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Portugal

INVESTIGAÇÃO. A HISTÓRIA DA OPERAÇÃO HOMELAND




O GRANDE
NEGÓCIO DO
PEQUENO LIMA
                                                O FILHO INVESTIDOR
                                                Pedro Lima participou
                                                num fundo imobiliário
                                                que teve disponíveis 60
                                                milhões de euros para
                                                comprar terrenos




46                                                                        28 JANEIRO 2010
O BPN colocou 60 milhões de euros à disposição de um fundo de investimento do filho de
Duarte Lima e de um sócio, ex-deputado do PSD. O fundo criado em 2007comprou 35
terrenos, porcerca de 48 milhões de euros, junto ao então projecto do Instituto Português
de Oncologia, que Isaltino Morais queria verconstruído em Oeiras. Por António José Vilela




                                                                                                                 O PAI DISTANTE
                                                                                                                 Domingos Duarte Lima
                                                                                                                 nega ter tido qualquer
                                                                                                                 intervenção nos negó-
                                                                                                                 cios milionários prota-
                                                                                                                 gonizados pelo filho
                                      SÉRGIO LEMOS/CM




O
              Banco Português de Negó-                  dores nuncaé reveladapublicamente. Esta        quirindo em Oeiras 35 terrenos junto à
              cios (BPN), através do depar-             situação permitiu manter no anonimato          localização do então projecto, entretanto
              tamento de Private Banking                um arriscado negócio imobiliário – que         frustrado pelo Governo, do novo Institu-
              – vocacionado para créditos               causou polémica interna no BPN – e, so-        to Português de Oncologia (IPO). Ahistó-
              especiais aos clientes mais               bretudo, a identidade dos dois discretos       ria deste negócio em quatro capítulos.
ricos –, aprovou em 2007 uma operação                   investidores particulares: Pedro Miguel
de empréstimo cujo limite máximo che-                   Lima, filho de Domingos Duarte Lima, o         1 – A OPERAÇÃO HOMELAND
gava aos 60 milhões de euros. O crédito,                histórico social-democrata, e o ex-depu-       n   A primeira vez que se ouviu falar pu-
depositado numaconta-corrente cauciona-                                                                          blicamente na operação Home-
da pelo BPN, visava um negócio específi-                                                                         land foi nas audições realizadas
co: a compra de centenas de milhares de                 Pedro Lima ganhava € 1.600                               no ano passado pela comissão
metros quadrados de terrenos no conce-                  por mês quando conseguiu um                              parlamentar de inquérito ao caso
lho de Oeiras, junto ao local onde pode-                                                                         BPN. Sem nunca referir o nome
riam ter ficado as novas instalações do Ins-            crédito de 60 milhões do BPN                             Homeland, António Franco,ex-
tituto Português de Oncologia (IPO).                                                                             director do Departamento de
   Os documentos recolhidos pela SÁBA-                  tado do PSD, Vítor Igreja Raposo, amigo        Operações e administrador do BPN, ga-
DO revelam que a operação financeira do                 e actualmente sócio de Duarte Lima.            rantiu aos deputados que, em Setembro
BPN foi realizada em “parceria” com o                      O fundo Homeland tem ainda a parti-         de 2007, se demitiu de administrador não
cliente Homeland, um fundo especial de                  cipação do Fundo de Pensões do BPN.            executivo da Imofundos porque não te-
investimento imobiliário fechado, anóni-                Uma participação que a nova administra-        ria sido informado sobre uma operação
mo, comum no sector financeiro portu-                   ção do BPN, liderada por Francisco Ban-        de crédito para constituir um fundo. Na
guês e aprovado pela Comissão do Mer-                   deira, considerou ser “ilegal”. No total, os   sua única audição, cujo conteúdo foi tor-
cado de Valores Mobiliários (CMVM).                     três sócios realizaram negócios de, pelo       nado público, em acta, pela comissão par-
Nestes fundos, a identidade dos investi-                menos, cerca de 48 milhões de euros ad-        lamentar (Franco foi ouvido mais uma vez
                                                                                                                                                    t




SÁBADO                                                                                                                                         47
PORTUGAL




                                                                           À esquerda, alguns     Imobiliário Fechado…”, pode ler-se no do-
                                                                           dos terrenos           cumento a que a SÁBADO teve acesso. O
                                                                           comprados por          penhor especifica que o depósito das uni-
                                                                           Pedro Lima; em         dades de participação – umaespécie de ac-
                                                                           cima, pai e filho no   ções que titulam a propriedade – faz parte
                                                                           restaurante Solar      dos termos do contrato onde o Banco Por-
                                                                           dos Presuntos,         tuguês de Negócios (BPN) disponibiliza
                                                                           em Lisboa              um crédito até 60 milhões de euros depo-
                                                                                                  sitados numa conta-corrente caucionada.
                                                                                                     Num outro documento anexo ao pe-
    pelos deputados à porta fechada), o ex-       Os dois amigos tinham ainda um tercei-          nhor, o BPN sublinha que o crédito era
t




