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8º Simposio de Ensino de Graduação
A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO NO PROCESSO DE CAPACITAÇÃO
PROFISSIONAL
Autor(es)
MARLENE APARECIDA MARTINES
Co-Autor(es)
SABRINA RAQUEL TOLEDO ROSADA
SIMONE EDSONINA SILVA E SOUZA LEITE
Orientador(es)
MARIA ELISABETH SALVADOR CAETANO
1. Introdução
O mercado de trabalho é um ambiente competitivo e exigente. A industrialização e a globalização trouxeram alto índice de
desemprego e manter-se empregado implica em aperfeiçoamento e especialização constantes; o nível básico de escolarização não é
suficiente e cursos profissionalizantes são oferecidos na tentativa de atender às exigências do mercado. (Silva & Soares, 2001).
A Psicologia, através do processo de Orientação Profissional (O.P.), que visa reconhecer habilidades e interesses do indivíduo,
favorece o amadurecimento do projeto de vida profissional. O psicólogo orienta os participantes a reconhecer e analisar as variáveis
fundamentais: autoconhecimento, conhecimento das profissões e do mercado. O autoconhecimento contribui significativamente no
processo de capacitação profissional e de planejamento de carreira. Para Skinner (1982, p.31), “o autoconhecimento é de origem
social (...). Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si mesma’ por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição
de prever e controlar seu próprio comportamento”.
Neste sentido, espera-se que, a partir do autoconhecimento o sujeito possa fazer escolhas assertivas, que lhe tragam satisfação pessoal
e êxito profissional. O orientador, por sua vez, contribui para o desenvolvimento do autoconhecimento de seu orientando,
questionando e oferecendo feedbacks.
O SAT/UNIMEP (Serviço de Apoio ao Trabalhador) e a SEMDES (Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social) desenvolvem
um trabalho de Orientação Profisssional com bolsistas da “Frente de Trabalho”, na perspectiva da sua (re)inserção social por meio da
atividade trabalho. Trata-se de um projeto em que pessoas em situação de vulnerabilidade social cumprem um contrato de trabalho,
sem vínculo empregatício, por seis meses e recebem uma bolsa de um salário mínimo, cesta básica e vale transporte.
2. Objetivos
O objetivo deste resumo é apresentar um modelo de intervenção em Orientação Profissional, com ênfase no autoconhecimento,
visando a busca por uma (re)inserção na sociedade por meio do trabalho.
3. Desenvolvimento
A partir do cronograma dos encontros, elaborado pelas equipes do SAT/UNIMEP e SEMDES, os bolsistas são convocados pela
SEMDES para participarem dos grupos de Orientação Profissional, que são formados por aproximadamente dez participantes, com
idades entre 18 e 64 anos. A maior parte dos participantes busca uma re-inserção ao mercado de trabalho, porém há os que estão à
procura do primeiro emprego formal.
Cabe ressaltar que o trabalho de Orientação Profissional é realizado com grupos de bolsistas de diversos CRAS (Centro de Referência
e Assistência Social) do município de Piracicaba; no entanto, o presente resumo se deterá a apenas um desses grupos.
As orientadoras adotaram como procedimento geral realizar uma visita antecipada ao local dos encontros, para um primeiro contato
com a equipe, visando a formação do vínculo necessário para o desenvolvimento da parceria entre as instituições.
O trabalho em questão foi realizado com bolsistas do CRAS Jardim São Paulo, na cidade de Piracicaba. Esse grupo foi formado por
oito mulheres e três homens, com idade entre 18 e 50 anos. Foram realizados seis encontros semanais, no período de 22/01 a
26/02/2010, com duração de 2h30min.
Ao trabalhar o autoconhecimento, a dificuldade foi conscientizar o grupo sobre a importância de reconhecer suas habilidades,
preferências, limitações e a responsabilidade por suas escolhas. Por incentivar a exposição oral de conteúdos que envolviam a vida
pessoal dos participantes, como forma de reflexão e autoconhecimento, os aspectos éticos do sigilo e respeito foram preservados.
O processo de O.P. no grupo foi desenvolvido através de técnicas que possibilitaram a identificação de habilidades e interesses,
facilitando o reconhecimento das competências e preferências (Curtograma), a identificação de comportamentos reforçados social e
positivamente, favorecendo a autoestima e a confiança por meio da discriminação das consequências positivas dos comportamentos
(roda de conversa). A técnica do Curtograma consistiu em cada participante elencar verbalmente: coisas que faz e gosta; coisas que
faz e não gosta; coisas que gosta e não faz; coisas que não gosta e não faz. A roda de conversa foi utilizada como treino das
habilidades de comunicação e integração social, através de escuta atenta e feedback pontual dos conteúdos compartilhados. Todas as
informações foram organizadas e analisadas na perspectiva da construção de perfis pessoais versus atuações profissionais, segundo as
possibilidades reais de vida e capacitação de cada participante.
