O documento discute a história e usos da cannabis ao longo da civilização, aspectos econômicos e sociais do tráfico de drogas, e formas de legalização adotadas. Inclui estudos de caso sobre a descriminalização da maconha em Portugal e o modelo holandês de controle de drogas.
2. HISTÓRIA: ORIGEM E USOS DA CANNABIS NA
CIVILIZAÇÃO AO LONGO DO TEMPO
ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DO TRÁFICO
A LEGALIZAÇÃO: FORMAS E MODELOS ADOTADOS
CONTRADIÇÕES NO PROCESSO DE
DISCRIMINALIZAÇÃO DA CANNABIS
3. O primeiro registro do contato entre o Homo sapiens
e a Cannabis sativa é de 6 000 anos atrás. Trata-se da
marca de uma corda de cânhamo impressa em cacos
de barro, na China.
O emprego da fibra, não só em cordas mas também
em vários tecidos e, depois, na fabricação de papel, é
um dos mais antigos usos da cannabis.
A planta, original da região ao norte do Afeganistão,
aos pés do Himalaia, tornou-se a primeira cultivada
pelo homem com usos não alimentícios e espalhou-se
por toda a Ásia e depois pela Europa e África e por fim
América.
4.
5. O uso medicinal da maconha remonta há pelo menos 2 000
anos pelos chineses que a utilizavam como poder curativo
contra prisão-de-ventre, malária, reumatismo e dores
menstruais.
Para os budistas da tradição Mahayana, Buda passou seis
anos comendo apenas uma semente de maconha por dia. Sua
iluminação teria sido atingida após esse período de “quase-
jejum”.
Também na Índia, a erva já há milênios é parte integral da
medicina ayurvédica, usada no tratamento de dezenas de
doenças ocupando lugar de destaque na religião hindu.
Pela mitologia, a cannabis era a comida favorita do deus
Shiva, que, por isso, viveria o tempo todo “chapado”. Tomar
bhang seria uma forma de entrar em comunhão com Shiva.
6. Da Índia, a cannabis migrou para a
Mesopotâmia, ainda em tempos pré-
cristãos, e de lá para o Oriente Médio.
Portanto, ela já estava presente na região
quando começou a expansão do Império
Árabe.
Os gregos usaram velas e cordas de
cânhamo nos seus navios, assim como,
depois, os romanos.
Sabe-se que o Império Romano tinha pelo
menos conhecimento dos poderes
psicoativos da maconha. O historiador latino
Tácito, que viveu no século I d.C., relata que
o uso da cannabis na região da Turquia.
7. Graças ao contato com os árabes, grande parte
da África conheceu a erva e incorporou-a aos
seus ritos e à sua medicina – dos países
muçulmanos acima do Saara até os zulus da
África do Sul.
A Europa toda também passou a plantar
maconha e usava extensivamente a fibra do
cânhamo, mas há raríssimos registros do seu
uso como psicoativo naquele continente. Pode
ser que isso se deva ao clima.
8. Na Renascença, a cannabis se transformou no principal
produto agrícola da Europa. E sua importância não foi só
econômica: a planta teve uma grande participação na
mudança de mentalidade que ocorreu no século XV.
Os primeiros livros depois da revolução de Gutemberg
foram impressos em papel de cânhamo. As pinturas dos
gênios da arte eram feitas em telas de cânhamo (canvas,
a palavra usada em várias línguas para designar “tela”, é
uma corruptela holandesa do latim cannabis).
E as grandes navegações foram impulsionadas por velas
de cânhamo – segundo o autor americano Rowan
Robinson, autor de O Grande Livro da Cannabis, o velame
e as cordas do barco comandado por Cristóvão Colombo
em 1496 era feito de cânhamo.
9. Em 1798, as tropas de Napoleão conquistaram o Egito. Até
hoje não estão muito claras as razões pelas quais o imperador
francês se aventurou no norte da África mas pode ser que o
principal motivo fosse a intenção de destruir as plantações de
cannabis, que abasteciam de cânhamo a poderosa Marinha da
Inglaterra.
Napoleão promulgou a primeira lei do mundo moderno
proibindo a cannabis. Os egípcios eram fumantes de haxixe, a
resina extraída da folha e da flor da maconha constituída de
THC concentrado.
Os egípcios ignoraram a lei e continuaram fumando como
sempre fizeram e seu consumo rapidamente virou moda na
Europa, principalmente entre os intelectuais.
10. Em 1830, o Brasil fez sua primeira lei restringindo a planta. A Câmara
Municipal do Rio de Janeiro tornou ilegal a venda e o uso da droga na cidade e
determinou que “os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20
000 réis, e os escravos e demais pessoas, que dele usarem, em três dias de
cadeia.”
Teria sido o presidente Getúlio Vargas que negociou a retirada da maconha dos
terreiros, em troca da legalização da religião.
•No Brasil, a planta chegou, talvez ainda no
século XVI, trazida pelos escravos (o nome
“maconha” vem do idioma quimbundo, de
Angola.
•Mas, até o século XIX, era mais usual
chamar a erva de fumo-de-angola ou de
diamba, nome também quimbundo.
Por séculos, a droga foi tolerada no país,
provavelmente fumada em rituais de
candomblé.
11. 1909: Conferência de Xangai
1946: Comissão de Narcóticos (CND)
1961: Convenção Única de Narcóticos
1971: Convenção sobre Substâncias
Psicotrópicas
1988: Convenção contra o Tráfico de
Narcóticos e Substâncias Psicotrópicas.
