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Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Uma Pedagogia Humanizadora 
A Pedagogia de Paulo Freire 
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
1
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
2
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Sumário 
Apresentação.................................................................................... 5 
Educar para domesticar ou para libertar? ..............................................6 
Dialogando e problematizando ...............................................................7 
Aprendendo com a própria história ........................................................8 
Qualificando nosso trabalho ...................................................................9 
Conhecendo um pouco de Paulo Freire ......................................... 11 
Uma educação subversiva ...................................................................12 
Voltando à sua pátria ............................................................................13 
As origens da opressão no Brasil ...................................................15 
Quem inaugura a violência? .................................................................15 
A urbanização não trouxe democracia .................................................17 
Cinco séculos de opressão e resistência ............................................18 
Outras formas de opressão .................................................................19 
Pedagogia do oprimido ................................................................. 22 
Os opressores também precisam de libertação .................................23 
Conscientização ..................................................................................23 
Alguns aspectos básicos da pedagogia do oprimido ...........................24 
Medo da liberdade ................................................................................27 
O diálogo dissolvendo mitos ................................................................28 
O papel da liderança ............................................................................29 
União, organização e síntese cultural ..................................................33 
Invasão Cultural X Síntese Cultural ......................................................34 
Utopia ...................................................................................................35 
Referências Bibliográficas .........................................................37 
3
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
4
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Apresentação 
Este caderno é dirigido a todos aqueles e aquelas que trabalham 
como educadores populares: animadores de clubes de trocas, 
militantes de movimentos sociais, lideranças comunitárias, 
assistentes sociais, voluntários que atuam junto à população 
oprimida, enfim: todos que lutam pelo fim da pobreza, que sonham 
com uma sociedade justa e verdadeiramente democrática, e 
trabalham para que este sonho se realize, dia após dia. 
Elegemos Paulo Freire como o educador a nos iluminar nesta 
caminhada em torno de um mundo justo, sem miséria e sem distância 
entre pobres e ricos. Para estudar este autor, é preciso abertura 
suficiente para desconstruir pensamentos e práticas que estavam 
até hoje norteando o nosso trabalho de educação popular. Nossa 
vida é um eterno ensinar e aprender e muitas vezes, para isso, 
precisamos às vezes pôr de lado muitas práticas com as quais 
estamos acostumados, para que o novo possa se colocar. Não é 
apenas Paulo Freire que nos leva a descobrir o novo: ele nos ajuda 
a descobrir com o oprimido uma forma diferente de educação. 
Vamos perceber que, desde crianças, fomos educados para 
sermos passivos, adaptados aos ambientes, sem reclamar. Na 
escola, na família, nos locais de trabalho, somos quase sempre 
levados a obedecer ou a ouvir sem questionar. A realidade é narrada 
ou vista como algo parado, compartimentado e bem-comportado. 
Mas Paulo Freire critica esta educação domesticadora, que ele 
chama de “educação bancária” e nos desafia para uma educação 
viva, problematizadora, questionadora da realidade. 
5
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
Educar para domesticar ou para libertar? 
Lembramos aquela professora que falava, falava... das crianças 
em sala de aula: comportadas, dóceis. As mais quietinhas eram as 
“queridinhas da professora”. Não gostávamos de permanecer 
sentados na carteira da sala de aula por tanto tempo e sempre 
achávamos uma desculpa para dar uma “saidinha”: íamos ao 
banheiro, beber água ou inventávamos outras desculpas para esticar 
as pernas, para aliviar o desconforto físico e mental de termos que 
permanecer sentados fazendo e ouvindo coisas aborrecidas, fora 
da nossa realidade, que não nos interessavam. Nossa preocupações 
eram outras: queríamos saber, por exemplo, como nos defendermos 
de criança maiores do que nós. Gostaríamos de saber por quê os 
adultos são tão imprevisíveis e como reagirmos a seus ataques de 
nervos. Havia sempre aquelas crianças rebeldes, que não se 
deixavam dominar tão facilmente. Estas eram castigada por “mau 
comportamento”. 
Tal realidade permanece praticamente a mesma. Se perguntarmos 
a nossos filhos como são as salas de aula, como eles se sentem na 
escola, vamos verificar que praticamente nada se alterou. Que tal 
fazermos a seguinte pergunta a uma criança: “o que você gostaria 
de aprender na escola, que fosse te ajudar a ter uma vida melhor?” 
Quando fizer esta pergunta à criança, deixe claro que esta “vida 
melhor” se relaciona à vida de criança que ela é, e não a um futuro 
adulto que será. 
Certa vez, ao ser feita esta pergunta a uma menina de 12 anos, 
primeiramente, ela disse que precisava aprender a fazer raiz 
quadrada. Quando se questionou se a raiz quadrada iria ajudá-la a 
resolver problemas que ela tem enquanto criança, ela sorriu e pensou 
6
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
um pouco mais. Foi quando, depois de muito pensar, disse que 
gostaria de aprender a fazer trabalho em grupo, porque quando há 
trabalho em grupo na escola, os alunos não se entendem: brigam, 
ninguém quer fazer o trabalho, que acaba sendo realizado por uma 
só criança. Depois de pensar mais um pouco, ela disse com muita 
convicção que gostaria de aprender como deixar de ser tímida. Que 
a timidez atrapalha muito nos relacionamentos entre crianças e 
adultos. 
Dialogando e problematizando 
Esta é uma pesquisa que pode ser facilmente realizada, dentro 
de casa com filhos, netos, sobrinhos. Os resultados não devem ser 
muito diferentes. As respostas mais ou menos autênticas vão 
depender do ambiente amigável que se cria para favorecer o diálogo, 
7
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
resultado de um profundo respeito e amor pela criança. O 
condicionamento pode levar a respostas programadas de acordo 
com conteúdos abstratos, os quais não se sabe a utilidade. Conforme 
vamos explicando que a resposta deve levar em conta necessidades 
e realidade concreta de vida, vamos constatar que os problemas 
apresentados e a ânsia por superá-los vai de encontro aos nossos 
próprios dilemas de crianças que se perpetuam depois da idade 
adulta. 
Por que não se prepara as crianças para o trabalho em equipe? 
Por que não há o incentivo à cooperação, mas sim a competição? 
Os alunos são lançados (quando são) a algum trabalho deste tipo 
sem nenhum preparo prévio e depois de muitas tentativas mal-sucedidas 
de entendimento, alguns passam a optar por fazer 
trabalhos sozinhos, reforçando o individualismo reinante na nossa 
sociedade. Por que não há na escola práticas de oratória, técnicas 
de expressão verbal e gestual, ou mesmo o incentivo ao diálogo, ao 
questionamento, à capacidade de decisão, para que crianças 
percam o medo de se expor e possam exercitar a capacidade crítica, 
o posicionamento? Será que é porque representa perigo formar 
cidadãos capazes de argumentar, de questionar, dialogar e, unidos, 
transformarem a realidade? A educação está a serviço de quem? 
Aprendendo com a própria história 
Estes e tantos outros dilemas foram tratados por Paulo Freire, 
que sempre se dispunha a ouvir, refletir, intervir... Paulo Freire 
aprendeu muito! Ele dialogou com crianças, adultos, professores. 
Dialogou principalmente com o povo oprimido. Descobriu que todos 
8
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
possuem um saber, que deve ser valorizado. O mundo não pode se 
dividir entre “os que sabem” e “os que não sabem”. A pedagogia do 
oprimido busca libertar o ser humano, restituindo-lhe a humanidade 
roubada e tem como horizonte a transformação social. Por isso, a 
educação não é neutra: ou favorece o opressor conservando a 
realidade injusta intocável ou favorece o oprimido, despertando-lhe 
o poder de transformação. 
Desconstruir e, então, construir de novo. É esse tipo de abertura 
que necessitamos para que seja possível libertarmo-nos do 
processo de violência que sofremos em toda a nossa trajetória 
educacional, quando certamente tivemos nossa humanidade roubada 
por meio de processos educacionais postos a serviço do poder. Sem 
nos darmos conta, muitas vezes reproduzimos tal processo, agora 
nas condições de “educadores que sabem” e nos colocamos em 
patamar superior aos educandos “que não sabem”, perpetuando a 
dominação, embora pensemos estar a serviço da liberdade. 
Qualificando nosso trabalho 
Com este caderno, procuramos apresentar, algumas concepções 
de Paulo Freire, principalmente as constantes na obra “Pedagogia 
do Oprimido”. São aspectos que mais dizem respeito ao trabalho 
que realizamos junto à população que Freire chama de “os demitidos 
do mundo”, os “esfarrapados”. Há quem diga que, na Curitiba, onde 
se separa o “lixo que não é lixo”, também há “gente que não é gente” 
numa referência aos catadores de papel que são constantemente 
humilhados, vivem de forma desumanizada e carregam 
manualmente cargas que desafiam a capacidade de resistência 
9
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
humana, como se o motor não tivesse ainda sido inventado. 
Este texto é uma tímida tentativa de associar o pensamento de 
Paulo Freire ao nosso trabalho, visando qualificá-lo. Recomendamos 
com insistência a leitura das obras do grande educador, pois 
nenhuma cartilha pode substituir a riqueza, complexidade e beleza 
contida nos seus escritos originais – conteúdo que foi extraído da 
prática libertadora, a qual ele dedicou a sua vida. 
10
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Conhecendo um pouco Paulo Freire 
11 
Paulo Freire nasceu 
no Recife, Pernambu-co, 
em 1921 e foi alfa-betizado 
pelos próprios 
pais, brincando com 
gravetos no quintal, à 
sombra das manguei-ras. 
Aprendeu o diálogo 
na família. Seu pai era 
espírita e sua mãe cató-lica, 
mas isso não atra-palhava 
o diálogo. "As 
mãos de meus pais, 
não haviam sido feitas 
para machucar seus filhos, mas para ensinar-lhes a fazer coisas", 
diz Paulo Freire. Desenvolve seus estudos com dificuldade e, mais 
tarde, formado em Direito, abandona a profissão de advogado logo 
depois da primeira causa, dedicando-se à educação popular. 
Trabalhando com professores, crianças e pais da base do SESI - 
Serviço Social da Indústria - de 1947 a 1957 - Paulo Freire descobriu 
que o educador popular precisa utilizar a linguagem do povo para 
com ele se comunicar, sempre partindo da realidade das pessoas, 
sem discursos complicados. Neste trabalho, Paulo Freire se defrontou 
com o problema de pais que batiam nos filhos. E foi através do 
diálogo com estes pais, que Paulo Freire compreendeu que era a 
própria situação de miséria por eles vivida, que levava a atitudes 
deste tipo. Assim, problematizando a própria realidade vivida, através
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
do diálogo, Paulo Freire conseguiu trabalhar com eles esta questão. 
O trabalho com as famílias dos trabalhadores e professores do 
SESI se estendeu por 10 anos e foi esta prática, sempre refletida, 
que permitiu a Paulo Freire ir sistematizando e elaborando suas 
idéias. 
Uma educação subversiva 
O final dos anos 50 e início dos 60 foi um período rico na história 
do Brasil. Havia uma efervescência de idéias políticas. E Paulo Freire 
foi se formando neste contexto, participando do Movimento de Cultura 
Popular do Recife, quando foi realizada a experiência de Angicos 
(RN), que alfabetizou 300 trabalhadores em 45 dias. Por conta disso, 
Paulo Freire foi convidado pelo Presidente João Goulart para 
coordenar a Campanha Nacional de Alfabetização. O trabalho se 
implantou em junho de 1963 e durou até março de 1964, quando 
foram realizados cursos de formação de coordenadores na maior 
parte das capitais dos estados. 
