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DOENÇA DE CHAGAS
 A doença de Chagas, mal de Chagas ou chaguismo,
também chamada tripanossomíase americana, é uma
infecção causada pelo protozoário cinetoplástida
flagelado Trypanosoma cruzi, e transmitida por insetos,
conhecidos no Brasil como barbeiros, ou ainda,
chupança, fincão, bicudo, chupão, procotó, (da família
dos Reduvídeos (Reduviidae), pertencentes aos gêneros
Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus.
 Trypanosoma cruzi é um membro do mesmo gênero do agente infeccioso africano da doença
do sono e da mesma ordem que o agente infeccioso da leishmaniose, mas as suas
manifestações clínicas, distribuição geográfica, ciclo de vida e de insetos vetores são bastante
diferentes.
 Os sintomas da doença de Chagas podem variar durante o curso da infecção. No início dos
anos, na fase aguda, os sintomas são geralmente ligeiros, não mais do que inchaço nos locais
de infecção. À medida que a doença progride, durante até vinte anos, os sintomas tornam-se
crônicos e graves, tais como doença cardíaca e de intestino.
 Se não tratada, a doença crônica é muitas vezes fatal. Os tratamentos medicamentosos atuais
para o tratamento desta doença são pouco satisfatórios, com os medicamentos com
significativo efeito colateral, muitas vezes, ineficazes, em especial na fase crônica da doença.
EPIDEMIOLOGIA
 Estima-se que existam até 18 milhões de pessoas com esta doença, entre os 100 milhões que
constituem a população de risco, distribuída por 18 países americanos. Dos infectados, cerca de
20 000 morrem a cada ano.
 A doença de Chagas crônica é um problema epidemiológico apenas em alguns países da
América Latina, mas a migração crescente de populações aumentou o risco de transmissão por
transfusão de sangue até mesmo nos EUA, e têm surgido casos da doença em animais silvestres
até à Carolina do Norte.
 Distribuída pelas Américas desde os EUA até a
Argentina, atinge principalmente as populações
rurais pobres. As casas pobres, com reboco
defeituoso e sem forro, são habitat para o inseto
barbeiro, que dorme de dia nas rachaduras das
paredes e sai à noite para sugar o sangue das
pessoas que dormem, geralmente no rosto ou
onde a pele é mais fina.
 A doença afeta muitos outros vertebrados além
do Homem: cães, gatos, roedores, tatus e
gambás podem ser infectados e servir de
reservatório do parasita.
TRANSMISSÃO
 O barbeiro se infecta ao sugar o sangue de um
organismo infectado.
 No intestino do vetor, o tripomastigoto se
transforma em epimastigoto que então se reproduz.
O tripomastigoto não se reproduz.
 O homem por sua vez, é afectado pelas fezes ou
urina contaminadas do Triatomíneo (barbeiro no
Brasil) pois enquanto suga o sangue, defeca nesse mesmo local.
 A infestação também pode ser por transfusão de sangue ou transplante de órgãos, ou por via
placentária.
 O coito é uma forma de transmissão nunca comprovada na espécie humana embora já tenham
encontrado tripomastigotas em menstruação de mulheres com Chagas e em esperma de
cobaias infectadas.
SINTOMATOLOGIA
 A doença tem uma fase aguda, de curta duração, que em alguns doentes progride para uma
fase crônica.
 A fase aguda é geralmente assintomática, e tem uma incubação de uma semana a um mês após
a picada. No local da picada pode-se desenvolver uma lesão volumosa, o chagoma, local
eritematosa (vermelha) e edematosa (inchada).
 Se a picada for perto do olho é frequente
a conjuntivite com edema da pálpebra,
também conhecido por sinal de Romaña.
Outros sintomas possíveis são febre,
linfadenopatia, anorexia,
hepatoesplenomegalia, miocardite
brandas e mais raramente também
meningoencefalite.
 Entre 20 a 60% dos casos agudos se
transformam, em 2 a 3 meses, em portadores com parasitas sanguíneos continuamente,
curando-se os restantes. No entanto, em todos os casos param os sintomas após cerca de dois
meses. Muitos mas não todos os portadores do parasita desenvolvem sintomas devido à
doença crônica.
 O caso crônico permanece assintomático durante dez a vinte anos. No entanto neste período
de bem-estar geral, o parasita está se reproduzindo continuamente em baixos números,
causando danos irreversíveis em órgãos como o sistema nervoso e o coração. O fígado também
é afetado mas como é capaz de regeneração, os problemas são raros.
