1. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
INTEGRANDO A INDÚSTRIA PARA O FUTURO
VOLUME VI
2. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME VI
INTEGRANDO A INDÚSTRIA
PARA O FUTURO
Banco de
Desenvolvimento de
Minas Gerais
3. BANCO DE DESENVOLVIMENTO DE MINAS GERAIS S.A. - BDMG
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10 v. : il. -
Conteúdo: v.1 - O Ponto de Partida. v. 2 - Reinterpretando o Espaço Mineiro.
v. 3 - Infra-Estrutura: sustentando o desenvolvimento. v. 4 - Transformando o
Desenvolvimento na Agropecuária. v. 5 - Consolidando Posições na
Mineração. v. 6 - Integrando a Indústria para o Futuro. v. 7 - Desenvolvimento
Sustentável: apostando no futuro. v. 8 - Investindo em Políticas Sociais. v. 9 -
Transformando o Poder Público: a busca da eficácia. v. Especial – Uma Visão do Novo
Desenvolvimento
1. Condições econômicas – Minas Gerais. 2. Desenvolvimento econômico –
Minas Gerais. I. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais. II. BDMG. III. Título
CDU: 338.92(815.1)
Catalogação na publicação: Biblioteca BDMG
4 Minas Gerais do Século XXI - Volume I - O ponto de partida
5. VOLUME 6
INTEGRANDO A INDÚSTRIA
PARA O FUTURO
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Marco Antônio Rodrigues da Cunha - Coordenação Executiva
Marilena Chaves - Coordenação Técnica
Coordenador Técnico do Volume
Juliana Rodrigues de Paula Chiari
(D. PE/BDMG)
6.
7. SUMÁRIO
1. ESTRUTURA E DINÂMICA ................................................................................................................................... 9
2. CADEIAS PRODUTIVAS RELEVANTES ......................................................................................................... 111
3. AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS LOCAIS ................................................................................................... 173
4. CONSIDERAÇÕES PARA UMA POLÍTICA INDUSTRIAL ................................................................... 255
8.
9. MINAS GERAIS DO SÉCULO XXI
VOLUME VI
INTEGRANDO A INDÚSTRIA
PARA O FUTURO
CAPÍTULO 1
ESTRUTURA E DINÂMICA
Mauro Borges Lemos
(Ph.D e Professor do Cedplar/FACE/UFMG)
10.
11. SUMÁRIO
1.1. REFERÊNCIA TEÓRICA DO ESTUDO ........................................................................................................ 13
1.2. ESTRUTURA SETORIAL DA INDÚSTRIA MINEIRA COMPARADA AOS
PRINCIPAIS ESTADOS FEDERATIVOS CONCORRENTES ............................................................ 16
1.3. DIFERENÇAS INTER-REGIONAIS DE DESEMPENHO INDUSTRIAL ..................................... 23
1.4. INTEGRAÇÃO E COMPLEMENTARIDADE INTERSETORIAL E INTER-REGIONAL .... 28
1.5. ESTRUTURA INDUSTRIAL E COMÉRCIO EXTERIOR ..................................................................... 42
1.6. SETORES-CHAVE DA INDÚSTRIA MINEIRA: EMPRESAS LÍDERES
NO CONTEXTO NACIONAL ............................................................................................................................. 47
1.7. LIDERANÇA DE EMPRESAS DOS SETORES METAL-MECÂNICO .............................................. 49
1.8. LIDERANÇA DE EMPRESAS DOS SETORES AGROINDUSTRIAIS ............................................ 83
1.9. OS DESAFIOS DO COMPLEXO METAL-MECÂNICO: A FRAGILIDADE
DO SETOR DE BENS DE CAPITAL ................................................................................................................ 91
1.10. A AGROINDUSTRIALIZAÇÃO RESTRITA ............................................................................................... 97
1.11. PROPOSIÇÕES PARA POLÍTICAS ................................................................................................................. 106
1.12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................ 109
12.
13. BDMG
40 anos
1.1. Referência teórica do estudo
Este estudo possui duas referências teóricas, que são os pontos de sustentação da estrutura
analítica desenvolvida. A primeira é relacionada ao papel da indústria no desenvolvimento
econômico e a segunda ao processo espacialmente desigual do desenvolvimento, que é explicado
pela própria natureza polarizadora da atividade industrial.
A tese consagrada na literatura macroeconômica estruturalista estabelece a primazia da
indústria como o motor do crescimento econômico de longo prazo. As origens desta concepção
remonta aos trabalhos clássicos de Schumpeter (1934; 1943), que ao entronizar a inovação tecnológica
como o fator de indução da mudança econômica elege a indústria como setor chave da economia
capitalista. Este fundamento micro do processo de crescimento econômico de longo prazo propiciou
uma fértil literatura dos fenômenos macroeconômicos baseados nas mudanças estruturais do aparato
produtivo da economia, particularmente as mudanças oriundas da predominância na estrutura
produtiva da indústria manufatureira ou de transformação. A contribuição decisiva neste campo é a
de Kaldor (1966), que com suas leis do crescimento propõe uma inversão da causalidade na equação
básica de crescimento, tornando endógena a variável produtividade. Desta forma, o crescimento do
produto industrial surge como fator determinante e alimentador do próprio crescimento agregado da
produtividade, em que o efeito escala de Verdoorn surge como parâmetro chave. Os estudos sobre a
questão do desenvolvimento em economias retardatárias (Hirschman, 1958; Prebisch, 1973 [1952];
Furtado, 1961) vão utilizar este substrato teórico estruturalista como ponto de partida para a
formulação do planejamento econômico, em que a industrialização será o centro das políticas de
indução aos investimentos.
Os programas de industrialização via substituição de importações na América Latina vão
se inspirar neste paradigma, que teve influência decisiva nas políticas industriais do setor público
brasileiro durante pelo menos 4 décadas. Os esforços de recuperação do hiato de desenvolvimento
da economia mineira em relação aos seus dois vizinhos mais virtuosos, São Paulo e Rio de Janeiro,
estiveram bem assentados neste paradigma, em que a industrialização foi concebida como a via
catalisadora de um amplo elenco de políticas públicas direcionadas para a superação da defasagem
tecnológica existente àquela época, condição imprescindível na busca do desenvolvimento de
Minas Gerais. O amadurecimento da economia brasileira ao longo deste período e o sucesso
inegável de Minas em seu esforço industrializante, não eliminaram a necessidade das políticas
indutoras de investimentos. A principal diferença é que não seria possível, nestes novos tempos
do terceiro milênio, nortear a política industrial pela via da substituição de importações como no
modelo original. As trocas de bens via sistema de preços e a urbanização da grande maioria da
população são os parâmetros decisivos que indicam que o país realizou a transição definitiva de
uma economia rural, predominantemente de subsistência, para uma economia urbano-industrial,
dominada pelas regras da regulação do mercado. Neste sentido, os mecanismos de financiamento
dos investimentos e de incentivos fiscais e creditícios deverão estar fundados nas novas formas
de poupança dos indivíduos e das empresas, como os fundos de pensão e as emissões de debêntures.
