O documento resume a história da Diocese de Juazeiro ao longo dos últimos 50 anos, desde sua fundação em 1962. Relembra os três bispos que lideraram a Diocese e os principais desafios enfrentados e conquistas alcançadas em termos de evangelização, formação do clero, apoio às comunidades e promoção dos direitos humanos.
Primeiras páginas da Bíblia Comemorativa do Jubileu
1. ORAÇÃO DO JUBILEU
Ó Trindade Santa, nós vos louvamos e agradecemos pela nossa Diocese, “Povo de Deus”,
que está em Juazeiro, pelos 50 anos de Missão a serviço da Vida. Louvamos pelas nossas
Famílias e pelas nossas comunidades, primeiras “igrejas domésticas”, pelo seu testemunho
e pela transmissão da Fé. Agradecemos pelos nossos Bispos, Sacerdotes, Religiosas,
Religiosos, catequistas e animadores de comunidades que zelaram pela semente aqui
plantada.
Jesus, Caminho, Verdade e Vida, razão da nossa alegria e esperança, alimentai-nos com o
Pão da Palavra e com o Pão da Eucaristia! Fazei-nos apaixonados por Deus e solidários das
pessoas humanas. Dai-nos vocações sacerdotais, religiosas e leigas, inflamadas por novo
ardor evangelizador.
Ó Maria, Mãe de Deus e nossa, Senhora das Grotas, padroeira da Diocese, seja nosso
modelo e ajude-nos a dizer sim aos apelos dos homens e das mulheres de nosso tempo. Que
na grande festa da vida e nas nossas bodas de ouro, saibamos fazer tudo o que o Senhor nos
disser!Nós vos pedimos, ó Pai, por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém!
2. NOSSA DIOCESE
A Diocese de Juazeiro situa-se às margens do Rio São Francisco, na Região Nordeste
da Bahia, no coração da caatinga. Tem conformação ligeiramente alongada,
acompanhando o leito do Rio que a divide em duas partes.
Desde 2005 compõe-se de nove municípios: Campo Alegre de Lourdes, Casa Nova,
Curaçá, Juazeiro, Pilão Arcado, Remanso, Sento Sé, Sobradinho e Uauá. Com uma área de
aproximadamente 60.000 Km2, sua população ultrapassa 500.000 habitantes.
Quatorze são as paróquias: seis em Juazeiro e oito nas demais cidades.
Desde sua fundação, a Diocese, em sintonia com a toda a Igreja, tem se voltado para a
promoção integral e harmônica da pessoa humana, dando prioridade aos menos
favorecidos, buscando educar, organizar e apoiar o homem e a mulher, tanto da cidade
como do campo. As Pastorais Sociais (Pastoral da Terra, Pastoral dos Pescadores e
Pescadoras, a Pastoral da Mulher Marginalizada, a Pastoral da Pessoa Idosa, a Pastoral da
Criança...) surgiram para responder às necessidades e urgências gritantes da nossa
sociedade.
Os desafios são muitos e, apesar de anos de intenso trabalho, ainda tem muito por fazer:
regularização fundiária, na cidade e no campo, a questão da água tanto para consumo
humano como para produção e a revitalização do Rio São Francisco. Os desafios pastorais
não são menores: a questão da droga e da violência, a juventude desamparada e sem rumo,
a formação de liderança, consciente e participativa.
Para realizar esse grande projeto: acompanhar o Povo de Deus na sua caminhada,
assessorar as demais Pastorais e Movimentos, é necessário muita gente: padres,
religiosos/as e leigos/as (agentes de pastoral). Os agentes de pastoral são numerosos e, de
modo especial, a catequese se organiza cada vez mais e vê aumentar seu número que já
passa de três mil.
O clero diocesano vem crescendo às duras penas, mas, hoje a diocese conta com 25 padres,
três diáconos e dez seminaristas maiores. O povo que está nesta Igreja particular de
Juazeiro, caminha rumo à Cidade cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus. Quer ser fiel
discípulo de Jesus Cristo e se sente amparado pela mãe Padroeira, Nossa Senhora das
Grotas.
Dom José Geraldo da Cruz, a.a.
Bispo Diocesano de Juazeiro – BA
3. UM OLHAR SOBRE NOSSA HISTÓRIA
Primeiro veio a Evangelização
A civilização brasileira começou adentrar o Brasil a partir do São Francisco.
Salvador ainda era a capital da Colônia, a cana tomava conta do Recôncavo, mas o gado
que abastecia Salvador já era criado no rio Salitre, afluente do São Francisco. A estrada
boiadeira, que levava o gado até Salvador, existe até hoje, cortando a região em direção
de Uauá, assim até a antiga capital.
Foi acompanhando as fazendas de gado – muitas das quais se tornaram cidades –
que os primeiros missionários andaram pelo São Francisco. Pambu, hoje interior de
Curaçá, foi um dos pontos de missão dos Capuchinhos, que aprenderam a língua Cariri e
evangelizaram os índios em sua língua de origem.
