1. Texto extraído do livro: Recursos Humanos – Edição Compacta, do Professor Idalberto Chiavenato.
A INTERAÇÃO ENTRE AS PESSOAS E
ORGANIZAÇÕES
Por Idalberto Chiavenato.
Quando se fala em Administração de Recursos Humanos, toma-
se como referência a administração de pessoas que participam das
organizações e que nela desempenham determinados papéis. É que as
pessoas passam a maior parte de seu tempo vivendo ou trabalhando em
organizações. A produção de bens e serviços não pode ser desenvolvida por
pessoas que trabalham sozinhas. Quanto mais industrializada for a sociedade,
tanto mais numerosas e complexas se tornam as organizações. Estas passam
a criar um tremendo e duradouro impacto sobre as vidas e sobre a qualidade
de vida dos indivíduos. As pessoas nascem, crescem, são educadas,
trabalham e se divertem dentro de organizações. Sejam quais forem seus
objetivos – lucrativos, educacionais, religiosos, políticos, sociais, filantrópicos,
econômicos etc.-, as organizações envolvem tentacularmente as pessoas que
se tornam mais e mais dependentes da atividade organizacional. À medida que
as organizações crescem e se multiplicam, maior se torna a complexidade dos
recursos necessários à sua sobrevivência e ao seu crescimento.
De um lado as organizações são constituídas de pessoas. Por outro
lado, as organizações constituem para as pessoas um meio pelo qual elas
podem alcançar muitos e variados objetivos pessoais como um mínimo de
custo, de tempo, de esforço e de conflito, os quais não poderiam ser
alcançados apenas através do esforço individual.
O contexto em que funciona a Administração de Recursos
Humanos (ARH) é representado pelas organizações e pelas pessoas que
delas participam. As organizações são constituídas de pessoas que dependem
delas para atingir seus objetivos e cumprir suas missões. E para as pessoas,
2. Texto extraído do livro: Recursos Humanos – Edição Compacta, do Professor Idalberto Chiavenato.
as organizações constituem um meio por meio do qual elas podem alcançar
vários objetivos pessoais, com um mínimo custo de tempo, de esforço e de
conflito. Muitos desses objetivos pessoais jamais poderiam ser alcançados
apenas por meio do esforço pessoal isolado. As organizações surgem
exatamente para aproveitar a sinergia dos esforços de vários indivíduos que
trabalham em conjunto.
A ARH é uma especialidade que surgiu a partir do crescimento e da
complexidade das tarefas organizacionais. Suas origens remontam ao início do
século XX, após forte impacto da Revolução Industrial, com a denominação
Relações Industriais, como uma atividade mediadora entre as organizações
e as pessoas, para abrandar ou diminuir o conflito industrial entre os objetivos
organizacionais e os objetivos individuais das pessoas, até então considerados
incompatíveis e totalmente irreconciliáveis. Era como se as pessoas e as
organizações, embora estreitamente inter-relacionadas, vivessem em
compartimentos rigidamente separados, com fronteiras fechadas, trincheiras
abertas, requerendo um interlocutor estranho a ambas para poderem entender-
se ou, pelo menos, reduzirem suas enormes diferenças. Esse interlocutor era
um órgão denominado Relações Industriais, que tentava articular o capital e o
trabalho, ambos interdependentes, mas sobretudo conflitantes. Entretanto, o
conceito Relações Industriais mudou radicalmente. Com o passar do tempo,
sofreu uma formidável ampliação. Ao redor da década de 1950, passou a ser
denominado Administração de Pessoal. Já não se tratava de apenas
intermediar os desentendimentos e reduzir os conflitos, mas, sobretudo,
administrar as pessoas de acordo com a legislação trabalhista vigente e
administrar os conflitos que surgissem espontaneamente. Pouco mais adiante,
ao redor da década de 1960, o conceito teve nova ampliação. A legislação
trabalhista permaneceu inalterada e tornou-se gradativamente obsoleta,
enquanto os desafios das organizações cresceram desproporcionalmente. As
pessoas passaram a ser consideradas os recursos fundamentais para o
sucesso da organizacional, aliás os únicos recursos vivos e inteligentes que as
organizações dispõem para enfrentar os desafios pela frente.
Assim, surgiu o conceito de Administração de Recursos Humanos
(ARH). Porém, ainda sofrendo a velha miopia de visualizar as pessoas como
recursos produtivos ou meros agentes passivos cujas atividades devem ser
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planejadas e controladas a partir das necessidades da organização. Embora a
ARH envolva todos os processos de gestão de pessoas que hoje conhecemos,
ela parte do princípio de que as pessoas devem ser planejadas e administradas
pela organização ou por um órgão central de ARH. Hoje com o advento do
terceiro milênio, com a globalização da economia e o mundo fortemente
competitivo, a tendência que se nota nas organizações bem-sucedidas é de
não mais administrar as pessoas, mas, sobretudo, administrar com as
pessoas. Tratando-as como agentes ativos e proativos, sobretudo dotados de
inteligência e criatividade, de habilidades mentais e não apenas de habilidades
e capacidades manuais, físicas e artesanais. As pessoas não são recursos que
a organização consome e utiliza e que produzem custos. Ao contrário, as
pessoas constituem um fator de competitividade, da mesma forma que o
mercado e a tecnologia. Assim, parece-nos melhor falar em Administração de
Pessoas para ressaltar a administração com as pessoas – como parceiros – e
não sobre as pessoas – como meros recursos.