2. Ruy Cinatti (biografia)
Ruy Cinatti (Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes) nasceu em Londres em 1915.
Em criança veio para Lisboa onde se formou em Agronomia. Foi meteorologista,
secretário do governador de Timor, onde viveu durante alguns anos após a II Guerra
Mundial, e chefe dos Serviços Agronómicos de Timor e investigador da Junta de
Investigação do Ultramar. Estudou na Universidade de Oxford onde se doutorou, em
1961, em Antropologia Social e Etnografia.
Ruy Cinatti escreveu sobre São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Foi co-fundador de Os Cadernos de Poesia (1940).
Ruy Cinatti faleceu em 1986
3. Quando o Amor Morrer Dentro de Ti
Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o noturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.
Ruy Cinatti, em “Obra Poética”
5. Estrutura Externa
(continuação)
1 - Quando o amor morrer dentro de ti, --------------------------A
2 - Caminha para o alto onde haja espaço, --------------------B
3 - E com o silêncio outrora pressentido --------------------------C
4 - Molda em duas colunas os teus braços. ---------------------D
5 - Relembra a confusão dos pensamentos, --------------------D
6 - E neles ateia o fogo adormecido -------------------------------C
7 - Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido ------------C
8 - Espalhou generoso aos quatro ventos. ------------------------D
9 - Aos que passarem dá-lhes o abrigo ----------------------------E
10 - E o noturno calor que se debruça -----------------------------F
11 - Sobre as faces brilhantes de soluços. ------------------------D
12 - E se ninguém vier, ergue o sudário ---------------------------G
13 - Que mil saudosas lágrimas velaram; -------------------------H
14 - Desfralda na tua alma o inventário --------------------------G
15 - Do templo onde a vida ora de bruços ----------------------D
16 - A Deus e aos sonhos que gelaram. ---------------------------H
Rima Emparelhada:
Versos 4 a 7.
Rima Encadeada:
Versos 12 a 14.
Rima Interpolada:
Versos 3 a 6, 4 a 8, 8 a 11, 11 a 15, 13 a 16.
Este poema tem 1 estrofe, esta estrofe é uma estrofe
irregular.
O ritmo é rápido e variado.
6. Estrutura Interna
Este poema é constituído por uma única parte que envolve o poema todo, na qual o sujeito poético
explica ao leitor o que deve fazer quando o amor morrer e os passos e concelhos que deve seguir
(Quando o amor morrer dentro de ti, /Caminha para o alto onde haja espaço. /E com o silêncio
outrora pressentido /Molda em duas colunas os teus braços v.1,2, 3 e 4).
Importa salientar que está presente neste texto, a nível fónico, 3 aliterações (E com o silêncio outrora
pressentido /Molda em duas colunas os teus braços. /Relembra a confusão dos pensamentos, /E neles
ateia o fogo adormecido /Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido. v. 3 a 7)(Que mil saudosas
lágrimas velaram; v. 13)(A Deus e aos sonhos que gelaram. v. 16), 2 assonâncias (Quando o amor
morrer dentro de ti, Caminha para o alto onde haja espaço,. v. 1 e 2)(Que mil saudosas lágrimas
velaram; Desfralda na tua alma o inventário. v. 13 e 14).
7. Estrutura Interna
(continuação)
A nível semântico, está presente neste poema 2 hipérboles (Quando o amor morrer dentro
de ti, /Caminha para o alto onde haja espaço,. v. 1 e 2)(Que mil saudosas lágrimas velaram.
v. 13) que representam o exagero, como dizer o “amor morrer dentro de ti, /Caminha para o
alto onde haja espaço,” sabe-se perfeitamente que o amor nunca morre e “Que mil
saudosas lágrimas” indica logo um exagero. Está presente também um oximoro (E neles
ateia o fogo adormecido. v. 6) que diz o fogo adormecido, basicamente isto aponta que se
excluem mutuamente pois um fogo adormecido é um fogo inexistente. Há também uma
personificação (E neles ateia o fogo adormecido. v. 6) pois está a atribuir caraterísticas
humanas a certas coisas como o fogo. E por fim está presente adjetivação em, por
exemplo, “alto”(v.2), “espaço”(v.2), “silêncio”(v.3), “pressentido”(v.3), etc..
8. Estrutura Interna
(continuação)
O tema deste poema é o amor que pode ser explicado com nomes que aparecem no
poema, tais como “amor”(v.1), “fogo”(v.6), “amor”(v.7), “teu peito ferido”(v.7), etc, que
podem ser substituídos (alguns) como por exemplo fogo, a chama do amor, dai fogo
adormecido quer dizer chama apagada, o teu peito ferido pode ser trocado por coração
partido.
Está presente em quase todo o poema, verbos que, através do sujeito poético, caraterizam
meios que devemos fazer, como seguir e concelhos, tais como “Caminha”(v.2),
“Molda”(v.4), “Relembra”(v.5), “ateia”(v.6), “ergue”(v.12) e “Desfralda”(v.14).