1. O que são prostaglandinas?
As prostaglandinas são ácidos graxos modificados, frequentemente derivados de
lipídios da membrana plasmática. Receberam esse nome por terem sido detectadas
pela primeira vez no sêmen e terem sido consideradas produto da próstata, estrutura
do sistema reprodutor masculino. Hoje sabemos que são produzidas e liberadas pela
maior parte das células do corpo (se não todas), tanto em homens quanto em
mulheres, diretamente para o fluido intersticial (que banha todas as células),
funcionando como reguladores locais e afetando as células circundantes de várias
maneiras. Desde sua descoberta já foram identificados cerca de 16 tipos de
prostaglandinas, que, embora tenham propriedades de hormônios, diferem destes por
uma série de razões:
• são os únicos ácidos graxos conhecidos com atividade hormonal;
• são produzidos pela membrana plasmática das células, enquanto hormônios
normalmente são produzidos por estruturas do epitélio;
• seus tecidos-alvo são os mesmos onde são produzidos, podendo ainda ser o tecido
de outro indivíduo;
• produzem efeitos muito acentuados em doses muito pequenas. Entre os efeitos mais
estudados das prostaglandinas, podem-se destacar os seguintes:
a) Capacidade de induzir contrações em musculatura lisa, desempenhando importante
papel na reprodução. Após o ato sexual, prostaglandinas produzidas pelo homem e
encontradas no sêmen aparecem no trato reprodutor feminino, onde induzem
contrações da parede do útero e do oviduto. Isto ajuda tanto a movimentação do
espermatozóide em direção ao oviduto quanto a do ovócito em direção ao
espermatozóide. A mulher também produz prostaglandinas, em células da parede do
útero durante o período menstrual e na placenta, durante a gravidez, que estimulam as
contrações da parede uterina. Foram encontradas concentrações dessa substância 2 a
3 vezes maiores em mulheres que apresentam cólicas acentuadas no primeiro e
segundo dias do período menstrual e, nestes casos, a administração de inibidores de
prostaglandinas reduz a dor.
b) Outros tipos de prostaglandina inibem contrações da musculatura lisa, como
ocorre em bronquíolos e vasos sanguíneos, atuando na coagulação do sangue e na
constrição dos vasos.
c) Outro grupo produzido pelas células sanguíneas está envolvido em respostas
inflamatórias e de defesa do organismo. Várias prostaglandinas ajudam a induzir
febre e inflamação e também intensificam a sensação de dor, o que se acredita que
funcione como um alarme, indicando que algo não vai bem. A descoberta de que as
prostaglandinas atuam nesse processo ajudou a desvendar o mecanismo de atuação da
aspirina (muito utilizada há anos, mas cujo funcionamento permanecia um mistério
até bem pouco tempo). Descobriu-se que ela atua inibindo a produção de
prostaglandinas, aliviando assim os sintomas de dor, febre e inflamação.
Os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) são uma das classes de medicamentos
mais usadas no mundo. Existem mais de 20 drogas diferentes, sendo as mais famosas:
AAS (ácido acetilsalicílico)
Diclofenaco
Ibuprofeno
Naproxeno
Piroxican
2. Anti-inflamatórios
Os AINES agem inibindo uma enzima chamada ciclooxigenase que produz outra
chamada prostaglandina. São essas as substâncias responsáveis pela inflamação e dor.
Porém, existem mais de um tipo de prostaglandina e ciclooxigenase, apresentando
outras funções além de mediar processos inflamatórios. Como a inibição realizada pelos
anti-inflamatórios é não seletiva, além de abortar a inflamação, ocorre também uma
alteração nos efeitos benéficos dessas substâncias.
As prostaglandinas são responsáveis pelos seguintes efeitos no organismo:
- Proteção do estômago contra ácidos produzidos no seu interior = Quando as
prostaglandinas são inibidas, aumenta-se o risco de formação de gastrite e úlceras. Uma
das principais causas de hemorragia digestiva é uso indiscriminado de AINES. O
Colecoxib é de uma classe chamada inibidores da COX2 que não afeta as
prostaglandinas do estômago e por isso causam menos lesões gástricas.
- Fluxo de sangue no rins = Pessoas normais conseguem tolerar essas alterações, mas
pacientes com problemas renais dependem muito das prostaglandinas para função dos
rins, e sua inibição pode levar a um quadro de insuficiência renal aguda. Não existe
nenhum anti-inflamatório que não piore a função renal em pacientes com
insuficiência renal. São todos contra-indicados neste caso.
- Coagulação sanguínea = Todos os AINES atuam nas plaquetas, diminuindo sua
atividade. O AAS é a substância que mais inibe a função das plaquetas. Esse efeito
colateral é freqüentemente aproveitado em doentes com risco de infarto. É o que os
leigos chamam de "afinar o sangue". Neste caso, o efeito colateral é benéfico. Mas essa
inibição das plaquetas e da coagulação pode ser perigosa em doentes que se submeterão
a cirurgias ou que apresentem algum traumatismo. Deve-se sempre suspender o AAS 7
dias antes das operações. Os AINES são drogas seguras se administradas com indicação
médica. O problema é que esta talvez seja a classe de drogas mais auto-prescrita pela
população. Existem inúmeros efeitos colaterais e interações com outros medicamentos
que devem ser levados em conta antes de tomá-los. Além dos efeitos já descritos acima,
também podem ocorrer:
Portanto, apesar de ser uma droga muito usada e segura, ela está longe de não apresentar
complicações. Seu uso sem critérios pode levar a consequências graves.
Um dos mais famosos casos de pressão da indústria farmacêutica na aprovação de
drogas aconteceu sobre os inibidores da COX2. Não havia estudos suficientes sobre
efeitos colaterais e há suspeitas de ocultação de dados. Após ser lançado com grande
repercussão pela pouca toxicidade gástrica, o Rofecoxib (VIOXX) foi retirado do
mercado quando um estudo que tentava provar seu benefício no câncer de cólon
mostrou um aumento de infartos e AVCs nos pacientes que estavam tomando esta
droga.