da nascente ordem
                                                                          ou-se na “cidadania regulada”: isto é, tinham acesso à proteção
burguesa e promove ações para a sua consolidação.
                                                                          social somente aqueles que detivessem a carteira de trabalho, com
     O século XVIII marca, através das Revoluções Industrial (1769),      profissão e sindicato reconhecidos pelo Estado varguista. Aqueles
Americana (1776) e Francesa (1789), a passagem definitiva para a          que não detinham a carteira de trabalho e/ou questionassem a
nova ordem burguesa, cujo princípio é o da acumulação e o funda-          ordem vigente eram tratados com violenta repressão estatal. Este
mento é a propriedade privada dos meios de produção. Aquele               padrão de política social – subjugada à política econômica - atra-
século inaugura a era dos direitos civis, necessários à ordem bur-        vessou o governo e a ditadura Vargas (1930/1945), o período popu-
guesa, pois era preciso o direito de ir e vir, de vender “livremente” a   lista (1946/1963), a longa ditadura militar (1964/1984) e só foi modi-
sua força de trabalho e, principalmente, ter a garantia - através da      ficado com a promulgação da CF88
força estatal - da segurança à propriedade privada.
                                                                               A Assistência Social foi historicamente, no contexto brasileiro,
     O século XIX assistirá à emergência da classe trabalhadora, or-      detida pelas instituições religiosas e utilizada como “moeda de troca”
ganizada, que passou - frente às terríveis condições de vida - a          política, seja na zona urbana, seja na zona rural, com o poder dos
exigir o direito de organização em sindicatos e de participar da vida     coronéis. O Estado varguista criou grandes instituições, como a
política, até então reservada aos detentores de renda e propriedade.      LBA, que não fugiu à lógica da benemerência, do primeiro-damismo
Este século, através de lutas sangrentas, vê nascer os direitos polí-     e do “favor aos pobres”: a política social de assistência sempre foi,
ticos.                                                                    portanto, cunhada pela ótica do favor, a serviço da manutenção da
     Já o século XX testemunha o nascimento dos direitos sociais,         miséria e dos interesses das elites brasileiras.
resultado das inúmeras lutas enfrentadas pela classe trabalhadora              O processo de constituição da cidadania no Brasil foi marcado
desde meados do século XIX. Tal processo – de nascimento do que           pela restrição das liberdades civis, enquanto o Executivo ficou com
conhecemos hoje como cidadania (direitos civis, políticos e sociais)      o “papel” de criar os direitos sociais, como um distribuidor repressor
– desenvolveu-se na Inglaterra, centro do desenvolvimento capitalis-      e paternalista de empregos e favores. A ação política voltava-se
ta, e espraiou-se, de formas diferenciadas e de acordo com as lutas       para a negociação direta com o governo, sem passar pela mediação
de classes, nos demais países.                                            das representações políticas. A cultura política brasileira foi, portan-
     O Estado foi fundamental para “regular” os inúmeros conflitos        to, mais orientada para o Estado do que para o fortalecimento de
das lutas de classes, regulamentando leis políticas e sociais, mas        representações políticas na sociedade civil: é a “estadania” em
mantendo sua função primordial: a de manter e fortalecer a ordem          contraste com a “cidadania”. Somente com os ventos democrático-
capitalista e, ao mesmo tempo, transfigurar-se como um ente (ilusó-       populares da década de 1980 e a promulgação da CF88 inaugurou-
rio) acima das classes sociais. Além do importante papel político, o      se um padrão de proteção social afirmativo de direitos sociais en-
Estado desenvolveu desde o seu nascedouro ações econômicas                quanto direitos de cidadania. Contudo, tem-se, na década de 1990,
cruciais para o desenvolvimento da empresa capitalista.                   um avanço fenomenal do projeto neoliberal, que se espalhou pelo


Conhecimentos Gerais                                                      1
Brasil Concursos
mundo e realizou, com o seu programa de ajuste fiscal, um verda-          Fome Zero para a efetivação de ações, o governo dissolveu o ME-
deiro “desajuste social” por toda a América Latina                        SA e o MAS e criou o MDS, que reúne as competências do MESA,
     No Brasil, o governo Collor (1990/1992) inaugurou a entrada do       do MAS e da Secretaria-Executiva do Programa Bolsa-Família.
projeto neoliberal no país, com intensos processos de desregula-          Outra ação governamental foi a manutenção dos MS e MPS, com
mentação, abertura dos mercados, incentivos à reestruturação das          orçamentos separados, o que possibilitou a justificativa do “déficit da
empresas e a disseminação ideológica por toda a sociedade brasi-          Previdência” para a realização da Reforma da Previdência, uma das
leira de que a causa dos males sociais centrava-se no “gigantismo”        primeiras ações políticas do primeiro ano do governo Lula.
do Estado e a solução seria reduzi-lo ao máximo, transferindo suas             A Reforma da Previdência, inserida na PEC-40 e realizada sob o
funções para empresas, supostamente mais eficientes. No campo             argumento da “justiça social”, não incluiu os 40 milhões de trabalha-
das políticas sociais, o governo Collor simplesmente ignorou os           dores sem qualquer cobertura previdenciária, mas limitou-se a reali-
preceitos constitucionais, através da desconsideração do Sistema          zar um novo disciplinamento no regime de previdência dos servido-
de Seguridade Social inscrito na CF88. Nesta, a Seguridade Social         res públicos, com o rebaixamento do teto dos benefícios, o que
é compreendida como um conjunto integrado de ações de iniciativa          abriu um enorme mercado – extremamente lucrativo - para a “Previ-
dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os            dência Complementar”. Na Saúde, o atual governo mantém a reten-
direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência. Assim, a       ção de recursos e investimentos para a área, ao mesmo tempo em
Seguridade Social requer uma proposta de orçamento elaborada de           que direciona ações voltadas para a regulamentação dos Planos
forma integrada e um Ministério da Seguridade Social, o que não foi       Privados de Saúde, o que esvazia o SUS e favorece os empresários
realizado.                                                                do setor privado.
     O governo Collor fragmentou a Seguridade Social em ministérios            No campo da Assistência Social, foi realizada, em dezembro de
diferentes, dando-lhe margem para realizar, na Saúde, um boicote          2003, a IV CNAS, em caráter extraordinário, o que significou um
orçamentário sistemático ao SUS. Na Previdência, lançou um paco-          avanço no que diz respeito à retomada da valorização de espaços
te de reforma previdenciária já em 1992, cuja função era retirar          de controle social. A plenária final da IV CNAS aprovou a PNAS,
direitos dos trabalhadores conquistados na CF88. Na Assistência,          que prevê a construção e implantação do SUAS, cujo modelo de
vetou a LOAS, desrespeitando a CF88. A Carta Magna insere a               gestão é descentralizado e participativo. A implantação do SUAS
Assistência Social no conjunto do sistema de Seguridade Social e          objetiva o rompimento com a fragmentação programática entre as
afirma-a como uma política pública, direito de todos, dever do Esta-      esferas governamentais e a articulação e provisão de proteção
do e da sociedade. Contudo, para o artigo 203 referente à Assistên-       social básica e especial para os segmentos populacionais usuários
cia Social traduzir-se em políticas públicas, seria necessário a LO-      da política de Assistência Social no país. Seus princípios e diretrizes
AS, vetada pelo governo Collor e sancionada somente no governo            apontam para a universalização do sistema; a territorialização da
Itamar, em 1993, após o impeachment de Fernando Collor de Melo            rede; a descentralização político-administrativa; a padronização dos
e intensas mobilizações sociais.                                          serviços de assistência social; a integração de objetivos, ações,
     O governo Itamar sancionou a LOAS, mas preparou o terreno            serviços, benefícios, programas e projetos; a garantia da proteção
para a continuidade da política neoliberal, agora com um verniz           social; a substituição do paradigma assistencialista e a articulação
intelectualizado. Foi assim que FHC assumiu o Ministério da Fazen-        de ações e competências com os demais sistemas de defesa de
da, lançou o Plano Real e Lei Orgânica da Assistência Social (LO-         direitos humanos, políticas sociais e esferas governamentais.
AS). Brasil. Lei n.8742, de 7 de dezembro de 1993 – Dispõe sobre a             A proposta do SUAS é um avanço e concretiza um modelo de
organização da Assistência Social e dá outras providências. Lei           gestão que possibilita a efetivação dos princípios e diretrizes da
Orgânica da Assistência Social.                                           política de assistência, conforme definido na LOAS. O princípio
      Fernando Henrique Cardoso elegeu-se, em 1994, para a Presi-         organizativo da Assistência Social baseado num modelo sistêmico
dência da República. Com o governo FHC, pode-se afirmar que as            aponta para a ruptura do assistencialismo, da benemerência, de
políticas neoliberais foram eficientemente implantadas pelo Estado        ações fragmentadas, ao sabor dos interesses coronelistas e eleito-
brasileiro:                                                               reiros. Afirma a Assistência Social como uma política pública, dever
         (i) no plano econômico, através de ajuste fiscal, privatização   do Estado e direito de todos os cidadão e cidadãs, com a afirmação
da maior parte do patrimônio público, desregulamentação trabalhis-        do controle social por parte da sociedade civil. A deliberação refe-
ta, abertura dos mercados, apoio total ao capital financeiro;             rente à PNAS e a construção do SUAS expressa um esforço coleti-
                                                                          vo que, desde a promulgação da CF88 e da LOAS, em 1993, vem
         (ii) no plano político, o Estado operou uma verdadeira dis-      se empenhando na tarefa de colocar a Assistência Social brasileira
seminação ideológica de que era preciso transferir para a sociedade       no campo da garantia dos direitos sociais.
civil – o “Terceiro Setor” - as tarefas do Estado. Assim, implementou,
com relativo sucesso, o projeto de reforma do Estado brasileiro,               Em setembro de 2004, o MDS, através da SNAS, tornou pública
diminuindo suas funções bruscamente (para a classe trabalhadora)          a versão final da PNAS, após a realização de seminários que publi-
e mantendo-se sempre alerta para responder às demandas do                 cizaram a discussão, o que deve ser ressaltado como positivo, dada
capital;                                                                  a mudança de postura do atual governo em relação ao anterior, que
                                                                          centralizava as decisões e não colocava em debate suas propostas
         (iii) no plano social, realizou um verdadeiro desmonte do que    para a área de Assistência Social. Yasbek ressalta como aspectos
foi construído ao longo do período da “cidadania regulada”                positivos da nova PNAS a incorporação das demandas da socieda-
(1930/1984). Na Saúde, manteve o boicote orçamentário ao SUS;             de na área da assistência social, a inovação em trabalhar com a
na Previdência, realizou reformas no regime dos funcionários públi-       noção de território, a centralidade da família e de sua proteção e,
cos e tornou mais rígidas as regras previdenciárias, e, na Assistên-      sobretudo, pela perspectiva de constituição do SUAS. Quanto aos
cia Social, criou o Programa Comunidade Solidária, passando ao            aspectos negativos, aponta a visão de que a família pobre precisa
largo do que a LOAS estabelece. O Comunidade Solidária recebia            ser reestruturada do ponto de vista moral e afetivo, sem considerar
recursos, sem controle social do Conselho Nacional de Assistência         o quadro econômico mais amplo, como se o problema de miséria
Social e configurou-se como uma política assistencialista, indo na        fosse da família. Outro ponto negativo é a desconsideração de que
contra-corrente dos avanços inscritos na CF88 e na LOAS (1993). O         essa população pertence a uma classe social e de que a questão
governo FHC não cumpriu com a lei, ignorando a necessidade de             social é uma questão política.
construção do SUAS, para que os preceitos indicados pela CF88 e
LOAS fossem efetivamente concretizados.                                        O SUAS – aprovado pelo Conselho Nacional de Assistência So-
                                                                          cial em julho de 2005 através da Norma Operacional Básica/SUAS –
     Após oito anos, o governo FHC operou um verdadeiro “desmon-          é um sistema descentralizado, participativo e não-contributivo, que
te da nação” e, desgastado com promessas de melhoria na vida da           organiza e regula as responsabilidades das esferas de governo e da
população, foi derrotado, em 2002, pelo então candidato Luiz Inácio       sociedade civil em relação à política de assistência social e afirma
Lula da Silva. Embora com promessas de mudanças, sobretudo na             que a assistência social é uma política pública e compõe o sistema
área social, o governo Lula manteve a fragmentação das políticas          de seguridade social.
de Seguridade Social, com a criação, no primeiro ano de governo,
do MESA - responsável pela implantação do Programa Fome Zero -                 A NOB/SUAS/2005 indica as seguintes prerrogativas para a
e a manutenção dos MA, MPS e MS. No início de 2004, com a                 construção efetiva do SUAS: 1) a gestão compartilhada, o co-
reforma ministerial e as dificuldades enfrentadas pelo Programa           financiamento e a cooperação técnica entre os três entes federati-

Conhecimentos Gerais                                                      2
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vos. 2) divisão de responsabilidades entre os entes federativos para          programas, projetos e benefícios, identificados entre os níveis de
instalar, regular, manter e expandir as ações de assistência social           proteção básica e especial. e) Mecanismos de transferência: e.1.
como dever de Estado e direito do cidadão. 3) fundamenta-se nos               repasse de recursos fundo a fundo, de forma sistemática e automá-
compromissos da PNAS/2004; 4) orienta-se pela unidade de propó-               tica. e.2. nova sistemática de convênios, com aplicativos informati-
sitos, principalmente quanto ao alcance de direitos pelos usuários;           zados para co-financiamento de projetos eventuais. f) Critérios de
5) regula em todo o território nacional a hierarquia, os vínculos e as        partilha, como proteção social básica e especial, e de transferência;
responsabilidades do sistema cidadão de serviços, benefícios, pro-            g) o co-financiamento entre municípios, estados e União, respeitan-
gramas, projetos e ações de assistência social, de caráter perma-             do-se os princípios de subsidiariedade e cooperação e a diversidade
nente e eventual, sob critério universal e lógica de ação em rede             existente entre municípios, metrópoles, estados e União.
hierarquizada (âmbitos municipal, estadual e federal). 6) respeita a              Possibilidades da Política de Assistência Social: avanços e
diversidade das regiões. 7) reconhece as diferenças e desigualda-             limites
des regionais, considerando-as no planejamento e execução das                     Ao longo do presente texto, procurou-se mostrar que políticas
ações. 8) articula sua dinâmica às organizações e entidades de                públicas são compostas por políticas econômicas e sociais e têm no
assistência social reconhecidas pelo SUAS.                                    Estado o seu formulador e executor. No Brasil, historicamente, as
     O SUAS apresenta como eixos estruturantes: (i) Precedência da            políticas sociais estiveram submetidas às necessidades da política
gestão pública da política; (ii) Alcance de direitos sócio-                   econômica, a serviço dos interesses das elites e do processo de
assistenciais; (iii) Matricialidade sócio-familiar; (iv) Territorialização;   produção capitalista.
(v) Descentralização político-administrativa; (vi) Financiamento                  Considera-se que as políticas sociais, na ordem burguesa, terão
partilhado entre os entes federados; (vii) Fortalecimento da relação          sempre limites, relativos ao próprio sistema capitalista. Portanto, é
democrática Estado-sociedade civil;(viii) Valorização da presença do          preciso, para compreender os limites e possibilidades de avanço da
controle social; (ix) Participação popular; (x) Qualificação de recur-        política de assistência social, apreender o significado da Política
sos humanos; (xi) Informação, monitoramento, avaliação e sistema-             Social no capitalismo, em determinado contexto histórico e segundo
tização de resultados.                                                        as lutas de classes internas às particularidades de cada país.
     Para a efetivação da proteção social, o SUAS dispõe de duas                  No Brasil, a década de 1990 significou uma verdadeira “festa”
modalidades de proteção: básica e especial:                                   para o capital financeiro, a despeito do empobrecimento contínuo da
     (a) a proteção social básica (PSB) objetiva prevenir situações de        classe trabalhadora. O governo Lula, que historicamente tem suas
risco por meio do desenvolvimento de potencialidades, com fortale-            raízes fincadas em bandeiras democrático-populares, foi coerente,
cimento dos vínculos familiares e comunitários. Destina-se à popu-            no campo da Assistência Social, quando possibilitou a aprovação da
lação que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da            PNAS e a construção do SUAS, mas, contraditoriamente, permane-
pobreza, privação e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais        ce com ações dicotômicas, que separam a política social da política
e de pertencimento social. A PSB tem por referência o serviço de              econômica, proporcionando lucros recordes ao capital financeiro, e,
acompanhamento de grupos territoriais até 5.000 famílias sob situa-           com isto, subordina os direitos sociais à lógica mercantil.
