SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 6
Downloaden Sie, um offline zu lesen
Mensagem de Bento XVI para a
               Quaresma 2011




«Sepultados com Ele no baptismo, foi também com Ele que
ressuscitastes» (cf. Cl 2, 12)

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a
Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me
sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o
devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu
Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na
caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito,
para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em
Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).




1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo,
quando, «tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo»
iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na
Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas
suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o
Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o
Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata
de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias
forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na
própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é
comunicada gratuitamente ao homem.

O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da
transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição
de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à
força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos,
configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos
mortos» (Fl 3, 10-11). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado,
mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado,
doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e
apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.

Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento
favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio
Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais
abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal»
(Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja
associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento
realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado,
é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o
mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11).
Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a
Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para
os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de
hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem
o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência.




2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos
prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais
jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais
adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a
Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para
um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos
repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os
catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento,
para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no
seguimento de Cristo e na doação total a Ele.

O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do
homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início
à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade
para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo,
caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25).
É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de
Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo
tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem
sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo
disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e
guiar-nos na vitória às seduções do mal.

O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a
glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização
do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como
os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17,
1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça
de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo.
Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana
para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os
dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde
discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o
Senhor.

O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é
proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por
todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da
«água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que
faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em
espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do
bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho,
irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar
em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.

O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O
Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?».
«Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença,
fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo,
juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa
fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso
único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem
a viver como «filho da luz».

Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro,
somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a
ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade
cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda
a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo,
o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com
Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver
sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida
eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência:
Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa
a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência
pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da
luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro,
sem esperança.

O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal,
particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas
baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida
que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito
Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à
acção da Graça para sermos seus discípulos.




3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do
Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso
coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que
nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao
próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz
de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1
Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na
sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas
tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de
conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o
amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o
cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a
nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da
doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só
do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para
descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos
irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em
maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com
que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).
No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do
dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse
provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente
no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade
de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas
despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que
promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte
da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está
cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder
garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola:
«Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato!
Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da
esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o
próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.

Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular
abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver
quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de
oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso
coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A
oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de
facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia
simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro.
Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que
«as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela
comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e
que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.




Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a
contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de
Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida:
deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no
caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a
vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de
domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período
quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade,
acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do
Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso
Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de
conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo.
Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos
concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas
acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a
vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e
autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou
o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e
ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.

BENEDICTUS PP XVI

(tradução oficial do Vaticano)

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019
Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019
Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019
raparecido2600
 
Mensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portuguésMensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portugués
Davinia Martínez
 
Lição 9 a pureza do movimento pentecostal
Lição 9   a pureza do movimento pentecostalLição 9   a pureza do movimento pentecostal
Lição 9 a pureza do movimento pentecostal
Jose Ventura
 

Was ist angesagt? (20)

Carta apostolica-porta-fideli
Carta apostolica-porta-fideliCarta apostolica-porta-fideli
Carta apostolica-porta-fideli
 
Lição 11 - A Páscoa Desejada
Lição 11 - A Páscoa DesejadaLição 11 - A Páscoa Desejada
Lição 11 - A Páscoa Desejada
 
Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019
Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019
Diretrizes gerais-de-evangelizacao--doc102--2015-a-2019
 
Os sacramentos em nossa vida
Os sacramentos em nossa vidaOs sacramentos em nossa vida
Os sacramentos em nossa vida
 
Curso de-ministros
Curso de-ministrosCurso de-ministros
Curso de-ministros
 
Os sacramento do batismo
Os sacramento do batismoOs sacramento do batismo
Os sacramento do batismo
 
Lição 1 - Discernindo as bênçãos de Deus
Lição 1 - Discernindo as bênçãos de DeusLição 1 - Discernindo as bênçãos de Deus
Lição 1 - Discernindo as bênçãos de Deus
 
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano SantoO Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
O Rosto da Misericórdia - Bula Misericordiae Vultus - Ano Santo
 
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRAFORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
FORMAÇÃO PAROQUIAL PARA MINISTROS EXTRAORDINÁRIO DA PALAVRA
 
Lição 10 - Acerca do Fim dos Tempos
Lição 10 - Acerca do Fim dos TemposLição 10 - Acerca do Fim dos Tempos
Lição 10 - Acerca do Fim dos Tempos
 
5 ra terceira semana para envio- Retiro de Advento/Natal 2013…
5 ra terceira semana para envio- Retiro de Advento/Natal 2013…5 ra terceira semana para envio- Retiro de Advento/Natal 2013…
5 ra terceira semana para envio- Retiro de Advento/Natal 2013…
 
Mensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portuguésMensaje cuaresma 2013 portugués
Mensaje cuaresma 2013 portugués
 
