O poema descreve o estado de espírito triste e confuso do sujeito poético numa noite de insônia. A solidão e o silêncio da noite aumentam seus sentimentos de dúvida sobre a própria identidade e incapacidade de lidar com a realidade. Os recursos estilísticos como a repetição de termos relacionados à noite e ao silêncio transmitem essa atmosfera de inquietação existencial típica da obra de Pessoa.
"Cansa sentir quando se pensa" - Fernando Pessoa Ortónimo
1.
2. Índice
Poema
Simbologia da noite na poesia pessoana
Caracterização do estado de espírito do sujeito poético
Identificação dos recursos mais expressivos
Integração do poema nas temáticas do ortónimo
3. Poema: “Cansa sentir quando se
pensa”
Cansa sentir quando se pensa. Tudo isto me parece tudo.
No ar da noite a madrugar E é uma noite a ter um fim
Há uma solidão imensa Um negro astral silêncio surdo
Que tem por corpo o frio do ar. E não poder viver assim.
Neste momento insone e triste (Tudo isto me parece tudo.
Em que não sei quem hei de ser, Mas noite, frio, negror sem fim,
Pesa-me o informe real que existe Mundo mudo, silêncio mudo -
Na noite antes de amanhecer. Ah, nada é isto, nada é assim!)
4. Simbologia da noite na
poesia pessoana
Há uma insistência significativa no campo semântico de noite, e
no de silêncio, através dos vocábulos: “noite”, “antes de
amanhecer”, “negro astral”, “negror sem fim”, “silêncio
surdo”, “Mundo mudo” e “silêncio mudo”, que simbolizam o
movimento noturno e silencioso, demonstrando a incapacidade
do sujeito poético de aceitar a sua condição humana, e a sua
inquietação perante a ausência de respostas por parte da
noite, como se esta fosse alguém que o conseguisse ajudar.
5. Caracterização do estado de espírito
do sujeito poético
Tristeza: “Neste momento insone e triste”
Incerteza: “Em que não sei quem hei de ser”
Solidão : “Há uma solidão imensa /Que tem por corpo o
frio do ar.”
Dúvida: “Tudo isto me parece tudo”
Incapacidade de viver a vida : “E não poder viver assim.”
Confusão interior: “Ah, nada é isto, nada é assim!”
6. Identificação dos recursos mais
expressivos
“Neste momento insone e
Dupla Adjetivação e hipálage:
triste”
Perífrase: “No ar da noite a madrugar”
Poliptoto: “negro” e “negror”
Sugestão repetitiva do silêncio: “ silêncio surdo”, “Mundo
mudo” e “silêncio mudo”
Adjectivação e metáfora: “Há uma solidão imensa/Que tem
por corpo o frio do ar”
Enumeração: “Mas noite, frio, negror sem fim,/Mundo mudo,
silêncio mudo –”
Anáfora: “Mundo mudo, silêncio mudo –”
Paradoxo: “Ah, nada é isto, nada é assim!”
7. Integração do poema
nas temáticas do
Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar ortónimo
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar. Dor de pensar e dicotomia
sentir/pensar
A solidão do ser interior
Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser, Enigma do ser e angústia
Pesa-me o informe real que existencial
existe
Na noite antes de amanhecer. A ilusão do real
Necessidade de evasão da
Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim realidade (através da noite)
Um negro astral silêncio surdo Incerteza, inquietação,
E não poder viver assim. confusão e dúvida do sujeito
poético
(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim, A incapacidade de viver a vida
Mundo mudo, silêncio mudo -
Ah, nada é isto, nada é assim!)