ção de vulnerabilidade em núcleos com até 20.000 habitantes e será                Portanto, na vida real – e não no plano ideológico, do discurso –
operada pelo CRAS, por rede de serviços sócio-educativos; BPC;                por mais que se afirme os direitos sociais, a cidadania, etc, estes
benefícios eventuais; serviços e projetos de inserção produtiva.              encontram-se extremamente limitados, dada a perpetuação do
     (b) A proteção social especial (PSE) objetiva prover atenções            direcionamento neoliberal à política econômica, com o consequente
sócio-assistenciais a famílias e indivíduos em situação de risco              resultado de se produzir uma política social pobre para os pobres.
pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos                 Neste contexto, ressalta-se a necessidade dos diversos sujeitos
e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cum-            coletivos captarem a Política Pública em sua totalidade, o que signi-
primento de medidas sócio-educativas, em situação de rua, dentre              fica analisar a política social intimamente articulada à política eco-
outras.                                                                       nômica. No campo da Assistência Social, alerta-se para a importân-
     Ambos os tipos de proteção tem como suposto o princípio de               cia de iniciativas políticas que afirmem os princípios da Seguridade
proteção social pró-ativa, o que significa não mais considerar os             Social, e, particularmente, do seu caráter sistêmico, o que significa a
usuários dos serviços de assistência social como objetos de inter-            fuga de uma ótica setorialista das políticas sociais, para não cairmos
venção, mas sim como sujeitos de direitos.                                    na armadilha de uma “compensar” a outra. Outra questão importan-
     O SUAS aponta ainda a implantação de um sistema de vigilân-              te é a defesa da Seguridade Social articulando-a aos interesses
cia sócio-assistencial, que consiste no desenvolvimento da capaci-            mais gerais da sociedade e ao questionamento da evasão das ri-
dade e de meios de gestão assumidos pelo órgão público gestor da              quezas geradas pela classe trabalhadora brasileira para o cumpri-
assistência social para conhecer a presença de pessoas em situa-              mento das metas de ajuste fiscal. Ressaltamos que os espaços de
ção de vulnerabilidade.                                                       controle social – Conselhos e Conferências – são fóruns privilegia-
     A rede sócio-assistencial indicada no SUAS é um conjunto inte-           dos para a defesa da Seguridade Social e da Política de Assistência
grado de ações de iniciativa pública e da sociedade que ofertam e             Social.
operam benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a                  Tratar, portanto, a política social separada da política econômica
articulação entre todas estas unidades de provisão de proteção                é cair na ilusão de que uma é possível sem a outra. A existência de
social sob a hierarquia de básica e especial e ainda por níveis de            uma política econômica neoliberal é possível e indica a ausência
complexidade.                                                                 e/ou drástica redução da política social. Mas, uma política social de
     O SUAS supõe a gestão compartilhada de serviços, como uma                cunho universalista e baseada nos princípios da Seguridade Social
política federativa entre União, Distrito Federal, estados e municí-          exige uma política econômica radicalmente oposta da que vem
pios, o que exige a utilização de instrumentos de cooperação entre            sendo implementada até os dias atuais.
os entes federativos, como convênios, consórcios, comissões de
pactuação, dentre outros. Os tipos e níveis de gestão são caracteri-
zados como gestão inicial, gestão intermediária e gestão plena, o
que determinará o valor do piso de proteção social que o município
receberá e as competências de cada município.
     Por fim, o financiamento do SUAS aponta para: a) a descentrali-          2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva
zação político-administrativa, com autonomia dos entes federativos,           Sistema Único de Assistência Social: seus objetivos, princí-
mas mantendo o princípio de cooperação. b) os Fundos de Assis-                pios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institu-
tência Social – os repasses só podem ocorrer via Fundo. c) o SUAS             cional, programas, projetos e seus usuários.
como referência. d) condições gerais para transferência dos recur-
sos federais: d.1. níveis de gestão, d.2. comprovação de execução                 Sistema Único de Assistência Social
orçamentária, d.3. acompanhamento e controle da gestão dos re-
                                                                                  Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é o modelo de
cursos através do Relatório Anual de Gestão, d.4. manutenção do
                                                                              gestão utilizado no Brasil para operacionalizar as ações de
Cadastro Único atualizado e realimentado, d.5. repasse dos recur-
                                                                              assistência social. O SUAS foi criado pelo Ministério do
sos do Fundo Nacional de Assistência Social para os serviços,

Conhecimentos Gerais                                                          3
Brasil Concursos
Desenvolvimento Social e Combate à Fome a partir do previsto na           pessoas, cumprimento de medidas sócio-educativas em meio
lei federal nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a Lei Orgânica de         aberto, etc.).
Assistência Social (LOAS).                                                    As atividades do psicólogo no CRAS como definidas pelo
     Política de Seguridade Social / LOAS                                 Conselho Federal de Psicologia (CFP) / Centro de Referência
     Assim como a saúde a assistência social é um direito do cidadão      Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) devem estar
e dever do Estado, suas ações fazem parte da Política de                  voltadas para a atenção e prevenção a situações de risco,
Seguridade Social não contributiva (contribuições especiais) pois no      objetivando atuar nas situações de vulnerabilidade por meio do
Brasil, embora haja uma estrutura formal de proteção social               fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e por meio do
estabelecida pela Constituição (como Seguridade Social)                   desenvolvimento de potencialidades e aquisições pessoais e
potencialmente capaz de combater a pobreza e diminuir as                  coletivas promovendo e/ou favorecendo o desenvolvimento da
desigualdades, o raio de ação de tal estrutura ainda é restrito e         autonomia dos indivíduos, oportunizando o empoderamento da
insuficiente para enfrentar as imensas carências que assolam a            pessoa, dos grupos e das comunidades. Fonte: Wikipédia
população. Coordenada inicialmente pelo Ministério do Bem-Estar
Social e substituído pelo Ministério do Desenvolvimento Social e          GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Combate à Fome (MDS) por sua vez originário de três estruturas            NA PERSPECTIVA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SO-
governamentais extintas: Ministério Extraordinário de Segurança           CIAL – SUAS
Alimentar e Nutricional (Mesa), Ministério da Assistência Social
(MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do
Programa Bolsa Família em 2004 para prover os mínimos sociais,                 Conceito e base de organização do Sistema Único de Assistên-
realizando através de um conjunto integrado de ações de iniciativa        cia Social – SUAS O SUAS, cujo modelo de gestão é descentraliza-
pública e da sociedade e garantir o atendimento às necessidades           do e participativo, constitui-se na regulação e organização em todo o
básicas característicos da assistência social.                            território nacional da rede de serviços socioassistenciais. Os servi-
                                                                          ços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a
     O MDS tem por objetivos a execução da LOAS, ou seja:                 atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como
    a proteção à família, à maternidade, à infância, à                   base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que
adolescência e à velhice;                                                 desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e
    o amparo às crianças e adolescentes carentes;                        pela sua complexidade. Pressupõe, ainda, gestão compartilhada,
                                                                          co-financiamento da política pelas três esferas de governo e defini-
    a promoção da integração ao mercado de trabalho;                     ção clara das competências técnico-políticas da União, Estados e
    a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de               Municípios.
deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;                 O SUAS materializa o conteúdo da LOAS, cumprindo no tempo
                                                                          histórico dessa política as exigências para a realização dos objetivos
      a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à
                                                                          e resultados esperados que devem consagrar direitos de cidadania
pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não
                                                                          e inclusão social.
possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida
por sua família. (Benefício de prestação continuada)                           “Trata das condições para a extensão e universalização da pro-
                                                                          teção social aos brasileiros através da política de assistência social
     A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas
                                                                          e para a organização, responsabilidade e funcionamento de seus
setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos
                                                                          serviços e benefícios nas três instâncias de gestão governamental”.
mínimos sociais, ao provimento de condições para atender
contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.                O SUAS define e organiza os elementos essenciais e imprescin-
                                                                          díveis à execução da política de assistência social possibilitando a
     A participação popular no cumprimento de tais proposições
                                                                          normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento,
jurídicas ficou assegurada com a criação do Conselho Nacional de
                                                                          indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e
Assistência Social (CNAS), órgão do governo brasileiro, vinculado
                                                                          da rede socioassistencial e, ainda, os eixos estruturantes e de sub-
na época de sua criação ao Ministério do Desenvolvimento Social e
                                                                          sistemas conforme aqui descritos:
Combate à Fome observando-se os princípios e diretrizes
estabelecidos por proposições específicas das políticas de                     _ Matricialidade Sócio-Familiar;
assistência social estaduais e municipais.                                     _ Descentralização político-administrativa e Territorialização;
     O SUAS tem como eixos estruturantes: a matricialidade sócio-              _ Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil;
familiar; descentralização político-administrativa e territorialização         _ Financiamento;
estabelecendo novas bases para a relação entre Estado e                        _ Controle Social;
sociedade civil; financiamento; controle social com participação
                                                                               _ O desafio da participação popular/cidadão usuário;
popular e normas definidas para informação o monitoramento e a
avaliação além de política de recursos humanos própria.                        _ A Política de Recursos Humanos;
Estabelecendo ainda a organização da assistência em dois níveis                _ A Informação, o Monitoramento e a Avaliação.
de proteção, divididos em proteção social básica e proteção social             Os serviços socioassistenciais no SUAS são organizados se-
especial de média e alta complexidade.                                    gundo as seguintes referências: vigilância social, proteção social e
     Proteção social básica e especial                                    defesa social e institucional:
     A proteção social básica tem por objetivo prevenir a violação             Vigilância Social: refere-se à produção, sistematização de infor-
dos direitos sua porta de entrada e ações executivas são Centro de        mações, indicadores e índices territorializados das situações de
Referência de Assistência Social – CRAS                                   vulnerabilidade e risco pessoal e social que incidem sobre famí-
     Localizando-se nas áreas de maior vulnerabilidade previamente        lias/pessoas nos diferentes ciclos da vida (crianças, adolescentes,
identificadas por estudos específicos como de maior risco social          jovens, adultos e idosos); pessoas com redução da capacidade
constituindo-se como uma unidade permanente de prestação de               pessoal, com deficiência ou em abandono; crianças e adultos víti-
serviços definidos para a população residente na sua área de              mas de formas de exploração, de violência e de ameaças; vítimas
abrangência. A equipe inclui profissionais de serviço social e            de preconceito por etnia, gênero e opção pessoal; vítimas de apar-
psicologia em número variável segundo articulados por um                  tação social que lhes impossibilite sua autonomia e integridade,
coordenador, cujo perfil é: técnico de nível superior, concursado,        fragilizando sua existência; vigilância sobre os padrões de serviços
com experiência em trabalhos comunitários e gestão de programas,          de assistência social em especial aqueles que operam na forma de
projetos, serviços e benefícios sócio-assistenciais.                      albergues, abrigos, residências, semi-residências, moradias provisó-
                                                                          rias para os diversos segmentos etários. Os indicadores a serem
     Proteção especial atua quando os direitos já foram violados,
                                                                          construídosdevem mensurar no território as situações de riscos
tem como unidade assistencial os Centros de Referência
                                                                          sociais e violação de direitos.
Especializada de Assistência Social (CREAS) configura-se como
uma unidade pública e estatal, que oferta serviços especializados e            . Proteção Social: Os serviços de proteção básica e especial de-
continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou              vem garantir as seguintes seguranças:
violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de
Conhecimentos Gerais                                                      4
Brasil Concursos
     • Segurança de Sobrevivência: através de benefícios continua-       acreditava outrora. Nesta perspectiva, podemos dizer que estamos
dos e eventuais que assegurem: proteção social básica a idosos e         diante de uma família quando encontramos um conjunto de pessoas
pessoas com deficiência sem fonte de renda e sustento4; pessoas e        que se acham unidas por laços consangüíneos, afetivos e, ou, de
famílias vítimas de calamidades e emergências; situações de forte        solidariedade. Como resultado das modificações acima menciona-
fragilidade pessoal e familiar, em especial às mulheres chefes de        das, superou-se a referência de tempo e de lugar para a compreen-
família e seus filhos;                                                   são do conceito de família.
     • Segurança de Convívio: através de ações, cuidados e serviços           O reconhecimento da importância da família no contexto da vida
que restabeleçam vínculos pessoais, familiares, de vizinhança, de        social está explícito no artigo 226, da Constituição Federal do Brasil,
segmento social, mediante a oferta de experiências sócio-                quando declara que a “família, base da sociedade, tem especial
educativas, lúdicas, sócio-culturais, desenvolvidas em rede de nú-       proteção do Estado”, endossando, assim, o artigo 16, da Declaração
cleos sócio-educativos e de convivência para os diversos ciclos de       dos Direitos Humanos, que traduz a família como sendo o núcleo
vida, suas características e necessidades;                               natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da
     • Segurança de Acolhida: através de ações, cuidados, serviços e     sociedade e do Estado. No Brasil, tal reconhecimento se reafirma
projetos operados em rede com unidade de porta de entrada desti-         nas legislações específicas da Assistência Social – Estatuto da
nada à proteger e recuperar às situações de abandono e isolamento        Criança e do Adolescente – ECA, Estatuto do Idoso e na própria Lei
de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, restaurando         Orgânica da Assistência Social – LOAS, dentre outras.
sua autonomia, capacidade de convívio e protagonismo mediante a               Embora haja o reconhecimento explícito sobre a importância da
oferta de condições materiais de abrigo, repouso, alimentação,           família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Esta-
higienização, vestuário e aquisições pessoais desenvolvidas através      do, tal proteção tem sido cada vez mais discutida, na medida em
de acesso a trabalho sócio-educativo;                                    que a realidade tem dado sinais cada vez mais evidentes de pro-
     . Defesa Social e Institucional: os serviços de proteção básica e   cessos de penalização e desproteção das famílias brasileiras. Nes-
especial devem ser organizados de forma a garantir aos seus usuá-        se contexto, a matricialidade sócio-familiar passa a ter papel de
rios o acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais e sua      destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência Social –
defesa. São direitos socioassistenciais a serem assegurados na           PNAS. Esta ênfase está ancorada na premissa de que a centralida-
operação do SUAS a seus usuários:                                        de da família e a superação da focalização, no âmbito da política de
     • Direito ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, por parte   Assistência Social, repousam no pressuposto de que para a família
de todos os serviços socioassistenciais, ausente de procedimentos        prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário,
vexatórios e coercitivos;                                                em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal.
