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ANÁLISE DA ESTRUTURA E CONTEÚDO DOS POEMAS



Soneto De Separação (Vinícius de Moraes)=

Forma fixa: Soneto (2 quartetos e 2 tercetos)

De/ re/pen/te/ do/ ri/so/ fez/-se o/ pran/(to) A
Si/len/ci/o/so e/ bran/co/ co/mo a/ bru/(ma) B
E/ das/ bo/cas/ u/ni/das/ fez/-se a es/pu/(ma) B
E/ das/ mãos/ es/pal/ma/das/ fez/-se o es/pan/(to) A

De/ re/pen/te/ da/ cal/ma/ fez/-se o/ ven/to
Que/ dos/ o/lhos/ des/fez/ a úl/ti/ma/ cha/ma
E /da/ pai/xão/ fez/-se o/ pres/sen/ti/men/to
E/ do/ mo/men/to i/mó/vel/ fez/-se o/ dra/ma


De/ re/pen/te/ não/ mais/ que/ de/ re/pen/te
Fez/-se /de/ tris/te o/ que/ se/ fez/ a/man/te
E/ de/ so/zi/nho o/ que/ se/ fez/ con/ten/te


Fez/-se/ do a/mi/go/ pró/xi/mo/, dis/tan/te
Fez/-se/ da/ vi/da u/ma a/ven/tu//ra er/ran/te
De/ re/pen/te/, não/ mais/ que/ de/ re/pen/te.
      Versos decassílabos (medida nova); tradicionais.

      ABBA: interpoladas/opostas. (disposição)

      A (pranto/espanto)= rima pobre (qualidade); B (bruma/espuma)=pobre

      Quanto à tonicidade= graves/femininas paroxítona)

      Diferenciar sílabas gramaticais de sílabas métricas/poéticas.

      Decassílabos/10 sílabas métricas/Medida nova.
      Plano de conteúdo: temática da separação e o sofrimento do eu lírico em relação à
pessoa amada.
PROFUNDAMENTE (MANUEL BANDEIRA) Versos livres (diferentes métricas)



Ver página 21/livro didático.



Quan/do on/tem/ a/dor/me/ci (7 sílabas métricas) Redondilha maior/heptassílabo.
Na/ noi/te/ de/ São/ Jo/ão/ (7 sílabas métricas) Medida velha
Ha/via a/le/gri/a e/ ru/mor/ (7 sílabas métricas)
Vo/zes/ can/ti/gas/ e/ ri/sos (7 sílabas métricas)
Ao/ pé/ das/ fo/guei/ras/ a/ce/(sas). (8 sílabas métricas) octossílabo
No/ me/io/ da/ noi/te/ des/per/tei/(9 sílabas métricas) (eneassílabo)
Não/ ou/vi/ mais/ vo/zes/ nem/ ri/(sos) (8 sílabas métricas)
A/pe/nas/ ba/lões/ (5 sílabas métricas)/ Redondilha menor/pentassílabo/ Medida velha
Pas/sa/vam/ er/ran/(tes) (5 sílabas métricas)/ Redondilha menor
Si/len/cio/sa/men/(te)
A/pe/nas/ de/ vez/ em/ quan/(do)
O/ ruí/do/ de um/ bon/(de)
Cor/ta/va o/ si/lên/(cio)
Co/mo um/ tú/(nel). (trissílabo)
On/de es/ta/vam/ os/ que há/ pou/(co)
Dan/ça/(vam) (dissílabo)
Can/ta/(vam)
E/ ri/(am)
Ao/ pé/ das/ fo/guei/ras/ a/ce/(sas)?




— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Pro/fun/da/men/(te). (Tetrassílabo)




Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci.
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Ro/(as) (monossílabo)
On/de es/tão/ to/dos/ e/(les)? (hexassílabos)




— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.




      Meninos carvoeiros

Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
— Eh, carvoero!



E vão tocando os animais com um relho1 enorme.


Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem2 é toda remendada.
Os carvões caem.


(Pela boca da noite3 vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.)

— Eh, carvoero!



Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles . . .
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis!


—Eh, carvoero!


Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados.
Petrópolis, 1921




ABORDAGEM DO EU EMOTIVO DO AUTOR

Chicote.
1


2
    Sacos feitos com material de aniagem, derivado do sisal.

Catacrese= figura de linguagem.
3
“Profundamente, é uma construção poética emotiva”.
        Defendendo a afirmação acima, estabeleceremos uma abordagem técnica e estrutural,
utilizando-se das formas morfossintáticas do poema Profundamente. A abordagem irá nos revelar
o nível e a intensidade da emoção disfarçada, num jogo sutil de construção própria de Manuel
Bandeira. Observando sua tendência a ocultar o “eu autor”, iremos localiza-lo além das formas
tradicionais da gramática normativa, dentro de uma gramática mais ousada e criativa.
Utilizaremos a gramática histórica, através da filologia, para atender uma essência emotiva - ou
utilizaremos a gramática estrutural, o aspecto dos verbos, para atingir a essência criativa das
formas.