Infelizmente, o Golpe militar no Brasil, em l964, interrompeu um 
grandioso projeto de alfabetização libertadora que iria se espalhar 
por todo o País. Paulo Freire foi preso, tido como comunista e, de-pois, 
foi expulso do Brasil. "A Campanha Nacional de Alfabetização 
foi denunciada publicamente como 'perigosamente subversiva'. Em 
tempo de baioneta, a cartilha que se cale. Aqueles foram anos - 
cada vez piores até 1968 - em que por toda parte educadores foram 
presos e trabalhos de educação, condenados." 1 
1 Carlos Rodrigues Brandão. O que é método Paulo Freire. 6. ed. São Paulo : Brasiliense, 
1984. p. 19. 
12
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Em outros lugares, Paulo Freire continuou sua luta junto com o 
povo. Esteve em vários países da América Latina, Estados Unidos, 
Europa e África. O Chile foi o país amigo, que recebeu entre muitos 
outros brasileiros exilados, Paulo Freire e sua família, que lá viveram 
por cinco anos, e onde ele escreveu a Pedagogia do Oprimido. 
Depois de passar por outros países, Paulo Freire se instalou na Suíça, 
onde trabalhou no Conselho Mundial de Igrejas e de onde viajou para 
vários países da África, ajudando os povos que acabavam de se 
libertar do jugo colonial a organizarem seus sistemas de ensino, 
sempre baseado no diálogo e na troca de saberes. 
Voltando à sua pátria 
De volta ao Brasil, anos depois, Paulo Freire continuou seu trabalho 
de lutador, educador popular e escritor. Tudo o que escreveu foi a 
partir daquilo que ele viveu, a partir do que ele aprendeu com o povo, 
com as suas experiências junto com os oprimidos. Impulsionado 
pela crença absoluta no ser humano, na sua capacidade reflexiva e 
decisória, sua vida foi dedicada à construção de uma educação 
libertadora, de base dialógica, que ele entendia ser o principal 
caminho para a transformação social: "A nossa convicção é a de 
que, quanto mais cedo comece o diálogo, mais revolução será." 
Em 1989 assumiu a Secretaria de Educação da cidade de São 
Paulo, a convite da Prefeita Luiz Erundina. "O que eu proponho é 
um trabalho pedagógico que, a partir do conhecimento que o aluno 
traz, que é uma expressão da classe social à qual os educandos 
pertencem, haja uma superação do mesmo, não no sentido de 
anular esse conhecimento ou de sobrepor um conhecimento a 
13
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
outro. O que se propõe é que o conhecimento com o qual se 
trabalha na escola seja relevante e significativo para a formação 
do educando (...) Proponho uma pedagogia crítico-dialógica." 2 
Em 1996, foi publicado seu último livro em vida - "Pedagogia da 
Autonomia: saberes necessários à prática educativa" - uma espécie 
de síntese de todos os valores pedagógicos defendidos por Paulo 
Freire na totalidade de sua obra vivida e escrita. 
Paulo Freire morreu em 1997, devido a problemas de coração. 
Conhecido em todo o mundo, foi considerado o pensador brasileiro 
mais importante do Séc. XX. Mas, como ele mesmo disse: "Eu 
gostaria de ser lembrado como alguém que amou o mundo, as 
pessoas, os bichos, as árvores, a água, a vida". 
2 Paulo Freire. A educação na cidade. 4.ed. São Paulo : Cortez, 2000. p. 190-191. 
14
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
As origens da opressão no Brasil 
O trabalho com os oprimidos requer um mínimo de conhecimento 
histórico sobre a opressão. Darci Ribeiro lembra que todos nós 
temos um pouco de índio, negro e europeu e somos povo marcado 
pela violência extrema, que ainda hoje se perpetua e deixa marcas 
difíceis de reverter. Este autor descreve os castigos, as torturas a 
que eram submetidos os negros e índios no período colonial e lembra 
que somos herdeiros destas práticas, descendentes de vítimas e de 
algozes. “(...)Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina 
de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado 
indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne 
daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, 
por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e 
a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a 
gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, 
que também somos (...)”(O povo brasileiro, p. 120). 
Para Paulo Freire, a opressão desumaniza não só o oprimido 
mas sobretudo o opressor porque não pode haver humanidade na 
prática da violência, do antidiálogo. É por isso que o opressor 
também precisa de libertação e quem pode fazer isso pelos dois, é 
o oprimido, no seu engajamento pelo resgate de sua humanidade. 
Quem inaugura a violência? 
Paulo Freire lembra que a violência sempre foi inaugurada pelo 
opressor. “Como poderiam os oprimidos dar início à violência, se 
15
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
são eles o resultado de uma violência? (...) Inauguram a violência 
os que oprimem, os que exploram, os que não se reconhecem nos 
outros; não os oprimidos, os explorados, os que não são 
reconhecidos pelos que os oprimem como outro. (...) Para os opres-sores, 
porém, na hipocrisia de sua ‘generosidade’, são sempre os 
oprimidos, que eles jamais obviamente chamam de oprimidos, 
mas, conforme se situem, interna ou externamente, de ‘essa gente’ 
ou de ‘essa massa cega e invejosa’, ou de ‘selvagens’, ou de ‘nati-vos’ 
ou de ‘subversivos’, são sempre os oprimidos que desamam. 
São sempre eles os ‘violentos’, os ‘bárbaros’, os ‘malvados’, os 
‘ferozes’, quando reagem à violência dos opressores.3 
Em meio a tanta violência, na história do Brasil nunca houve 
práticas democráticas, nunca se incentivou o diálogo. A organização 
social brasileira, de base escravista, não comportava a democracia. 
Ao contrário: predominavam as relações extremas de poder e 
submissão. Os interesses eram puramente mercantis e as práticas 
econômicas extraiam de forma predatória as riquezas naturais e as 
energias dos seres humanos4 . Os latifúndios abrigavam relações 
ditatoriais de poder. Terras imensas eram separadas umas das 
outras, fazendo com que seus habitantes (plebeus) se sentissem 
pequenos, desprotegidos e buscassem proteção nos senhores de 
terras. Este foi um campo fértil para o florescimento das relações 
de ‘paternalismo’, dependência, ‘protecionismo’, ‘favoritismo’. 
Embora tais relações se revestissem de uma espécie de “suavi- 
3 Paulo Freire. Pedagogia do oprimido. 27. ed. São Paulo : Paz e Terra, 1987. p. 42-43 
(Daqui para frente, sempre que estivermos nos referindo a esta edição do livro Pedagogia 
do Oprimido, colocaremos o número da página entre parêntese logo após o texto, reservan-do 
as notas de rodapé para citações de outros livros ou explicações complementares). 
4 Paulo Freire. Educação como Prática da liberdade. 16. ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 
1983. 
16
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
dade”, representada pelo “condescendente” senhor5 , da mesma 
forma não havia diálogo devido à distância social acentuada e a 
imagem forte daqueles que Paulo Freire chama dos “donos das 
terras e das gentes”. 
A urbanização não trouxe democracia 
Quando D. João chegou ao Brasil, em 1808, a vida urbana se 
impôs intensamente. Os latifúndios com os senhores “todo-poderosos” 
perderam o protagonismo a favor dos “nobres” da corte, 
a burguesia comerciante que se enriquecia a cada dia, os “doutores” 
formados na Europa. A vida urbana passou a ser um grande atrativo, 
com a criação de várias atividades: floresceu o comércio, surgiram 
as bibliotecas, teatros, escolas. Desenvolveu-se uma intensa vida 
cultural e mercantil, com práticas e valores importados e profundo 
desprezo pelo povo nativo, a cultura local. 
Tais transformações não chegaram a tocar nas relações de mando 
e submissão que vigoravam no Brasil. Houve, sim, disputa de poder 
entre senhores de terras e a burguesia opulenta. O povo brasileiro 
continuou passivo, mudo, vencido e oprimido, atrelado às relações 
de subordinação, sem chance alguma de participar de qualquer 
experiência democrática. 
As pessoas simples não participavam nas Câmaras Municipais, 
Senado e outras instituições. O homem comum não votava, não era 
votado e não era chamado a participar das decisões. Somente os 
5 Idem. O “senhor” que não exercia violência física era considerado “bondoso” pelos 
escravos e plebeus. 
17
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
privilegiados podiam governar a comunidade municipal: os 
chamados “nobres de linhagem”, “homens bons” ou comerciantes 
bem sucedidos. 
No final do séc. XIX, depois da abolição da escravatura e com a 
chegada dos imigrantes no Brasil, houve um surto de industrialização. 
Iniciou-se uma nova economia de trabalho livre e o desenvolvimento 
da urbanização. O povo passou a “engatinhar” nas experiências de 
participação. Em 1857 e 1858 aconteceram as primeiras greves – 
gráficos no Rio de Janeiro e escravos-operários numa metalúrgica 
também do Rio de Janeiro. 
No início do século XX os operários das primeiras indústrias 
começaram a se organizar, principalmente por influência dos 
imigrantes anarquistas. Apareceram as primeiras experiências de 
educação popular para os trabalhadores e o Movimento Operário 
com seus sindicatos autônomos. Os anos 1920 foram anos de revoltas 
operárias importantes. Os artistas também utilizaram sua criatividade 
para denunciar as injustiças sociais e, em 1922 ocorreu a Semana 
de Arte Moderna. 
Cinco séculos de opressão e resistência 
Pudemos ver que por praticamente 500 anos, o povo brasileiro 
foi oprimido, ignorado, emudecido, desumanizado. Paulo Freire 
adverte que a consciência popular democrática não floresce 
automaticamente, mas só no momento em que as pessoas vão ao 
debate, ao exercício da crítica, à reflexão sobre sua realidade, sobre 
os problemas comuns. A democracia, para ser autêntica precisa ser 
construída pelas próprias mãos do povo. 
18
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
A prática dialógica exercida nas experiências populares das quais 
nós participamos – por exemplo, os Clubes de Trocas – quando todos 
têm direito a vez e voz, independente de grau de instrução, cargo, 
posição social, profissão – são espaços que Paulo Freire chamaria 
de “revolucionários” porque se está exercitando a democracia, e 
está ocorrendo a libertação. Se o povo aprendeu no decorrer da 
His-tória a renunciar a seu poder de responsabilidade e decisão, 
cabe a nós – lideranças – ajudar a reverter este processo, incen-tivando 
o diálogo e a organização. Podemos nos inspirar em Paulo 
Freire, que acreditou profundamente no ser humano e se dispôs a 
aprender com ele. 
Outras formas de opressão 
Nas sociedades que negam o diálogo, que impõem a violência e 
utilizam o autoritarismo, nascem o “mutismo” e a “passividade”. Tam-bém 
emudecem e ficam passivas as pessoas que recebem “conces-sões”, 
“doações” e “favores” de forma vertical, nas práticas assisten-cialistas. 
Estas são também expressões de violência, apesar de se 
mostrarem como uma violência “branda”. Assistencialismo desuma-niza 
porque a pessoa que recebe doações sem participar do proces-so 
que a ela diz respeito, tem inibida sua capacidade crítica, argu-mentativa, 
decisória, criativa e isso faz com que renuncie à responsa-bilização 
pelo processo. O fazer “para” ao invés de fazer “com” signi-fica 
“domesticar” o ser humano, roubando-lhe sua humanidade.6 
6 Paulo Freire. Educação como Prática da liberdade. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 
1983. p. 57-58. 
