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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL


Nome: Pedro Rogério Villar Barreto


Número do Cartão: 114236


Disciplina: Arqueologia A - HUM 03038 – TURMA B


Professor: Jonas Gregorio de Souza


Curso: Licenciatura em Ciências Sociais


Semestre: 2/2012




   Comentário do texto “Arqueologias Alternativas: Nacionalista, Colonialista,
                                     Imperialista”


       O interessante desse texto de Berger e sua discussão é a tentativa de fazer
arqueologia histórica sobre a própria arqueologia.      Colocando uma classificação
cientifica a de acordo com o tempo e passado nacional de cada arqueologia.
       O que autor constata durante o texto é dimensão política da arqueologia de
acordo com tempo histórico e local geográfico, demonstrando que própria arqueologia,
que apesar de utilizar dados científicos concretos (sítios arqueológicos), não possui
inteira neutralidade, ficando sujeita a situação e cenário geopolítico no qual
compartilha.
       O autor classifica a arqueologia em três categorias diferentes: Nacionalista,
Colonialista, Imperialista.
       A arqueologia Nacionalista consiste em arqueologia que tem finalidade política
de afirmar a origem e história de nação, i.e., consiste em instrumento de uma criação
imaginário nacional, baseado no seu passado de “glórias”. Essa construção histórica a
partir de sítios arqueológicos consiste na afirmação nacional de alguns países é até
como esse narra sua versão da história. Muito comum no contexto europeu, com
finalidade de afirmar a antiguidade do homem naquele continente e nos países no qual
desenvolveram. A dimensão política é na afirmação que esse tipo de arqueologia
disponibiliza a alguma nação dando um aspecto de auto-afirmação da construção,
muitas vezes com alguma intensidade falsa, de um ideário nacionalista. O autor dá além
dos exemplos europeus, a construção desse ideal nacional arqueológica no Vietnã,
Japão e Rússia Czarista/Comunista. Essa construção pode ser errônea no sentido de
tentar criar forçadamente uma história longa e gloriosa inexistente a alguma nação que
reclama o pertencimento do passado de alguma civilização antiga como sendo seu.
Podemos considerar que o passado do Império Romano é Italiano? A cultura Maia é o
passado do México? Podemos responder essas perguntas como sim ou não, mas
devemos analisar que tanto a Itália e México, como Estados Nacionais, são formações
muito recentes datados do século XIX, ou seja, não podemos afirmar que civilizações
tão antigas seja o passado das sociedades desses países tão jovens. Assim podemos
concluir que há formação histórica com intuito político nessas arqueologias nacionais,
como forma de legitimação e afirmação nacional.
       A arqueologia colonialista é a aquele que se desenvolveu em ideário realizado
nas antigas colônias européias. Pois era difícil afirmar para um europeu que uma
sociedade aparentemente com certo desenvolvimento tivesse surgido em suas colônias
em algum momento do passado, pois isso iria contrariar toda ideia de inferioridade dos
nativos da colônia perante aos europeus. A velha colônia britânica norte-america foi um
terreno fértil para compor esse tipo de arqueologia, pois a jovem nação estadunidense,
formada politicamente por brancos protestantes descendentes do antigo colonizador
europeu. Para ele seria difícil afirmar que os nativos primitivos daquela terra pudessem
ter tais feitos, como por exemplo, os montículos funerários. Até própria religião
mórmon, desenvolvida em território estadunidense, caracteriza a formação do povo
americano como proveniente do povo de Deus (mais propriamente de Israel). Essa ideia
colonialista, onde alguns feitos arquitetônicos ou desenvolvimento tecnológico
primitivo dá dimensão de não passado do povo americano ou africano. Podemos dar o
exemplo dos templos de pedra do Zimbábue, onde no tempo colonial foram atribuídos a