       Nos deixaremos envolver pela busca incessante do autor em ampliar o sentido das
palavras utilizadas. Assim, pretendemos atingir o novo conjunto de sentidos oferecidos pelo
“Profundamente”, as emoções trazidas pelas ligações emocionais das personagens no contexto
do “eu autor“ de forma latente e disfarçada.

        Tentaremos desvendá-lo a cada instante do poema, do presente ao passado, uma volta no
túnel do tempo das emoções. Sua criatividade estará mais acessível, quando desmontarmos suas
estruturas de construção. Um caminho que Bandeira esperava que fosse percorrido pelos seus
leitores.

Profundamente

Verso 1    Quando ontem adormeci
Verso 2    Na noite de São João
Verso 3    Havia alegria e rumor
Verso 4    Estrondos de bombas luzes de Bengala
Verso 5    Vozes cantigas e risos
Verso 6    Ao pé das fogueiras acesas.

Verso 7     No meio da noite despertei
Verso 8     Não ouvi mais vozes nem risos
Verso 9     Apenas balões
Verso 10     Passavam errantes
Verso 11    Silenciosamente
Verso 12    Apenas de vez em quando
Verso 13    O ruído de um bonde
Verso 14    Cortava o silêncio
Verso 15    Como um túnel.
Verso 16    Onde estavam os que há pouco
Verso 17    Dançavam
Verso 18    Cantavam
Verso 19    E riam
Verso 20    Ao pé das fogueiras acesas?
Verso 21   - Estavam todos dormindo
Verso 22   Estavam todos deitados
Verso 23   Dormindo
Verso 24 Profundamente

       ***

Verso 25 Quando eu tinha seis anos
Verso 26 Não pude ver o fim da festa de São João
Verso 27 Porque adormeci

Verso 28 Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Verso 29 Minha avó
Verso 30 Meu avô
Verso 31 Totonio Rodrigues
Verso 32 Tomásia
Verso 33 Rosa
Verso 34 Onde estão todos eles?
Verso 35 - Estão todos dormindo
Verso 36 Estão todos deitados
Verso 37 Dormindo
Verso 38 Profundamente.

( Manuel Bandeira – Estrela da Vida Inteira – Libertinagem )




SOBRE O PROFUNDAMENTE
       Poema dividido em 5 estrofes. Na 1ª estrofe, com a indeterminação dos referentes
contextuais. Parece querer deixar um hiato de indefinição e mistério. Tempo de uma noite de São
João, ou um “ontem adormeci”; deixa escapar sua técnica de se remeter a mais de um referente,
ou melhor, de se colocar à parte da história, mesmo sendo o “eu” em questão, um “eu” que se
arrepende às vezes de sentir se num “profundamente”. O lugar de viagem bem que poderia ser
“bombas luzes de Bengala”, mas é o menos identificado pé das fogueiras acesas. Tudo parece
funcionar como uma apresentação vaga de sentimento, um despertar para o profundo, que incerto
viria.

Verso 1   Quando ontem adormeci
Verso 2   Na noite de São João
Verso 3   Havia alegria e rumor
Verso 4   Estrondos de bombas luzes de Bengala
Verso 5    Vozes cantigas e risos
Verso 6    Ao pé das fogueiras acesas.

       a) Do verso 7 ao verso 20, o “eu autor” identifica-se melhor, mas como o silêncio.

Verso 8    Não ouvi mais vozes nem risos
Verso 11   Silenciosamente
Verso 14   Cortava o silêncio
Verso 15   Como um túnel.

       A busca, a procura das pessoas, que cantavam, dançava e ria, domina esse trecho.

Verso 16 Onde estavam os que há pouco
Verso 17 Dançavam
Verso 18 Cantavam

       A forma verbal “despertei”, identifica o “eu autor” e o enunciado que perdura num tempo
psicológico e não cronológico, contínuo.

Verso 7    No meio da noite despertei

Ainda mais no advérbio de modo “silenciosamente”, remetido ao estado psíquico do “eu autor”
(silêncio na mente). O “eu autor“ deseja ver terminada essa interrogação. Expressa um desejo de
rever as pessoas, as quais ele menciona não ouvir mais vozes, nem risos. O que significa, que
ausência não termina.