 O resultado é apenas aparente após uma ou duas décadas de progressão, com aparecimento
gradual de demência (3% dos casos iniciais), cardiomiopatia (em 30% dos casos), ou dilatação
do trato digestivo (megaesófago ou megacólon (6%), devido à destruição da inervação e das
células musculares destes órgãos, responsável pelo seu tônus muscular.
 No cérebro há frequentemente formação de granulomas. Neste estágio a doença é
frequentemente fatal, mesmo com tratamento, geralmente devido à cardiomiopatia
(insuficiência cardíaca). No entanto o tratamento pode aumentar a esperança e qualidade de
vida.
 Há ainda infrequentemente casos de morte súbita, quer em doentes agudos quer em crônicos,
devido à destruição pelo parasita do sistema condutor dos batimentos no coração ou danos
cerebrais em áreas críticas.
DIAGNÓSTICO
 Microscópico, buscando o parasita no sangue do paciente, o que é possível apenas na fase
aguda após cerca de 2 semanas depois da picada. Detecta mais de 60% dos casos nesta fase.
 Xenodiagnóstico, onde o paciente é intencionalmente picado por barbeiros não contaminados
e, quatro semanas depois, o intestino dos mesmos é examinado em busca de parasitas; ou
pela inoculação de sangue do doente em animais de laboratório e verificação do
desenvolvimento ou não da doença aguda.
 Detecção do DNA do parasita por PCR (reação em cadeia da polimerase).
 Detecção de anticorpos específicos contra o parasita no sangue. É útil nos casos crônicos.
TRATAMENTO
 Na fase inicial aguda, a administração de fármacos como nifurtimox, alopurinol e Benzonidazol
curam completamente ou diminuem a probabilidade de cronicidade em mais de 80% dos casos.
 A fase crônica é incurável, já que os danos em órgãos como o coração e o sistema nervoso são
irreversíveis. Tratamento paliativo pode ser usado.
 Segundo a DNDi - Drugs for Neglected Diseases Initiative (Iniciativa de Medicamentos para
Doenças Negligenciadas), o mal de Chagas, juntamente com a doença do sono e a
leishmaniose, está entre as doenças "extremamente negligenciadas", basicamente em razão da
extrema pobreza dos pacientes - que, assim, estão fora do mercado da indústria farmacêutica.
PROFILAXIA
 Ainda não há vacina para a prevenção da doença. A prevenção está centrada no combate ao
vetor, o barbeiro, principalmente através da melhoria das moradias rurais a fim de impedir que
lhe sirvam de abrigo. A melhoria das condições de higiene, o afastamento dos animais das
casas e a limpeza frequente das palhas e roupas são eficazes.
 Basicamente, a prevenção se dá pela eliminação do vetor, o barbeiro, por meio de medidas que
tornem menos propício o convívio deste próximo aos humanos, como a construção de
melhores habitações, pois este inseto vive nas frestas das casas de pau-a-pique, ninhos de
pássaros, tocas de animais, casca de troncos e sob pedras.
 O uso do insecticida extremamente é eficaz, mas tóxico. DDT está indicado em zonas
endémicas, já que o perigo dos insetos transmissores é muito maior.
AGENTE VETOR
 Triatoma infestans (conhecido no Brasil
como chupança, bicho-barbeiro, bicho-
de-frade, bicho-de-parede, bicudo,
cascudo, chupão, chupa-chups, fincão,
gaudério, percevejão, percevejo-do-
sertão, percevejo-gaudério, procotó,
rondão ou vunvum) são vários insetos
hemípteros, reduviídeos, triatomíneos
que atuam como vetores do protozoário
Tripanossoma causador da doença de
Chagas.
 Os barbeiros são hematófagos, têm
hábitos noturnos. No Brasil, são
conhecidas acima de 65 espécies
transmissoras da doença de Chagas.
 Seu corpo é preto, redondo e achatado,
mas se incha quando se alimenta do
sangue de animais homeotermos, como
os seres humanos. Costumam viver em
habitações humanas, principalmente nas
casas de pau-a-pique (feitas de barro e
madeira).
PARASITA E CICLO DE VIDA
 O Trypanosoma cruzi é um importante
protozoário flagelado, agente etiológico da
doença de Chagas, tripanossomíase americana
ou esquizotripanose. A doença foi descoberta
em 1909 pelo médico brasileiro Carlos Chagas.