    administrador garantiu que a operação         ro sócio minoritário (com 15% do capi-          integralmente garantido pela viabilidade
    consistia no pedido de um empréstimo          tal): o Fundo de Pensões do Grupo BPN.          do projecto de investimento apresentado
    “de 10 milhões” de euros para constituir      Esta participação do Fundo de Pensões vi-       e as respectivas avaliações dos terrenos,
    o fundo e foi recusada pelo director co-      ria a ser considerada ilegal, já no ano pas-    bem como pela idoneidade e experiência
    mercial do BPN, Teófilo Carreira. Nesta       sado, pelo Departamento Jurídico do ban-        dos investidores e a sua “grande capaci-
    versão, Oliveira Costa teria então ordena-    co, conforme especificam documentos             dade financeira”. Nesse ano, o filho de
    do que o crédito se fizesse através do Pri-   consultados pela SÁBADO. Estava em cau-         Duarte Lima – um dos investidores – terá
    vate Banking do BPN para um cliente cuja      sa o facto de o Fundo de Pensões do BPN         apresentado às Finanças a declaração de
    identidade Franco garantiu não saber “de      ter dado ilegalmente como garantia os           impostos de 2006, de trabalhador por con-
    cor”, mas que poderia apurar mais tarde.      seus activos para fazer um negócio imo-         ta de outrem, com o rendimento anual de
    “É uma questão de se pedir”, disse então      biliário, ainda por cima financiado pelo        cerca de 19 mil euros. Ou seja, 1.600 eu-
    aos deputados.                                próprio BPN.                                    ros por mês.
       Um mês depois, a 4 de Março, a audi-          Através do cruzamento de vários docu-           O crédito bancário destinado “à aquisi-
    ção de Teófilo Carreira viria a confirmar     mentos percebe-se que a proposta da con-        ção de terrenos no concelho de Oeiras”, se-
    que a conversa era sobre o fundo Home-                                                                  gundo se lê nos documentos, foi
    land e que a proposta de crédito nunca                                                                  feito durante a gestão do ban-
    chegaraaser formalizadapelaviatradicio-       O sócio do filho de Duarte                                queiro José de Oliveira Costa,
    nal, porque Carreira a desaconselhara         Lima no negócio é amigo                                   que continua em prisão domi-
    quando foi abordado por Oliveira Costa.                                                                 ciliária no âmbito do caso BPN,
    O responsável disse ainda aos deputados       e hoje também sócio do pai                                e incluía também o penhor de
    que, mais tarde, acedeu ao sistema infor-                                                               igual número de unidades de
    mático interno do banco e confirmou que       cessão de crédito – com prazo de ano e          participação do sócio de Pedro Lima, o
    a operação tinha sido aprovada:. “Era um      meio a uma taxa Euribor a 12 meses e um         empresário Vítor Igreja Raposo, 43 anos,
    fundo fechado que consistia na compra         spread de 1% – tem a data do dia seguin-        ex-deputado do PSD pelo círculo de Bra-
    de uns terrenos, ao que parece, porque        te à aprovação do Homeland pela CMVM.           gança, amigo e, posteriormente, sócio de
    não tenho a certeza, na zona de Oeiras,       E que o negócio foi feito com recurso ao        Duarte Lima.
    para se instalar, eventualmente, o IPO”.      Private Banking do BPN.
       De acordo com os documentos a que a           Dois meses depois, a 13 de Setembro,         2 – O IPO E OS MILHÕES EM TERRENOS
    SÁBADO teve acesso, em 2007, Pedro Lima       Pedro Lima penhorou 42.500 unidades de          n De facto, 2007 foi o ano decisivo para
    e Vítor IgrejaRaposo eram os sócios maio-     participação do fundo. “Pelo presente ins-      a escolha da localização do novo IPO, após
    ritários – cada um com 42,5% das unida-       trumento declara que se constitui penhor        o abandono do degradado edifício de Sete
    des de participação – do fundo Homeland,      sobre os referidos valores mobiliários para     Rios, em Lisboa, ter sido publicamente
    criado pelo próprio BPN, através do BPN       garantia do bom e pontual cumprimento           considerado prioritário pelo então minis-
    Imofundos, e cuja indispensável aprova-       de todas as obrigações e/ou responsabili-       tro daSaúde, Correiade Campos, em 2006.
    ção legal foi concedida, a 12 de Julho des-   dades assumidas e/ou a assumir pelo Ho-         O projecto incluía a venda dos terrenos
    se ano, pelo Conselho Directivo daCMVM.       meland – Fundo Especial de Investimento         de Sete Rios para pagar a construção do

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novo edifício em terrenos a ceder pelas        2005, por iniciativa do Governo, e que         O negócio da Homeland em Oeiras foi
             autarquias de Lisboa ou de Oeiras.             nem ele, nem os órgãos de gestão da au-     feito formalmente a 17 de Setembro de
                Em meados de 2007, tudo dava a en-          tarquia se “reuniram ou conversaram so-     2007. Os dois principais investidores do
             tender que a decisão política seria favorá-    bre o projecto do IPO com os srs. Domin-    fundo, Vítor Igreja Raposo e Pedro Lima,
             vel à Câmara de Oeiras. A 7 de Junho, no       gos Duarte Lima, Pedro Miguel Lima e Ví-    não estiveram no Cartório Notarial de Cas-
             Dia do Município, o presidente da autar-       tor Igreja Raposo”. Ou sequer “tiveram      cais paraformalizaremos contratos decom-
             quia, Isaltino Morais, anunciou, segundo       qualquer tipo de contacto, no âmbito do     prade quase 450 mil metros quadrados de
             o jornal Expresso, ter recebido uma “res-      projecto IPO ou em qualquer outro negó-     terrenos, o equivalente a 45 campos de fu-
             posta favorável” do Governo socialista         cio que envolveu compra e venda de ter-     tebol. Tinhampassado quatro dias desde a
FOTOS D.R.