Verso 11   Silenciosamente
Verso 8    Não ouvi mais vozes nem risos
Verso 14   Cortava o silêncio
Verso 15   Como um túnel.


       b) Do verso21 ao 24 , a palavra “dormindo” é percebida como núcleo dos sentidos. Com
duas repetições:


Verso 21 - Estavam todos dormindo
Verso 23 Dormindo

Versos que mostram dois sentidos – no verso 21, há uma coligação verbal forte para criar uma
continuidade. No verso 23 – será acentuada pelo advérbio de intensidade “profundamente” – que
remete a forte emoção do “eu autor”.


       c) Do verso 25 ao 27, conseguimos identificar um tempo passado, uma informação da
idade do autor no túnel do tempo: “Quando eu tinha seis anos”.
Verso 25 Quando eu tinha seis anos
Verso 26 Não pude ver o fim da festa de São João
Verso 27 Porque adormeci


Um fato o impedirá de ver o fim da festa de São João, o fato de ter adormecido. A dor em si -
adormeci. A forma verbal desmembrada significa a emoção ocultada do “eu autor”, um sentido
guardado e escondido no jogo de inversão.

       d) Do verso 28 ao 38, o “eu autor” define o que ainda não foi contado. Enumera as
pessoas, e emplaca a interrogação sobre as pessoas e os destinos delas, mas responde no último
verso de maneira dúbia: sono ou morte?

Verso 28 Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Verso 29 Minha avó
Verso 30 Meu avô
Verso 31 Totônio Rodrigues
Verso 32 Tomásia
Verso 33 Rosa
Verso 34 Onde estão todos eles?
Verso 35 - Estão todos dormindo
Verso 36 Estão todos deitados
Verso 37 Dormindo
Verso 38 Profundamente.



ABORDAGEM DADA ÀS EXPRESSÕES
NO POEMA PROFUNDAMENTE
       Além dos cuidados com o advérbio “profundamente”, consideramos o advérbio “apenas”.
Nos versos 9 e 12, estão sinalizando uma reunião de palavras, que segmentadas, revelam um
sentimento do “eu autor”.

Verso 9   Apenas balões

       Apenas balões, a-pena-s. É pena que sejam só balões

Verso 12 Apenas de vez em quando
Verso 13 O ruído de um bonde
                                          OD
       Apenas de vez em quando (surge) o ruído de um bonde. É pena que seja só o ruído
VTD
de um bonde.

       Essa segmentação do advérbio apenas irá reforçar o sentido de “silenciosamente,

Verso 11 Silenciosamente

Um sentido de desagrado emocional, ao ficar o silêncio na mente. Junte-se a ele a interrogação
do verso 20,

Verso 20 Ao pé das fogueiras acesas?

Um sabor de desagrado e solidão.

        “Apenas” modifica a palavra “balões”. Os balões parecem expressar os recursos dos
gibis, os balões de pensamento com espaços vazios, um vaguear da memória por tempos
passados.
        O outro “apenas” funciona sobre o OD – objeto direto – o ruído é qualificado a um
actante, quando se esperava escutar uma voz, não um desapontamento.

       Entre os versos 7 e 20, o autor irá colocar o silêncio interior, que se fará entendido como
solidão. Temos como conseqüência o advérbio silenciosamente, a mesma situação, já
mencionada, de intensidade psíquica (um silêncio que percorre a mente).

        Nos versos 21 ao 24, as pessoas que “estavam dormindo” - podem muito bem ser as
mesmas das “Vozes cantigas e risos” – ou as que “dançavam e riam”. Na primeira e segunda
estrofe encontramos o mote “Ao pé das fogueiras acesas” com a sutil diferença da interrogação
na segunda estrofe. Esse mote conclui a quem remetem, às mesmas pessoas e às mesmas festas.
Pessoas que são a razão de aprofundar-se na mente em busca de lembranças.

        Do verso 15 “Como um túnel” - é o marco de evidência da viagem nos tempos. Vemos no
versos 16 a 24, especificamente, o intervalo entre 21 e 24. Somos remetidos à forma verbal do
Pretérito Imperfeito, que nos transporta com os personagens à época passada, descrevendo o que
então fora contexto de festa e alegria. É o tempo de uma ação prolongada ou repetida com
limites imprecisos. Nada esclarece sobre a ocasião em que ação iria terminar, ou nada informa do
momento inicial.

Verso 16    Onde estavam os que há pouco
Verso 17    Dançavam
Verso 18    Cantavam
Verso 19    E riam
Verso 21   - Estavam todos dormindo
Verso 22   Estavam todos deitados

       O que acontece com essas pessoas, entre os versos 21 e 24, estavam dormindo. Estavam
dormindo? Deitados eternamente? O que há nesse ato de expressão, no primeiro “dormindo”
sucedido por deitado, há um paralelo que se une com àquelas pessoas. O segundo “dormindo”
recebe o “profundamente” na seqüência. A expressividade de um sentimento mais forte, já vista
com o advérbio apenas. E nessa forma gramatical se descobre a relação de intensidade do “eu
autor” com as pessoas dormindo profundamente. O que insere o autor no poema definitivamente
é a pontuação de travessão, um discurso direto.

