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Alta Velocidade - Cronicas Pequenas e Divertidas
Já fazia um bom tempo que aquele policial estava de
olho naquele motorista apressadinho. Ele pensou:
Amanhã esse malandro não vai me escapar. Vou
pará-lo e lhe darei uma multa daquelas bem
salgadas. O engraçadinho não perde por esperar.
No dia seguinte o policial fez o sinal para que o
motorista infrator parasse. O motorista atendeu
prontamente e parou o veículo. Sem perder tempo o
policial foi logo dizendo:
- Hã!...Hã! Bonito heim! Até que enfim nos
encontramos. Por acaso o senhor sabia que já faz
um bom tempo que eu estava aqui a sua espera.
- Puxa vida seu policial! Sinceramente, sinto muito!
Eu juro que eu não sabia, só fiquei sabendo disso há
alguns minutos atrás e, como o senhor mesmo viu,
eu vim o mais rápido que pude...
Edilson Rodrigues Silva
Tudo vai melhorar! Cronicas Pequenas e Engraçadas
Numa feira de agropecuária, um fazendeiro do Mato
Grosso do Sul encontrou-se com um Fazendeiro do
estado do Tocantins:
O Fazendeiro do Mato Grosso do Sul perguntou:
- Cumpadre, se o senhor não se importa deu
perguntar, qual é o tamanho da sua fazenda?
O Fazendeiro do Tocantins respondeu:
- Oíacumpadre, acho que deve di dar aí uns
quatrocentos hectare é piquinina. E a sua?
Como o fazendeiro do Mato Grosso do Sul era
daquele tipo meio arrogante e cheio de mania de
grandeza ele foi logo esnobando o outro fazendeiro
dizendo:
- Cumpadre, o senhor sabe que eu nunca interessei
de contá eu só sei que eu saio de manhã bem
cedinho e quando é meio dia eu ainda nem cheguei
na metade da propriedade. Respondeu o fazendeiro
do Mato Grosso.
O fazendeiro do Tocantins, muito comovido com a
situação, deu uns tapinhas nas costas do fazendeiro
do Mato Grosso e disse:
- Eu sei cumpadre. É fogo mesmo! No começo eu
também andava de carroça...Squenta não!...Guenta
firme cumpadre! Tenho certeza que tudo vai
melhorar!
Edilson Rodrigues Silva
O Boletim Escolar - Cronicas Engraçadas e Textos Engraçados
Uma garota tinha que entregar oboletim escolar dela para os seus pais e, as
notas ali, não eram as notas do sonho de nenhuma mãe muito menos de
nenhum pai. Ela usou a criatividade para contar essa maravilhosa notícia.
Oi papai! Oi mamãe!
É com o coração partido, mas muito feliz da vida. Que eu digo para vocês que
eu sai fora com o Dudu, ele é o homem da minha vida.Ele é tudo de bom.
Estou absolutamente fascinada com as suas tatuagens, com aquele cabelo
moicano, com aqueles ferros e piercings que ele coloca naquele corpinho
maravilhoso. Entretanto. Tenho que lhes contar que não é só isso. O Douglas,
aquele menino que vocês não gostam dele de jeito nenhum, ele está com a
gente.
Portanto não se preocupem comigo. Já tenho 15 anos e sei muito bem me virar
sozinha tá.Com amor e carinho da sua querida filhinha.
Ah! Pai, mãe, isso é só uma brincadeirinha viu! Estou na casa da Mariana, só
queria mostrar para vocês que há coisas bem piores na vida que estas notas
que estão aí no boletim. Não se estressem Ok!. No ano que vem eu me
recupero. Beijinhos!
Resposta dos pais:
Querida filhinha,
Quando a sua mãe leu a sua carinhosa cartinha, ela passou muito mal e foi
parar no pronto socorro. Imediatamente você foi retirada do nosso testamento e
sua parte da herança será do seu irmão. Todas as coisas do seu quarto foram
doadas para o pessoal do orfanato, cancelamos o seu celular e o seu cartão de
crédito. Todos os seus Cd’s do NX0, do Justin Bieber, do Restart, do Cine, do
Jonas Brothers, do Fiuk e do Luan Santana nós doamos para a Karina do
segundo andar, aquela mesma garota que você acha insuportável. Lembra, ela
é aquela garota super legal que no ano passado roubou o Rafinha, aquele seu
namorado gatinho que até hoje você não esqueçe. Pode ir arrumando um bom
emprego porquedinheiro daqui de casa nem em sonho viu.