No entanto, as vicissitudes e limitações da regulação econômica pelos mecanismos canônicos
do mercado desautorizam ações públicas voluntariosas, de retirada do papel da intervenção estatal
na regulação da atividade econômica. As políticas inspiradas no liberalismo minimalista são
especialmente prejudiciais em economias que realizaram tardiamente sua industrialização e carregam
como herança fragilidades estruturais e institucionais, como o pequeno porte das empresas
13
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
14. nacionais, a baixa capacitação tecnológica interna e de geração de inovações, insuficiência de
BDMG
40 anos
infra-estrutura física e educacional, fortes desequilíbrios econômicos inter-regionais e sociais,
pobreza absoluta em grande escala territorial e sistema político-institucional incipiente. Estas
fragilidades continuam a apontar para necessidade de políticas públicas ativas de promoção do
desenvolvimento, que no caso da economia brasileira continuam a ter a indústria como o fator
estruturante. Como um ente federativo de uma economia integrada nacionalmente, Minas Gerais
está inserida na divisão inter-regional do trabalho, que é mais do que um resultado das forças de
atração e repulsão do funcionamento natural do mercado. Como é bem conhecida entre os
formuladores de políticas, a intervenção pública estatal, especialmente do governo estadual,
continua a ter um papel decisivo nas decisões da distribuição territorial dos investimentos privados.
Este ponto remete à segunda sustentação teórica de nossa estrutura analítica. Desde o
trabalho clássico de Myrdal (1958), sabe-se que o desenvolvimento econômico é espacialmente
desigual. Mesmo atuando como forças simultâneas em direções opostas, os efeitos de polarização
e de dispersão do desenvolvimento não possuem temporalmente a mesma intensidade. Se isto
ocorresse, o desenvolvimento seria espacialmente equilibrado e os próprios mecanismos de mercado
dariam conta de evitar as disparidades regionais e, assim, poderíamos definir o território nacional
como uma única região. As evidentes disparidades espaciais no território nacional são a prova
definitiva de que as leis de mercado favorecem a atividade econômica em determinadas regiões
em detrimento de outras. E a razão deste desenvolvimento desigual é que os efeitos líquidos de
atração-repulsão favorecem inicialmente o processo de polarização, em função das possibilidades
de ganhos de escala de aglomeração das atividades econômicas no espaço, especialmente das
industriais. A lei de retornos crescentes estabelece um mecanismo de mercado baseado na
retroalimentação, em que os efeitos de encadeamentos para frente (efeito-oferta) de ganhos de
produtividade e redução de custos, provenientes da escala da aglomeração no espaço, favorecem
a expansão da renda regional; por sua vez, esta expansão da renda deflagra um efeito de
encadeamento para trás (efeito-demanda), que induz novos investimentos e ampliação de
capacidade, reforçando ainda mais as economias de aglomeração na região inicialmente favorecida.
É neste sentido que uma região pode crescer em detrimento de outra, tornando possível um
padrão de crescimento polarizado centro-periferia1 . Mesmo que as próprias leis do sistema de
preços relativos possam posteriormente conduzir à reversão da polarização, através da eventual
prevalência dos efeitos líquidos de dispersão espacial das atividades econômicas, esta possibilidade
não é inexorável e muito menos multidirecional. Considerando uma economia nacional
multiregional, a velocidade e direção do processo de reversão dependem não apenas das forças de
mercado mas de fatores extra mercado, decorrentes da ação pública estadual, favorecendo uma
determinada trajetória da desconcentração. Neste sentido, a atuação das lideranças e governos
locais e estaduais pode ser o fiel da balança da futura trajetória territorial do desenvolvimento. O
papel central da indústria para potencializar os ganhos aglomerativos no espaço explica sua
permanência como fator estruturante das políticas regionais ao longo do processo de
desenvolvimento de uma região ou Estado federativo, mesmo tendo em mente que ao longo deste
processo o efeito arraste das atividades industriais sobre o setor de serviços acaba por conduzi-lo
à posição majoritária do produto regional.
Com base no exposto acima, teremos ao longo da análise da indústria mineira dois pontos
de referência: o primeiro refere-se ao tamanho e qualidade da estrutura industrial da economia
A intuição seminal por trás desta idéia da dinâmica centro-periferia, formulada de forma original e mais acabada por Myrdal, vem
1
sendo objeto de formalização nos anos recentes com base em modelos espaciais de retornos crescentes, inicialmente através dos
estudos pioneiros de Krugman (1991; 1999) e, posteriormente, pela publicação de trabalho mais elaborado em colaboração com
M.Fujita e A.Venables (Fujita, et al., 1999).
14 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
15. do Estado, que inclui a evolução de sua especialização, a capacidade de internalizar os efeitos de
BDMG
40 anos
encadeamentos intersetoriais e de se constituir em uma base exportadora inter-regional e
internacional; o segundo relaciona-se à comparação da estrutura e desempenho da economia mineira
vis-à-vis as principais economias estaduais concorrentes, representadas pelas economias primazes
de São Paulo e Rio de Janeiro, que historicamente cumpriram a função de centro no desenvolvimento
regional brasileiro, e as economias gaúcha e paranaense que, ao lado da economia mineira,
representam a “periferia próxima” que vem disputando os segmentos mais nobres dos elos industriais
no processo de reversão da polarização do país. Ou seja, a formulação das diretrizes de política
industrial para a economia mineira depende não apenas da dimensão, eficiência e superação dos
gargalos da sua estrutura industrial, mas também da posição relativa frente aos demais estados
federativos, especialmente dos estados em condições de disputar os novos investimentos produtivos
nos setores dinâmicos da indústria de transformação brasileira. A natureza integrada e complementar
das economias regionais da federação não implica uma divisão de trabalho inter-regional equilibrada,
tendo em vista que a dinâmica centro-periferia é intrínseca ao movimento do capital no espaço.
15
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
16. 1.2. Estrutura setorial da indústria mineira
BDMG
40 anos
comparada aos principais estados
federativos concorrentes
Os dados consolidados para os últimos 40 anos (TAB. 1) confirmam que a indústria mineira
apresentou o maior aumento de participação relativa na indústria nacional, de quase 60%, dentre as
grandes economias estaduais, passando de uma posição de quarto lugar em 1960, com 6,06%, para
o terceiro lugar em 1999, quando atinge de quase 10% do produto industrial brasileiro, ficando com
uma participação de apenas 0,86% abaixo da indústria do Rio de Janeiro. A mudança estrutural mais
significativa foi na indústria de transformação, em que Minas possuía grande atraso relativo, estando
até os anos 60 abaixo do Rio Grande de Sul, àquela época o terceiro estado industrial. Chama
também atenção que houve um hiato temporal entre o esforço de industrialização do Estado, do
final dos anos 60 até a primeira metade dos anos 80, e o salto de participação relativa, que ocorreu
de forma gradual ao longo destas 4 décadas, próximo de um ganho líquido de 1% a cada dez anos.
Ou seja, o processo de maturação dos investimentos, contemplados com grande intensidade nos
projetos das indústrias de base do II PND, foi de longo prazo, culminando com o esforço exportador
da segunda metade dos anos 80 e o processo de abertura dos 90. Como será visto adiante, tudo
indica que a indústria mineira foi das menos atingidas pelo impacto da abertura externa, já que sua
especialização não competiu com as novas importações, ao mesmo tempo em que suas exportações
se beneficiaram de setores industriais tecnologicamente atualizados e de vantagens comparativas
estáticas e, neste sentido, estavam relativamente mais preparados para competição externa.
