SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 1
Downloaden Sie, um offline zu lesen
OPINIÃO                                                 A Lei dos Rendimentos Decrescentes

                                         José Miguel Sardica
                      Professor da Universidade Católica Portuguesa

             Há na história económica, e também na economia em          em cima é outro. Alguém deveria dizer a Passos Coelho
             geral, uma “lei” ou princípio chamado “dos rendimen-       e Vítor Gaspar que os impostos são como os medica-
             tos decrescentes”. De forma simples, ela estabelece        mentos: tomados em excesso, matam. Sobretudo, der-
             que a partir de um certo limite de expansão, um de-        ramados em excesso sobre o contribuinte incorrem em
             terminado negócio deixa de poder apresentar ganhos         rendimentos decrescentes: a partir de um certo limite,
             proporcionais ao investimento feito, passando a ter        produzem menos receita do que o esperado e secam o
             rendimentos decrescentes, quando não perdas. É as-         pouco que ainda há, revelando serem contraproducen-
             sim que se explica que uma economia agrária (como          tes. Os casos do IVA na restauração, do terramoto IMI
             as europeias foram até à Revolução Industrial) possa       que aí vem ou de outras taxas avulsas que por aí têm
             apresentar desenvolvimento conjuntural – quando se         vindo mostram isso mesmo. Amedrontados, inseguros,
             aumenta a área de cultivo para obter mais colheita         empobrecidos ou mesmo falidos, os contribuintes re-
PÁG.         – mas não crescimento sustentado e ganhos continua-        traem-se, produzindo, a partir da quebra do consumo,


03           dos – porque a expansão é feita agricultando terrenos
             menos férteis, que é mais caro cultivar e dos quais se
             obtem uma colheita pior. O caso dos impostos em Por-
             tugal pode ser olhado a esta luz.
                                                                        uma cascata de consequências. A antepenúltima destas
                                                                        é o Estado colher muito menos do que imaginava: além
                                                                        dos que fogem ao fisco, muitos, antigos cumpridores,
                                                                        não pagam porque simplesmente já não têm com que
             Num pungente momento de humanidade, Pedro Pas-             pagar. A penúltima consequência é outra cascata, a das
             sos Coelho reconheceu há dias que a carga fiscal em         falências das pequenas empresas e negócios ou das fa-
             Portugal é “verdadeiramente insuportável”. Quem já         mílias que são a esmagadoríssima maioria das células
             cumpriu o dever cívico de fazer a sua declaração fiscal     que compõem o tecido económico nacional. A última é
             anual e não desmaiou com a simulação informática do        a escalada assustadora do desemprego. 800 mil portu-
             imposto a pagar (pois que há cada vez mais portugue-       gueses sem trabalho (estimativa benevolente) surpre-
             ses a pagar e menos a serem reembolsados), não pode        endem os ministros, ao ponto de o “Álvaro” balbuciar
             estar mais de acordo. O Eurostat confirma que Portugal      que se trata de um “coiso” (problema?) complicado? A
             tem, na Europa, a 8.ª maior taxa de IRS, a 4.ª maior       lei dos rendimentos decrescentes deveria servir para
             taxa de IRC e a 5.ª maior taxa de IVA, com escalões        iluminar as sábias cabeças. Não há alternativa? Tratem
             máximos de 49%, 31,5% e 23% respectivamente, para          de a inventar. É para isso que (ainda) há governo e um
             médias da UE de 38,1%, 23,5% e 21%. Segundo o gover-       módico de paz social nas ruas. E note-se que se eu fos-
             no, aquilo a que, por concessão às boas maneiras, eu       se grego não votaria no Syriza e, sendo português, não
             qualificaria como uma descarada invasão fiscal destina-      subscrevo as críticas populistas anti-troika da dupla
             se a equilibrar as contas públicas e a pagar a dívida do   Soares-Louçã. Temos de fazer o que durante anos não
             país.                                                      fizemos; mas não podemos aceitar que a cura de ema-
             Mas o problema da brutal carga tributária que nos caiu     grecimento redunde na morte por inanição.

