"Na ponta de cada sonho, no despertar de cada dedo" traduz a vida de uma personagem que desde a infância é capaz de se lembrar de sonhos e passa a anotá-los em uma espécie de diário. Com pitadas de realismo baseadas na vida da escritora, a trama se desenrola de forma poética evidenciando a paixão pelo místico. Os dedos foram despertos por fragmentos de sonhos e devaneios permitindo o passeio entre mundos, muitas vezes, se confundindo com a realidade, trazendo um passado que vive no presente.
4. Para Ivone, que me semeou em seu ventre,
e proporcionou-me a vida em plenitude.
Para Fabio Viegas, por amar-me a cada dia e apoiar
a realização dos meus mais loucos devaneios.
Para meu filho Natan, meu menino em forma de presente que
me faz sentir especial a cada carinho oferecido.
Para Liane, pessoa iluminada que sempre fez parte da minha
vida ensinando-me, nas entrelinhas, que a nossa existência é
uma dádiva divina.
Para os sobrinhos queridos, que me fazem resgatar a cada dia as
belezas da infância, as canções e brincadeiras adormecidas
dentro de mim e que se fazem presentes através dos sorrisos que
partilhamos.
Para Ana Paula, a amiga artesã, de um talento sem igual, que
deu forma à Nazeo e aos demais andarilhos.
Aos demais parentes e amigos, pela companhia nas madrugadas
insones, pelos bate-papos, pelas lições aprendidas e
compartilhadas, pelos momentos de descontração e carinho.
A todos, que me amam e me respeitam como eu sou, por me
permitirem dividir essa experiência.
5. Nota:
Os Bosques de Alim, bem como seus habitantes, existem
somente na imaginação da escritora. As personagens deste livro
são todas imaginárias. Se existir alguma identificação com
quaisquer fatos relatados, fácil se conclui que todos partilhamos
de uma vida em comum e que inspirações podem se cruzar nesta
fantástica jornada.
Do mesmo modo, se encontrar seu nome sendo usado nesta
obra, lembre-se que qualquer nome inventado por um escritor
certamente já foi dado a alguém neste mundo sobre povoado.
Portanto, neste romance baseado em sonhos, por vezes, a
realidade se mistura à ficção tendo como base tão somente à
imaginação e as experiências de vida da autora.
Mila Viegas
6. Mila Viegas
Índice
Apresentação .....................................................................07
Prólogo – Nazeo,o gnomo. .................................................09
1. Primeiro registro no caderno de sonhos ..........................12
2. A cidade do interior e seus encantos...............................19
3. O arco-íris no dedo de Kland..........................................26
4. Tecendo enigmas ...........................................................37
5. O desejo oculto ..............................................................51
6. Os sonhos desvendados..................................................59
7. A mudança.....................................................................68
8. Os jardins e as Asazuis...................................................84
9. Bosques de dúvidas........................................................92
10. As Asazuis e a fuga de Nazeo ......................................102
11. Mensagem de Alim ......................................................109
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7. Na ponta de cada sonho, no despertar de cada dedo.
APRESENTAÇÃO
Esta obra traduz a vida de uma personagem que é
conduzida por uma urdidura de fios invisíveis tecida por seres
imaginários. A inspiração partiu através de um exercício que me
propus para estimular a criatividade em uma tarde de outono,
enquanto admirava as coleções de gnomos, duendes e bruxas
que se exibem sobre a lareira da minha sala de estar.
Com pitadas de realismo baseadas em minha própria
vida, descrevo de forma poética a paixão pelo místico,
revelando sonhos tidos em algumas madrugadas, que ficaram
anotados num caderno que guardo ao lado da cabeceira da cama.
Nazeo, o gnomo, que se insere no Prólogo, acabou por
despertar e fazer fluir todo o enredo naturalmente. As poesias
contidas nesta obra foram criadas antes do seu processo de
escrita e, por alguma razão, complementaram perfeitamente a
narrativa.
