1. O documento descreve a memória de militantes do movimento estudantil em Passo Fundo entre 1978-1985, analisando a reorganização do movimento no fim do regime militar e a disputa entre correntes políticas de esquerda e direita.
2. Em 1978 houve um crescimento da participação estudantil na universidade de Passo Fundo e uma difusão de conceitos políticos. Em 1979 ocorreu a primeira eleição direta para o Diretório Central dos Estudantes vencida por uma chapa de situação.
3. O texto analisa a at
Memória de militantes do movimento estudantil em Passo Fundo (1978-1985
1. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
MEMÓRIA DE MILITANTES DO MOVIMENTO ESTUDANTIL
EM PASSO FUNDO (1978-1985)
Eliane Lucia Colussi 1
RESUMO
O presente trabalho é parte integrante de um projeto de pesquisa mais ampla que
analisa o papel do movimento estudantil no município de Passo Fundo, especialmente na
Universidade de Passo Fundo, no período entre 1978 e 1985. Esta parte do projeto prevê a
constituição e organização de um acervo relativo à memória de lideranças estudantis que
estiveram à frente do Diretório Central dos Estudantes, dos diretórios acadêmicos e de
organizações ou correntes políticas atuantes na Universidade, no período delimitado. Nesta
perspectiva, foram localizados e listados em torno de 200 estudantes que, em algum
momento dirigiram ou lideraram essas entidades ou correntes políticas. Entre os objetivos
norteadores para a construção dessa proposta de pesquisa e que deverão, ao longo do
desenvolvimento da mesma ser alcançados, estão: analisar o período de reorganização do
movimento estudantil no quadro do fim do regime militar até a campanha das Diretas Já;
reconstituir parte da história do movimento de organização estudantil tendo como base a
disputa entre as correntes políticas dita de esquerda e de direita, presentes no período;
especificar os posicionamentos e as bandeiras de luta de cada corrente, identificando as
reivindicações de caráter geral e as específicas assim como as repercussões no âmbito da
instituição, entre outras questões
Palavras-chave: movimento estudantil, história oral, política brasileira.
ABSTRACT
The present work is a part of a wider research project that analyzes the role of the
student movement in Passo Fundo – a city in the country of Rio Grande do Sul - especially
at the University of Passo Fundo, from 1978 to 1985. This part of the project intends to
constitute and organize an amount of documents related to the students’ leaders’ memory
who drove the University Students’ Center, the Students’ School Centers and the political
organizations or groups which actuated at the institution in the delimited period. In this
perspective, it has located and listed around 200 students who had directed or led those
entities or political groups at some moment. Among the objectives which support the
construction of this research proposal and that will be reached along the development of
this work, are: to analyze the period of the student movement reorganization within a
framework starting at the military regimen to the Diretas Já campaign; to reconstitute part
of the history of the student organization movement from the dispute among political
groups which supported the government and their opposition; to specify the position and
the fights of each of those groups. It will be also identified their general claims and the
specific ones as well as the repercussions in the institution scope, among others questions.
1
Professora do curso de História da Universidade de Passo Fundo (RS). Doutora em História do Brasil,
endereço colussi@upf.br
2. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
Keywords: student movement, oral history, Brazilian politics.
1. O contexto particular do movimento estudantil em Passo Fundo e as suas
articulações no âmbito nacional.
O final do período militar no Brasil assistiu a eclosão de inúmeros movimentos e
organizações que aceleraram o processo de redemocratização do país. Entre esses, o
movimento estudantil (ME) se apresentou com destaque especial. No caso das
universidades brasileiras, cresceu o número de estudantes vinculados a correntes políticas
com orientações marcadamente de “esquerda”. Muitas destas organizações eram originárias
de grupos organizados durante os “anos de chumbo” da ditadura militar e que haviam se
desarticulado ou permanecido na clandestinidade desde o inicio dos anos de 1970.
Sob a égide da repressão política e ilegalidade das entidades de representação
estudantil várias organizações sobreviveram se sob novas siglas. Outras correntes políticas
nasceram no contexto histórico dos anos setenta tendo orientação política-ideológica
desvinculada daquelas organizações. Não se pode desconsiderar que do lado oposto à
esquerda, encontravam-se grupos ou lideranças que abertamente mantinham um discurso de
apoio ou adesão ao regime militar.