                                                                        como Carmona, e mesmo Marcelo, já em plena Primavera
           Liberdade em risco                                           do regime, mas incapaz de lhe por cobro, lá foi dizendo
           Podemos aceitar acordar cada dia mais pobres, mas não        no mesmo coro que bem compreendia “a irritação” com o
           podemos nem devemos admitir a possibilidade de poder         funcionamento da dita “porque não há nada que um ho-
           acordar um dia destes menos livres.                          mem considere de mais sagrado do que o seu pensamento
           Um ministro que tutela a Comunicação Social pode, como       e a expressão do seu pensamento”. Todos sabiam.
           qualquer cidadão, processar jornais ou apresentar queixa     Dispensam-se crises inventadas ou manobras de diversão,
           à Entidade Reguladora, se se sente legitimamente calu-       mas não há emergência nacional que justifique o manto
           niado ou perseguido. O que não pode é ligar para editores    de silêncio cúmplice com os erros. Esse seria o pior ser-
           e directores a ameaçar com o silêncio dos seus pares e       viço prestado ao país pelos que não querem, como dizia
           menos ainda com a revelação, pela net, de dados da vida      Sophia, fazer parte do tempo dos “coniventes sem cadas-
           privada de uma jornalista.                                   tro”.
           Porque isso não é apenas um claro e ilegítimo abuso do       Sobre a acusação do Público à actuação do ministro Miguel
           poder. E não cheira apenas a má consciência do visado no     Relvas, não precisamos ouvir de Passos Coelho profissões
           caso das secretas. É bem mais do que isso. É usar métodos    de fé nos méritos da liberdade de imprensa. Precisamos
           próprios da polícia secreta do antigo regime e lembrar a     de o ouvir pronunciar, tão só e sem med,o esta frase sim-
           PIDE de má memória.                                          ples: “A ser verdade… Obviamente, demito-o!”.
           A Censura que se prolongou por décadas nunca foi defen-
           dida por ninguém. Salazar chegou a dizer-se sua vitima,                                                          Graça Franco


                                                                                       r/com renascença comunicação multimédia, 2012

Weitere ähnliche Inhalte

Ähnlich wie Rendimentos decrescentes

MST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentesMST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentespr_afsalbergaria
 
Textos de Circunstância - 8
Textos de Circunstância - 8Textos de Circunstância - 8
Textos de Circunstância - 8GRAZIA TANTA
 
Machete e a suspensão de direitos fundamentais
Machete e a suspensão de direitos fundamentaisMachete e a suspensão de direitos fundamentais
Machete e a suspensão de direitos fundamentaisGRAZIA TANTA
 
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóideA pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóideGRAZIA TANTA
 
Os números e as pessoas final
Os números e as pessoas   finalOs números e as pessoas   final
Os números e as pessoas finalCdjp Aveiro
 
O Srº Ministro das fFnanças meteu-se com Salazar
O Srº Ministro das fFnanças meteu-se com SalazarO Srº Ministro das fFnanças meteu-se com Salazar
O Srº Ministro das fFnanças meteu-se com Salazarpr_afsalbergaria
 
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca GRAZIA TANTA
 
O controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonal
O controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonalO controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonal
O controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonalGRAZIA TANTA
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...GRAZIA TANTA
 
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírusO que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírusGRAZIA TANTA
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3GRAZIA TANTA
 
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?GRAZIA TANTA
 
Corrupção & incompetência
Corrupção & incompetênciaCorrupção & incompetência
Corrupção & incompetênciapr_afsalbergaria
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2GRAZIA TANTA
 
Irracionalidades & Não nos conformemos
Irracionalidades & Não nos conformemosIrracionalidades & Não nos conformemos
Irracionalidades & Não nos conformemospr_afsalbergaria
 
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundialInevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundialPr. Jorge Braz
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3GRAZIA TANTA
 

Ähnlich wie Rendimentos decrescentes (20)

M.S.T.: Morte certa ...
M.S.T.: Morte certa ...M.S.T.: Morte certa ...
M.S.T.: Morte certa ...
 