Enfim, espero que você seja muito feliz na sua nova vida.
Nota! Filha querida, claro que tudo isso não passa de uma brincadeirinha da
nossa parte. A sua mãe está aqui comigo assistindo Eu a Patroa e as Crianças
e tudo está bem.
Só queríamos lhe mostrar que há coisa bem piores do que passar as próximas
cinco semanas sem sair de casa, sem celular, sem Internet, sem vídeo
game, sem televisão e, principalmente, sem ir à casa da camila. Tudo isso por
causa dessas notas ridículas e, dessa brincadeira idiota que você fez com
agente.
Edilson Rodrigues Silva
Cuidado cão bravo - Histórias engraçadas
À noite, aqueles dois assaltantes resolveram entrar naquela casa de praia que
estava em reforma.
Logo na entrada o primeiro ladrão notou um grande cartaz onde estava escrito:
“Cuidado! Cão corintiano e anti-social”
- Você não falou que à noite não tinha cachorro aqui. Disse o primeiro marginal.
- Eu disse! Foi o que deu para perceber durante o dia. O dono trás os cães com
ele e depois ele os leva de volta para a cidade. Pode ficar tranqüilo. Não tem
perigo. Olha! Eu vou por aqui e você vai pelos fundos Ok! Disse o segundo
bandido.
- Ok! Concordou o primeiro ladrão.
Assim que eles se separaram o primeiro ladrão foi até os fundos da casa e
depois de uns minutos o meliante voltou correndo mais rápido que The flash.
Ele passou pelo segundo ladrão e disse:
- Corre mano!...Corre!...Corre!
E saiu correndo mais que raio em direção a rua.
O segundo bandido, atônito, e sem saber o que fazer também começou a
correr na mesma direção.
Depois, mais calmos, os dois marginais se encontraram:
- Cara! O que foi que aconteceu? Você viu alguma coisa? Era gente? Era um
cachorro? Ele te mordeu? Perguntou o segundo bandido.
- Não, não era gente não. Eu sai correndo foi por causa do cachorro. Disse o
primeiro meliante.
- Cachorro! Você viu o cachorro? Perguntou o segundo bandido.
- Sorte minha que eu não vi o cachorro não. Mano, eu vi foi o prato da fera.
Cara nós tivemos muita sorte. Só pelo tamanho do prato em que ele come deu
pra ver que se ele tivesse nos encontrado nós estaríamos fritos, não ia sobrar
nada para contar história. Disse aliviado o primeiro ladrão.
No dia seguinte, na casa em reforma:
- Ôxente! Ô Juca! Cê viu o que aconteceu com a caixa de massa de cimento?
Ela está cheia de marca de pé de gente. Será que entrou ladrão aqui?
Perguntou um dosoperários.
Edilson Rodrigues Silva
O REVÓLVER DO SENADOR
O Senador ainda estava na cama, lendo calmamente os jornais, e eram dez
horas da manhã. Súbito ouve a voz do netinho de quatro anos de idade por
detrás da folha aberta, bem junto de sua cabeça:
– Vovô, eu vou te matar.
Abaixou o jornal e viu, aterrorizado, que o menino empunhava com as duas
mãos o revólver apanhado na gaveta da cabeceira. Sempre tivera a arma ali
ao seu alcance, para qualquer eventualidade, carregada e com uma bala na
agulha. Nunca essa eventualidade se dera na longa seqüência de riscos e
tropeços que a política lhe proporcionara. No entanto, ali estava, agora,
apanhado de surpresa, sob a mira de um revólver. O menino começou a rir de
sua cara de espanto.
– Eu vou te matar – repetiu, dedinho já no gatilho.
O menor gesto precipitado e a arma dispararia.
Pensou em estender o braço e ao menos afastar o cano de sua testa, que já
começava a porejar suor. Mas temeu o susto da criança, o dedo se contraindo
no gatilho... Tentou falar e de seus lábios saíram apenas sons roufenhos e mal
articulados.
