DESASTRES NATURAIS QUE ATINGIRAM O ESTADO DE ALAGOAS EM JUNHO DE 2010 - Lídia Keiko Tominaga; Cláudio José Ferreira; Célia R. Gouvêa Souza; Eduardo de Andrade; Márcia M. Nogueira Pressinotti; Paulo César Fernandes da Silva; Rodolfo Moreda Mendes; R
1) Chuvas intensas entre 15-19 de junho de 2010 causaram inundações e enchentes relâmpago nos municípios de Alagoas banhados pelos rios Mundaú e Paraíba do Meio.
2) O Governo de São Paulo enviou equipes para avaliar os riscos em sete municípios atingidos entre 27 de junho e 14 de julho.
3) As avaliações identificaram áreas de maior suscetibilidade a desastres devido à ocupação inadequada de planícies de inundação e fat
Ähnlich wie DESASTRES NATURAIS QUE ATINGIRAM O ESTADO DE ALAGOAS EM JUNHO DE 2010 - Lídia Keiko Tominaga; Cláudio José Ferreira; Célia R. Gouvêa Souza; Eduardo de Andrade; Márcia M. Nogueira Pressinotti; Paulo César Fernandes da Silva; Rodolfo Moreda Mendes; R
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DESASTRES NATURAIS QUE ATINGIRAM O ESTADO DE ALAGOAS EM JUNHO DE 2010 - Lídia Keiko Tominaga; Cláudio José Ferreira; Célia R. Gouvêa Souza; Eduardo de Andrade; Márcia M. Nogueira Pressinotti; Paulo César Fernandes da Silva; Rodolfo Moreda Mendes; R
1. DESASTRES NATURAIS QUE ATINGIRAM O ESTADO DE ALAGOAS
EM JUNHO DE 2010
Lídia Keiko Tominaga; Cláudio José Ferreira; Célia R. Gouvêa Souza; Eduardo de Andrade;
Márcia M. Nogueira Pressinotti; Paulo César Fernandes da Silva; Rodolfo Moreda Mendes;
Rogério Rodrigues Ribeiro
Resumo.
Entre os dias 15 a 19 de junho de 2010, chuvas intensas atingiram a região centro-leste do Estado
de Alagoas provocando importantes inundações, precedidas por “ondas de cheia” (flash flood). Os
efeitos destes fenômenos foram devastadores, causando destruição de moradias e outras
edificações ao longo das margens dos rios e vultosos prejuízos, levando diversos municípios da
região a decretarem situação de emergência e estado de calamidade pública.
Assim, o Governo do Estado de São Paulo, a pedido do Governo de Alagoas, enviou equipes
técnicas de Defesa Civil e de especialistas em avaliação de riscos geoambientais para dar suporte
técnico aos municípios gravemente atingidos pelas cheias dos rios que cortam o Estado de
Alagoas (principalmente dos rios Mundaú e Paraíba do Meio e seus afluentes). Essa ação fez
parte do apoio que o Governo paulista prestou ao Estado de Alagoas no enfrentamento dos
desastres.
As equipes técnicas do Instituto Geológico enviadas ao Estado de Alagoas, no período de 27 de
junho a 14 de julho de 2010, realizaram avaliações de risco em sete municípios: Santana do
Mundaú, União dos Palmares, Branquinha, São José da Laje, Rio Largo, Atalaia e Satuba.
Abstract
Between 15th and 19th June 2010, intense rainfall hit the Middle-East of Alagoas State causing the
occurrence of expressive flash flood and flooding processes. The consequences were devastating.
Hundreds of dwellings and other constructions situated along the river margins were destructed
and huge losses arose. Several municipalities decreed state of emergency and public calamity.
The Government of the State of Alagoas asked for assistance to the Government of the State of
São Paulo that sent technical to Alagoas teams of Civil Defense and experts in risk analysis. The
main support was delivered in the regions drained by the Mundaú and Paraiba do Meio rivers and
their branches. That action was part of the overall help that the Government of the State of São
Paulo gave to the State of Alagoas to tackle the disasters. The technical team from Instituto
Geologico stayed in the Alagoas State between 27th June to 14th July and made risk evaluation
reports comprising seven municipalities, including Santana do Mundaú, União dos Palmares,
Branquinha, São José da Laje, Rio Largo, Atalaia and Satuba.
