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EPAMINONDAS

Artur Azevedo


Conquanto exercesse a profissão de advogado, e como tal fosse muitas vezes coagido a mentir,
o Dr. Lacerda abominava mentirosos, e tudo perdoava ao filho, ao Epaminondas, menos falir à
verdade; por isso lhe dera o nome do famoso general tebano, que nem brincando mentia.


Releva dizer que, em solteiro, no tempo em que andou de casa e pucarinha com a Esmeralda,
que deixou fama nas rodas alegres da vida carioca, o Dr. Lacerda foi mais enganado por essa
mulher que Cláudio por Messalina; desse amargo período da sua existência lhe ficou talvez,
aquele sentimento de repulsão aliás muito louvável, por tudo quanto não fosse a expressão
exata e cristalina da verdade.


Depois que a Esmeralda partiu para a Europa, e serenou a vida do seu amante, gravemente
perturbada por aqueles amores infelizes e ridículos, o Dr. Lacerda, desejoso de constituir família
encontrou D. Sidônia, uma excelente moça e formosa, de quem se enamorou, e que aceitou
satisfeita a sua mão de esposo, porque o amava. Casaram-se.


Eram felizes, mas na sua felicidade havia uma nuvenzinha: a Esmeralda. Com o seu estimável,
mas inconvenientissimo sistema de não encobrir a verdade, fosse qual fosse, o Dr. Lacerda
contara lealmente, ainda noivo, todo o seu tempestuoso passado àquela que deveria ser sua
esposa.


Imprudência foi, porque D. Sidônia ficou ciumenta desse passado. A Esmeralda ainda vivia;
apenas mudara de terra; poderia de um momento para outro aparecer inopinadamente, e
perturbar a ventura do amoroso casal. Talvez não estivesse de todo extinta a chama antiga;
bastaria, talvez, a presença daquela mulher perigosa para reacendê-la no coração do advogado.


Esses receios não se modificaram profundamente com o nascimento do Epaminondas, nem
mesmo com o deslizar do tempo.


Havia já nove anos que viera ao mundo o homônimo do estadista de Tebas, quando um belo dia
D. Sidônia soube, pelo próprio marido, que a Esmeralda voltara da Europa, e mais bela, mais
atraente que nunca. Era a verdade, a verdade implacável, que ele não podia esconder.


A esposa sobressaltou-se, coitada, - mas o marido tranqüilizou-a com estas palavras:


- Não é justo que me tenhas na conta de um homem desprezível. Não sinto por essa mulher
senão asco.
- Não, não és, bem sei, um homem desprezível; és, pelo contrário, o modelo dos homens de
bem; mas a natureza é fraca, e essa mulher um demônio capaz de transformar o teu caráter!


- Não creias.


- Olha, Lacerda, se eu souber que estiveste com ela... que lhe falaste... eu... nem sei que
desatino farei!... Sou capaz de suicidar-me!...


- Cala-te! Não digas tolices!...


- Em todo caso, se te encontrares com esse diabo, se lhe falares, por amor de Deus não me
digas nada! Ao menos por esta vez, só por esta vez, encobre-me a verdade!... Podes causar
uma desgraça!... Vê como estou nervosa!...


- Isso passa.


Poucos dias depois, seriam três horas da tarde, estava o advogado no seu consultório da rua da
Quitanda, em companhia do Epaminondas, que viera ter com o pai a fim de preveni-lo que D.
Sidônia, viria buscá-lo para ir com ele ao dentista.


De repente abriu-se a porta do consultório, e a Esmeralda entrou como um raio.


- Ah! Lacerda, meu Lacerda, em fim te encontro!...


E, sem fazer caso do menino, a turbulenta cocotte abraçou com veemência e beijou repetidas
vezes o seu ex-amante, que em vão forcejava por se ver livre daquela intempestiva e
escandalosa expansão.


- Deixe-me, senhora! Que é isto? Olhe o pequeno! É meu filho!