MST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentesMST: incompetentes mas inocentes
MST: incompetentes mas inocentes
 
Textos de Circunstância - 8
Textos de Circunstância - 8Textos de Circunstância - 8
Textos de Circunstância - 8
 
Machete e a suspensão de direitos fundamentais
Machete e a suspensão de direitos fundamentaisMachete e a suspensão de direitos fundamentais
Machete e a suspensão de direitos fundamentais
 
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóideA pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
A pulsão genocida da burguesia portuguesa. a actuação da máfia socratóide
 
Os números e as pessoas final
Os números e as pessoas   finalOs números e as pessoas   final
Os números e as pessoas final
 
O Srº Ministro das fFnanças meteu-se com Salazar
O Srº Ministro das fFnanças meteu-se com SalazarO Srº Ministro das fFnanças meteu-se com Salazar
O Srº Ministro das fFnanças meteu-se com Salazar
 
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
A inspiração de Marcelo depois de ver os tomates em Vila Franca
 
O controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonal
O controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonalO controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonal
O controlo biopolítico, o stress e a leitura em diagonal
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
 
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírusO que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
O que se esconde na sombra da campanha do coronavírus
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA – 3
 
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
Porque não se fala na enorme e crescente dívida pública?
 
Corrupção & incompetência
Corrupção & incompetênciaCorrupção & incompetência
Corrupção & incompetência
 
Comunicado nº 13
Comunicado nº 13Comunicado nº 13
Comunicado nº 13
 
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2
TEXTOS DE CIRCUNSTÂNCIA - 2
 
Irracionalidades & Não nos conformemos
Irracionalidades & Não nos conformemosIrracionalidades & Não nos conformemos
Irracionalidades & Não nos conformemos
 
Mfl
MflMfl
Mfl
 
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundialInevitabilidade e necessidade de um governo mundial
Inevitabilidade e necessidade de um governo mundial
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
 

Mehr von pr_afsalbergaria (20)

Cesar e Deus
Cesar e DeusCesar e Deus
Cesar e Deus
 
A Vinha do Senhor
A Vinha do SenhorA Vinha do Senhor
A Vinha do Senhor
 
O Caminho da Cruz
O Caminho da CruzO Caminho da Cruz
O Caminho da Cruz
 
Tu és Pedro
Tu és PedroTu és Pedro
Tu és Pedro
 
Coragem sou Eu
Coragem sou EuCoragem sou Eu
Coragem sou Eu
 
O meu avô
O meu avôO meu avô
O meu avô
 
Joio e Trigo
Joio e TrigoJoio e Trigo
Joio e Trigo
 
O Semeador
O SemeadorO Semeador
O Semeador
 
Sim Pai
Sim PaiSim Pai
Sim Pai
 
Pedro e Paulo
Pedro e PauloPedro e Paulo
Pedro e Paulo
 
O Medo
O MedoO Medo
O Medo
 
A Messe
A MesseA Messe
A Messe
 
Solenidade da Santíssima Trindade
Solenidade da Santíssima TrindadeSolenidade da Santíssima Trindade
Solenidade da Santíssima Trindade
 
Pentecostes
PentecostesPentecostes
Pentecostes
 
Ascensão
AscensãoAscensão
Ascensão
 
Caminho, Verdade e Vida
Caminho, Verdade e VidaCaminho, Verdade e Vida
Caminho, Verdade e Vida
 