             para a instalação do IPO em Oeiras. Nes-                                                             assinatura do penhor das suas
             sa altura, referiu o local – Leceia, fregue-                                                         unidades de participação. Peran-
             sia de Barcarena – deixando um desabafo        Isaltino Morais garante que                           te anotáriaAnaPaulaLuís, foram
             que, dias depois, veio a revelar-se premo-     nunca falou com Duarte Lima ou                        os representantes legais do BPN
             nitório: o município não seria responsá-                                                             Imofundos – o presidente, Antó-
             vel “se se desse uma mudança de opinião        com o filho sobre o IPO de Oeiras                     nio Rebelo, e o vogaldo Conselho
             do Governo”. Em Novembro desse ano, o                                                                da Administração, Luís Faria –,
             novo presidente da Câmara de Lisboa, An-       renos, com responsáveis do BPN, BPN         que assinaramas quatro escrituras públicas
             tónio Costa, anunciou que o acordo com         Imofundos e Fundo Homeland”.                de um negócio de quase 48 milhões de eu-
             o Ministério da Saúde para o IPO ficar em         ACâmara de Oeiras esclarece ainda que    ros em aquisições de prédios rústicos (ter-
             Lisboa – no Parque da Bela Vista – estava      nunca chegou a concretizar eventuais        renos não urbanizados) em Porto Salvo,
             quase concluído. Foi o que aconteceu.          acordos que teria com os proprietários de   BarcarenaePaço deArcos, três freguesias do
                ÀSÁBADO, Isaltino Morais garantiu por       uma área de cerca de 50 hectares – 12 de-   concelho de Oeiras.
             escrito que os contactos com o Ministério      les seriam destinados às futuras instala-      Já em 2006 e 2007, empresas do grupo
             da Saúde começaram em Dezembro de              ções do IPO.                                SLN/BPN tinham comprado dezenas de




                                                                                                                                                      t




             SÁBADO                                                                                                                             49
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                                                                                                                        A LOCALIZAÇÃO
                                                                                                                        Isaltino Morais diz
                                                                                                                        que não precisava de
                                                                                                                        alterar o Plano Direc-
                                                                                                                        tor Municipal de Oei-
                                                                                                                        ras para o projecto IPO

                                                                                                                                OS TERRENOS
                                                                                                                                Autarca garante
                                                                                                                                que os terrenos onde
                                                                                                                                ia ser construído o IPO
                                                                                                                                não foram comprados
                                                                                                                                pela autarquia

                                                                                                                        A FAMÍLIA LIMA
                                                                                                                        Presidente da Câmara
                                                                                                                        afirma que nunca discutiu




                                                                                                      RICARDO PEREIRA
                                                                                                                        o projecto IPO com Duarte
                                                                                                                        Lima, com o filho deste ou
                                                                                                                        com o BPN

    terrenos nas futuras áreas de influência      rídico dos serviços municipalizados de       Pedro Lima, que não respondeu às per-
t




    do novo aeroporto de Lisboa, em Alcoche-      Oeiras e Amadoradesde 1988 e actualcoor-     guntas enviadas pela SÁBADO, terá entre-
    te (e na plataforma logística do Poceirão),   denador do respectivo gabinete jurídico.     gue às Finanças declarações anuais de im-
    tendo estes sido valorizados considera-          Contactado pela SÁBADO, João Almei-       postos com montantes modestos, auferi-
    velmente. O negócio de Oeiras poderia ter     da e Paiva recusou-se a prestar declara-     dos como trabalhador por conta de
    tido uma valorização significativa se o IPO   ções e a explicar porque é que dois dos      outrem – 14 mil euros em 2005, 19 mil
    ficasse instalado nos terrenos ao lado.       terrenos dafamíliaNetaFranco foram ven-      no ano seguinte, 28 mil em 2007 e outros
    “Esta é uma zona de expansão imobiliá-        didos a uma imobiliária da zona, a Moi-      28 mil em 2008.
    ria de Oeiras, mas com o projecto do IPO      nho Vermelho, que no mesmo dia os re-           O filho de Duarte Lima é ainda vogal
    à vista tinha naturalmente outra valoriza-    vendeu à Homeland por mais 305 mil eu-       do conselho de administração da Dulivi-
    ção”, diz à SÁBADO uma fonte imobiliá-        ros. O fundo do BPN comprou assim os         ra, Investimentos Imobiliários, SA, presi-
    ria local que pede o anonimato.               terrenos à Moinho Vermelho por 2,9 mi-       dida por Vítor Igreja Raposo, o seu sócio
       A Câmara de Oeiras confirma que os         lhões de euros e ficou registado na escri-   no fundo Homeland, que também apre-
    terrenos comprados pelo Homeland es-                                                                  sentou baixos rendimentos
    tão sujeitos a algumas condicionantes da                                                              anuais ao Fisco por contade ou-
    Reserva Ecológica Nacional (REN) e da Re-     Terrenos foram vendidos duas                            trem. Em 2007 foram 34.128
    serva Agrícola Nacional em Barcarena,         vezes num dia e o Homeland                              euros e, em 2008, 31.307 euros.
    mas, em Porto Salvo, já integram o “alva-                                                                Registada em Abril de 2005,
    rá de loteamento designado por Cabanas        pagou mais 305 mil euros                                a Dulivira tinha, no final de
    Golf”.                                                                                                2008, quase 10 milhões de eu-
       Aanálise das escrituras de comprae ven-    tura que não houve a intervenção de me-      ros de dívidas a terceiros, a médio e lon-
    da mostra que os terrenos foram adquiri-      diador imobiliário.                          go prazo, e um saldo líquido que acumu-
    dos adois proprietários de Oeiras: as famí-                                                lava prejuízos nos três anos, desde 2006:
    lias Canas e Neta Franco. A primeira ven-     3 – OS PROTAGONISTAS                         respectivamente 275 mil, 181 mil e ou-
    deu ao Homeland 28 terrenos por 25            n Um deles é Pedro Lima, que antes da        tros 181 mil euros.
    milhões de euros. A segunda transaccio-       entrada no Homeland era sócio de uma            No entanto, a Dulivira adquiriu, no fi-
    nou sete terrenos por mais de 23 milhões      pequena imobiliária – a Ediandar, Socie-     nal de 2005, terrenos com um forte po-
    de euros. Estes últimos foram vendidos        dade de Construções, Lda. – constituída      tencial urbanístico em Vila Nova de Gaia.
    através da firma Neta Franco, uma socie-      em Setembro de 2002. Fundada em Q      ue-   O negócio de 15 hectares envolveu 28 mi-
    dade civil de administração de bens, cons-    luz, a poucos quilómetros do projecto IPO    lhões de euros prevendo o contrato o di-
    tituída em 1998 (estará hoje em dia inac-     Oeiras, mas já no concelho de Sintra, a      reito de cedência da posição da empresa
    tiva) e gerida pelo advogado João de Al-      empresa apresentou contas com um sal-        a um fundo imobiliário semelhante ao
    meida e Paiva, irmão e colegade escritório    do médio negativo de cerca de 100 mil eu-    Homeland, desta vez gerido pela Gesfi-
    de Miguel Almeida e Paiva, consultor ju-      ros anuais, entre 2006 e 2008. O próprio     mo, Espírito Santo Irmãos – a mesma ges-
                                                                                                                                                             t