Mas qual! A Esmeralda, chorando e rindo ao mesmo tempo, continuava a abraçá-lo e beijá-lo
cada vez com mais efusão, e o Epaminondas, atônito, pasmado, arregalava os olhos, sem se
atrever a erguer-se da cadeira em que estava sentado.


Nisto, o Dr. Lacerda ouviu um frufru de saias na escada, e reconheceu os passos de sua
mulher, que subia.


O pobre diabo soltou um grito de terror e, com um gesto enérgico e brutal, afastou de si a
inconseqüente Esmeralda.


- É minha mulher! Esconda-se!...
A cocotte compreendeu tudo, e, sem dizer palavra, meteu-se numa alcova cuja porta o
advogado fechou.


Todos esses movimentos se realizaram num abrir e fechar d'olhos.


D. Sidônia entrou no consultório, e, vendo o marido com o colarinho um pouco amarrotado e o
laço da gravata desfeito, e o Epaminondas muito espantado, passou a vista de um para outro, e
perguntou:


- Que foi?... Que se passou?... Com quem falavas tu?... Quem estava aqui?...


- Ninguém... nada... bem vês, - balbuciou o Dr. Lacerda.


Houve uma pausa.


O consultório estava impregnado do perfume da Esmeralda, um perfume indiscreto e capitoso
que a anunciava de longe; felizmente, porém, D. Sidônia achava-se naquele dia atacada por um
defluxo providencial, que lhe tirava completamente o olfato.


Ela voltou-se para o filho:


- Epaminondas, teu pai ensinou-te a não mentir em nenhuma circunstância da vida: dize-me a
verdade: quem estava aqui?


- Uma senhora?


- Que senhora?


- Não a conheço.


- Que fez ela?


- Entrou como uma doida, e deu muitos beijos e muitos abraços em papai!


D. Sidônia fulminou com um olhar terrível o Dr. Lacerda, que, para disfarçar, atava de novo a
gravata.


- Que senhora é essa? - interrogou ela com os lábios trêmulos.
O Epaminondas respondeu pelo pai:


- Uma senhora muito bonita, muito bem vestida, com um chapéu muito grande!


- Onde está essa mulher?


- Papai disse-lhe que se escondesse, e ela escondeu-se...


- Onde?


- Naquele quarto.


D. Sidônia empurrou com o pé a porta da alcova, mas não encontrou ninguém lá dentro: a
Esmeralda, praça velha que não se apertava nas ocasiões difíceis, abrira outra porta,
comunicando com o corredor, e conseguira descer rapidamente a escada e sair para a rua sem
fazer o menor ruído.


Vendo a situação bem encaminhada, o Dr. Lacerda recobrou o sangue-frio, e, enquanto D.
Sidônia revistava a alcova, disse baixinho ao filho:


- Epaminondas, é preciso mentir; senão, tua mãe mata-se!


E quando D. Sidônia voltou da alcova, recebeu-a com uma gargalhada:


- Ah! Ah! Ah! Ah!...


- Que quer isso dizer? - perguntou ela.


- Quer dizer que caíste como um patinho!


- Hem?


- Isto foi uma comédia arranjada por mim, com o auxílio do Epaminondas. Fui eu que lhe ensinei
aquela história de moça bonita, de chapéu grande!


- Mas... para quê?


- Como disseste que te suicidaria se eu falasse à Esmeralda, queria ver o que farias! Mas tenho
pena de te ver aflita, e não espero pelo resultado da pilhéria...
- Isso é verdade, Epaminondas?


- É mamãe, - respondeu o pequeno com um tom de convicção de quem jamais fizera outra
coisa, senão mentir.


- E este colarinho amarrotado?... E esta gravata?


- Foi de propósito, minha tola, para dar um quê de verossimilhança à coisa.


- Achas então que sou tola? - disse D. Sidônia sorrindo e sentando-se tranqüilamente. - Tolo és
tu!


- Porquê?


- Não te lembras de que não me poderia entrar na cabeça que estivesse aos beijos com essa
mulher em presença do Epaminondas!


- É verdade! Que queres? Para mim, bem sabes, não há nada mais difícil do que inventar uma
peta. Vamos ao dentista!