Palestra ministros palavra
Palestra ministros palavraPalestra ministros palavra
Palestra ministros palavra
 
Lição 3 - Lucas: o evangelho da alegria
Lição 3 - Lucas: o evangelho da alegriaLição 3 - Lucas: o evangelho da alegria
Lição 3 - Lucas: o evangelho da alegria
 
Os sacramentos da igreja - Aula 12
Os sacramentos da igreja - Aula 12Os sacramentos da igreja - Aula 12
Os sacramentos da igreja - Aula 12
 
21º Encontro - Sacramentos e Sacramentos da iniciação
21º Encontro - Sacramentos e Sacramentos da iniciação21º Encontro - Sacramentos e Sacramentos da iniciação
21º Encontro - Sacramentos e Sacramentos da iniciação
 
Crisma - Slide formativo
Crisma - Slide formativoCrisma - Slide formativo
Crisma - Slide formativo
 
Lição 9 a pureza do movimento pentecostal
Lição 9   a pureza do movimento pentecostalLição 9   a pureza do movimento pentecostal
Lição 9 a pureza do movimento pentecostal
 
Qual o real significado do batismo
Qual o real significado do batismoQual o real significado do batismo
Qual o real significado do batismo
 
Livrinho sacramento do batismo
Livrinho sacramento do batismoLivrinho sacramento do batismo
Livrinho sacramento do batismo
 

Andere mochten auch

Interatividade - Shaiane-Priscila-Italo
Interatividade - Shaiane-Priscila-ItaloInteratividade - Shaiane-Priscila-Italo
Interatividade - Shaiane-Priscila-Italo
tatiane.behling
 
Aasp alimentos - 110407 - sentença belo horizonte
Aasp   alimentos - 110407 - sentença belo horizonteAasp   alimentos - 110407 - sentença belo horizonte
Aasp alimentos - 110407 - sentença belo horizonte
Pedro Kurbhi
 
Kramer tech steps_chris
Kramer tech steps_chrisKramer tech steps_chris
Kramer tech steps_chris
Greg Cross
 
Direito sao bernardo tgdp - 110322b - parte 5b - blog
Direito sao bernardo   tgdp - 110322b - parte 5b - blogDireito sao bernardo   tgdp - 110322b - parte 5b - blog
Direito sao bernardo tgdp - 110322b - parte 5b - blog
Pedro Kurbhi
 
A santa ceia
A santa ceiaA santa ceia
A santa ceia
krlos2427
 
Aumente a performance de seu site
Aumente a performance de seu siteAumente a performance de seu site
Aumente a performance de seu site
Henrique Lima
 
Previa interbancos2
Previa interbancos2Previa interbancos2
Previa interbancos2
daviramosrs
 
Prepare-se para o próximo estágio da evolução PHP
Prepare-se para o próximo estágio da evolução PHPPrepare-se para o próximo estágio da evolução PHP
Prepare-se para o próximo estágio da evolução PHP
Raphael Almeida
 
Condición física salud 1º bachillerato ies muñoz seca
Condición física salud 1º bachillerato ies muñoz secaCondición física salud 1º bachillerato ies muñoz seca
Condición física salud 1º bachillerato ies muñoz seca
Jose Javier Martínez García
 
Frequência da Guarda Municipal de Valença/BA
Frequência da Guarda Municipal de Valença/BAFrequência da Guarda Municipal de Valença/BA
Frequência da Guarda Municipal de Valença/BA
Leandro Santos da Silva
 
Poema pessoa
Poema pessoaPoema pessoa
Poema pessoa
Jose Rosa
 

Andere mochten auch (20)

Interatividade - Shaiane-Priscila-Italo
Interatividade - Shaiane-Priscila-ItaloInteratividade - Shaiane-Priscila-Italo
Interatividade - Shaiane-Priscila-Italo
 
Aasp alimentos - 110407 - sentença belo horizonte
Aasp   alimentos - 110407 - sentença belo horizonteAasp   alimentos - 110407 - sentença belo horizonte
Aasp alimentos - 110407 - sentença belo horizonte
 
Os2
Os2Os2
Os2
 
Kramer tech steps_chris
Kramer tech steps_chrisKramer tech steps_chris
Kramer tech steps_chris
 
Maduros São os Tais
Maduros São os TaisMaduros São os Tais
Maduros São os Tais
 
Direito sao bernardo tgdp - 110322b - parte 5b - blog
Direito sao bernardo   tgdp - 110322b - parte 5b - blogDireito sao bernardo   tgdp - 110322b - parte 5b - blog
Direito sao bernardo tgdp - 110322b - parte 5b - blog
 