A decomposição setorial do esforço de industrialização mostra seu direcionamento para a
diversificação do complexo metal-mecânico, cuja participação passa de 37,5% do produto industrial
estadual em 1960 para 51% em 1999 (TAB. 2). Até 1970 este complexo era fundamentalmente
mínero-metalúrgico, haja vista que 92% do VTI intracomplexo pertencia aos setores extração de
minerais metálicos, ferrosos e não-ferrosos (alumínio, zinco e titânio), e metalúrgicos (siderurgia
integrada, fundidos, forjados e ferro-gusa). De fato, os anos 70 representam o período crítico para
o adensamento a jusante do complexo, principalmente com a instalação da FIAT automóveis em
1976. A partir daí, a participação dos setores material de transporte, mecânica e material elétrico
e de telecomunicações é crescente, atingindo em 1999 31% do VTI intracomplexo. Este esforço
de diversificação da metal-mecânica resultou no aumento da participação do Estado nestes 3
setores na indústria nacional durante a década dos 70. Entretanto, a partir da década dos 80 o
setor da mecânica estadual perde significativa participação relativa em nível nacional (de 7,04%
para 5,12%), que indica, como será desenvolvido na seção 4, uma fragilização na estrutura industrial
mineira, pelo fato deste setor se constituir em um pilar estratégico na integração intersetorial do
complexo metal-mecânico.
É notável também que Minas não perde participação relativa em nenhum setor relevante
da indústria nacional, mesmo em setores tradicionais como alimentos, têxtil, vestuário/calçados e
mobiliário (TAB. 3). No caso dos setores do complexo têxtil/vestuário, mesmo havendo uma
efetiva regressão de especialização produtiva nos tradicionais pólos do Estado, como Juiz de
Fora, surgiram novas localidades mais competitivas para os novos padrões tecnológicos da indústria,
como Montes Claros, ocorrendo a partir dos anos 80 uma vigorosa recuperação destes setores.
Em relação ao setor alimentício, a rápida expansão e diversificação do complexo agroindustrial
brasileiro nos anos 70 e 80 resultou no surgimento de novas cadeias produtivas, como soja e
aves, que apresentaram mais dinamismo em outras unidades da federação, como Paraná e Santa
Catarina e, mais recentemente, nos estados do Centro-Oeste. No caso dos produtos tradicionais
da agropecuária mineira, pecuária de corte, pecuária leiteira e café, mesmo havendo dificuldades
16 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
17. de desenvolvimento dos segmentos industriais destas cadeias na economia estadual, foi possível
BDMG
40 anos
manter a participação relativa do Estado em mais de 8% da indústria nacional de alimentos.
Em relação aos estados concorrentes mais industrializados, a maior queda de participação
relativa no produto industrial foi do Rio de Janeiro, que sofreu uma participação descendente e em
grandes proporções no período 1960/90. Em 1992, a indústria de transformação fluminense fica,
pela primeira vez, abaixo da participação das indústrias mineira e gaúcha. Só não perde a posição
de segunda economia industrial do país graças à grande expansão do setor de extração de petróleo
na Bacia de Campos. Esta contrapõe no início da última década a tendência declinante da indústria
de transformação do Estado, que ao longo de 30 anos consecutivos perdeu 10% de participação
no produto nacional manufatureiro. No período 1960/80, a indústria fluminense perdeu
participação em todos os gêneros da indústria nacional, com exceção de material de transportes
(TAB. 4). No período subseqüente, 1980/99, vai se repetir o mesmo para o conjunto dos setores
relevantes da indústria de transformação, enquanto a extrativa mineral apresenta significativo
ganho de participação graças à extração de petróleo. Especificamente, as evidências indicam que
possivelmente foi a indústria estadual mais atingida pela abertura e liberalização dos mercados na
década passada. Com exceção do setor petroquímico básico, a estrutura industrial fluminense é
excessivamente especializada em setores tradicionais, defasados tecnologicamente. Como mostra
a TAB. 11, ocorreram importantes perdas nos setores alimentícios, têxtil e vestuário que, até os
anos 70, eram relevantes no produto manufatureiro estadual. Ao mesmo tempo, os setores da
metal-mecânica reduziram ainda mais sua participação relativa, de tal forma que se acentuou a
excessiva especialização da indústria fluminense no complexo petroquímico básico. Não obstante,
este complexo não progrediu em sua verticalização nas etapas de produtos orgânicos finais, como
produtos farmacêuticos, perfumaria e plásticos. Os dados de 1999 podem, no entanto, ser um
prenúncio de uma virada rumo à recuperação, já que, em relação ao início da década, o Estado
volta a ocupar o segundo lugar na indústria de transformação nacional. Isto porque o setor
siderúrgico volta a crescer sua participação relativa nacional e, num menor ritmo, o setor de material
de transportes, favorecidos pelas novas plantas da Volkswagen e Peugeot.
O processo de reversão da polarização industrial explica, por sua vez, a perda relativa de
participação da indústria paulista na indústria nacional. Entretanto, após 30 anos de
desconcentração industrial, São Paulo ainda detém quase a metade do produto manufatureiro do
país. A desagregação setorial das perdas indica que os setores que mais migraram foram os menos
sofisticados tecnologicamente, especialmente têxtil, vestuário/calçados e madeira/mobiliário, ou
mais poluentes, como cimento e outros segmentos de minerais não-metálicos, que experimentaram
um efetivo processo de relocalização. As perdas na metal-mecânica são parciais, haja visto que a
relativa dispersão dos investimentos foi muito mais um fenômeno de surgimento de novas
localidades complementares do que de relocalização substitutiva. Ou seja, os novos sítios surgiram
em áreas localizadas em estados da federação contíguos à metrópole paulista, especialmente Minas
e Paraná, possibilitando uma ampliação da complementaridade produtiva inter-regional sob a
hegemonia da metal-mecânica primaz, que vem estabelecendo uma estrutura produtiva integrada
inter-regionalmente. No caso do complexo químico, o fenômeno da relativa desconcentração foi
resultado da ação direta do Estado Nacional, que redirecionou parte dos novos investimentos
petroquímicos do II PND para o Rio Grande do Sul e Bahia. Em suma, afora o fenômeno de saída
de indústrias chamadas “leves” em busca de menores custos de fatores produtivos tradicionais,
como força de trabalho e custo de vida urbano, o processo de desconcentração industrial restringiu-
se ao polígono territorial descrito por Diniz (1993), significando em sua essência um fenômeno de
ampliação territorial da metal-mecânica sob o comando da matriz produtiva da indústria paulista.
Este processo só foi possível devido à drástica redução do custo de transportabilidade do fluxo
de informações propiciado pela revolução nas telecomunicações e informática.
17
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
18. Ao lado de Minas, o Paraná foi o Estado que mais se beneficiou desta ampliação territorial da
BDMG
40 anos
metal-mecânica paulista, que explica parte de seu significativo aumento no produto manufatureiro
nacional em sua industrialização tardia. Vale dizer, ela se tornou efetivamente vigorosa ao longo dos
últimos 20 anos, quando apresenta ganhos líquidos de participação de forma generalizada para quase
todos os gêneros industriais (TAB. 4). Isto porque além das vantagens de proximidade à Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), a base agropecuária do Estado foi decisiva para a industrialização
paranaense. As vantagens comparativas do agronegócio propiciaram não apenas a forte expansão
dos elos industriais à jusante, comandados pelo complexo exportador soja-aves, mas também a
expansão à montante, especialmente de bens de capital especializados, caminhões e máquinas
agrícolas, cujos efeitos de encadeamentos para trás possibilitaram certo desenvolvimento da indústria
metalúrgica, enquanto seus efeitos de encadeamento para frente resultaram também em ganhos
notáveis de participação nacional no segmento de material elétrico, eletrônico e de comunicações.