19
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
A falsa generosidade, para Paulo Freire, é aquela assisten-cialista, 
própria dos donos do poder. A verdadeira generosidade 
está em lutar para que não haja mais miséria Que as mãos, ao in-vés 
de pedirem esmolas, “vão se fazendo cada vez mais mãos hu-manas, 
que trabalhem e transformem o mundo. Este ensinamento 
e este aprendizado têm de partir, porém, dos ‘condenados da terra’, 
dos oprimidos, dos esfarrapados do mundo e dos que com eles 
realmente se solidarizem. Lutando pela restauração de sua huma-nidade, 
estarão, sejam homens ou povos, tentando a restauração 
da generosidade verdadeira”. (p. 32) 
É comum ouvirmos de pessoas que trabalham com a população 
oprimida queixas como: “eles são acomodados”. Ou: “eles não se 
esforçam, querem tudo de mão beijada”. Tal queixa se tornou um 
ponto comum. Paulo Freire, com a reflexão sobre o assistencia-lismo 
e a falsa generosidade, nos diz que são co-responsáveis pela 
situação de passividade aqueles que não realizam o trabalho de 
forma conjunta com o oprimido, insistindo em “doar” num patamar 
de superioridade. Atualmente há um grande apelo à prática do 
voluntariado. Motiva-se a população a “doar” trabalho, “doar” coisas 
materiais, mas não há o apelo para que os voluntários procurem fe-char 
a “fábrica” que produz pobreza. Junto com as “doações”, até 
mesmo as bem intencionadas, também ocorre o “doar” das decisões, 
das reflexões, dos “saberes” e os oprimidos continuam desumaniza-dos, 
mudos, passivos, humilhados, enquanto mais pobreza é 
produzida e mantida. Ao contrário disso, a melhor ajuda que podemos 
dar aos oprimidos é compartilhar com eles todos os dilemas e dividir 
tarefas, não só aquelas que se referem ao “fazer”, mas também e 
principalmente, as tarefas de pensar, criar, optar, garantindo-lhes a 
oportunidade de conjuntamente tentar, de errar, voltar a tentar, errar, 
tentar novamente... É assim que aprendemos: fazendo. Reduzir 
20
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
pessoas a executoras de tarefas e determinações que foram 
planejadas por outros que não os interessados é oprimir e esvaziar 
a própria prática. (p. 145-148). 
“De tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não 
sabem nada, que não podem saber, que são enfermos, indolentes, 
que não produzem em virtude de tudo isto, terminam por se con-vencer 
de sua ‘incapacidade’. Falam de si como os que não sabem 
e do ‘doutor’ como o que sabe e a quem deve escutar. Os critérios 
de saber que lhe são impostos são os convencionais”. (p. 54). 
21
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
Pedagogia do oprimido 
A pedagogia do oprimido é a pedagogia da libertação. É cons-truída 
com o oprimido, na luta pela reconquista de sua humanidade. 
Não vamos ter a pretensão de construir uma pedagogia para ele. 
Ao prescrever conteúdos ou exigir comportamentos que julguemos 
adequados, estamos também oprimindo. Nas palavras de Paulo 
Freire, “A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e 
libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os 
oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão compro-metendo- 
se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em 
que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de 
ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em 
processo de permanente libertação.” (p. 44) 
Paulo Freire adverte que o oprimido hospeda dentro de si o opres-sor, 
sendo esta, uma manifestação da desumanização. O dominador 
imprime sua forma ao dominado, que a absorve e passa a olhar o 
mundo sob a ótica do opressor, desejando ser como ele. Há o que 
Freire chama de “aderência” que não ocorre de forma casual ou por 
culpa dos próprios oprimidos, mas faz parte de sofisticadas formas 
de dominação, que são expostas com muita clareza no capítulo IV 
da Pedagogia do Oprimido – como a produção e manutenção de 
mitos, a invasão cultural, manipulação, a divisão. 
É preciso que seja expulso o opressor que reside no oprimido, de 
forma que este se descubra como vítima e não tenha mais aderido 
em si o seu algoz; o que ocorre pelo engajamento na luta pela 
libertação. Mas isto, ninguém irá fazer pelo oprimido. De nada vale 
um discurso eloqüente denunciando a opressão. É preciso uma ação 
dialógica, construída conjuntamente, cuja reflexão, em níveis cada 
22
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
vez mais profundos de complexidade, possam atingir a compreensão 
da realidade, desnudando mitos, renunciando e enfrentando a cultura 
dominante, expulsando o opressor que reside no oprimido. “Se esta 
descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas 
da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja a 
mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, 
para que seja práxis.” (p. 52) 
Os opressores também precisam de libertação 
Os opressores se tornam desumanizados pela violência que 
praticam, e os oprimidos, ao defenderem-se, na busca de sua 
humanização, guardam o poder de libertar a ambos. “E aí está a 
grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si 
e aos opressores. Estes, que oprimem, exploram e violentam em 
razão de seu poder, não podem ter, neste poder, a força de libertação 
dos oprimidos nem de si mesmos. Só o poder que nasça da 
debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a 
ambos”. (p. 31) 
Conscientização 
Paulo Freire diz que a conscientização não se dá apenas no nível 
das idéias, mas na ação (consciência + ação). O homem se modifica, 
na medida em que modifica o mundo. Portanto, a conscientização 
como atitude crítica dos homens na história, não terminará jamais, é 
23
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
um processo permanente de busca e aprendizados através da ação 
e da reflexão, sempre buscando superar obstáculos e derrubar 
injustiças. É uma permanente busca da utopia, que para Paulo Freire, 
“não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização 
dos atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura 
desumanizante e anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão 
a utopia é também um compromisso histórico.” 7 
Alguns aspectos básicos da pedagogia do oprimido 
A educação libertadora toma como ponto de partida o pensar do 
povo. O conteúdo programático é feito a partir da situação concreta, 
presente, existencial. A situação posta – invariavelmente desfavorável 
– deverá ser problematizada e apresentada como um desafio com 
potencial para ser superado através da reflexão e ação (práxis). Os 
temas geradores são o próprio pensar do povo que não se dá num 
vazio, mas nas pessoas, na relação entre elas e delas com o mundo. 
A investigação das temáticas significativas é feita em diálogo e vão 
ser objeto de reflexão coletiva, num processo de investigação cada 
vez mais aprofundada, num “ir e vir”, buscando aproximação com a 
totalidade. (p. 101-103). 
Isto é diferente de julgar que as pessoas precisam aprender so-bre 
um tema específico e preparar uma aula sobre tal tema. Na con-cepção 
de Paulo Freire, esta atitude mostra falta de confiança, ou 
seja não reconhece os saberes do oprimido, além de se estar repe- 
7 Paulo Freire. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao 
pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo : Moraes, 1980. 
24
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
tindo a forma de agir do opressor. É a concepção bancária da 
educação, na qual o educando é como um “banco” ou “recipiente va-zio” 
e o educador deposita o conteúdo que ele considera adequado. 
Paulo Freire nos dá um exemplo ilustrativo: se um determinado 
grupo tem como maior aspiração o aumento salarial, é dali que se 
necessita partir e não de temas para eles abstratos ou que não fazem 
parte do seu rol de preocupações. É preciso “(...) de um lado, incor-porar- 
se ao povo na aspiração reivindicativa. De outro, problema-tizar 
o significado da própria reivindicação. Ao fazê-lo, estará proble-matizando 
a situação histórica real, concreta, que, em sua totalida-de, 
tem, na reivindicação salarial, uma dimensão. Deste modo, fica-rá 
claro que a reivindicação salarial, sozinha, não encarna a solução 
definitiva.” (p. 182). 
Problematizar é diferente de apresentar respostas prontas para a 
solução dos problemas. É diferente também de apresentar a 
realidade como algo já posto, imutável, a qual é preciso se adaptar. 
Responder questões implica em pensar. Pensar é aproximar-se da 
realidade e destruir mitos. Pensar coletivamente é diferente de 
pensar para alguém, ou para um grupo. A ação transformadora da 
realidade só é possível a partir das descobertas coletivas. 
É desta forma que se estabelece o diálogo. É assim que estará 
sendo restituída a palavra que foi roubada do povo oprimido, no 
decorrer dos séculos. Junto com a palavra, é restituída a cultura, as 
forma de expressão. Paulo Freire acentua que o diálogo liberta e 
este libertar se dá de forma conjunta: “Não se pode afirmar que 
alguém liberta alguém, ou que alguém se liberta sozinho, mas que 
os homens se libertam em comunhão. Com isso, não queremos 
diminuir o valor e a importância da liderança revolucionária. Pelo 
contrário, estamos enfatizando esta importância e este valor. E 
25
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
haverá importância maior que conviver com os oprimidos, com os 
esfarrapados do mundo, com os condenados da terra?” (p. 130) 
Nas palavras de Paulo Freire, “A educação autêntica, repitamos, 
não se faz de A para B, ou de A sobre B, mas de A com B, 
mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a 
uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. 
Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou 
desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos 
quais se constituirá o conteúdo programático da educação”. (p. 84). 
O papel do investigador, ou como Paulo Freire designa “educador/ 
educando/dialógico problematizador” é motivar o diálogo no próprio 
processo de busca temática, desafiar os indivíduos, problematizar 
a situação existencial codificada. 
Paulo Freire diz que todos possuem o “saber”, embora este saber 
possa ser um tanto parcial e apresentar-se de forma fragmentada. 
O oprimido geralmente “sabe” mas “não sabe que sabe”, daí a 
importância da motivação para o diálogo e a reflexão. “Educação e 
investigação temática, na concepção problematizadora da educa-ção, 
se tornam momentos de um mesmo processo”. (p.102). 
“A tarefa do educador dialógico é, trabalhando em equipe 
interdisciplinar este universo temático recolhido na investigação, 
devolvê-lo, como problema, não como dissertação, aos homens 
de quem recebeu.” (p. 102). Ou seja, o saber popular é organizado, 
acrescido de conhecimentos científicos, associado a outros temas, 
contextualizado no tempo e no espaço e, num trabalho conjunto com 
os educandos, é utilizado como base para planejar ações concretas 
que busquem a superação das situações-problema. 
26
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Medo da liberdade 
A liberdade assusta tanto aos que dominam quanto aos que são 
dominados. Nos dominadores, ou nos “antidialógicos” – que podem 
ser liderança que pensem estar a serviço da liberdade, mas na 
verdade estão reproduzindo o modelo de opressão a que foram 
desde crianças condicionadas a perpetuar – o medo se estabelece 
quando percebem que estão a serviço da desumanização. Quando 
os mitos que estas pessoas nutriam são desvelados, ocorre um 
choque: é um processo aproximado a “morrer um pouco”. Quando 
participam de uma ação dialógica no mesmo patamar do povo 
oprimido, como companheiros, ocorre uma sensação de desconforto, 
que os leva a acionar mecanismos de defesa, resistindo a enxergar 
o que já está claro. 
Também nos dominados, ou oprimidos, que têm aderido em si o 
dominador, a luta pela liberdade significa uma ameaça ao ser duplo 
que são. Querem ser livres, mas o lado opressor que eles têm 
27
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
introjetado não o quer. A autonomia e a responsabilidade 
representam um perigo. Mecanismos de defesa também são 
acionados, como transferir toda a responsabilidade de transformação 
para o “divino” ou pensar que é “pecado” aderir a algum tipo de 
resistência à opressão. 
No entanto, no oprimido o medo da liberdade se manifesta em 
menor proporção. A situação de extrema desvantagem torna mais 
fácil a aceitação do óbvio. 
Como já vimos, o papel do educador é motivar o diálogo, desafiar 
e problematizar a situação existencial codificada (codificação pode 
se dar sob a forma de símbolos, objetos, gravuras, histórias etc.). 
Conforme o diálogo vai se estabelecendo, os mitos vão sendo 
destruídos e a realidade passa a ser desvelada. Devolvido o conhe-cimento 
organizado, sistematizado e acrescido do saber científico, 
já é possível apontar uma dimensão estratégica de ação. 
É preciso que se realize um “parto” para que o opressor 
hospedado no oprimido possa ser expulso, a liberdade possa se 
impor e um pessoa nova possa surgir: não mais desumanizada e 
não mais opressora, não mais expectadora passiva. Que surjam 
seres protagonistas, transformadores da realidade, criadores, livres. 