    50                                                                                                                              28 JANEIRO 2010 SÁBADO
PORTUGAL




                                                                                                                                          FOTOS LUSA
                                                                        Àdireita, Duarte       Isaltino Morais: “Nunca tive qualquer reu-
                                                                        Lima com Ferreira do   nião com ele relacionado com o projecto
                                                                        Amaral nos tempos      IPO Oeiras, projecto em relação ao qual
                                                                        do cavaquismo. Em      nunca tive qualquer envolvimento ou in-
                                                                        cima, Oliveira Costa   terferência.”
                                                                        escoltado pela            Por sua vez, Duarte Lima não revelou à
                                                                        polícia numa           SÁBADO pormenores de um crédito que
                                                                        deslocação ao          contraiu no BPN durante a gestão de Oli-
                                                                        Parlamento             veira Costa, mas garantiu que “em nenhu-
                                                                                               ma ocasião” foi investidor do fundo Ho-
    tora que surgiu no ano passado associa-      Os dois são sócios, desde Julho do ano        meland. E que nuncateve, durante os anos
t




    da a Vítor Igreja Raposo e à Câmara do       passado, naVincente International Group,      em que foi vogal da Comissão de Ética do
    Porto, liderada por Rui Rio, no negócio de   SA, uma empresa com um capital social         IPO, entre 2002 e Maio de 2005, “qual-
    aquisição dos terrenos onde está hoje o      de 450 mil euros dedicada ao comércio a       quer tipo de conhecimento ou informa-
    degradado Bairro do Aleixo.                  retalho de vestuário – Vítor Igreja Rapo-     ção” sobre o projecto do novo IPO. Con-
       As ligações do empresário ao PSD são      so é vogal do Conselho de Administração       firmou que Vítor IgrejaRaposo é seu clien-
    também conhecidas, sobretudo no distri-                                                              te, mas recusou-se a falar das
    to de Bragança. Asua posição mais desta-                                                             respectivas relações pessoais e
    cada foi o lugar de deputado na legislatu-   Vítor Raposo e o filho de Lima                          profissionais.
    ra de 1991/95, tinha então 25 anos. Na       estão na empresa Dulivira que
    época, Vítor Igreja Raposo beneficiou do                                                            4 – OS ÚLTIMOS DADOS
    regime de substituição dos deputados,        comprou terrenos em Gaia                               n    Documentos internos do
    porque era o primeiro candidato suplen-                                                              BPN a que a SÁBADO teve aces-
    te do PSD pelo círculo de Bragança, lide-    presidido por Duarte Lima.                    so, aprovados a 20 de Março de 2009, es-
    rado por Silva Peneda e Duarte Lima, ten-       O empresário Vítor Igreja Raposo diz à     pecificam que já tinham sido utilizados
    do este último sido presidente da Fede-      SÁBADO que não fala dos seus negócios         pelo fundo Homeland cerca de 42,3 mi-
    ração Distrital de Bragança do PSD e líder   empresariais com a comunicação social,        lhões de euros do crédito de 60 milhões,
    parlamentar dos sociais-democratas.          limitando-se a esclarecer por escrito que     o que faz supor que uma parte dos terre-
       Hoje, a relação entre Duarte Lima e Ví-   Duarte Lima é um dos seus “advogados”.        nos de Oeiras foram adquiridos recorren-
    tor Igreja Raposo é também profissional.     E que não tem relações de amizade com         do a outras verbas.
                                                                                                  Já os penhores de Pedro Lima e Vítor
                                                                                               Igreja Raposo continuavam activos, ten-
    Escrituras &                                                 A negociação
                                                                 Em 2009, Vítor Ra-
                                                                                               do o deste último sido então renovado
                                                                                               por mais seis meses “até finalizarem as
    documentos                                                   poso negociou com             conversações” entre o empresário e o Fun-
    CÓPIA DE ALGUNS DOS DOCU-                                    o BPN a compra de             do de Pensões do BPN. Até Setembro de
    MENTOS CONSULTADOS PELA                                      mais 15% do fundo             2009, Vítor Igreja Raposo podia adquirir
    SÁBADO                                                                                     os 15% do Fundo de Pensões tornando-
                                                                                               se o sócio maioritário do fundo. “Em re-
                                                                                               lação ao BPN (…), não tenho com o mes-
                                                                                               mo nenhuma operação de financiamento,
    O penhor                                                                                   nem em caso algum lhe solicitei financia-
    O crédito de                                                                               mento para aquisição de títulos de parti-
    € 60 milhões                                                                               cipação em fundos imobiliários”, diz Ví-
    e o penhor                             A escritura                                         tor Igreja Raposo à SÁBADO. As adminis-
    de Pedro                               O fundo Homeland                                    trações do BPN e do BPN Imofundos não
    Lima ao BPN                            adquiriu 35 terre-                                  responderam às perguntas enviadas pela
    Imofundos                              nos em Oeiras                                       SÁBADO até ao fecho desta edição.