Mais recentemente, o complexo metal-mecânico do Estado tem experimentado a continuidade do
processo de diversificação em direção ao setor automobilístico, o que pode torná-lo mais competitivo
frente seu concorrente mais direto, a indústria mineira.
O caso da trajetória industrial do Rio Grande do Sul nestas quatro décadas é bem peculiar
(TAB. 1), pois perde posição relativa no período 1960/70, mas que é revertida a partir daí.
Possivelmente isto se deveu ao seu relativo isolamento do eixo Rio-São Paulo, que historicamente
contribuiu para o desenvolvimento industrial gaúcho de forma relativamente autônoma da região
central. Durante a década dos 60 sua perda de participação relativa concentra-se em setores
tradicionais, como mobiliário, vestuário/calçados, bebidas e fumo, e na metal-mecânica, material
de transporte e mecânica (TAB. 4). A indústria de transformação estadual inicia um processo
mais vigoroso de recuperação a partir da década dos 70, culminando com os vultuosos investimentos
do II PND na instalação do pólo petroquímico na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA).
Certamente esta se constituiu numa iniciativa estatal importante para a diversificação industrial
do Estado, num momento que as indústrias mais tradicionais (alimentos, calçados, vinicultura e
vestuário) experimentaram uma perda de participação relativa no produto estadual, típico do
fenômeno de relocalização em busca de redução de custos, particularmente da força de trabalho
e benefícios fiscais. No entanto, o aspecto mais notável e promissor da indústria de transformação
gaúcha é a continuidade dos avanços da indústria mecânica e de material de transportes, que
durante estas quatro décadas tiveram ganhos líquidos significativos de suas participações nacionais
de 8,6% e 4,7%, respectivamente, o que contribuiu para o maior adensamento do complexo metal-
mecânico estadual. A recente instalação da planta automotiva da GM em Gravataí contribui,
certamente, para reforçar esta trajetória ascendente deste complexo, haja vista as dificuldades de
recuperação da posição relativa do Estado nas indústrias tradicionais, nas quais o Centro-Oeste e
o Nordeste vêm adquirindo, crescentemente, vantagens comparativas.
18 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
19. TABELA 1
PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) DE MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES NA INDÚSTRIA NACIONAL SEGUNDO O VTI
1960 1970 1980 1992 1999
Transform. Extrativa Total Transform. Extrativa Total Transform. Extrativa Total Transform. Extrativa Total Transform. Extrativa Total
Minas Gerais 5,78 18,26 6,06 6,45 27,44 7,05 7,74 29 8,21 8,56 12,22 8,73 8,84 21,82 9,58
São Paulo 55,55 8,61 54,51 58,11 6,31 56,64 53,41 6,96 52,38 53,42 0,64 50,95 48,74 2,83 46,16
Rio de Janeiro 17,58 5,32 17,30 15,46 3,25 15,11 10,6 2,31 10,41 7,96 41,58 9,53 9,18 31,54 10,44
Paraná 3,20 1,12 3,15 3,06 1,41 3,01 4,38 1,5 4,31 4,82 0,31 4,61 5,92 0,71 5,63
Rio G. do Sul 6,97 4,65 6,92 6,33 2,40 6,22 7,36 2,01 7,24 8,79 1,23 8,44 7,90 0,94 7,51
Demais Estados 10,92 62,04 12,06 10,59 59,19 11,97 16,51 58,23 17,43 16,45 44,02 17,74 19,40 42,16 20,69
BRASIL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
FONTE: FIBGE: Censos Industriais 1960, 1970, 1980. Pesquisas Industriais Anuais 1992, 1999. Elaboração Própria.
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
19
40 anos
BDMG
20. BDMG
40 anos
20
Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
TABELA 2
EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA INDUSTRIAL DE MINAS GERAIS 1960 / 1999
1960 1970 1980 1992 1999
Valor Bruto Valor da Valor Bruto Valor da Valor Bruto Valor da Valor Bruto Valor da Valor Bruto Valor da
da Transf. da Transf. da Transf. da Transf. da Transf.
Gêneros da Indústria Produção Industrial Produção Industrial Produção Industrial Produção Industrial Produção Industrial
00 Extração de Minerais 3,40 6,70 6,08 11,08 4,31 7,81 5,94 6,54 8,60 12,84
10 Transf Prod Min Não-Metálicos 7,15 9,29 6,55 9,60 7,83 10,99 6,33 8,44 4,60 5,72
11 Metalúrgica 23,72 27,65 34,84 29,86 32,13 25,67 28,72 28,95 22,04 22,64
12 Mecânica 0,64 0,84 3,27 5,30 5,62 8,66 1,81 2,13 2,18 2,54
13 Mat Elét. Comunic. 0,86 1,05 1,11 1,16 1,91 2,52 2,06 2,52 3,72 3,73
14 Material de Transporte 1,02 1,26 0,94 1,40 5,49 6,22 10,93 7,47 15,04 9,51
15 Madeira 2,71 3,34 0,88 1,13 0,62 0,75 0,12 0,15 0,37 0,40
16 Mobiliario 1,28 1,49 1,37 1,59 0,95 1,09 0,46 0,50 1,80 1,61
17 Papel e Papelão 1,29 1,29 0,90 0,91 1,46 2,24 1,72 2,06 0,57 0,62
18 Borracha 0,37 0,56 0,31 0,31 0,33 0,40 0,41 0,42 0,38 0,45
19 Couros, Peles Prod. Similares 1,45 1,67 0,60 0,59 0,34 0,34 0,31 0,24 0,39 0,25
20 Quimica 1,45 1,53 5,94 4,72 11,46 8,30 13,44 12,97 9,55 10,40
21 Prod. Farmacêuticos Veterinários 0,31 0,42 0,19 0,30 0,19 0,30 0,41 0,58 0,43 0,59
22 Perfumaria, Sabões e Velas 0,48 0,30 0,16 0,16 0,11 0,11 0,21 0,27 1,48 1,54
23 Produtos de Materias Plásticas 0,01 0,01 0,12 0,13 0,41 0,49 1,15 1,42 1,18 1,05
24 Textil 14,23 14,81 7,28 8,39 5,69 6,28 4,47 4,70 4,34 4,57
25 Vest., Calçados, Artef Tec. 1,95 2,06 1,29 1,18 2,04 2,66 1,47 1,38 1,36 1,49
26 Produtos Alimentares 33,49 20,21 24,47 16,39 15,93 10,59 14,79 11,47 16,94 12,82
27 Bebidas 1,36 1,75 0,85 1,20 0,84 0,95 1,72 2,19 1,20 1,56
28 Fumo 1,00 1,32 0,89 1,54 0,97 1,47 2,98 4,82 1,03 1,31
29 Editorial e Grafica 1,45 1,97 1,28 1,98 0,80 1,36 0,29 0,45 1,04 1,57
30 Diversas 0,39 0,51 0,69 1,09 0,58 0,79 0,23 0,35 1,77 2,78
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
FONTE: FIBGE Censos Industriais 1960, 1970, 1980. Pesquisas Industriais Anuais 1992, 1999. Elaboração Própria.