                                                                         Nesse sentido, a formulação da política de Assistência Social é
     • Direito ao tempo, de modo a acessar a rede de serviço com re-     pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indiví-
duzida espera e de acordo com a necessidade, sendo-lhes garanti-         duos.
dos os seguintes procedimentos;
                                                                              Essa postulação se orienta pelo reconhecimento da realidade
     • Direito à informação sobre o funcionamento dos serviços, en-      que temos hoje através de estudos e análises das mais diferentes
quanto direito primário do cidadão, sobretudo àqueles com vivência       áreas e tendências. Pesquisas sobre população e condições de vida
de barreiras culturais, de leitura, de limitações físicas;               nos informam que as transformações ocorridas na sociedade con-
     • Direito do usuário ao protagonismo e manifestação de seus in-     temporânea, relacionadas à ordem econômica, à organização do
teresses;                                                                trabalho, à revolução na área da reprodução humana, à mudança de
     • Direito do usuário à oferta qualificada de serviço;               valores e à liberalização dos hábitos e dos costumes, bem como ao
     • Direito de convivência familiar e comunitária.                    fortalecimento da lógica individualista em termos societários, redun-
     O processo de gestão do SUAS prevê as seguintes bases orga-         daram em mudanças radicais na organização das famílias. Dentre
                                                                         essas mudanças pode-se observar um enxugamento dos grupos
nizacionais:
                                                                         familiares (famílias menores), uma variedade de arranjos familiares
     Matricialidade Sócio-Familiar                                       (monoparentais, reconstituídas), além dos processos de empobre-
     As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direi-       cimento acelerado e da desterritorialização das famílias gerada
tos sociais assegurados pelo Estado democrático de um lado, e, por       pelos movimentos migratórios.
outro, dos constrangimentos provenientes da crise econômica e do              Essas transformações, que envolvem aspectos positivos e nega-
mundo do trabalho, determinaram transformações fundamentais na           tivos, desencadearam um processo de fragilização dos vínculos
esfera privada, resignificando as formas de composição e o papel         familiares e comunitários e tornaram as famílias mais vulneráveis. A
das famílias. Por reconhecer as fortes pressões que os processos         vulnerabilidade à pobreza está relacionada não apenas aos fatores
de exclusão sócio-cultural geram sobre as famílias brasileiras, acen-    da conjuntura econômica e das qualificações específicas dos indiví-
tuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua cen-      duos, mas também às tipologias ou arranjos familiares e aos ciclos
tralidade no âmbito das ações da política de assistência social,         de vida das famílias. Portanto, as condições de vida de cada indiví-
como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização     duo dependem menos de sua situação específica que daquela que
primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que               caracteriza sua família. No entanto, percebe-se que na sociedade
precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta percepção é         brasileira, dada as desigualdades características de sua estrutura
condizente com a tradução da família na condição de sujeito de           social, o grau de vulnerabilidade vem aumentando e com isso au-
direitos, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, o          menta a exigência das famílias desenvolverem complexas estraté-
Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistên-        gias de relações entre seus membros para sobreviverem.
cia Social e o Estatuto do Idoso.
                                                                              Assim, essa perspectiva de análise, reforça a importância da po-
     A família, independentemente dos formatos ou modelos que as-        lítica de Assistência Social no conjunto protetivo da Seguridade
sume é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade,        Social, como direito de cidadania, articulada à lógica da universali-
delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o          dade. Além disso, há que considerar a diversidade sócio-cultural das
privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida.          famílias, na medida em que estas são, muitas vezes, movidas por
Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como           hierarquias consolidadas e por uma solidariedade coativa que re-
um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é        dundam em desigualdades e opressões. Sendo assim, a política de
marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades,           Assistência Social possui papel fundamental no processo de eman-
além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no       cipação destas, enquanto sujeito coletivo. Postula-se, inclusive, uma
âmbito da proteção social. Em segundo lugar, é preponderante             interpretação mais ampla do estabelecido na legislação, no sentido
retomar que as novas feições da família estão intrínseca e dialeti-      de reconhecer que a concessão de benefícios está condicionada à
camente condicionadas às transformações societárias contemporâ-          impossibilidade não só do beneficiário em prover sua manutenção,
neas, ou seja, às transformações econômicas e sociais, de hábitos e      mas também de sua família. Dentro do princípio da universalidade,
costumes e ao avanço da ciência e da tecnologia. O novo cenário          portanto, objetiva-se a manutenção e a extensão de direitos, em
tem remetido à discussão do que seja a família, uma vez que as três      sintonia com as demandas e necessidades particulares expressas
dimensões clássicas de sua definição (sexualidade, procriação e          pelas famílias.
convivência) já não têm o mesmo grau de imbricamento que se

Conhecimentos Gerais                                                     5
Brasil Concursos
     Nesta ótica, a centralidade da família com vistas à superação da          Importantes conceitos no campo da descentralização foram in-
focalização, tanto relacionada a situações de risco como a de seg-        corporados a partir da leitura territorial como expressão do conjunto
mentos, sustenta-se a partir da perspectiva postulada. Ou seja, a         de relações, condições e acessos inaugurados pelas análises de
centralidade da família é garantida à medida que na Assistência           Milton Santos, que interpreta a cidade com significado vivo a partir
Social, com base em indicadores das necessidades familiares, se           dos “atores que dele se utilizam”.
desenvolva uma política de cunho universalista, que em conjunto                Dirce Koga, afirma que “os direcionamentos das políticas públi-
com as transferências de renda em patamares aceitáveis se desen-          cas estão intrinsecamente vinculados à própria qualidade de vida
volva, prioritariamente, em redes socioassistenciais que suportem         dos cidadãos. É no embate relacional da política pública entre go-
as tarefas cotidianas de cuidado e que valorizem a convivência            verno e sociedade que se dará a ratificação ou o combate ao pro-
familiar e comunitária.                                                   cesso de exclusão social em curso. Pensar na política pública a
     Além disso, a Assistência Social, enquanto política pública, que     partir do território exige também um exercício de revista à história,
compõe o tripé da Seguridade Social, e considerando as caracterís-        ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive neste terri-
ticas da população atendida por ela, deve fundamentalmente inserir-       tório (...). A perspectiva de totalidade, de integração entre os setores
se articulação intersetorial com outras políticas sociais, particular-    para uma efetiva ação pública... vontade política de fazer valer a
mente, as públicas de Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Empre-           diversidade e a inter-relação das políticas locais” (2003:25).
go, Habitação, entre outras, para que as ações não sejam fragmen-              Nesta vertente, o objeto da ação pública, buscando garantir a
tadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos serviços para              qualidade de vida da população, extravasa os recortes setoriais em
todas as famílias e indivíduos.                                           que tradicionalmente se fragmentaram as políticas sociais e em
     A efetivação da política de Assistência Social, caracterizada pela   especial a política de assistência social.
complexidade e contraditoriedade que cerca as relações intrafamilia-           Menicucci (2002) afirma que “o novo paradigma para a gestão
res e as relações da família com outras esferas da sociedade, espe-       pública articula descentralização e intersetorialidade, uma vez que o
cialmente o Estado, colocam desafios tanto em relação à sua pro-          objetivo visado é promover a inclusão social ou melhorar a qualida-
posição e formulação quanto à sua execução.                               de de vida, resolvendo os problemas concretos que incidem sobre
     Os serviços de proteção social, básica e especial, voltados para     uma população em determinado território”. Ou seja, ao invés de
a atenção às famílias deverão ser prestados, preferencialmente, em        metas setoriais a partir de demandas ou necessidades genéricas,
unidades próprias dos municípios, através dos Centros de Referên-         trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e
cia da Assistência Social básico e especializado. Os serviços, pro-       as soluções, a partir de recortes territoriais que identifiquem conjun-
gramas, projetos de atenção às famílias e indivíduos poderão ser          tos populacionais em situações similares, e intervir através das
executados em parceria com as entidades não-governamentais de             políticas públicas, com o objetivo de alcançar resultados integrados
assistência social, integrando a rede socioassistencial.                  e promover impacto positivo nas condições de vida. O que Aldaíza
     Descentralização político-administrativa e Territorialização         Sposati tem chamado de atender a necessidade e não o necessita-
     No campo da assistência social, o artigo 6º, da LOAS, dispõe         do.
que as ações na área são organizadas em sistema descentralizado                Dessa forma, uma maior descentralização, que recorte regiões
e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assis-     homogêneas, costuma ser pré-requisito para ações integradas na
tência social, articulando meios, esforços e recursos, e por um con-      perspectiva da intersetorialidade.
junto de instâncias deliberativas, compostas pelos diversos setores            Descentralização efetiva com transferência de poder de decisão,
envolvidos na área. O artigo 8º estabelece que a União, os Estados,       de competências e de recursos, e com autonomia das administra-
o Distrito Federal e os Municípios, observados os princípios e dire-      ções dos microespaços na elaboração de diagnósticos sociais,
trizes estabelecidas nesta Lei, fixarão suas respectivas Políticas de     diretrizes, metodologias, formulação, implementação, execução,
Assistência Social.                                                       monitoramento, avaliação e sistema de informação das ações defi-
     A política de assistência social tem sua expressão em cada nível     nidas, com garantias de canais de participação local. Pois, esse
da Federação na condição de comando único, na efetiva implanta-           processo ganha consistência quando a população assume papel
ção e funcionamento de um Conselho de composição paritária                ativo na reestruturação.
entre sociedade civil e governo, do Fundo, que centraliza os recur-            Para Menicucci (2002), “a proposta de planejamento e interven-
sos na área, controlado pelo órgão gestor e fiscalizado pelo conse-       ções intersetoriais envolve mudanças nas instituições sociais e suas
lho, do Plano de Assistência Social que expressa a Política e suas        práticas”. Significa alterar a forma de articulação das ações em
inter-relações com as demais políticas setoriais e ainda com a rede       segmentos, privilegiando a universalização da proteção social em
socioassistencial. Portanto, Conselho, Plano e Fundo são os ele-          prejuízo da setorialização e da autonomização nos processos de
mentos fundamentais de gestão da Política Pública de Assistência          trabalho. Implica, também, em mudanças na cultura e nos valores
Social.                                                                   da rede socioassistencial, das organizações gestoras das políticas
     O artigo 11o da LOAS coloca ainda que as ações das três esfe-        sociais e das instâncias de participação. Torna-se necessário, cons-
ras de governo na área da assistência social realizam-se de forma         tituir uma forma organizacional mais dinâmica, articulando as diver-
articulada, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera             sas instituições envolvidas.
federal e a coordenação e execução dos programas, em suas res-                 É essa a perspectiva que esta Política Nacional quer implemen-
pectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios.      tar. A concepção da assistência social como política pública tem
     Dessa forma, cabe a cada esfera de governo, em seu âmbito de         como principais pressupostos a territorialização, a descentralização
atuação, respeitando os princípios e diretrizes estabelecidas na          e a intersetorialidade aqui expressos.
Política Nacional de Assistência Social, coordenar, formular e co-             Assim, a operacionalização da política de assistência social em
financiar além de monitorar, avaliar, capacitar e sistematizar as         rede, com base no território, constitui um dos caminhos para superar
informações.                                                              a fragmentação na prática dessa política. Trabalhar em rede, nessa
     Considerando a alta densidade populacional do país e, ao mes-        concepção territorial significa ir além da simples adesão, pois há
mo tempo, seu alto grau de heterogeneidade e desigualdade socio-          necessidade de se romper com velhos paradigmas, em que as
territorial presentes entre os seus 5.561 municípios, a vertente terri-   práticas se construíram historicamente pautadas na segmentação,
torial faz-se urgente e necessária na Política Nacional de Assistên-      na fragmentação e na focalização, e olhar para a realidade, conside-
cia Social. Ou seja, o princípio da homogeneidade por segmentos           rando os novos desafios colocados pela dimensão do cotidiano, que
na definição de prioridades de serviços, programas e projetos torna-      se apresenta sob múltiplas formatações, exigindo enfrentamento de
se insuficiente frente às demandas de uma realidade marcada pela          forma integrada e articulada.
alta desigualdade social. Exige-se agregar ao conhecimento da                  Isso expressa a necessidade de se repensar o atual desenho da
realidade a dinâmica demográfica associada à dinâmica socioterrito-       atuação da rede socioassistencial, redirecionando-a na perspectiva
rial em curso.                                                            de sua diversidade, complexidade, cobertura, financiamento e do
     Também, considerando que muitos dos resultados das ações da          número potencial de usuários que dela possam necessitar. A partir
política de assistência social impactam em outras políticas sociais e     daí a Política Nacional de Assistência Social caracterizará os muni-
vice-versa, é imperioso construir ações territorialmente definidas,       cípios brasileiros de acordo com seu porte demográfico associado
juntamente com estas políticas.                                           aos indicadores socioterritoriais disponíveis a partir dos dados censi-

Conhecimentos Gerais                                                      6
Brasil Concursos
tários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE5, com   migra das regiões onde as oportunidades são consideradas mais
maior grau de desagregação territorial quanto maior a taxa de den-       escassas, apresentam grande demanda por serviços das várias
sidade populacional, isto é, quanto maior concentração populacio-        áreas de políticas públicas. Em razão dessas características, a rede
nal, maior será a necessidade de considerar as diferenças e desi-        socioassistencial deve ser mais complexa e diversificada, envolven-
gualdades existentes entre os vários territórios de um município ou      do serviços de proteção social básica, bem como uma ampla rede
região. A construção de indicadores a partir dessas parcelas territo-    de proteção especial (nos níveis de média e alta complexidade).
riais termina configurando uma “medida de desigualdade intraurba-             • Metrópoles – entende-se por metrópole os municípios com
na”. Esta medida, portanto, sofrerá variações de abrangência de          mais de 900.000 habitantes (atingindo uma média superior a
acordo com as características de cada cidade, exigindo ação articu-      250.000 famílias cada). Para além das características dos grandes
lada entr e as três esferas no apoio e subsídio de informações,          municípios, as metrópoles apresentam o agravante dos chamados
tendo como base o Sistema Nacional de Informações de Assistência         territórios de fronteira, que significam zonas de limites que configu-
Social e os censos do IBGE, compondo com os Campos de Vigilân-           ram a região metropolitana e normalmente com forte ausência de
cia Social, locais e estaduais, as referências necessárias para sua      serviços do Estado.
construção.                                                                   A referida classificação tem o propósito de instituir o Sistema Ú-
     Porém, faz-se necessária a definição de uma metodologia unifi-      nico de Assistência Social, identificando as ações de proteção bási-
cada de construção de alguns índices (exclusão/inclusão social,          ca de atendimento que devem ser prestadas na totalidade dos mu-
vulnerabilidade social) para efeitos de comparação e definição de        nicípios brasileiros e as ações de proteção social especial, de média
prioridades da Política Nacional de Assistência Social.                  e alta complexidade, que devem ser estruturadas pelos municípios
     Como forma de caracterização dos grupos territoriais da Política    de médio, grande porte e metrópoles, bem como pela esfera esta-
Nacional de Assistência Social será utilizada como referência a          dual, por prestação direta como referência regional ou pelo assesso-
definição de municípios como de pequeno, médio e grande porte 6          ramento técnico e financeiro na constituição de consórcios intermu-
utilizada pelo IBGE agregando-se outras referências de análise           nicipais. Levar-se-á em conta, para tanto, a realidade local, regional,
realizadas pelo Centro de Estudos das Desigualdades Socioterritori-      o porte, a capacidade gerencial e de arrecadação dos municípios, e
ais7, bem como pelo Centro de Estudos da Metrópole8 sobre desi-          o aprimoramento dos instrumentos de gestão, introduzindo o geo-
gualdades intraurbanas e o contexto específico das metrópoles:           processamento como ferramenta da Política de Assistência Social.
     • Municípios de pequeno porte 1 – entende-se por município de            Novas bases para a relação entre o Estado e a Sociedade
pequeno porte 1 aquele cuja população chega a 20.000 habitantes          Civil
(até 5.000 famílias em média. Possuem forte presença de popula-               A Lei Orgânica de Assistência Social propõe um conjunto inte-
ção em zona rural, correspondendo a 45% da população total. Na           grado de ações e iniciativas do governo e da sociedade civil para
maioria das vezes, possuem como referência municípios de maior           garantir proteção social para quem dela necessitar.
porte, pertencentes à mesma região em que estão localizados.                  A gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Esta-
Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de            do assuma a primazia da responsabilidade em cada esfera de go-
proteção social básica, pois os níveis de coesão social, as deman-       verno na condução da política. Por outro lado, a sociedade civil
das potenciais e redes socioassistenciais não justificam serviços de     participa como parceira, de forma complementar na oferta de servi-
natureza complexa. Em geral, esses municípios não apresentam             ços, programas, projetos e benefícios de Assistência Social. Possui,
demanda significativa de proteção social especial, o que aponta          ainda, o papel de exercer o controle social sobre a mesma.
para a necessidade de contarem com a referência de serviços des-
sa natureza na região, mediante prestação direta pela esfera esta-            No entanto, somente o Estado dispõe de mecanismos fortemen-
dual, organização de consórcios intermunicipais, ou prestação por        te estruturados para coordenar ações capazes de catalisar atores
municípios de maior porte, com cofinanciamento das esferas esta-         em torno de propostas abrangentes, que não percam de vista a
duais e Federal.                                                         universalização das políticas, combinada com a garantia de eqüida-
                                                                         de.