Verso 21 - Estavam todos dormindo

Ou pelo desmembramento de “dormindo”
       Dor em mim dos que estavam deitados eternamente.

        Predominância do Presente do Indicativo entre os versos 28 ao 38, o tempo do enunciado,
o aqui e o agora. “Hoje”, localiza o poema na sua segunda parte. Ainda que dos versos 25 ao 27
localizamos a lembrança do “eu autor” da festa de São João, a época em que remonta a memória,
a primeira parte. Na sua última derivação do verbo dormir, a forma “adormeci”, não tem como
provar que nessa forma disfarçada o autor reedita sua dor, mas temos o contexto pragmático –
atos de palavras: o ato de prometer rever aquelas pessoas ou o ato de lembrar daquelas pessoas -
prova que é essa a sua dor - a ausência daqueles da noite de São João e sua prolongada solidão
no sono dos vivos. A perda da festa, já que não poderá ser restituída – não inteiramente
aproveitada no passado – no futuro, agora presente.

Verso 1 Quando ontem adormeci
Verso 27 Porque adormeci

Ficaria assim o jogo, a brincadeira de Bandeira:

A - dor – me – ci.
        <
A – dor – em – si.


        Os versos da segunda parte, 28 ao 38, revelam quem são as pessoas tão cantadas na
primeira parte. A razão de tamanha dor expressa, uma falta que se mede com o tempo e a
intensidade. A forma verbal nos dará uma ação habitual, constante, não um fato real. Uma
verdade que o “eu autor” não quer nos colocar, “eles estão mortos!”. Aí está a razão do uso da
dor, ela expressa no conjunto do poema a perda pela morte das pessoas amadas. Utilizará a forma
“estão deitados, dormindo profundamente”.


PROFUNDAMENTE
Mente: figurava como um substantivo em latim.
Profundus, -a, -um: profundo, adjetivo

Segue o exemplo de “intrepidamente”:
    - em latim: intrépida mente respondeo
Mente: ânimo, subst.
Intrepidus,a,um: intrépido, corajoso, adj.
Respodeo -es, ere, spondi, sponsum: responder, verb.


Respondo com ânimo intrépido, respondo intrepidamente.
Dor com ânimo profundo, Dor em mim profundamente.


SONORIDADE DO PROFUNDAMENTE
       A predominância dos sons sibilantes e nasais sobre as oclusivas, deixa ver no poema a
face do “eu autor”, caracterizando a revelação nos certos cuidados. Colocar-se para fora de si
numa respiração contida. Pressionada nas fossas nasais e na constrição das consoantes lábios
dentais - percebida durante a sonorização e a expiração pouco livre do ser. Um sopro sofrível de
vida para fora, terminando com o expelir forte do ar da vida na explosão das oclusivas.

Em todo o poema
Sibilantes: 70 ocorrências (constrição, tentar reter-se denotando cuidados).
Oclusivas: 105 ocorrências (bater, movimentos denota ação o agir).
Nasais: 79 ocorrências (profundidade, anteparo nasal, caixa de ressonância interna, interioridade,
estado da paixão).



PÉS RITMICOS DO PROFUNDAMENTE
Os pés rítmicos não buscam uma seqüência, mas uma alternância, algo que variavelmente quer
se desfazer. Há ocorrência de versos longos, médios e curtos. Os longos, ricos em expressão - os
curtos, quase um bloqueio da emoção. Como no verso 33:

Verso 33 Rosa
         _/ 1/2pé

       Esse verso 13 não chega a concluir um pé rítmico. E os médios, quando o “eu autor”
parece querer estabelecer uma regularidade de verso para verso, entre os versos 9 e 16.

Verso 9    Apenas balões
            _ _/ _, _ _/. 2pés

Verso 10   Passavam errantes
           _ _/ _, _ _/. 2pés

Verso 11 Silenciosamente
          _ _/ _, _ _/. 2pés

Verso 12 Apenas de vez em quando
          _ _/ _, _ _/,_ _/. 3pés
Verso 13 O ruído de um bonde
          _ _/ _, _ _/. 2pés

Verso 14 Cortava o silêncio
          _ _/ _, _ _/. 2pés

Verso 15 Como um túnel.
          _ _ _/. 1pé

Verso 16 Onde estavam os que há pouco
          _ _ _/, __ _/,_ _/. 3pés


       Tudo isso está acontecendo como se fosse um movimento de memória, que ora tem
grandes momentos de recordação, e ora grandes bloqueios e um equilíbrio retomado no final.
Essa trava é maior na lembrança de Rosa, sua irmã, aquela que cuidara de sua tuberculose,
aquela que ele viria a falecer antes de si. Dá-se a essa irregularidade expressiva, o sentimento
exposto da primeira parte, o estado de dor, simbolizado pelo verbo dormir, e pelo profundamente
na segunda parte.
“Dor em mim, dor profunda, dor mais intensa ainda, dor profundamente, dor profunda que se
anima com as recordações de Rosa e todos os outros”.