21. TABELA 3
BDMG
40 anos
PARTICIPAÇÃO RELATIVA (%) DE MINAS GERAIS NA INDÚSTRIA NACIONAL SEGUNDO O VTI
Gêneros da Indústria 1960 1970 1980 1992 1999
Extração de Minerais 18,26 27,44 28,99 12,22 21,82
Transf. Prod. Min. Não-Metálicos 8,78 11,84 15,58 17,47 15,24
Metalúrgica 14,56 18,74 18,39 23,88 22,42
Mecânica 1,51 5,45 7,04 2,66 5,12
Material Elétrico/Comunicação 1,63 1,56 3,27 2,87 4,72
Material de Transporte 1,03 1,28 6,78 6,28 12,14
Madeira 6,40 3,24 2,30 1,62 2,70
Mobiliario 4,21 5,50 5,05 6,73 7,68
Papel e Papelão 2,71 2,58 6,11 5,62 1,48
Borracha 1,19 1,14 2,63 2,50 3,39
Couros, Peles e Prod. Similares 9,48 6,62 5,97 5,97 6,04
Química 1,10 3,42 4,66 7,84 6,65
Prod. Farmacêuticos/Veterinários 1,04 0,65 1,50 2,22 1,56
Perfumaria, Sabões e Velas 1,32 0,76 1,01 1,56 8,42
Produtos de Matérias Plásticas 0,07 0,51 1,65 6,11 3,75
Têxtil 7,66 6,52 8,10 9,55 13,57
Vestuário, Calçados e Artef. Tecidos 3,58 2,56 4,52 4,52 5,47
Produtos Alimentares 7,62 8,82 8,69 7,84 8,60
Bebidas 3,75 3,76 6,50 10,18 5,04
Fumo 6,26 8,53 17,74 35,49 12,31
Editorial e Gráfica 4,07 3,90 4,33 1,93 3,59
Diversas 1,81 3,73 2,93 1,51 ...
Total Ind. Transformação 5,89 7,21 8,43 8,99 9,64
FONTE: FIBGE Censos Industriais 1960, 1970, 1980 e Pesquisas Industriais Anuais 1992, 1999.
Elaboração Própria.
21
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
23. 1.3. Diferenças inter-regionais de desempenho
BDMG
40 anos
industrial
Existem importantes diferenças inter-regionais de desempenho industrial. O crescimento
do produto industrial favorece em todo período o processo de desconcentração industrial do eixo
São Paulo-Rio em direção aos dois estados sulinos e Minas Gerais e, em menor ritmo, os demais
estados da federação (TAB. 5). Observa-se que para o último período, 1985-1999, esta tendência
de mantém, muito embora na década de 90 ocorra uma redução generalizada do ritmo de
crescimento, que também reduz o próprio diferencial das taxas de crescimento inter-estadual.
A decomposição setorial do crescimento mostra que o carro-chefe da desconcentração são os
setores da metal-mecânica e química para os três estados da “periferia próxima”, em que pese
importantes diferenças de crescimento intersetorial entre os estados industriais emergentes.
No caso de Minas a indústria de material de transportes lidera o crescimento, seguido por
extração mineral, metalurgia e produtos alimentares, enquanto a mecânica perde o dinamismo dos
anos 70. Para o Paraná, lideram as indústrias de material elétrico, eletrônico e de comunicações,
material de transporte, mecânica e produtos alimentares. E no Rio Grande do Sul, lideram as
indústrias química, material de transporte e mecânica, ao mesmo tempo em que apresentam taxas
negativas de crescimento expressivas para a indústria de couros e calçados nos últimos 15 anos.
O crescimento diferenciado dos estados da “periferia mais distante” é liderado pelos setores
da chamada indústria leve, têxtil, vestuário e calçados e alimentos, que inclusive começam ao
longo do tempo a perder participação relativa dos três estados maiores beneficiários da
desconcentração. Deve ser salientado também o bom desempenho nos outros estados da federação
das indústrias química, material elétrico, eletrônico e de comunicações e metalúrgica puxados,
respectivamente, pelos estados do Bahia, Amazonas, Pará e Maranhão.
É também digna de nota a parcial recuperação do Rio de Janeiro no período 1985-1999,
que vai apresentar não apenas excepcional desempenho da indústria extrativo, puxado pelo setor
petrolífero, mas taxas positivas de crescimento acima da média nacional da indústria de
transformação, puxado pelos setores à jusante do complexo químico, ou seja, farmacêutico e
veterinário, perfumaria e plásticos. Outra revelação também importante é que São Paulo parece
ser a indústria estadual a mais sofrer com as profundas mudanças macroeconômicas a partir de
1985 e, posteriormente, com o processo de abertura da economia brasileira nos anos 90. A principal
razão desta maior vulnerabilidade aparente é o fato da estrutura industrial paulista ser mais completa
e, portanto, relativamente mais exposta às vicissitudes dos choques macroeconômicos e das
importações, pelo menos no curto e médio prazos. Porém, como as demais economias estaduais
são fortemente dependentes do desempenho da indústria paulista, via efeitos de encadeamentos
inter-regionais, é de se esperar que no longo prazo se tornem as mais prejudicadas pelas instabilidades
macroeconômicas e choques externos.
No entanto, o crescimento diferenciado da produtividade agregada do trabalho não
acompanha, em seus grandes contornos, aquele apresentado pelo VTI entre os principais estados
analisados (TAB. 6). Minas Gerais apresenta crescimento na produtividade superior ao de São
Paulo e Rio de Janeiro na década dos 70, perdendo fôlego relativo a partir dos anos 80. Apesar
disso, mantém taxas positivas de crescimento, com exceção dos primeiros anos da década dos 80,
quando se combinam os efeitos adversos da forte contração do produto industrial brasileiro e o
nível relativamente alto já atingido pelo esforço da década anterior. No último período, 1985-99,
o Estado volta a experimentar taxas de crescimento positivas da produtividade do trabalho mas
23
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
24. em um ritmo bem inferior ao de São Paulo e da média brasileira para a indústria de transformação,
BDMG
40 anos
com exceção indústrias de material de transportes, minerais não-metálicos e extrativa mineral,
que continuam a crescer acima da média nacional. O diferencial de crescimento médio entre as
indústrias paulista e mineira é de 1,55% ao ano durante 15 anos, ou seja, a produtividade da
indústria paulista neste período cresce 58% acima da mineira, o que resulta na perda de todo
esforço de apanhamento de produtividade industrial realizado nos 15 anos anteriores, período
1970-1985.
Desta forma, a evolução do nível e hiato de produtividade do trabalho na indústria de
transformação resulta na manutenção do hiato dos anos 70, ficando claro que as posição relativa
de São Paulo se mantêm, principalmente em relação a Minas Gerais e Paraná, ao passo que Rio
Grande do Sul apresenta alguma melhoria ao longo deste 30 anos. O hiato de produtividade na
indústria de transformação é eliminado apenas no caso do Rio de Janeiro, que recupera no último
período as perdas obtidas ao longo da década de 70 e primeira metade da década de 80 (GRAF. 1
e TAB. 7). As únicas indústrias que Minas suplanta São Paulo são as que o Estado já possuía
vantagens comparativas nos anos 70, vale dizer extrativa mineral, metalurgia e minerais não-
metálicos. O único apanhamento (catching up) significativo nestes 30 anos foi na indústria de material
de transporte, em que a indústria mineira passa a ter uma produtividade do trabalho de 21% acima
da paulista. No caso do Rio, chama atenção a perda de eficiência relativa das indústrias fluminense
a jusante do complexo petroquímico, farmacêutica e plásticos, que passam de níveis de
produtividade superiores a São Paulo em 1970 (40% e 20%) para um hiato significativo (14% e
49%) em 1999, enquanto que a indústria química de base sustenta neste período um crescimento
da produtividade acima da média nacional e de São Paulo. A maioria das indústrias fluminenses
do complexo metal-mecânico também apresenta um expressivo desempenho de crescimento da
produtividade do trabalho nos últimos 15 anos. Este desempenho na química e nas indústrias de
metal-mecânico da indústria de transformação fluminense possibilita, desta forma, a eliminação
do seu hiato de produtividade em relação à indústria paulista.
