O documento discute diferentes concepções de estágio e docência. Apresenta estágio como atividade de pesquisa que deve proporcionar reflexão crítica sobre a realidade. Defende uma formação de professores baseada na epistemologia da prática, com o estágio como espaço para o desenvolvimento de uma postura investigativa e a formação do professor como pesquisador de sua própria prática.
2. Objetivos
Apresentar concepções de estágio e seus
percursos em cursos de licenciatura.
Relacionar as práticas de estágio como
exercício do conhecimento.
Relacionar a visão de estágio ao exercício de
pesquisa.
3. Estágio na atualidade
Enquanto campo de conhecimento, o estágio
se produz na interação dos cursos de
formação com o campo social no qual se
desenvolvem as práticas educativas.
O estágio poderá se constituir em atividade
de pesquisa.
4. Teoria e prática: relações
possíveis
“...é necessário explicitar-se os conceitos de
prática e de teoria e como compreendemos a
superação da fragmentação entre elas a partir
do conceito de práxis, o que aponta para o
desenvolvimento do estágio como uma atitude
investigativa, que envolve a reflexão e a
intervenção na vida da escola, dos
professores, dos alunos e da sociedade.”
O estágio como pesquisa já se encontra
presente em práticas de grupos isolados. É
necessário entender como isso funciona.
5. A prática como imitação de
modelos
“o modo de aprender a profissão, conforme a
perspectiva da imitação, será a partir da
observação, imitação, reprodução e, às vezes,
da re-elaboração dos modelos existentes na
prática, consagrados como bons.”
“Muitas vezes nossos alunos aprendem
conosco, observando-nos, imitando, mas
também elaborando seu próprio modo de ser
a partir da análise crítica do nosso modo de
ser.”
6. Aprendizado como imitação
Prática como imitação: „artesanal‟,
caracterizando o modo tradicional da atuação
docente, ainda presente em nossos dias.
O pressuposto dessa concepção é o de que a
realidade do ensino é imutável e os alunos
que frequentam a escola também o são.
7. Aprendizado como imitação
observação e tentativa de reprodução da prática
modelar do professor; como um aprendiz que
aprende o saber acumulado.
Ao valorizar as práticas e os instrumentos
consagrados tradicionalmente como modelos
eficientes, a escola resume seu papel a ensinar;
ignora o aprender do aluno.
visão de que se os alunos não aprendem, o
problema “é deles, de suas famílias, de sua
cultura diversa daquela tradicionalmente
valorizada pela escola.”
8. Atividade docente tradicional
Repasse de conhecimentos aprendidos,
ensinando o que aprendeu por imitação.
Não valoriza a formação intelectual, reduzindo
a atividade docente apenas a um fazer, que
será bem sucedido quanto mais se aproximar
dos modelos que observou.
Por isso, gera o conformismo.
9. A prática como
instrumentalização técnica
É necessária a utilização de técnicas para
executar as operações e ações próprias.
Algumas profissões necessitam desenvolver
habilidades específicas para operar os
instrumentos próprios de seu fazer. O
professor também, mas não é só isso.
A redução às técnicas não dá conta do
conhecimento científico nem da complexidade
das situações do exercício profissional.
10. A prática como instrumentalização
técnica
Nessa perspectiva, o profissional fica reduzido ao
„prático‟, o qual não necessita dominar os
conhecimentos científicos, mas tão somente as
rotinas de intervenção técnica deles derivadas.
Essa visão gera posturas dicotômicas em que teoria e
prática são tratadas isoladamente, o que gera
equívocos graves nos processos de formação
profissional. A prática pela prática e o emprego de
técnicas sem a devida reflexão pode reforçar a ilusão
de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria
desvinculada da prática.
Por isso, os alunos afirmam que prática e teoria são
dissonantes.
11. A prática como instrumentalização
técnica
“Nessa perspectiva, a atividade de estágio fica
reduzida à hora da prática, ao como fazer, às
técnicas a ser empregadas em sala de aula,
ao desenvolvimento de habilidades
específicas do manejo de classe, ao
preenchimento de fichas de observação,
diagramas, fluxogramas”.