uma antiga colonização européia, i.e., o povo europeu dizia que aquela antiga
arquitetura era proveniente a um povo europeu, que tinha migrado anteriormente
naquela região. Sabemos hoje, que tanto os montículos funerários como templos do
Zimbábue são construções do povo nativo daquela região. O único motivo dessa
arqueologia é ser essa uma forma de opressão política, de uma elite étnica mantém
sobre outro povo, em sua maioria excluída. Essa dimensão política dessa arqueologia é
não neutralidade da ciência, pois isso prejudica seus pressupostos científicos em nome
de auto-afirmação de grupo sócio-político que domina alguma região ou país. Assim a
arqueologia é uma ferramenta para manter status quo dessa elite política.
       A arqueologia imperialista consiste no próprio conceito evolucionista sobre a
linha histórica, em uma visão eurocêntrica sobre a realidade histórica. Fundamentada e
embasa em uma ideia de binômio de primitivo e evoluído, onde povos não europeus são
considerados povos historicamente em estágio do passado do povo europeu, i.e., esses
povos estão estado evolutivo anterior ao estado evolutivo europeu. Esse tipo de
arqueologia foi fundamental para formação da arqueologia antropológica ou
etnoarqueologia, pois observar os povos ditos primitivos poderia ser uma forma de
observar o homem moderno nos moldes eurocêntricos em alguma parte do seu passado.
Isso significa para essa vertente arqueológica seria uma forma de ver como era
realmente a vida anos remotos da dita civilização (do modelo eurocêntrico). Há dois
problemas nesse tipo de análise, o primeiro que não conta que toda sociedade ou
civilização tem ciclos de desenvolvimento, i.e., que a história não linear, tendo seus
avanços e seus recuos, tanto no âmbito concreto (produção tecnológica e material)
quanto no âmbito abstrato (sistema político, econômico, social e cultural). O segundo
problema que a arqueologia imperialista foi um instrumento político para imperialismo
como um todo, pois se declararmos que, por exemplo, a cultura aborígene da Oceania e
mais primitiva que cultura européia, afirmaremos a ideia de superioridade do homem
europeu sobre o homem da Oceania, ou seja, afirmaremos uma ideia eurocêntrica de
formação histórica evolucionista. Há nesse contexto distorções sócio-históricas com
intuito puramente político: como podemos considerar que toda cultura indiana, por
exemplo, é uma cultura primitiva em relação britânica? Isso seria negarmos os milhares
de anos da cultura indiana e todo seu desenvolvimento. Assim devemos também levar
em consideração o conhecimento milenar, por exemplo, dos povos nativos da America,
onde antes da chegada dos europeus, teve formações sociais muito complexas
concretamente e abstratamente, não muito distante tecnicamente dos povos europeus,
seus contemporâneos nessa época pré-colombiana.
       Nessa discussão de dimensão política e social da arqueologia o autor não dá uma
conclusão concreta, mas sim que todas essas alternativas arqueológicas são usadas em
contextos sócio-políticos-históricos-econômicos diferentes. Demos o exemplo da teoria
que o homem colonizou America somente e primeiramente pelo estreito de Bering? Não
poderia ter sido colonizado pelo pacifico sul e pela America do Sul? Nessa discussão há
dimensão imperialista e colonialista, pois sabemos que os Estados da América do Norte
possuem e querem conservar sua hegemonia política e econômica sobre o continente
americano. Afirmando sua antiguidade e sua superioridade sobre os outros países desse
continente. Além do mais, por que os povos do pacifico não poderiam ter migrado por
algum motivo geológico para América pelo pacífico sul? Será por esses serem
considerados mais primitivos não teriam condições técnicas para fazer tal viagem pelo
mar? Essas perguntas deixam uma dúvida como pode arqueologia ser um instrumento
político de dominação, onde nesse contexto, a ciência e todo seu método são colocados
em segundo plano, a favor de manter o status quo de uma elite política.




