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“Somente os sábios corações,

   de alma pura e verdadeira,

     são capazes de enxergar

       a magia existente além

      dos muros que cercam

  o mundo que conhecemos.”
Alguns Anos Antes...




        Cristal estava alarmada naquele dia. Havia algo de diferente no ar, algo
que ela não sabia como explicar. Sua única certeza era que a pequena Cindy
corria perigo e que só ela seria capaz de protegê-la.

        O telefone tocou:

         Cristal, é você?

         Oi, Suzi, sou eu sim.

         Estou preocupada! Tive um sonho estranho com você esta noite.
Estou com medo! Essas coisas que estão acontecendo em Luanda... Tenho
medo que seja por causa...

         É, eu sei! Também sinto que há algo errado, mas eu sei o que precisa
ser feito.  Cristal tinha a determinação transmitida na voz.

         Você não vai tentar encontrar...  O medo transparecia na voz de
Suzi.

         Sim, eu vou. É a única opção.

         Mas Cris, é perigoso.

         Não temos escolha. Estou indo até a cachoeira, talvez eu encontre o
que procuro.

         Cristal, não faça isso! E a Cindy?  Suzi tentou alertar, mas já era
tarde. Cristal havia desligado o telefone.

        Horas mais tarde, os moradores de Luanda tiveram um choque: Cristal
havia desaparecido!

        Nas proximidades da cachoeira, encontraram a pequena Cindy, que no
dia seguinte completaria seis anos, chorando assustada sem conseguir explicar
onde a mãe estava.
Prólogo



     Até agora, Madre Silva sempre foi meu paraíso, meu refúgio, meu lar!
Mudei-me para cá quando tinha seis anos, até então eu morava na pequena
cidade de Luanda com meus pais, Téo e Cristal. Em uma determinada
primavera, às vésperas do meu sexto aniversário, minha mãe desapareceu. Na
época, a pequena e pacata Luanda se tornou agitada; as buscas eram intensas
e duraram semanas até que o caso foi arquivado sem solução.
     Meu pai, coitado, caiu em uma profunda tristeza, embora vivesse
tentando disfarçar. Vivia me contando histórias de como minha mãe era um
anjo e por isso precisava ir para junto das estrelas. Ele não queria que eu
sofresse, mas no fundo acho que tentava encontrar uma explicação para o que
aconteceu.
     A partir dos meus oito anos, eu já não pensava mais nisso, não acreditava
que ela tivesse virado um anjo. Eu sempre tive certeza que ela estava em
algum lugar maravilhoso olhando por mim e por meu pai, e nessa primavera
em Madre Silva, confesso que esperava que ela conseguisse colocar juízo na
cabeça dele, um juízo que eu não conseguia colocar.
CAPÍTULO 1: O Regresso Ao Passado