Polêmica: oficinas pedagógicas, confecção de
material didático sem a devida reflexão segue
essa visão
12. Consequência da visão prática
como instrumentalização ao
estágio
Atividades de estágio têm sido utilizadas como
cursos de prestação de serviço às redes de
ensino, obras sociais e eventos, o que acaba
submetendo os estagiários como mão-de-obra
gratuita e substitutos de profissionais formados.
Micro-ensino e mini-aulas costumam valorizar a
instrumentalização técnica se não forem objeto de
reflexão.
“O processo educativo é mais amplo, complexo e
inclui situações específicas de treino, mas não
pode a ele ser reduzido”.
13. O perigo das técnicas e
metodologias sem reflexão
“A exigência dos alunos em formação, por sua
vez, reforça essa perspectiva, quando
solicitam novas técnicas e metodologias
universais, acreditando no poder destas para
resolver as deficiências da profissão e do
ensino, fortalecendo, assim, o mito das
técnicas e das metodologias”.
Esse mito está presente não apenas nos
anseios dos alunos, mas também entre
professores.
14. O papel do estágio- uma tendência
Deve-se (re)pensar a didática de ensino
assumindo a crítica da realidade existente,
mas numa perspectiva de encaminhar
propostas e soluções considerando os
problemas estruturais, sociais, políticos e
econômicos dos sistemas de ensino e seus
reflexos no espaço escolar e na ação de seus
profissionais.
15. Defesa das autoras
a universidade é o espaço formativo por
excelência da docência, uma vez que não é
simples formar para o exercício da docência
de qualidade e que a pesquisa é o caminho
metodológico para essa formação.
Se contrapõem, portanto, às orientações das
políticas geradas a partir do Banco Mundial
que reduzem a formação a simples
treinamento de habilidades e competências.
16. Teoria, prática e ação docente
Ação docente: prática e ação. A profissão docente
é uma prática social, ou seja, como tantas outras,
é uma forma de se intervir na realidade social, no
caso, por meio da educação que ocorre, não só,
mas essencialmente nas instituições de ensino.
Para melhor compreendê-la, necessário se faz
distinguir a atividade docente como prática e
como ação.
Para Sacristán (1999), a prática é
institucionalizada; são as formas de educar que
ocorrem em diferentes contextos
institucionalizados, configurando a cultura e a
tradição das instituições
17. Ação docente
A ação (cf. Sacristán, 1999) refere-se aos
sujeitos, seus modos de agir e pensar, seus
valores, seus compromissos, suas opções,
seus desejos e vontade, seu conhecimento,
seus esquemas teóricos de leitura do mundo,
seus modos de ensinar, de se relacionar com
os alunos, de planejar e desenvolver seus
cursos, e se realiza nas práticas institucionais.
18. Ação pedagógica
ação pedagógica: “ Atividades que os
professores realizam no coletivo escolar,
supondo o desenvolvimento de certas
atividades materiais, orientadas e
estruturadas. Tais atividades têm por
finalidade a efetivação do ensino e da
aprendizagem por parte dos professores e
alunos”.
19. E as teorias....
o papel das teorias é o de iluminar e oferecer
instrumentos e esquemas para análise e
investigação, que permitam questionar as
práticas institucionalizadas e as ações dos
sujeitos e, ao mesmo tempo, se colocar elas
próprias em questionamento, uma vez que as
teorias são explicações sempre provisórias da
realidade.
20. E o estágio? Qual é o lugar do
estágio?
A prática educativa (institucional) é um traço
cultural compartilhado e que tem relações com o
que acontece em outros âmbitos da sociedade e
de suas instituições.