    52                                                                                                               28 JANEIRO 2010 SÁBADO

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O grande negócio imobiliário do filho de Duarte Lima com fundo do BPN

  • 1. Portugal INVESTIGAÇÃO. A HISTÓRIA DA OPERAÇÃO HOMELAND O GRANDE NEGÓCIO DO PEQUENO LIMA O FILHO INVESTIDOR Pedro Lima participou num fundo imobiliário que teve disponíveis 60 milhões de euros para comprar terrenos 46 28 JANEIRO 2010
  • 2. O BPN colocou 60 milhões de euros à disposição de um fundo de investimento do filho de Duarte Lima e de um sócio, ex-deputado do PSD. O fundo criado em 2007comprou 35 terrenos, porcerca de 48 milhões de euros, junto ao então projecto do Instituto Português de Oncologia, que Isaltino Morais queria verconstruído em Oeiras. Por António José Vilela O PAI DISTANTE Domingos Duarte Lima nega ter tido qualquer intervenção nos negó- cios milionários prota- gonizados pelo filho SÉRGIO LEMOS/CM O Banco Português de Negó- dores nuncaé reveladapublicamente. Esta quirindo em Oeiras 35 terrenos junto à cios (BPN), através do depar- situação permitiu manter no anonimato localização do então projecto, entretanto tamento de Private Banking um arriscado negócio imobiliário – que frustrado pelo Governo, do novo Institu- – vocacionado para créditos causou polémica interna no BPN – e, so- to Português de Oncologia (IPO). Ahistó- especiais aos clientes mais bretudo, a identidade dos dois discretos ria deste negócio em quatro capítulos. ricos –, aprovou em 2007 uma operação investidores particulares: Pedro Miguel de empréstimo cujo limite máximo che- Lima, filho de Domingos Duarte Lima, o 1 – A OPERAÇÃO HOMELAND gava aos 60 milhões de euros. O crédito, histórico social-democrata, e o ex-depu- n A primeira vez que se ouviu falar pu- depositado numaconta-corrente cauciona- blicamente na operação Home- da pelo BPN, visava um negócio específi- land foi nas audições realizadas co: a compra de centenas de milhares de Pedro Lima ganhava € 1.600 no ano passado pela comissão metros quadrados de terrenos no conce- por mês quando conseguiu um parlamentar de inquérito ao caso lho de Oeiras, junto ao local onde pode- BPN. Sem nunca referir o nome riam ter ficado as novas instalações do Ins- crédito de 60 milhões do BPN Homeland, António Franco,ex- tituto Português de Oncologia (IPO). director do Departamento de Os documentos recolhidos pela SÁBA- tado do PSD, Vítor Igreja Raposo, amigo Operações e administrador do BPN, ga- DO revelam que a operação financeira do e actualmente sócio de Duarte Lima. rantiu aos deputados que, em Setembro BPN foi realizada em “parceria” com o O fundo Homeland tem ainda a parti- de 2007, se demitiu de administrador não cliente Homeland, um fundo especial de cipação do Fundo de Pensões do BPN. executivo da Imofundos porque não te- investimento imobiliário fechado, anóni- Uma participação que a nova administra- ria sido informado sobre uma operação mo, comum no sector financeiro portu- ção do BPN, liderada por Francisco Ban- de crédito para constituir um fundo. Na guês e aprovado pela Comissão do Mer- deira, considerou ser “ilegal”. No total, os sua única audição, cujo conteúdo foi tor- cado de Valores Mobiliários (CMVM). três sócios realizaram negócios de, pelo nado público, em acta, pela comissão par- Nestes fundos, a identidade dos investi- menos, cerca de 48 milhões de euros ad- lamentar (Franco foi ouvido mais uma vez t SÁBADO 47
  • 3. PORTUGAL À esquerda, alguns Imobiliário Fechado…”, pode ler-se no do- dos terrenos cumento a que a SÁBADO teve acesso. O comprados por penhor especifica que o depósito das uni- Pedro Lima; em dades de participação – umaespécie de ac- cima, pai e filho no ções que titulam a propriedade – faz parte restaurante Solar dos termos do contrato onde o Banco Por- dos Presuntos, tuguês de Negócios (BPN) disponibiliza em Lisboa um crédito até 60 milhões de euros depo- sitados numa conta-corrente caucionada. Num outro documento anexo ao pe- pelos deputados à porta fechada), o ex- Os dois amigos tinham ainda um tercei- nhor, o BPN sublinha que o crédito era t administrador garantiu que a operação ro sócio minoritário (com 15% do capi- integralmente garantido pela viabilidade consistia no pedido de um empréstimo tal): o Fundo de Pensões do Grupo BPN. do projecto de investimento apresentado “de 10 milhões” de euros para constituir Esta participação do Fundo de Pensões vi- e as respectivas avaliações dos terrenos, o fundo e foi recusada pelo director co- ria a ser considerada ilegal, já no ano pas- bem