Bibliografia:

TRIGGER, B. Arqueologias Alternativas: Nacionalista, Colonialista, Imperialista.
Traducciones y Comentarios, nº 1. San Juan: Universidad Nacional de San Juan, 1987.
pp. 1-25

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Nome: Pedro Rogério Villar Barreto Número do Cartão: 114236 Disciplina: Arqueologia A - HUM 03038 – TURMA B Professor: Jonas Gregorio de Souza Curso: Licenciatura em Ciências Sociais Semestre: 2/2012 Comentário do texto “Arqueologias Alternativas: Nacionalista, Colonialista, Imperialista” O interessante desse texto de Berger e sua discussão é a tentativa de fazer arqueologia histórica sobre a própria arqueologia. Colocando uma classificação cientifica a de acordo com o tempo e passado nacional de cada arqueologia. O que autor constata durante o texto é dimensão política da arqueologia de acordo com tempo histórico e local geográfico, demonstrando que própria arqueologia, que apesar de utilizar dados científicos concretos (sítios arqueológicos), não possui inteira neutralidade, ficando sujeita a situação e cenário geopolítico no qual compartilha. O autor classifica a arqueologia em três categorias diferentes: Nacionalista, Colonialista, Imperialista. A arqueologia Nacionalista consiste em arqueologia que tem finalidade política de afirmar a origem e história de nação, i.e., consiste em instrumento de uma criação imaginário nacional, baseado no seu passado de “glórias”. Essa construção histórica a
  • 2. partir de sítios arqueológicos consiste na afirmação nacional de alguns países é até como esse narra sua versão da história. Muito comum no contexto europeu, com finalidade de afirmar a antiguidade do homem naquele continente e nos países no qual desenvolveram. A dimensão política é na afirmação que esse tipo de arqueologia disponibiliza a alguma nação dando um aspecto de auto-afirmação da construção, muitas vezes com alguma intensidade falsa, de um ideário nacionalista. O autor dá além dos exemplos europeus, a construção desse ideal nacional arqueológica no Vietnã, Japão e Rússia Czarista/Comunista. Essa construção pode ser errônea no sentido de tentar criar forçadamente uma história longa e gloriosa inexistente a alguma nação que reclama o pertencimento do passado de alguma civilização antiga como sendo seu. Podemos considerar que o passado do Império Romano é Italiano? A cultura Maia é o passado do México? Podemos responder essas perguntas como sim ou não, mas devemos analisar que tanto a Itália e México, como Estados Nacionais, são formações muito recentes datados do século XIX, ou seja, não podemos afirmar que civilizações tão antigas seja o passado das sociedades desses países tão jovens. Assim podemos concluir que há formação histórica com intuito político nessas arqueologias nacionais, como forma de legitimação e afirmação nacional. A arqueologia colonialista é a aquele que se desenvolveu em ideário realizado nas antigas colônias européias. Pois era difícil afirmar para um europeu que uma sociedade aparentemente com certo desenvolvimento tivesse surgido em suas colônias em algum momento do passado, pois isso iria contrariar toda ideia de inferioridade dos nativos da colônia perante aos europeus. A velha colônia britânica norte-america foi um terreno fértil para compor esse tipo de arqueologia, pois a jovem nação estadunidense, formada politicamente por brancos protestantes descendentes do antigo colonizador europeu. Para ele seria difícil afirmar que os nativos primitivos daquela terra pudessem ter tais feitos, como por exemplo, os montículos funerários. Até própria religião mórmon, desenvolvida em território estadunidense, caracteriza a formação do povo americano como proveniente do povo de Deus (mais propriamente de Israel). Essa ideia colonialista, onde alguns feitos arquitetônicos ou desenvolvimento tecnológico primitivo dá dimensão de não passado do povo americano ou africano. Podemos dar o exemplo dos templos de pedra do Zimbábue, onde no tempo colonial foram atribuídos a uma antiga colonização européia, i.e., o povo europeu dizia que aquela antiga