 O nome Trypanosoma cruzi, dado ao agente
causador, foi uma homenagem de Chagas ao
epidemiologista Oswaldo Cruz.

1o ano   doença de chagas

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1o ano doença de chagas

  • 1. DOENÇA DE CHAGAS  A doença de Chagas, mal de Chagas ou chaguismo, também chamada tripanossomíase americana, é uma infecção causada pelo protozoário cinetoplástida flagelado Trypanosoma cruzi, e transmitida por insetos, conhecidos no Brasil como barbeiros, ou ainda, chupança, fincão, bicudo, chupão, procotó, (da família dos Reduvídeos (Reduviidae), pertencentes aos gêneros Triatoma, Rhodnius e Panstrongylus.  Trypanosoma cruzi é um membro do mesmo gênero do agente infeccioso africano da doença do sono e da mesma ordem que o agente infeccioso da leishmaniose, mas as suas manifestações clínicas, distribuição geográfica, ciclo de vida e de insetos vetores são bastante diferentes.  Os sintomas da doença de Chagas podem variar durante o curso da infecção. No início dos anos, na fase aguda, os sintomas são geralmente ligeiros, não mais do que inchaço nos locais de infecção. À medida que a doença progride, durante até vinte anos, os sintomas tornam-se crônicos e graves, tais como doença cardíaca e de intestino.  Se não tratada, a doença crônica é muitas vezes fatal. Os tratamentos medicamentosos atuais para o tratamento desta doença são pouco satisfatórios, com os medicamentos com significativo efeito colateral, muitas vezes, ineficazes, em especial na fase crônica da doença. EPIDEMIOLOGIA  Estima-se que existam até 18 milhões de pessoas com esta doença, entre os 100 milhões que constituem a população de risco, distribuída por 18 países americanos. Dos infectados, cerca de 20 000 morrem a cada ano.  A doença de Chagas crônica é um problema epidemiológico apenas em alguns países da América Latina, mas a migração crescente de populações aumentou o risco de transmissão por transfusão de sangue até mesmo nos EUA, e têm surgido casos da doença em animais silvestres até à Carolina do Norte.  Distribuída pelas Américas desde os EUA até a Argentina, atinge principalmente as populações rurais pobres. As casas pobres, com reboco defeituoso e sem forro, são habitat para o inseto barbeiro, que dorme de dia nas rachaduras das paredes e sai à noite para sugar o sangue das pessoas que dormem, geralmente no rosto ou onde a pele é mais fina.  A doença afeta muitos outros vertebrados além do Homem: cães, gatos, roedores, tatus e gambás podem ser infectados e servir de reservatório do parasita.
  • 2. TRANSMISSÃO  O barbeiro se infecta ao sugar o sangue de um organismo infectado.  No intestino do vetor, o tripomastigoto se transforma em epimastigoto que então se reproduz. O tripomastigoto não se reproduz.  O homem por sua vez, é afectado pelas fezes ou urina contaminadas do Triatomíneo (barbeiro no Brasil) pois enquanto suga o sangue, defeca nesse mesmo local.  A infestação também pode ser por transfusão de sangue ou transplante de órgãos, ou por via placentária.  O coito é uma forma de transmissão nunca comprovada na espécie humana embora já tenham encontrado tripomastigotas em menstruação de mulheres com Chagas e em esperma de cobaias infectadas. SINTOMATOLOGIA  A doença tem uma fase aguda, de curta duração, que em alguns doentes progride para uma fase crônica.  A fase aguda é geralmente assintomática, e tem uma incubação de uma semana a um mês após a picada. No local da picada pode-se desenvolver uma lesão volumosa, o chagoma, local eritematosa (vermelha) e edematosa (inchada).  Se a picada for perto do olho é frequente a conjuntivite com edema da pálpebra, também conhecido por sinal de Romaña. Outros sintomas possíveis são febre, linfadenopatia, anorexia, hepatoesplenomegalia, miocardite brandas e mais raramente também meningoencefalite.  Entre 20 a 60% dos casos agudos se transformam, em 2 a 3 meses, em portadores com parasitas sanguíneos continuamente, curando-se os restantes. No entanto, em todos os casos param os sintomas após cerca de dois meses. Muitos mas não todos os portadores do parasita desenvolvem sintomas devido à doença crônica.  O caso crônico permanece assintomático durante dez a vinte anos. No entanto neste período de bem-estar geral, o parasita está se reproduzindo continuamente em baixos números, causando danos irreversíveis em órgãos como o sistema nervoso e o coração. O fígado também é afetado mas como é capaz de regeneração, os problemas são raros.  O resultado é apenas aparente após uma ou duas décadas de progressão, com aparecimento gradual de demência (3% dos casos iniciais), cardiomiopatia (em 30% dos casos), ou dilatação
