1. Zoot. Paulo de Tarso
Paulo de Tarso dos Santos Martins
Informativo
zootpaulodetarso@gmail.com
O que ocorre com a carne ovina no mundo - visão do Uruguai
O mercado de ovinos está vivendo um momento sem precedentes. Os preços de
todas as categorias são ajustados a cada semana, impulsionado por uma
indústria de exportação que parece não ter freios a realização de novos negócios.
Na base são fatores estruturais que confirmam a possibilidade de um item que
enfrenta desafios significativos.
Base estrutural
As perspectivas para o comércio de carne de ovinos são promissoras no médio
prazo. A oferta exportável, liderado em grande parte pela Nova Zelândia e
Austrália, não vai se recuperar tão cedo, mas os bons preços vão incentivar os
criadores de ovinos a reinvestir em seus rebanhos na Oceania. Na Austrália, o
ABARE (Australian Bureau of Statistics) estima que o estoque de ovinos laneiros
se manterá em um patamar de 68 milhões de cabeças este ano, para em
seguida, começar uma lenta recuperação, alcançando 72 milhões de cabeças em
2015.
Na Nova Zelândia, o MAF (Ministério da Agricultura e Florestas) está planejando
algo semelhante para os próximos cinco anos, após ter atingido um mínimo de
33 milhões de cabeças no presente exercício.
Cerca de 90% do mercado mundial de carne ovina concentra-se nestes dois
países, de modo que qualquer variação nos volumes de produção podem afetar
significativamente o mercado. Para dar um exemplo, devido aos bons preços do
cordeiro e melhoria das condições meteorológicas, a Nova Zelândia prevê
exportar cerca de um milhão de cordeiros a mais neste ano, passando de 22,5
para 23,5 milhões, o equivalente a toda a produção do Uruguai.
Da mesma forma, a redução dos volumes de exportação da Austrália, nas
categorias adulto (começa a reconstituir o rebanho e reduzir o abate de ovelhas),
corresponde a um déficit de 2 a 3 milhões de adultos no mercado para os
próximos três ou quatro anos, em relação ao que tem sido a oferta disponível
nos últimos anos.
Quanto à outra parte da demanda do mercado mundial, continua forte e deve
continuar nesta linha. A União Européia (UE), um dos mais importantes, tem um
declínio lento mas firme no seu rebanho ovino, levando a maiores requisitos de
importação ante um consumo que tem se mantido estável. Mas o melhor
exemplo de um cenário favorável para o mercado de carne de ovinos é a
chegada de duas empresas de primeira linha da Nova Zelândia para o Uruguai
(Silver Fern Fazendas e Alliance Group), buscando fontes de cordeiro e/ou
inseridos no sistema de produção para aumentar a disponibilidade do produto.
2. Zoot. Paulo de Tarso
Paulo de Tarso dos Santos Martins
Informativo
Situação Atual
Neste contexto global de demanda firme e os preços subindo, o Uruguai enfrenta
uma situação particular. Quebrando o domínio histórico do Brasil e da UE como
destino exclusivo de produtos uruguaios, as exportações de carne de ovelha tem
agora como principal cliente o Oriente Médio. Esta região representa 40% do que
foi exportado em dólares até este período de 2010, e seus maiores compradores
são da Arábia Saudita (18%) e Emirados Árabes Unidos (9%).
O engenheiro agrônomo Juan Lema, diretor de Tacuarembó comercial/Marfrig
Group, destacou para o El País Agropecuário que há apenas um ano atrás não
havia demanda por carne de ovino em muitos mercados. Além disso, para
destinos tradicionais como o Brasil e a UE, Lema nota que não só os países
árabes estão ativos, mas também a Rússia e a China, vêm comprando do
Uruguai e que exigem um bom nível de carne de ovina. Esta demanda
internacional coincide com um momento em que não há oferta de cordeiros em
nosso país.
Quanto aos países árabes, Lema disse que, em geral, as compras do produto são
sazonais, e que aumentam no mês do Ramadã, que este ano começa no início de
agosto. Nesse sentido, ele ressaltou que a Arábia foi um dos mercados que ficou
desassistido pela Oceania, uma vez que havendo queda na produção eles
decidiram reorientar as suas vendas a clientes de melhor preço (da UE e EUA,
principalmente), e/ou relações de taxa de câmbio mais favorável. Lembre-se que
a valorização do dólar australiano e da Nova Zelândia no ano passado atingiu
50%, o que reduziu a competitividade do produto em vários destinos.
Os preços, as oportunidades e ameaças
Os preços atuais para os cordeiros pesados são quase o dobro das do ano
passado e claramente superior ao máximo de 2008. Rompendo com sazonalidade
característica de nosso país, o surgimento de um bom negócio e a falta de
abastecimento desencadeia a fase atual. É uma mudança importante para o
negócio da carne ovina e o Uruguai que acabou por ser reduzido ao cumprimento
da quota européia na segunda metade do ano e algo mais que se destinava ao
Brasil.
Mas um aspecto marcante é a relação de preços existente entre as categorias
adulto e cordeiros. Não há nenhuma diferença entre um castrado e uma ovelha,
com o preço do cordeiro (5% a 10% no máximo). É a relação histórica do nosso
país e não o de mercados desenvolvidos, como Nova Zelândia e Austrália, onde
os cordeiros são dignos de pelo menos 50% mais que os adultos. Durante algum
tempo, sabemos que eles são mercados diferentes, o cordeiro, para mercados de
alto valor e preços premium de carne, enquanto a carne de carneiro (categoria
adulto), para mercados tradicionais de consumo popular.
O vácuo que deixou a Austrália no Oriente Médio, está pressionando fortemente
o preço dos adultos no mercado local, alavancado ainda mais por relações de
troca favoráveis em dólares para o nosso produto. Além disso, as restrições ao
comércio para o cordeiro uruguaio permanecem inalterados. Esta explosão no
preço dos ovinos ocorreu enquanto ainda temos acesso, com osso, aos EUA,
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Paulo de Tarso dos Santos Martins
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México, Canadá e União Européia. O preço do cordeiro pode ser ainda maior no
futuro não muito distante, o que mudaria a relação de preços com os animais
adultos a termos mais normais.
Mas além do preço está a estratégia de produção. Como mencionado, as
projeções para a Austrália indicam que a exportação de ovinos deve permanecer
estável nos próximos anos, enquanto para a Nova Zelândia deverá aumentar
este ano. Em compensação, o fornecimento de animais adultos para exportação
será reduzido de forma significativa nos próximos anos, principalmente devido à
retenção de matrizes na Austrália. Este cenário pode causar articulações como
esta, com a tentação de vender ovelhas em nosso país, a preços nunca antes
vistos. Temos de avançar na comercialização e produção de cordeiros para ter
acesso a novos mercados, de modo a incentivar a manutenção de matrizes e de
sua produtividade até então subaproveitado por conta de uma produção baseada
na lã pelos produtores locais.
O artigo é de Pablo Jimenez Aréchaga para o El País Digital, resumida e adaptada
pela Equipe FarmPoint.
Fonte: Zoot. Paulo de Tarso
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