O diálogo dissolvendo mitos 
Mitos são aquelas “inverdades” propagadas para que seja 
possível manter a dominação e a estabilidade dos privilegiados. O 
poder dos mitos é tão grande que eles se instalam no nosso ser 
como se fossem verdades inquestionáveis, realidades quase divinas, 
28
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
que não se pode sequer pensar em transformar. São alguns 
exemplos de mitos: “todos são livres para trabalhar onde quiserem” 
- “vivemos numa sociedade democrática” - “todos podem ser bem 
sucedidos na vida, bastando não serem preguiçosos” - “Quem é 
pobre é porque não se esforça o suficiente” – “Os pobres são mal 
agradecidos”. Paulo FREIRE cita também o mito dos Direitos 
Humanos, o mito da “propriedade privada como fundamento da 
pessoa humana” (desde que, pessoas humanas sejam apenas as 
classes mais abastadas). E tantos outros. Há também o mito da 
“mão invisível do mercado”. Segundo este último, o mercado seria 
sábio suficiente para organizar toda a ordem social bastando para 
isso, deixá-lo em liberdade e alimentá-lo. Quanto ao mito da 
“ignorância das massas” é o que alimenta a concepção bancária 
da educação. Com a crença de que o oprimido é ignorante, resta 
depositar conteúdos. 
O papel da liderança 
Antes de discutirmos o papel da liderança, é preciso que nos 
certifiquemos se nossa ação junto ao povo oprimido tem como 
verdadeiro objetivo a superação de uma sociedade desigual ou se 
limita a "passar panos quentes" sem tocar na raiz do problema. 
Se nosso raio de visão alcança somente as formas de atuação 
que se esgotam na distribuição de alimentos para "os pobres" ou 
"qualificação profissional" para que eles possam se "libertar" da 
cesta básica concedida, é preciso repensar toda a prática. 
Estaremos a serviço da desumanização ou da libertação? O que 
significa libertação? O que representa a qualificação numa 
29
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
sociedade extremamente competitiva, onde vigora a "lei da selva" e 
os mais poderosos "engolem" os mais fracos? Qualificados 
profissionalmente, quais oportunidades reais terão os oprimidos 
de adentrar na feroz competição capitalista? Eles têm as mesmas 
chances e as mesmas armas que as outras pessoas? E os critérios 
que o mercado exige, como a boa aparência, escolaridade, idade, 
dentre outros? Como eles vão atender a todos estes requisitos? 
Se estivesse ao nosso alcance ajudar os oprimidos que estão junto 
a nós a atender a todas as exigências do mercado, estaríamos 
satisfeitos? E os outros oprimidos que vão se multiplicando a cada 
dia? Adianta incluir alguns e deixar tantos outros do lado de fora? E 
o mercado? O que é, afinal, o mercado? Por que ele tem o poder de 
incluir e de excluir pessoas? 
Todas estas questões precisam ser refletidas para que possamos 
compreender o que Paulo Freire denomina liderança revolucionária. 
Esta liderança busca construir, junto com o povo, uma outra 
sociedade: justa, democrática, verdadeiramente solidária. Por isso 
é chamada liderança revolucionária. Revolução precisa ser 
compreendida como transformação. Por isso, a liderança 
revolucionária busca a transformação da sociedade, porque ela está 
ao lado dos oprimidos que são prejudicados pelo modelo atual. Ao 
contrário, a liderança dominadora compactua com a lógica que 
produz e mantém a miséria e a desumanização. 
Paulo Freire nos diz que, de modo geral, lideranças 
revolucionárias são aquelas pessoas procedentes dos estratos 
sociais dos dominadores. Num certo momento de sua existência, 
muitas vezes impulsionadas por uma análise científica da realidade, 
estas pessoas optam por adotar a causa das populações oprimidas, 
num gesto de solidariedade, de compromisso, de amor. 
30
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Paulo Freire aponta vários aspectos essenciais que a liderança 
revolucionária deve atentar para não reproduzir as práticas históricas 
de opressão. Seguem alguns deles. 
Acreditar no povo - A liderança revolucionaria não pode acreditar 
na ignorância dos oprimidos. Paulo Freire é duro quando diz que a 
liderança "não tem sequer o direito de duvidar, por um momento, 
de que isto é um mito". (p.131). 
Problematizar os mitos – A liderança revolucionária deve, ao 
contrário, problematizar estes mitos que a classe dominante utiliza 
para oprimir. Desta forma, “não imitar os opressores nos seus 
métodos dominadores” . (p.132). 
Pensar com o oprimido – Se a liderança não pensar com os 
oprimidos, ela estará renunciando a si própria de pensar, porque a 
reflexão revolucionária é feita em conjunto com as massas. São os 
opressores que pensam para as massas, para melhor dominá-las. 
Enquanto a liderança dominadora sobrevive pensando para o opri-mido, 
a liderança revolucionária morre se pensar sem ele. (p. 129) 
31
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
Compreender que as pessoas também aprendem fazendo 
– Os oprimidos não têm experiência de diálogo, de democracia, de 
tomada de decisão. No entanto, somente praticando é que vão 
aprender. As lideranças de Clubes de Trocas, por exemplo, devem, 
nas reuniões, portar-se de forma discreta, para que os participantes 
decidam por si os encaminhamentos necessários. A liderança pode 
problematizar as decisões que eles tomam, nunca substituí-las por 
outras que ela julgue mais corretas. Isto implica no risco de errar. 
Mas somente errando é que aprendermos. Paulo Freire lembra que 
não é na biblioteca que se aprende a nadar, mas entrando na água. 
(p. 134). A experiência dos Clubes de Trocas mostra que os partici-pantes 
geralmente demonstram muita sabedoria nas suas decisões 
e encaminhamentos. Muita vezes, diante de algum dilema, apontam 
soluções surpreendentes. Ocorre também do grupo tomar decisões 
equivocadas e as conseqüências prejudicarem o andamento dos 
trabalhos. Neste caso, sempre é possível, democraticamente, que 
o próprio grupo repare o erro e adote outros procedimentos. Este é 
um rico exercício de crescimento, de prática democrática. 
Utilizar a ciência em favor da humanização – As lideranças 
dominadoras sempre utilizaram a ciência para melhor dominar, 
desumanizar, obter e preservar vantagens. As lideranças revolu-cionárias 
utilizam a ciência para libertar e humanizar. (p. 131). 
A liderança desempenha um papel fundamental no processo 
de libertação, mesmo que sua atuação seja discreta. Para Paulo 
Freire ela deve estar em permanente comunhão com o povo, em 
situação de igualdade, num “fazer junto com” ao invés de “fazer para”, 
sem querer obter um papel de destaque, de “estrela”. 
São estas as palavras de Paulo Freire, confirmando o papel 
decisivo da liderança revolucionária “o opressor elabora a teoria de 
32
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
sua ação necessariamente sem o povo, pois que é contra ele. O 
povo, por sua vez, enquanto esmagado e oprimido, introjetando o 
opressor, não pode, sozinho, constituir a teoria de sua ação 
libertadora. Somente no encontro dele com a liderança revolucio-nária, 
na comunhão de ambos, na práxis de ambos, é que esta 
teoria se faz e se re-faz”. (p. 183) 
33 
PARTEIRA 
“Imagina-te como uma parteira. Acompanhas o 
nascimento de alguém, sem exibição ou espalhafato. 
Tua tarefa é facilitar o que está acontecendo. Se deves 
assumir o comando, faze-o de tal modo que auxilies a 
mãe e deixes que ela continue livre e responsável. 
Quando nascer a criança, a mãe dirá com razão: 
Nós três realizamos esse trabalho.” 
(Lao Tse) 
União, organização e síntese cultural 
A ação antidialógica atua para manter intactas as estruturas de 
poder. No máximo aceita e/ou promove reformas que não abalem 
os poderes centrais de decisão, a manutenção dos privilégios e a 
estrutura desigual. Podem ser admitidas também ações que 
aparentemente beneficiem os oprimidos mas estas, de acordo com 
a ação antidialógica, ou de dominação, têm finalidade anestesiante, 
e as massas continuam mudas, alienadas, hospedando dentro de si 
o opressor. 
Dividir as massas oprimidas, impedir qualquer tipo de união,
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
buscar fragmentar a realidade para que o povo não vislumbre a 
totalidade, encobrir a realidade, explorar a insegurança do oprimido, 
principalmente por meio suas condições materiais precárias, 
manipular, promover uma invasão cultural... todos estes são artifícios 
de que se utiliza o poder para manter a dominação e preservar 
privilégios. 
Por isso, a necessidade de buscarmos juntos a união, organização 
e a síntese cultural, que tem a pedagogia da libertação como ponto 
de partida. Segundo Paulo Freire, “para que os oprimidos se unam 
entre si, é preciso que cortem o cordão umbilical de caráter mágico 
e mítico, através do qual se encontram ligados ao mundo de 
opressão. (...) a união dos oprimidos exige deste processo que ele 
seja, desde o começo, o que deve ser: ação cultural.” (p. 174). 
Com o quadro abaixo procuramos fazer um paralelo entre a 
invasão cultural na teoria antidialógica (que serve aos opressores) 
e a síntese cultural para a liberdade, que é tarefa dos povos 
oprimidos em busca de libertação: 
Invasão Cultural X Síntese Cultural 
34 
INVASÃO CULTURAL NA TEORIA 
ANTIDIALÓGICA DA AÇÃO 
SÍNTESE CULTURAL NA TEORIA 
DA AÇÃO DIALÓGICA 
Invasores entram no mundo dos opri-midos 
para ensinar, transmitir, entre-gar. 
Atores entram no mundo dos oprimi-dos 
para conhecimento mútuo. 
Ação é mediatizada pela tecnologia 
(principalmente TV). Os invasores 
nem precisam ir pessoalmente ao terri-tório 
dos oprimidos. 
Atores se integram com os homens do 
povo, que também são atores da ação 
que ambos exercem sobre o mundo 
Os espectadores e a realidade deve 
ser mantida como está. 
Não há expectadores, mas sim sujei-tos 
ativos que transformam uma reali-dade 
dinâmica. 
Está a serviço da manipulação, da 
conquista e da dominação 
Está a serviço da união, da organiza-ção, 
para a liberdade.
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
No último capítulo da “Pedagogia do Oprimido” Paulo Freire 
destaca: “Todo o nosso esforço neste ensaio foi falar desta coisa 
óbvia: assim como o opressor, para oprimir, precisa de uma teoria 
da ação opressora, os oprimidos para libertar-se, igualmente, 
necessitam de uma teoria de sua ação.” (p. 183). 
Que a teoria dialógica da ação possa nortear nossa prática, 
iluminar os nossos relacionamentos em família, no trabalho, na 
comunidade, com os oprimidos, para um processo mútuo de 
libertação. 
Utopia 
Paulo Freire pensava ser necessário haver um espaço na prática 
educativa, dedicada aos sonhos possíveis. Sonhos que surgem 
como anúncio, a partir da denúncia. O sonho como profecia, que se 
estabelece a partir da idealização do novo, do mundo que se quer 
viver. É visitar o amanhã a partir do hoje. 
Paulo Freire diz que todos nós podemos ser profetas: “Profetas 
não são homens ou mulheres desarrumados, desengonçados; se 
homens, barbudos, se mulheres, cabeludas, sujos, metidos em 
roupas andrajosas e pegando cajados. Os profetas são aqueles 
ou aquelas que se molham de tal forma nas águas da sua cultura e 
da sua história, da cultura e da história de seu povo, dos dominados 
do seu povo, que conhecem o seu aqui e o seu agora e, por isso, 
podem prever o amanhã que eles mais do que adivinham, 
realizam”. 
35
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
E Paulo Freire conclui: “Eu diria a nós, como educadores e 
educadoras: ai daqueles e daquelas, entre nós, que pararem com 
a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de 
denunciar e de anunciar. Ai daqueles e daquelas que, em lugar de 
visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo 
engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora; ai daqueles 
que em lugar desta viagem constante ao amanhã, se atrelem a um 
passado de exploração e de rotina”. (p. ). 
36
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Considerações Finais 
Esperamos que este caderno, o número 1 da série “História Social 
do Trabalho”, contribua para a ação e reflexão de todos e todas que, 
realizando trabalhos educativos e ajudando o povo a ser organizar, 
fundem sua prática no diálogo e ousem acreditar na construção de 
pessoas e de um mundo novos. 
