O documento descreve o cânon bíblico, listando os livros aceitos pelas Bíblias Católica, Protestante e Hebraica. Explica que os livros foram considerados inspirados por Deus e reconhecidos como normativos para a fé. Também discute os critérios usados para determinar a canonicidade dos livros e a doutrina católica sobre a inspiração divina na escrita da Bíblia.
2. Cânon Bíblico é a lista de todos os livros da Bíblia. Canôn vem de
cana que era usada como metro, medida. Daí a palavra passou a ser usada
também como norma, regra de verdade ou de fé.
Os livros da Bíblia foram chamados de “canônicos” a partir do século
IV, porque foram reconhecidos como normativos para a fé e a vida dos fiéis.
3. Para o Antigo Testamento existem dois cânones:
O Cânon Alexandrino (ou longo): com 46 livros, presentes na Bíblia Católica;
O Cânon Palestinense (ou curto) com 39 livros, presentes nas Bíblias Hebraica e
Protestante;
Para o Novo Testamento, o cânon é o mesmo para católicos e protestantes
contendo 27 livros.
4. Tendo em vista a aceitação ou não no Cânon, os livros da Bíblia são
chamados de Protocanônicos e Deuterocanônicos.
Protocanônicos: são os livros presentes nas três Bíblias (Católica, Hebraica
e Protestante). Isto é, aqueles livros que foram considerados inspirados por
Deus, sempre e por todos.
Deuterocanônicos: são os livros cuja inspiração foi objetos de debates e que
são aceitos por um e rejeitados por outros. Encontram-se somente na Bíblia
Católica.
5. Formação
do Cânon É muito fácil refazer a história do cânon do Antigo Testamento; sabemos que
pelo ano de 130 a.C., o tradutor do livro de Eclesiástico do hebraico para o grego
sabia da existência de três grupos de livros que eram o tesouro de Israel: a lei, os
Profetas e os Escritos.
O primeiro e o segundo grupo já estavam bem definidos. Quanto aos
escritos, ainda no tempo de Jesus, havia incertezas. No final do primeiro século
depois de Cristo, os rabinos reconheceram que alguns livros “manchavam as mãos”
isto é, eram sagrados e depois de manuseá-los era preciso purificar-se.
O Cânon judaico, com 39 livros, foi fixado nos finais do século II d.C. Um dos
motivos que contribuiu para isso foi a Igreja Primitiva que usava o texto grego da
Bíblia, que continham 46 livros. Portanto, com os sete livros deuterocanônicos, não
aceitos pelos judeus.
6. Quanto ao cânon da Bíblia Católica, os autores
dos livros do Novo Testamento, ao citar textos do Antigo
Testamento, usaram todos os livros da Bíblia
Grega, inclusive os deuterocanônicos. A Igreja
Primitiva, portanto, considerou inspirados por Deus os 46
livros da Bíblia Grega e não apenas os 39 livros da Bíblia
Hebraica.
A formação do cânon no Novo Testamento
também é complexa. O anônimo autor da Segunda Carta
de Pedro fala das coleções de cartas de cartas de
Paulo, colocando-as ao lado das “outras Escrituras”
“Ele trata disso também em todas as suas cartas, se bem
que nelas se encontrem algumas coisas difíceis, que
homens sem instrução e vacilantes deformam, para a sua
própria perdição. Aliás, é o que fazem também com as
demais Escrituras” (2Pd 3,16)
7. Não sabemos quantas e quais cartas ele conhecia. São Justino, nos meados do século II
depois de Cristo, afirma que os cristãos liam, nas assembléias litúrgicas, as “memórias dos
apóstolos”, isto é, os Evangelhos.
A lista dos livros do Novo Testamento mais antiga que possuímos é o chamado Cânon de
Muratori,, no final do século II d.C. Nela faltam Hebreus, Tiago, as duas cartas de São Pedro e a
Segunda e Terceira Cartas de João.