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  • 1. ANÁLISE DA ESTRUTURA E CONTEÚDO DOS POEMAS Soneto De Separação (Vinícius de Moraes)= Forma fixa: Soneto (2 quartetos e 2 tercetos) De/ re/pen/te/ do/ ri/so/ fez/-se o/ pran/(to) A Si/len/ci/o/so e/ bran/co/ co/mo a/ bru/(ma) B E/ das/ bo/cas/ u/ni/das/ fez/-se a es/pu/(ma) B E/ das/ mãos/ es/pal/ma/das/ fez/-se o es/pan/(to) A De/ re/pen/te/ da/ cal/ma/ fez/-se o/ ven/to Que/ dos/ o/lhos/ des/fez/ a úl/ti/ma/ cha/ma E /da/ pai/xão/ fez/-se o/ pres/sen/ti/men/to E/ do/ mo/men/to i/mó/vel/ fez/-se o/ dra/ma De/ re/pen/te/ não/ mais/ que/ de/ re/pen/te Fez/-se /de/ tris/te o/ que/ se/ fez/ a/man/te E/ de/ so/zi/nho o/ que/ se/ fez/ con/ten/te Fez/-se/ do a/mi/go/ pró/xi/mo/, dis/tan/te Fez/-se/ da/ vi/da u/ma a/ven/tu//ra er/ran/te De/ re/pen/te/, não/ mais/ que/ de/ re/pen/te. Versos decassílabos (medida nova); tradicionais. ABBA: interpoladas/opostas. (disposição) A (pranto/espanto)= rima pobre (qualidade); B (bruma/espuma)=pobre Quanto à tonicidade= graves/femininas paroxítona) Diferenciar sílabas gramaticais de sílabas métricas/poéticas. Decassílabos/10 sílabas métricas/Medida nova. Plano de conteúdo: temática da separação e o sofrimento do eu lírico em relação à pessoa amada.
  • 2. PROFUNDAMENTE (MANUEL BANDEIRA) Versos livres (diferentes métricas) Ver página 21/livro didático. Quan/do on/tem/ a/dor/me/ci (7 sílabas métricas) Redondilha maior/heptassílabo. Na/ noi/te/ de/ São/ Jo/ão/ (7 sílabas métricas) Medida velha Ha/via a/le/gri/a e/ ru/mor/ (7 sílabas métricas) Vo/zes/ can/ti/gas/ e/ ri/sos (7 sílabas métricas) Ao/ pé/ das/ fo/guei/ras/ a/ce/(sas). (8 sílabas métricas) octossílabo No/ me/io/ da/ noi/te/ des/per/tei/(9 sílabas métricas) (eneassílabo) Não/ ou/vi/ mais/ vo/zes/ nem/ ri/(sos) (8 sílabas métricas) A/pe/nas/ ba/lões/ (5 sílabas métricas)/ Redondilha menor/pentassílabo/ Medida velha Pas/sa/vam/ er/ran/(tes) (5 sílabas métricas)/ Redondilha menor Si/len/cio/sa/men/(te) A/pe/nas/ de/ vez/ em/ quan/(do) O/ ruí/do/ de um/ bon/(de) Cor/ta/va o/ si/lên/(cio) Co/mo um/ tú/(nel). (trissílabo) On/de es/ta/vam/ os/ que há/ pou/(co) Dan/ça/(vam) (dissílabo) Can/ta/(vam) E/ ri/(am) Ao/ pé/ das/ fo/guei/ras/ a/ce/(sas)? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Pro/fun/da/men/(te). (Tetrassílabo) Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci.
  • 3. Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Ro/(as) (monossílabo) On/de es/tão/ to/dos/ e/(les)? (hexassílabos) — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. Meninos carvoeiros Os meninos carvoeiros Passam a caminho da cidade.
  • 4. — Eh, carvoero! E vão tocando os animais com um relho1 enorme. Os burros são magrinhos e velhos. Cada um leva seis sacos de carvão de lenha. A aniagem2 é toda remendada. Os carvões caem. (Pela boca da noite3 vem uma velhinha que os recolhe, dobrando-se com um gemido.) — Eh, carvoero! Só mesmo estas crianças raquíticas Vão bem com estes burrinhos descadeirados. A madrugada ingênua parece feita para eles . . . Pequenina, ingênua miséria! Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis! —Eh, carvoero! Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado, Encarapitados nas alimárias, Apostando corrida, Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados. Petrópolis, 1921 ABORDAGEM DO EU EMOTIVO DO AUTOR Chicote. 1 2 Sacos feitos com material de aniagem, derivado do sisal. Catacrese= figura de linguagem. 3
  • 5. “Profundamente, é uma construção poética emotiva”. Defendendo a afirmação acima, estabeleceremos uma abordagem técnica e estrutural, utilizando-se das formas morfossintáticas do poema Profundamente. A abordagem irá nos revelar o nível e a intensidade da emoção disfarçada, num jogo sutil de construção própria de Manuel Bandeira. Observando sua tendência a ocultar o “eu autor”, iremos localiza-lo além das formas tradicionais da gramática normativa, dentro de uma gramática mais ousada e criativa. Utilizaremos a gramática histórica, através da filologia, para atender uma essência emotiva - ou utilizaremos a gramática