Como vimos, a utopia para Paulo Freire, não é o irrealizável, mas 
algo já inscrito como possibilidade na história humana. Daí que esta 
caderno é feito para aqueles e aquelas que acreditam que um outro 
mundo é possível e lutam para construí-lo, todos os dias, em todos 
os lugares onde vivem e atuam. 
Utilizá-lo como luz que ilumina a prática social educativa junto com 
os oprimidos é nossa proposta. Que ele cumpra sua finalidade é o 
nosso desejo. E que seja superado, criticado e complementado com 
outras leituras de obras de Paulo Freire ou outros pensadores 
brasileiros que como ele, buscaram e buscam fazer daqui, um país 
justo e solidário. 
37
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
Referências Bibliográficas 
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 17.ed. 
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. 
_____. Pedagogia do oprimido. 14.ed. Rio de Janeiro, Paz e 
Terra, 1983. 
_____. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma in-trodução 
ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo, 
Moraes, l980. 
_____ . A educação na cidade. 4 .ed. São Paulo, Cortez, 2000. 
RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro: a formação e o sentido do 
Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, l995. 
38
Uma Pedagogia 
Humanizadora 
Escreva aqui um resumo do caderno 
e as dúvidas que ficaram 
39
Escola de Formação Básica 
Multiplicadora da Economia Popular Solidária 
40
Fone: (41) 3322-8487

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  • 2. Uma Pedagogia Humanizadora Uma Pedagogia Humanizadora A Pedagogia de Paulo Freire Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária 1
  • 3. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária 2
  • 4. Uma Pedagogia Humanizadora Sumário Apresentação.................................................................................... 5 Educar para domesticar ou para libertar? ..............................................6 Dialogando e problematizando ...............................................................7 Aprendendo com a própria história ........................................................8 Qualificando nosso trabalho ...................................................................9 Conhecendo um pouco de Paulo Freire ......................................... 11 Uma educação subversiva ...................................................................12 Voltando à sua pátria ............................................................................13 As origens da opressão no Brasil ...................................................15 Quem inaugura a violência? .................................................................15 A urbanização não trouxe democracia .................................................17 Cinco séculos de opressão e resistência ............................................18 Outras formas de opressão .................................................................19 Pedagogia do oprimido ................................................................. 22 Os opressores também precisam de libertação .................................23 Conscientização ..................................................................................23 Alguns aspectos básicos da pedagogia do oprimido ...........................24 Medo da liberdade ................................................................................27 O diálogo dissolvendo mitos ................................................................28 O papel da liderança ............................................................................29 União, organização e síntese cultural ..................................................33 Invasão Cultural X Síntese Cultural ......................................................34 Utopia ...................................................................................................35 Referências Bibliográficas .........................................................37 3
  • 5. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária 4
  • 6. Uma Pedagogia Humanizadora Apresentação Este caderno é dirigido a todos aqueles e aquelas que trabalham como educadores populares: animadores de clubes de trocas, militantes de movimentos sociais, lideranças comunitárias, assistentes sociais, voluntários que atuam junto à população oprimida, enfim: todos que lutam pelo fim da pobreza, que sonham com uma sociedade justa e verdadeiramente democrática, e trabalham para que este sonho se realize, dia após dia. Elegemos Paulo Freire como o educador a nos iluminar nesta caminhada em torno de um mundo justo, sem miséria e sem distância entre pobres e ricos. Para estudar este autor, é preciso abertura suficiente para desconstruir pensamentos e práticas que estavam até hoje norteando o nosso trabalho de educação popular. Nossa vida é um eterno ensinar e aprender e muitas vezes, para isso, precisamos às vezes pôr de lado muitas práticas com as quais estamos acostumados, para que o novo possa se colocar. Não é apenas Paulo Freire que nos leva a descobrir o novo: ele nos ajuda a descobrir com o oprimido uma forma diferente de educação. Vamos perceber que, desde crianças, fomos educados para sermos passivos, adaptados aos ambientes, sem reclamar. Na escola, na família, nos locais de trabalho, somos quase sempre levados a obedecer ou a ouvir sem questionar. A realidade é narrada ou vista como algo parado, compartimentado e bem-comportado. Mas Paulo Freire critica esta educação domesticadora, que ele chama de “educação bancária” e nos desafia para uma educação viva, problematizadora, questionadora da realidade. 5
  • 7. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária Educar para domesticar ou para libertar? Lembramos aquela professora que falava, falava... das crianças em sala de aula: comportadas, dóceis. As mais quietinhas eram as “queridinhas da professora”. Não gostávamos de permanecer sentados na carteira da sala de aula por tanto tempo e sempre achávamos uma desculpa para dar uma “saidinha”: íamos ao banheiro, beber água ou inventávamos outras desculpas para esticar as pernas, para aliviar o desconforto físico e mental de termos que permanecer sentados fazendo e ouvindo coisas aborrecidas, fora da nossa realidade, que não nos interessavam. Nossa preocupações eram outras: queríamos saber, por exemplo, como nos defendermos de criança maiores do que nós. Gostaríamos de saber por quê os adultos são tão imprevisíveis e como reagirmos a seus ataques de nervos. Havia sempre aquelas crianças rebeldes, que não se deixavam dominar tão facilmente. Estas eram castigada por “mau comportamento”. Tal realidade permanece praticamente a mesma. Se perguntarmos a nossos filhos como são as salas de aula, como eles se sentem na escola, vamos verificar que praticamente nada se alterou. Que tal fazermos a seguinte pergunta a uma criança: “o que você gostaria de aprender na escola, que fosse te ajudar a ter uma vida melhor?” Quando fizer esta pergunta à criança, deixe claro que esta “vida melhor” se relaciona à vida de criança que ela é, e não a um futuro adulto que será. Certa vez, ao ser feita esta pergunta a uma menina de 12 anos, primeiramente, ela disse que precisava aprender a fazer raiz quadrada. Quando se questionou se a raiz quadrada iria ajudá-la a resolver problemas que ela tem enquanto criança, ela sorriu e pensou 6
  • 8. Uma Pedagogia Humanizadora um pouco mais. Foi quando, depois de muito pensar, disse que gostaria de aprender a fazer trabalho em grupo, porque quando há trabalho em grupo na escola, os alunos não se entendem: brigam, ninguém quer fazer o trabalho, que acaba sendo realizado por uma só criança. Depois de pensar mais um pouco, ela disse com muita convicção que gostaria de aprender como deixar de ser tímida. Que a timidez atrapalha muito nos relacionamentos entre crianças e adultos. Dialogando e problematizando Esta é uma pesquisa que pode ser facilmente realizada, dentro de casa com filhos, netos, sobrinhos. Os resultados não devem ser muito diferentes. As respostas mais ou menos autênticas vão depender do ambiente amigável que se cria para favorecer o diálogo, 7
  • 9. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária resultado de um profundo respeito e amor pela criança. O condicionamento pode levar a respostas programadas de acordo com conteúdos abstratos, os quais não se sabe a utilidade. Conforme vamos explicando que a resposta deve levar em conta necessidades e realidade concreta de vida, vamos constatar que os problemas apresentados e a ânsia por superá-los vai de encontro aos nossos próprios dilemas de crianças que se perpetuam depois da idade adulta. Por que não se prepara as crianças para o trabalho em equipe? Por que não há o incentivo à cooperação, mas sim a competição? Os alunos são lançados (quando são) a algum trabalho deste tipo sem nenhum preparo prévio e depois de muitas tentativas mal-sucedidas de entendimento, alguns passam a optar por fazer trabalhos sozinhos, reforçando o individualismo reinante na nossa sociedade. Por que não há na escola práticas de oratória, técnicas de expressão verbal e gestual, ou mesmo o incentivo ao diálogo, ao questionamento, à capacidade de decisão, para que crianças percam o medo de se expor e possam exercitar a capacidade crítica, o posicionamento? Será que é porque representa perigo formar cidadãos capazes de argumentar, de questionar, dialogar e, unidos, transformarem a realidade? A educação está a serviço de quem? Aprendendo com a própria história Estes e tantos outros dilemas foram tratados por Paulo Freire, que sempre se dispunha a ouvir, refletir, intervir... Paulo Freire aprendeu muito! Ele dialogou com crianças, adultos, professores. Dialogou principalmente com o povo oprimido. Descobriu que todos 8
  • 10. Uma Pedagogia Humanizadora possuem um saber, que deve ser valorizado. O mundo não pode se dividir entre “os que sabem” e “os que não sabem”. A pedagogia do oprimido busca libertar o ser humano, restituindo-lhe a humanidade roubada e tem como horizonte a transformação social. Por isso, a educação não é neutra: ou favorece o opressor conservando a realidade injusta intocável ou favorece o oprimido, despertando-lhe o poder de transformação. Desconstruir e, então, construir de novo. É esse tipo de abertura que necessitamos para que seja possível libertarmo-nos do processo de violência que sofremos em toda a nossa trajetória educacional, quando certamente tivemos nossa humanidade roubada por meio de processos educacionais postos a serviço do poder. Sem nos darmos conta, muitas vezes reproduzimos tal processo, agora nas condições de “educadores que sabem” e nos colocamos em patamar superior aos educandos “que não sabem”, perpetuando a dominação, embora pensemos estar a serviço da liberdade. Qualificando nosso trabalho Com este caderno, procuramos apresentar, algumas concepções de Paulo Freire, principalmente as constantes na obra “Pedagogia do Oprimido”. São aspectos que mais dizem respeito ao trabalho que realizamos junto à população que Freire chama de “os demitidos do mundo”, os “esfarrapados”. Há quem diga que, na Curitiba, onde se separa o “lixo que não é lixo”, também há “gente que não é gente” numa referência aos catadores de papel que são constantemente humilhados, vivem de forma desumanizada e carregam manualmente cargas que desafiam a capacidade de resistência 9
  • 11. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária humana, como se o motor não tivesse ainda sido inventado. Este texto é uma tímida tentativa de associar o pensamento de Paulo Freire ao nosso trabalho, visando qualificá-lo. Recomendamos com insistência a leitura das obras do grande educador, pois nenhuma cartilha pode substituir a riqueza, complexidade e beleza contida nos seus escritos originais – conteúdo que foi extraído da prática libertadora, a qual ele dedicou a sua vida. 10
  • 12. Uma Pedagogia Humanizadora Conhecendo um pouco Paulo Freire 11 Paulo Freire nasceu no Recife, Pernambu-co, em 1921 e foi alfa-betizado pelos próprios pais, brincando com gravetos no quintal, à sombra das manguei-ras. Aprendeu o diálogo na família. Seu pai era espírita e sua mãe cató-lica, mas isso não atra-palhava o diálogo. "As mãos de meus pais, não haviam sido feitas para machucar seus filhos, mas para ensinar-lhes a fazer coisas", diz Paulo Freire. Desenvolve seus estudos com dificuldade e, mais tarde, formado em Direito, abandona a profissão de advogado logo depois da primeira causa, dedicando-se à educação popular. Trabalhando com professores, crianças e pais da base do SESI - Serviço Social da Indústria - de 1947 a 1957 - Paulo Freire descobriu que o educador popular precisa utilizar a linguagem do povo para com ele se comunicar, sempre partindo da realidade das pessoas, sem discursos complicados. Neste trabalho, Paulo Freire se defrontou com o problema de pais que batiam nos filhos. E foi através do diálogo com estes pais, que Paulo Freire compreendeu que era a própria situação de miséria por eles vivida, que levava a atitudes deste tipo. Assim, problematizando a própria realidade vivida, através