     Era meu primeiro dia de férias. Quando acabei de almoçar, meu pai veio
com a terrível notícia:
          Cindy, minha filhinha!  Sua voz transmitia uma alegria extremamente
falsa.
     Quando ouvi aquelas palavras, percebi que algo estava errado, não que
meu pai não costumasse me tratar como a princesinha dele, mas essa história
de filhinha, geralmente não significava coisa muito boa. Inúmeras vezes aquela
frase vinha seguida do sermão sobre as notas baixas na escola ou sobre a
viagem que ele precisaria fazer a trabalho. Depois de, provavelmente, ter
percebido meu olhar incrédulo diante de suas palavras, ele então continuou:
      Vamos fazer uma viagem!  O sorriso estampado em seus rosto
transmitia a certeza de que sabia que eu não iria gostar.
     Bem que meu pensamento havia me alertado. Meu pai sabia quanto eu
odiava fazer companhia em suas viagens de negócios. Geralmente eu ficava
sozinha no hotel enquanto ele participava de alguma palestra sobre novas
alternativas para o tratamento do câncer  aliás, esqueci de mencionar, meu
pai é médico!
     Já com medo da resposta, tentei parecer otimista:
      Para onde vamos dessa vez?
     Olhou-me com olhos curiosos e apreensivos, com certeza tentando
imaginar qual seria minha reação.
      Nós vamos passar um tempo...
     Aquela palavra “tempo” me congelou. Queria poder sair correndo de lá
antes de escutar o final da frase, mas já era tarde.
      ... Em Luanda!
     O final foi pior do que eu esperava! O choque foi tão grande que fiquei
sem reação durante um tempo que não sei determinar. Só conseguia ouvir a
palavra “Luanda” ecoando em minha cabeça. Meu pai devia estar ficando
louco. Justo lá?
     Desde o desaparecimento de minha mãe, eu nunca mais quis retornar
aquela patética cidade, mesmo que fosse para visitar minha avó. Eu levei dez
anos para superar o desaparecimento dela, durante esse tempo tive até que
fazer terapias e agora ele queria me obrigar a reviver um passado que eu
preferia esquecer. Ele só podia estar brincando! Ele tinha que estar brincando!
      Pai, você está brincando, não é?
     Fechou o sorriso e fez um gesto negativo com a cabeça. Eu não
conseguia assimilar o que estava acontecendo. Minhas pernas pareceram ter
vontade própria e quando dei por mim já estava em minha cama chorando.
      Passei o resto da tarde trancada no quarto, até que recebi um
telefonema: era vovó Pérola. Com certeza, papai havia ligado para ela;
geralmente quando não sabia como lidar comigo, o que ele costumava chamar
de “chilique aborrescente”, ele ligava para ela. O resultado do telefonema foi
que ganhei um sermão de pelo menos meia hora, o qual me fez sentir culpada
por estar agindo daquela forma.
     Na hora do jantar, minha raiva já havia passado, e papai e eu já havíamos
voltado a conversar. Aceitei os argumentos dele de que precisava voltar para
Luanda por causa do hospital que pertencia à família dele há décadas e que o
médico responsável havia pedido demissão, pois se mudara para o exterior.
     Decidi fazer as malas, mas não sem antes o fazer prometer, inúmeras
vezes, que voltaríamos assim que ele encontrasse um bom médico para
substituí-lo.
     No dia seguinte, com o primeiro raio de sol, já estávamos na estrada.
Depois de duas tentativas fracassadas de tentar me animar, decidi me isolar e
passei o resto da viagem com o fone no ouvido escutando pop rock no celular.
     Ao entardecer daquele dia, chegamos a Luanda. Meu desinteresse por
aquela patética cidade foi maior quando percebi que a casa em que iríamos
ficar era a mesma em que moramos há dez anos.
      Nada havia mudado: o rosa bebê da parede ainda estava lá, assim como
o balanço da árvore em que quebrei o braço aos quatro anos. O que mais me
surpreendeu foi perceber que o jardim, no qual minha mãe sempre dedicava