Portanto, no estágio dos cursos de formação de
professores, compete possibilitar que os futuros
professores se apropriem da compreensão dessa
complexidade das práticas institucionais e das
ações aí praticadas por seus profissionais, como
possibilidade de se prepararem para sua inserção
profissional
21. A formação de professores
Num curso de formação de professores, todas
as disciplinas, as de fundamentos e as
didáticas, devem contribuir para a sua
finalidade que é a de formar professores, a
partir da análise, da crítica e da proposição de
novas maneiras de fazer educação. Nesse
sentido, todas as disciplinas necessitam
oferecer conhecimentos e métodos para esse
processo.
22. Estágio de aproximação entre
teoria e prática
Pimenta e Gonçalves (1990) consideram que a
finalidade do estágio é a de propiciar ao aluno
uma aproximação à realidade na qual atuará.
Assim, o estágio se afasta da compreensão até
então corrente, de que seria a parte prática do
curso. Defendem uma nova postura, uma
redefinição do estágio que deve caminhar para a
reflexão, a partir da realidade.
Não considera metodologias prontas ou certezas
absolutas. Teoria e(m)prática, constante
reelaboração.
23. Pesquisa no estágio e estágio de
pesquisa
A pesquisa no estágio, como método de formação
dos estagiários futuros professores, se traduz pela
mobilização de pesquisas que permitam a ampliação
e análise dos contextos onde os estágios se realizam.
Mas também e, em especial, na possibilidade de os
estagiários desenvolverem postura e habilidades de
pesquisador a partir das situações de estágio,
elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo
tempo compreender e problematizar as situações que
observam.
Esse estágio pressupõe outra postura diante do
conhecimento, que passe a considerá-lo não mais
como verdade capaz de explicar toda e qualquer
situação observada
24. Estágio de observação e
pesquisa
Tendência que remonta aos anos 1990.
Mobilização de pesquisas que permitam
análise dos contextos e possível atuação.
Projetos que permitam compreender e
problematizar as situações que observam.
Formulação do estágio como atividade teórica
instrumentalizadora da práxis.
Prevê a formação do profissional reflexivo.
25. Profissional reflexivo e professor-
pesquisador
Base na epistemologia da prática: ação docente
do professor pesquisador da própria prática.
Não separação entre teoria e prática:
Portanto, o papel da teoria é oferecer aos
professores perspectivas de análise para
compreenderem os contextos históricos, sociais,
culturais, organizacionais e de si mesmos como
profissionais, nos quais se dá sua atividade
docente, para neles intervir, transformando-os.
Daí, é fundamental o permanente exercício da
crítica das condições materiais nas quais o ensino
ocorre.
26. Epistemologia da prática
Os saberes teóricos propositivos se articulam,
pois, aos saberes da ação dos professores e
da prática institucional, resignificando- os e
sendo por eles re-significados.
Segredo: reconhecer as limitações e tentar
superá-las pela pesquisa e reflexão na
docência em formação.
27. Epistemologia da prática
“Procedendo a uma análise de pesquisas realizadas
no campo da didática e prática de ensino (Pimenta,
2002), conclui-se que as pesquisas estão
privilegiando a análise de situações da prática e dos
contextos escolares e revelando a importância que a
perspectiva da epistemologia da prática vem
assumindo.”
“As pesquisas sobre avaliação e fracasso escolar, por
exemplo, revelam avanço significativo na abordagem
do tema ao trazerem dados das situações concretas e
propositivas, superando os discursos e adentrando a
complexidade prática.”
O Desenvolvimento e amadurecimento da prática se
dá pela pesquisa.
28. Professor- orientador e
pesquisador
O estágio abre possibilidade para os
professores orientadores proporem tanto a
mobilização de pesquisas para ampliar a
compreensão das situações vivenciadas e
observadas nas escolas, nos sistemas de
ensino e nas demais situações, como pode
provocar, a partir dessa vivência, a elaboração
de projetos de pesquisa a ser desenvolvidos
concomitante ou após o período de estágio.