  • 3. arquitetura era proveniente a um povo europeu, que tinha migrado anteriormente naquela região. Sabemos hoje, que tanto os montículos funerários como templos do Zimbábue são construções do povo nativo daquela região. O único motivo dessa arqueologia é ser essa uma forma de opressão política, de uma elite étnica mantém sobre outro povo, em sua maioria excluída. Essa dimensão política dessa arqueologia é não neutralidade da ciência, pois isso prejudica seus pressupostos científicos em nome de auto-afirmação de grupo sócio-político que domina alguma região ou país. Assim a arqueologia é uma ferramenta para manter status quo dessa elite política. A arqueologia imperialista consiste no próprio conceito evolucionista sobre a linha histórica, em uma visão eurocêntrica sobre a realidade histórica. Fundamentada e embasa em uma ideia de binômio de primitivo e evoluído, onde povos não europeus são considerados povos historicamente em estágio do passado do povo europeu, i.e., esses povos estão estado evolutivo anterior ao estado evolutivo europeu. Esse tipo de arqueologia foi fundamental para formação da arqueologia antropológica ou etnoarqueologia, pois observar os povos ditos primitivos poderia ser uma forma de observar o homem moderno nos moldes eurocêntricos em alguma parte do seu passado. Isso significa para essa vertente arqueológica seria uma forma de ver como era realmente a vida anos remotos da dita civilização (do modelo eurocêntrico). Há dois problemas nesse tipo de análise, o primeiro que não conta que toda sociedade ou civilização tem ciclos de desenvolvimento, i.e., que a história não linear, tendo seus avanços e seus recuos, tanto no âmbito concreto (produção tecnológica e material) quanto no âmbito abstrato (sistema político, econômico, social e cultural). O segundo problema que a arqueologia imperialista foi um instrumento político para imperialismo como um todo, pois se declararmos que, por exemplo, a cultura aborígene da Oceania e mais primitiva que cultura européia, afirmaremos a ideia de superioridade do homem europeu sobre o homem da Oceania, ou seja, afirmaremos uma ideia eurocêntrica de formação histórica evolucionista. Há nesse contexto distorções sócio-históricas com intuito puramente político: como podemos considerar que toda cultura indiana, por exemplo, é uma cultura primitiva em relação britânica? Isso seria negarmos os milhares de anos da cultura indiana e todo seu desenvolvimento. Assim devemos também levar em consideração o conhecimento milenar, por exemplo, dos povos nativos da America, onde antes da chegada dos europeus, teve formações sociais muito complexas
  • 4. concretamente e abstratamente, não muito distante tecnicamente dos povos europeus, seus contemporâneos nessa época pré-colombiana. Nessa discussão de dimensão política e social da arqueologia o autor não dá uma conclusão concreta, mas sim que todas essas alternativas arqueológicas são usadas em contextos sócio-políticos-históricos-econômicos diferentes. Demos o exemplo da teoria que o homem colonizou America somente e primeiramente pelo estreito de Bering? Não poderia ter sido colonizado pelo pacifico sul e pela America do Sul? Nessa discussão há dimensão imperialista e colonialista, pois sabemos que os Estados da América do Norte possuem e querem conservar sua hegemonia política e econômica sobre o continente americano. Afirmando sua antiguidade e sua superioridade sobre os outros países desse continente. Além do mais, por que os povos do pacifico não poderiam ter migrado por algum motivo geológico para América pelo pacífico sul? Será por esses serem considerados mais primitivos não teriam condições técnicas para fazer tal viagem pelo mar? Essas perguntas deixam uma dúvida como pode arqueologia ser um instrumento político de dominação, onde nesse contexto, a ciência e todo seu método são colocados em segundo plano, a favor de manter o status quo de uma elite política. Bibliografia: TRIGGER, B. Arqueologias Alternativas: Nacionalista, Colonialista, Imperialista. Traducciones y Comentarios, nº 1. San Juan: Universidad Nacional de San Juan, 1987. pp. 1-25