12. Ainda hoje a cannabis movimenta diferentes
setores econômicos pelo mundo como
turístico, farmacológico e até mesmo
industrial.
Porém, é no setor informal da economia que
atualmente gira seu grande fluxo econômico
e logístico. Este setor informal se remete a
venda ilegal para fins recreativos,
comumente relacionados a grupos
criminosos.
17. - Desde 2001, ninguém pode ser preso por usar drogas em Portugal. Até o início do ano, era
possível comprar drogas alucinógenas em mais de 40 lojas do país, mas, após as mortes de
alguns clientes, os produtos foram proibidos em alguns locais.
- Os lucros neste mercado são de bilhões de dólares. A legalização força o crime organizado
a sair do comércio de drogas, acaba com sua renda e permite-nos regular e controlar o
mercado (isto é prescrever, licenciar, controle de venda a menores, regulação de
propaganda, etc..).
- Atualmente, a posse de maconha é limitada a 25 gramas de erva. Os limites são definidos
por 10 doses diárias e, se forem excedidos, é considerado que existe tráfico de drogas.
- Por lei, o usuário agora é considerado doente crônico que precisa de tratamento, mas há
sanções penais para traficantes e produtores de drogas.
- O usuário pego em Portugal com quantidade de drogas equivalente a, no máximo, dez dias
de consumo (o que é detalhado na legislação), é encaminhado a uma comissão, composta
por um assistente social, um psiquiatra e um advogado, que avalia se o caso se configura
como tráfico, dependência ou simples consumo pessoal. O usuário, então, pode ser
multado, condenado a prestar serviço comunitário ou encaminhado para tratamento.
- No caso português, uma pesquisa realizada pelo Instituto da Droga e Toxicodependência
(IDT) registrou que, entre 2001 – data em que foi implementada a política de
descriminalização da droga em Portugal – e 2007, o consumo continuado de drogas
registrou, em termos absolutos, uma subida de 66%. De forma segmentada, a pesquisa
apontou ainda que, no período em análise, registrou-se aumento de 37% no consumo de
Cannabis, de 215% no de cocaína, de 57,5% no de heroína e de 85% no de Ecstasy.
18. Um dos conceitos chave da política da droga em Portugal é a prevenção. Esta é
realizada pelo IDT em cooperação com outros departamentos governamentais
como o Ministério da Educação e a Polícia, assim como com ONG’s financiadas pelo
Estado.
- O papel dos trabalhadores das equipas de rua, consiste em rondas diárias aos
lugares onde os consumidores se costumam juntar. Uma equipa de duas ou três
pessoas – uma dos quais tem que ser um profissional da área da psicologia –
distribuem kits aos consumidores. O componente mais importante destes kits são
as seringas e agulhas limpas para os consumidores de heroína.
- Uma das consequências notadas da descriminalização foi a queda da taxa de
crimes relacionados com o consumo de drogas, especialmente a pequena
criminalidade por parte de consumidores por forma a obter dinheiro para a sua
próxima dose. Como um dos entrevistados do IDT notou, os toxicodependentes ao
sentirem os efeitos da ressaca já não precisam de roubar porque podem dirigir-se
a um dos centros onde lhes será administrada terapêutica de substituição por
metadona. De facto, o efeito da disponibilização de tratamento por metadona nas
taxas de crime está bem documentado em vários países e é consistente com a
experiência portuguesa.
- Portugal não se transformou, nem pouco mais ou menos, num destino para
turismo de drogas e a descriminalização não provocou um aumento claro dos
consumos.
19. HOLANDA:
Modelo da Holanda leva em consideração que o problema
das drogas não tem uma só solução. Então, é melhor
controlá-lo e reduzir danos em vez de continuar uma
política de repressão com resultados questionáveis.
A legislação sobre drogas da Holanda é de 1976 e tem como
base a diferenciação entre drogas de risco aceitável
(maconha e haxixe) daquelas de risco inaceitável para a
saúde e para a segurança públicas (cocaína, heroína,
anfetaminas e LSD). O álcool, considerado uma droga de
risco alto, é legal e controlado pelo governo.
20. A posse, o comércio, o transporte e a produção de todas as
outras drogas são expressamente proibidas e reprimidas com
eficiência; há previsão de penas que podem chegar a 12 anos de
prisão e de multas de até 45 mil euros.
A Holanda trata a questão das drogas como de saúde pública,
em que tratamento e recuperação são oferecidos para todos que
buscam ajuda.
A média de consumo de drogas na Holanda é inferior à do
restante do continente e o percentual de pessoas que usam
drogas injetáveis é o menor entre os 15 países da União
Europeia. O número de usuários de heroína diminuiu
significativamente (de 28 a 30 mil em 2001 para 18 mil em
2008) e a média de idade dos usuários vem aumentando.
21. Reportagem sobre a relação entre o trafico de drogas e as prisões no
Brasil:
http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/06/com-lei-de-drogas-
presos-por-trafico-passam-de-31-mil-para-138-mil-no-pais.html
ONU: consumo de drogas atinge 243 milhões de pessoas no mundo
http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2014/06/26/onu-apesar-de-estavel-consumo-de-drogas-
atinge-243-milhoes-no-mundo.htm#fotoNav=1
http://ultimosegundo.ig.com.br/2014-09-23/677-dos-presos-por-
trafico-de-maconha-tinham-menos-de-100-gramas-da-droga.html
Relatório Mundial sobre Drogas do UNODC
https://www.unodc.org/documents/lpo-
brazil//noticias/2014/06/World_Drug_Report_2014_web_embargoed.
pdf