     • Municípios de pequeno porte 2 – entende-se por município de
pequeno porte 2 aquele cuja população varia de 20.001 a 50.000                Esta prerrogativa está assegurada no art. 5º, inciso III, da LOAS.
habitantes (cerca de 5.000 a 10.000 famílias em média). Diferenci-            Para tanto, a administração pública deverá desenvolver habili-
am-se dos pequeno porte 1 especialmente no que se refere à con-          dades específicas, com destaque para a formação de redes. A
centração da população rural que corresponde a 30% da população          noção de rede tem se incorporado ao discurso sobre política social.
total. Quanto às suas características relacionais mantém-se as           Nos anos recentes, novas formas de organização e de relaciona-
mesmas dos municípios pequenos 1.                                        mento interorganizacional, entre agências estatais e, sobretudo,
     • Municípios de médio porte – entende-se por municípios de mé-      entre o Estado e a sociedade civil, têm sido propostas pelos atores
dio porte aqueles cuja população está entre 50.001 a 100.000 habi-       sociais.
tantes (cerca de 10.000 a 25.000 famílias). Mesmo ainda precisando            O imperativo de formar redes se faz presente por duas razões
contar com a referência de municípios de grande porte para ques-         fundamentais.
tões de maior complexidade, já possuem mais autonomia na estru-               Primeiramente, conforme já mencionado, porque a história das
turação de sua economia, sediam algumas indústrias de transfor-          políticas sociais no Brasil, sobretudo, a de assistência social, é
mação, além de contarem com maior oferta de comércio e serviços.         marcada pela diversidade, superposição e, ou, paralelismo das
A oferta de empregos formais, portanto, aumenta tanto no setor           ações, entidades e órgãos, além da dispersão de recursos huma-
secundário como no de serviços.                                          nos, materiais e financeiros.
     Esses municípios necessitam de uma rede mais ampla de servi-             A gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Esta-
ços de assistência social, particularmente na rede de proteção social    do estimule a sinergia e gere espaços de colaboração, mobilizando
básica. Quanto à proteção especial, a realidade de tais municípios       recursos potencialmente existentes na sociedade, tornando impres-
se assemelha à dos municípios de pequeno porte, no entanto, a            cindível contar com a sua participação em ações integradas, de
probabilidade de ocorrerem demandas nessa área é maior, o que            modo a multiplicar seus efeitos e chances de sucesso. Desconhecer
leva a se considerar a possibilidade de sediarem serviços próprios       a crescente importância da atuação das organizações da sociedade
dessa natureza ou de referência regional, agregando municípios de        nas políticas sociais é reproduzir a lógica ineficaz e irracional da
pequeno porte no seu entorno.                                            fragmentação, descoordenação, superposição e isolamento das
     • Municípios de grande porte – entende-se por municípios de         ações.
grande porte aqueles cuja população é de 101.000 habitantes até               Na proposta do SUAS, é condição fundamental a reciprocidade
900.000 habitantes (cerca de 25.000 a 250.000 famílias). São os          das ações da rede de proteção social básica e especial, com centra-
mais complexos na sua estruturação econômica, pólos de regiões e         lidade na família, sendo consensado o estabelecimento de fluxo,
sedes de serviços mais especializados. Concentram mais oportuni-         referência e retaguarda entre as modalidades e as complexidades
dades de emprego e oferecem maior número de serviços públicos,           de atendimento, bem como a definição de portas de entrada para o
contendo também mais infra-estrutura. No entanto, são os municí-         sistema. Assim, a nova relação público e privado deve ser regulada,
pios que por congregarem o grande número de habitantes e, pelas          tendo em vista a definição dos serviços de proteção básica e espe-
suas características em atraírem grande parte da população que           cial, a qualidade e o custo dos serviços, além de padrões e critérios

Conhecimentos Gerais                                                     7
Brasil Concursos
de edificação. Neste contexto, as entidades prestadoras de assis-        não correspondem às necessidades estaduais, regionais e munici-
tência social integram o Sistema Único de Assistência Social, não só     pais. Tal desenho não fomenta a capacidade criativa destas esferas
como prestadoras complementares de serviços sócio-assistenciais,         e nem permite que sejam propostas ações complementares para a
mas, como co-gestoras e co-responsáveis em garantir direitos dos         aplicação dos recursos públicos repassados.
usuários da assistência social.                                               Ainda deve ser ressaltado no modelo de financiamento em vigor,
     Esse reconhecimento impõe a necessidade de articular e inte-        a fixação de valores per capita, que atribuem recursos com base no
grar ações e recursos, tanto na relação intra como interinstitucional.   número total de atendimentos e não pela conformação do serviço às
     Ao invés de substituir a ação do Estado, a rede deve ser alavan-    necessidades da população, com determinada capacidade instala-
cada a partir de decisões políticas tomadas pelo poder público em        da. Essa orientação, muitas vezes, leva a práticas equivocadas, em
consonância com a sociedade. É condição necessária para o traba-         especial no que tange aos serviços de longa permanência, que
lho em rede que o Estado seja o coordenador do processo de articu-       acabam por voltar-se para a manutenção irreversível dos usuários
lação e integração entre as Organizações Não-Governamentais –            desagregados de vínculos familiares e comunitários.
ONG’s, Organizações Governamentais – OG’s e os segmentos                      Outro elemento importante nessa análise da forma tradicional de
empresariais, em torno de uma situação ou de determinado territó-        financiamento da política de assistência social são as emendas
rio, discutindo questões que dizem respeito à vida da população em       parlamentares que financiam ações definidas em âmbito federal, de
todos os seus aspectos. Trata-se, enfim, de uma estratégia de arti-      forma desarticulada do conjunto das instâncias do sistema descen-
culação política que resulta na integralidade do atendimento.            tralizado e participativo. Isso se dá, muitas vezes, pela não articula-
     No caso da assistência social, a constituição de rede pressupõe     ção entre os poderes Legislativo e Executivo no debate acerca da
a presença do Estado como referência global para sua consolidação        Política Nacional de Assistência Social, o que se pretende alterar
como política pública. Isso supõe que o poder público seja capaz de      com a atual proposta.
fazer com que todos os agentes desta política, OG’s e, ou, ONG’s,             Ao longo dos 10 anos de promulgação da LOAS, algumas ban-
transitem do campo da ajuda, filantropia, benemerência para o da         deiras têm sido levantadas em prol do financiamento da assistência
cidadania e dos direitos. E aqui está um grande desafio a ser en-        social, construído sobre bases mais sólidas e em maior consonância
frentado pelo Plano Nacional, que será construído ao longo do pro-       com a realidade brasileira. Juntamente com a busca de vinculação
cesso de implantação do SUAS.                                            constitucional de percentual de recursos para o financiamento desta
     Cabe ao poder público conferir unidade aos esforços sociais a       política nas três esferas de governo, figuram reivindicações que, no
fim de compor uma rede socioassistencial, rompendo com a prática         debate da construção do SUAS, têm protagonizado as decisões do
das ajudas parciais e fragmentadas, caminhando para direitos a           órgão gestor federal. São elas: o financiamento com base no territó-
serem assegurados de forma integral, com padrões de qualidade            rio, considerando os portes dos municípios e a complexidade dos
passíveis de avaliação. Essa mudança deverá estar contida nas            serviços, pensados de maneira hierarquizada e complementar; a
diretrizes da política de supervisão da rede conveniada que definirá     não exigibilidade da Certidão Negativa de Débitos junto ao INSS
normas e procedimentos para a oferta de serviços.                        como condição para os repasses desta política; a não descontinui-
     Financiamento                                                       dade do financiamento a cada início de exercício financeiro; o re-
                                                                         passe automático de recursos do Fundo Nacional para os Estadu-
     No Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Soci-     ais, Municipais e do Distrito Federa para o co-financiamento das
al, que toma corpo através da proposta de um Sistema Único, a            ações afetas a esta política; o estabelecimento de pisos de atenção,
instância de financiamento é representada pelos Fundos de Assis-         entre outros.
tência Social nas três esferas de governo. No âmbito federal, o
Fundo Nacional, criado pela LOAS e regulamentado pelo Decreto nº              Com base nessas reivindicações e, respeitando as deliberações
1605/95, tem o seguinte objetivo: “proporcionar recursos e meios         da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em
para financiar o benefício de prestação continuada e apoiar servi-       dezembro de 2003, nova sistemática de financiamento deve ser
ços, programas e projetos de assistência social” (art. 1º, do decreto    instituída, ultrapassando o modelo convenial e estabelecendo o
nº 1605/95).                                                             repasse automático fundo a fundo no caso do financiamento dos
                                                                         serviços, programas e projetos de assistência social. Essa nova
     Com base nessa definição, o financiamento dos benefícios se dá      sistemática deverá constar na Norma Operacional Básica que será
de forma direta aos seus destinatários, e o financiamento da rede        elaborada com base nos pressupostos elencados na nova política.
socioassistencial se dá mediante aporte próprio e repasse de recur-
sos fundo a fundo, bem como de repasses de recursos para projetos             Esse movimento deve extrapolar a tradicional fixação de valores
e programas que venham a ser considerados relevantes para o              per capita, passando-se à definição de um modelo de financiamento
desenvolvimento da política de assistência social em cada esfera de      que atenda ao desenho ora proposto para a Política Nacional, pri-
governo, de acordo com critérios de partilha e elegibilidade de muni-    mando pelo co-financiamento construído a partir do pacto federativo,
cípios, regiões e/ou estados, pactuados nas comissões intergesto-        baseado em pisos de atenção. Tais pisos devem assim ser identifi-
ras e deliberados nos conselhos de assistência social.                   cados em função dos níveis de complexidade, atentando para a
                                                                         particularidade dos serviços de média e alta complexidade, os quais
     Assim, o propósito é o de respeitar as instâncias de gestão         deve ser substituída progressivamente pela identificação do atendi-
compartilhada e de deliberação da política nas definições afetas ao      mento das necessidades das famílias e indivíduos, frente aos direi-
financiamento dos serviços, programas, projetos e benefícios com-        tos afirmados pela assistência social.
ponentes do Sistema Único de Assistência Social.
                                                                              Concomitante a esse processo tem-se operado a revisão dos
     De acordo com a diretriz da descentralização e, em consonância      atuais instrumentos de planejamento público, em especial o Plano
com o pressuposto do co-financiamento, essa rede deve contar com         Plurianual, que se constitui em um guia programático para as ações
a previsão de recursos das três esferas de governo, em razão da          do Poder Público, e traduz a síntese dos esforços de planejamento
co-responsabilidade que perpassa a provisão da proteção social           de toda a administração para contemplar os princípios e concepções
brasileira. O financiamento deve ter como base os diagnósticos           do SUAS. Essa revisão deve dar conta de duas realidades que
socioterritoriais apontados pelo Sistema Nacional de Informações de      atualmente convivem, ou seja, a construção do novo processo e a
Assistência Social9 que considerem as demandas e prioridades que         preocupação com a não ruptura radical com o que vige atualmente,
se apresentam de forma específica, de acordo com as diversidades         para que não se caracterize descontinuidade nos atendimentos
e parte de cada região ou território, a capacidade de gestão e de        prestados aos usuários da assistência social. Portanto, essa é uma
atendimento e de arrecadação de cada município/região, bem como          proposta de transição que vislumbra projeções para a universaliza-
os diferentes níveis de complexidade dos serviços, através de pac-       ção dos serviços de proteção básica, com revisão também de suas
tuações e deliberações estabelecidas com os entes federados e os         regulações, ampliação da cobertura da rede de proteção especial,
respectivos conselhos.                                                   também com base em novas normatizações, bem como a definição
     No entanto, tradicionalmente, o financiamento da política de as-    de diretrizes para a gestão dos benefícios preconizados pela LOAS.