Palavras Chave: desastres naturais; inundação; enchente-relâmpago; Rio Mundaú.
INSTITUTO GEOLÓGICO, Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo - Av. Miguel
Stéfano, 3900, Água Funda, CEP 04301-903, São Paulo, SP - Fone: 11.5073.5511 - e-mail:
tominaga@igeologico.sp.gov.br
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 1
2. 1- INTRODUÇÃO
Chuvas intensas atingiram o Estado de Alagoas entre os dias 15 a 19 de junho de 2010
provocando importantes inundações, precedidas por “ondas de cheia” (flash flood), no setor
Centro-Leste do Estado. Os efeitos destes fenômenos causaram destruição de moradias e outras
edificações ao longo das margens dos rios e vultosos prejuízos levando diversos municípios da
região a decretarem situação de emergência e estado de calamidade pública (Figura 1).
Assim, atendendo ao pedido de auxílio do Governo de Alagoas, o Governo do Estado de
São Paulo, por meio das Secretarias de Estado do Meio Ambiente, do Desenvolvimento
Econômico, Ciência e Tecnologia e da Coordenadoria da Defesa Civil Estadual (Casa Militar),
enviou equipes técnicas de Defesa Civil, de bombeiros e de especialistas em avaliação de riscos
geoambientais para dar suporte técnico aos municípios gravemente atingidos pelas cheias dos
rios que cortam o Estado de Alagoas (principalmente dos rios Mundaú e Paraíba e seus
afluentes). Essa ação fez parte do apoio que o Governo paulista prestou ao Estado de Alagoas no
enfrentamento dos desastres.
Figura 1 – Municípios de Alagoas que decretaram Situação de Calamidade Pública (15) ou Estado de
Emergência (04) devido às cheias de 18 e 19 de junho de 2010 (Fonte:
http://www.reconstrucao.al.gov.br).
O Instituto Geológico enviou três equipes técnicas, compostas por geólogos, geógrafo,
engenheiro civil, tecnólogo, técnico de apoio, que atuaram na região no período de 27 de junho a
14 de julho de 2010, realizando avaliações em sete municípios: Santana do Mundaú, União dos
Palmares, Branquinha, São José da Laje, Rio Largo, Atalaia, Satuba. Todos estes municípios
localizam-se na Bacia do Rio Mundaú, com exceção de Atalaia que se encontra na Bacia do Rio
Paraíba do Meio (Figura 2).
A primeira equipe, composta por dois geólogos e um geógrafo, atendeu o município de
Santana do Mundaú no período de 27 de junho a 01 de julho. Os técnicos da segunda equipe,
com dois geólogos e um tecnólogo em construção civil, avaliaram os municípios de Branquinha e
União dos Palmares entre os dias 01 e 07 de julho. A terceira equipe formada por uma geóloga,
um engenheiro civil e um técnico de apoio atuaram, no período de 09 a 14 de julho, nos
municípios de São José da Laje, Rio Largo, Atalaia e Satuba. Estes técnicos contaram com o
apoio logístico da Defesa Civil do Estado de São Paulo (CEDEC).
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2
3. 2- OBJETIVO
Este trabalho visa apresentar as avaliações das situações de risco nos municípios alagoanos
atingidos pelos desastres de junho de 2010, realizadas por equipes técnicas do Instituto Geológico
– SMA/SP.
Figura 2 - Localização dos municípios de Alagoas vistoriados pelo IG – SMA/SP.