Semanalmente foram realizadas supervisões com a orientadora, no CEAPsi (Centro de Estudos Aplicados em Psicologia), e nessas
reuniões discutiu-se os encontros realizados e, as discussões subsidiavam a construção do encontro seguinte para melhor atender a
demanda dos participantes. O contato entre as orientadoras e a equipe da SEMDES foi mantido, para que obtivessem o conhecimento
da presença dos bolsistas nos encontros.
O último encontro com o grupo teve como objetivos: resgatar os assuntos abordados e enfatizar a importância do autoconhecimento
para as escolhas profissionais. Para finalizar o contato, as orientadoras presentearam os participantes com um pequeno cacto e fizeram
a analogia com a vida e a capacidade de fazer escolhas: é preciso conhecer a planta para poder cuidar dela, oferecendo as condições
necessárias para que ela sobreviva e floresça, levantando novamente a importância do autoconhecimento na vida das pessoas.
4. Resultado e Discussão
Identificou-se dificuldade dos participantes em se envolverem no processo de autoconhecimento, devido a impedimentos como:
história de vida, a realidade em que estão inseridos e a luta cotidiana pela sobrevivência. Em alguns momentos as pessoas mostraram
dificuldade para falar sobre si mesmas ou para ouvirem o outro.
Com o desenvolvimento dos trabalhos e o estabelecimento de um vínculo de confiança, foi possível notar o empenho dos
participantes em enfrentar o desafio de se autoconhecerem, responsabilizando-se pelo que são hoje e identificando os comportamentos
que poderiam ter conseqüências positivas para eles.
Outro fator considerado foi a própria avaliação verbal dos participantes sobre o processo de Orientação Profissional, de acordo com o
objetivo estabelecido para o grupo. Um recorte dos conteúdos, focado no autoconhecimento, ilustra os resultados: (1) “Eu gostei dessa
parte de se conhecer melhor, a gente não para e pensa nisso.”(2) “Aprendi muita coisa que não sabia, não pode ficar nervosa, agora eu
sei como fazer. Quando me chamarem vai ser diferente.”(3) “Eu gostei da dedicação, vocês ensinam com respeito.”(4) “Eu senti que
vocês têm respeito, e ensinaram a me comunicar com as pessoas.” (5) “ Eu contei pra minha colega o que vocês falaram sobre colocar
na ponta do lápis os gastos e lucros e que eu deveria tentar investir no meu pão. É verdade mesmo, é uma habilidade que eu tenho.
Decidi que vou continuar, porque tenho que valorizar aquilo que eu sei. Ela vai fazer o pão e eu vou vender, porque não gosto de
amassar.”.
5. Considerações Finais
O autoconhecimento é um processo que demanda tempo e coragem de enfrentamento, especialmente em uma população vulnerável
como a que compôs o grupo, carente de recursos materiais, de educação formal, de repertório social e até mesmo carentes de
autoestima, o que as mantém à margem das possibilidades de inserção no mercado de trabalho.
Por isso, na construção deste processo, foi importante agregar outros conceitos que deram visibilidade e materialidade ao que
nomeamos autoconhecimento. O reforçamento positivo social, manifestado através do elogio dirigido uns aos outros, possibilitou
trabalhar a autoestima, bem como discriminar as conseqüências do próprio comportamento, fortalecendo a autoconfiança.
A partir dos resultados obtidos, expressos pela verbalização dos participantes, pode-se supor que a vivência do grupo possibilitou o
despertar para esse processo de descoberta e valorização de suas habilidades, que além de ser uma conquista, é também uma
oportunidade que se tem de poder alterar a forma de olhar para a sociedade na qual estão inseridos, imbuídos de uma nova percepção
sobre si mesmos, mais produtiva, mais otimista, e... por que não, mais feliz.
Referências Bibliográficas
SILVA, André Luiz Picolli da; SOARES Dulce Helena Pena. A Orientação Profissional como rito preliminar de passagem: sua
importância clínica, 2001. Disponível em www.scielo.com.br. Acesso em 30/08/09.
SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo. São Paulo,
1982.