24 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
26. TABELA 6
BDMG
40 anos
TAXA DE CRESCIMENTO MÉDIO ANUAL (%) DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO* NA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO - MINAS GERAIS E UNIDADES FEDERATIVAS CONCORRENTES
1970-1980 1980-1985 1985-1999
Minas Gerais 4,55 -3,34 2,69
São Paulo 3,58 -4,37 4,24
Rio de Janeiro 3,35 -5,81 5,58
Paraná 6,28 -0,95 1,83
Rio G. do Sul 4,04 -3,69 5,22
Demais Estados 6,27 -1,94 1,92
BRASIL 3,81 -3,83 3,47
FONTE: FIBGE: Censos Industriais 1970, 1980 e Pesquisas Industriais Anuais 1996,1999. Elaboração Própria.
* Produtividade do Trabalho = VTI / Pessoal Ocupado
GRÁFICO 1
FONTE: FIBGE: Censos Industriais 1970, 1980 e Pesquisas Industriais Anuais 1996 e 1999. Elaboração Própria.
* Produtividade do Trabalho = VTI / Pessoal Ocupado
26 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
27. TABELA 7
BDMG
40 anos
HIATO DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO* DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO DE
MINAS GERAIS E PRINCIPAIS CONCORRENTES EM RELAÇÃO A SÃO PAULO - 1970-1980
ANOS
GÊNERO
1970 1980 1985 1999
MG 0,77 0,89 0,89 0,72
RJ 0,97 0,95 0,88 1,05
PR 0,61 0,79 0,94 0,68
RS 0,65 0,67 0,70 0,80
Outros 0,49 0,64 0,72 0,53
BRASIL 0,84 0,86 0,89 0,80
FONTE: FIBGE: Censos Industriais 1970, 1980, 1985 e Pesquisa Industrial Anual, 1999. Elaboração Própria.
* Hiato de Produtividade = Produtividade da UF / Produtividade de São Paulo
27
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
28. 1.4. Integração e complementaridade
BDMG
40 anos
intersetorial e inter-regional
1.4.1. Integração produtiva do complexo metal-mecânico
Tendo como referência as diferenças inter-regionais da estrutura produtiva e
desempenho industrial das economias estaduais analisadas nas seções 1.2 e 1.3,
respectivamente, será desenvolvida a seguir uma análise da integração e complementaridade
intersetorial e inter-regional da indústria mineira. Em função da inexistência de uma matriz
completa de insumo-produto inter-regional no Brasil, será utilizada a matriz brasileira de
1996 elaborada por Silva (2001), que decompõe as transações nacionais em três “regiões”,
Minas Gerais, São Paulo e Resto do Brasil. Optou-se por utilizar a decomposição de Silva
(2001) a despeito das vantagens metodológicas da Matriz Inter-Regional de Insumo-Produto
Minas Gerais/Resto do Brasil, 1996 desenvolvida pelo BDMG (2001)2. Esta, entretanto,
restringe a decomposição regional para Minas Gerais e Resto do Brasil, comprometendo
uma análise da integração industrial entre São Paulo e Minas. Para efeito de facilidade de
exposição, será empregado livremente o termo “complexo industrial” para analisar um
conjunto específico de setores que, por suas características tecnológicas, possuem uma
forte intensidade de trocas inter-setoriais relativamente aos demais setores da matriz
industrial. Neste sentido, toma-se emprestado a identificação setorial dos complexos
tradicionalmente aceita na literatura brasileira, tendo como referência os trabalhos de
Haguenauer (1984) e Prochnik (1987).
Será priorizada nesta análise a integração intersetorial e inter-regional da indústria
de transformação dos setores do complexo metal-mecânico, considerando que aí se
encontram os fluxos setoriais mais intensos dentro da indústria mineira e de sua integração
com a indústria paulista. Além disso, o complexo metal-mecânico pode ser considerado
como o núcleo estruturante da indústria de transformação, por ser o maior difusor
intersetorial de tecnologia e mediador das trocas intermediárias de todo o sistema de
indústrias. A classificação setorial da matriz desagrega os 4 gêneros da metal-mecânica em
8 setores industriais. No entanto, na análise dos índices de encadeamento e multiplicadores
de produto e emprego incorporou-se o conjunto da indústria de transformação.
As TAB. 8, 9 e 10 apresentam as matrizes de coeficientes técnicos ajustadas de Minas
Gerais, São Paulo e Resto do Brasil. Foi realizada uma normalização dos elementos dos
coeficientes de insumos para metal-mecânica, de tal forma que o somatório das contribuições
da oferta de insumos das 3 “regiões” para cada setor nacional da indústria pertencente ao
complexo é igual a 1. O principal resultado, no que concerne ao fluxo de transações do
complexo metal-mecânico em nível inter-regional, confirma análise anterior referente às
transações agregadas interestaduais por vias internas. A intensidade da integração produtiva
entre a metal-mecânica paulista e mineira é bem superior à observada entre São Paulo e o
Resto do Brasil. A compreensão da intensidade da integração envolve as duas direções do
fluxo das trocas inter-regionais de insumos intermediários, excluindo as trocas relativas à
A principal vantagem da metodologia do estudo do BDMG (2001) é a realização de um ajuste para os dados de fluxos regionais
2
estimados inicialmente pelo método dos quocientes locacionais, através de um procedimento ad hoc que incorpora as informações
sobre o comércio interestadual de Minas Gerais do CONFAZ (1999).
28 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
29. demanda final. Ou seja, referem-se às compras e vendas inter-regionais de insumos para
BDMG
40 anos
atender às demandas intermediárias dos setores de cada região necessárias para entregar
seus produtos à demanda final nacional.
Neste sentido, os setores da metal-mecânica paulista compram dos setores da metal-
mecânica mineira e vice-versa, de tal for ma a se confor mar uma ve rdadeira
complementaridade produtiva interestadual neste “núcleo duro” da indústria de
transformação. Surpreendentemente, esta relação não se verifica entre São Paulo e o Resto
do Brasil, considerando que esta última “região” inclui os estados do Rio de Janeiro, Paraná
e Rio Grande do Sul. A metal-mecânica do Resto do Brasil compra intensamente insumos
da metal-mecânica paulista mas a recíproca não se verifica. Existe uma relação unilateral
de trocas entre estas duas “regiões”, pois as compras de São Paulo em relação ao resto do
Brasil são inexistentes.
Surgem, portanto, três importantes evidências das informações da matriz inter-
regional de 1996 para o complexo metal-mecânico. A primeira refere-se à progressão
qualitativa das relações de troca intersetoriais entre São Paulo e Minas no sentido da
complementaridade e integração produtiva do “núcleo duro” da indústria de transformação.
Entretanto, a desagregação setorial desta integração mostra que as vendas de insumos de
Minas se restringem aos dois setores metalúrgicos, principalmente a siderurgia básica. Neste
sentido, a qualidade da integração ainda não progrediu para os elos superiores da cadeia de
valores, em particular para os setores que mais avançaram em Minas nos últimos 20 anos,
o automotivo e de autopeças. Inversamente, as vendas de São Paulo para Minas se
concentram nos elos superiores da cadeia, especialmente os setores equipamentos eletrônicos
e de telecomunicações, material elétrico e máquinas e equipamentos.