– Não me mata não – gaguejou, afinal: – você é tão bonzinho...
– Pum! Pum! – e o demônio do menino sempre a rir, só fez dar um passo para
trás; que o colocou fora de seu alcance. Agora estava perdido.
– Cuidado, tem bala... – deixou escapar, e a voz de novo lhe faltou. Toda uma
vida que terminava ali, estupidamente nas mãos de uma criança – de que
adiantara? Tudo aflição de espírito e esforço vão. Se alguém entrasse no
quarto de repente, a mãe, a avó do menino... Que é isso, menino! Você mata
seu avô! Com o susto... Senti o pijama já empapado de suor. Era preciso fazer
alguma coisa, terminar logo com aquela agonia. Estendeu mansamente o
braço trêmulo:
– Me dá isso aqui...
– Mãos ao alto! – berrou o menino, ameaçador, dando passo para trás, e as
mãos pequeninas se firmaram ainda mais no cabo da arma. O Senador não
teve outra coisa a fazer senão obedecer.
E assim se compôs o quadro grotesco: o velho com os braços erguidos, o guri
a dominá-lo com o revólver. De repente, porém, o telefone tocou.
– Atende aí – pediu o Senador, num sopro.
Estava salvo: o menino tomou do fone, descobrindo brinquedo novo, e abaixou
o revólver. O Senador aproveitou a trégua para apoderar-se da arma. Então
pôs-se a tremer, descontrolado, enquanto retirava as balas com os dedos
aflitos. O menino começou a chorar:
– Me dá! Me dá!
A mulher do senador vinha entrando:
–O que foi que você fez com ele? Está com uma cara esquisita... Que
aconteceu?
– Acabo de nascer de novo – explicou simplesmente.
Fernando Sabino
VIÚVA LOURA
- "Viúva, 21 anos..."
- Tadinha. A vida é isso.
- "Loura..."
- Melhorou.
- "Fazendeira, rica..."
- Epa, muda completamente de figura.
- "Pertencente a tradicional família mineira..."
- Corta essa!
- "Recém-chegada do interior..."
- Então, não custa sondar a barra.
- "Procura companhia masculina..."
- Ainda bem que é masculina. Tou às ordens.
- "Que seja jovem..."
- Você acha que 38 anos está na pauta?
- "Bem intencionado..."
- Nunca fui outra coisa na vida.
- "De fino trato..."
- Não é por me gabar, mas...
- "Conhecedor dos pontos pitorescos do Rio..."
- Que é que ela entende por pontos pitorescos? Eu prefiro pontos estratégicos.
- "Para passeios e ..."
- Etc., lógico.
- "Futuro compromisso matrimonial..."
- Corta! Corta!
- É mesmo.
- Aliás, eu não tenho mais de 38. Tinha, semana passada.
- E rica... Rica de que? Talvez de predicados apenas.
- Poxa, até parece que você está querendo a viúva pro seu bico. Pera aí, mau- caráter.
- Eu? Vê lá se eu vou nessa onda de anúncio. Tou prevenindo pra você não se grilar.
Viúva, mineira, loura... Se é mineira, não deve ser loura. Se é loura. É artificial. Se é
artificial...
- Deixa a viuvinha ser loura e mineira, deixa.
- Olha, eu conheci uma loura que, além de outros negativos, era careca.
- Ora, peruca resolve.
- Sei não, mas tudo isso junto- mineira, viúva, loura, 21 anos, rica...
- Que é que tem?
- É exagero. Não precisava Ter tantas qualidades.
- Foi uma graça de Deus.
- Você não merece tanto.
- Será outra graça de Deus.
- Deus não deve ser assim tão desperdiçado com suas graças.
- Lá vem você querendo dar instruções ao Altíssimo. Perde essa mania.
- Bom, mas você não sabe que mineiro esconde milho até de monjolo?
- Continua.
- "Cartas com sigilo absoluto..."
- Evidente.
- "Indicações pessoais..."
- Minha ficha é mais limpa do que caixa d'água de edifício quanto o síndico vai ao
terraço.
- "E fotos..."
- Arrgh! Só tenho 3x4, muito fajuta. Mas tiro de calção, frente, perfil e fundos.