A partir de 1977 abriu-se um período decisivo no processo de enfraquecimento do
regime militar. Mesmo que se considerem as diferenças ideológicas das correntes políticas
de “esquerda”, atuantes no movimento estudantil, havia um inimigo comum que dava
unidade ao movimento: a luta pela democratização da política brasileira, pela anistia ampla
geral e irrestrita, a retomada das entidades de representação estudantil, então atuando na
clandestinidade.
As mobilizações em torno dessas questões contribuíram de maneira especial para o
desgaste dos militares, ganhando uma adesão crescente, juntamente com outras entidades e
organizações da sociedade civil brasileira 2 . A maior parte dos grupos e vertentes políticas
do movimento estudantil da década de 1960 mantiveram-se presentes nos anos de 1970.
2
Segundo MARTINS FILHO, João Roberto (org.). 1968. Faz 30 anos. Campinas: Mercado de Letras; São
Paulo: Fapesp; São Carlos, Edufscar, 1998, p. 21, as principais correntes políticas que atuaram na vida
política e que deram origem aos grupos presentes no ME foi o Partido Comunista do Brasil – PC do B uma
das maiores dissidências do PCB, criado em 1962; a Aliança Libertadora Nacional - ALN, cisão do PCB
3. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
Entretanto, cabe ressaltar que elas passaram por mudanças, alguns fazendo alianças,
trocando de sigla ou se fundindo a outros. Já na década de 1980, no processo de
redemocratização do país, surgiram novos grupos políticos com atuação no movimento
estudantil, tendo crescido gradativamente a influência do Partido dos Trabalhadores.
As correntes com orientação trotskista, que tinham uma maior bagagem e
experiência no movimento estudantil, filiaram-se ao PT. Outro fato que podemos
considerar como relevante nessa década foi a readequação da Juventude do PC do B, que
fundou a União da Juventude da Socialista (UJS).
A UJS atuou no movimento com a denominação de “Viração”, e esteve na direção
da UNE desde de sua reconstrução, em Salvador, 1979 até 1987, quando os estudantes
petistas chegaram à direção da entidade. Em 1981, em razão de divergências internas, uma
facção do PC do B desligou-se do partido fundando o Partido Revolucionário Comunista, o
PRC. O PRC adotou, para a sua atuação no meio estudantil a corrente “Caminhando” que,
no Rio Grande do Sul, denominou-se “Resistência”.
A Universidade de Passo Fundo, criada no período de consolidação da ditadura
militar, no ano de 1968, conheceu formas de organização estudantil predominantemente
ajustadas as novas condições políticas que restringiam a liberdade de manifestação e de
autonomia das representações estudantis.
Nos anos anteriores, Passo Fundo, e, portanto a região de sua abrangência,
conheceu, a participação de militantes de esquerda em diversas organizações de
“esquerda”, inclusive em ações de luta armada. Contudo, a maioria desses militantes era
oriunda do movimento secundarista ou, isoladamente, universitários de cursos superiores
ainda na fase de implantação na cidade.
O ano de 1978 marcou o inicio da reorganização da esquerda estudantil em Passo
Fundo, agora numa universidade já constituída e em expansão. A partir desse momento
cresceu a presença e a participação dos estudantes em todos os espaços políticos, dentro e
surgida em 1967; Partido Comunista Brasileiro Revolucionário - PCBR, outra cisão do PCB de 1968; O
Movimento Revolucionário 8 de Outubro - MR-8; a Vanguarda Popular Revolucionária – VPR; a Ação
Popular - AP, de 1961, com a divisão da Juventude Universitária Católica – JUC; a Organização
Revolucionária Marxista-Política Operária – POLOP, fundada em 1961; e o Partido Revolucionário – PORT,
fundado em 1953. Tais tendências revelam a persistência das organizações como a Ação Popular e MR-8,
que no ME atuava com a denominação “Refazendo” e o PCB com a denominação “Unidade”; o Partido
Comunista do Brasil, com a corrente “Caminhando”; cresceu também as correntes trotskista, Centeia” e
“Peleia”, a Convergência Socialista, denominada “Novo Rumo” e a Liberdade e Luta, a “Libelu”.
4. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
fora da universidade. Desse modo, a difusão de conceitos e de posicionamentos acerca de
ser identificado como “de esquerda” ou de “direita”, “pelego” ou “subversivo”, entre
outros, tomou as salas de aula, os corredores, auditórios, bares da universidade e da cidade.
A organização da representação do movimento estudantil até então se dava nos
quadros da legalidade imposta pelo regime militar. O processo de eleições para o Diretório
Central de Estudantes (DCE) e para os Diretórios Acadêmicos (DA) não ocorria por meio
do voto direto. A eleição para a diretoria do DCE era realizada través de um colegiado
integrado por representantes dos diferentes diretórios acadêmicos. Observava-se também
uma proximidade política no relacionamento entre os dirigentes das entidades estudantis e a
administração da Universidade.
Em 1979, depois de 11 anos e muita mobilização, os acadêmicos da Universidade
de Passo Fundo, conquistaram as eleições diretas para o Diretório Central de Estudantes.
Foi nesse processo eleitoral que se evidenciou a disputa entre dois grupos de caráter mais
amplo: a situação, chamada então de “direita” e a oposição, congregando algumas das
correntes de esquerda ou de oposição ao regime militar. As correntes políticas de
abrangência nacional alcançaram os universitários da UPF.
Neste novo contexto histórico, a primeira eleição direta para o DCE correu no dia
18 de outubro de 1979. Observa-se que nesta eleição, ao lado da chapa de situação
“Renovação” que tinha como base de sustentação um bloco de diretórios acadêmicos,
particularmente o da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis, a
Faculdade de Engenharia, Educação Física, Direito, Ciências Biológicas e o Instituto de
Artes. A chapa “Rever”, de oposição, foi constituída principalmente por acadêmicos dos
cursos de Agronomia, da Medicina, da Psicologia, da Pedagogia e da Odontologia 3 .
A chapa vitoriosa nessas eleições foi a “Renovação”, liderada por Olvir Favaretto,
acadêmico da Faculdade de Direito. A apuração dos votos revelou o clima acirrado e de
grande disputa: votaram 3297 estudantes, sendo que a “Renovação” obteve 1632 votos e a
oposição 1574. Uma diferença de apenas 42 votos, fato que se repetiu nos anos seguintes. 4
A oposição, derrotada nas eleições para o DCE, manteve durante o ano de 1980
intensas atividades por meio dos diretórios acadêmicos sob sua influência. Assim em 5 de
3
Dia 18 eleições diretas para o DCE/UPF. O Nacional. Passo Fundo, ano 55, n. 15.197. 01/10/1979, p. 2.
4
Chapa Renovação venceu as eleições ao DCE da UPF O Nacional. Passo Fundo, ano 55, n. 15.214,
20/101979, p. 1.
5. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
novembro de 1980, quando se realizaram novamente eleições para o DCE, o quadro
político sofrera alterações.
Na ocasião, houve muita mobilização por parte dos noves diretórios acadêmicos
então existentes. Aproximadamente 4.800 acadêmicos votaram, elegendo a chapa
“Construção”, representando a corrente “Caminhando”, que no Rio Grande do Sul
denominava-se “Resistência” liderada por André Luiz Agostini. As outras duas
concorrentes foram a chapa considerada de “direita”, a “Reação”, liderada por Álvaro Luis
Correa, e a “Novo Rumo” representando a Convergência Socialista, liderada por Cícero
Marcolan.
A disputa revelou um novo momento político do ME, quando o grupo considerado
de “direita” manteve-se unificado e o da “esquerda” dividiu-se em dois: a chapa
“Construção” de orientação marxista-leninista e a “Novo Rumo” vinculada a vertente uma
trotskista.