grande tempo e grande prazer em cuidar, ainda estava com inúmeras flores
coloridas que balançavam ao vento e no centro, embora um pouco desbotada,
havia a mesma placa em forma de flor escrita “Aqui mora uma família feliz”.
Com certeza vovó andava cuidando da casa, devia ter se mudado para lá
quando deixei de frequentar Luanda.
Quando vi aquilo, meu estômago revirou. Meu pai não podia estar falando
sério!
     Naquele momento, vovó Pérola veio, toda animada, em nossa direção
nos enchendo de abraços.
      Cindy, minha querida. Que bom vê-la novamente! Parece que cresceu
desde a última vez a vi, mas acho que está um pouco pálida. Você tem se
alimentado direito? – Ela estava muito animada.
     Vovó Pérola era aquela típica “avozinha” de filmes usando vestido florido,
chinelo, o cabelo preso em um coque e o sorriso estampado no rosto. Sua
preocupação número um? Alimentação!
      Sim, vovó! Não se preocupe. Os melhores restaurantes ficam em
Madre Silva.  disse eu, um tanto sarcástica, enquanto papai tentava disfarçar
uma risada.
      Restaurante?  vovó estava incrédula, acho que levou a piada ao pé
da letra.  Eles não sabem cozinhar! Venham, entrem. Preparei um ótimo
lanche para vocês, aí sim, saberão o que é comer.
     Realmente o lanche estava ótimo: bolo, pão caseiro e leite quente; coisas
típicas de cidade interiorana. É claro que eu preferia comer em um fast-food.
     O restante do dia se passou calmamente: desfiz as malas, vovó me
encheu de perguntas sobre como andava minha vida na cidade grande, meus
amigos, a escola e até sobre meus supostos namorados. Passei a maior parte
do dia abrindo as malas e assistindo TV no quarto.
     Nessa primeira noite, não dormi muito bem, acho que a mudança havia
feito mais mal do que eu imaginava. Tive pesadelos durante toda a noite;
acordei inúmeras vezes, muitas delas pensando em minha mãe. Em meus
pesadelos, ela estava sempre lá, mas depois era arrancada de mim por um
sopro de vento sem dizer uma única palavra que fosse.
     Quando amanheceu, eu ainda estava cansada, era o resultado de uma
noite mal dormida. Desci para a cozinha e encontrei o café pronto com minha
avó me aguardando.
      Bom dia, querida!  Disse ela amavelmente.
      Bom dia, vovó.  Tentei parecer animada, mas meu tom de voz me
entregou.
 Você não parece bem, Cindy. O que foi?
      Nada, vovó! Só que não dormi muito bem. Acho que estranhei um
pouco a mudança.  Tentei ser persuasiva, odiaria ter que contar meu sonho.
Acho que a meia verdade funcionou.
     O restante do café foi silencioso. Quando terminei, fui arrumar o quarto,
coisa que não costumava fazer em Madre Silva, mas como agora não tínhamos
empregada, achei que não era justo deixar que vovó o fizesse.
     De repente, ouvi o telefone tocar e algum tempo depois vovó me chamou
lá da sala. Desci rapidamente as escadas e encontrei-a parada ao lado do
telefone.
     A Senhora me chamou, vovó?
      Adivinha quem ligou?
     Era óbvio que eu nunca saberia, não fazia nem 24 horas em que eu
estava na cidade. Olhei para ela tentando parecer curiosa.
      Brenda!  Disse ela, animada.
      Quem?
      Não se lembra da Brenda? Vocês eram grandes amigas quando
crianças.
     Procurei em minhas memórias uma lembrança perdida e finalmente a
encontrei. Durante alguns fins de semana quando costumava ir para Luanda
nós nos encontrávamos e ficávamos colocando os assuntos em dia, não só ela
como também Tatiana, mas isso antes dos meus onze anos, quando decidi
abandonar de vez aquela cidade.
      Ah, sim, vovó, Brenda. É claro que me lembro dela, fomos grandes
amigas. E para que ela telefonou?
      Perguntou se poderia vir lhe visitar. Eu disse que não havia problemas.
Espero que não se importe.
     Somente nesta cidade mesmo! Não fazia nem 24 horas que eu havia