como pela idoneidade e experiência mercial do BPN, Teófilo Carreira. Nesta sado, pelo Departamento Jurídico do ban- dos investidores e a sua “grande capaci- versão, Oliveira Costa teria então ordena- co, conforme especificam documentos dade financeira”. Nesse ano, o filho de do que o crédito se fizesse através do Pri- consultados pela SÁBADO. Estava em cau- Duarte Lima – um dos investidores – terá vate Banking do BPN para um cliente cuja sa o facto de o Fundo de Pensões do BPN apresentado às Finanças a declaração de identidade Franco garantiu não saber “de ter dado ilegalmente como garantia os impostos de 2006, de trabalhador por con- cor”, mas que poderia apurar mais tarde. seus activos para fazer um negócio imo- ta de outrem, com o rendimento anual de “É uma questão de se pedir”, disse então biliário, ainda por cima financiado pelo cerca de 19 mil euros. Ou seja, 1.600 eu- aos deputados. próprio BPN. ros por mês. Um mês depois, a 4 de Março, a audi- Através do cruzamento de vários docu- O crédito bancário destinado “à aquisi- ção de Teófilo Carreira viria a confirmar mentos percebe-se que a proposta da con- ção de terrenos no concelho de Oeiras”, se- que a conversa era sobre o fundo Home- gundo se lê nos documentos, foi land e que a proposta de crédito nunca feito durante a gestão do ban- chegaraaser formalizadapelaviatradicio- O sócio do filho de Duarte queiro José de Oliveira Costa, nal, porque Carreira a desaconselhara Lima no negócio é amigo que continua em prisão domi- quando foi abordado por Oliveira Costa. ciliária no âmbito do caso BPN, O responsável disse ainda aos deputados e hoje também sócio do pai e incluía também o penhor de que, mais tarde, acedeu ao sistema infor- igual número de unidades de mático interno do banco e confirmou que cessão de crédito – com prazo de ano e participação do sócio de Pedro Lima, o a operação tinha sido aprovada:. “Era um meio a uma taxa Euribor a 12 meses e um empresário Vítor Igreja Raposo, 43 anos, fundo fechado que consistia na compra spread de 1% – tem a data do dia seguin- ex-deputado do PSD pelo círculo de Bra- de uns terrenos, ao que parece, porque te à aprovação do Homeland pela CMVM. gança, amigo e, posteriormente, sócio de não tenho a certeza, na zona de Oeiras, E que o negócio foi feito com recurso ao Duarte Lima. para se instalar, eventualmente, o IPO”. Private Banking do BPN. De acordo com os documentos a que a Dois meses depois, a 13 de Setembro, 2 – O IPO E OS MILHÕES EM TERRENOS SÁBADO teve acesso, em 2007, Pedro Lima Pedro Lima penhorou 42.500 unidades de n De facto, 2007 foi o ano decisivo para e Vítor IgrejaRaposo eram os sócios maio- participação do fundo. “Pelo presente ins- a escolha da localização do novo IPO, após ritários – cada um com 42,5% das unida- trumento declara que se constitui penhor o abandono do degradado edifício de Sete des de participação – do fundo Homeland, sobre os referidos valores mobiliários para Rios, em Lisboa, ter sido publicamente criado pelo próprio BPN, através do BPN garantia do bom e pontual cumprimento considerado prioritário pelo então minis- Imofundos, e cuja indispensável aprova- de todas as obrigações e/ou responsabili- tro daSaúde, Correiade Campos, em 2006. ção legal foi concedida, a 12 de Julho des- dades assumidas e/ou a assumir pelo Ho- O projecto incluía a venda dos terrenos se ano, pelo Conselho Directivo daCMVM. meland – Fundo Especial de Investimento de Sete Rios para pagar a construção do 48 28 JANEIRO 2010
  • 4. novo edifício em terrenos a ceder pelas 2005, por iniciativa do Governo, e que O negócio da Homeland em Oeiras foi autarquias de Lisboa ou de Oeiras. nem ele, nem os órgãos de gestão da au- feito formalmente a 17 de Setembro de Em meados de 2007, tudo dava a en- tarquia se “reuniram ou conversaram so- 2007. Os dois principais investidores do tender que a decisão política seria favorá- bre o projecto do IPO com os srs. Domin- fundo, Vítor Igreja Raposo e Pedro Lima, vel à Câmara de Oeiras. A 7 de Junho, no gos Duarte Lima, Pedro Miguel Lima e Ví- não estiveram no Cartório Notarial de Cas- Dia do Município, o presidente da autar- tor Igreja Raposo”. Ou sequer “tiveram cais paraformalizaremos contratos decom- quia, Isaltino Morais, anunciou, segundo qualquer tipo de contacto, no âmbito do prade quase 450 mil metros quadrados de o jornal Expresso, ter recebido uma “res- projecto IPO ou em qualquer outro negó- terrenos, o equivalente a 45 campos de fu- posta favorável” do Governo socialista cio que envolveu compra e venda de ter- tebol. Tinhampassado quatro dias desde a FOTOS D.R. para a