3- CARACTERIZAÇÃO FISIOGRÁFICA
A bacia hidrográfica do rio Mundaú possui uma área de 4.126 km², da qual 52,2%
encontram-se no estado de Pernambuco e 47,8 % (1971 Km2) em Alagoas, banhando 30
municípios, metade dos quais em Pernambuco. Percorre quase 195 Km desde sua nascente a
aproximadamente 930m de altitude, no estado de Pernambuco, desaguando na lagoa homônima
no entorno da cidade de Maceió (Carvalho, 2002)
Geologicamente, o alto e médio curso do Rio Mundaú insere-se no Maciço Pernambuco-
Alagoas, da Província de Borborema. Enquanto seu baixo curso encontra-se na Província
Costeira sobre os sedimentos cretácicos da Bacia Sedimentar Sergipe- Alagoas. Apresentam
litologias variadas e de idades desde pré-cambrianas até quaternárias, com predominância de
rochas do Complexo Migmatítico-Granitóide (Carvalho, 2002).
De acordo com SGB/CPRM (2009), as bacias do Rio Mundaú e do Rio Paraíba do Meio
enquadram-se geologicamente na Província Borborema e no Domínio Pernambuco-Alagoas. No
Estado de Alagoas, encontram-se em grande parte sobre rochas proterozóicas, sendo as mais
antigas (paleoproterozóicas) formadas por metagranitóides e ortognaisses bandados a
migmatíticos. Enquanto as mesoproterozóicas são representadas por granitóides indiscriminados
(metagranitóides e ortognaisses) e as neoproterozoícas são constituídas por granitóides intrusivos
(granodioritos, monzogranitos e sienogranitos). Já na porção sul destas bacias, ocorrem
formações de idade cenozóica representadas pelo Grupo Barreiras, compostos por arenitos
argilosos a conglomeráticos, com intercalações de siltitos, argilitos, e conglomerados; em menor
proporção afloram também formações sedimentares mesozóicas da Bacia Sergipe- Alagoas.
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3
4. Em relação à Geomorfologia, o setor norte da Bacia do Rio Mundaú (parte alagoana), nos
municípios de São José da Laje e Santana do Mundaú, exibe um relevo acidentado formado por
morros e vales estreitos a abertos com planícies de inundação restritas. Já nos municípios de
Branquinha e União dos Palmares, o relevo é mais suave constituída por morros baixos e colinas
médias e amplas, com vales abertos e amplas planícies de inundação (Figura 3). No trecho sul,
próximo à desembocadura na lagoa homônima, predominam as planícies formadas por depósitos
flúvio-lagunares e tabuleiros associados ao Grupo Barreiras (Brasil, 2005), como observado em
Satuba.
Figura 3 - Vista do relevo da região de Santana do Mundaú tendo ao centro o rio Mundaú (esquerda) e de
União dos Palmares, no local indicado para implantação de conjunto habitacional (direita).
Quanto ao regime de chuvas, a Bacia do Rio Mundaú, que está situada na Zona da Mata
Alagoana, apresenta uma pluviometria caracterizada pela marcante periodicidade dos eventos
chuvosos nos meses de maio a agosto. Conforme Carvalho (2002), os índices pluviométricos
anuais são superiores a 1.500 mm em sua desembocadura. Na parte mais alta, ao norte do
Estado, estes índices chegam a alcançar até 2.000 mm. No entanto, a distribuição dos índices de
chuvas é concentrada no período de outono/inverno, cerca de 60% ocorre em apenas quatro
meses do ano (maio a agosto), provocando sérios problemas de escassez hídrica. Carvalho
(2002) observou que as variações inter-anuais das precipitações, também são marcantes.
4 - DESCRIÇÃO DO PROCESSO ASSOCIADO AO DESASTRE
Os eventos que afetaram estas cidades correspondem a um processo denominado
inundação brusca ou enchente relâmpago, correspondente ao termo em inglês flash flood.