chegado e provavelmente a cidade toda já estava sabendo.
      Tudo bem! Vai ser bom rever as velhas amigas.  Tentei dar um
sorriso forçado e fui para o quarto.
     Meia hora depois, como eu havia previsto, lá estavam Brenda e Tati em
meu quarto. Brenda havia mudado muito desde que me lembrava dela: o
cabelo agora estava curto, estilo rebelde com as pontas desfiadas, o visual ao
mesmo tempo largado e cheio de estilo com uma bermuda, camiseta e tênis. O
look de Brenda parecia estar a anos-luz da pacata e tradicional cidade de
Luanda.
     Tati, minha melhor amiga de infância, não havia mudado quase nada
além da estatura: seus cabelos longos e lisos desciam até sua cintura, sua pele
parda combinava e realçava perfeitamente seus olhos negros, bem ao estilo
“Pocahontas”. Seu visual era bem típico do interior: vestido hippie e sandália
sem salto. Apesar da simplicidade em seu jeito de vestir, minha amiga parecia
uma princesa de algum país do oriente. Perfeita! Enquanto eu continuava a
mesma garota comum de sempre: cabelos dourados, olhos claros como de
minha mãe e sem nenhum sonho.
     Achei que seria chato o reencontro, mas fui surpreendida. No fim da
tarde, já estávamos tão amigas que era como se eu nunca tivesse ido embora.
     A primeira semana em Luanda foi melhor do que eu esperava. Brenda,
Tati e eu, nos divertimos muito. Elas me mostraram a cidade e as pessoas, não
que essa cidade tivesse muito a se ver, mas foi divertido!
     Três semanas haviam se passado, papai já não falava em voltar a Madre
Silva e eu também não perguntava. Embora não quisesse admitir, eu estava
me divertindo com minhas amigas. Elas faziam com que eu esquecesse a
tristeza vivida nos últimos anos.
     Tudo estava perfeito, até aquela manhã de sábado, quando recebi um
telefonema de Tati.
      Alô?
      Cindy, é você?
      Sim. Tudo bem, Tati?
      Tudo! Brenda e eu estamos querendo ir a cachoeira depois do almoço,
o que acha?
      Claro! Vai ser ótimo. Encontro vocês na entrada da floresta, e depois a
gente janta aqui em casa.
      Ok, então. Até lá!
Uma das poucas coisas que eu gostava em Luanda era da cachoeira. Um
lugar fantástico, de uma beleza inigualável. Desde que havia retornado, eu
ainda não tinha encontrado forças para chegar lá.
     Quando criança, aquele era meu refúgio, era onde mamãe e eu
passávamos grande parte de nossos fins de semanas aproveitando o sol, que
quase sempre estava ótimo para nadar.
     Almocei rapidamente. Papai precisou ficar no hospital  embora fosse
um hospital de cidade pequena, era excelente e recebia pessoas do país todo
por ter certo prestígio no campo da medicina e também porque, supostamente,
o ar puro da cidade interiorana ajudava no tratamento (era o que meu pai
dizia). Deixei recado com minha avó, troquei de roupa e saí.
     Quando me encontrava no jardim, olhei para o canteiro de flores e tive a
impressão de ver bolas brilhantes não maiores que um palmo e que pareciam
dançar entre as flores, ao mesmo tempo ouvi uma suave voz vinda não sei de
onde.
      Princesa! Você não pode ir até lá. É perigoso!
      Quem está aí? – Assustei-me.
     Não havia ninguém e a voz continuou:
      Princesa, esqueça a cachoeira. O mal está lá, o mal domina a floresta,
você precisa...
     A voz desapareceu em um sussurro. Apesar de ter achado estranho,
ignorei o ocorrido e fui encontrar minhas amigas.
     Quando cheguei, as meninas já me aguardavam.
     Subimos a trilha principal. Caminhamos durante algum tempo e enfim
chegamos à cachoeira. Passamos o restante da tarde conversando, nadando e
comendo um delicioso bolo que a mãe de Tati havia preparado. A tarde estava
maravilhosa e nada poderia perturbar aquela paz e felicidade que eu estava
começando a sentir. Pelo menos, era o que eu achava.
CAPÍTULO 2: O Passado Torna a Assombrar