  • 13. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária do diálogo, Paulo Freire conseguiu trabalhar com eles esta questão. O trabalho com as famílias dos trabalhadores e professores do SESI se estendeu por 10 anos e foi esta prática, sempre refletida, que permitiu a Paulo Freire ir sistematizando e elaborando suas idéias. Uma educação subversiva O final dos anos 50 e início dos 60 foi um período rico na história do Brasil. Havia uma efervescência de idéias políticas. E Paulo Freire foi se formando neste contexto, participando do Movimento de Cultura Popular do Recife, quando foi realizada a experiência de Angicos (RN), que alfabetizou 300 trabalhadores em 45 dias. Por conta disso, Paulo Freire foi convidado pelo Presidente João Goulart para coordenar a Campanha Nacional de Alfabetização. O trabalho se implantou em junho de 1963 e durou até março de 1964, quando foram realizados cursos de formação de coordenadores na maior parte das capitais dos estados. Infelizmente, o Golpe militar no Brasil, em l964, interrompeu um grandioso projeto de alfabetização libertadora que iria se espalhar por todo o País. Paulo Freire foi preso, tido como comunista e, de-pois, foi expulso do Brasil. "A Campanha Nacional de Alfabetização foi denunciada publicamente como 'perigosamente subversiva'. Em tempo de baioneta, a cartilha que se cale. Aqueles foram anos - cada vez piores até 1968 - em que por toda parte educadores foram presos e trabalhos de educação, condenados." 1 1 Carlos Rodrigues Brandão. O que é método Paulo Freire. 6. ed. São Paulo : Brasiliense, 1984. p. 19. 12
  • 14. Uma Pedagogia Humanizadora Em outros lugares, Paulo Freire continuou sua luta junto com o povo. Esteve em vários países da América Latina, Estados Unidos, Europa e África. O Chile foi o país amigo, que recebeu entre muitos outros brasileiros exilados, Paulo Freire e sua família, que lá viveram por cinco anos, e onde ele escreveu a Pedagogia do Oprimido. Depois de passar por outros países, Paulo Freire se instalou na Suíça, onde trabalhou no Conselho Mundial de Igrejas e de onde viajou para vários países da África, ajudando os povos que acabavam de se libertar do jugo colonial a organizarem seus sistemas de ensino, sempre baseado no diálogo e na troca de saberes. Voltando à sua pátria De volta ao Brasil, anos depois, Paulo Freire continuou seu trabalho de lutador, educador popular e escritor. Tudo o que escreveu foi a partir daquilo que ele viveu, a partir do que ele aprendeu com o povo, com as suas experiências junto com os oprimidos. Impulsionado pela crença absoluta no ser humano, na sua capacidade reflexiva e decisória, sua vida foi dedicada à construção de uma educação libertadora, de base dialógica, que ele entendia ser o principal caminho para a transformação social: "A nossa convicção é a de que, quanto mais cedo comece o diálogo, mais revolução será." Em 1989 assumiu a Secretaria de Educação da cidade de São Paulo, a convite da Prefeita Luiz Erundina. "O que eu proponho é um trabalho pedagógico que, a partir do conhecimento que o aluno traz, que é uma expressão da classe social à qual os educandos pertencem, haja uma superação do mesmo, não no sentido de anular esse conhecimento ou de sobrepor um conhecimento a 13
  • 15. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária outro. O que se propõe é que o conhecimento com o qual se trabalha na escola seja relevante e significativo para a formação do educando (...) Proponho uma pedagogia crítico-dialógica." 2 Em 1996, foi publicado seu último livro em vida - "Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa" - uma espécie de síntese de todos os valores pedagógicos defendidos por Paulo Freire na totalidade de sua obra vivida e escrita. Paulo Freire morreu em 1997, devido a problemas de coração. Conhecido em todo o mundo, foi considerado o pensador brasileiro mais importante do Séc. XX. Mas, como ele mesmo disse: "Eu gostaria de ser lembrado como alguém que amou o mundo, as pessoas, os bichos, as árvores, a água, a vida". 2 Paulo Freire. A educação na cidade. 4.ed. São Paulo : Cortez, 2000. p. 190-191. 14
  • 16. Uma Pedagogia Humanizadora As origens da opressão no Brasil O trabalho com os oprimidos requer um mínimo de conhecimento histórico sobre a opressão. Darci Ribeiro lembra que todos nós temos um pouco de índio, negro e europeu e somos povo marcado pela violência extrema, que ainda hoje se perpetua e deixa marcas difíceis de reverter. Este autor descreve os castigos, as torturas a que eram submetidos os negros e índios no período colonial e lembra que somos herdeiros destas práticas, descendentes de vítimas e de algozes. “(...)Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos (...)”(O povo brasileiro, p. 120). Para Paulo Freire, a opressão desumaniza não só o oprimido mas sobretudo o opressor porque não pode haver humanidade na prática da violência, do antidiálogo. É por isso que o opressor também precisa de libertação e quem pode fazer isso pelos dois, é o oprimido, no seu engajamento pelo resgate de sua humanidade. Quem inaugura a violência? Paulo Freire lembra que a violência sempre foi inaugurada pelo opressor. “Como poderiam os oprimidos dar início à violência, se 15
  • 17. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária são eles o resultado de uma violência? (...) Inauguram a violência os que oprimem, os que exploram, os que não se reconhecem nos outros; não os oprimidos, os explorados, os que não são reconhecidos pelos que os oprimem como outro. (...) Para os opres-sores, porém, na hipocrisia de sua ‘generosidade’, são sempre os oprimidos, que eles jamais obviamente chamam de oprimidos, mas, conforme se situem, interna ou externamente, de ‘essa gente’ ou de ‘essa massa cega e invejosa’, ou de ‘selvagens’, ou de ‘nati-vos’ ou de ‘subversivos’, são sempre os oprimidos que desamam. São sempre eles os ‘violentos’, os ‘bárbaros’, os ‘malvados’, os ‘ferozes’, quando reagem à violência dos opressores.3 Em meio a tanta violência, na história do Brasil nunca houve práticas democráticas, nunca se incentivou o diálogo. A organização social brasileira, de base escravista, não comportava a democracia. Ao contrário: predominavam as relações extremas de poder e submissão. Os interesses eram puramente mercantis e as práticas econômicas extraiam de forma predatória as riquezas naturais e as energias dos seres humanos4 . Os latifúndios abrigavam relações ditatoriais de poder. Terras imensas eram separadas umas das outras, fazendo com que seus habitantes (plebeus) se sentissem pequenos, desprotegidos e buscassem proteção nos senhores de terras. Este foi um campo fértil para o florescimento das relações de ‘paternalismo’, dependência, ‘protecionismo’, ‘favoritismo’. Embora tais relações se revestissem de uma espécie de “suavi- 3 Paulo Freire. Pedagogia do oprimido. 27. ed. São Paulo : Paz e Terra, 1987. p. 42-43 (Daqui para frente, sempre que estivermos nos referindo a esta edição do livro Pedagogia do Oprimido, colocaremos o número da página entre parêntese logo após o texto, reservan-do as notas de rodapé para citações de outros livros ou explicações complementares). 4 Paulo Freire. Educação como Prática da liberdade. 16. ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1983. 16
  • 18. Uma Pedagogia Humanizadora dade”, representada pelo “condescendente” senhor5 , da mesma forma não havia diálogo devido à distância social acentuada e a imagem forte daqueles que Paulo Freire chama dos “donos das terras e das gentes”. A urbanização não trouxe democracia Quando D. João chegou ao Brasil, em 1808, a vida urbana se impôs intensamente. Os latifúndios com os senhores “todo-poderosos” perderam o protagonismo a favor dos “nobres” da corte, a burguesia comerciante que se enriquecia a cada dia, os “doutores” formados na Europa. A vida urbana passou a ser um grande atrativo, com a criação de várias atividades: floresceu o comércio, surgiram as bibliotecas, teatros, escolas. Desenvolveu-se uma intensa vida cultural e mercantil, com práticas e valores importados e profundo desprezo pelo povo nativo, a cultura local. Tais transformações não chegaram a tocar nas relações de mando e submissão que vigoravam no Brasil. Houve, sim, disputa de poder entre senhores de terras e a burguesia opulenta. O povo brasileiro continuou passivo, mudo, vencido e oprimido, atrelado às relações de subordinação, sem chance alguma de participar de qualquer experiência democrática. As pessoas simples não participavam nas Câmaras Municipais, Senado e outras instituições. O homem comum não votava, não era votado e não era chamado a participar das decisões. Somente os 5 Idem. O “senhor” que não exercia violência física era considerado “bondoso” pelos escravos e plebeus. 17
  • 19. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária privilegiados podiam governar a comunidade municipal: os chamados “nobres de linhagem”, “homens bons” ou comerciantes bem sucedidos. No final do séc. XIX, depois da abolição da escravatura e com a chegada dos imigrantes no Brasil, houve um surto de industrialização. Iniciou-se uma nova economia de trabalho livre e o desenvolvimento da urbanização. O povo passou a “engatinhar” nas experiências de participação. Em 1857 e 1858 aconteceram as primeiras greves – gráficos no Rio de Janeiro e escravos-operários numa metalúrgica também do Rio de Janeiro. No início do século XX os operários das primeiras indústrias começaram a se organizar, principalmente por influência dos imigrantes anarquistas. Apareceram as primeiras experiências de educação popular para os trabalhadores e o Movimento Operário com seus sindicatos autônomos. Os anos 1920 foram anos de revoltas operárias importantes. Os artistas também utilizaram sua criatividade para denunciar as injustiças sociais e, em 1922 ocorreu a Semana de Arte Moderna. Cinco séculos de opressão e resistência Pudemos ver que por praticamente 500 anos, o povo brasileiro foi oprimido, ignorado, emudecido, desumanizado. Paulo Freire adverte que a consciência popular democrática não floresce automaticamente, mas só no momento em que as pessoas vão ao debate, ao exercício da crítica, à reflexão sobre sua realidade, sobre os problemas comuns. A democracia, para ser autêntica precisa ser construída pelas próprias mãos do povo. 18
  • 20. Uma Pedagogia Humanizadora A prática dialógica exercida nas experiências populares das quais nós participamos – por exemplo, os Clubes de Trocas – quando todos têm direito a vez e voz, independente de grau de instrução, cargo, posição social, profissão – são espaços que Paulo Freire chamaria de “revolucionários” porque se está exercitando a democracia, e está ocorrendo a libertação. Se o povo aprendeu no decorrer da His-tória a renunciar a seu poder de responsabilidade e decisão, cabe a nós – lideranças – ajudar a reverter este processo, incen-tivando o diálogo e a organização. Podemos nos inspirar em Paulo Freire, que acreditou profundamente no ser humano e se dispôs a aprender com ele. Outras formas de opressão Nas sociedades que negam o diálogo, que impõem a violência e utilizam o autoritarismo, nascem o “mutismo” e a “passividade”. Tam-bém emudecem e ficam passivas as pessoas que recebem “conces-sões”, “doações” e “favores” de forma vertical, nas práticas assisten-cialistas. Estas são também expressões de violência, apesar de se mostrarem como uma violência “branda”. Assistencialismo desuma-niza porque a pessoa que recebe doações sem participar do proces-so que a ela diz respeito, tem inibida sua capacidade crítica, argu-mentativa, decisória, criativa e isso faz com que renuncie à responsa-bilização pelo processo. O fazer “para” ao invés de fazer “com” signi-fica “domesticar” o ser humano, roubando-lhe sua humanidade.6 6 Paulo Freire. Educação como Prática da liberdade. 16. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. p. 57-58. 19