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Autoconhecimento importante para capacitação profissional

  • 1. 8º Simposio de Ensino de Graduação A IMPORTÂNCIA DO AUTOCONHECIMENTO NO PROCESSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL Autor(es) MARLENE APARECIDA MARTINES Co-Autor(es) SABRINA RAQUEL TOLEDO ROSADA SIMONE EDSONINA SILVA E SOUZA LEITE Orientador(es) MARIA ELISABETH SALVADOR CAETANO 1. Introdução O mercado de trabalho é um ambiente competitivo e exigente. A industrialização e a globalização trouxeram alto índice de desemprego e manter-se empregado implica em aperfeiçoamento e especialização constantes; o nível básico de escolarização não é suficiente e cursos profissionalizantes são oferecidos na tentativa de atender às exigências do mercado. (Silva & Soares, 2001). A Psicologia, através do processo de Orientação Profissional (O.P.), que visa reconhecer habilidades e interesses do indivíduo, favorece o amadurecimento do projeto de vida profissional. O psicólogo orienta os participantes a reconhecer e analisar as variáveis fundamentais: autoconhecimento, conhecimento das profissões e do mercado. O autoconhecimento contribui significativamente no processo de capacitação profissional e de planejamento de carreira. Para Skinner (1982, p.31), “o autoconhecimento é de origem social (...). Uma pessoa que se ‘tornou consciente de si mesma’ por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhor posição de prever e controlar seu próprio comportamento”. Neste sentido, espera-se que, a partir do autoconhecimento o sujeito possa fazer escolhas assertivas, que lhe tragam satisfação pessoal e êxito profissional. O orientador, por sua vez, contribui para o desenvolvimento do autoconhecimento de seu orientando, questionando e oferecendo feedbacks. O SAT/UNIMEP (Serviço de Apoio ao Trabalhador) e a SEMDES (Secretaria Municipal do Desenvolvimento Social) desenvolvem um trabalho de Orientação Profisssional com bolsistas da “Frente de Trabalho”, na perspectiva da sua (re)inserção social por meio da atividade trabalho. Trata-se de um projeto em que pessoas em situação de vulnerabilidade social cumprem um contrato de trabalho, sem vínculo empregatício, por seis meses e recebem uma bolsa de um salário mínimo, cesta básica e vale transporte. 2. Objetivos
  • 2. O objetivo deste resumo é apresentar um modelo de intervenção em Orientação Profissional, com ênfase no autoconhecimento, visando a busca por uma (re)inserção na sociedade por meio do trabalho. 3. Desenvolvimento A partir do cronograma dos encontros, elaborado pelas equipes do SAT/UNIMEP e SEMDES, os bolsistas são convocados pela SEMDES para participarem dos grupos de Orientação Profissional, que são formados por aproximadamente dez participantes, com idades entre 18 e 64 anos. A maior parte dos participantes busca uma re-inserção ao mercado de trabalho, porém há os que estão à procura do primeiro emprego formal. Cabe ressaltar que o trabalho de Orientação Profissional é realizado com grupos de bolsistas de diversos CRAS (Centro de Referência e Assistência Social) do município de Piracicaba; no entanto, o presente resumo se deterá a apenas um desses grupos. As orientadoras adotaram como procedimento geral realizar uma visita antecipada ao local dos encontros, para um primeiro contato com a equipe, visando a formação do vínculo necessário para o desenvolvimento da parceria entre as instituições. O trabalho em questão foi realizado com bolsistas do CRAS Jardim São Paulo, na cidade de Piracicaba. Esse grupo foi formado por oito mulheres e três homens, com idade entre 18 e 50 anos. Foram realizados seis encontros semanais, no período de 22/01 a 26/02/2010, com duração de 2h30min. Ao trabalhar o autoconhecimento, a dificuldade foi conscientizar o grupo sobre a importância de reconhecer suas habilidades, preferências, limitações e a responsabilidade por suas escolhas. Por incentivar a exposição oral de conteúdos que envolviam a vida pessoal dos participantes, como forma de reflexão e autoconhecimento, os aspectos éticos do sigilo e respeito foram preservados. O processo de O.P. no grupo foi desenvolvido através de técnicas que possibilitaram a identificação de habilidades e interesses, facilitando o reconhecimento das competências e preferências (Curtograma), a identificação de comportamentos reforçados social e positivamente, favorecendo a autoestima e a confiança por meio da discriminação das consequências positivas dos comportamentos (roda de conversa). A técnica do Curtograma consistiu em cada participante elencar