sistência social brasileira tem sido marcado por práticas centraliza-         Ainda compõe o rol das propostas da Política Nacional de Assis-
das, genéricas e segmentadas, que se configuram numa série histó-        tência Social a negociação e a assinatura de protocolos intersetori-
rica engessada e perpetuada com o passar dos anos. Tal processo          ais com as políticas de saúde e de educação, para que seja viabili-
se caracteriza pelo formato de atendimentos pontuais e, em alguns        zada a transição do financiamento dos serviços a estas áreas afe-
casos, até paralelos, direcionados a programas que muitas vezes
Conhecimentos Gerais                                                     8
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Serviço social

  • 1. CARGO/ESPECIALIDADE: ANALISTA DE POLÍTICAS PÚBLICAS SERVIÇO SOCIAL ÍNDICE CONHECIMENTOS GERAIS 1. A política pública da assistência social no contexto da política de seguridade social no Brasil. ...... 1 2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema Único de Assistência Social: seus objetivos, princípios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institucional, programas, projetos e seus usuários. ....................................................................................................................... 3 3. Concepção de Assistência Social no Brasil: com ênfase na sua gestão (informação, avaliação e monitoramento), execução, controle e financiamento. .......................................................................... 18 4. Tipificação dos serviços socioassistenciais. ...................................................................................... 26 5. Benefícios assistenciais. .................................................................................................................... 42 6. A atuação de assistentes sociais e psicólogos no SUAS: ênfase no trabalho com famílias.............. 47 Legislação: 1. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. (versão atualizada)........................ 53 2. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 8.742 de 7 de de- zembro de 1993, publicada no DOU de 8 de dezembro de 1993. ........................................................ 64 3. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 12.435, de 6 de julho de 2011, altera a Lei n.° 8.742 de 7 de dezembro de 1993. ................................................................. 70 4. Brasil. Presidência da República. Lei Orgânica de Assistência Social. Lei n°. 12.470, de 31 de agosto de 2011, altera a Lei n°. 8.742 de 7 de dezembro de 1993. ..................................................... 73 5. Brasil. Presidência da República. Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n°. 8.069, de 13 de julho de 1990. ........................................................................................................................................ 74 6. Brasil. Presidência da República: Lei n°. 12.010 de 03 de agosto de 2009. - Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943; e dá outras provi- dências. ................................................................................................................................................. 97 7. Brasil. Presidência da República. Lei n°. 8.842 de 4 de janeiro de 1994 dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências.................................. 104 8. Brasil. Presidência da República. Estatuto do IDOSO. Lei n°. 10.741, de 1° de outubro de 2003..... 106 9. Brasil. Presidência da República. Decreto Lei n°. 3298 de 20 de dezembro de 1999 - Regulamen- ta a Lei n° 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providências........... 113 10. Prefeitura de Belo Horizonte. Lei Municipal n°. 9.078 de 19 de janeiro de 2005 que estabelece a Política da pessoa com deficiência para o município de Belo Horizonte. ............................................. 119 11. Brasil. Presidência da República. Lei 13.340 de 07 de agosto de 2006 - Lei Maria da Penha - 123 Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. ...........................- 123 12. Brasil. Presidência da República. Decreto 7.492 de 02 de junho de 2011 - Institui o Plano Brasil sem Miséria. 13. Brasil. Presidência da República. Lei 12.101 de 27 de novembro de 2009 - Dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes de assistência social; regula os procedimentos de isenção de contribuições para a seguridade social; altera a Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993 ... e dá outras providências. .................................................................................................................. 127 14. Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil. - Brasília: Ministério do De-
  • 2. senvolvimento Social e Combate à Fome, UNESCO, 2009. Parte 1. ................................................... 132 15. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional de Assistên- cia Social - PNAS. Brasília, 2004. 150 16. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica NOB/Suas. Brasília, 2005. ..................................................................................................................... 151 17. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Norma Operacional Básica de Recursos Humanos NOB-RH/Suas. Brasília, 2006. .............................................................................. 160 18. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais - Resolução 109, de 11 de novembro de 2009, publicada no Diário Oficial da União em 25 de novembro de 2009. ............................................ 172 19. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Protocolo de Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferência de Renda no âmbito do Sistema Único da Assistência Soci- al. ........................................................................................................................................................... 188 20. Brasil. Conselho Nacional de Assistência Social. Resolução n° 017. ............................................. 193 21. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 1 - Configurando os Eixos de Mudança. Março/2007. ................................................................................ 194 22. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 2 - De- safios da Gestão do SUAS nos Municípios e Estados. Março/2007...................................................... 207 23. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno Suas Volume 3 - Pla- nos de Assistência Social: Diretrizes para Elaboração. Março/2007. ................................................... 225 24. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Benefícios Eventuais da Assis- tência Social - Cadernos de Estudos n.°12 - Desenvolvimento Social em Debate. Março/2010........... 240 25. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Centros de Referência de As- sistência Social - CRAS - Orientações Técnicas. ano/2009. ................................................................. 246 26. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações sobre a Gestão do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS - 1ª Versão. ano/2011................ 258 27. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações sobre o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua e Serviço Especializado para Pes- soas em Situação de Rua - Centro Pop. ano/2011. .............................................................................. 264 28. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Metodologia de Trabalho Social com Família na Assis- tência Social. Belo Horizonte, 2007. ...................................................................................................... 265 29. Benefícios da Previdência Social. .................................................................................................... 266 30. Parâmetros para atuação de Assistentes Sociais e Psicólogos na política de Assistência Social. Série: Trabalho e Projeto profissional nas Políticas Sociais. Brasil-2009.............................................. 267 CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS 1. Estado, Política Social e Questão Social: no contexto da globalização e da reestruturação produtiva. ............. 1 2. Concepção de Seguridade Social no Brasil: formulação, administração, gestão, financiamento e execução das políticas públicas. .............................................................................................................................................. 8 3. Legislação Social: direitos sociais na atual conjuntura brasileira. ....................................................................... 13 4. Direitos humanos e a interface com o Serviço Social. ........................................................................................ 23 5. Realidade brasileira e Serviço Social: trajetória histórica e debate contemporâneo. .......................................... 29 6. Desafios ético-políticos e demandas à profissão: orientação e acompanhamento social a indivíduos, grupos e famílias; mobilização social e práticas educativas; supervisão de estagiários de serviço social; Instruções soci- ais de processos, sentenças, decisões e pareceres. .............................................................................................. 36 7. Planejamento e trabalho profissional, com ênfase no trabalho interdisciplinar na Política de assistência Soci- al: objetivos, intervenção, investigação, sistematização, avaliação e elaboração de projetos de pesquisa............ 59 8. Serviço social e o projeto ético-político: Código de Ética Profissional do assistente social e regulamentação profissional. .............................................................................................................................................................. 67 9. Família e Serviço Social. ..................................................................................................................................... 79 10. Avaliação e monitoramento de políticas, programas e projetos sociais............................................................. 84
  • 3. Brasil Concursos A passagem para o século XX, com a transição do capitalismo de tipo concorrencial para o monopolista, fez o Estado assumir, de CARGO/ESPECIALIDADE: ANALISTA vez por todas, a sua função de “empresário” da classe capitalista. DE POLÍTICAS PÚBLICAS/SERVIÇO Assim, desenvolveu políticas públicas – com recursos públicos, oriundos da extração de mais-valia da classe trabalhadora – volta- SOCIAL E PSICOLOGIA(ÁREA DE A- das para o processo de monopolização capitalista. A partir da déca- da de 1930 – com a crise de 1929 – até os anos 1960/1970, configu- TUAÇÃO: ASSISTÊNCIA SOCIAL) rou-se o que conhecemos por padrão fordista-keynesiano: um pa- 1. A política pública da assistência social no contexto da política de drão de produção em massa voltado para o consumo em massa seguridade social no Brasil. articulado à feroz ação estatal de impulso da economia capitalista, 2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva Sistema através de ações voltadas para a área de infra-estrutura, políticas Único de Assistência Social: seus objetivos, princípios, diretrizes, fiscal, monetária, salarial e, por fim, políticas sociais, que proporcio- conceitos fundamentais, organização institucional, programas, proje- naram salários indiretos à classe trabalhadora, liberando parte de tos e seus usuários. seus salários para a realização do consumo em massa. Este pro- cesso foi estratégico para o “equilíbrio” das insatisfações da classe 3. Concepção de Assistência Social no Brasil: com ênfase na sua trabalhadora e a ameaça concreta de construção de outra socieda- gestão (informação, avaliação e monitoramento), execução, controle de (socialista) no contexto de um mundo bipolar. Por sua vez, trata- e financiamento. ram-se também de demandas efetivas e conquistas da classe traba- 4. Tipificação dos serviços socioassistenciais. lhadora por melhores condições de vida. 5. Benefícios assistenciais. O padrão fordista-keynesiano manteve-se até o final dos anos 6. A atuação de assistentes sociais e psicólogos no SUAS: ênfase 1960, ao deparar-se com um esgotamento dos mercados europeu e no trabalho com famílias. japonês. A década de 1970 marca a eclosão de nova crise capitalis- ta e é preciso realizar um reordenamento societário global. A partir deste período temos o desenvolvimento de processos de reestrutu- 1. A política pública da assistência social no contexto da políti- ração produtiva, a mundialização do capital financeiro e o avanço da ca de seguridade social no Brasil. ideologia neoliberal por todo o globo. O Estado, mais uma vez, é o sujeito principal que irá transferir recursos, antes voltados para o Políticas Públicas de Assistência Social brasileira: avanços, provimento de políticas sociais, para os interesses do capital, sobre- limites e desafios tudo o financeiro. Irá, ainda, desregulamentar a legislação trabalhis- Larissa Dahmer Pereira ta e social, abrir mercados, e proporcionar as leis necessárias para o processo global de reação burguesa à crise capitalista, o que Introdução afetará a classe trabalhadora em suas condições de vida e trabalho Ao abordarmos as políticas públicas de assistência social, seus e em suas formas tradicionais de organização. A partir daquele avanços, limites e desafios, é imprescindível pontuar a concepção período até o momento atual, o desemprego e a precarização do da qual se parte acerca das políticas públicas. As políticas públicas trabalho tornam-se ameaças constantes na vida dos trabalhadores. são compostas por políticas de cunho social e econômico e foram Políticas públicas no Brasil: breve histórico construídas ao longo do desenvolvimento da ordem burguesa, com a emergência do Estado-Nação, a partir do século XVI. O processo supra-referido ocorreu de diversas formas nos dife- rentes países capitalistas, concomitante à erosão do bloco soviético. A transição de uma sociedade de organização feudal para a or- No Brasil – um país capitalista periférico – entramos no mundo dem burguesa teve no Estado um sujeito fundamental, que permitiu industrial somente a partir da década de 1930. O Estado foi o impul- a territorialização da política, o controle monetário, a garantia de sionador central daquele processo - no contexto ideológico nacional- proteção à propriedade privada dos meios de produção e o discipli- desenvolvimentista - com políticas econômicas voltadas para a namento brutal de homens “livres como pássaros” para a venda de indústria, na nascente zona urbana, e que mantinham o poder do sua força de trabalho à futura indústria capitalista. O Estado, desde latifúndio, no campo. O padrão brasileiro de políticas sociais base- sua origem, nasce voltado para o fortalecimento da nascente ordem ou-se na “cidadania regulada”: isto é, tinham acesso à proteção burguesa e promove ações para a sua consolidação. social somente aqueles que detivessem a carteira de trabalho, com O século XVIII marca, através das Revoluções Industrial (1769), profissão e sindicato reconhecidos pelo Estado varguista. Aqueles Americana (1776) e Francesa (1789), a passagem definitiva para a que não detinham a carteira de trabalho e/ou questionassem a nova ordem burguesa, cujo princípio é o da acumulação e o funda- ordem vigente eram tratados com violenta repressão estatal. Este mento é a propriedade privada dos meios de produção. Aquele padrão de política social – subjugada à política econômica - atra- século inaugura a era dos direitos civis, necessários à ordem bur- vessou o governo e a ditadura Vargas (1930/1945), o período popu- guesa, pois era preciso o direito de ir e vir, de vender “livremente” a lista (1946/1963), a longa ditadura militar (1964/1984) e só foi modi- sua força de trabalho e, principalmente, ter a garantia - através da ficado com a promulgação da CF88 força estatal - da segurança à propriedade privada. A Assistência Social foi historicamente, no contexto brasileiro, O século XIX assistirá à emergência da classe trabalhadora, or- detida pelas instituições religiosas e utilizada como “moeda de troca” ganizada, que passou - frente às terríveis condições de vida - a política, seja na zona urbana, seja na zona rural, com o poder dos exigir o direito de organização em sindicatos e de participar da vida coronéis. O Estado varguista criou grandes instituições, como a política, até então reservada aos detentores de renda e propriedade. LBA, que não fugiu à lógica da benemerência, do primeiro-damismo Este século, através de lutas sangrentas, vê nascer os direitos polí- e do “favor aos pobres”: a política social de assistência sempre foi, ticos. portanto, cunhada pela ótica do favor, a serviço da manutenção da Já o século XX testemunha o nascimento dos direitos sociais, miséria e dos interesses das elites brasileiras. resultado das inúmeras lutas enfrentadas pela classe trabalhadora O processo de constituição da cidadania no Brasil foi marcado desde meados do século XIX. Tal processo – de nascimento do que pela restrição das liberdades civis, enquanto o Executivo ficou com conhecemos hoje como cidadania (direitos civis, políticos e sociais) o “papel” de criar os direitos sociais, como um distribuidor repressor – desenvolveu-se na Inglaterra, centro do desenvolvimento capitalis- e paternalista de empregos e favores. A ação política voltava-se ta, e espraiou-se, de formas diferenciadas e de acordo com as lutas para a negociação direta com o governo, sem passar pela mediação de classes, nos demais países. das representações políticas. A cultura política brasileira foi, portan- O Estado foi fundamental para “regular” os inúmeros conflitos to, mais orientada para o Estado do que para o fortalecimento de das lutas de classes, regulamentando leis políticas e sociais, mas representações políticas na sociedade civil: é a “estadania” em mantendo sua função primordial: a de manter e fortalecer a ordem contraste com a “cidadania”. Somente com os ventos democrático- capitalista e, ao mesmo tempo, transfigurar-se como um ente (ilusó- populares da década de 1980 e a promulgação da CF88 inaugurou- rio) acima das classes sociais. Além do importante papel político, o se um padrão de proteção social afirmativo de direitos sociais en- Estado desenvolveu desde o seu nascedouro ações econômicas quanto direitos de cidadania. Contudo, tem-se, na década de 1990, cruciais para o desenvolvimento da empresa capitalista. um avanço fenomenal do projeto neoliberal, que se espalhou pelo Conhecimentos Gerais 1