Um dos fatores que pode ter contribuído para a fixação do cânon no Novo Testamento foi
o herege Marcião que, em sua igreja, rejeitou todos os livros do Antigo Testamento e do Novo
Testamento e admitiu apenas o Evangelho de Lucas e as dez cartas de Paulo. Por isso alguns
concílios locais, como os de Hipona em 393 d.C e os de Catargo em 397 e 419 d.C, aprovaram
listas de livros do Antigo e do Novo Testamento, que coincidem com os cânons atuais.
Mas o primeiro Cânon oficial da Igreja é o do Concílio Ecumênico de Florença em
1441, sob o papa Eugênio IV. Porém, a declaração definitiva do cânon bíblico só aconteceu em
1946, na IV sessão do concílio de Trento. Ali Definiu-se co cânon do Antigo Testamento com 46
livros e do Novo Testamento com 27 livros.
8. Critérios de
CanonidadeComo a Igreja tem certeza que esses livros são canônicos? Sem dúvida, não
foi por uma revelação especial. O Concílio Vaticano II diz que: “mediante a Tradição a
Igreja conhece o cânon inteiro dos livros sagrados” (DV 8). Isso significa que, no
processo de reconhecimento do cânon, está implícita a ação do Espírito Santo
que, segundo Jesus, levará a Igreja à Verdade Total. O mesmo Espírito, que inspirou os
autores sagrados a escrever, guia também a Igreja para reconhecer quais livros são
inspirados ou não. Além da ação do Espírito Santo, existem outros critérios
secundários.
9. Para os judeus, um livro era inspirado e, portanto, canônico, se fosse escrito
por um profeta, em hebraico e em Israel. Por isso os livros chamados
deuterocanônicos não foram aceitos pelos judeus. Ou porque foram escritos em
grego, ou fora de Israel ou por uma pessoa que não era considerada profeta. Já os
cristãos olharam a prática de Jesus e dos apóstolos, o uso litúrgico e a sua
conformidade com a fé. Os livros que não são inspirados e não fazem parte de nenhum
cânon são chamados Apócrifos.
Apócrifos: livros escritos no tempo dos demais mas que não foram escritos sobre a
inspiração de Deus e por isso, não pertence ao livro da Bíblia.
10. Os
Livros Os cânones, ou lista, dos livros sagrados para cristãos, protestantes e judeus estão demonstrados
nas tabelas a seguir:
Obs.: Os livros sublinhados são aqueles que ocupam lugares diferentes nos três cânones. Os escritos em
negrito são deuterocanônicos.