Fenômenos como esse ocorrem devido à concentração de chuvas nas cabeceiras de uma bacia
de drenagem, durante um curto período de tempo, provocando a chamada “onda de cheia”, que
possui grande energia e efeitos devastadores. Chuvas intensas ao longo da bacia aumentam o
volume de água nas calhas e reservatórios, elevando sobremaneira a vazão fluvial do canal
principal e intensificando os processos erosivos nas margens e nas planícies de inundação
(Marcelino et al. 2004). A ocupação inadequada das margens e planícies fluviais e demais
intervenções antrópicas (como, por exemplo, modificações na rede de drenagem,
impermeabilização do solo, desmatamentos, disposição de resíduos sólidos nas calhas dos rios
etc.) também aceleram esses processos, refletindo na maior magnitude dos desastres naturais
associados à dinâmica fluvial.
Entre os dias 16 e 19 de junho de 2010 foi registrado no Posto Pluviométrico de São José
da Laje (SEMARH), uma precipitação acumulada de 242,30mm de chuva (Figura 4), sendo que a
média histórica do mês de junho para a região é de 202,2mm (Fonte: Usina Serra Grande S.A. –
Departamento Agrícola, citado por ABGE, 2010).
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4
5. A conjunção de todos esses fatores pode ser a explicação do que ocorreu na Bacia do Rio
Mundaú e do Rio Paraíba. Pode ter contribuído também, a condição de El Niño atuante desde o
ano passado e o aquecimento anormal das águas do Oceano Atlântico no verão de 2009-2010
(CPTEC/INPE).
Figura 4 – Precipitação pluviométrica do mês de junho de 2010. Fonte: Banco de Dados
Hidrometeorológicos, Posto :São José da Laje (SEMARH).( ABGE, 2010).
No dia 18 de junho, segundo informações da COMDEC de Santana do Mundaú, as ondas
de cheia atingiram as imediações de Santana do Mundaú por volta das 11:30h e São José da Laje
por volta das 15:00h, percorrendo o Rio Mundaú e o Rio Canhoto (afluente do primeiro),
respectivamente, desde o Estado de Pernambuco.
Ao encontrar a primeira grande curva do rio nas proximidades da ponte da cidade de
Santana do Mundaú, a onda avançou em caminho retilíneo rasgando o largo trecho urbano ali
existente, justamente na área de confluência entre o Rio Mundaú e seu outro afluente, o Rio
Mirim. Nesta área, as características geológico-geomorfológicas propiciaram uma maior expansão
urbana, devido à maior disponibilidade de terrenos planos. No entanto, esses terrenos
compreendem as planícies de inundação desses rios, que não deveriam ser ocupadas. Assim,
criou-se ali uma condição de maior suscetibilidade (natural e antropicamente induzida) à
ocorrência dos perigos naturais, maior vulnerabilidade das populações a esses perigos e,
portanto, maior risco à ocorrência de um desastre. De fato, todo esse trecho foi o mais arrasado
de todo o núcleo urbano de Santana do Mundaú. Para jusante, entretanto, à medida que a onda
foi retomando o caminho do curso principal do Rio Mundaú, os danos passaram a ser
gradativamente menores, diminuindo a destruição de edificações (Figuras 5).
Concomitantemente à passagem da onda de cheia ocorreu também uma grande inundação,
causada pela sobrelevação do nível do rio, que alcançou cerca de 10 m nas redondezas da área
de confluência dos rios Mundaú e Mirim (Figura 6).
Com todos esses processos, até mesmo edificações localizadas em áreas mais elevadas
como, por exemplo, as que ocupam o primeiro nível de terraço fluvial situado acima da planície de
inundação foram afetadas.
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5
6. A impermeabilização do solo e a condução inadequada da drenagem superficial (aterros e
canalizações inadequadas) também contribuíram para a propagação da cheia pela cidade e a
destruição de casas e erosão dos terrenos desocupados, pois as linhas de drenagem originais
sempre acabam sendo retomadas durante as chuvas.
Processos erosivos afetando as margens do canal e as planícies de inundação do Rio
Mundaú foram também observados em inúmeros pontos, colocando em risco vias de acesso,
pontes e dezenas de construções e moradias.
A área rural, em terrenos vizinhos ao Rio Mundaú, também foi bastante afetada pelas
cheias, levando à destruição de pontes e ao isolamento de várias comunidades, e à intensa
modificação dos terrenos e dos processos de sedimentação que anteriormente ocorriam na
planície e no leito fluvial desse rio.