Dali por diante, o Epaminondas começou a mentir por quantas juntas tinha.

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Artur azevedo epaminondas

  • 1. EPAMINONDAS Artur Azevedo Conquanto exercesse a profissão de advogado, e como tal fosse muitas vezes coagido a mentir, o Dr. Lacerda abominava mentirosos, e tudo perdoava ao filho, ao Epaminondas, menos falir à verdade; por isso lhe dera o nome do famoso general tebano, que nem brincando mentia. Releva dizer que, em solteiro, no tempo em que andou de casa e pucarinha com a Esmeralda, que deixou fama nas rodas alegres da vida carioca, o Dr. Lacerda foi mais enganado por essa mulher que Cláudio por Messalina; desse amargo período da sua existência lhe ficou talvez, aquele sentimento de repulsão aliás muito louvável, por tudo quanto não fosse a expressão exata e cristalina da verdade. Depois que a Esmeralda partiu para a Europa, e serenou a vida do seu amante, gravemente perturbada por aqueles amores infelizes e ridículos, o Dr. Lacerda, desejoso de constituir família encontrou D. Sidônia, uma excelente moça e formosa, de quem se enamorou, e que aceitou satisfeita a sua mão de esposo, porque o amava. Casaram-se. Eram felizes, mas na sua felicidade havia uma nuvenzinha: a Esmeralda. Com o seu estimável, mas inconvenientissimo sistema de não encobrir a verdade, fosse qual fosse, o Dr. Lacerda contara lealmente, ainda noivo, todo o seu tempestuoso passado àquela que deveria ser sua esposa. Imprudência foi, porque D. Sidônia ficou ciumenta desse passado. A Esmeralda ainda vivia; apenas mudara de terra; poderia de um momento para outro aparecer inopinadamente, e perturbar a ventura do amoroso casal. Talvez não estivesse de todo extinta a chama antiga; bastaria, talvez, a presença daquela mulher perigosa para reacendê-la no coração do advogado. Esses receios não se modificaram profundamente com o nascimento do Epaminondas, nem mesmo com o deslizar do tempo. Havia já nove anos que viera ao mundo o homônimo do estadista de Tebas, quando um belo dia D. Sidônia soube, pelo próprio marido, que a Esmeralda voltara da Europa, e mais bela, mais atraente que nunca. Era a verdade, a verdade implacável, que ele não podia esconder. A esposa sobressaltou-se, coitada, - mas o marido tranqüilizou-a com estas palavras: - Não é justo que me tenhas na conta de um homem desprezível. Não sinto por essa mulher senão asco.
  • 2. - Não, não és, bem sei, um homem desprezível; és, pelo contrário, o modelo dos homens de bem; mas a natureza é fraca, e essa mulher um demônio capaz de transformar o teu caráter! - Não creias. - Olha, Lacerda, se eu souber que estiveste com ela... que lhe falaste... eu... nem sei que desatino farei!... Sou capaz de suicidar-me!... - Cala-te! Não digas tolices!... - Em todo caso, se te encontrares com esse diabo, se lhe falares, por amor de Deus não me digas nada! Ao menos por esta vez, só por esta vez, encobre-me a verdade!... Podes causar uma desgraça!... Vê como estou nervosa!... - Isso passa. Poucos dias depois, seriam três horas da tarde, estava o advogado no seu consultório da rua da Quitanda, em companhia do Epaminondas, que viera ter com o pai a fim de preveni-lo que D. Sidônia, viria buscá-lo para ir com ele ao dentista. De repente abriu-se a porta do consultório, e a Esmeralda entrou como um raio. - Ah! Lacerda, meu Lacerda, em fim te encontro!... E, sem fazer caso do menino, a turbulenta cocotte abraçou com veemência e beijou repetidas vezes o seu ex-amante, que em vão forcejava por se ver livre daquela intempestiva e escandalosa expansão. - Deixe-me, senhora! Que é isto? Olhe o pequeno! É meu filho! Mas qual! A Esmeralda, chorando e rindo ao mesmo tempo, continuava a abraçá-lo e beijá-lo cada vez com mais efusão, e o Epaminondas, atônito, pasmado, arregalava os olhos, sem se atrever a erguer-se da cadeira em que estava sentado. Nisto, o Dr. Lacerda ouviu um frufru de saias na escada, e reconheceu os passos de sua mulher, que subia. O pobre diabo soltou um grito de terror e, com um gesto enérgico e brutal, afastou de si a inconseqüente Esmeralda. - É minha mulher! Esconda-se!...