29. Professor pesquisador em
formação
Quanto à concepção do professor como
pesquisador, desenvolvida por Stenhouse,
aponta que este não inclui a crítica ao
contexto social em que se dá a ação
educativa. Assim, reduz a investigação sobre
a prática aos problemas pedagógicos que
geram ações particulares em aula,
perspectiva essa restrita, pois desconsidera a
influência da realidade social sobre ações e
pensamentos e sobre o conhecimento como
produto de contextos sociais e históricos.
30. Professor pesquisador em
formação
Giroux (1990) de que a mera reflexão sobre o
trabalho docente de sala de aula é insuficiente
para uma compreensão teórica dos elementos
que condicionam a prática profissional. Por isso, o
processo de emancipação a que se refere
Stenhouse é mais o de liberação de amarras
psicológicas individuais do que o de uma
emancipação social.
superação de limites a partir de teoria(s) que
permita(m) aos professores entenderem as
restrições impostas pela prática institucional e
pelo histórico social ao ensino, de modo a
identificar o potencial transformador das práticas.
31. Professor pesquisador em
formação
teoria(s) que permita(m) aos professores
entenderem as restrições impostas pela
prática institucional e pelo histórico social ao
ensino, de modo a identificar o potencial
transformador das práticas.
Libâneo: apropriação e produção de teorias.
Carr: Caráter transitório das práticas dos
professores.
Charlot: Atenção aos professores e pares.
32. Conceito de professor reflexivo
A análise crítica contextualizada do conceito
de professor reflexivo permite superar suas
limitações, afirmando-o como um conceito
político-epistemológico que requer o suporte
de políticas públicas consequentes para sua
efetivação.
33. Estágio como pesquisa
A complexidade da educação como prática social
permite tratar o professor como imerso num sistema
educacional, em uma dada sociedade e em um tempo
histórico determinado. Uma organização curricular
propiciadora dessa compreensão parte da análise do
real com o recurso das teorias e da cultura
pedagógica, para propor e gestar novas práticas, num
exercício coletivo de criatividade.
Os lugares da prática educativa, as escolas e outras
instâncias existentes num tempo e num espaço, são o
campo de atuação dos professores (os já formados e
os em formação). O conhecimento e a interpretação
desse real existente serão o ponto de partida dos
cursos de licenciatura.
34. Estágio como pesquisa
Esse conhecimento envolve o estudo, a análise, a
problematização, a reflexão e a proposição de soluções às
situações de ensinar e aprender. Envolve também
experimentar situações de ensinar, aprender a elaborar,
executar e avaliar projetos de ensino não apenas nas salas
de aula, mas também nos diferentes espaços da escola.
Postura teórico- metodológica que visa desenvolver nos
alunos, futuros professores, habilidades para o conhecimento
e a análise das escolas, espaço institucional onde ocorre o
ensino e a aprendizagem, bem como das comunidades onde
se insere. Envolve, também, o conhecimento, a utilização e a
avaliação de técnicas, métodos e estratégias de ensinar em
situações diversas. Envolve a habilidade de leitura e
reconhecimento das teorias presentes nas práticas
pedagógicas das instituições
35. Estágio como pesquisa
Possibilita a relação entre os saberes teóricos
e os saberes das práticas ocorra durante todo
o percurso da formação, garantindo, inclusive,
que os alunos aprimorem sua escolha de
serem professores a partir do contato com as
realidades de sua profissão.
Desafios: intercâmbio com trabalho coletivo.
Conexões entre teoria e práticas exigem
amadurecimento.
36. Referências
PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria. Estágio e
docência: diferentes concepções. In: Revista
Poíesis -Volume 3, Números 3 e 4, pp.5-24,
2005/2006. Disponível em:
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc
=s&source=web&cd=1&ved=0CCwQFjAA&url=htt
p%3A%2F%2Fwww.revistas.ufg.br%2Findex.php
%2Fpoiesis%2Farticle%2Fdownload%2F10542%
2F7012&ei=rd9CUqvHIfDs2AXT24CACg&usg=AF
QjCNEE_dQkI-
UUpRbEZs1kDbiQxhsnAQ&bvm=bv.53077864,d.
dmg. Acesso em 10-9-2013.