Os dedos foram despertos por fragmentos de sonhos e
devaneios que me permitiram passear entre mundos, muitas
vezes, fazendo com que eu não distinguisse em qual ponta
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8. Mila Viegas
terminava a realidade e começava a fantasia. Confesso que ainda
não consigo separá-las.
Quando escrevi o meu primeiro livro, De-Lírios:
Devaneios em forma de poesia, percebi que a busca sempre
esteve presente na minha vida, reunindo em versos displicentes,
compostos ao longo dos anos, temas semelhantes que se
complementavam. Alguns versos poderão ser lidos aqui, nesta
obra repleta de sentimentos que, muitas vezes, arrancou-me
soluços impedindo-me de continuar a narrativa. Nessas horas, a
companhia de uma xícara de café bem forte e quente aqueceu-
me o coração transbordante de emoções.
Na ponta de cada sonho, no despertar de cada dedo, traz
um passado que vive no presente e creio que assim será até o
momento que a minha alma ascender para outro mundo.
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9. Na ponta de cada sonho, no despertar de cada dedo.
PRÓLOGO
Nazeo, o gnomo
Ele se sentava olhando para frente. O pé direito torto,
virado para fora. Recostava num porta-retrato com a foto de um
casal apaixonado. Ao seu lado, uma bruxa de curtos cabelos
loiros o observava com a feição emburrada. Ele não ligava! Seus
olhos estavam sempre vidrados no quadro... Primavera de
Botticelli...
Tinha barbas brancas, se parecia com um papai Noel do
reino encantado. Mas era esguio. Roupas vermelhas, sapatos
verdes em formato de folhas e guizos nas pontas. Suas orelhas
pontiagudas escutavam as conversas e confissões dos habitantes
deste lugar, enquanto seu mundo se resumia à grossa prateleira
de madeira de lei que pousa entre a lareira e a chaminé. Não
vivia sozinho. Lá existem mais um bocado de semelhantes
trajando vestes coloridas. Bruxas jovens, bruxa velha, mamãe e
filhinha joaninhas, o gato da sorte que perdeu seu irmão gêmeo
em mil pedaços, garrafas de vinho fazendo as vezes de vasos
com flores sem vida.
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10. Mila Viegas
Quem se senta aqui, deste ângulo podia vê-lo. Era
comum o confundirem com o natal e, em algumas ocasiões, ele
mais se parecia com um palhaço sem expressão. Ele jamais
levou isso a mal. Às vezes, ele mudava de posição. Talvez por
um esbarrão ou uma limpeza no local. Mas, dia desses, ele
pareceu ter descoberto que além das fronteiras das janelas existe
uma floresta exuberante. Pensou ser mais um quadro
impressionante como os jardins de Monet.
No inverno, via fragmentos do vale e acreditou que o
artista o tinha pintado em pequeninas telas retangulares que,
unidas, promoviam todo aquele efeito deslumbrante. Esqueceu
Botticelli e se pôs a admirar a outra obra de arte, muito mais
interessante, de um pintor que não sabia o nome. Intrigava-se
com o fato do quadro mudar de estação, numa verdadeira
interação, mais parecendo uma televisão... Ora chovia, ora as
brumas embaçavam a visão, ora o sol resplandecia.
Quando a primavera chegou, ele pôde contemplar todo o
panorama. Janelas abertas, um quadro real que exalava o cheiro
do mato e o perfume das flores, borboletas bailando em espiral.
E, desde então, ele se esforçou para chegar mais perto, sem
saber ao certo, o que encontraria além. E eu assisti a fantasia do
homenzinho em sua aventura imaginária.
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11. Na ponta de cada sonho, no despertar de cada dedo.
Algumas vezes, a prateleira era limpa e ele, sem querer,
retornava à original posição. Sentia pena de tanto esforço ser em
vão. Mas, numa manhã muito próxima do verão, sentei-me aqui
e algo parecia estar errado, não vi mais o homenzinho sentado.
Na certa ele fugiu quando a janela estava aberta e, seguiu seu
caminho numa nova excursão.
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