    Era por volta das seis horas da noite quando decidimos regressar, o sol
começava a se pôr e era lindo. Começamos a descer quando, de repente, um
nevoeiro começou a surgir e a tomar conta da floresta. Em questão de
segundos, estávamos num completo breu.

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Magia além dos muros

  • 1. “Somente os sábios corações, de alma pura e verdadeira, são capazes de enxergar a magia existente além dos muros que cercam o mundo que conhecemos.”
  • 2. Alguns Anos Antes... Cristal estava alarmada naquele dia. Havia algo de diferente no ar, algo que ela não sabia como explicar. Sua única certeza era que a pequena Cindy corria perigo e que só ela seria capaz de protegê-la. O telefone tocou:  Cristal, é você?  Oi, Suzi, sou eu sim.  Estou preocupada! Tive um sonho estranho com você esta noite. Estou com medo! Essas coisas que estão acontecendo em Luanda... Tenho medo que seja por causa...  É, eu sei! Também sinto que há algo errado, mas eu sei o que precisa ser feito.  Cristal tinha a determinação transmitida na voz.  Você não vai tentar encontrar...  O medo transparecia na voz de Suzi.  Sim, eu vou. É a única opção.  Mas Cris, é perigoso.  Não temos escolha. Estou indo até a cachoeira, talvez eu encontre o que procuro.  Cristal, não faça isso! E a Cindy?  Suzi tentou alertar, mas já era tarde. Cristal havia desligado o telefone. Horas mais tarde, os moradores de Luanda tiveram um choque: Cristal havia desaparecido! Nas proximidades da cachoeira, encontraram a pequena Cindy, que no dia seguinte completaria seis anos, chorando assustada sem conseguir explicar onde a mãe estava.
  • 3. Prólogo Até agora, Madre Silva sempre foi meu paraíso, meu refúgio, meu lar! Mudei-me para cá quando tinha seis anos, até então eu morava na pequena cidade de Luanda com meus pais, Téo e Cristal. Em uma determinada primavera, às vésperas do meu sexto aniversário, minha mãe desapareceu. Na época, a pequena e pacata Luanda se tornou agitada; as buscas eram intensas e duraram semanas até que o caso foi arquivado sem solução. Meu pai, coitado, caiu em uma profunda tristeza, embora vivesse tentando disfarçar. Vivia me contando histórias de como minha mãe era um anjo e por isso precisava ir para junto das estrelas. Ele não queria que eu sofresse, mas no fundo acho que tentava encontrar uma explicação para o que aconteceu. A partir dos meus oito anos, eu já não pensava mais nisso, não acreditava que ela tivesse virado um anjo. Eu sempre tive certeza que ela estava em algum lugar maravilhoso olhando por mim e por meu pai, e nessa primavera em Madre Silva, confesso que esperava que ela conseguisse colocar juízo na cabeça dele, um juízo que eu não conseguia colocar.
  • 4. CAPÍTULO 1: O Regresso Ao Passado Era meu primeiro dia de férias. Quando acabei de almoçar, meu pai veio com a terrível notícia:  Cindy, minha filhinha!  Sua voz transmitia uma alegria extremamente falsa. Quando ouvi aquelas palavras, percebi que algo estava errado, não que meu pai não costumasse me tratar como a princesinha dele, mas essa história de filhinha, geralmente não significava coisa muito boa. Inúmeras vezes aquela frase vinha seguida do sermão sobre as notas baixas na escola ou sobre a viagem que ele precisaria fazer a trabalho. Depois de, provavelmente, ter percebido meu olhar incrédulo diante de suas palavras, ele então continuou:  Vamos fazer uma viagem!  O sorriso estampado em seus rosto transmitia a certeza de que sabia que eu não iria gostar. Bem que meu pensamento havia me alertado. Meu pai sabia quanto eu odiava fazer companhia em suas viagens de negócios. Geralmente eu ficava sozinha no hotel enquanto ele participava de alguma palestra sobre novas alternativas para o tratamento do câncer  aliás, esqueci de mencionar, meu pai é médico! Já com medo da resposta, tentei parecer otimista:  Para onde vamos dessa vez? Olhou-me com olhos curiosos e apreensivos, com certeza tentando imaginar qual seria minha reação.  Nós vamos passar um tempo... Aquela palavra “tempo” me congelou. Queria poder sair correndo de lá antes de escutar o final da frase, mas já era tarde.  ... Em Luanda! O final foi pior do que eu esperava! O choque foi tão grande que fiquei sem reação durante um tempo que não sei determinar. Só conseguia ouvir a palavra “Luanda” ecoando em minha cabeça. Meu pai devia estar ficando louco. Justo lá? Desde o desaparecimento de minha mãe, eu nunca mais quis retornar aquela patética cidade, mesmo que fosse para visitar minha avó. Eu levei dez