Antigo
Testamento
Bíblia Católica Bíblia Protestante Bíblia Hebraica
Pentateuco Pentateuco Lei
Gênesis Gênesis Gênesis
Êxodo Êxodo Êxodo
Levítico Levítico Levítico
Números Números Números
Deuteronômio Deuteronômio Deuteronômio
11. Bíblia Católica Bíblia Protestante Bíblia Hebraica
Históricos Históricos Profetas Anteriores
Josué Josué Josué
Juízes Juízes Juízes
Rute Rute
1 e 2 Samuel 1 e 2 Samuel 1 e 2 Samuel
1 e 2 Reis 1 e 2 Reis 1 e 2 Reis
1 e 2 Crônicas 1 e 2 Crônicas
Esdras Esdras
Neemias Neemias
Tobias
Judite
Ester Ester
1 e 2 Macabeus 1 e 2 Macabeus
12. Bíblia Católica Bíblia Protestante
Profetas Profetas
Isaías Isaías
Jeremias Jeremias
Lamentações Lamentações
Baruc
Ezequiel Ezequiel
Daniel Daniel
Oséias Oséias
Joel Joel
Amós Amós
Abdias Abdias
Jonas Jonas
Miquéias Miquéias
Naum Naum
Habacuc Habacuc
Sofonias Sofonias
Ageu Ageu
Zacarias Zacarias
Malaquias Malaquias
13. Novo
Bíblia Católica Bíblia Protestante
Testamento Históricos Históricos
Evangelho de Mateus Evangelho de Mateus
Evangelho de Marcos Evangelho de Marcos
Evangelho de Lucas Evangelho de Lucas
Evangelho de João Evangelho de João
Atos dos Apóstolos Atos dos Apóstolos
14. Bíblia Católica Bíblia Protestante
Didáticos Didáticos
Cartas aos Romanos Cartas aos Romanos
I Carta aos Coríntios I Carta aos Coríntios
II Carta aos Coríntios II Carta aos Coríntios
Carta aos Gálatas Carta aos Gálatas
Cartas aos Efésios Cartas aos Efésios
Cartas aos Filipenses Cartas aos Filipenses
Cartas aos Colossenses Cartas aos Colossenses
I Carta aos Tessalonicenses I Carta aos Tessalonicenses
II Carta aos Tessalonicenses II Carta aos Tessalonicenses
I Carta a Timótio I Carta a Timótio
II Carta a Timótio II Carta a Timótio
Carta a Tito Carta a Tito
Carta a Filêmon Carta a Filêmon
Hebreus Hebreus
Carta de Tiago Carta de Tiago
I Carta de Pedro I Carta de Pedro
II Carta de Pedro II Carta de Pedro
I Carta de João I Carta de João
II Carta de João II Carta de João
III Carta de João III Carta de João
Carta de Judas Carta de Judas
17. Por “inspiração” entendemos a ação particular de Deus sobre algumas pessoas.
Deus inspirou algumas pessoas para AGIR. Por exemplo: Abraão, Moisés e muitos outros;
Inspirou outras para FALAR. Por exemplo, os profetas
Inspirou outros para ESCREVER. Esses são os hagiógrafos, ou autores sagrados, que escreveram a
Bíblia.
18. Ao falar de Inspiração da Sagrada Escritura, entende-se inspiração para
escrever a Bíblia. A Igreja herdou dos judeus a crença que seus livros sagrados foram
escritos por inspiração divina.
Não existem, no Antigo Testamento, textos explícitos que falem da inspiração
divina. Porém, à proporção que os livros do Antigo Testamento se formavam, crescia
sempre mais, entre os judeus, a crença na inspiração divina.
Assim, o rei Josias fez uma grande reforma religiosa em Judá, baseando no livro
da Aliança, encontrado no Templo em Jerusalém (2Rs 23) . Sabemos, hoje, que esse livro é
o Deuteronômio.
Esdras leu ao povo “o Livro da Lei de Moisés que o Senhor mandou a Israel”. Esse
livro de Moisés, hoje, é identificado com todo o Pentateuco. Os rabinos chegaram a afirmar
que a Torá (o Pentateuco), tinha sido escrita pelo próprio Deus, antes da criação do Mundo.
Por acreditar na origem divina de seus livros sagrados, os judeus ficaram conhecidos como
“Povo do Livro”.
19. Tanto Jesus como os apóstolos acreditavam que as Escrituras eram
livros sagrados. Várias vezes encontramos afirmações de que Deus ou o
Espírito Santo falou através de Moisés, de Davi ou dos Profetas.
É certo que, para Jesus e para a Igreja Primitiva, as Escrituras são
livros sagrados onde se encontra a palavra de Deus.
20. O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática Dei Verbum (III, 11), diz:
“As verdades divinamente reveladas que estão contidas e expressas nos livros da
Sagrada Escritura foram escritas por inspiração do Espírito Santo. A Santa Mãe
Igreja, por fé apostólica, considera sagrados e canônicos todos os livros
inteiros, seja do Antigo como no Novo Testamento com todas as suas partes, porque
escritos por inspiração do Espírito Santo, tem Deus por autor e como tais foram
dados a Igreja. Para a composição dos Livros Sagrados, Deus escolheu homens, dos
quais se serviu fazendo-os usar suas próprias faculdades e capacidades, afim de
que, Ele agindo neles, escrevessem como verdadeiros autores, tudo e só aquilo que
Ele queria que fossem escritos”
21. Resumindo, Deus é o autor da Bíblia. Mas, para dirigir o texto, serviu-se de homens. Por
isso, a Bíblia é um livro divino e humano.
Mas como entender a inspiração? Alguns afirmam que a inspiração é um dom natural, como
oratória, a pintura, a culinária e entre outras. Para outros é um dom sobrenatural, um carisma divino,
concedido a quem Deus escolheu.