estrutural, o aspecto dos verbos, para atingir a essência criativa das formas. Nos deixaremos envolver pela busca incessante do autor em ampliar o sentido das palavras utilizadas. Assim, pretendemos atingir o novo conjunto de sentidos oferecidos pelo “Profundamente”, as emoções trazidas pelas ligações emocionais das personagens no contexto do “eu autor“ de forma latente e disfarçada. Tentaremos desvendá-lo a cada instante do poema, do presente ao passado, uma volta no túnel do tempo das emoções. Sua criatividade estará mais acessível, quando desmontarmos suas estruturas de construção. Um caminho que Bandeira esperava que fosse percorrido pelos seus leitores. Profundamente Verso 1 Quando ontem adormeci Verso 2 Na noite de São João Verso 3 Havia alegria e rumor Verso 4 Estrondos de bombas luzes de Bengala Verso 5 Vozes cantigas e risos Verso 6 Ao pé das fogueiras acesas. Verso 7 No meio da noite despertei Verso 8 Não ouvi mais vozes nem risos Verso 9 Apenas balões Verso 10 Passavam errantes Verso 11 Silenciosamente Verso 12 Apenas de vez em quando Verso 13 O ruído de um bonde Verso 14 Cortava o silêncio Verso 15 Como um túnel. Verso 16 Onde estavam os que há pouco Verso 17 Dançavam Verso 18 Cantavam Verso 19 E riam Verso 20 Ao pé das fogueiras acesas? Verso 21 - Estavam todos dormindo Verso 22 Estavam todos deitados Verso 23 Dormindo
  • 6. Verso 24 Profundamente *** Verso 25 Quando eu tinha seis anos Verso 26 Não pude ver o fim da festa de São João Verso 27 Porque adormeci Verso 28 Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Verso 29 Minha avó Verso 30 Meu avô Verso 31 Totonio Rodrigues Verso 32 Tomásia Verso 33 Rosa Verso 34 Onde estão todos eles? Verso 35 - Estão todos dormindo Verso 36 Estão todos deitados Verso 37 Dormindo Verso 38 Profundamente. ( Manuel Bandeira – Estrela da Vida Inteira – Libertinagem ) SOBRE O PROFUNDAMENTE Poema dividido em 5 estrofes. Na 1ª estrofe, com a indeterminação dos referentes contextuais. Parece querer deixar um hiato de indefinição e mistério. Tempo de uma noite de São João, ou um “ontem adormeci”; deixa escapar sua técnica de se remeter a mais de um referente, ou melhor, de se colocar à parte da história, mesmo sendo o “eu” em questão, um “eu” que se arrepende às vezes de sentir se num “profundamente”. O lugar de viagem bem que poderia ser “bombas luzes de Bengala”, mas é o menos identificado pé das fogueiras acesas. Tudo parece funcionar como uma apresentação vaga de sentimento, um despertar para o profundo, que incerto viria. Verso 1 Quando ontem adormeci Verso 2 Na noite de São João Verso 3 Havia alegria e rumor Verso 4 Estrondos de bombas luzes de Bengala
  • 7. Verso 5 Vozes cantigas e risos Verso 6 Ao pé das fogueiras acesas. a) Do verso 7 ao verso 20, o “eu autor” identifica-se melhor, mas como o silêncio. Verso 8 Não ouvi mais vozes nem risos Verso 11 Silenciosamente Verso 14 Cortava o silêncio Verso 15 Como um túnel. A busca, a procura das pessoas, que cantavam, dançava e ria, domina esse trecho. Verso 16 Onde estavam os que há pouco Verso 17 Dançavam Verso 18 Cantavam A forma verbal “despertei”, identifica o “eu autor” e o enunciado que perdura num tempo psicológico e não cronológico, contínuo. Verso 7 No meio da noite despertei Ainda mais no advérbio de modo “silenciosamente”, remetido ao estado psíquico do “eu autor” (silêncio na mente). O “eu autor“ deseja ver terminada essa interrogação. Expressa um desejo de rever as pessoas, as quais ele menciona não ouvir mais vozes, nem risos. O que significa, que ausência não termina. Verso 11 Silenciosamente Verso 8 Não ouvi mais vozes nem risos Verso 14 Cortava o silêncio Verso 15 Como um túnel. b) Do verso21 ao 24 , a palavra “dormindo” é percebida como núcleo dos sentidos. Com duas repetições: Verso 21 - Estavam todos dormindo Verso 23 Dormindo Versos que mostram dois sentidos – no verso 21, há uma coligação verbal forte para criar uma continuidade. No verso 23 – será acentuada pelo advérbio de intensidade “profundamente” – que remete a forte emoção do “eu autor”. c) Do verso 25 ao 27, conseguimos identificar um tempo passado, uma informação da idade do autor no túnel do tempo: “Quando eu tinha seis anos”.
