Este documento discute o treinamento complexo, uma abordagem que combina exercícios de carga elevada com exercícios pliométricos explosivos para melhorar o desempenho motor. Ele revisa estudos que investigaram os efeitos agudos e crônicos desta abordagem no salto vertical e em outras habilidades esportivas.
Complex Training: Uma Nova Abordagem no Desenvolvimento dos Gestos Técnicos Explosivos
1. Complex Training: Uma Nova Abordagem no Desenvolvimento dos Gestos Técnicos Explosivos
Por José Vilaça
Siff & Verkhosansky (2000) afirmam que a elaboração de métodos de treino, com vista a melhorar
os gestos desportivos, deve ter em conta que todo o movimento desportivo é específico e com um
fim definido. Portanto, a força desenvolvida nesse movimento também é específica e direcionada a
um objectivo: o rendimento desportivo. O Complex Training (CT) baseia-se na possibilidade de um
exercício explosivo poder ser potenciado quando precedido de um exercício com carga elevada (Chu,
1996; Young et al., 1998; Baker, 2003; Chiu et al., 2003; French et al., 2003). Este princípio baseia-se
na existência de um potencial de pós – ativação (PPA) do sistema neuromuscular. O PPA é
definido por Robbins (2005), como um fenômeno pelo qual a força exercida por um músculo é
aumentada devido a sua contração anterior. Desta forma, podia-se melhorar o gesto desportivo, a ser
potenciado, sem o problema da transferência. Quer dizer, sem o velho problema de que a força
ganha através do treino de força convencional só era aplicada, em pequena percentagem, na execução
do gesto técnico específico da modalidade. Estudos sobre o CT têm se debruçado sobre o tempo de
intervalo entre o exercício com carga adicional (EXCA) e o exercício pliométrico utilizado (Jensen
& Ebben, 2003; Jones & Lees, 2003; Comyns et. al. 2006) e chegaram à conclusão que, em relação
às adaptações agudas, o intervalo que seria necessário para obter-se um efeito positivo na ação
motora, subsequente ao EXCA, seria de 3 – 4 minutos, devendo este tempo de descanso ser
adaptado de sujeito para sujeito (Comyns et al. 2006). De acordo com este facto os estudos que
utilizaram, para os membros inferiores, o tempo de descanso, entre o EXCA e o gesto motor (GM),
de 3 - 4 minutos obtiveram efeitos positivos no GM (Radcliff & Radcliffe, 1996, Young et al. 1998;
Comyns et al., 2006; ) só um estudo, realizado por Mangus et al. (2006), é que não observou esse
efeito. As hipóteses dadas pelos autores para o facto de não ter sido observado um ganho
significativo no CMJ após o exercício de agachamento (AG) foram: o número de repetições
utilizadas no AG, que foi de 1 no estudo de Magnus et al. (2006), de 4 no estudo de Radcliff &
Radcliffe (1996), e de 5 no estudo de Young et al. (1998); e a atividade exercida, pelos sujeitos da
amostra, durante o tempo de descanso entre o EXCA e o exercício pliométrico, que foi sentada no
estudo de Magnus et al. (2006) e não referida na metodologia dos outros estudos. Num estudo
longitudinal realizado por Alves et al. (2010) foi obtido uma melhoria do sprint aos 5 e aos 15
metros e do SJ após 6 semanas de um treino de força, baseado no CT e no Treino de Contraste, em
jogadores de futebol. Estes autores aplicaram de forma sequencial, três exercícios: um EXCA; um
exercício pliométrico de baixa intensidade (EPBI); e um GM. Tendo sido, no estudo elaborado por
Alves et al. (2010), observado adaptações crônicas, significativas, após a utilização de forma
sequencial os três exercícios, será que a inclusão de um EPBI entre o EXCA e o GM poderá causar
2. adaptações agudas sem que haja tempo de descanso entre os exercícios de carga adicional e o GM?
O mesmo autor efetuou outro estudo em que tentou observar a inclusão de um EPBI entre o EXCA
e o GM no CMJ, em jovens basquetebolistas. Não foram observadas, nesse estudo, ainda não
publicado, diferenças estatisticamente significativas, entre a utilização do EPBI ou não. Contudo não
foi igualmente observado diferenças significativas quando se utilizou 3 minutos de descanso entre o
EXCA e o CMJ. Este facto pode levar-nos a pensar, e tal como afirmam MCCann & Flanagan,
(2010) existe um tempo individual para se observar um PPA, que poderá ir de 3 a 5 minutos. Outro
aspecto que poderá ter influenciado os resultados nesse estudo foi uma deficiente técnica, na
execução dos CMJ, apresentada pelos sujeitos. Embora estes praticassem basquetebol, modalidade
onde os saltos verticais estão presentes, em todas as sessões de treino e de competição. Contudo,
devido a estes sujeitos ainda estarem num processo de maturação biológica, onde o crescimento
longitudinal dos membros está presente, podendo a coordenação motora estar diminuída, ter sido
um fator de erro nesse estudo. Porém, se não existem diferenças significativas, com ou sem a
utilização EPBI entre o EXCA e o GM, podemos utilizá-lo, à luz da periodização por blocos
(periodização contemporânea), no treino Desportivo como uma boa forma de trabalhamos no
período competitivo as capacidades motoras força e coordenação e o próprio gesto técnico.
Por fim mais estudos são necessários para esclarecer a questão anteriormente levantada.
Referências
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