- "Para a portaria desse jornal, sob n° 019 834."
- Pera aí. Tou anotando. 019?
- 834.
- Legal. 834 é o número de meu edifício, 19 é pavão, que tem a perna dourada. Lê mais.
- Já li tudo, ué.
- Lê outra vez. Repete.
- Vai decorar?
- Vou gravar melhor na nuca, vou raciocinar em bloco, vou...
- Se habilitar, né?
- Correto.
- Calma, rapaz. Sabe lá que espécie de viúva é essa?
- Vou ver pra conferir.
- Pode nem ser viúva.
- E daí?
- Diz que tem 21 anos, mas quem garante que não é modéstia? Às vezes tem três vezes
21.
- Então você admite que ela é mineira.
- E que cria galinha sem ração, na base da parapsicologia?
- Também sou mineiro, uai.
- E nunca me confessou. Eu jurava que você fosse capixaba.
- Fui. Questão de limites, minha terra passou pra banda de cá. Não espalha, sim?
- Me tapeou esse tempo todo.
- Esquece.
- Vai ser dura a parada: mineira loura versus mineiro mascarado.
- Fica em família, né?
- A tradicional?
- As duas. Eu na minha, ela na dela.
- Agora sou eu que digo: tadinha.
- Por quê? Se ela botou anúncio, quer transar. Eu transo. No figurino.
- É verdade que tem muito carioca por aí, muito paulista, muito nortista, espiando maré.
Talvez você chegue tarde.
- Duvido. Você sabe que nessas coisas sou meio Fittipaldi. Comigo é Fórmula-1.
- Mineiro contando prosa? Nunca vi isso.
- Bem, mineiro é capaz de contar prosa só pra esconder que é mineiro...
- Chega, amizade, você já ganhou a viuvinha com fazenda e tudo, podes crer!
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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Vida em Manchetes
Viu só? Caiu outro avião.
- É. Desta vez foram 85 mortos.
- Já tomei uma decisão: nunca mais entro j em avião.
- Bobagem.
- Bobagem é morrer.
- Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em
acidentes de...
- Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou
que eu ando mais magro? É de tanto caminhar.
- Você caminha por onde?
- Como, por onde? Pela calçada, ué.
- Dá todo dia no jornal. ―Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima
tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo.‖ A chamada ironia do destino.
- Quer dizer que calçada...
- É perigosíssimo...
- O negócio é não sair de casa.
- E, é claro, mandar cortar a luz.
- Por que cortar a luz?
- Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. ―Caiu da escada quando
trocava lâmpada. Fratura na base do crânio.‖
- Está certo. Corto a luz.
- ―Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea.‖ E
você vai cozinhar com quê?
- Gás.
- Escapamento. ―Visinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde.‖ Ou:
"Explosão de botijão arrasa apartamento.‖
- Fogareiro a querosene.
- ―Tocha humana! Morreu antes que...‖
- Comida enlatada fria.
- Botulismo.
- Mando comprar comida fora.
- Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia. ―Comida estragada,
diarréia fatal!‖
- Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina...
- Hepatite...
- ...e oxigênio
- Poluição. ―Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café.‖ Estrôncio 90 francês.
- Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito...
- Picada de cobra. Coice de Mula. Médico não chega a tempo.
- Não saio mais da cama!
- Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como
escapar.
- Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte.
- Qual é?
- Eu vou me suicidar.
Luís Fernando Veríssimo
Duzentos tiros de garrucha
A garrucha pendurada na parede não é um ornamento, mas um perigo, porque está com
os dois canos carregados.
― Seu Osório, por que o senhor mantém essa garrucha pendurada aí na parede, e
carregada?
― Ah, é por costume e precisão... Ninguém sabe o que pode acontecer.
Bem, a garrucha está em lugar um pouco mais alto do que ele, e não ao alcance das
crianças. Estas, porém, imprevisíveis e curiosas como são, podem pegar uma escada,
arrastar um móvel, subir nele e pegar a arma.
― Quantos tiros o senhor já deu com esta garrucha?
― Ah, pra mais de duzentos tiros...
― E acertou todos?
― Uai, quando se atira é para acertar... E quando falha a bala de um cano, tem a outra
no outro cano.