A santa ceia
A santa ceiaA santa ceia
A santa ceia
 
Aumente a performance de seu site
Aumente a performance de seu siteAumente a performance de seu site
Aumente a performance de seu site
 
Pegando no Tranco - o Brasil do jeito que você nunca pensou
Pegando no Tranco - o Brasil do jeito que você nunca pensouPegando no Tranco - o Brasil do jeito que você nunca pensou
Pegando no Tranco - o Brasil do jeito que você nunca pensou
 
Nova Ipanema
Nova IpanemaNova Ipanema
Nova Ipanema
 
Previa interbancos2
Previa interbancos2Previa interbancos2
Previa interbancos2
 
Prepare-se para o próximo estágio da evolução PHP
Prepare-se para o próximo estágio da evolução PHPPrepare-se para o próximo estágio da evolução PHP
Prepare-se para o próximo estágio da evolução PHP
 
Condición física salud 1º bachillerato ies muñoz seca
Condición física salud 1º bachillerato ies muñoz secaCondición física salud 1º bachillerato ies muñoz seca
Condición física salud 1º bachillerato ies muñoz seca
 
Frequência da Guarda Municipal de Valença/BA
Frequência da Guarda Municipal de Valença/BAFrequência da Guarda Municipal de Valença/BA
Frequência da Guarda Municipal de Valença/BA
 
Downloads tutorial
Downloads tutorialDownloads tutorial
Downloads tutorial
 
Cursoaasp2011
Cursoaasp2011Cursoaasp2011
Cursoaasp2011
 
Outdoor em diadema 13.08
Outdoor em diadema 13.08Outdoor em diadema 13.08
Outdoor em diadema 13.08
 
Manual os
Manual osManual os
Manual os
 
Portefólio
PortefólioPortefólio
Portefólio
 
Poema pessoa
Poema pessoaPoema pessoa
Poema pessoa
 

Ähnlich wie Mensagem de bento xvi para a quaresma 2011

PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)
PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)
PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)
Luís Carvalho
 
Carta apostólica porta fidei 5
Carta apostólica porta fidei 5Carta apostólica porta fidei 5
Carta apostólica porta fidei 5
Carlos Santana
 
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTESJORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
Francisco Ferreira
 
Somos Servos - Junho de 2014
Somos Servos - Junho de 2014Somos Servos - Junho de 2014
Somos Servos - Junho de 2014
Charlie Maria
 
Pasqua2013 por
Pasqua2013 porPasqua2013 por
Pasqua2013 por
scapolan
 
Aula26 130816134324-phpapp01
Aula26 130816134324-phpapp01Aula26 130816134324-phpapp01
Aula26 130816134324-phpapp01
Gildemar Silva
 
Mensagem do santo padre português
Mensagem do santo padre  portuguêsMensagem do santo padre  português
Mensagem do santo padre português
Davinia Martínez
 

Ähnlich wie Mensagem de bento xvi para a quaresma 2011 (20)

PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)
PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)
PASCOA 2014 .... A nossa Páscoa (4/4)
 
Jornal dezembro
Jornal dezembroJornal dezembro
Jornal dezembro
 
Carta apostólica porta fidei 5
Carta apostólica porta fidei 5Carta apostólica porta fidei 5
Carta apostólica porta fidei 5
 
- A PARTICIPAÇÃO NA SANTA MISSA (1).ppt
- A PARTICIPAÇÃO NA SANTA MISSA (1).ppt- A PARTICIPAÇÃO NA SANTA MISSA (1).ppt
- A PARTICIPAÇÃO NA SANTA MISSA (1).ppt
 
Porta Fidei
Porta FideiPorta Fidei
Porta Fidei
 
6º Encontro ano da fé documento de aparecida
6º Encontro ano da fé   documento de aparecida6º Encontro ano da fé   documento de aparecida
6º Encontro ano da fé documento de aparecida
 
O contexto pós moderno da liturgia
O contexto pós moderno da liturgiaO contexto pós moderno da liturgia
O contexto pós moderno da liturgia
 
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTESJORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
JORNADA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELA SANTIFICAÇÃO DOS SACERDOTES
 
Sacramentos
SacramentosSacramentos
Sacramentos
 
Somos Servos - Junho de 2014
Somos Servos - Junho de 2014Somos Servos - Junho de 2014
Somos Servos - Junho de 2014
 
Pasqua2013 por
Pasqua2013 porPasqua2013 por
Pasqua2013 por
 
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
Missão como transmissao da "Alegria do Evangelho"
 
A Conversão
A ConversãoA Conversão
A Conversão
 
Lição 9 - O Batismo – A Primeira Ordenança da Igreja.pptx
Lição 9 - O Batismo – A Primeira Ordenança da Igreja.pptxLição 9 - O Batismo – A Primeira Ordenança da Igreja.pptx
Lição 9 - O Batismo – A Primeira Ordenança da Igreja.pptx
 
Aula26 130816134324-phpapp01
Aula26 130816134324-phpapp01Aula26 130816134324-phpapp01
Aula26 130816134324-phpapp01
 
A despedida
A despedidaA despedida
A despedida
 
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Abril ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Abril ...Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Abril ...
Folha de São Pedro - O Jornal da Paróquia de São Pedro (Salvador-BA) - Abril ...
 