  • 8. Verso 25 Quando eu tinha seis anos Verso 26 Não pude ver o fim da festa de São João Verso 27 Porque adormeci Um fato o impedirá de ver o fim da festa de São João, o fato de ter adormecido. A dor em si - adormeci. A forma verbal desmembrada significa a emoção ocultada do “eu autor”, um sentido guardado e escondido no jogo de inversão. d) Do verso 28 ao 38, o “eu autor” define o que ainda não foi contado. Enumera as pessoas, e emplaca a interrogação sobre as pessoas e os destinos delas, mas responde no último verso de maneira dúbia: sono ou morte? Verso 28 Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Verso 29 Minha avó Verso 30 Meu avô Verso 31 Totônio Rodrigues Verso 32 Tomásia Verso 33 Rosa Verso 34 Onde estão todos eles? Verso 35 - Estão todos dormindo Verso 36 Estão todos deitados Verso 37 Dormindo Verso 38 Profundamente. ABORDAGEM DADA ÀS EXPRESSÕES NO POEMA PROFUNDAMENTE Além dos cuidados com o advérbio “profundamente”, consideramos o advérbio “apenas”. Nos versos 9 e 12, estão sinalizando uma reunião de palavras, que segmentadas, revelam um sentimento do “eu autor”. Verso 9 Apenas balões Apenas balões, a-pena-s. É pena que sejam só balões Verso 12 Apenas de vez em quando Verso 13 O ruído de um bonde OD Apenas de vez em quando (surge) o ruído de um bonde. É pena que seja só o ruído
  • 9. VTD de um bonde. Essa segmentação do advérbio apenas irá reforçar o sentido de “silenciosamente, Verso 11 Silenciosamente Um sentido de desagrado emocional, ao ficar o silêncio na mente. Junte-se a ele a interrogação do verso 20, Verso 20 Ao pé das fogueiras acesas? Um sabor de desagrado e solidão. “Apenas” modifica a palavra “balões”. Os balões parecem expressar os recursos dos gibis, os balões de pensamento com espaços vazios, um vaguear da memória por tempos passados. O outro “apenas” funciona sobre o OD – objeto direto – o ruído é qualificado a um actante, quando se esperava escutar uma voz, não um desapontamento. Entre os versos 7 e 20, o autor irá colocar o silêncio interior, que se fará entendido como solidão. Temos como conseqüência o advérbio silenciosamente, a mesma situação, já mencionada, de intensidade psíquica (um silêncio que percorre a mente). Nos versos 21 ao 24, as pessoas que “estavam dormindo” - podem muito bem ser as mesmas das “Vozes cantigas e risos” – ou as que “dançavam e riam”. Na primeira e segunda estrofe encontramos o mote “Ao pé das fogueiras acesas” com a sutil diferença da interrogação na segunda estrofe. Esse mote conclui a quem remetem, às mesmas pessoas e às mesmas festas. Pessoas que são a razão de aprofundar-se na mente em busca de lembranças. Do verso 15 “Como um túnel” - é o marco de evidência da viagem nos tempos. Vemos no versos 16 a 24, especificamente, o intervalo entre 21 e 24. Somos remetidos à forma verbal do Pretérito Imperfeito, que nos transporta com os personagens à época passada, descrevendo o que então fora contexto de festa e alegria. É o tempo de uma ação prolongada ou repetida com limites imprecisos. Nada esclarece sobre a ocasião em que ação iria terminar, ou nada informa do momento inicial. Verso 16 Onde estavam os que há pouco Verso 17 Dançavam Verso 18 Cantavam Verso 19 E riam Verso 21 - Estavam todos dormindo Verso 22 Estavam todos deitados O que acontece com essas pessoas, entre os versos 21 e 24, estavam dormindo. Estavam dormindo? Deitados eternamente? O que há nesse ato de expressão, no primeiro “dormindo” sucedido por deitado, há um paralelo que se une com àquelas pessoas. O segundo “dormindo”