A partir deste contexto se acirrou a disputa no movimento estudantil entre as
diversas correntes políticas. A corrente “Caminhando”, manteve a hegemonia no DCE e na
maioria dos diretórios acadêmicos da UPF até as eleições as eleições de 1984. Em 1981,
venceu com a chapa “Canto Geral’, liderada pela acadêmica de Medicina Ana Escobar. As
chapas derrotadas foram a “Consciência” liderada por Arno Buhler, representando a
“direita” e a chapa uma chapa de vertente trotskista liderada por Luiz Muller Fogaça.
As eleições para o DCE gestão 1982/83 ocorreram nos dias 20 e 21 de novembro de
1982, com apenas duas chapas disputando: a “Nossa Voz”, liderada por Paulo Zílio e
“Unidade”, liderada por Ricardo Pedra. Uma terceira chapa “Despertar à Luta” acabou por
retirar a candidatura em apoio à chapa “Nossa Voz”: Esse episódio pode ser explicado pelo
perigo eminente de que a esquerda viesse a ser derrotada, tendo suas lideranças avaliadas
como fundamental não dividir a esquerda e manter a união dos estudantes buscando o
fortalecimento do DCE naquela conjuntura.
A chapa Nossa Voz liderada por Paulo Zillio, acadêmico do curso de Filosofia, foi a
vencedora, recebendo 2057 votos, contra 1206 dados à chapa Unidade liderada por Ricardo
Pedra, do curso de Direito. Mantinha-se assim a hegemonia da vertente marxista-leninista-
“Caminhando”, diga-se PRC, na direção do DCE e dos diretórios acadêmicos da UPF.
6. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
O quadro de hegemonia do grupo que assumira o comando do movimento estudantil
em 1980, a “Caminhando”, sofreu sua primeira derrota nas eleições de 1984, momento em
que entregou o DCE e muitos diretórios acadêmicos para um grupo liderado pelo PC do B.
Alexandre Rodrigues foi eleito presidente do DCE representando a chapa “Viração”.
Explica-se esta virada no comando do movimento estudantil a partir das mobilizações das
“Diretas Já” e da sua derrota para as eleições no colégio eleitora.
Nesta perspectiva, todos os grupos de esquerda e os partidos de oposição uniram-se
na mobilização da campanha das Diretas Já em 1984. O desfecho histórico com a eleição de
Tancredo Neves eleito no Colégio Eleitoral deixou repercutiu nas mudanças na direção do
movimento estudantil no Brasil assim como em Passo Fundo. A esquerda dividiu-se em
duas vertentes: uma liderada pelo PC do B e outras forças políticas favoráveis à saída das
eleições via colégio eleitoral e a vertente que se manteve contrária à saída da “conciliação”.
Esses últimos, ainda apostavam na saída revolucionária para a democratização do
país. Foram derrotadas pela “tradição” da política brasileira, conduzida, vias de regra, por
uma elite que se assustava frente à possibilidade de radicalização política.
A vitória do grupo liderado pelo PC do B ganhou adesão da maioria dos estudantes,
refletindo a tendência da maior parte da sociedade brasileira que ficou satisfeita com a saída
de transição do regime militar para a democratização.
No ano seguinte, a chegou ao DCE a chapa “Pés no Chão”, encabeçada por Beto
Albuquerque que solidificou um novo momento no ME em Passo Fundo. Este grupo
venceu as eleições não só para o DCE como também para a grande maioria dos diretórios
acadêmicos. Dentre os 3081 votantes nas eleições para o DCE neste ano, 1976 votaram na
chapa “Pés no Chão” e 1756 para chapa “Refazendo”, que representava o grupo
“caminhando”, aliado a forças mais de esquerda.
Nem direita nem esquerda, os estudantes optaram pela chapa que apresentou um
programa voltado par as questões específicas do movimento estudantil. Discutir conjuntura
nacional, não pagamento da dívida externa brasileira, a possibilidade ou não da revolução
socialista foi ficando para trás assim como a queda do Muro de Berlim em 1989. Fechava-
se um ciclo na história política da organização do movimento estudantil na Universidade de
Passo Fundo.
7. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
2. A história oral como possibilidade de reflexão da importância do
movimento estudantil na transição do regime militar para o Brasil
democrático
A metodologia orientadora desse estudo fundamenta-se basicamente na história oral
entendida como metodologia de pesquisa e possibilidade de construção do conhecimento
histórico da política brasileira pelo olhar e lembranças das lideranças estudantis militantes
no período de 1978 a 1985.
O grupo de líderes estudantis da Universidade de Passo Fundo participou
ativamente das organizações políticas presentes naquele contexto histórico articulando-se
intensamente com movimento estudantil assim como as mobilizações político-sociais
nacionais. Portanto, neste caso, os seus depoimentos constitui-se numa das possibilidades
de recuperação do passado conforme concebido pelos que a viveram 5 .
Esta opção pela técnica de história oral possui, entre outras especificidades, de ser
efetivamente uma fonte documental importante. Além disso, o caráter oral do depoimento,
fornece ao pesquisador outras possibilidades de investigação, no que diz respeito às
particularidades e recorrências do discurso do entrevistado, ao registro de suas hesitações,
ênfases, autocorreções, etc. Tudo isso, conforme os propósitos da pesquisa e as indagações
que se faz o pesquisador que consulta um documento de história oral, pode conter dados
significativos, além de permitir uma análise de discurso propriamente dito.
Assim, parte-se do pressuposto que a história oral é uma fonte legítima que se
diferencia de outras em alguns aspectos como, por exemplo, quando a versão do passado
torna-se uma representação ou ideologia em movimento sendo possível “reconstituir” ou
reinterpretar um fato.
Além dos aspectos apontados, a história oral permite introduzir o pesquisador na
construção da versão, “o que significa introjetar no documento produzido o controle
sistemático da produção da própria fonte” 6 .
5
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2004.
6
Ver, entre outros, FERREIRA, Marieta de Moraes. “História oral: um inventário das diferenças”, In:
FERREIRA, Marieta de Moraes. Entre-vistas: abordagens e usos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1994,
p.1-13; ALBERTI, Verena (org.). História oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Fiocruz, Casa de
Oswaldo Cruz, Cpdoc/-Fundação Getúlio Vargas, 2000, p. 47-65.
8. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
A metodologia leva em consideração um aspecto fundamental para o
desenvolvimento do estudo: estabelecer com cuidado os personagens que serão
entrevistados. Neste sentido, o aspecto qualitativo torna-se mais relevante que o
quantitativo, pois importa principalmente a posição que o entrevistado ocupou no grupo de
lideranças estudantis e o significado de sua experiência 7 .
Assim, os prováveis entrevistados foram dirigentes das entidades estudantis e das
correntes políticas atuantes no período em questão. Denominamos a listagem de 200
estudantes nestas condições como “entrevistados em potencial”. Na medida em que o
processo de desenvolvimento das entrevistas estiver em execução, poderão ser eliminados
ou acrescentados outros nomes.
Neste estudo, estabeleceu-se como primeiro passo um estudo por meio do método
de biografia coletiva. A biografia coletiva deve servir como representação do grupo maior,
mesmo não esgotando a diversidade destes estudantes e mostrar as ligações entre passado e
presente e o individuo e a sociedade. Como informações importantes que serão coletadas
são: origens sociais e familiares, formação escolar e trajetória profissional 8 .
Neste mesmo sentido, outro pressuposto a ser levado em conta é de que, no
conjunto dos estudantes universitários da Universidade de Passo Fundo, o que os dirigentes
e lideranças das diversas correntes do movimento estudantil compunham um grupo de elite.
Os entrevistados podem então ser definidos como um grupo especial que os distinguia pois
mesmo sendo minoritários tinham influência decisiva na condução dos acontecimentos do
período estudado.
Diante do tema e das questões que norteiam a pesquisa é importante que o
pesquisador estude as versões que os entrevistados fornecem acerca do objeto em análise.
Tais versões devem ser elas mesmas objeto de análise.
7
ALBERTI, idem.