verbalmente: coisas que faz e gosta; coisas que faz e não gosta; coisas que gosta e não faz; coisas que não gosta e não faz. A roda de conversa foi utilizada como treino das habilidades de comunicação e integração social, através de escuta atenta e feedback pontual dos conteúdos compartilhados. Todas as informações foram organizadas e analisadas na perspectiva da construção de perfis pessoais versus atuações profissionais, segundo as possibilidades reais de vida e capacitação de cada participante. Semanalmente foram realizadas supervisões com a orientadora, no CEAPsi (Centro de Estudos Aplicados em Psicologia), e nessas reuniões discutiu-se os encontros realizados e, as discussões subsidiavam a construção do encontro seguinte para melhor atender a demanda dos participantes. O contato entre as orientadoras e a equipe da SEMDES foi mantido, para que obtivessem o conhecimento da presença dos bolsistas nos encontros. O último encontro com o grupo teve como objetivos: resgatar os assuntos abordados e enfatizar a importância do autoconhecimento para as escolhas profissionais. Para finalizar o contato, as orientadoras presentearam os participantes com um pequeno cacto e fizeram a analogia com a vida e a capacidade de fazer escolhas: é preciso conhecer a planta para poder cuidar dela, oferecendo as condições necessárias para que ela sobreviva e floresça, levantando novamente a importância do autoconhecimento na vida das pessoas. 4. Resultado e Discussão Identificou-se dificuldade dos participantes em se envolverem no processo de autoconhecimento, devido a impedimentos como: história de vida, a realidade em que estão inseridos e a luta cotidiana pela sobrevivência. Em alguns momentos as pessoas mostraram dificuldade para falar sobre si mesmas ou para ouvirem o outro. Com o desenvolvimento dos trabalhos e o estabelecimento de um vínculo de confiança, foi possível notar o empenho dos participantes em enfrentar o desafio de se autoconhecerem, responsabilizando-se pelo que são hoje e identificando os comportamentos que poderiam ter conseqüências positivas para eles. Outro fator considerado foi a própria avaliação verbal dos participantes sobre o processo de Orientação Profissional, de acordo com o objetivo estabelecido para o grupo. Um recorte dos conteúdos, focado no autoconhecimento, ilustra os resultados: (1) “Eu gostei dessa parte de se conhecer melhor, a gente não para e pensa nisso.”(2) “Aprendi muita coisa que não sabia, não pode ficar nervosa, agora eu sei como fazer. Quando me chamarem vai ser diferente.”(3) “Eu gostei da dedicação, vocês ensinam com respeito.”(4) “Eu senti que vocês têm respeito, e ensinaram a me comunicar com as pessoas.” (5) “ Eu contei pra minha colega o que vocês falaram sobre colocar na ponta do lápis os gastos e lucros e que eu deveria tentar investir no meu pão. É verdade mesmo, é uma habilidade que eu tenho. Decidi que vou continuar, porque tenho que valorizar aquilo que eu sei. Ela vai fazer o pão e eu vou vender, porque não gosto de
  • 3. amassar.”. 5. Considerações Finais O autoconhecimento é um processo que demanda tempo e coragem de enfrentamento, especialmente em uma população vulnerável como a que compôs o grupo, carente de recursos materiais, de educação formal, de repertório social e até mesmo carentes de autoestima, o que as mantém à margem das possibilidades de inserção no mercado de trabalho. Por isso, na construção deste processo, foi importante agregar outros conceitos que deram visibilidade e materialidade ao que nomeamos autoconhecimento. O reforçamento positivo social, manifestado através do elogio dirigido uns aos outros, possibilitou trabalhar a autoestima, bem como discriminar as conseqüências do próprio comportamento, fortalecendo a autoconfiança. A partir dos resultados obtidos, expressos pela verbalização dos participantes, pode-se supor que a vivência do grupo possibilitou o despertar para esse processo de descoberta e valorização de suas habilidades, que além de ser uma conquista, é também uma oportunidade que se tem de poder alterar a forma de olhar para a sociedade na qual estão inseridos, imbuídos de uma nova percepção sobre si mesmos, mais produtiva, mais otimista, e... por que não, mais feliz. Referências Bibliográficas SILVA, André Luiz Picolli da; SOARES Dulce Helena Pena. A Orientação Profissional como rito preliminar de passagem: sua importância clínica, 2001. Disponível em www.scielo.com.br. Acesso em 30/08/09. SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. Cultrix, Ed. da Universidade de São Paulo. São Paulo, 1982.