  • 5. anos para superar o desaparecimento dela, durante esse tempo tive até que fazer terapias e agora ele queria me obrigar a reviver um passado que eu preferia esquecer. Ele só podia estar brincando! Ele tinha que estar brincando!  Pai, você está brincando, não é? Fechou o sorriso e fez um gesto negativo com a cabeça. Eu não conseguia assimilar o que estava acontecendo. Minhas pernas pareceram ter vontade própria e quando dei por mim já estava em minha cama chorando. Passei o resto da tarde trancada no quarto, até que recebi um telefonema: era vovó Pérola. Com certeza, papai havia ligado para ela; geralmente quando não sabia como lidar comigo, o que ele costumava chamar de “chilique aborrescente”, ele ligava para ela. O resultado do telefonema foi que ganhei um sermão de pelo menos meia hora, o qual me fez sentir culpada por estar agindo daquela forma. Na hora do jantar, minha raiva já havia passado, e papai e eu já havíamos voltado a conversar. Aceitei os argumentos dele de que precisava voltar para Luanda por causa do hospital que pertencia à família dele há décadas e que o médico responsável havia pedido demissão, pois se mudara para o exterior. Decidi fazer as malas, mas não sem antes o fazer prometer, inúmeras vezes, que voltaríamos assim que ele encontrasse um bom médico para substituí-lo. No dia seguinte, com o primeiro raio de sol, já estávamos na estrada. Depois de duas tentativas fracassadas de tentar me animar, decidi me isolar e passei o resto da viagem com o fone no ouvido escutando pop rock no celular. Ao entardecer daquele dia, chegamos a Luanda. Meu desinteresse por aquela patética cidade foi maior quando percebi que a casa em que iríamos ficar era a mesma em que moramos há dez anos. Nada havia mudado: o rosa bebê da parede ainda estava lá, assim como o balanço da árvore em que quebrei o braço aos quatro anos. O que mais me surpreendeu foi perceber que o jardim, no qual minha mãe sempre dedicava grande tempo e grande prazer em cuidar, ainda estava com inúmeras flores coloridas que balançavam ao vento e no centro, embora um pouco desbotada, havia a mesma placa em forma de flor escrita “Aqui mora uma família feliz”. Com certeza vovó andava cuidando da casa, devia ter se mudado para lá quando deixei de frequentar Luanda.
  • 6. Quando vi aquilo, meu estômago revirou. Meu pai não podia estar falando sério! Naquele momento, vovó Pérola veio, toda animada, em nossa direção nos enchendo de abraços.  Cindy, minha querida. Que bom vê-la novamente! Parece que cresceu desde a última vez a vi, mas acho que está um pouco pálida. Você tem se alimentado direito? – Ela estava muito animada. Vovó Pérola era aquela típica “avozinha” de filmes usando vestido florido, chinelo, o cabelo preso em um coque e o sorriso estampado no rosto. Sua preocupação número um? Alimentação!  Sim, vovó! Não se preocupe. Os melhores restaurantes ficam em Madre Silva.  disse eu, um tanto sarcástica, enquanto papai tentava disfarçar uma risada.  Restaurante?  vovó estava incrédula, acho que levou a piada ao pé da letra.  Eles não sabem cozinhar! Venham, entrem. Preparei um ótimo lanche para vocês, aí sim, saberão o que é comer. Realmente o lanche estava ótimo: bolo, pão caseiro e leite quente; coisas típicas de cidade interiorana. É claro que eu preferia comer em um fast-food. O restante do dia se passou calmamente: desfiz as malas, vovó me encheu de perguntas sobre como andava minha vida na cidade grande, meus amigos, a escola e até sobre meus supostos namorados. Passei a maior parte do dia abrindo as malas e assistindo TV no quarto. Nessa primeira noite, não dormi muito bem, acho que a mudança havia feito mais mal do que eu imaginava. Tive pesadelos durante toda a noite; acordei inúmeras vezes, muitas delas pensando em minha mãe. Em meus pesadelos, ela estava sempre lá, mas depois era arrancada de mim por um sopro de vento sem dizer uma única palavra que fosse. Quando amanheceu, eu ainda estava cansada, era o resultado de uma noite mal dormida. Desci para a cozinha e encontrei o café pronto com minha avó me aguardando.  Bom dia, querida!  Disse ela amavelmente.  Bom dia, vovó.  Tentei parecer animada, mas meu tom de voz me entregou.
  • 7.  Você não parece bem, Cindy. O que foi?  Nada, vovó! Só que não dormi muito bem. Acho que estranhei um pouco a mudança.  Tentei ser persuasiva, odiaria ter que contar meu sonho. Acho que a meia verdade funcionou. O restante do café foi silencioso. Quando terminei, fui arrumar o quarto, coisa que não costumava fazer em Madre Silva, mas como agora não tínhamos empregada, achei que não era justo deixar que vovó o fizesse. De repente, ouvi o telefone tocar e algum tempo depois vovó me chamou lá da sala. Desci rapidamente as escadas e encontrei-a parada ao lado do telefone. A Senhora me chamou, vovó?  Adivinha quem ligou? Era óbvio que eu nunca saberia, não fazia nem 24 horas em que eu estava na cidade. Olhei para ela tentando parecer curiosa.  