Esse processo intenso, que causou perdas e danos socioeconômicos também foi registrado
nas áreas urbanas e em comunidades próximas aos rios nos municípios de União dos Palmares,
Branquinha, São José da Laje, Rio Largo e, com menores proporções, nos municípios de Atalaia e
Satuba.
A jusante de Santana do Mundaú, nos municípios de União dos Palmares e Branquinha,
onde o relevo é mais suave, a planície de inundação do Rio Mundaú se torna mais ampla
favorecendo assim, a ocupação urbana destas áreas. Toda a faixa de planície com extensões de
mais de 300m foram atingidas pelas ondas de cheia do rio, provocando grande destruição
(Figuras 7 e 8). A Usina da Lajinha localizada em União dos Palmares teve suas instalações
seriamente atingidas, chegando a arrastar por quilômetros, cinco dos seis tanques de álcool
(Figura 9). Todo o centro comercial e sede da Prefeitura de Branquinha, além de inúmeras
residências que se encontravam na planície do rio, foram totalmente arrasadas (Figura 10).
São José da Laje foi atingido pela cheia do Rio Canhoto, afluente do Rio Mundaú, com
destruição das edificações existentes ao longo das suas margens (Figuras 11 e 12). Neste
município, observaram-se também algumas áreas com risco de escorregamentos (Figura 13).
No município de Rio Largo houve também rompimento de barragem, localizada no perímetro
urbano da cidade, provocado pela onda de cheia e pelo acúmulo de sedimentos trazidos de
montante (vindos dos outros municípios atingidos), o que contribuiu com a elevação da cota de
água à jusante e consequente aumento do poder destrutivo da correnteza do rio durante a cheia
do dia 19 de junho de 2010 (Figura 14).
A ocupação intensiva da bacia do Rio Mundaú, na parte alagoana, principalmente pelo
cultivo da cana de açúcar, com degradação do solo por lixiviação, contribui para o avanço dos
processos erosivos dos tipos laminar, sulcos e ravinas. A intensificação da erosão do solo tem
como uma das conseqüências danosas, o assoreamento dos cursos d’água, favorecendo a
ocorrência de inundação (Nou et al. 1983).
Segundo relatos de moradores da região, o Rio Mundaú, seus tributários e o Rio Paraíba do
Meio já sofreram cheias anteriores, particularmente nos anos de 1949, 1969, 1979, 1989 e 2000.
Reis et al (2000) analisaram a série histórica do posto da Fazenda Boa Fortuna em Rio
Largo e verificaram três ocorrências de cheias em doze anos (1988, 1989 e 2000) e nenhuma nos
quatorze anos anteriores (de 1974 a 1987). Com base nos dados da série histórica de 1974-1998
e 2000, concluíram que o risco dessa cheia se repetir nos próximos 20 anos é maior que 50%
(57% para a distribuição Gumbel e 68% para a distribuição Log-Normal).
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7. Figura 5 – Santana do Mundaú: forte erosão Figura 6 - Santana do Mundaú: nível máximo
marginal do canal fluvial, com destruição parcial provável de alcance das águas do rio Mundaú
da via de acesso e risco iminente das moradias durante a enchente, de cerca de 10 metros.
localizadas na margem esquerda do rio Mundaú.
Figura 7 – União dos Palmares: destruição ao Figura 8 – União dos Palmares: Rio Mundaú e,
longo do Rio Mundaú. em primeiro plano, moradias destruídas na
enchente.
Figura 9 – Branquinha: tanque de álcool danificado
Figura 10 – Branquinha: área central atingida
e deslocado por vários quilômetros durante a
pela enchente do Rio Mundaú.
enchente do Rio Mundaú.
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7
8. Figura 11 – São José da Laje: edificações Figura 12– São José da Laje: equipe do IG
destruídas pela cheia do Rio Canhoto. realizando vistoria técnica em área com
edificações destruídas pela cheia do Rio Canhoto.