8
DE DECCA, Edgar. “Prefácio”. In: BURKE, Peter. Veneza e Amsterdã, um estudo das elites do século
XVII. São Paulo: Brasiliense, 1991; HEINZ, Flávio M. Considerações acerca de uma história das elites.
Logos. Canoas. Vol. 11, n. 1, p. 41-52, 1998; MARRE, Jacques Leon. História de vida e método biográfico.
Cadernos de sociologia. Porto Alegre, v. 3, n. 3, p. 89-141, jan./jul./1991; SCHMIDT, Benito Bisso.
Biografia: um gênero de fronteira entre a história e a literatura. In: RAGO, Margareth e GIMENES, Renato
Aloizio de Oliveira (org.). Narrar o passado, repensar a História. Campinas: Editora da Unicamp, 2000, p.
193-202.
9. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
Se o emprego da história oral significa voltar à atenção para as versões dos
entrevistados, isso não quer dizer que se possa prescindir de consulta as fontes já existentes
sobre o tema escolhido. Essas fontes servem como apoio e instrumento de análise das
entrevistas. Reflexões e ponto de vista pessoal sobre a experiência vivida no período
estudado.
Em termos de memória do movimento estudantil, as entrevistas serão conduzidas no
sentido de valorizar as lembranças em torno do sentido de pertencer a organizações ou
correntes políticas, a maioria de esquerda. Temas em pauta eram, entre outros, a luta pela
democratização, a anistia ampla geral e irrestrita, a reconstrução da UNE e da UEE, a luta
pelo ensino público e gratuito e, por fim, a campanha das diretas-já, as greves, o espaço do
lazer. Ao final do estudo, a biografia coletiva, uma espécie de memória coletiva, e os
depoimentos estarão conectados com vivências e experiências pessoais contemporâneas.
REFERÊNCIAS
ALBERTI, Verena (org.). História oral: desafios para o século XXI. Rio de Janeiro:
Fiocruz, Casa de Oswaldo Cruz, Cpdoc-Fundação Getúlio Vargas, 2000, p. 47-65.
ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 2ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
CHAUVEAU, TÉTART, Ph. (org.). Questões para a história do presente. Bauru: Edusc,
1999.
DE DECCA, Edgar. “Prefácio”. In: BURKE, Peter. Veneza e Amsterdã, um estudo das
elites do século XVII. São Paulo: Brasiliense, 1991.
FÉLIX, Loiva Otero. História e memória. A problemática da pesquisa. Passo Fundo:
Ediupf, 1998.
FERREIRA, Marieta de Moraes (Coord.) Entre-vistas: abordagens e usos da história oral.
Rio de Janeiro: FGV, 1994.
FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio de
Janeiro: Editora da FGV, 2001.
10. Anais do IX Encontro Nacional de História Oral - 22 a 25/04/2008 - UNISINOS
FERREIRA, Marieta de Moraes. História oral: um inventário das diferenças, In:
FERREIRA, Marieta de Moraes. Entre-vistas: abordagens e usos da história oral. Rio de
Janeiro: FGV, 1994, p. 1-13.
GOMES, Ângela de Castro. Escrita em si, escrita da história. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
HEINZ, Flávio M. Considerações acerca de uma história das elites. Logos. Canoas. Vol.
11, n. 1, p. 41-52, 1998.
MARRE, Jacques Leon. História de vida e método biográfico. Cadernos de sociologia.
Porto Alegre, v. 3, n. 3, p. 89-141, jan./jul./1991.
MARTINS FILHO, João Roberto (org.). 1968: Faz 30 anos. Campinas: Mercado de
Letras; São Paulo: Fapesp; São Carlos :Edufscar, 1998.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. 4ª ed. São Paulo: Edições
Loyola, 2002.
POLLACK, Michel. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos. Rio de Janeiro,
v. 2, n.3, 1989. p. 3-15.
SCHMIDT, Benito Bisso. Biografia: um gênero de fronteira entre a história e a literatura.
In: RAGO, Margareth e GIMENES, Renato Aloizio de Oliveira (org.). Narrar o passado,
repensar a História. Campinas: Editora da Unicamp, 2000, p. 193-202.
TEDESCO, João Carlos (org.). Usos de memórias (política, educação e identidade). Passo
Fundo: Ediupf, 2002.