Brenda!  Disse ela, animada.  Quem?  Não se lembra da Brenda? Vocês eram grandes amigas quando crianças. Procurei em minhas memórias uma lembrança perdida e finalmente a encontrei. Durante alguns fins de semana quando costumava ir para Luanda nós nos encontrávamos e ficávamos colocando os assuntos em dia, não só ela como também Tatiana, mas isso antes dos meus onze anos, quando decidi abandonar de vez aquela cidade.  Ah, sim, vovó, Brenda. É claro que me lembro dela, fomos grandes amigas. E para que ela telefonou?  Perguntou se poderia vir lhe visitar. Eu disse que não havia problemas. Espero que não se importe. Somente nesta cidade mesmo! Não fazia nem 24 horas que eu havia chegado e provavelmente a cidade toda já estava sabendo.  Tudo bem! Vai ser bom rever as velhas amigas.  Tentei dar um sorriso forçado e fui para o quarto. Meia hora depois, como eu havia previsto, lá estavam Brenda e Tati em meu quarto. Brenda havia mudado muito desde que me lembrava dela: o
  • 8. cabelo agora estava curto, estilo rebelde com as pontas desfiadas, o visual ao mesmo tempo largado e cheio de estilo com uma bermuda, camiseta e tênis. O look de Brenda parecia estar a anos-luz da pacata e tradicional cidade de Luanda. Tati, minha melhor amiga de infância, não havia mudado quase nada além da estatura: seus cabelos longos e lisos desciam até sua cintura, sua pele parda combinava e realçava perfeitamente seus olhos negros, bem ao estilo “Pocahontas”. Seu visual era bem típico do interior: vestido hippie e sandália sem salto. Apesar da simplicidade em seu jeito de vestir, minha amiga parecia uma princesa de algum país do oriente. Perfeita! Enquanto eu continuava a mesma garota comum de sempre: cabelos dourados, olhos claros como de minha mãe e sem nenhum sonho. Achei que seria chato o reencontro, mas fui surpreendida. No fim da tarde, já estávamos tão amigas que era como se eu nunca tivesse ido embora. A primeira semana em Luanda foi melhor do que eu esperava. Brenda, Tati e eu, nos divertimos muito. Elas me mostraram a cidade e as pessoas, não que essa cidade tivesse muito a se ver, mas foi divertido! Três semanas haviam se passado, papai já não falava em voltar a Madre Silva e eu também não perguntava. Embora não quisesse admitir, eu estava me divertindo com minhas amigas. Elas faziam com que eu esquecesse a tristeza vivida nos últimos anos. Tudo estava perfeito, até aquela manhã de sábado, quando recebi um telefonema de Tati.  Alô?  Cindy, é você?  Sim. Tudo bem, Tati?  Tudo! Brenda e eu estamos querendo ir a cachoeira depois do almoço, o que acha?  Claro! Vai ser ótimo. Encontro vocês na entrada da floresta, e depois a gente janta aqui em casa.  Ok, então. Até lá!
  • 9. Uma das poucas coisas que eu gostava em Luanda era da cachoeira. Um lugar fantástico, de uma beleza inigualável. Desde que havia retornado, eu ainda não tinha encontrado forças para chegar lá. Quando criança, aquele era meu refúgio, era onde mamãe e eu passávamos grande parte de nossos fins de semanas aproveitando o sol, que quase sempre estava ótimo para nadar. Almocei rapidamente. Papai precisou ficar no hospital  embora fosse um hospital de cidade pequena, era excelente e recebia pessoas do país todo por ter certo prestígio no campo da medicina e também porque, supostamente, o ar puro da cidade interiorana ajudava no tratamento (era o que meu pai dizia). Deixei recado com minha avó, troquei de roupa e saí. Quando me encontrava no jardim, olhei para o canteiro de flores e tive a impressão de ver bolas brilhantes não maiores que um palmo e que pareciam dançar entre as flores, ao mesmo tempo ouvi uma suave voz vinda não sei de onde.  Princesa! Você não pode ir até lá. É perigoso!  Quem está aí? – Assustei-me. Não havia ninguém e a voz continuou:  Princesa, esqueça a cachoeira. O mal está lá, o mal domina a floresta, você precisa... A voz desapareceu em um sussurro. Apesar de ter achado estranho, ignorei o ocorrido e fui encontrar minhas amigas. Quando cheguei, as meninas já me aguardavam. Subimos a trilha principal. Caminhamos durante algum tempo e enfim chegamos à cachoeira. Passamos o restante da tarde conversando, nadando e comendo um delicioso bolo que a mãe de Tati havia preparado. A tarde estava maravilhosa e nada poderia perturbar aquela paz e felicidade que eu estava começando a sentir. Pelo menos, era o que eu achava.
  • 10. CAPÍTULO 2: O Passado Torna a Assombrar Era por volta das seis horas da noite quando decidimos regressar, o sol começava a se pôr e era lindo. Começamos a descer quando, de repente, um nevoeiro começou a surgir e a tomar conta da floresta. Em questão de segundos, estávamos num completo breu.