  • 3. do trato digestivo (megaesófago ou megacólon (6%), devido à destruição da inervação e das células musculares destes órgãos, responsável pelo seu tônus muscular.  No cérebro há frequentemente formação de granulomas. Neste estágio a doença é frequentemente fatal, mesmo com tratamento, geralmente devido à cardiomiopatia (insuficiência cardíaca). No entanto o tratamento pode aumentar a esperança e qualidade de vida.  Há ainda infrequentemente casos de morte súbita, quer em doentes agudos quer em crônicos, devido à destruição pelo parasita do sistema condutor dos batimentos no coração ou danos cerebrais em áreas críticas. DIAGNÓSTICO  Microscópico, buscando o parasita no sangue do paciente, o que é possível apenas na fase aguda após cerca de 2 semanas depois da picada. Detecta mais de 60% dos casos nesta fase.  Xenodiagnóstico, onde o paciente é intencionalmente picado por barbeiros não contaminados e, quatro semanas depois, o intestino dos mesmos é examinado em busca de parasitas; ou pela inoculação de sangue do doente em animais de laboratório e verificação do desenvolvimento ou não da doença aguda.  Detecção do DNA do parasita por PCR (reação em cadeia da polimerase).  Detecção de anticorpos específicos contra o parasita no sangue. É útil nos casos crônicos. TRATAMENTO  Na fase inicial aguda, a administração de fármacos como nifurtimox, alopurinol e Benzonidazol curam completamente ou diminuem a probabilidade de cronicidade em mais de 80% dos casos.  A fase crônica é incurável, já que os danos em órgãos como o coração e o sistema nervoso são irreversíveis. Tratamento paliativo pode ser usado.  Segundo a DNDi - Drugs for Neglected Diseases Initiative (Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas), o mal de Chagas, juntamente com a doença do sono e a leishmaniose, está entre as doenças "extremamente negligenciadas", basicamente em razão da extrema pobreza dos pacientes - que, assim, estão fora do mercado da indústria farmacêutica. PROFILAXIA  Ainda não há vacina para a prevenção da doença. A prevenção está centrada no combate ao vetor, o barbeiro, principalmente através da melhoria das moradias rurais a fim de impedir que lhe sirvam de abrigo. A melhoria das condições de higiene, o afastamento dos animais das casas e a limpeza frequente das palhas e roupas são eficazes.  Basicamente, a prevenção se dá pela eliminação do vetor, o barbeiro, por meio de medidas que tornem menos propício o convívio deste próximo aos humanos, como a construção de melhores habitações, pois este inseto vive nas frestas das casas de pau-a-pique, ninhos de pássaros, tocas de animais, casca de troncos e sob pedras.
  • 4.  O uso do insecticida extremamente é eficaz, mas tóxico. DDT está indicado em zonas endémicas, já que o perigo dos insetos transmissores é muito maior. AGENTE VETOR  Triatoma infestans (conhecido no Brasil como chupança, bicho-barbeiro, bicho- de-frade, bicho-de-parede, bicudo, cascudo, chupão, chupa-chups, fincão, gaudério, percevejão, percevejo-do- sertão, percevejo-gaudério, procotó, rondão ou vunvum) são vários insetos hemípteros, reduviídeos, triatomíneos que atuam como vetores do protozoário Tripanossoma causador da doença de Chagas.  Os barbeiros são hematófagos, têm hábitos noturnos. No Brasil, são conhecidas acima de 65 espécies transmissoras da doença de Chagas.  Seu corpo é preto, redondo e achatado, mas se incha quando se alimenta do sangue de animais homeotermos, como os seres humanos. Costumam viver em habitações humanas, principalmente nas casas de pau-a-pique (feitas de barro e madeira). PARASITA E CICLO DE VIDA  O Trypanosoma cruzi é um importante protozoário flagelado, agente etiológico da doença de Chagas, tripanossomíase americana ou esquizotripanose. A doença foi descoberta em 1909 pelo médico brasileiro Carlos Chagas.  O nome Trypanosoma cruzi, dado ao agente causador, foi uma homenagem de Chagas ao epidemiologista Oswaldo Cruz. 