O documento discute o uso do humor na comunicação pública em mídias sociais. Apresenta diferentes teorias sobre a função do humor e analisa quando ele pode ser usado de forma positiva por órgãos públicos para promover a participação dos cidadãos ou quando não é adequado, como quando é agressivo ou ridicularizante. Defende que o humor pode ser usado para reduzir barreiras e aproximar o público, desde que de forma respeitosa.
Comunicação pública em mídias sociais: há espaço para o humor?
1. Comunicação pública em mídias
sociais: há espaço para o humor?
MURILO PINTO
ALBA, SALVADOR – NOV.2015 slideshare.net/murilopinto
murilo.pinto@outlook.com
2. Preâmbulo
“Talvez a maior função do humor seja nos afastar de nosso
mundo do bom e do mal, de perdas e ganhos, e nos
permitir uma visão em perspectiva.
O humor nos livra da vaidade, de um lado, e do
pessimismo, de outro, ao nos manter maiores do que
somos, maiores do que o que possa nos acontecer.”
Editorial, AmericanJournal of Psychology, 1907
4. De que falamos quando falamos de
comunicação pública
• Não falamos de marketing, nem mesmo o político
• Não falamos de advocacy
• Não falamos de propaganda
5. Política
Promoção de um agente, marketing político,
interesse eleitoral.
Comunicação instrumental.
Governamental
Prestação de contas, lobby estatal (advocacy,
convencimento quanto a uma política pública),
propaganda, institucional. Comunicação
instrumental.
PÚBLICA
Esclarecimento dos cidadãos sobre temas de
interesse público, para deliberação informada e
participação política em questões coletivas.
Dialógica e horizontal, não defende decisões, mas
esclarece suas razões.
Comunicação estatal
7. Riso e humor
O que é, suas funções na linguagem e críticas
8. Críticas ancestrais
Vício, violência,
ignorância,
malícia, proibido
a homens livres
República,
Retórica, Ética a
Nicomaco, As leis,
Filebo
Platão
Violação do
autocontrole
Epíteto
Estoicos
Regras
monásticas
puniam com até
6 chibatadas o
riso
Violência,
ridicularização
2 Reis, 2:23-24;
Salmos, 2:4-5; 1
Reis, 18:27
Bíblia
Puritanos
proibiam
comédia
Protestantes
Riso vem da
comparação com
defeitos de
outros; é
pusilânime
Hobbes
Riso é surpresa e
alegria ao notar
em outro o mal
odiado
Descartes
9. Tomás de Aquino
Quem não é nunca divertido e bem humorado
age contra a razão, tendo, portanto, um vício.
10. Um ponto comum às críticas
Parece claro que essas críticas se destinam a um tipo
específico de humor, baseado no exercício de
preconceito, desprezo, opressão e humilhação.
Bullying, em resumo.
Na psicologia, é a chamada
Teoria da Superioridade
11. Um contraexemplo
• Um sujeito encontra um andarilho austríaco (c. 1900/Europa = polonês/EUA =
português/Brasil) solitário e diz:
“-Você gosta de caminhar sozinho? Eu também gosto.
- Então vamos juntos.”
• Piada citada por Schopenhauer.
• Traz um traço de superioridade.
• Mas, mesmo suprimida a nacionalidade, ainda é uma piada, em razão do jogo de ideias.
12. Outras visões
Teoria do alívio
• Abandonada atualmente
• Riso é uma válvula de escape (literalmente, dos fluidos e gases
corporais)
• Freud
• Revisão e superação dos aspectos biológicos e “hidráulicos”
• Manutenção da liberação de pressão psicológica
• Energia destinada a suprimir uma emoção, articular um raciocínio ou
antecipada diante de uma situação torna-se supérflua com a
piada/reviravolta, sendo liberada na forma de riso.