Fica conosco
Fica conoscoFica conosco
Fica conosco
 
A Comunidade
A ComunidadeA Comunidade
A Comunidade
 
Ressuscitou
RessuscitouRessuscitou
Ressuscitou
 
Ramos
RamosRamos
Ramos
 

Rendimentos decrescentes

  • 1. OPINIÃO A Lei dos Rendimentos Decrescentes José Miguel Sardica Professor da Universidade Católica Portuguesa Há na história económica, e também na economia em em cima é outro. Alguém deveria dizer a Passos Coelho geral, uma “lei” ou princípio chamado “dos rendimen- e Vítor Gaspar que os impostos são como os medica- tos decrescentes”. De forma simples, ela estabelece mentos: tomados em excesso, matam. Sobretudo, der- que a partir de um certo limite de expansão, um de- ramados em excesso sobre o contribuinte incorrem em terminado negócio deixa de poder apresentar ganhos rendimentos decrescentes: a partir de um certo limite, proporcionais ao investimento feito, passando a ter produzem menos receita do que o esperado e secam o rendimentos decrescentes, quando não perdas. É as- pouco que ainda há, revelando serem contraproducen- sim que se explica que uma economia agrária (como tes. Os casos do IVA na restauração, do terramoto IMI as europeias foram até à Revolução Industrial) possa que aí vem ou de outras taxas avulsas que por aí têm apresentar desenvolvimento conjuntural – quando se vindo mostram isso mesmo. Amedrontados, inseguros, aumenta a área de cultivo para obter mais colheita empobrecidos ou mesmo falidos, os contribuintes re- PÁG. – mas não crescimento sustentado e ganhos continua- traem-se, produzindo, a partir da quebra do consumo, 03 dos – porque a expansão é feita agricultando terrenos menos férteis, que é mais caro cultivar e dos quais se obtem uma colheita pior. O caso dos impostos em Por- tugal pode ser olhado a esta luz. uma cascata de consequências. A antepenúltima destas é o Estado colher muito menos do que imaginava: além dos que fogem ao fisco, muitos, antigos cumpridores, não pagam porque simplesmente já não têm com que Num pungente momento de humanidade, Pedro Pas- pagar. A penúltima consequência é outra cascata, a das sos Coelho reconheceu há dias que a carga fiscal em falências das pequenas empresas e negócios ou das fa- Portugal é “verdadeiramente insuportável”. Quem já mílias que são a esmagadoríssima maioria das células cumpriu o dever cívico de fazer a sua declaração fiscal que compõem o tecido económico nacional. A última é anual e não desmaiou com a simulação informática do a escalada assustadora do desemprego. 800 mil portu- imposto a pagar (pois que há cada vez mais portugue- gueses sem trabalho (estimativa benevolente) surpre- ses a pagar e menos a serem reembolsados), não pode endem os ministros, ao ponto de o “Álvaro” balbuciar estar mais de acordo. O Eurostat confirma que Portugal que se trata de um “coiso” (problema?) complicado? A tem, na Europa, a 8.ª maior taxa de IRS, a 4.ª maior lei dos rendimentos decrescentes deveria servir para taxa de IRC e a 5.ª maior taxa de IVA, com escalões iluminar as sábias cabeças. Não há alternativa? Tratem máximos de 49%, 31,5% e 23% respectivamente, para de a inventar. É para isso que (ainda) há governo e um médias da UE de 38,1%, 23,5% e 21%. Segundo o gover- módico de paz social nas ruas. E note-se que se eu fos- no, aquilo a que, por concessão às boas maneiras, eu se grego não votaria no Syriza e, sendo português, não qualificaria como uma descarada invasão fiscal destina- subscrevo as críticas populistas anti-troika da dupla se a equilibrar as contas públicas e a pagar a dívida do Soares-Louçã. Temos de fazer o que durante anos não país. fizemos; mas não podemos aceitar que a cura de ema- Mas o problema da brutal carga tributária que nos caiu grecimento redunde na morte por inanição. como Carmona, e mesmo Marcelo, já em plena Primavera Liberdade em risco do regime, mas incapaz de lhe por cobro, lá foi dizendo Podemos aceitar acordar cada dia mais pobres, mas não no mesmo coro que bem compreendia “a irritação” com o podemos nem devemos admitir a possibilidade de poder funcionamento da dita “porque não há nada que um ho- acordar um dia destes menos livres. mem considere de mais sagrado do que o seu pensamento Um ministro que tutela a Comunicação Social pode, como e a expressão do seu pensamento”. Todos sabiam. qualquer cidadão, processar jornais ou apresentar queixa Dispensam-se crises inventadas ou manobras de diversão, à Entidade Reguladora, se se sente legitimamente calu- mas não há emergência nacional que justifique o manto niado ou perseguido. O que não pode é ligar para editores de silêncio cúmplice com os erros. Esse seria o pior ser- e directores a ameaçar com o silêncio dos seus pares e viço prestado ao país pelos que não querem, como dizia menos ainda com a revelação, pela net, de dados da vida Sophia, fazer parte do tempo dos “coniventes sem cadas- privada de uma jornalista. tro”. Porque isso não é apenas um claro e ilegítimo abuso do Sobre a acusação do Público à actuação do ministro Miguel poder. E não cheira apenas a má consciência do visado no Relvas, não precisamos ouvir de Passos Coelho profissões caso das secretas. É bem mais do que isso. É usar métodos de fé nos méritos da liberdade de imprensa. Precisamos próprios da polícia secreta do antigo regime e lembrar a de o ouvir pronunciar, tão só e sem med,o esta frase sim- PIDE de má memória. ples: “A ser verdade… Obviamente, demito-o!”. A Censura que se prolongou por décadas nunca foi defen- dida por ninguém. Salazar chegou a dizer-se sua vitima, Graça Franco r/com renascença comunicação multimédia, 2012