P1301 a vida _venceu_a_morte
P1301 a vida _venceu_a_morteP1301 a vida _venceu_a_morte
P1301 a vida _venceu_a_morte
 
Roteiro homilético do domingo de páscoa da ressurreição ano c
Roteiro homilético do domingo de páscoa da ressurreição ano cRoteiro homilético do domingo de páscoa da ressurreição ano c
Roteiro homilético do domingo de páscoa da ressurreição ano c
 
Mensagem do santo padre português
Mensagem do santo padre  portuguêsMensagem do santo padre  português
Mensagem do santo padre português
 

Mehr von Nuno Bessa (20)

02 08-2015
02 08-201502 08-2015
02 08-2015
 
Mês maria 2015
Mês maria 2015Mês maria 2015
Mês maria 2015
 
Calendário mês de maria
Calendário mês de mariaCalendário mês de maria
Calendário mês de maria
 
Marã© t quaresmal 2015
Marã© t quaresmal 2015Marã© t quaresmal 2015
Marã© t quaresmal 2015
 
Calendã¡rio quaresma 2015
Calendã¡rio quaresma 2015Calendã¡rio quaresma 2015
Calendã¡rio quaresma 2015
 
Festa da família - esquema (1)
Festa da família - esquema (1)Festa da família - esquema (1)
Festa da família - esquema (1)
 
F. família 2014
F. família 2014 F. família 2014
F. família 2014
 
Avisos paróquia
Avisos paróquiaAvisos paróquia
Avisos paróquia
 
Maré Alta Ceias de natal 2014
Maré Alta Ceias de natal 2014Maré Alta Ceias de natal 2014
Maré Alta Ceias de natal 2014
 
Avisos paróquia
Avisos paróquiaAvisos paróquia
Avisos paróquia
 
S.martinho 2014
S.martinho 2014S.martinho 2014
S.martinho 2014
 
06 09-2014
06 09-201406 09-2014
06 09-2014
 
Programação 2014 2015 versão final
Programação 2014 2015   versão finalProgramação 2014 2015   versão final
Programação 2014 2015 versão final
 
06 09-2014 (2)
06 09-2014 (2)06 09-2014 (2)
06 09-2014 (2)
 
Festa das colheitas2014 (2)
Festa das colheitas2014 (2)Festa das colheitas2014 (2)
Festa das colheitas2014 (2)
 
Fichadeinscricao
FichadeinscricaoFichadeinscricao
Fichadeinscricao
 
Avisos
AvisosAvisos
Avisos
 
Avisos de 10 a 16 de Agosto
Avisos de 10 a 16 de AgostoAvisos de 10 a 16 de Agosto
Avisos de 10 a 16 de Agosto
 
02 08-2014
02 08-201402 08-2014
02 08-2014
 
27 07-2014
27 07-201427 07-2014
27 07-2014
 

Mensagem de bento xvi para a quaresma 2011

  • 1. Mensagem de Bento XVI para a Quaresma 2011 «Sepultados com Ele no baptismo, foi também com Ele que ressuscitastes» (cf. Cl 2, 12) Amados irmãos e irmãs! A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma). 1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Baptismo, quando, «tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo» iniciou para nós «a aventura jubilosa e exaltante do discípulo» (Homilia na Festa do Baptismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O facto que na maioria dos casos o Baptismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na
  • 2. própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo» (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem. O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa «conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos» (Fl 3, 10-11). O Baptismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do baptizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo. Um vínculo particular liga o Baptismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos baptismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De facto, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Baptismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Baptismo como um acto decisivo para toda a sua existência. 2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é baptizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele. O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início
  • 3. à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é activo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal. O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor. O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho. O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: «Tu crês no Filho do Homem?». «Creio, Senhor» (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como «filho da luz». Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: «Eu sou a
  • 4. ressurreição e a vida... Crês tu isto?» (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: «Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas baptismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos «da água e do Espírito Santo», e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à acção da Graça para sermos seus discípulos. 3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Baptismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a «terra», que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a «palavra da Cruz» manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).
  • 5. No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projectos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia. Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo. A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de facto, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que «as suas palavras não passarão» (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele «que ninguém nos poderá tirar» (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna. Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
  • 6. Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Baptismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas acções. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna. BENEDICTUS PP XVI (tradução oficial do Vaticano)