Sei que ele teve muitos entreveros, muitas brigas, mas não me consta que haja matado
ninguém. Ferido, sim, e respondeu a muitos processos. Agora, quase não sai de casa,
fica zanzando pelo quintal e cuidando das plantas.
― O senhor sabe que é preciso registrar as armas de fogo na Delegacia de Polícia, ainda
que elas só sejam mantidas dentro de casa?
― Bobagem... Que é que a polícia tem a ver com isso? Os ladrões, os bandidos,
registram as suas armas de fogo?
Tinha razão, na minha casa mando eu, e todo cidadão deve ter a sua arma, o cidadão faz
parte de uma milícia que, quando é preciso, derruba o governo despótico.
Ele, por exemplo, meteu-se em muitas revoluções, se bem que contasse depois que
todas elas são traídas.
― A arma é uma mulher, é preciso saber lidar com ela. Com a arma e com a mulher.
Bem tratadas, elas nunca negam fogo.
Casado há mais de cinqüenta anos, a sua Lindoca ainda o admira e respeita.
― Lindoca, minha flor, traz um café e um copo dágua fresca para a nossa visita.
Lindoca, ainda vaidosa, com uma flor entre os cabelos.
― Seu Osorinho, meu marido, espere que eu vou ainda moer o café. É só um
instantinho.
O moinho, na janela da cozinha. O café torrado ali mesmo, era ele chamado para vir dar
o ponto, na peneira. Café forte.
― A garrucha é uma arma antiquada. Temos hoje as pistolas automáticas, e até as
metralhadoras.
― Besteirada. O que vale não é a arma, mas o homem com a mão na arma. Esta minha
garrucha aí nunca me negou fogo.
Punhal e garrucha. Armas para serem usadas de perto, quase no corpo a corpo. Ele
conserva a sua garrucha azeitada e polido o punhal dentro da bainha.
― O senhor não tem medo da morte, seu Osório?
― Tenho não. Quando comparecer diante do Criador, vou armado com a minha
garrucha. E ele me perguntará: ―Para que essa garrucha, seu Osorinho? No céu não se
usa arma‖. E eu lhe responderei: ―Usa sim, senhor meu bom Deus. Como foi que o
senhor e os seus anjos fiéis expulsaram daqui o Diabo? Foi com raios e trovões. E ele
teve de se escafeder‖. E o meu Deus me dirá: ―Pois então entre, seu Osorinho, alma
cândida e valente‖.
A garrucha de seu Osório vai continuar pendurada na parede.
Para o que der e vier.
Anníbal Augusto Gama
O velho, o menino e a mulinha
O velho chamou o filho e disse:
- Vá ao pasto, pegue a mulinha e apronte-se para irmos à cidade, que quero vendê-la.
O menino foi e trouxe a mula. Passou-lhe a raspadeira, escovou-a e partiram os dois a
pé, puxando-a pelo cabresto. Queriam que ela chegasse descansada para melhor
impressionar os compradores.
De repente:
- Esta é boa! - exclamou um visitante ao avistá-los. - O animal vazio e o pobre velho a
pé! Que despropósito! Será promessa, penitência ou caduquice?...
E lá se foi, a rir.
O velho achou que o viajante tinha razão e ordenou ao menino:
- Puxa a mula, meu filho! Eu vou montado e assim tapo a boca do mundo.
Tapar a boca do mundo, que bobagem! O velho compreendeu isso logo adiante, ao
passar por um bando de lavadeiras ocupadas em bater roupa num córrego.
- Que graça! - exclamaram ela. - O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre
do menino a pé... Há cada pai malvado por este mundo de Cristo... Credo!...
O velho danou-se e, sem dizer palavra, fez sinal ao filho para que subisse à garupa.
- Quero só ver o que dizem agora...
Viu logo. O Izé Biriba, estafeta do correio, cruzou com eles e exclamou:
- Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez... Assim, meu
velho, o que chega à cidade não é mais a mulinha; é a sobra da mulinha...
- Ele tem toda razão, meu filho; precisamos não judiar do animal. Eu apeio e você, que é
levezinho, vai montado.
Assim fizeram, e caminharam em paz um quilômetro, até o encontro dum sujeito que
tirou o chapéu e saudou o pequeno respeitosamente.
