Este artigo descreve uma plataforma educativa online chamada Escolinhas.pt, criada para estudantes do 1o e 2o ciclo do ensino básico. A plataforma foi desenvolvida por Ademar Aguiar para permitir que pais, professores e alunos colaborem e compartilhem trabalhos escolares online de forma segura. O artigo também destaca como um professor usa com sucesso a plataforma em sua sala de aula.
Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
Pag.miudos escolinhas.pt130311
1. miúdos
Pôr a escola no ecrã
Verter a lógica da escola real para o espaço virtual é o que faz a plataforma
Escolinhas.pt. Destina-se ao 1.º e 2.º ciclo do ensino básico e quer ser um lugar
seguro. Por isso, só lá entram alunos, professores e encarregados de educação.
Para aprender, trabalhar e brincar. No ecrã.
Texto Rita Pimenta Ilustração Bárbara Fonseca
A
simplicidade é
a grande aposta
para os pais e para os miúdos”.
E afirma que a “colaboração
os trabalhos que os educandos
fizeram durante o ano. “Eu,
“Colaboração
dos responsáveis e partilha” são os conceitos que até me considerava um pai e partilha” são
pela plataforma principais da plataforma, daí atento, fiquei entusiasmado com
educativa oferecer “um conjunto de tudo o que eles fizeram e que os conceitos
Escolinhas.pt.
“Basta as crianças saberem ler
funcionalidades típicas da Web
2.0 e Web Social (wiki, blogue,
não pude acompanhar. Fascinei-
me também com os trabalhos principais de
e já conseguem fazer muita
coisa com as ferramentas que
chat, rede social, microblogging,
correio electrónico, classificação,
dos outros alunos. Apercebi-me
de que havia ali um espaço para
uma plataforma
disponibilizamos”, diz Ademar etc.), especialmente fomentar mais ‘dias abertos’ e pensada para
Aguiar, autor da “ideia-base de seleccionadas e adaptadas aos de comunicação entre os pais.
wiki escolar para crianças do ambientes escolares do 1.º e 2.º A ideia da partilha interessa- o ensino básico,
ensino básico”.
Ao dizer “muita coisa”, este
ciclo do ensino básico, de forma
a serem de elevada usabilidade e
me, não só como pessoa, mas
profissionalmente.”
a Escolinhas.pt
professor da Faculdade de simplicidade de aprendizagem”. Também ficou agradado
Engenharia da Faculdade do com um trabalho apresentado
Porto está a referir-se a “ler, Mais “dias abertos” por uma estagiária: “Fez uma
escrever, pintar, desenhar, Foi justamente a vontade de recolha de histórias contadas
calcular, raciocinar, colaborar, partilhar que fez nascer esta pelos avós e pelos pais das
brincar, partilhar e comunicar ideia. No final do ano lectivo de crianças e compilou os textos
com os colegas de escola, 2005, o também investigador com os miúdos. Deu origem a
amigos, encarregados de no Instituto de Engenharia de um livro, a um site e a um CD.
educação e professores”, como Sistemas e Computadores do Achei interessante, mas, para a
é descrito no BI Escolinhas 2011. Porto, foi ao “dia aberto” da professora, foi tecnologicamente
Tarefas desempenhadas de escola da sua filha, então com muito difícil. Eu não percebi
forma supervisionada. Sempre. sete anos. a razão por que era assim tão
Ademar Aguiar não gosta de É o momento em que as complicado.”
falar de “perigos da Internet”, escolas abrem as portas aos No entanto, começou a pensar
prefere focar-se “no potencial encarregados de educação e em como tornar tudo mais
e nos desafios que [esta] traz em que estes ficam a conhecer simples. “Em vez de esta ligação
2. resultar de um trabalho de um as crianças e a partir daí fizemos
ano e com apenas um dia aberto, um protótipo muito mais sério.”
vamos fazer com que a partilha Começaram com um projecto-
aconteça o maior número de piloto em quatro escolas, em que
vezes possível, que seja uma conseguiram financiamento para
prática comum ou até diária.” “o design, toda aquela parte que
A partir daí, já não parou nós não sabíamos fazer. Cerca de
de pensar no assunto: “Como 10 mil euros, mas foi suficiente
é que se faz em termos de para contratar pessoas”. Depois,
envolvimento social e dos pais? em vez de apenas quatro escolas,
É preciso criar uma ferramenta pediram-lhes que chegassem a
fácil e pegar no espaço da escola, todas as escolas do Porto. Mas já
que acaba por ser um pouco não havia mais financiamento.
fechado aos pais. Lá, acontecem “E esse foi um bom problema”,
coisas muito interessantes. conta divertido. “Dizer que não
Afinal, o que desencadeou todo às escolas era mau, dizer que
o processo foi essa surpresa com sim e não ter mais dinheiro era
tudo o que se faz na escola e os uma aventura… Tinha, na altura,
pais não chegam a saber nem a alguns alunos free lancers que me
ter oportunidade de participar.” desafiaram a criar uma empresa.”