instalação do IPO em Oeiras. Nes- assinatura do penhor das suas sa altura, referiu o local – Leceia, fregue- unidades de participação. Peran- sia de Barcarena – deixando um desabafo Isaltino Morais garante que te anotáriaAnaPaulaLuís, foram que, dias depois, veio a revelar-se premo- nunca falou com Duarte Lima ou os representantes legais do BPN nitório: o município não seria responsá- Imofundos – o presidente, Antó- vel “se se desse uma mudança de opinião com o filho sobre o IPO de Oeiras nio Rebelo, e o vogaldo Conselho do Governo”. Em Novembro desse ano, o da Administração, Luís Faria –, novo presidente da Câmara de Lisboa, An- renos, com responsáveis do BPN, BPN que assinaramas quatro escrituras públicas tónio Costa, anunciou que o acordo com Imofundos e Fundo Homeland”. de um negócio de quase 48 milhões de eu- o Ministério da Saúde para o IPO ficar em ACâmara de Oeiras esclarece ainda que ros em aquisições de prédios rústicos (ter- Lisboa – no Parque da Bela Vista – estava nunca chegou a concretizar eventuais renos não urbanizados) em Porto Salvo, quase concluído. Foi o que aconteceu. acordos que teria com os proprietários de BarcarenaePaço deArcos, três freguesias do ÀSÁBADO, Isaltino Morais garantiu por uma área de cerca de 50 hectares – 12 de- concelho de Oeiras. escrito que os contactos com o Ministério les seriam destinados às futuras instala- Já em 2006 e 2007, empresas do grupo da Saúde começaram em Dezembro de ções do IPO. SLN/BPN tinham comprado dezenas de t SÁBADO 49
  • 5. PORTUGAL A LOCALIZAÇÃO Isaltino Morais diz que não precisava de alterar o Plano Direc- tor Municipal de Oei- ras para o projecto IPO OS TERRENOS Autarca garante que os terrenos onde ia ser construído o IPO não foram comprados pela autarquia A FAMÍLIA LIMA Presidente da Câmara afirma que nunca discutiu RICARDO PEREIRA o projecto IPO com Duarte Lima, com o filho deste ou com o BPN terrenos nas futuras áreas de influência rídico dos serviços municipalizados de Pedro Lima, que não respondeu às per- t do novo aeroporto de Lisboa, em Alcoche- Oeiras e Amadoradesde 1988 e actualcoor- guntas enviadas pela SÁBADO, terá entre- te (e na plataforma logística do Poceirão), denador do respectivo gabinete jurídico. gue às Finanças declarações anuais de im- tendo estes sido valorizados considera- Contactado pela SÁBADO, João Almei- postos com montantes modestos, auferi- velmente. O negócio de Oeiras poderia ter da e Paiva recusou-se a prestar declara- dos como trabalhador por conta de tido uma valorização significativa se o IPO ções e a explicar porque é que dois dos outrem – 14 mil euros em 2005, 19 mil ficasse instalado nos terrenos ao lado. terrenos dafamíliaNetaFranco foram ven- no ano seguinte, 28 mil em 2007 e outros “Esta é uma zona de expansão imobiliá- didos a uma imobiliária da zona, a Moi- 28 mil em 2008. ria de Oeiras, mas com o projecto do IPO nho Vermelho, que no mesmo dia os re- O filho de Duarte Lima é ainda vogal à vista tinha naturalmente outra valoriza- vendeu à Homeland por mais 305 mil eu- do conselho de administração da Dulivi- ção”, diz à SÁBADO uma fonte imobiliá- ros. O fundo do BPN comprou assim os ra, Investimentos Imobiliários, SA, presi- ria local que pede o anonimato. terrenos à Moinho Vermelho por 2,9 mi- dida por Vítor Igreja Raposo, o seu sócio A Câmara de Oeiras confirma que os lhões de euros e ficou registado na escri- no fundo Homeland, que também apre- terrenos comprados pelo Homeland es- sentou baixos rendimentos tão sujeitos a algumas condicionantes da anuais ao Fisco por contade ou- Reserva Ecológica Nacional (REN) e da Re- Terrenos foram vendidos duas trem. Em 2007 foram 34.128 serva Agrícola Nacional em Barcarena, vezes num dia e o Homeland euros e, em 2008, 31.307 euros. mas, em Porto Salvo, já integram o “alva- Registada em Abril de 2005, rá de loteamento designado por Cabanas pagou mais 305 mil euros a Dulivira tinha, no final de Golf”. 