  • 10. recebe o “profundamente” na seqüência. A expressividade de um sentimento mais forte, já vista com o advérbio apenas. E nessa forma gramatical se descobre a relação de intensidade do “eu autor” com as pessoas dormindo profundamente. O que insere o autor no poema definitivamente é a pontuação de travessão, um discurso direto. Verso 21 - Estavam todos dormindo Ou pelo desmembramento de “dormindo” Dor em mim dos que estavam deitados eternamente. Predominância do Presente do Indicativo entre os versos 28 ao 38, o tempo do enunciado, o aqui e o agora. “Hoje”, localiza o poema na sua segunda parte. Ainda que dos versos 25 ao 27 localizamos a lembrança do “eu autor” da festa de São João, a época em que remonta a memória, a primeira parte. Na sua última derivação do verbo dormir, a forma “adormeci”, não tem como provar que nessa forma disfarçada o autor reedita sua dor, mas temos o contexto pragmático – atos de palavras: o ato de prometer rever aquelas pessoas ou o ato de lembrar daquelas pessoas - prova que é essa a sua dor - a ausência daqueles da noite de São João e sua prolongada solidão no sono dos vivos. A perda da festa, já que não poderá ser restituída – não inteiramente aproveitada no passado – no futuro, agora presente. Verso 1 Quando ontem adormeci Verso 27 Porque adormeci Ficaria assim o jogo, a brincadeira de Bandeira: A - dor – me – ci. < A – dor – em – si. Os versos da segunda parte, 28 ao 38, revelam quem são as pessoas tão cantadas na primeira parte. A razão de tamanha dor expressa, uma falta que se mede com o tempo e a intensidade. A forma verbal nos dará uma ação habitual, constante, não um fato real. Uma verdade que o “eu autor” não quer nos colocar, “eles estão mortos!”. Aí está a razão do uso da dor, ela expressa no conjunto do poema a perda pela morte das pessoas amadas. Utilizará a forma “estão deitados, dormindo profundamente”. PROFUNDAMENTE Mente: figurava como um substantivo em latim. Profundus, -a, -um: profundo, adjetivo Segue o exemplo de “intrepidamente”: - em latim: intrépida mente respondeo Mente: ânimo, subst. Intrepidus,a,um: intrépido, corajoso, adj.
  • 11. Respodeo -es, ere, spondi, sponsum: responder, verb. Respondo com ânimo intrépido, respondo intrepidamente. Dor com ânimo profundo, Dor em mim profundamente. SONORIDADE DO PROFUNDAMENTE A predominância dos sons sibilantes e nasais sobre as oclusivas, deixa ver no poema a face do “eu autor”, caracterizando a revelação nos certos cuidados. Colocar-se para fora de si numa respiração contida. Pressionada nas fossas nasais e na constrição das consoantes lábios dentais - percebida durante a sonorização e a expiração pouco livre do ser. Um sopro sofrível de vida para fora, terminando com o expelir forte do ar da vida na explosão das oclusivas. Em todo o poema Sibilantes: 70 ocorrências (constrição, tentar reter-se denotando cuidados). Oclusivas: 105 ocorrências (bater, movimentos denota ação o agir). Nasais: 79 ocorrências (profundidade, anteparo nasal, caixa de ressonância interna, interioridade, estado da paixão). PÉS RITMICOS DO PROFUNDAMENTE Os pés rítmicos não buscam uma seqüência, mas uma alternância, algo que variavelmente quer se desfazer. Há ocorrência de versos longos, médios e curtos. Os longos, ricos em expressão - os curtos, quase um bloqueio da emoção. Como no verso 33: Verso 33 Rosa _/ 1/2pé Esse verso 13 não chega a concluir um pé rítmico. E os médios, quando o “eu autor” parece querer estabelecer uma regularidade de verso para verso, entre os versos 9 e 16. Verso 9 Apenas balões _ _/ _, _ _/. 2pés Verso 10 Passavam errantes _ _/ _, _ _/. 2pés Verso 11 Silenciosamente _ _/ _, _ _/. 2pés Verso 12 Apenas de vez em quando _ _/ _, _ _/,_ _/. 3pés
  • 12. Verso 13 O ruído de um bonde _ _/ _, _ _/. 2pés Verso 14 Cortava o silêncio _ _/ _, _ _/. 2pés Verso 15 Como um túnel. _ _ _/. 1pé Verso 16 Onde estavam os que há pouco _ _ _/, __ _/,_ _/. 3pés Tudo isso está acontecendo como se fosse um movimento de memória, que ora tem grandes momentos de recordação, e ora grandes bloqueios e um equilíbrio retomado no final. Essa trava é maior na lembrança de Rosa, sua irmã, aquela que cuidara de sua tuberculose, aquela que ele viria a falecer antes de si. Dá-se a essa irregularidade expressiva, o sentimento exposto da primeira parte, o estado de dor, simbolizado pelo verbo dormir, e pelo profundamente na segunda parte. “Dor em mim, dor profunda, dor mais intensa ainda, dor profundamente, dor profunda que se anima com as recordações de Rosa e todos os outros”.