A segunda refere-se, de forma indireta, à completa desintegração produtiva entre
São Paulo e Rio de Janeiro, confirmando as fragilidades da indústria de transformação
fluminense. A terceira, também indireta, é que os avanços dos complexos metal-mecânico
paranaense e gaúcho nos anos 90 ainda não se refletiram nas relações de trocas bilaterais
com a indústria metal-mecânica paulista, que aparece como vendedora unilateral relevante
em todos os setores superiores do complexo: equipamentos eletrônicos e de
telecomunicações, material elétrico, máquinas e equipamentos, automotivo e autopeças.
Do ponto de vista das transações intersetoriais dentro da metal-mecânica mineira, as
fortalezas e fragilidades são evidentes. As fortalezas são: primeiro, as intensas transações
de compra e venda dos setores localizados na base do complexo – siderurgia, produtos
metalúrgicos e metálicos não-ferrosos – com os setores dos elos superiores do complexo;
segundo, o significativo desenvolvimento da cadeia automotiva, que envolve fortes relações
de compras entre os setores automotivo e de autopeças, compras e vendas inter-firmas
dentro do setor de autopeças e algum nível de compras dos dois setores da cadeia em
relação ao setor de máquinas e equipamentos, mesmo que em níveis inferiores às compras
dos setores congêneres ao setor de máquinas e equipamentos paulista. As fragilidades, por
sua vez, são: primeiro, a pequena participação nas trocas intersetoriais do complexo dos
setores material elétrico e equipamentos eletrônicos e de telecomunicações, com relações
menos intensas do que o obser vado na metal-mecânica paulista, inclusive intra-
setorialmente; segundo, o setor de máquinas e equipamentos participa menos intensamente
nas trocas intra e inter-setoriais do complexo do que o seu congênere paulista, indicando as
dificuldades de desenvolvimento deste setor na indústria mineira além de sua integração
com os setores de base mínero-metalúrgicos.
29
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
30. 1.4.2. Encadeamentos intersetoriais e inter-regionais da indústria de
BDMG
40 anos
transformação
A análise dos encadeamentos leva em conta o conjunto dos setores da economia de
cada região, mesmo que o foco analítico esteja voltado para a indústria de transformação. As
TAB. 11 a 15 apresentam os principais resultados para 26 setores industriais desta indústria,
com a exclusão dos setores borracha e diversos.
A TAB. 11 apresenta os índices puros de ligação inter-regional (IPLI). A vantagem
deste índice em relação ao índice tradicional de Rasmussen-Hirschman é a incorporação do
valor absoluto da produção em seu cálculo, medindo tanto o nível de interação intersetorial
de cada setor, via coeficientes técnicos, como sua influência pelo nível de produção setorial
(Guilhoto et al., 1996). Além da normalização feita por Silva (2001) para a média igual a 1,
todos os índices normalizados foram divididos pelo valor do maior índice dos 26 setores da
indústria de transformação, de tal forma que os valores apresentados na tabela variassem
entre 0 e 1.
Vários aspectos interessantes emergem dos resultados apresentados. O primeiro é que
a siderurgia básica aparece como o único setor da indústria mineira de transformação entre
os 26 setores (de um total de 78) que possuem maior poder de encadeamento inter-setorial e
inter-regional. Isto mostra o pequeno poder de propagação setorial da indústria mineira no
contexto nacional, além de suas ligações mais estreitas com a indústria paulista.
O segundo aspecto é a ampla presença dos setores do agronegócio entre os de maior
poder de encadeamento, 7 em 26, sendo 5 entre os 10 maiores. Este resultado confirma os
diversos estudos na literatura sobre a relevância deste complexo para a economia brasileira.
O desenvolvimento da agroindustrialização, através de cadeias por produto ou grupos de
produtos agrícolas, nos anos 70 e 80, se constituiu na última etapa do processo de modernização
da agricultura brasileira, resultando em um complexo produtivo baseado em fortes ligações
inter-setoriais (Lemos, 1992). Chama a atenção a ausência dos setores da agroindústria mineira
dentre os 7 setores agro-industriais com maior poder de encadeamento na economia brasileira,
na medida em que o Estado possui o maior rebanho bovino do país e é o maior produtor de
leite e café. Em contraste, existe uma grande presença de setores agro-industriais do “Resto
Brasil”, ratificando a relevância das cadeias agro-industriais nos estados da Região Sul e do
Centro-Oeste.
Finalmente, o terceiro aspecto relevante é a dominância dos setores paulistas nos dois
complexos tecnologicamente mais dinâmicos da indústria de transformação, o metal-mecânico
e o químico-farmacêutico, que possuem 14 dos 26 setores de maior poder de encadeamento,
sendo que destes 14 setores 9 são de São Paulo. Este fato se constitui em mais uma forte
evidência do papel estruturante da indústria de transformação paulista na economia brasileira,
mantendo-se como o único centro urbano-industrial polarizador de todo macro espaço do
território nacional.
Os índices puros de ligação intra-regional (TAB. 12) confirmam a interpretação sobre
a indústria mineira realizada nas seções anteriores. Em primeiro lugar, os elevados níveis de
encadeamentos inter-setoriais dos setores automotivo e autopeças indicam a consolidação
destes novos setores no complexo metal-mecânico mineiro ao longo dos últimos vinte anos.
Da mesma forma, a fragilidade dos setores material elétrico e equipamentos eletrônicos e de
telecomunicações no complexo estadual fica evidenciada, ocupando o setor de máquinas e
equipamentos uma posição intermediária se comparado ao seu congênere paulista.
30 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
31. Em segundo lugar, a despeito do pequeno poder de encadeamento inter-regional do
BDMG
40 anos
complexo agro-industrial mineiro, seu efeito irradiador na economia mineira é bem significativo,
particularmente em função de seus efeitos de encadeamento para trás na agropecuária. No
entanto, os setores ligados aos dois produtos agrícolas mais importantes do Estado, leite e café,
possuem um baixo poder de encadeamento, reforçando as preocupações anteriores.
Em terceiro lugar, chama a atenção alguns aspectos dos setores dos demais complexos
mineiros. O resultado mais surpreendente do poder de encadeamento da indústria mineira
encontra-se nos setores do complexo químico, que não se constitui na área de especialização
industrial do Estado. Em que pese esta observação, 3 dos 5 setores deste complexo apresentam
um nível de encadeamento semelhante ao de seu congênere do complexo paulista, especialmente
os setores de elementos químicos (inorgânicos) e químicos diversos (orgânicos). Como
apresentado nas seções 2 e 3, de fato a indústria química mineira cresceu a taxas significativas
nos anos 80 e 90, o que explica o aumento de sua participação em torno de 7% na indústria
química nacional na última década. Este fato merece um estudo mais cuidadoso, mas existem
fortes evidências de que os investimentos do II PND realizados no segmento de insumos
químicos ligados a agropecuária (fertilizantes e defensivos) tiveram impactos relevantes na
economia estadual. Mais recentemente têm também ocorrido uma rápida expansão da indústria
plástica em virtude do maior adensamento da cadeia automotiva. Outro aspecto interessante,
mesmo que não surpreendente, é a importância dos efeitos de encadeamentos para frente do
setor de minerais não-metálicos na cadeia estadual da construção civil, o que reforça o
entendimento da necessidade de manter a boa posição de Minas neste setor em nível nacional.