2008, quase 10 milhões de eu- Aanálise das escrituras de comprae ven- tura que não houve a intervenção de me- ros de dívidas a terceiros, a médio e lon- da mostra que os terrenos foram adquiri- diador imobiliário. go prazo, e um saldo líquido que acumu- dos adois proprietários de Oeiras: as famí- lava prejuízos nos três anos, desde 2006: lias Canas e Neta Franco. A primeira ven- 3 – OS PROTAGONISTAS respectivamente 275 mil, 181 mil e ou- deu ao Homeland 28 terrenos por 25 n Um deles é Pedro Lima, que antes da tros 181 mil euros. milhões de euros. A segunda transaccio- entrada no Homeland era sócio de uma No entanto, a Dulivira adquiriu, no fi- nou sete terrenos por mais de 23 milhões pequena imobiliária – a Ediandar, Socie- nal de 2005, terrenos com um forte po- de euros. Estes últimos foram vendidos dade de Construções, Lda. – constituída tencial urbanístico em Vila Nova de Gaia. através da firma Neta Franco, uma socie- em Setembro de 2002. Fundada em Q ue- O negócio de 15 hectares envolveu 28 mi- dade civil de administração de bens, cons- luz, a poucos quilómetros do projecto IPO lhões de euros prevendo o contrato o di- tituída em 1998 (estará hoje em dia inac- Oeiras, mas já no concelho de Sintra, a reito de cedência da posição da empresa tiva) e gerida pelo advogado João de Al- empresa apresentou contas com um sal- a um fundo imobiliário semelhante ao meida e Paiva, irmão e colegade escritório do médio negativo de cerca de 100 mil eu- Homeland, desta vez gerido pela Gesfi- de Miguel Almeida e Paiva, consultor ju- ros anuais, entre 2006 e 2008. O próprio mo, Espírito Santo Irmãos – a mesma ges- t 50 28 JANEIRO 2010 SÁBADO
  • 6. PORTUGAL FOTOS LUSA Àdireita, Duarte Isaltino Morais: “Nunca tive qualquer reu- Lima com Ferreira do nião com ele relacionado com o projecto Amaral nos tempos IPO Oeiras, projecto em relação ao qual do cavaquismo. Em nunca tive qualquer envolvimento ou in- cima, Oliveira Costa terferência.” escoltado pela Por sua vez, Duarte Lima não revelou à polícia numa SÁBADO pormenores de um crédito que deslocação ao contraiu no BPN durante a gestão de Oli- Parlamento veira Costa, mas garantiu que “em nenhu- ma ocasião” foi investidor do fundo Ho- tora que surgiu no ano passado associa- Os dois são sócios, desde Julho do ano meland. E que nuncateve, durante os anos t da a Vítor Igreja Raposo e à Câmara do passado, naVincente International Group, em que foi vogal da Comissão de Ética do Porto, liderada por Rui Rio, no negócio de SA, uma empresa com um capital social IPO, entre 2002 e Maio de 2005, “qual- aquisição dos terrenos onde está hoje o de 450 mil euros dedicada ao comércio a quer tipo de conhecimento ou informa- degradado Bairro do Aleixo. retalho de vestuário – Vítor Igreja Rapo- ção” sobre o projecto do novo IPO. Con- As ligações do empresário ao PSD são so é vogal do Conselho de Administração firmou que Vítor IgrejaRaposo é seu clien- também conhecidas, sobretudo no distri- te, mas recusou-se a falar das to de Bragança. Asua posição mais desta- respectivas relações pessoais e cada foi o lugar de deputado na legislatu- Vítor Raposo e o filho de Lima profissionais. ra de 1991/95, tinha então 25 anos. Na estão na empresa Dulivira que época, Vítor Igreja Raposo beneficiou do 4 – OS ÚLTIMOS DADOS regime de substituição dos deputados, comprou terrenos em Gaia n Documentos internos do porque era o primeiro candidato suplen- BPN a que a SÁBADO teve aces- te do PSD pelo círculo de Bragança, lide- presidido por Duarte Lima. so, aprovados a 20 de Março de 2009, es- rado por Silva Peneda e Duarte Lima, ten- O empresário Vítor Igreja Raposo diz à pecificam que já tinham sido utilizados do este último sido presidente da Fede- SÁBADO que não fala dos seus negócios pelo fundo Homeland cerca de 42,3 mi- ração Distrital de Bragança do PSD e líder empresariais com a comunicação social, lhões de euros do crédito de 60 milhões, parlamentar dos sociais-democratas. limitando-se a esclarecer por escrito que o que faz supor que uma parte dos terre- Hoje, a relação entre Duarte Lima e Ví- Duarte Lima é um dos seus “advogados”. nos de Oeiras foram adquiridos recorren- tor Igreja Raposo é também profissional. E que não tem relações de amizade com do a outras verbas. Já os penhores de Pedro Lima e Vítor Igreja Raposo continuavam activos, ten- Escrituras & A negociação Em 2009, Vítor Ra- do o deste último sido então renovado por mais seis meses “até finalizarem as documentos poso negociou com conversações” entre o empresário e o Fun- CÓPIA DE ALGUNS DOS DOCU- o BPN a compra de do de Pensões do BPN. Até Setembro de MENTOS CONSULTADOS PELA mais 15% do fundo 2009, Vítor Igreja Raposo podia adquirir SÁBADO os 15% do Fundo de Pensões tornando- se o sócio maioritário do fundo. “Em re- lação ao BPN (…), não tenho com o mes- mo nenhuma operação de financiamento, O penhor nem em caso algum lhe solicitei financia- O crédito de mento para aquisição de títulos de parti- € 60 milhões cipação em fundos imobiliários”, diz Ví- e o penhor A escritura tor Igreja Raposo à SÁBADO. As adminis- de Pedro O fundo Homeland trações do BPN e do BPN Imofundos não Lima ao BPN adquiriu 35 terre- responderam às perguntas enviadas pela Imofundos nos em Oeiras SÁBADO até ao fecho desta edição. 52 28 JANEIRO 2010 SÁBADO