  • 3. A cocotte compreendeu tudo, e, sem dizer palavra, meteu-se numa alcova cuja porta o advogado fechou. Todos esses movimentos se realizaram num abrir e fechar d'olhos. D. Sidônia entrou no consultório, e, vendo o marido com o colarinho um pouco amarrotado e o laço da gravata desfeito, e o Epaminondas muito espantado, passou a vista de um para outro, e perguntou: - Que foi?... Que se passou?... Com quem falavas tu?... Quem estava aqui?... - Ninguém... nada... bem vês, - balbuciou o Dr. Lacerda. Houve uma pausa. O consultório estava impregnado do perfume da Esmeralda, um perfume indiscreto e capitoso que a anunciava de longe; felizmente, porém, D. Sidônia achava-se naquele dia atacada por um defluxo providencial, que lhe tirava completamente o olfato. Ela voltou-se para o filho: - Epaminondas, teu pai ensinou-te a não mentir em nenhuma circunstância da vida: dize-me a verdade: quem estava aqui? - Uma senhora? - Que senhora? - Não a conheço. - Que fez ela? - Entrou como uma doida, e deu muitos beijos e muitos abraços em papai! D. Sidônia fulminou com um olhar terrível o Dr. Lacerda, que, para disfarçar, atava de novo a gravata. - Que senhora é essa? - interrogou ela com os lábios trêmulos.
  • 4. O Epaminondas respondeu pelo pai: - Uma senhora muito bonita, muito bem vestida, com um chapéu muito grande! - Onde está essa mulher? - Papai disse-lhe que se escondesse, e ela escondeu-se... - Onde? - Naquele quarto. D. Sidônia empurrou com o pé a porta da alcova, mas não encontrou ninguém lá dentro: a Esmeralda, praça velha que não se apertava nas ocasiões difíceis, abrira outra porta, comunicando com o corredor, e conseguira descer rapidamente a escada e sair para a rua sem fazer o menor ruído. Vendo a situação bem encaminhada, o Dr. Lacerda recobrou o sangue-frio, e, enquanto D. Sidônia revistava a alcova, disse baixinho ao filho: - Epaminondas, é preciso mentir; senão, tua mãe mata-se! E quando D. Sidônia voltou da alcova, recebeu-a com uma gargalhada: - Ah! Ah! Ah! Ah!... - Que quer isso dizer? - perguntou ela. - Quer dizer que caíste como um patinho! - Hem? - Isto foi uma comédia arranjada por mim, com o auxílio do Epaminondas. Fui eu que lhe ensinei aquela história de moça bonita, de chapéu grande! - Mas... para quê? - Como disseste que te suicidaria se eu falasse à Esmeralda, queria ver o que farias! Mas tenho pena de te ver aflita, e não espero pelo resultado da pilhéria...
  • 5. - Isso é verdade, Epaminondas? - É mamãe, - respondeu o pequeno com um tom de convicção de quem jamais fizera outra coisa, senão mentir. - E este colarinho amarrotado?... E esta gravata? - Foi de propósito, minha tola, para dar um quê de verossimilhança à coisa. - Achas então que sou tola? - disse D. Sidônia sorrindo e sentando-se tranqüilamente. - Tolo és tu! - Porquê? - Não te lembras de que não me poderia entrar na cabeça que estivesse aos beijos com essa mulher em presença do Epaminondas! - É verdade! Que queres? Para mim, bem sabes, não há nada mais difícil do que inventar uma peta. Vamos ao dentista! Dali por diante, o Epaminondas começou a mentir por quantas juntas tinha.