- Bom dia, príncipe!
- Porque prícipe? - indagou o menino.
- É boa! Porque só príncipes andam assim de lacaio à rédea...
- Lacaio, eu? - esbravejou o velho. - Que desaforo! Desce, desce, meu filho e
carreguemos o burro às costas. Talvez isso contente o mundo...
Nem assim. Um grupo de rapazes, vendo a estranha cavalgada, acudiu em tumulto com
vaias:
- Hu! Hu! Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber
qual dos três é o mais burro...
- Sou eu! - replicou o velho, arriando a carga. - Sou eu, porque venho há uma hora
fazendo não que quero mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que
manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já que vi
que morre doido quem procura contentar toda gente...
Monteiro Lobato
O Leão e o Rato
Depois que o Leão desistiu de comer o rato porque o rato estava com espinho no pé (ou
por desprezo, mas dá no mesmo), e, posteriormente, o rato, tendo encontrado o Leão
emvolvido numa rede de caça, roeu a rede e salvou o Leão ( por gratidão ou mineirice,
já que tinha que continuar a viver na mesma floresta), os dois, rato e Leão, passaram a
andar sempre juntos, para estranheza dos outros habitantes da floresta ( e das fábulas). E
como os tempos são tão duros nas florestas quanto nas cidades, e como a poluição já
devastou até mesmo as mais virgens das matas, eis que os dois se encontraram, em certo
momento, sem ter comido durante vários dias. Disse o Leão:
- Nem um boi. Nem ao menos um paca. Nem sequer uma lebre. Nem mesmo uma
borboleta, como hors-d'oeuvres de uma futura refeição.
Caiu estatelado no chão, irado ao mais fundo de sua alma leonina. E, do chão onde
estava, lançou um olhar ao rato que o fez estremecer até a medula. " A amizade
resistiria à fome?" - pensou ele. E, sem ousar responder à própria pergunta, esgueirou-se
pé ante pé e sumiu da frente do amigo ( ? ) faminto. Sumiu durante muito tempo.
Quando voltou, o Leão passeava em circulos, deitando fogo pelas narinas, com ódio da
humanidade. Mas o rato vinha com algo capaz de aplacar a fome do ditador das selvas:
um enorme pedaço de queijo Gorgonzola que ninguém jamais poderá explicar onde
conseguiu ( fábulas!). O Leão, ao ver o queijo, embora não fosse animal queijífero,
lambeu os beiços e exclamou:
- Maravilhoso, amigo, maravilhoso! Você é uma das sete maravilhas! Comamos,
comamos! Mas, antes, vamos repartir o queijo com equanimidade. E como tenho receio
de não resistir à minha natural prepotência, e sendo ao mesmo tempo um democrata
nato e confirmado, deixo a você a tarefa ingrata de controlar o queijo com seus próprios
e famélicos instintos. Vamos, divida você, meu irmão! A parte do rato para o rato; para
O Leão, a parte do Leão.
A expressão ainda não existia naquela época, mas o rato percebeu que ela passaria a ter
uma validade que os tempos não mais apagariam. E dividiu o queijo como o Leão
queria: uma parte do rato, outra parte do Leão. Isto é: deu o queijo todo ao Leão e ficou
apenas com os buracos. O Leão segurou com as patas o queijo todo e abocanhou um
pedaço enorme, não sem antes elogiar o rato pelo seu alto critério:
- Muito bem, meu amigo. Isso é que se chama partilha. Isso é que se chama justiça.
Quando eu voltar ao poder, entregarei sempre a você a partilha dos meus bens que me
couberem no litígio com os súbditos. Você é um verdadeiro e egrégio merítissimo! Não
vai se arrenpender!
E o ratinho, morto de fome, riu o riso menos amarelo que podia, e ainda lambeu o ar
para o Leão pensar que lambia os buracos do queijo, E enquanto lambia o ar, gritava, no
mais forte que podiam seus fracos pulmões:
- Longa vida ao Rei Leão ! Longa vida ao Rei Leão!
MORAL : Os ratos são iguaizinhos aos homens.
Millôr Fernandes
A bola
O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a
sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais
de couro, era de plástico. Mas era uma bola.