Figura 13 – São José da Laje: vista geral da porção Figura 14 – Rio Largo: via férrea e acesso rodoviário
urbana do município, com a delimitação das áreas destruídos pelo rompimento da ombreira da
de risco para interdição. À direita da foto observa- barragem, com solapamento e erosão na margem
se o Rio Canhoto, afluente do Rio Mundaú. esquerda do Rio Mundaú.
5 - AVALIAÇÕES TÉCNICAS NOS ATENDIMENTOS EMERGENCIAIS DE ALAGOAS
As equipes técnicas do Instituto Geológico enviadas ao Estado de Alagoas, no período 27
de junho a 14 de julho de 2010, realizaram avaliações em sete municípios (Santana do Mundaú,
União dos Palmares, Branquinha, São José da Lage, Rio Largo, Atalaia, Satuba). As vistorias
efetuadas para atender as demandas apresentadas pelas prefeituras municipais visaram
principalmente às seguintes necessidades:
a) avaliação das áreas afetadas pelas enchentes, com indicação de setores para interdição
permanente, temporária e/ou monitoramento quanto à ocupação urbana;
b) avaliação de áreas para instalação de moradias de caráter provisório (barracas);
c) avaliação de áreas para implantação de conjunto habitacional;
d) identificação de área potencial para disposição dos escombros das edificações e
equipamentos destruídos e sedimentos trazidos pelo rio (bota-fora);
e) avaliação de áreas de risco de escorregamentos e indicação de medidas mitigadoras;
f) descrição do fenômeno e avaliação das áreas urbanas atingidas pelas cheias indicando
ações mitigadoras de caráter geológico-geotécnico.
A síntese das ações para cada município encontra-se no Quadro 1.
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9. Quadro 1. Síntese da atuação das equipes técnicas nos atendimentos emergenciais de Alagoas
(Instituto Geológico, 2010).
Período Equipe Localidades Ações
Avaliação de áreas para implantação de moradias de
caráter provisório e de conjunto habitacional;
27/6 a 2 Geólogos Santana do Identificação de área potencial para disposição de
01/07/2010 1 Geógrafo Mundaú entulhos;
Descrição do fenômeno e avaliação das áreas
urbanas atingidas pelas cheias.
Avaliação das áreas afetadas pelas enchentes, com
indicação de setores para interdição às edificações;
2 Geólogos Branquinha
01 a Avaliação de áreas para implantação de moradias de
07/07/2010 1 Tecnólogo em União dos caráter provisório e de conjunto habitacional;
Construção Civil Palmares
Identificação de área potencial para disposição de
entulhos.
Vistoria da área urbana para fins de avaliação dos
1 Geóloga São José da riscos a inundação e/ou escorregamentos;
Lage
1 Engenheiro Vistoria da área urbana para fins de interdição de
09 a Rio Largo
Civil moradias e edificações;
14/07/2010
1 Técnico de Atalaia Avaliação das áreas urbanas atingidas pelas cheias
Apoio Satuba indicando ações mitigadoras de caráter geológico-
geotécnico
Os danos provocados pelo desastre e notificados à Defesa Civil Nacional, nos sete
municípios atendidos, totalizaram 5.656 moradias destruídas, mais de 6 mil moradias danificadas,
17 óbitos e 92.807 pessoas afetadas (Quadro 2).
Quadro 2 – Danos notificados à SEDEC/MI dos municípios atendidos pelas equipes do IG
(SEDEC/MI, 2011).
DANOS NOTIFICADOS À SEDEC/MI DOS MUNICÍPIOS ATENDIDOS NO EST. DE ALAGOAS
(Evento de 18/19 de junho 2010)
Moradias Moradias
Municípios Desalojados Desabrigados Óbitos Afetados Data Ocorr.