  • 21. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária A falsa generosidade, para Paulo Freire, é aquela assisten-cialista, própria dos donos do poder. A verdadeira generosidade está em lutar para que não haja mais miséria Que as mãos, ao in-vés de pedirem esmolas, “vão se fazendo cada vez mais mãos hu-manas, que trabalhem e transformem o mundo. Este ensinamento e este aprendizado têm de partir, porém, dos ‘condenados da terra’, dos oprimidos, dos esfarrapados do mundo e dos que com eles realmente se solidarizem. Lutando pela restauração de sua huma-nidade, estarão, sejam homens ou povos, tentando a restauração da generosidade verdadeira”. (p. 32) É comum ouvirmos de pessoas que trabalham com a população oprimida queixas como: “eles são acomodados”. Ou: “eles não se esforçam, querem tudo de mão beijada”. Tal queixa se tornou um ponto comum. Paulo Freire, com a reflexão sobre o assistencia-lismo e a falsa generosidade, nos diz que são co-responsáveis pela situação de passividade aqueles que não realizam o trabalho de forma conjunta com o oprimido, insistindo em “doar” num patamar de superioridade. Atualmente há um grande apelo à prática do voluntariado. Motiva-se a população a “doar” trabalho, “doar” coisas materiais, mas não há o apelo para que os voluntários procurem fe-char a “fábrica” que produz pobreza. Junto com as “doações”, até mesmo as bem intencionadas, também ocorre o “doar” das decisões, das reflexões, dos “saberes” e os oprimidos continuam desumaniza-dos, mudos, passivos, humilhados, enquanto mais pobreza é produzida e mantida. Ao contrário disso, a melhor ajuda que podemos dar aos oprimidos é compartilhar com eles todos os dilemas e dividir tarefas, não só aquelas que se referem ao “fazer”, mas também e principalmente, as tarefas de pensar, criar, optar, garantindo-lhes a oportunidade de conjuntamente tentar, de errar, voltar a tentar, errar, tentar novamente... É assim que aprendemos: fazendo. Reduzir 20
  • 22. Uma Pedagogia Humanizadora pessoas a executoras de tarefas e determinações que foram planejadas por outros que não os interessados é oprimir e esvaziar a própria prática. (p. 145-148). “De tanto ouvirem de si mesmos que são incapazes, que não sabem nada, que não podem saber, que são enfermos, indolentes, que não produzem em virtude de tudo isto, terminam por se con-vencer de sua ‘incapacidade’. Falam de si como os que não sabem e do ‘doutor’ como o que sabe e a quem deve escutar. Os critérios de saber que lhe são impostos são os convencionais”. (p. 54). 21
  • 23. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária Pedagogia do oprimido A pedagogia do oprimido é a pedagogia da libertação. É cons-truída com o oprimido, na luta pela reconquista de sua humanidade. Não vamos ter a pretensão de construir uma pedagogia para ele. Ao prescrever conteúdos ou exigir comportamentos que julguemos adequados, estamos também oprimindo. Nas palavras de Paulo Freire, “A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e vão compro-metendo- se na práxis, com a sua transformação; o segundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanente libertação.” (p. 44) Paulo Freire adverte que o oprimido hospeda dentro de si o opres-sor, sendo esta, uma manifestação da desumanização. O dominador imprime sua forma ao dominado, que a absorve e passa a olhar o mundo sob a ótica do opressor, desejando ser como ele. Há o que Freire chama de “aderência” que não ocorre de forma casual ou por culpa dos próprios oprimidos, mas faz parte de sofisticadas formas de dominação, que são expostas com muita clareza no capítulo IV da Pedagogia do Oprimido – como a produção e manutenção de mitos, a invasão cultural, manipulação, a divisão. É preciso que seja expulso o opressor que reside no oprimido, de forma que este se descubra como vítima e não tenha mais aderido em si o seu algoz; o que ocorre pelo engajamento na luta pela libertação. Mas isto, ninguém irá fazer pelo oprimido. De nada vale um discurso eloqüente denunciando a opressão. É preciso uma ação dialógica, construída conjuntamente, cuja reflexão, em níveis cada 22
  • 24. Uma Pedagogia Humanizadora vez mais profundos de complexidade, possam atingir a compreensão da realidade, desnudando mitos, renunciando e enfrentando a cultura dominante, expulsando o opressor que reside no oprimido. “Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis.” (p. 52) Os opressores também precisam de libertação Os opressores se tornam desumanizados pela violência que praticam, e os oprimidos, ao defenderem-se, na busca de sua humanização, guardam o poder de libertar a ambos. “E aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores. Estes, que oprimem, exploram e violentam em razão de seu poder, não podem ter, neste poder, a força de libertação dos oprimidos nem de si mesmos. Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos será suficientemente forte para libertar a ambos”. (p. 31) Conscientização Paulo Freire diz que a conscientização não se dá apenas no nível das idéias, mas na ação (consciência + ação). O homem se modifica, na medida em que modifica o mundo. Portanto, a conscientização como atitude crítica dos homens na história, não terminará jamais, é 23
  • 25. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária um processo permanente de busca e aprendizados através da ação e da reflexão, sempre buscando superar obstáculos e derrubar injustiças. É uma permanente busca da utopia, que para Paulo Freire, “não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão a utopia é também um compromisso histórico.” 7 Alguns aspectos básicos da pedagogia do oprimido A educação libertadora toma como ponto de partida o pensar do povo. O conteúdo programático é feito a partir da situação concreta, presente, existencial. A situação posta – invariavelmente desfavorável – deverá ser problematizada e apresentada como um desafio com potencial para ser superado através da reflexão e ação (práxis). Os temas geradores são o próprio pensar do povo que não se dá num vazio, mas nas pessoas, na relação entre elas e delas com o mundo. A investigação das temáticas significativas é feita em diálogo e vão ser objeto de reflexão coletiva, num processo de investigação cada vez mais aprofundada, num “ir e vir”, buscando aproximação com a totalidade. (p. 101-103). Isto é diferente de julgar que as pessoas precisam aprender so-bre um tema específico e preparar uma aula sobre tal tema. Na con-cepção de Paulo Freire, esta atitude mostra falta de confiança, ou seja não reconhece os saberes do oprimido, além de se estar repe- 7 Paulo Freire. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo : Moraes, 1980. 24
  • 26. Uma Pedagogia Humanizadora tindo a forma de agir do opressor. É a concepção bancária da educação, na qual o educando é como um “banco” ou “recipiente va-zio” e o educador deposita o conteúdo que ele considera adequado. Paulo Freire nos dá um exemplo ilustrativo: se um determinado grupo tem como maior aspiração o aumento salarial, é dali que se necessita partir e não de temas para eles abstratos ou que não fazem parte do seu rol de preocupações. É preciso “(...) de um lado, incor-porar- se ao povo na aspiração reivindicativa. De outro, problema-tizar o significado da própria reivindicação. Ao fazê-lo, estará proble-matizando a situação histórica real, concreta, que, em sua totalida-de, tem, na reivindicação salarial, uma dimensão. Deste modo, fica-rá claro que a reivindicação salarial, sozinha, não encarna a solução definitiva.” (p. 182). Problematizar é diferente de apresentar respostas prontas para a solução dos problemas. É diferente também de apresentar a realidade como algo já posto, imutável, a qual é preciso se adaptar. Responder questões implica em pensar. Pensar é aproximar-se da realidade e destruir mitos. Pensar coletivamente é diferente de pensar para alguém, ou para um grupo. A ação transformadora da realidade só é possível a partir das descobertas coletivas. É desta forma que se estabelece o diálogo. É assim que estará sendo restituída a palavra que foi roubada do povo oprimido, no decorrer dos séculos. Junto com a palavra, é restituída a cultura, as forma de expressão. Paulo Freire acentua que o diálogo liberta e este libertar se dá de forma conjunta: “Não se pode afirmar que alguém liberta alguém, ou que alguém se liberta sozinho, mas que os homens se libertam em comunhão. Com isso, não queremos diminuir o valor e a importância da liderança revolucionária. Pelo contrário, estamos enfatizando esta importância e este valor. E 25
  • 27. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária haverá importância maior que conviver com os oprimidos, com os esfarrapados do mundo, com os condenados da terra?” (p. 130) Nas palavras de Paulo Freire, “A educação autêntica, repitamos, não se faz de A para B, ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo. Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, originando visões ou pontos de vista sobre ele. Visões impregnadas de anseios, de dúvidas, de esperanças ou desesperanças que implicitam temas significativos, à base dos quais se constituirá o conteúdo programático da educação”. (p. 84). O papel do investigador, ou como Paulo Freire designa “educador/ educando/dialógico problematizador” é motivar o diálogo no próprio processo de busca temática, desafiar os indivíduos, problematizar a situação existencial codificada. Paulo Freire diz que todos possuem o “saber”, embora este saber possa ser um tanto parcial e apresentar-se de forma fragmentada. O oprimido geralmente “sabe” mas “não sabe que sabe”, daí a importância da motivação para o diálogo e a reflexão. “Educação e investigação temática, na concepção problematizadora da educa-ção, se tornam momentos de um mesmo processo”. (p.102). “A tarefa do educador dialógico é, trabalhando em equipe interdisciplinar este universo temático recolhido na investigação, devolvê-lo, como problema, não como dissertação, aos homens de quem recebeu.” (p. 102). Ou seja, o saber popular é organizado, acrescido de conhecimentos científicos, associado a outros temas, contextualizado no tempo e no espaço e, num trabalho conjunto com os educandos, é utilizado como base para planejar ações concretas que busquem a superação das situações-problema. 26
  • 28. Uma Pedagogia Humanizadora Medo da liberdade A liberdade assusta tanto aos que dominam quanto aos que são dominados. Nos dominadores, ou nos “antidialógicos” – que podem ser liderança que pensem estar a serviço da liberdade, mas na verdade estão reproduzindo o modelo de opressão a que foram desde crianças condicionadas a perpetuar – o medo se estabelece quando percebem que estão a serviço da desumanização. Quando os mitos que estas pessoas nutriam são desvelados, ocorre um choque: é um processo aproximado a “morrer um pouco”. Quando participam de uma ação dialógica no mesmo patamar do povo oprimido, como companheiros, ocorre uma sensação de desconforto, que os leva a acionar mecanismos de defesa, resistindo a enxergar o que já está claro. Também nos dominados, ou oprimidos, que têm aderido em si o dominador, a luta pela liberdade significa uma ameaça ao ser duplo que são. Querem ser livres, mas o lado opressor que eles têm 27
  • 29. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária introjetado não o quer. A autonomia e a responsabilidade representam um perigo. Mecanismos de defesa também são acionados, como transferir toda a responsabilidade de transformação para o “divino” ou pensar que é “pecado” aderir a algum tipo de resistência à opressão. No entanto, no oprimido o medo da liberdade se manifesta em menor proporção. A situação de extrema desvantagem torna mais fácil a aceitação do óbvio. Como já vimos, o papel do educador é motivar o diálogo, desafiar e problematizar a situação existencial codificada (codificação pode se dar sob a forma de símbolos, objetos, gravuras, histórias etc.). Conforme o diálogo vai se estabelecendo, os mitos vão sendo destruídos e a realidade passa a ser desvelada. Devolvido o conhe-cimento organizado, sistematizado e acrescido do saber científico, já é possível apontar uma dimensão estratégica de ação. É preciso que se realize um “parto” para que o opressor hospedado no oprimido possa ser expulso, a liberdade possa se impor e um pessoa nova possa surgir: não mais desumanizada e não mais opressora, não mais expectadora passiva. Que surjam seres protagonistas, transformadores da realidade, criadores, livres. O diálogo dissolvendo mitos Mitos são aquelas “inverdades” propagadas para que seja possível manter a dominação e a estabilidade dos privilegiados. O poder dos mitos é tão grande que eles se instalam no nosso ser como se fossem verdades inquestionáveis, realidades quase divinas, 28