Por fim, fica claro, pelos dados, a desagregação dos setores do complexo têxtil no Estado, que
apresentam de forma generalizada um baixo poder de encadeamento na economia estadual.
O último aspecto da análise integrada, inter-regional e intersetorial, refere-se aos
multiplicadores de produção e emprego que, em grandes linhas confirmam o diagnóstico
precedente. As TAB. 13 e 14 apresentam os multiplicadores de produção dos setores da indústria
de transformação mineira e paulista, respectivamente. O multiplicador inter-regional de produção
mede os efeitos diretos e indiretos da variação de 1 unidade monetária de demanda final de um
setor i de uma região j sobre a produção (em unidades monetárias) de cada uma das n regiões da
matriz inter-regional.
Os efeitos dos multiplicadores em nível inter-regional evidenciam, por um lado, a existência
de um elevado nível de integração produtiva entre os setores dos complexos metal-mecânico paulista
e mineiro, pois as variações setoriais de um Estado geram um significativo efeito multiplicador sobre
ambas economias estaduais. Os maiores efeitos do aumento de demanda dos setores mineiros sobre
a economia paulista são daqueles setores localizados nos elos superiores do complexo, de maior
agregação de valor: material elétrico, equipamentos eletrônicos, automotivo e autopeças. Os efeitos
inversos, ou seja, da demanda dos setores paulistas sobre a economia mineira ocorre principalmente
nos setores de base do complexo, a siderurgia básica e produtos metalúrgicos. E num grau menor
ocorre nos setores automotivo e autopeças, que indica um relativo grau de complementaridade na
cadeia de suprimentos interestaduais entre montadoras e fornecedores.
Por outro lado, as evidências baseadas nos efeitos dos multiplicadores de produção indicam
uma maior integração produtiva entre São Paulo e o “Resto do Brasil” para os setores dos
demais complexos da indústria de transformação, muito embora a agregação de todos os demais
estados da federação em uma única região pode superestimar os efetivos níveis de integração
interestaduais. Os casos mais contundentes desta integração são os setores dos complexos
químico-farmacêutico e agroindustrial, nos quais os aumentos das demandas setoriais de São
Paulo geram impactos significativos sobre as economias do restante do país. Deve-se mencionar
31
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
32. que, neste caso, as trocas intra-setoriais do complexo químico paulista com os pólos
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petroquímicos do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador, como também as compras das
indústrias alimentícias e fumageira paulistas dos setores de processamento primário dos
complexos agro-industriais do Centro-Oeste e Paraná. Por sua vez, os únicos setores industriais
paulistas destes complexos geradores de impactos substanciais sobre a economia mineira são os
setores de moagem e torrefação de café e de laticínios, que possuem fortes ligações para trás
com a cafeicultura e pecuária leiteira do Triângulo Mineiro e Sul de Minas.
Finalmente, as TAB. 15 e 16 mostram os efeitos multiplicadores sobre a geração de
empregos, em números absolutos, nas economias regionais a partir da variação de demanda de
um setor i da região j no valor de 1 milhão de reais. Em função do nível de integração produtiva
nacional da indústria de transformação de São Paulo, os efeitos multiplicadores de emprego dos
setores industriais paulista são significativos e bem superiores aos dos setores mineiros, que
possuem um limitado nível de integração com outros estados da federação além de São Paulo.
Neste sentido, os efeitos multiplicadores da indústria mineira possuem poucos vazamentos
para fora da economia estadual, ficando autocontidos em nível intra-regional, enquanto os
multiplicadores de emprego dos setores da indústria paulista possuem fortes vazamentos inter-
regionais. Além destas diferenças inter-regionais, um aspecto comum que chama atenção, tanto
na indústria paulista como mineira, são as fortes diferenças intersetoriais na geração de empregos,
sendo que os setores dos complexos mais intensivos em trabalho, como o agroindustrial e têxtil,
apresentam multiplicadores superiores aos dos setores dos complexos mais dinâmicos, porém
intensivos em capital, especialmente o metal-mecânico e o químico-farmacêutico.
32 Minas Gerais do Século XXI - Volume VI - Integrando a Indústria para o Futuro
33. TABELA 8
MATRIZ DE COEFICIENTES TÉCNICOS AJUSTADA DO ESTADO DE SÃO PAULO - SETORES SELECIONADOS, 1996
SÃO PAULO
1 2 3 4 5 6 7 8
SIDERURGIA METALURGIA OUTROS MÁQUINAS E MATERIAL EQUIPAMENTOS AUTOM.,ÔNIBUS PEÇAS/OUTROS
NÃO FERROSOS METALÚRGICOS TRATORES ELÉTRICO ELETRÔNICOS E CAMINHÕES VEÍCULOS
SÃO PAULO
1 SIDERURGIA 0,2472 0,0070 0,3120 0,1289 0,0564 0,0379 0,0784 0,0596
2 PROD. METALÚRGICOS NÃO FERROSOS 0,0172 0,8101 0,1051 0,0741 0,2655 0,1009 0,0167 0,0764
3 OUT. PROD. METALÚRGICOS 0,0492 0,0631 0,2140 0,3955 0,1651 0,1992 0,0942 0,2744
4 MÁQUINAS E TRATORES 0,0740 0,0858 0,0752 0,1084 0,1762 0,1255 0,0864 0,1204
5 MATERIAL ELÉTRICO 0,0073 0,0090 0,0089 0,0995 0,2707 0,2615 0,0118 0,0203
6 EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS 0,0027 0,0021 0,0017 0,0162 0,0153 0,2467 0,0018 0,0044
7 AUTOM.,CAMINHÕES E ÔNIBUS 0,0017 0,0030 0,0033 0,0084 0,0031 0,0035 0,0449 0,0179
8 OUTROS VEÍCULOS E PEÇAS 0,0018 0,0082 0,0051 0,0734 0,0092 0,0088 0,6298 0,3834
MINAS GERAIS
1 SIDERURGIA 0,5981 0,0112 0,2736 0,0952 0,0382 0,0157 0,0357 0,0429
2 PROD. METALÚRGICOS NÃO FERROSOS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
3 OUT. PROD. METALÚRGICOS 0,0004 0,0000 0,0009 0,0004 0,0002 0,0001 0,0002 0,0002
4 MÁQUINAS E TRATORES 0,0000 0,0000 0,0001 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
5 MATERIAL ELÉTRICO 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
6 EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
7 AUTOM.,CAMINHÕES E ÔNIBUS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
8 OUTROS VEÍCULOS E PEÇAS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
RESTO DO BRASIL
1 SIDERURGIA 0,0002 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
2 PROD. METALÚRGICOS NÃO FERROSOS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
Capítulo 1 - Estrutura e dinâmica
3 OUT. PROD. METALÚRGICOS 0,0001 0,0002 0,0000 0,0000 0,0000 0,0001 0,0000 0,0000
4 MÁQUINAS E TRATORES 0,0001 0,0002 0,0000 0,0000 0,0000 0,0001 0,0000 0,0000
5 MATERIAL ELÉTRICO 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
6 EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
7 AUTOM.,CAMINHÕES E ÔNIBUS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
8 OUTROS VEÍCULOS E PEÇAS 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000 0,0000
TOTAL (Produção Nacional) 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000 1,0000
FONTE: SILVA, 2001. Elaboração Própria.
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