A principio, entendeu-se a inspiração como sendo um DITADO. Deus teria ditado, palavra por
palavra, e o autor humano teria escrito tudo com fidelidade. Para outros, Deus teria inspirado apenas a
MENSAGEM, as idéias, deixando ao homem a expressão verbal das mesmas.
22. Hoje com base em vários documentos da Igreja, entendemos a inspiração
com a explicação da “CAUSA INSTRUMENTAL”, isto é, Deus é a causa principal e
primeira na composição da Bíblia. Foi Ele quem moveu os homens a escrever. O
homem é a causa instrumental, isto é, o instrumento de Deus para escrever o texto.
Quando escrevemos, a ação é da caneta ou do lápis. Mas eles não escrevem sem a
nossa contribuição. Assim o resultado de um texto é da pessoa e também da caneta.
23. Porém, o homem não pode ser comparado à caneta ou a qualquer outro
instrumento, porque ele possui vontade própria, imaginação, memória, fantasia e etc. Não é um
instrumento passivo e inerte na mão de Deus. É sim, um instrumento, mas um instrumento ativo, e por
isso escreveu, como verdadeiro autor, tudo o que o autor principal, Deus, queria. A Bíblia é, pois, um
livro divino porque Deus é seu autor principal, mas também um livro humano, pois é fruto da ação do
homem.
A inspiração incide sobre todas as faculdades do
escritor, imaginação, conhecimento, memória, vontade e faculdades executivas. Porém, cada autor
humano continuou filho do seu tempo, de sua cultura e escreveu com os conhecimentos que possuía. O
texto bíblico reflete o estilo e a cultura de cada autor humano. Não existe livro mais inspirado que
outro. Existem, sim, autores humanos diferentes entre si, vivendo em épocas e lugares diferentes, com
graus de cultura diferentes. Os “erros” de história, geografia, ciências e outros que encontramos na
Bíblia se devem a limitação dos autores humanos
24. Sabemos que a Sagrada Escritura é obra de muitas pessoas. Todas elas, desde que
influíram no texto sagrado, foram inspiradas, mesmo que a contribuição do autor tenha sido uma frase,
um retoque. Do mesmo modo, todos os livros inteiros são inspirados. A inspiração atinge a totalidade
da Bíblia e não só algumas partes mais importantes.
A conseqüência mais importante da inspiração é que a Bíblia, por ter Deus como autor
principal, não pode conter erro algum, até pouco tempo atrás falava-se de IERRANCIA , isto é, a
ausência de erro na Bíblia. Mas basta ler alguns textos para se notar uma série de erros nos mais
diversos assuntos. Hoje após o Concilio Vaticano II, fala-se de VERDADE BÍBLICA. A Bíblia não é um livro
de história, nem de ciências naturais ou de psicologia.
25. A Verdade que a Bíblia quer ensinar é religiosa, importante para nossa
salvação. Portanto, não devemos procurar nela outras verdades. Os erros que
ela contem são devidos aos conhecimentos limitados de seus autores humanos.
Aliás, não deveríamos falar em erros mas em ignorância. O erro existe quando,
sabendo a verdade, se ensina o falso. A ignorância consiste em não saber e em
não afirmar . Os autores humanos não pretendiam ensinar o falso, mas
ignoravam muitas coisas que nós hoje conhecemos.
26. A verdade bíblica não deve ser buscada em apenas um versículo, parágrafo ou capitulo da
Bíblia. Deve ser buscada na sua totalidade. Porque Deus não se revela de uma só vez. Mas o faz aos
poucos, à proporção que o homem pode compreender. Houve um progresso na revelação e na
pedagogia divina. Por isso a moral do Antigo Testamento é imperfeita em comparação com a moral
evangélica. O próprio mistério de Deus vai se esclarecendo pouco a pouco. A Abraão, Deus se revela
como um entre muitos outros deuses. A Moisés, como o único Deus. Somente Jesus nos revela o
mistério profundo de Deus Uno e Trino. Portanto, é preciso tomar a Bíblia na sua totalidade para
conhecer a verdade que Deus quis que fosse escrita para a nossa Salvação