  • 4. Brasil Concursos mundo e realizou, com o seu programa de ajuste fiscal, um verda- Fome Zero para a efetivação de ações, o governo dissolveu o ME- deiro “desajuste social” por toda a América Latina SA e o MAS e criou o MDS, que reúne as competências do MESA, No Brasil, o governo Collor (1990/1992) inaugurou a entrada do do MAS e da Secretaria-Executiva do Programa Bolsa-Família. projeto neoliberal no país, com intensos processos de desregula- Outra ação governamental foi a manutenção dos MS e MPS, com mentação, abertura dos mercados, incentivos à reestruturação das orçamentos separados, o que possibilitou a justificativa do “déficit da empresas e a disseminação ideológica por toda a sociedade brasi- Previdência” para a realização da Reforma da Previdência, uma das leira de que a causa dos males sociais centrava-se no “gigantismo” primeiras ações políticas do primeiro ano do governo Lula. do Estado e a solução seria reduzi-lo ao máximo, transferindo suas A Reforma da Previdência, inserida na PEC-40 e realizada sob o funções para empresas, supostamente mais eficientes. No campo argumento da “justiça social”, não incluiu os 40 milhões de trabalha- das políticas sociais, o governo Collor simplesmente ignorou os dores sem qualquer cobertura previdenciária, mas limitou-se a reali- preceitos constitucionais, através da desconsideração do Sistema zar um novo disciplinamento no regime de previdência dos servido- de Seguridade Social inscrito na CF88. Nesta, a Seguridade Social res públicos, com o rebaixamento do teto dos benefícios, o que é compreendida como um conjunto integrado de ações de iniciativa abriu um enorme mercado – extremamente lucrativo - para a “Previ- dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os dência Complementar”. Na Saúde, o atual governo mantém a reten- direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência. Assim, a ção de recursos e investimentos para a área, ao mesmo tempo em Seguridade Social requer uma proposta de orçamento elaborada de que direciona ações voltadas para a regulamentação dos Planos forma integrada e um Ministério da Seguridade Social, o que não foi Privados de Saúde, o que esvazia o SUS e favorece os empresários realizado. do setor privado. O governo Collor fragmentou a Seguridade Social em ministérios No campo da Assistência Social, foi realizada, em dezembro de diferentes, dando-lhe margem para realizar, na Saúde, um boicote 2003, a IV CNAS, em caráter extraordinário, o que significou um orçamentário sistemático ao SUS. Na Previdência, lançou um paco- avanço no que diz respeito à retomada da valorização de espaços te de reforma previdenciária já em 1992, cuja função era retirar de controle social. A plenária final da IV CNAS aprovou a PNAS, direitos dos trabalhadores conquistados na CF88. Na Assistência, que prevê a construção e implantação do SUAS, cujo modelo de vetou a LOAS, desrespeitando a CF88. A Carta Magna insere a gestão é descentralizado e participativo. A implantação do SUAS Assistência Social no conjunto do sistema de Seguridade Social e objetiva o rompimento com a fragmentação programática entre as afirma-a como uma política pública, direito de todos, dever do Esta- esferas governamentais e a articulação e provisão de proteção do e da sociedade. Contudo, para o artigo 203 referente à Assistên- social básica e especial para os segmentos populacionais usuários cia Social traduzir-se em políticas públicas, seria necessário a LO- da política de Assistência Social no país. Seus princípios e diretrizes AS, vetada pelo governo Collor e sancionada somente no governo apontam para a universalização do sistema; a territorialização da Itamar, em 1993, após o impeachment de Fernando Collor de Melo rede; a descentralização político-administrativa; a padronização dos e intensas mobilizações sociais. serviços de assistência social; a integração de objetivos, ações, O governo Itamar sancionou a LOAS, mas preparou o terreno serviços, benefícios, programas e projetos; a garantia da proteção para a continuidade da política neoliberal, agora com um verniz social; a substituição do paradigma assistencialista e a articulação intelectualizado. Foi assim que FHC assumiu o Ministério da Fazen- de ações e competências com os demais sistemas de defesa de da, lançou o Plano Real e Lei Orgânica da Assistência Social (LO- direitos humanos, políticas sociais e esferas governamentais. AS). Brasil. Lei n.8742, de 7 de dezembro de 1993 – Dispõe sobre a A proposta do SUAS é um avanço e concretiza um modelo de organização da Assistência Social e dá outras providências. Lei gestão que possibilita a efetivação dos princípios e diretrizes da Orgânica da Assistência Social. política de assistência, conforme definido na LOAS. O princípio Fernando Henrique Cardoso elegeu-se, em 1994, para a Presi- organizativo da Assistência Social baseado num modelo sistêmico dência da República. Com o governo FHC, pode-se afirmar que as aponta para a ruptura do assistencialismo, da benemerência, de políticas neoliberais foram eficientemente implantadas pelo Estado ações fragmentadas, ao sabor dos interesses coronelistas e eleito- brasileiro: reiros. Afirma a Assistência Social como uma política pública, dever (i) no plano econômico, através de ajuste fiscal, privatização do Estado e direito de todos os cidadão e cidadãs, com a afirmação da maior parte do patrimônio público, desregulamentação trabalhis- do controle social por parte da sociedade civil. A deliberação refe- ta, abertura dos mercados, apoio total ao capital financeiro; rente à PNAS e a construção do SUAS expressa um esforço coleti- vo que, desde a promulgação da CF88 e da LOAS, em 1993, vem (ii) no plano político, o Estado operou uma verdadeira dis- se empenhando na tarefa de colocar a Assistência Social brasileira seminação ideológica de que era preciso transferir para a sociedade no campo da garantia dos direitos sociais. civil – o “Terceiro Setor” - as tarefas do Estado. Assim, implementou, com relativo sucesso, o projeto de reforma do Estado brasileiro, Em setembro de 2004, o MDS, através da SNAS, tornou pública diminuindo suas funções bruscamente (para a classe trabalhadora) a versão final da PNAS, após a realização de seminários que publi- e mantendo-se sempre alerta para responder às demandas do cizaram a discussão, o que deve ser ressaltado como positivo, dada capital; a mudança de postura do atual governo em relação ao anterior, que centralizava as decisões e não colocava em debate suas propostas (iii) no plano social, realizou um verdadeiro desmonte do que para a área de Assistência Social. Yasbek ressalta como aspectos foi construído ao longo do período da “cidadania regulada” positivos da nova PNAS a incorporação das demandas da socieda- (1930/1984). Na Saúde, manteve o boicote orçamentário ao SUS; de na área da assistência social, a inovação em trabalhar com a na Previdência, realizou reformas no regime dos funcionários públi- noção de território, a centralidade da família e de sua proteção e, cos e tornou mais rígidas as regras previdenciárias, e, na Assistên- sobretudo, pela perspectiva de constituição do SUAS. Quanto aos cia Social, criou o Programa Comunidade Solidária, passando ao aspectos negativos, aponta a visão de que a família pobre precisa largo do que a LOAS estabelece. O Comunidade Solidária recebia ser reestruturada do ponto de vista moral e afetivo, sem considerar recursos, sem controle social do Conselho Nacional de Assistência o quadro econômico mais amplo, como se o problema de miséria Social e configurou-se como uma política assistencialista, indo na fosse da família. Outro ponto negativo é a desconsideração de que contra-corrente dos avanços inscritos na CF88 e na LOAS (1993). O essa população pertence a uma classe social e de que a questão governo FHC não cumpriu com a lei, ignorando a necessidade de social é uma questão política. construção do SUAS, para que os preceitos indicados pela CF88 e LOAS fossem efetivamente concretizados. O SUAS – aprovado pelo Conselho Nacional de Assistência So- cial em julho de 2005 através da Norma Operacional Básica/SUAS – Após oito anos, o governo FHC operou um verdadeiro “desmon- é um sistema descentralizado, participativo e não-contributivo, que te da nação” e, desgastado com promessas de melhoria na vida da organiza e regula as responsabilidades das esferas de governo e da população, foi derrotado, em 2002, pelo então candidato Luiz Inácio sociedade civil em relação à política de assistência social e afirma Lula da Silva. Embora com promessas de mudanças, sobretudo na que a assistência social é uma política pública e compõe o sistema área social, o governo Lula manteve a fragmentação das políticas de seguridade social. de Seguridade Social, com a criação, no primeiro ano de governo, do MESA - responsável pela implantação do Programa Fome Zero - A NOB/SUAS/2005 indica as seguintes prerrogativas para a e a manutenção dos MA, MPS e MS. No início de 2004, com a construção efetiva do SUAS: 1) a gestão compartilhada, o co- reforma ministerial e as dificuldades enfrentadas pelo Programa financiamento e a cooperação técnica entre os três entes federati- Conhecimentos Gerais 2
  • 5. Brasil Concursos vos. 2) divisão de responsabilidades entre os entes federativos para programas, projetos e benefícios, identificados entre os níveis de instalar, regular, manter e expandir as ações de assistência social proteção básica e especial. e) Mecanismos de transferência: e.1. como dever de Estado e direito do cidadão. 3) fundamenta-se nos repasse de recursos fundo a fundo, de forma sistemática e automá- compromissos da PNAS/2004; 4) orienta-se pela unidade de propó- tica. e.2. nova sistemática de convênios, com aplicativos informati- sitos, principalmente quanto ao alcance de direitos pelos usuários; zados para co-financiamento de projetos eventuais. f) Critérios de 5) regula em todo o território nacional a hierarquia, os vínculos e as partilha, como proteção social básica e especial, e de transferência; responsabilidades do sistema cidadão de serviços, benefícios, pro- g) o co-financiamento entre municípios, estados e União, respeitan- gramas, projetos e ações de assistência social, de caráter perma- do-se os princípios de subsidiariedade e cooperação e a diversidade nente e eventual, sob critério universal e lógica de ação em rede existente entre municípios, metrópoles, estados e União. hierarquizada (âmbitos municipal, estadual e federal). 6) respeita a Possibilidades da Política de Assistência Social: avanços e diversidade das regiões. 7) reconhece as diferenças e desigualda- limites des regionais, considerando-as no planejamento e execução das Ao longo do presente texto, procurou-se mostrar que políticas ações. 8) articula sua dinâmica às organizações e entidades de públicas são compostas por políticas econômicas e sociais e têm no assistência social reconhecidas pelo SUAS. Estado o seu formulador e executor. No Brasil, historicamente, as O SUAS apresenta como eixos estruturantes: (i) Precedência da políticas sociais estiveram submetidas às necessidades da política gestão pública da política; (ii) Alcance de direitos sócio- econômica, a serviço dos interesses das elites e do processo de assistenciais; (iii) Matricialidade sócio-familiar; (iv) Territorialização; produção capitalista. (v) Descentralização político-administrativa; (vi) Financiamento Considera-se que as políticas sociais, na ordem burguesa, terão partilhado entre os entes federados; (vii) Fortalecimento da relação sempre limites, relativos ao próprio sistema capitalista. Portanto, é democrática Estado-sociedade civil;(viii) Valorização da presença do preciso, para compreender os limites e possibilidades de avanço da controle social; (ix) Participação popular; (x) Qualificação de recur- política de assistência social, apreender o significado da Política sos humanos; (xi) Informação, monitoramento, avaliação e sistema- Social no capitalismo, em determinado contexto histórico e segundo tização de resultados. as lutas de classes internas às particularidades de cada país. Para a efetivação da proteção social, o SUAS dispõe de duas No Brasil, a década de 1990 significou uma verdadeira “festa” modalidades de proteção: básica e especial: para o capital financeiro, a despeito do empobrecimento contínuo da (a) a proteção social básica (PSB) objetiva prevenir situações de classe trabalhadora. O governo Lula, que historicamente tem suas risco por meio do desenvolvimento de potencialidades, com fortale- raízes fincadas em bandeiras democrático-populares, foi coerente, cimento dos vínculos familiares e comunitários. Destina-se à popu- no campo da Assistência Social, quando possibilitou a aprovação da lação que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da PNAS e a construção do SUAS, mas, contraditoriamente, permane- pobreza, privação e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais ce com ações dicotômicas, que separam a política social da política e de pertencimento social. A PSB tem por referência o serviço de econômica, proporcionando lucros recordes ao capital financeiro, e, acompanhamento de grupos territoriais até 5.000 famílias sob situa- com isto, subordina os direitos sociais à lógica mercantil. ção de vulnerabilidade em núcleos com até 20.000 habitantes e será Portanto, na vida real – e não no plano ideológico, do discurso – operada pelo CRAS, por rede de serviços sócio-educativos; BPC; por mais que se afirme os direitos sociais, a cidadania, etc, estes benefícios eventuais; serviços e projetos de inserção produtiva. encontram-se extremamente limitados, dada a perpetuação do (b) A proteção social especial (PSE) objetiva prover atenções direcionamento neoliberal à política econômica, com o consequente sócio-assistenciais a famílias e indivíduos em situação de risco resultado de se produzir uma política social pobre para os pobres. pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos Neste contexto, ressalta-se a necessidade dos diversos sujeitos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cum- coletivos captarem a Política Pública em sua totalidade, o que signi- primento de medidas sócio-educativas, em situação de rua, dentre fica analisar a política social intimamente articulada à política eco- outras. nômica. No campo da Assistência Social, alerta-se para a importân- Ambos os tipos de proteção tem como suposto o princípio de cia de iniciativas políticas que afirmem os princípios da Seguridade proteção social pró-ativa, o que significa não mais considerar os Social, e, particularmente, do seu caráter sistêmico, o que significa a usuários dos serviços de assistência social como objetos de inter- fuga de uma ótica setorialista das políticas sociais, para não cairmos venção, mas sim como sujeitos de direitos. na armadilha de uma “compensar” a outra. Outra questão importan- O SUAS aponta ainda a implantação de um sistema de vigilân- te é a defesa da Seguridade Social articulando-a aos interesses cia sócio-assistencial, que consiste no desenvolvimento da capaci- mais gerais da sociedade e ao questionamento da evasão das ri- dade e de meios de gestão assumidos pelo órgão público gestor da quezas geradas pela classe trabalhadora brasileira para o cumpri- assistência social para conhecer a presença de pessoas em situa- mento das metas de ajuste fiscal. Ressaltamos que os espaços de ção de vulnerabilidade. controle social – Conselhos e Conferências – são fóruns privilegia- A rede sócio-assistencial indicada no SUAS é um conjunto inte- dos para a defesa da Seguridade Social e da Política de Assistência grado de ações de iniciativa pública e da sociedade que ofertam e Social. operam benefícios, serviços, programas e projetos, o que supõe a Tratar, portanto, a política social separada da política econômica articulação entre todas estas unidades de provisão de proteção é cair na ilusão de que uma é possível sem a outra. A existência de social sob a hierarquia de básica e especial e ainda por níveis de uma política econômica neoliberal é possível e indica a ausência complexidade. e/ou drástica redução da política social. Mas, uma política social de O SUAS supõe a gestão compartilhada de serviços, como uma cunho universalista e baseada nos princípios da Seguridade Social política federativa entre União, Distrito Federal, estados e municí- exige uma política econômica radicalmente oposta da que vem pios, o que exige a utilização de instrumentos de cooperação entre sendo implementada até os dias atuais. os entes federativos, como convênios, consórcios, comissões de pactuação, dentre outros. Os tipos e níveis de gestão são caracteri- zados como gestão inicial, gestão intermediária e gestão plena, o que determinará o valor do piso de proteção social que o município receberá e as competências de cada município. Por fim, o financiamento do SUAS aponta para: a) a descentrali- 2. A Política Nacional de Assistência Social na perspectiva zação político-administrativa, com autonomia dos entes federativos, Sistema Único de Assistência Social: seus objetivos, princí- mas mantendo o princípio de cooperação. b) os Fundos de Assis- pios, diretrizes, conceitos fundamentais, organização institu- tência Social – os repasses só podem ocorrer via Fundo. c) o SUAS cional, programas, projetos e seus usuários. como referência. d) condições gerais para transferência dos recur- sos federais: d.1. níveis de gestão, d.2. comprovação de execução Sistema Único de Assistência Social orçamentária, d.3. acompanhamento e controle da gestão dos re- Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é o modelo de cursos através do Relatório Anual de Gestão, d.4. manutenção do gestão utilizado no Brasil para operacionalizar as ações de Cadastro Único atualizado e realimentado, d.5. repasse dos recur- assistência social. O SUAS foi criado pelo Ministério do sos do Fundo Nacional de Assistência Social para os serviços, Conhecimentos Gerais 3
  • 6. Brasil Concursos Desenvolvimento Social e Combate à Fome a partir do previsto na pessoas, cumprimento de medidas sócio-educativas em meio lei federal nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a Lei Orgânica de aberto, etc.). Assistência Social (LOAS). As atividades do psicólogo no CRAS como definidas pelo Política de Seguridade Social / LOAS Conselho Federal de Psicologia (CFP) / Centro de Referência Assim como a saúde a assistência social é um direito do cidadão Técnica em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) devem estar e dever do Estado, suas ações fazem parte da Política de voltadas para a atenção e prevenção a situações de risco, Seguridade Social não contributiva (contribuições especiais) pois no objetivando atuar nas situações de vulnerabilidade por meio do Brasil, embora haja uma estrutura formal de proteção social fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e por meio do estabelecida pela Constituição (como Seguridade Social) desenvolvimento de potencialidades e aquisições pessoais e potencialmente capaz de combater a pobreza e diminuir as coletivas promovendo e/ou favorecendo o desenvolvimento da desigualdades, o raio de ação de tal estrutura ainda é restrito e autonomia dos indivíduos, oportunizando o empoderamento da insuficiente para enfrentar as imensas carências que assolam a pessoa, dos grupos e das comunidades. Fonte: Wikipédia população. Coordenada inicialmente pelo Ministério do Bem-Estar Social e substituído pelo Ministério do Desenvolvimento Social e GESTÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Combate à Fome (MDS) por sua vez originário de três estruturas NA PERSPECTIVA DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SO- governamentais extintas: Ministério Extraordinário de Segurança CIAL – SUAS Alimentar e Nutricional (Mesa), Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família em 2004 para prover os mínimos sociais, Conceito e base de organização do Sistema Único de Assistên- realizando através de um conjunto integrado de ações de iniciativa cia Social – SUAS O SUAS, cujo modelo de gestão é descentraliza- pública e da sociedade e garantir o atendimento às necessidades do e participativo, constitui-se na regulação e organização em todo o básicas característicos da assistência social. território nacional da rede de serviços socioassistenciais. Os servi- ços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a O MDS tem por objetivos a execução da LOAS, ou seja: atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como  a proteção à família, à maternidade, à infância, à base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que adolescência e à velhice; desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e  o amparo às crianças e adolescentes carentes; pela sua complexidade. Pressupõe, ainda, gestão compartilhada, co-financiamento da política pelas três esferas de governo e defini-  a promoção da integração ao mercado de trabalho; ção clara das competências técnico-políticas da União, Estados e  a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de Municípios. deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; O SUAS materializa o conteúdo da LOAS, cumprindo no tempo histórico dessa política as exigências para a realização dos objetivos  a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à e resultados esperados que devem consagrar direitos de cidadania pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não e inclusão social. possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. (Benefício de prestação continuada) “Trata das condições para a extensão e universalização da pro- teção social aos brasileiros através da política de assistência social A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas e para a organização, responsabilidade e funcionamento de seus setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos serviços e benefícios nas três instâncias de gestão governamental”. mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. O SUAS define e organiza os elementos essenciais e imprescin- díveis à execução da política de assistência social possibilitando a A participação popular no cumprimento de tais proposições normatização dos padrões nos serviços, qualidade no atendimento, jurídicas ficou assegurada com a criação do Conselho Nacional de indicadores de avaliação e resultado, nomenclatura dos serviços e Assistência Social (CNAS), órgão do governo brasileiro, vinculado da rede socioassistencial e, ainda, os eixos estruturantes e de sub- na época de sua criação ao Ministério do Desenvolvimento Social e sistemas conforme aqui descritos: Combate à Fome observando-se os princípios e diretrizes estabelecidos por proposições específicas das políticas de _ Matricialidade Sócio-Familiar; assistência social estaduais e municipais. _ Descentralização político-administrativa e Territorialização; O SUAS tem como eixos estruturantes: a matricialidade sócio- _ Novas bases para a relação entre Estado e Sociedade Civil; familiar; descentralização político-administrativa e territorialização _ Financiamento; estabelecendo novas bases para a relação entre Estado e _ Controle Social; sociedade civil; financiamento; controle social com participação _ O desafio da participação popular/cidadão usuário; popular e normas definidas para informação o monitoramento e a avaliação além de política de recursos humanos própria. _ A Política de Recursos Humanos; Estabelecendo ainda a organização da assistência em dois níveis _ A Informação, o Monitoramento e a Avaliação. de proteção, divididos em proteção social básica e proteção social Os serviços socioassistenciais no SUAS são organizados se- especial de média e alta complexidade. gundo as seguintes referências: vigilância social, proteção social e Proteção social básica e especial defesa social e institucional: A proteção social básica tem por objetivo prevenir a violação Vigilância Social: refere-se à produção, sistematização de infor- dos direitos sua porta de entrada e ações executivas são Centro de mações, indicadores e índices territorializados das situações de Referência de Assistência Social – CRAS vulnerabilidade e risco pessoal e social que incidem sobre famí- Localizando-se nas áreas de maior vulnerabilidade previamente lias/pessoas nos diferentes ciclos da vida (crianças, adolescentes, identificadas por estudos específicos como de maior risco social jovens, adultos e idosos); pessoas com redução da capacidade constituindo-se como uma unidade permanente de prestação de pessoal, com deficiência ou em abandono; crianças e adultos víti- serviços definidos para a população residente na sua área de mas de formas de exploração, de violência e de ameaças; vítimas abrangência. A equipe inclui profissionais de serviço social e de preconceito por etnia, gênero e opção pessoal; vítimas de apar- psicologia em número variável segundo articulados por um tação social que lhes impossibilite sua autonomia e integridade, coordenador, cujo perfil é: técnico de nível superior, concursado, fragilizando sua existência; vigilância sobre os padrões de serviços com experiência em trabalhos comunitários e gestão de programas, de assistência social em especial aqueles que operam na forma de projetos, serviços e benefícios sócio-assistenciais. albergues, abrigos, residências, semi-residências, moradias provisó- rias para os diversos segmentos etários. Os indicadores a serem Proteção especial atua quando os direitos já foram violados, construídosdevem mensurar no território as situações de riscos tem como unidade assistencial os Centros de Referência sociais e violação de direitos. Especializada de Assistência Social (CREAS) configura-se como uma unidade pública e estatal, que oferta serviços especializados e . Proteção Social: Os serviços de proteção básica e especial de- continuados a famílias e indivíduos em situação de ameaça ou vem garantir as seguintes seguranças: violação de direitos (violência física, psicológica, sexual, tráfico de Conhecimentos Gerais 4
  • 7. Brasil Concursos • Segurança de Sobrevivência: através de benefícios continua- acreditava outrora. Nesta perspectiva, podemos dizer que estamos dos e eventuais que assegurem: proteção social básica a idosos e diante de uma família quando encontramos um conjunto de pessoas pessoas com deficiência sem fonte de renda e sustento4; pessoas e que se acham unidas por laços consangüíneos, afetivos e, ou, de famílias vítimas de calamidades e emergências; situações de forte solidariedade. Como resultado das modificações acima menciona- fragilidade pessoal e familiar, em especial às mulheres chefes de das, superou-se a referência de tempo e de lugar para a compreen- família e seus filhos; são do conceito de família. • Segurança de Convívio: através de ações, cuidados e serviços O reconhecimento da importância da família no contexto da vida que restabeleçam vínculos pessoais, familiares, de vizinhança, de social está explícito no artigo 226, da Constituição Federal do Brasil, segmento social, mediante a oferta de experiências sócio- quando declara que a “família, base da sociedade, tem especial educativas, lúdicas, sócio-culturais, desenvolvidas em rede de nú- proteção do Estado”, endossando, assim, o artigo 16, da Declaração cleos sócio-educativos e de convivência para os diversos ciclos de dos Direitos Humanos, que traduz a família como sendo o núcleo vida, suas características e necessidades; natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da • Segurança de Acolhida: através de ações, cuidados, serviços e sociedade e do Estado. No Brasil, tal reconhecimento se reafirma projetos operados em rede com unidade de porta de entrada desti- nas legislações específicas da Assistência Social – Estatuto da nada à proteger e recuperar às situações de abandono e isolamento Criança e do Adolescente – ECA, Estatuto do Idoso e na própria Lei de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, restaurando Orgânica da Assistência Social – LOAS, dentre outras. sua autonomia, capacidade de convívio e protagonismo mediante a Embora haja o reconhecimento explícito sobre a importância da oferta de condições materiais de abrigo, repouso, alimentação, família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Esta- higienização, vestuário e aquisições pessoais desenvolvidas através do, tal proteção tem sido cada vez mais discutida, na medida em de acesso a trabalho sócio-educativo; que a realidade tem dado sinais cada vez mais evidentes de pro- . Defesa Social e Institucional: os serviços de proteção básica e cessos de penalização e desproteção das famílias brasileiras. Nes- especial devem ser organizados de forma a garantir aos seus usuá- se contexto, a matricialidade sócio-familiar passa a ter papel de rios o acesso ao conhecimento dos direitos socioassistenciais e sua destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência Social – defesa. São direitos socioassistenciais a serem assegurados na PNAS. Esta ênfase está ancorada na premissa de que a centralida- operação do SUAS a seus usuários: de da família e a superação da focalização, no âmbito da política de • Direito ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, por parte Assistência Social, repousam no pressuposto de que para a família de todos os serviços socioassistenciais, ausente de procedimentos prevenir, proteger, promover e incluir seus membros é necessário, vexatórios e coercitivos; em primeiro lugar, garantir condições de sustentabilidade para tal. Nesse sentido, a formulação da política de Assistência Social é • Direito ao tempo, de modo a acessar a rede de serviço com re- pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos indiví- duzida espera e de acordo com a necessidade, sendo-lhes garanti- duos. dos os seguintes procedimentos; Essa postulação se orienta pelo reconhecimento da realidade • Direito à informação sobre o funcionamento dos serviços, en- que temos hoje através de estudos e análises das mais diferentes quanto direito primário do cidadão, sobretudo àqueles com vivência áreas e tendências. Pesquisas sobre população e condições de vida de barreiras culturais, de leitura, de limitações físicas; nos informam que as transformações ocorridas na sociedade con- • Direito do usuário ao protagonismo e manifestação de seus in- temporânea, relacionadas à ordem econômica, à organização do teresses; trabalho, à revolução na área da reprodução humana, à mudança de • Direito do usuário à oferta qualificada de serviço; valores e à liberalização dos hábitos e dos costumes, bem como ao • Direito de convivência familiar e comunitária. fortalecimento da lógica individualista em termos societários, redun- O processo de gestão do SUAS prevê as seguintes bases orga- daram em mudanças radicais na organização das famílias. Dentre essas mudanças pode-se observar um enxugamento dos grupos nizacionais: familiares (famílias menores), uma variedade de arranjos familiares Matricialidade Sócio-Familiar (monoparentais, reconstituídas), além dos processos de empobre- As reconfigurações dos espaços públicos, em termos dos direi- cimento acelerado e da desterritorialização das famílias gerada tos sociais assegurados pelo Estado democrático de um lado, e, por pelos movimentos migratórios. outro, dos constrangimentos provenientes da crise econômica e do Essas transformações, que envolvem aspectos positivos e nega- mundo do trabalho, determinaram transformações fundamentais na tivos, desencadearam um processo de fragilização dos vínculos esfera privada, resignificando as formas de composição e o papel familiares e comunitários e tornaram as famílias mais vulneráveis. A das famílias. Por reconhecer as fortes pressões que os processos vulnerabilidade à pobreza está relacionada não apenas aos fatores de exclusão sócio-cultural geram sobre as famílias brasileiras, acen- da conjuntura econômica e das qualificações específicas dos indiví- tuando suas fragilidades e contradições, faz-se primordial sua cen- duos, mas também às tipologias ou arranjos familiares e aos ciclos tralidade no âmbito das ações da política de assistência social, de vida das famílias. Portanto, as condições de vida de cada indiví- como espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização duo dependem menos de sua situação específica que daquela que primárias, provedora de cuidados aos seus membros, mas que caracteriza sua família. No entanto, percebe-se que na sociedade precisa também ser cuidada e protegida. Essa correta percepção é brasileira, dada as desigualdades características de sua estrutura condizente com a tradução da família na condição de sujeito de social, o grau de vulnerabilidade vem aumentando e com isso au- direitos, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, o menta a exigência das famílias desenvolverem complexas estraté- Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei Orgânica de Assistên- gias de relações entre seus membros para sobreviverem. cia Social e o Estatuto do Idoso. Assim, essa perspectiva de análise, reforça a importância da po- A família, independentemente dos formatos ou modelos que as- lítica de Assistência Social no conjunto protetivo da Seguridade sume é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, Social, como direito de cidadania, articulada à lógica da universali- delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o dade. Além disso, há que considerar a diversidade sócio-cultural das privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida. famílias, na medida em que estas são, muitas vezes, movidas por Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como hierarquias consolidadas e por uma solidariedade coativa que re- um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é dundam em desigualdades e opressões. Sendo assim, a política de marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades, Assistência Social possui papel fundamental no processo de eman- além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no cipação destas, enquanto sujeito coletivo. Postula-se, inclusive, uma âmbito da proteção social. Em segundo lugar, é preponderante interpretação mais ampla do estabelecido na legislação, no sentido retomar que as novas feições da família estão intrínseca e dialeti- de reconhecer que a concessão de benefícios está condicionada à camente condicionadas às transformações societárias contemporâ- impossibilidade não só do beneficiário em prover sua manutenção, neas, ou seja, às transformações econômicas e sociais, de hábitos e mas também de sua família. Dentro do princípio da universalidade, costumes e ao avanço da ciência e da tecnologia. O novo cenário portanto, objetiva-se a manutenção e a extensão de direitos, em tem remetido à discussão do que seja a família, uma vez que as três sintonia com as demandas e necessidades particulares expressas dimensões clássicas de sua definição (sexualidade, procriação e pelas famílias. convivência) já não têm o mesmo grau de imbricamento que se Conhecimentos Gerais 5
  • 8. Brasil Concursos Nesta ótica, a centralidade da família com vistas à superação da Importantes conceitos no campo da descentralização foram in- focalização, tanto relacionada a situações de risco como a de seg- corporados a partir da leitura territorial como expressão do conjunto mentos, sustenta-se a partir da perspectiva postulada. Ou seja, a de relações, condições e acessos inaugurados pelas análises de centralidade da família é garantida à medida que na Assistência Milton Santos, que interpreta a cidade com significado vivo a partir Social, com base em indicadores das necessidades familiares, se dos “atores que dele se utilizam”. desenvolva uma política de cunho universalista, que em conjunto Dirce Koga, afirma que “os direcionamentos das políticas públi- com as transferências de renda em patamares aceitáveis se desen- cas estão intrinsecamente vinculados à própria qualidade de vida volva, prioritariamente, em redes socioassistenciais que suportem dos cidadãos. É no embate relacional da política pública entre go- as tarefas cotidianas de cuidado e que valorizem a convivência verno e sociedade que se dará a ratificação ou o combate ao pro- familiar e comunitária. cesso de exclusão social em curso. Pensar na política pública a Além disso, a Assistência Social, enquanto política pública, que partir do território exige também um exercício de revista à história, compõe o tripé da Seguridade Social, e considerando as caracterís- ao cotidiano, ao universo cultural da população que vive neste terri- ticas da população atendida por ela, deve fundamentalmente inserir- tório (...). A perspectiva de totalidade, de integração entre os setores se articulação intersetorial com outras políticas sociais, particular- para uma efetiva ação pública... vontade política de fazer valer a mente, as públicas de Saúde, Educação, Cultura, Esporte, Empre- diversidade e a inter-relação das políticas locais” (2003:25). go, Habitação, entre outras, para que as ações não sejam fragmen- Nesta vertente, o objeto da ação pública, buscando garantir a tadas e se mantenha o acesso e a qualidade dos serviços para qualidade de vida da população, extravasa os recortes setoriais em todas as famílias e indivíduos. que tradicionalmente se fragmentaram as políticas sociais e em A efetivação da política de Assistência Social, caracterizada pela especial a política de assistência social. complexidade e contraditoriedade que cerca as relações intrafamilia- Menicucci (2002) afirma que “o novo paradigma para a gestão res e as relações da família com outras esferas da sociedade, espe- pública articula descentralização e intersetorialidade, uma vez que o cialmente o Estado, colocam desafios tanto em relação à sua pro- objetivo visado é promover a inclusão social ou melhorar a qualida- posição e formulação quanto à sua execução. de de vida, resolvendo os problemas concretos que incidem sobre Os serviços de proteção social, básica e especial, voltados para uma população em determinado território”. Ou seja, ao invés de a atenção às famílias deverão ser prestados, preferencialmente, em metas setoriais a partir de demandas ou necessidades genéricas, unidades próprias dos municípios, através dos Centros de Referên- trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e cia da Assistência Social básico e especializado. Os serviços, pro- as soluções, a partir de recortes territoriais que identifiquem conjun- gramas, projetos de atenção às famílias e indivíduos poderão ser tos populacionais em situações similares, e intervir através das executados em parceria com as entidades não-governamentais de políticas públicas, com o objetivo de alcançar resultados integrados assistência social, integrando a rede socioassistencial. e promover impacto positivo nas condições de vida. O que Aldaíza Descentralização político-administrativa e Territorialização Sposati tem chamado de atender a necessidade e não o necessita- No campo da assistência social, o artigo 6º, da LOAS, dispõe do. que as ações na área são organizadas em sistema descentralizado Dessa forma, uma maior descentralização, que recorte regiões e participativo, constituído pelas entidades e organizações de assis- homogêneas, costuma ser pré-requisito para ações integradas na tência social, articulando meios, esforços e recursos, e por um con- perspectiva da intersetorialidade. junto de instâncias deliberativas, compostas pelos diversos setores Descentralização efetiva com transferência de poder de decisão, envolvidos na área. O artigo 8º estabelece que a União, os Estados, de competências e de recursos, e com autonomia das administra- o Distrito Federal e os Municípios, observados os princípios e dire- ções dos microespaços na elaboração de diagnósticos sociais, trizes estabelecidas nesta Lei, fixarão suas respectivas Políticas de diretrizes, metodologias, formulação, implementação, execução, Assistência Social. monitoramento, avaliação e sistema de informação das ações defi- A política de assistência social tem sua expressão em cada nível nidas, com garantias de canais de participação local. Pois, esse da Federação na condição de comando único, na efetiva implanta- processo ganha consistência quando a população assume papel ção e funcionamento de um Conselho de composição paritária ativo na reestruturação. entre sociedade civil e governo, do Fundo, que centraliza os recur- Para Menicucci (2002), “a proposta de planejamento e interven- sos na área, controlado pelo órgão gestor e fiscalizado pelo conse- ções intersetoriais envolve mudanças nas instituições sociais e suas lho, do Plano de Assistência Social que expressa a Política e suas práticas”. Significa alterar a forma de articulação das ações em inter-relações com as demais políticas setoriais e ainda com a rede segmentos, privilegiando a universalização da proteção social em socioassistencial. Portanto, Conselho, Plano e Fundo são os ele- prejuízo da setorialização e da autonomização nos processos de mentos fundamentais de gestão da Política Pública de Assistência trabalho. Implica, também, em mudanças na cultura e nos valores Social. da rede socioassistencial, das organizações gestoras das políticas O artigo 11o da LOAS coloca ainda que as ações das três esfe- sociais e das instâncias de participação. Torna-se necessário, cons- ras de governo na área da assistência social realizam-se de forma tituir uma forma organizacional mais dinâmica, articulando as diver- articulada, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera sas instituições envolvidas. federal e a coordenação e execução dos programas, em suas res- É essa a perspectiva que esta Política Nacional quer implemen- pectivas esferas, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios. tar. A concepção da assistência social como política pública tem Dessa forma, cabe a cada esfera de governo, em seu âmbito de como principais pressupostos a territorialização, a descentralização atuação, respeitando os princípios e diretrizes estabelecidas na e a intersetorialidade aqui expressos. Política Nacional de Assistência Social, coordenar, formular e co- Assim, a operacionalização da política de assistência social em financiar além de monitorar, avaliar, capacitar e sistematizar as rede, com base no território, constitui um dos caminhos para superar informações. a fragmentação na prática dessa política. Trabalhar em rede, nessa Considerando a alta densidade populacional do país e, ao mes- concepção territorial significa ir além da simples adesão, pois há mo tempo, seu alto grau de heterogeneidade e desigualdade socio- necessidade de se romper com velhos paradigmas, em que as territorial presentes entre os seus 5.561 municípios, a vertente terri- práticas se construíram historicamente pautadas na segmentação, torial faz-se urgente e necessária na Política Nacional de Assistên- na fragmentação e na focalização, e olhar para a realidade, conside- cia Social. Ou seja, o princípio da homogeneidade por segmentos rando os novos desafios colocados pela dimensão do cotidiano, que na definição de prioridades de serviços, programas e projetos torna- se apresenta sob múltiplas formatações, exigindo enfrentamento de se insuficiente frente às demandas de uma realidade marcada pela forma integrada e articulada. alta desigualdade social. Exige-se agregar ao conhecimento da Isso expressa a necessidade de se repensar o atual desenho da realidade a dinâmica demográfica associada à dinâmica socioterrito- atuação da rede socioassistencial, redirecionando-a na perspectiva rial em curso. de sua diversidade, complexidade, cobertura, financiamento e do Também, considerando que muitos dos resultados das ações da número potencial de usuários que dela possam necessitar. A partir política de assistência social impactam em outras políticas sociais e daí a Política Nacional de Assistência Social caracterizará os muni- vice-versa, é imperioso construir ações territorialmente definidas, cípios brasileiros de acordo com seu porte demográfico associado juntamente com estas políticas. aos indicadores socioterritoriais disponíveis a partir dos dados censi- Conhecimentos Gerais 6