  • 30. Uma Pedagogia Humanizadora que não se pode sequer pensar em transformar. São alguns exemplos de mitos: “todos são livres para trabalhar onde quiserem” - “vivemos numa sociedade democrática” - “todos podem ser bem sucedidos na vida, bastando não serem preguiçosos” - “Quem é pobre é porque não se esforça o suficiente” – “Os pobres são mal agradecidos”. Paulo FREIRE cita também o mito dos Direitos Humanos, o mito da “propriedade privada como fundamento da pessoa humana” (desde que, pessoas humanas sejam apenas as classes mais abastadas). E tantos outros. Há também o mito da “mão invisível do mercado”. Segundo este último, o mercado seria sábio suficiente para organizar toda a ordem social bastando para isso, deixá-lo em liberdade e alimentá-lo. Quanto ao mito da “ignorância das massas” é o que alimenta a concepção bancária da educação. Com a crença de que o oprimido é ignorante, resta depositar conteúdos. O papel da liderança Antes de discutirmos o papel da liderança, é preciso que nos certifiquemos se nossa ação junto ao povo oprimido tem como verdadeiro objetivo a superação de uma sociedade desigual ou se limita a "passar panos quentes" sem tocar na raiz do problema. Se nosso raio de visão alcança somente as formas de atuação que se esgotam na distribuição de alimentos para "os pobres" ou "qualificação profissional" para que eles possam se "libertar" da cesta básica concedida, é preciso repensar toda a prática. Estaremos a serviço da desumanização ou da libertação? O que significa libertação? O que representa a qualificação numa 29
  • 31. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária sociedade extremamente competitiva, onde vigora a "lei da selva" e os mais poderosos "engolem" os mais fracos? Qualificados profissionalmente, quais oportunidades reais terão os oprimidos de adentrar na feroz competição capitalista? Eles têm as mesmas chances e as mesmas armas que as outras pessoas? E os critérios que o mercado exige, como a boa aparência, escolaridade, idade, dentre outros? Como eles vão atender a todos estes requisitos? Se estivesse ao nosso alcance ajudar os oprimidos que estão junto a nós a atender a todas as exigências do mercado, estaríamos satisfeitos? E os outros oprimidos que vão se multiplicando a cada dia? Adianta incluir alguns e deixar tantos outros do lado de fora? E o mercado? O que é, afinal, o mercado? Por que ele tem o poder de incluir e de excluir pessoas? Todas estas questões precisam ser refletidas para que possamos compreender o que Paulo Freire denomina liderança revolucionária. Esta liderança busca construir, junto com o povo, uma outra sociedade: justa, democrática, verdadeiramente solidária. Por isso é chamada liderança revolucionária. Revolução precisa ser compreendida como transformação. Por isso, a liderança revolucionária busca a transformação da sociedade, porque ela está ao lado dos oprimidos que são prejudicados pelo modelo atual. Ao contrário, a liderança dominadora compactua com a lógica que produz e mantém a miséria e a desumanização. Paulo Freire nos diz que, de modo geral, lideranças revolucionárias são aquelas pessoas procedentes dos estratos sociais dos dominadores. Num certo momento de sua existência, muitas vezes impulsionadas por uma análise científica da realidade, estas pessoas optam por adotar a causa das populações oprimidas, num gesto de solidariedade, de compromisso, de amor. 30
  • 32. Uma Pedagogia Humanizadora Paulo Freire aponta vários aspectos essenciais que a liderança revolucionária deve atentar para não reproduzir as práticas históricas de opressão. Seguem alguns deles. Acreditar no povo - A liderança revolucionaria não pode acreditar na ignorância dos oprimidos. Paulo Freire é duro quando diz que a liderança "não tem sequer o direito de duvidar, por um momento, de que isto é um mito". (p.131). Problematizar os mitos – A liderança revolucionária deve, ao contrário, problematizar estes mitos que a classe dominante utiliza para oprimir. Desta forma, “não imitar os opressores nos seus métodos dominadores” . (p.132). Pensar com o oprimido – Se a liderança não pensar com os oprimidos, ela estará renunciando a si própria de pensar, porque a reflexão revolucionária é feita em conjunto com as massas. São os opressores que pensam para as massas, para melhor dominá-las. Enquanto a liderança dominadora sobrevive pensando para o opri-mido, a liderança revolucionária morre se pensar sem ele. (p. 129) 31
  • 33. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária Compreender que as pessoas também aprendem fazendo – Os oprimidos não têm experiência de diálogo, de democracia, de tomada de decisão. No entanto, somente praticando é que vão aprender. As lideranças de Clubes de Trocas, por exemplo, devem, nas reuniões, portar-se de forma discreta, para que os participantes decidam por si os encaminhamentos necessários. A liderança pode problematizar as decisões que eles tomam, nunca substituí-las por outras que ela julgue mais corretas. Isto implica no risco de errar. Mas somente errando é que aprendermos. Paulo Freire lembra que não é na biblioteca que se aprende a nadar, mas entrando na água. (p. 134). A experiência dos Clubes de Trocas mostra que os partici-pantes geralmente demonstram muita sabedoria nas suas decisões e encaminhamentos. Muita vezes, diante de algum dilema, apontam soluções surpreendentes. Ocorre também do grupo tomar decisões equivocadas e as conseqüências prejudicarem o andamento dos trabalhos. Neste caso, sempre é possível, democraticamente, que o próprio grupo repare o erro e adote outros procedimentos. Este é um rico exercício de crescimento, de prática democrática. Utilizar a ciência em favor da humanização – As lideranças dominadoras sempre utilizaram a ciência para melhor dominar, desumanizar, obter e preservar vantagens. As lideranças revolu-cionárias utilizam a ciência para libertar e humanizar. (p. 131). A liderança desempenha um papel fundamental no processo de libertação, mesmo que sua atuação seja discreta. Para Paulo Freire ela deve estar em permanente comunhão com o povo, em situação de igualdade, num “fazer junto com” ao invés de “fazer para”, sem querer obter um papel de destaque, de “estrela”. São estas as palavras de Paulo Freire, confirmando o papel decisivo da liderança revolucionária “o opressor elabora a teoria de 32
  • 34. Uma Pedagogia Humanizadora sua ação necessariamente sem o povo, pois que é contra ele. O povo, por sua vez, enquanto esmagado e oprimido, introjetando o opressor, não pode, sozinho, constituir a teoria de sua ação libertadora. Somente no encontro dele com a liderança revolucio-nária, na comunhão de ambos, na práxis de ambos, é que esta teoria se faz e se re-faz”. (p. 183) 33 PARTEIRA “Imagina-te como uma parteira. Acompanhas o nascimento de alguém, sem exibição ou espalhafato. Tua tarefa é facilitar o que está acontecendo. Se deves assumir o comando, faze-o de tal modo que auxilies a mãe e deixes que ela continue livre e responsável. Quando nascer a criança, a mãe dirá com razão: Nós três realizamos esse trabalho.” (Lao Tse) União, organização e síntese cultural A ação antidialógica atua para manter intactas as estruturas de poder. No máximo aceita e/ou promove reformas que não abalem os poderes centrais de decisão, a manutenção dos privilégios e a estrutura desigual. Podem ser admitidas também ações que aparentemente beneficiem os oprimidos mas estas, de acordo com a ação antidialógica, ou de dominação, têm finalidade anestesiante, e as massas continuam mudas, alienadas, hospedando dentro de si o opressor. Dividir as massas oprimidas, impedir qualquer tipo de união,
  • 35. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária buscar fragmentar a realidade para que o povo não vislumbre a totalidade, encobrir a realidade, explorar a insegurança do oprimido, principalmente por meio suas condições materiais precárias, manipular, promover uma invasão cultural... todos estes são artifícios de que se utiliza o poder para manter a dominação e preservar privilégios. Por isso, a necessidade de buscarmos juntos a união, organização e a síntese cultural, que tem a pedagogia da libertação como ponto de partida. Segundo Paulo Freire, “para que os oprimidos se unam entre si, é preciso que cortem o cordão umbilical de caráter mágico e mítico, através do qual se encontram ligados ao mundo de opressão. (...) a união dos oprimidos exige deste processo que ele seja, desde o começo, o que deve ser: ação cultural.” (p. 174). Com o quadro abaixo procuramos fazer um paralelo entre a invasão cultural na teoria antidialógica (que serve aos opressores) e a síntese cultural para a liberdade, que é tarefa dos povos oprimidos em busca de libertação: Invasão Cultural X Síntese Cultural 34 INVASÃO CULTURAL NA TEORIA ANTIDIALÓGICA DA AÇÃO SÍNTESE CULTURAL NA TEORIA DA AÇÃO DIALÓGICA Invasores entram no mundo dos opri-midos para ensinar, transmitir, entre-gar. Atores entram no mundo dos oprimi-dos para conhecimento mútuo. Ação é mediatizada pela tecnologia (principalmente TV). Os invasores nem precisam ir pessoalmente ao terri-tório dos oprimidos. Atores se integram com os homens do povo, que também são atores da ação que ambos exercem sobre o mundo Os espectadores e a realidade deve ser mantida como está. Não há expectadores, mas sim sujei-tos ativos que transformam uma reali-dade dinâmica. Está a serviço da manipulação, da conquista e da dominação Está a serviço da união, da organiza-ção, para a liberdade.
  • 36. Uma Pedagogia Humanizadora No último capítulo da “Pedagogia do Oprimido” Paulo Freire destaca: “Todo o nosso esforço neste ensaio foi falar desta coisa óbvia: assim como o opressor, para oprimir, precisa de uma teoria da ação opressora, os oprimidos para libertar-se, igualmente, necessitam de uma teoria de sua ação.” (p. 183). Que a teoria dialógica da ação possa nortear nossa prática, iluminar os nossos relacionamentos em família, no trabalho, na comunidade, com os oprimidos, para um processo mútuo de libertação. Utopia Paulo Freire pensava ser necessário haver um espaço na prática educativa, dedicada aos sonhos possíveis. Sonhos que surgem como anúncio, a partir da denúncia. O sonho como profecia, que se estabelece a partir da idealização do novo, do mundo que se quer viver. É visitar o amanhã a partir do hoje. Paulo Freire diz que todos nós podemos ser profetas: “Profetas não são homens ou mulheres desarrumados, desengonçados; se homens, barbudos, se mulheres, cabeludas, sujos, metidos em roupas andrajosas e pegando cajados. Os profetas são aqueles ou aquelas que se molham de tal forma nas águas da sua cultura e da sua história, da cultura e da história de seu povo, dos dominados do seu povo, que conhecem o seu aqui e o seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que eles mais do que adivinham, realizam”. 35
  • 37. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária E Paulo Freire conclui: “Eu diria a nós, como educadores e educadoras: ai daqueles e daquelas, entre nós, que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar. Ai daqueles e daquelas que, em lugar de visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o aqui e com o agora; ai daqueles que em lugar desta viagem constante ao amanhã, se atrelem a um passado de exploração e de rotina”. (p. ). 36
  • 38. Uma Pedagogia Humanizadora Considerações Finais Esperamos que este caderno, o número 1 da série “História Social do Trabalho”, contribua para a ação e reflexão de todos e todas que, realizando trabalhos educativos e ajudando o povo a ser organizar, fundem sua prática no diálogo e ousem acreditar na construção de pessoas e de um mundo novos. Como vimos, a utopia para Paulo Freire, não é o irrealizável, mas algo já inscrito como possibilidade na história humana. Daí que esta caderno é feito para aqueles e aquelas que acreditam que um outro mundo é possível e lutam para construí-lo, todos os dias, em todos os lugares onde vivem e atuam. Utilizá-lo como luz que ilumina a prática social educativa junto com os oprimidos é nossa proposta. Que ele cumpra sua finalidade é o nosso desejo. E que seja superado, criticado e complementado com outras leituras de obras de Paulo Freire ou outros pensadores brasileiros que como ele, buscaram e buscam fazer daqui, um país justo e solidário. 37
  • 39. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária Referências Bibliográficas FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 17.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. _____. Pedagogia do oprimido. 14.ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. _____. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma in-trodução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo, Moraes, l980. _____ . A educação na cidade. 4 .ed. São Paulo, Cortez, 2000. RIBEIRO, Darci. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, l995. 38
  • 40. Uma Pedagogia Humanizadora Escreva aqui um resumo do caderno e as dúvidas que ficaram 39
  • 41. Escola de Formação Básica Multiplicadora da Economia Popular Solidária 40