Em 2008, nasce então a Tecla
Desprezados na tecnologia Colorida, com os parceiros Mário
Considerando este grupo etário Lopes e Nuno Baldaia, ambos
(6-12 anos) como “uma audiência engenheiros informáticos. Em
muito particular e um bocado 2009, passam a contar com um
desprezada nas tecnologias, no novo sócio, a empresa Dueto.
sentido em que existe tanta coisa
e não se faz nada directamente Pagar e não pagar
para eles”, achou que poderia À versão inicial gratuita (free) foi
dar o seu contributo. “A minha acrescentada uma versão mais
costela de academia fez-me desenvolvida, “que se justificasse
pensar: como é que eu posso pagar” (premium). O segundo
ajudar nisto sem prejudicar o ano foi então de afinação “do
estado da arte e sem me envolver modelo comercial, de negócio e
a 100 por cento?” também do modelo tecnológico”.
E a ideia da plataforma foi Em Setembro de 2010,
amadurecendo. “Foi mais ou pensaram que conseguiriam
menos aceite entre os pais que mais escolas aderissem à
amigos e também por alguns plataforma. “Entrámos numa fase
professores, que aderiram experimental entre Setembro
com facilidade. Fizemos várias e Dezembro e foi uma má
experiências ‘a brincar’. No altura. Ficámos um bocadinho
fundo, quis adaptar aquilo que decepcionados. Mas continua
eu conheço a esta realidade. Foi a valer a pena.” Até porque
esse o desafio.” Para perceber o objectivo é avançar para o
se fazia sentido, contou com mercado internacional.
algumas “cobaias” familiares. No entanto, têm 220
“O salto de um protótipo estabelecimentos de ensino
inicial para algo com uma registados na Escolinhas.
audiência maior aconteceu pt., embora a utilizar com
no contexto do projecto Porto regularidade apenas 50.
Digital, que procurava projectos “Algumas ainda não entraram
diferentes para a cidade do este ano.” A concentração
Porto, no âmbito da sociedade geográfica é mais a norte do país.
de informação. Ficaram Não usam “força de venda”,
fascinados com esta ideia para “não temos vendedores”, diz c
3. miúdos
Ademar Aguiar. A difusão faz-se Fernando Araújo está
por “passa-palavra”. satisfeito com os resultados:
Têm escolas públicas e “Os miúdos têm evoluído
privadas como clientes. “As em várias vertentes: na
privadas só querem premium. componente informática,
Mas ainda não conseguimos ganham essa competência, e ao
convencer toda a hierarquia nível da expressão escrita e da
a aderir. Nas públicas, temos criatividade.” Tem funcionado
de todos os casos. Escolas que bem, ressalva, “porque têm
telefonam e querem premium, computadores novos e podem
outras que querem free. Há mais estar todos a trabalhar ao mesmo
em free do que premium.” Mas tempo, pois, no resto da escola,
reconhece, bem-disposto, que 40 por cento dos alunos já têm
não estão arruinados. os Magalhães avariados”.
Os alunos, com idades à volta
Dia de Escolinhas.pt dos sete anos, não recorrem
A versão premium, “mais só ao processador de texto,
sofisticada e com propostas mais “usam várias funcionalidades”.
difíceis”, é a que Fernando Araújo Uma das preferidas é enviar
usa na escola da EB1JI de Magarão mensagens aos amigos (que
(Agrupamento de Avintes), com estão na mesma sala) ou para
os seus alunos do 2.º ano. “As o docente. “Está tudo bem,
duas colegas que trabalharam professor?”, perguntam-lhe
com a Escolinhas no ano passado “virtualmente”. Embora estejam
ganharam um licença premium. É frente ao seu nariz.
a que usamos.” Um sucesso junto Aconselharia outras escolas
dos miúdos, conta entusiasmado. a usar o Escolinhas.pt? “A
O professor explica o método informática, para eles, é sempre
que utiliza: “Todos os fins-de- mais apelativa e se for uma
semana os miúdos levam um ferramenta didáctica, como
trabalho para casa, um tema é o caso, melhor. Todas as
qualquer para desenvolver aplicações, mesmo os jogos,
com a ajuda dos pais. Depois, são vocacionadas para a
transpõem-no, por exemplo, aprendizagem, da Matemática e
para o processador de texto da de outras áreas do saber. É bom
Escolinhas.pt.” que contactem com conteúdos
Os temas podem ser, por que não são ‘perigosos’. E
hipótese, “se eu fosse muito a plataforma é segura. Pelo
alto, se eu fosse uma empresa, menos, até agora.”
se eu fosse Presidente da Avintes é um meio humilde, diz
República... mas também quando a Pública lhe pergunta
sobre alguma área do Estudo sobre a participação dos pais: “O
do Meio ou outro assunto que meio onde trabalho é limitado. Só
surja no decurso das aulas”. No dois miúdos é que têm acesso à
regresso de fim-de-semana, na Escolinhas fora da escola. Para os
segunda-feira à tarde, ligam-se outros, praticamente o único sítio
à Escolinhas e vertem para lá o em que têm acesso à Internet é na
que realizaram antes. escola. Alguns só podem mexer
E gostam? “Se houver algum no computador quando estão lá.
dia em que eu me lembre de os Os pais não deixam que usem o
castigar e não houver Escolinhas Magalhães em casa.”
ou não puderem usar o Amanhã, podem. Em Avintes,
Magalhães, é o fim da escola!”, diz a segunda-feira não é só dia de
entre risos. “Estão a semana toda escola. É dia de Escolinhas. a
à espera da segunda-feira, o único
dia destinado a esta prática.” rpimenta@publico.pt