O primeiro a chegar na região foi o francês Bernard de Nantes, que embarcou para
o Brasil aproximadamente em 1677 e, entre fins de 1681 e início de 1682, se dirigiu à
região do São Francisco.
A missão franciscana chega a Juazeiro em 1706. Erguem uma capela com a
imagem da Nossa Senhora das Grotas (Grutas), encontrada no rio São Francisco. Ela foi
encontrada por um índio, que a entregou a um vaqueiro, que a repassou para um
missionário que pregava no sertão. Juazeiro já era um dos pontos de passagem do gado,
facilitado pela Ilha do Fogo.
Assim, durante séculos, antes que a Diocese de Juazeiro fosse criada,
missionários e padres que faziam as desobrigas perambularam pelo sertão do São
Francisco, alongando-se pelas caatingas, visitando as comunidades e realizando as
famosas desobrigas, isto é, momentos para batizar, casar e celebrar a missa. A catequese
cotidiana e a evangelização mais constante ficava para os leigos do local. Quem quiser
mais detalhes desses viajantes, pode ler o livro de Pe. Heitor, “Vinte anos de Sertão”.
A Criação da Diocese de Juazeiro
Toda essa região pertencia à Diocese de Barra, de onde partiam os realizadores das
desobrigas. Barra foi desmembrada de Salvador. Desciam o São Francisco de barco e,
em determinados locais, adentravam a caatinga. Assim, por muitos anos, o território do
que hoje é a Diocese de Juazeiro, era uma área pertencente à Diocese de Barra.
Mas, em 21 de Julho de 1962 o Papa João XXIII criou a diocese de Juazeiro.
Começa a existir uma igreja juazeirense propriamente dita.
O primeiro bispo dessa diocese foi D. Tomás Murphy, um padre cidadão
americano que atuava em Manaus. Ele foi ordenado bispo em 10 de Janeiro de 1963. Ele
era da congregação dos Redentoristas.
Sua primeira tarefa como bispo foi tentar dar um mínimo de estrutura à nova e
grande diocese. Na verdade, era e é, até hoje, um espaço de missão. Municípios como
Pilão Arcado e Sento Sé, por seus tamanhos, além das dificuldades de acesso até hoje,
são praticamente áreas missionárias. Assim também Campo Alegre de Lourdes, não
tanto pelo tamanho, mas pelo isolamento em que vive devido à condição das estradas.
Mas, ele não ficou apenas na dimensão administrativa. Com poucos padres e
religiosas para cooperar em sua missão, criou movimentos que à época tinham força no
4. Brasil, como o Cursilho de Cristandade, Treinamento de Líderes Cristãos. Foi um
primeiro momento decisivo para os tempos que viriam depois.
O Bispado de D. José Rodrigues
Quando D. Tomás renunciou, por motivo de saúde, veio para seu lugar D. José
Rodrigues, um bispo também redentorista. Tomou posse em 16 de fevereiro de 1975.
Acontece que, quando chegou, o regime militar estava no auge de seu poder. Toda
essa região era área de segurança nacional e os prefeitos eram indicados pelo
governador da Bahia e nomeados pelo presidente da Republica. Em 1974 começaram as
obras da barragem de Sobradinho, concluída em 1978. Quatro cidades foram relocadas
– Casa Nova, Pilão Arcado, Sento Sé e Remanso -, removendo aproximadamente 72 mil
pessoas. Sem dúvida, uma situação caótica.
Ainda com poucos padres e religiosas, chamou leigos que pudessem ajudar na
tarefa de apoiar essa população em transe. A Igreja vivia naquele momento a atualização
do Concilio Vaticano II na América Latina, particularmente a partir da Conferência de
Medellin e depois de Puebla.
Então fez-se na diocese uma opção pelos pobres, concretamente por essas
populações relocadas e abandonadas pelo poder público. Investiu-se muito nas
Comunidades Eclesiais de Base, nas lideranças vindas do povo, na formação bíblica,
catequética, no apoio à defesa da terra, na conquista da água e de uma nova política para
essa região. Foram tempos de muitos conflitos, mas também de uma firme decisão de
estar efetivamente com o povo.
Nesse período também foram criadas várias pastorais sociais que deram apoio ao
povo necessitado, como a da Mulher Marginalizada, da Saúde, da Terra, dos
Pescadores, etc.
As conquistas para a população dessa região, com a contribuição da diocese, foram
muitas. Houve uma relativa mudança política com a queda das oligarquias, uma certa
defesa da terra, dos direitos dos reassentados, da conquista da água, enfim, de uma
cidadania mais avançada. A vida do povo em geral é melhor que 30 anos atrás.
Mas, é preciso realçar, sobretudo, a conquista de uma fé encarnada, mais madura,
comprometida, de uma igreja tecida de rostos locais, uma igreja sertaneja, juazeirense e
franciscana. Uma legião de leigos e leigas, liderando as comunidades, promovendo a
catequese e celebrando a palavra nos cultos dominicais, promove a evangelização de
base, que chega nas comunidades do interior, onde ainda hoje é mais rara a presença dos
padres.