  • 9. Brasil Concursos tários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE5, com migra das regiões onde as oportunidades são consideradas mais maior grau de desagregação territorial quanto maior a taxa de den- escassas, apresentam grande demanda por serviços das várias sidade populacional, isto é, quanto maior concentração populacio- áreas de políticas públicas. Em razão dessas características, a rede nal, maior será a necessidade de considerar as diferenças e desi- socioassistencial deve ser mais complexa e diversificada, envolven- gualdades existentes entre os vários territórios de um município ou do serviços de proteção social básica, bem como uma ampla rede região. A construção de indicadores a partir dessas parcelas territo- de proteção especial (nos níveis de média e alta complexidade). riais termina configurando uma “medida de desigualdade intraurba- • Metrópoles – entende-se por metrópole os municípios com na”. Esta medida, portanto, sofrerá variações de abrangência de mais de 900.000 habitantes (atingindo uma média superior a acordo com as características de cada cidade, exigindo ação articu- 250.000 famílias cada). Para além das características dos grandes lada entr e as três esferas no apoio e subsídio de informações, municípios, as metrópoles apresentam o agravante dos chamados tendo como base o Sistema Nacional de Informações de Assistência territórios de fronteira, que significam zonas de limites que configu- Social e os censos do IBGE, compondo com os Campos de Vigilân- ram a região metropolitana e normalmente com forte ausência de cia Social, locais e estaduais, as referências necessárias para sua serviços do Estado. construção. A referida classificação tem o propósito de instituir o Sistema Ú- Porém, faz-se necessária a definição de uma metodologia unifi- nico de Assistência Social, identificando as ações de proteção bási- cada de construção de alguns índices (exclusão/inclusão social, ca de atendimento que devem ser prestadas na totalidade dos mu- vulnerabilidade social) para efeitos de comparação e definição de nicípios brasileiros e as ações de proteção social especial, de média prioridades da Política Nacional de Assistência Social. e alta complexidade, que devem ser estruturadas pelos municípios Como forma de caracterização dos grupos territoriais da Política de médio, grande porte e metrópoles, bem como pela esfera esta- Nacional de Assistência Social será utilizada como referência a dual, por prestação direta como referência regional ou pelo assesso- definição de municípios como de pequeno, médio e grande porte 6 ramento técnico e financeiro na constituição de consórcios intermu- utilizada pelo IBGE agregando-se outras referências de análise nicipais. Levar-se-á em conta, para tanto, a realidade local, regional, realizadas pelo Centro de Estudos das Desigualdades Socioterritori- o porte, a capacidade gerencial e de arrecadação dos municípios, e ais7, bem como pelo Centro de Estudos da Metrópole8 sobre desi- o aprimoramento dos instrumentos de gestão, introduzindo o geo- gualdades intraurbanas e o contexto específico das metrópoles: processamento como ferramenta da Política de Assistência Social. • Municípios de pequeno porte 1 – entende-se por município de Novas bases para a relação entre o Estado e a Sociedade pequeno porte 1 aquele cuja população chega a 20.000 habitantes Civil (até 5.000 famílias em média. Possuem forte presença de popula- A Lei Orgânica de Assistência Social propõe um conjunto inte- ção em zona rural, correspondendo a 45% da população total. Na grado de ações e iniciativas do governo e da sociedade civil para maioria das vezes, possuem como referência municípios de maior garantir proteção social para quem dela necessitar. porte, pertencentes à mesma região em que estão localizados. A gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Esta- Necessitam de uma rede simplificada e reduzida de serviços de do assuma a primazia da responsabilidade em cada esfera de go- proteção social básica, pois os níveis de coesão social, as deman- verno na condução da política. Por outro lado, a sociedade civil das potenciais e redes socioassistenciais não justificam serviços de participa como parceira, de forma complementar na oferta de servi- natureza complexa. Em geral, esses municípios não apresentam ços, programas, projetos e benefícios de Assistência Social. Possui, demanda significativa de proteção social especial, o que aponta ainda, o papel de exercer o controle social sobre a mesma. para a necessidade de contarem com a referência de serviços des- sa natureza na região, mediante prestação direta pela esfera esta- No entanto, somente o Estado dispõe de mecanismos fortemen- dual, organização de consórcios intermunicipais, ou prestação por te estruturados para coordenar ações capazes de catalisar atores municípios de maior porte, com cofinanciamento das esferas esta- em torno de propostas abrangentes, que não percam de vista a duais e Federal. universalização das políticas, combinada com a garantia de eqüida- de. • Municípios de pequeno porte 2 – entende-se por município de pequeno porte 2 aquele cuja população varia de 20.001 a 50.000 Esta prerrogativa está assegurada no art. 5º, inciso III, da LOAS. habitantes (cerca de 5.000 a 10.000 famílias em média). Diferenci- Para tanto, a administração pública deverá desenvolver habili- am-se dos pequeno porte 1 especialmente no que se refere à con- dades específicas, com destaque para a formação de redes. A centração da população rural que corresponde a 30% da população noção de rede tem se incorporado ao discurso sobre política social. total. Quanto às suas características relacionais mantém-se as Nos anos recentes, novas formas de organização e de relaciona- mesmas dos municípios pequenos 1. mento interorganizacional, entre agências estatais e, sobretudo, • Municípios de médio porte – entende-se por municípios de mé- entre o Estado e a sociedade civil, têm sido propostas pelos atores dio porte aqueles cuja população está entre 50.001 a 100.000 habi- sociais. tantes (cerca de 10.000 a 25.000 famílias). Mesmo ainda precisando O imperativo de formar redes se faz presente por duas razões contar com a referência de municípios de grande porte para ques- fundamentais. tões de maior complexidade, já possuem mais autonomia na estru- Primeiramente, conforme já mencionado, porque a história das turação de sua economia, sediam algumas indústrias de transfor- políticas sociais no Brasil, sobretudo, a de assistência social, é mação, além de contarem com maior oferta de comércio e serviços. marcada pela diversidade, superposição e, ou, paralelismo das A oferta de empregos formais, portanto, aumenta tanto no setor ações, entidades e órgãos, além da dispersão de recursos huma- secundário como no de serviços. nos, materiais e financeiros. Esses municípios necessitam de uma rede mais ampla de servi- A gravidade dos problemas sociais brasileiros exige que o Esta- ços de assistência social, particularmente na rede de proteção social do estimule a sinergia e gere espaços de colaboração, mobilizando básica. Quanto à proteção especial, a realidade de tais municípios recursos potencialmente existentes na sociedade, tornando impres- se assemelha à dos municípios de pequeno porte, no entanto, a cindível contar com a sua participação em ações integradas, de probabilidade de ocorrerem demandas nessa área é maior, o que modo a multiplicar seus efeitos e chances de sucesso. Desconhecer leva a se considerar a possibilidade de sediarem serviços próprios a crescente importância da atuação das organizações da sociedade dessa natureza ou de referência regional, agregando municípios de nas políticas sociais é reproduzir a lógica ineficaz e irracional da pequeno porte no seu entorno. fragmentação, descoordenação, superposição e isolamento das • Municípios de grande porte – entende-se por municípios de ações. grande porte aqueles cuja população é de 101.000 habitantes até Na proposta do SUAS, é condição fundamental a reciprocidade 900.000 habitantes (cerca de 25.000 a 250.000 famílias). São os das ações da rede de proteção social básica e especial, com centra- mais complexos na sua estruturação econômica, pólos de regiões e lidade na família, sendo consensado o estabelecimento de fluxo, sedes de serviços mais especializados. Concentram mais oportuni- referência e retaguarda entre as modalidades e as complexidades dades de emprego e oferecem maior número de serviços públicos, de atendimento, bem como a definição de portas de entrada para o contendo também mais infra-estrutura. No entanto, são os municí- sistema. Assim, a nova relação público e privado deve ser regulada, pios que por congregarem o grande número de habitantes e, pelas tendo em vista a definição dos serviços de proteção básica e espe- suas características em atraírem grande parte da população que cial, a qualidade e o custo dos serviços, além de padrões e critérios Conhecimentos Gerais 7
  • 10. Brasil Concursos de edificação. Neste contexto, as entidades prestadoras de assis- não correspondem às necessidades estaduais, regionais e munici- tência social integram o Sistema Único de Assistência Social, não só pais. Tal desenho não fomenta a capacidade criativa destas esferas como prestadoras complementares de serviços sócio-assistenciais, e nem permite que sejam propostas ações complementares para a mas, como co-gestoras e co-responsáveis em garantir direitos dos aplicação dos recursos públicos repassados. usuários da assistência social. Ainda deve ser ressaltado no modelo de financiamento em vigor, Esse reconhecimento impõe a necessidade de articular e inte- a fixação de valores per capita, que atribuem recursos com base no grar ações e recursos, tanto na relação intra como interinstitucional. número total de atendimentos e não pela conformação do serviço às Ao invés de substituir a ação do Estado, a rede deve ser alavan- necessidades da população, com determinada capacidade instala- cada a partir de decisões políticas tomadas pelo poder público em da. Essa orientação, muitas vezes, leva a práticas equivocadas, em consonância com a sociedade. É condição necessária para o traba- especial no que tange aos serviços de longa permanência, que lho em rede que o Estado seja o coordenador do processo de articu- acabam por voltar-se para a manutenção irreversível dos usuários lação e integração entre as Organizações Não-Governamentais – desagregados de vínculos familiares e comunitários. ONG’s, Organizações Governamentais – OG’s e os segmentos Outro elemento importante nessa análise da forma tradicional de empresariais, em torno de uma situação ou de determinado territó- financiamento da política de assistência social são as emendas rio, discutindo questões que dizem respeito à vida da população em parlamentares que financiam ações definidas em âmbito federal, de todos os seus aspectos. Trata-se, enfim, de uma estratégia de arti- forma desarticulada do conjunto das instâncias do sistema descen- culação política que resulta na integralidade do atendimento. tralizado e participativo. Isso se dá, muitas vezes, pela não articula- No caso da assistência social, a constituição de rede pressupõe ção entre os poderes Legislativo e Executivo no debate acerca da a presença do Estado como referência global para sua consolidação Política Nacional de Assistência Social, o que se pretende alterar como política pública. Isso supõe que o poder público seja capaz de com a atual proposta. fazer com que todos os agentes desta política, OG’s e, ou, ONG’s, Ao longo dos 10 anos de promulgação da LOAS, algumas ban- transitem do campo da ajuda, filantropia, benemerência para o da deiras têm sido levantadas em prol do financiamento da assistência cidadania e dos direitos. E aqui está um grande desafio a ser en- social, construído sobre bases mais sólidas e em maior consonância frentado pelo Plano Nacional, que será construído ao longo do pro- com a realidade brasileira. Juntamente com a busca de vinculação cesso de implantação do SUAS. constitucional de percentual de recursos para o financiamento desta Cabe ao poder público conferir unidade aos esforços sociais a política nas três esferas de governo, figuram reivindicações que, no fim de compor uma rede socioassistencial, rompendo com a prática debate da construção do SUAS, têm protagonizado as decisões do das ajudas parciais e fragmentadas, caminhando para direitos a órgão gestor federal. São elas: o financiamento com base no territó- serem assegurados de forma integral, com padrões de qualidade rio, considerando os portes dos municípios e a complexidade dos passíveis de avaliação. Essa mudança deverá estar contida nas serviços, pensados de maneira hierarquizada e complementar; a diretrizes da política de supervisão da rede conveniada que definirá não exigibilidade da Certidão Negativa de Débitos junto ao INSS normas e procedimentos para a oferta de serviços. como condição para os repasses desta política; a não descontinui- Financiamento dade do financiamento a cada início de exercício financeiro; o re- passe automático de recursos do Fundo Nacional para os Estadu- No Sistema Descentralizado e Participativo da Assistência Soci- ais, Municipais e do Distrito Federa para o co-financiamento das al, que toma corpo através da proposta de um Sistema Único, a ações afetas a esta política; o estabelecimento de pisos de atenção, instância de financiamento é representada pelos Fundos de Assis- entre outros. tência Social nas três esferas de governo. No âmbito federal, o Fundo Nacional, criado pela LOAS e regulamentado pelo Decreto nº Com base nessas reivindicações e, respeitando as deliberações 1605/95, tem o seguinte objetivo: “proporcionar recursos e meios da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em para financiar o benefício de prestação continuada e apoiar servi- dezembro de 2003, nova sistemática de financiamento deve ser ços, programas e projetos de assistência social” (art. 1º, do decreto instituída, ultrapassando o modelo convenial e estabelecendo o nº 1605/95). repasse automático fundo a fundo no caso do financiamento dos serviços, programas e projetos de assistência social. Essa nova Com base nessa definição, o financiamento dos benefícios se dá sistemática deverá constar na Norma Operacional Básica que será de forma direta aos seus destinatários, e o financiamento da rede elaborada com base nos pressupostos elencados na nova política. socioassistencial se dá mediante aporte próprio e repasse de recur- sos fundo a fundo, bem como de repasses de recursos para projetos Esse movimento deve extrapolar a tradicional fixação de valores e programas que venham a ser considerados relevantes para o per capita, passando-se à definição de um modelo de financiamento desenvolvimento da política de assistência social em cada esfera de que atenda ao desenho ora proposto para a Política Nacional, pri- governo, de acordo com critérios de partilha e elegibilidade de muni- mando pelo co-financiamento construído a partir do pacto federativo, cípios, regiões e/ou estados, pactuados nas comissões intergesto- baseado em pisos de atenção. Tais pisos devem assim ser identifi- ras e deliberados nos conselhos de assistência social. cados em função dos níveis de complexidade, atentando para a particularidade dos serviços de média e alta complexidade, os quais Assim, o propósito é o de respeitar as instâncias de gestão deve ser substituída progressivamente pela identificação do atendi- compartilhada e de deliberação da política nas definições afetas ao mento das necessidades das famílias e indivíduos, frente aos direi- financiamento dos serviços, programas, projetos e benefícios com- tos afirmados pela assistência social. ponentes do Sistema Único de Assistência Social. Concomitante a esse processo tem-se operado a revisão dos De acordo com a diretriz da descentralização e, em consonância atuais instrumentos de planejamento público, em especial o Plano com o pressuposto do co-financiamento, essa rede deve contar com Plurianual, que se constitui em um guia programático para as ações a previsão de recursos das três esferas de governo, em razão da do Poder Público, e traduz a síntese dos esforços de planejamento co-responsabilidade que perpassa a provisão da proteção social de toda a administração para contemplar os princípios e concepções brasileira. O financiamento deve ter como base os diagnósticos do SUAS. Essa revisão deve dar conta de duas realidades que socioterritoriais apontados pelo Sistema Nacional de Informações de atualmente convivem, ou seja, a construção do novo processo e a Assistência Social9 que considerem as demandas e prioridades que preocupação com a não ruptura radical com o que vige atualmente, se apresentam de forma específica, de acordo com as diversidades para que não se caracterize descontinuidade nos atendimentos e parte de cada região ou território, a capacidade de gestão e de prestados aos usuários da assistência social. Portanto, essa é uma atendimento e de arrecadação de cada município/região, bem como proposta de transição que vislumbra projeções para a universaliza- os diferentes níveis de complexidade dos serviços, através de pac- ção dos serviços de proteção básica, com revisão também de suas tuações e deliberações estabelecidas com os entes federados e os regulações, ampliação da cobertura da rede de proteção especial, respectivos conselhos. também com base em novas normatizações, bem como a definição No entanto, tradicionalmente, o financiamento da política de as- de diretrizes para a gestão dos benefícios preconizados pela LOAS. sistência social brasileira tem sido marcado por práticas centraliza- Ainda compõe o rol das propostas da Política Nacional de Assis- das, genéricas e segmentadas, que se configuram numa série histó- tência Social a negociação e a assinatura de protocolos intersetori- rica engessada e perpetuada com o passar dos anos. Tal processo ais com as políticas de saúde e de educação, para que seja viabili- se caracteriza pelo formato de atendimentos pontuais e, em alguns zada a transição do financiamento dos serviços a estas áreas afe- casos, até paralelos, direcionados a programas que muitas vezes Conhecimentos Gerais 8