13. Teoria do jogo
• Animais simulam situações reais com jogos
• Primeiro tipo de jogo a evoluir foi a falsa agressão (típica de certo tipo
de humor)
• Primatas indicam se tratar de jogo com duas expressões
associadas ao riso nos humanos:
• Dentes expostos e gengivas retraídas
• Boca frouxa, expandida e expiração ritmada
• Jogos exercem função de sociabilidade e harmonia
• 30% mais de chance de rir em grupo
• Humor ajuda no desenvolvimento cognitivo, social e
empático, além de benefícios de saúde
14. Teoria da incongruência
•Dominante
•Kant, Schoppenhauer, Kierkegaard
•Riso é resultado da percepção de violações de padrões
mentais e expectativas
• Depende do repertório e decodificação pelo público
16. Aristóteles
•“A vida inclui, assim como atividades, descanso, e nisso
se inclui o divertimento e o lazer”
• Excesso de divertimento = “bufões vulgares”
• Excesso de seriedade = “grosseiro e rude”
Eutrapélia
a virtude de ter bom humor,
na hora e local adequados
21. Humor como linguagem
Agressivo, sarcástico, ridicularizante
Pode ser usado de forma positiva
contra políticos, chefes, poderes e poderosos
22.
23. Mas não precisa ser
agressivo ou ridicularizante
E, feito por órgãos públicos,
NÃO PODE
ser agressivo nem
ridicularizante
24.
25. Apocalipse zumbi
CDC (equivalente americano da Fiocruz, responsável
pelo controle de epidemias), publicou um post sobre o
assunto em seu blog
Além de discutir de onde vêm os zumbis e porque
gostam tanto de cérebros, a CDC informava como
sobreviver a ataques e à expansão da “contaminação”
Ao tratar dos zumbis, também dava informações sobre como se
portar em casos de emergências e epidemias reais
Resultado: mais de 1.200 comentários, tanto sobre a “cultura”
zumbi quanto sobre a preparação para emergências
Hoje, a seção é fixa e continua a ser atualizada: blog, material para
professores, cartazes, kits, cartões postais e até uma graphic novel
26. Também não precisa ser insosso ou desconectado
do que se passa na comunidade
30. Linguagem como poder político
•Escolher (e praticar) uma linguagem é posicionar-se
ideologicamente
•É dizer, ou intencionar dizer, o lugar que ocupa na
sociedade e como se relaciona com os outros
•O Estado já detém uma força, real e simbólica, enorme
Por que oprimir e dominar também pela linguagem?
31. O que é adequado?
“Afigura-se até mesmo ignominioso o emprego da liturgia instrumental,
especialmente por ocasião de solenidades presenciais, hipótese em que a
incompreensão reina. A oitiva dos litigantes e das vestigiais por eles
arroladas acarreta intransponível óbice à efetiva saga da obtenção da
verdade real.”
Rodrigo Collaço, presidente da AMB, 2007
33. Casos reais
No julgamento de P. S., grávida de cinco meses aos 19 anos e acusada de roubo, ela
se depara com a seguinte pergunta:
— A senhora vive do ataque ao patrimônio alheio?
— O que é isso? — responde a ré, olhos arregalados em busca de ajuda do
defensor público antes de desabar num choro ruidoso. P. foi condenada a cinco
anos e quatro meses em regime semiaberto.
O mesmo programa apresentou a audiência de D. M., 28 anos, que ficou quatro
meses presa à espera de julgamento, sob acusação de furto.
— Qual a sua escolaridade? — perguntou o juiz.
— Não sei — respondeu a ré, assustada
Reprodução/Profissão Repórter, 2012, via Jornal do Senado
34. A perspectiva do outro (seu “público”)
• Público assume o papel de uma audiência ativa e autônoma
• As necessidades da audiência em relação à mensagem
predominam sobre as necessidades do produto ou da imagem
da marca
36. Qual a necessidade de linguagem de um
cidadão diante do Poder Público?
• Acreditar que tem direito a se expressar
• Que sua opinião tem valor (influência) e é respeitada
• Sentir-se à vontade para se manifestar
Inclusive em termos de linguagem e temas:
informalidade, coloquialismo, acontecimentos factuais,
pessoalidade e humanismo
Sentir-se próximo
37. Função fática:
abrir conversação e manter contato
•Postagens informais sobre temas não específicos da
instituição geram proximidade e familiaridade
•Proximidade e familiaridade abrem possibilidades de
diálogos mais profundos e civilizados
Relacionamento Reputação Autoridade
40. Mas não adianta ser hipócrita
Nem pro Porta dos Fundos,
quanto mais pra um órgão público
41. Humor e participação
Bem aplicado, o humor pode ser um vetor à participação, ao reduzir
barreiras de linguagem e proporcionar um senso de pertencimento
no público.
Sisudez não é sinônimo de seriedade, nem transmite autoridade real,
principalmente no contexto das redes.
Na sociedade em rede, seu interlocutor é tão ou mais relevante que
você, sua marca ou instituição.