Danificadas Destruídas
Atalaia 4.500 100 - 7.000 1.000 20 18/06/2010
Branquinha 3.200 1.000 3 8.000 300 500 18/06/2010
Rio Largo 4.000 2.000 3 9.307 1.651 1.260 19/06/2010
Santana do
3.750 500 2 12.000 200 600 18/06/2010
Mundau
Satuba 905 200 - 1.500 20 40 19/06/2010
União dos
2.000 9.000 9 55.000 2.150 2.850 18/06/2010
Palmares
São José da
4.980 386 0 0 1.060 386 18/06/2010
Laje
Totais 23.335 13186 17 92.807 6.381 5.656
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10. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Face aos eventos que atingiram o Estado de Alagoas e a constatação de que as cheias dos
rios Mundaú e Paraíba do Meio ocorrem periodicamente, considera-se importante a criação de
políticas públicas voltadas à gestão de desastres naturais, dentre as quais se destacam:
implantação de planos preventivos de Defesa Civil local e regional (pelo menos em nível de
bacia hidrográfica) que incluam ações de mapeamento de risco, monitoramento de áreas de
risco, sistemas de alerta e preparação para os desastres naturais;
implementação efetiva de instrumentos de planejamento e gestão territorial, tais como Plano
Diretor Municipal e Plano de Bacia Hidrográfica, que definam estratégias para a prevenção e
redução de desastres naturais, que incluem medidas não estruturais para evitar a reocupação
de áreas indicadas para interdição permanente, e também a ocupação de novas áreas de
risco.
Observa-se, assim, que para uma gestão de risco eficaz, a prevenção de desastres deve ser
tratada de forma ampla e articulada, buscando-se reduzir as vulnerabilidades, evitar ou minimizar
os danos e aperfeiçoar os instrumentos de gerenciamento das situações de emergência e dos
riscos existentes. Para tanto é fundamental o desenvolvimento de ações articuladas entre os
órgãos estaduais, municipais e federais a fim de se implantar um Programa de Prevenção de
Desastres.
AGRADECIMENTOS: a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil - Casa Militar do Estado de São
Paulo, pelo apoio financeiro e logístico.
REFERÊNCIAS
ABGE. 2010. Revista da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental. Nº 88,
abr/ago, 2010. Disponível no site: http://www.abge.com.br/
Brasil. Ministério das Minas e Energia. SGB/CPRM 2009. Carta Geológica Folha Arapiraca SC.
24-X-D Escala 1:250.000-CPRM,2009. Disponível no site: http://www.cprm.gov.br/
(consultado em abril/2011).
Brasil. Ministério das Minas e Energia. SGB/CPRM, 2005. Atlas Digital de Recursos Hídricos do
Estado de Alagoas. Disponível no site: http://www.cprm.gov.br/ (consultado em 20/05/2011).
CARVALHO, GUSTAVO SILVA de 2002 – Potencialidade dos Recursos Hidricos da Bacia
Hidrografica do Rio Mundau. Relatório apresentado ao SERHI, disponível no site:
http://www.semarh.al.gov.br/programas/proagua/arquivos-para-baixar/EstudosHidrologicos
RioMundau.zip/view (consultado em 17/05/2011).
CPTEC/INPE 2010. Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos. Disponível no site:
http://www.cptec.inpe.br/
INSTITUTO GEOLÓGICO. 2010. Relatório Desastres Naturais que atingiram o Estado de Alagoas
em Junho de 2010. São Paulo, Instituto Geológico, Secretaria Estadual de Meio Ambiente,
não publicado.
REIS, L. G. M.; SILVA JUNIOR, O. B.; PEDROSA, V. A. 2000. Análise da cheia de agosto de 2000
no rio Mundaú em Alagoas. In: V Simposio de Recursos Hidricos do Nordeste, 2000, Natal.
Anais do V Simposio de Recursos Hidricos do Nordeste, 2000. v. 1. p. 729-740.
SEDEC/MI, 2011. Situação de Emergência e Estado de Calamidade Pública – Municípios com
Portaria de Reconhecimento. Defesa Civil Nacional/Ministério da Integração. Disponível no
site: http://www.defesacivil.gov.br/situacao/municipios.asp (consultado em 24/05/2011).
13º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 10