1) Crianças com necessidades educativas especiais têm mais dificuldades de aprendizagem e socialização do que outras crianças e precisam de atenção especial e educação diferenciada.
2) É importante detectar precocemente possíveis problemas e observar repetições de comportamentos diferentes para pedir ajuda a profissionais.
3) Existem diferentes tipos de necessidades como surdez, baixa visão ou problemas cognitivos e é importante definir o apoio de acordo com cada caso.
1. miúdos
MICHAEL POLE/CORBIS/VMI
Crianças especiais,
educação especial
Têm mais dificuldades de aprendizagem e de socialização
do que as outras crianças. Por isso precisam de uma atenção
diferente e de uma educação especial. Em casa e na escola.
Texto Rita Pimenta
N
inguém se desde muito cedo percebem comunicar com a voz. Quem fala
desenvolve que se passa qualquer coisa. agora é Ana Pereira, docente
exactamente Mas pensam: ‘Se calhar não é de Educação Especial, com
como aparece nada. Eu não quero que seja formação em comunicação,
nos livros. Por nada… Quero que o meu filho linguagem e deficiências
isso, quando seja perfeitinho, muito feliz, que auditivas. “Há pais que acham
um adulto se apercebe de que tenha tudo de bom na vida’ e às normal que as crianças não
uma criança não se enquadra vezes o sinal é recusado.” reajam a um som que possam
numa ou noutra estimativa emitir e não vão ligando. Ou não
padronizada, não deve concluir Medos e dúvidas ‘querem’ ligar. Quando vão fazer
imediatamente que esse A ansiedade própria de quem o rastreio, já é tarde.”
factor por si só representa tem um bebé, com muitas Iniciar a aprendizagem da
algum tipo de perturbação de dúvidas e medos, levam linguagem gestual bastante
desenvolvimento. Mas deve ficar o terapeuta, ex-professor cedo também irá facilitar o
alerta, observar com atenção o universitário, a dizer nas percurso escolar. “Tenho ex-
comportamento do miúdo e até conferências em que participa: alunos que estão agora no 12.º
tirar algumas notas. Se verificar “O primeiro aspecto a ter em ano e têm óptimos resultados.
que há repetição prolongada, conta é o coração dos pais. O Estes meninos só têm a falta
informe o médico de família, primeiro sinal é o mais difícil de do sentido de audição. Não há
peça ajuda e aceite a criança expressar porque mexe com as problemas cognitivos, motores
como ela é. São sugestões do ansiedades e com as dúvidas.” ou outros. Nenhum repetiu um
terapeuta de psicomotricidade Mas é imperioso estar atento ano, apesar de a partir do 10.º
Francisco Lontro. desde os primeiros dias. Nos ano terem deixado de ter apoio.
Como é que se pode detectar casos de surdez, por exemplo, Aqui [em Setúbal] mais ninguém
precocemente que se está que forem detectados até aos seis tem esta especialidade.”
perante uma criança diferente meses de idade e imediatamente Como se pode definir então
e que esta vai precisar de uma intervencionados, a criança irá uma criança com necessidades
atenção especial? “Os pais ter oralidade. Ou seja, poderá educativas especiais? “É uma c
2.
3. miúdos
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pergunta cada vez mais difícil especial. Embora pretendendo um “saco muito grande”. Cabe lá Pereira dá apoio (8.º A, na
de responder, sobretudo com ser uma linguagem unificada, “o défice de atenção, a depressão Escola Básica 2/3 de Aranguez,
a mudança de paradigma e da perceptível em qualquer parte infantil e perturbações de Setúbal), há uma criança
lei. As necessidades educativas do mundo, na definição de vinculação (desorganização surda, um aluno com muito
especiais definem-se dentro do parâmetros para a saúde e familiar)”. baixa visão, uma criança
percurso que seria esperado para a educação, não é de O autismo, assim como a com trissomia 18 e outra com
de uma criança no ensino aceitação pacífica. Um relatório síndrome de Asperger são alguns esquizofrenia e crises psicóticas.
regular. Acontece quando a divulgado no final da semana dos problemas que por vezes “Por norma, só está na sala
resposta da criança não se passada pelo Instituto de são acompanhados de “défice um professor de Educação
adequa a determinado nível de Educação da Universidade do na coordenação motora ou na Especial, independentemente da
competências”, diz Francisco Minho dava conta disso mesmo. comunicação, mas em termos especialidade. Não era possível
Lontro. cognitivos as crianças podem nem desejável ter um professor
“São crianças que não podem Formar docentes e médicos ter uma inteligência normal por cada tipo de problema (seria
utilizar todos os sentidos “Em Portugal, houve pouca ou acima da média dirigida demasiada gente e perturbação)
da mesma forma que nós, formação da classe docente em para assuntos específicos. nem concentrar os problemas
os ditos ‘normais’. Mas não CIF. Também os profissionais da Ser extraordinariamente do mesmo tipo na mesma turma
quer dizer que não consigam saúde, principalmente os que competentes numas áreas, mas ( juntar todos os invisuais, por
atingir os mesmos objectivos, estão em hospitais e centros, ter grandes lacunas noutros exemplo)”, diz a professora.
desde que trabalhados e bem deveriam ter sido formados sectores do conhecimento”. E este é um bom exemplo
acompanhados, que a maioria nesta classificação universal. Miúdos com hiperactividade de inclusão. “Esta turma
das outras crianças. Só que a Eles têm de certificar a diferença e défice de atenção têm é exemplar até em termos
outro ritmo”, responde Ana que a criança tem e não o sabem tendencialmente uma de comportamento. Há
Pereira, que trabalha com fazer”, diz a professora. inteligência normal, mas a preocupação com os colegas.
miúdos há mais de 30 anos. Francisco Lontro divide os aprendizagem “ressente-se” E os professores colaboram a
“Uma criança numa cadeira casos que necessitam de ajuda devido aos outros problemas, 100 por cento. Funcionamos
de rodas também se enquadra em comportamentais e de daí a necessidade de diferentes como par pedagógico. O mesmo
aqui porque tem problemas de aprendizagem. Nos primeiros, ritmos e adaptações. acontece com o 9.ºA e o 6.ºC.”
mobilidade, mas pode não ter entra a hiperactividade: Mas, conta Ana Pereira, há
qualquer outro problema.” “Começa a ser preocupante Inclusão com sucesso professores que não autorizam
A Classificação Internacional quando o miúdo não consegue Os jogos são uma boa via para que os colegas da Educação
de Funcionalidade (CIF), prestar atenção a nada, quando trabalhar com estes miúdos. Especial ajudem os alunos
adoptada pela Organização reage impulsivamente a A brincadeira associada ao durantes as suas aulas. “Nesses
Mundial de Saúde, foi criada qualquer coisa que lhe peçam jogo é uma maneira fácil de casos, não podendo fazer o meu
por Rune J. Simeonsson e ou tem grande incapacidade de promover processos de trabalho, saio da sala.” a
permite avaliar se as crianças de atrasar a recompensa.” Mas interacção e desenvolvimento.
necessitam de educação lembra que a hiperactividade é Numa das turmas a que Ana rpimenta@publico.pt