Terceiro Bispado
Com a saída e D. José Rodrigues, pelo avançado de sua idade, em 30 de agosto de
2003 chegou D. José Geraldo, o atual bispo, da Congregação dos Assuncionistas.
No primeiro momento não houve grandes rupturas com o legado de D. Thomás
Murphy e D. José Rodrigues. Houve sim uma acentuação na formação de um clero
5. local, na formação de seminaristas. O resultado é uma quantidade maior de padres que
vão assumindo as paróquias onde havia poucos padres.
Também houve nesse período a incorporação do município de Uauá à diocese de
Juazeiro, assim como a fundação de novas paróquias, que aos poucos dão outra
configuração geográfica ao território diocesano.
Foram criadas outras pastorais, como a Pastoral da Pessoa Idosa, Comunicação e
Universitária. Vem sendo dada uma reanimação na Catequese.
Há também uma maior preocupação com a questão administrativa, de se criar uma
infraestrutura mais aparelhada para dar conta das atividades pastorais.
O pastoreio de D. José Geraldo ainda está em andamento, e nele celebraremos os
50 anos de fundação da Diocese de Juazeiro.
Chegamos assim aos 50 anos da Diocese de Juazeiro com um belo histórico de
serviço ao povo, em todas as suas dimensões, como pede o episcopado latino americano
desde Medellin.
Certamente ainda há muito por fazer, tanto para dentro da Igreja como também
para o conjunto da sociedade. Mas, essa Igreja de certa forma ainda jovem, já tem
história para contar e celebrar nesses seus 50 anos de existência e mais de 300 anos de
evangelização.
Roberto Malvezzi (Gogó)
6. REGIONAIS E PARÓQUIAS
Regional 1 : Juazeiro Regional 3: PARECAL
Paróquia Nossa Senhora das Grotas – Pilão Arcado: Paróquia Santo Antonio
Catedral Remanso: Paróquia Nossa Senhora do
Paróquia São Cosme e São Damião Rosário
Paróquia Santo Antonio Campo Alegre de Lourdes: Paróquia
Paróquia Santa Teresinha Nossa Senhora de Lourdes
Paróquia Nossa Senhora Aparecida
Paróquia Santo Afonso Regional 4: CURAUÁ
Curaçá: Paróquia S. Benedito e Bom
Regional 2: CANSOSÉ Jesus da Boa Morte
Casa Nova: Paróquia São José Operário Uauá: Paróquia São João Batista
Sobradinho: Paróquia São Francisco
Sento Sé: Paróquia São José
Igreja Catedral
7. Curaçá Pilão Arcado Santo Afonso
Uauá Campo Alegre de Lourdes Santo Antônio
CasaNova Nossa Senhora Aparecida Santa Terezinha
Sento Sé Sobradinho São Cosme e São Damião
Remanso
8. HINO DO CINQUENTENÁRIO (Gogó)
Nosso Deus, Oh Deus da vida! Venha a nós teu santo Reino
Esse povo que te ama E o pão de cada dia
Essa igreja nordestina Faça-se tua vontade
Juazeirense e franciscana Na justiça e na alegria.
Te agradece pela vida
Pela longa caminhada O nosso Deus.....
Tanta graça recebida
Tanta vida aqui doada Como o São Francisco corre
E a caatinga também brota
O nosso Deus Não nos falte nas estradas
É o Deus da vida Nossa Senhora das Grotas.
O nosso Deus é Todos santos sertanejos
Justiça e paz. Abençoem nosso chão
E o futuro colocamos
Tanta sede resolvida Na palma de tuas mãos.
Tanta fome superada
O pão da vida repartido O nosso Deus....
E a palavra celebrada
HINO DA PADROEIRA (Gogó)
Nossa Senhora Mãe das Hoje estás em casa índio,
Grotas, de tuas mãos que em cada nordestino que
brota a nossa santa luta pra fazer libertação.
proteção. Estás, também, em um
Ó mãe dos humilhados e qualquer: no velho, no
ofendidos, dos flagelados jovem, na criança, na força
e oprimidos, dá-nos e na beleza da mulher!
sempre a tua mão!
Ò Senhora dos sertões das
Quando o índio foi ao rio e, terras sempre quentes, tem
nas grotas do rio, encontrou pena desse povo e sê
a tua imagem, nas grotas do clemente! E sempre em
rio tão velho e nobre teus braços vê se acolhe os
mostraste, assim, a todo que tombam, os ficam e os
povo o amor que tu tens que fogem, os que lutam, os
pelos pobres. que vivem e os que
morrem!
E do índio pro vaqueiro e
sob os juazeiros, às mãos
do que pregava no sertão.
Às margens do Rio São
Francisco, no pouso de
descanso dos tropeiros,
nascia Maria em Juazeiro!