O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse ―Legal!‖. Ou o que os garotos dizem
hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois
começou a girar a bola, à procura de alguma coisa.
- Como é que liga? – perguntou.
- Como, como é que liga? Não se liga.
O garoto procurou dentro do papel de embrulho.
- Não tem manual de instrução?
O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são
decididamente outros.
- Não precisa manual de instrução?
- O que é que ela faz?
- Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela.
- O quê?
- Controla, chuta…
- Ah, então é uma bola.
- Claro que é uma bola.
- Uma bola, bola. Uma bola mesmo.
- Você pensou que fosse o quê?
- Nada, não.
O garoto agradeceu, disse ―Legal‖ de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente
da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo
chamado Monsters Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola
em forma de blipeletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir
mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava
ganhando da máquina.
O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no
paito do pé, como antigamente, e chamou o garoto.
- Filho, olha.
O garoto disse ―Legal‖ mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as
mão as e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava
a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês,
para a garotada se interessar.
Luis Fernando Veríssimo
A Velha Contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela
fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da
Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou
ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que
diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela
adquirira no odontólogo, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha
saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e
dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela
montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro
com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na
lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela
levava no saco e ela respondeu que era areia, uai!
O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha
e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa
de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o
fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não
conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora
está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha.
- Juro - respondeu o fiscal.
- É lambreta.
Stanislaw Ponte Preta
Assalto a Banco
Alô? Quem tá falando?
— Aqui é o ladrão.
— Desculpe, a telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do
banco. Tem algum funcionário aí?
— Não, os funcionário tá tudo refém.
— Há, eu entendo. Afinal, eles trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário
ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro
emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um
deles?
— Impossível. Eles tá tudo amordaçado.
— Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da
rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
— Claro que não mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar
mais seguro pra se comandar assalto!
— Bom... Sabe o que que é? Eu tenho uma conta...
— Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero!
— Não, isso eu já sabia. Eu sou professor! O que eu queria mesmo era uma informação
sobre juro.
— Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a
banco, vez ou outra um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pra Brasília.
— Sei, sei. O senhor ta na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando
por um voto hoje em dia... mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu
atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa.
— Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto!
— Longe de mim pensar que o senhor está de brincadeira! Que é um assalto eu sei
perfeitamente; ninguém no mundo cobra os juros que cobram no Brasil. Mas queria
saber o número preciso: seis por cento, sete por cento?
— Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da
intimidação e da chantagem, saca?
— Ah, já tava esperando. Você vai querer vender um seguro de vida ou um título de
capitalização, né?
— Não...já falei...eu sou... Peraí bacana... hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho.
(um minuto depois)
— Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês.
— Puxa, que incrível!
— Incrivepor que? Tu achava que era menos?
— Não, achava que era mais ou menos isso mesmo. Tô impressionado é que, pela
primeira vez na vida, eu consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de
serviço pelo telefone em menos de meia hora e sem ouvir 'Pour Elise'.
— Quer saber? Fui com a tua cara. Acabei de dar umas bordoadas no gerente e ele falou
que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
— Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
— Nadica de nada, já ta tudo acertado!
— Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa...
(De repente, ouvem-se tiros, gritos)
— Ih, sujou! Puliça!
— Polícia? Que polícia? Alô? Alô?(sinal de ocupado)
— Droga! Maldito Estado: quando o negócio começa a funcionar, entra o Governo e
estraga tudo!
Luís Fernando Veríssimo
A Dona Raposa e o Burro
O Raposa e o Burro estão fazendo uma brincadeira, cujas regras são:Cada um
faz uma pergunta ao outro, se o Burro não souber a resposta, ele deve pagar 1
real para a Raposa.
Se a Raposa não souber a resposta ela deve pagar 100 reais para o Burro.
Como a Dona Raposa era a tal, a mais esperta, a sabichona. Era justo!
A Raposa começou:
- O que é que tem duas patas, cacareja e é cheia de penas?
- Não sei. Toma 1 real. Respondeu o Burro.
- O que é que tem 4 patas, fica cheirando tudo e faz Au! Au! Esse Burro é dos
Bons. Vou encher os bolsos de dinheiro. pensou a esperta raposa.
- o Burro pensou, pensou. E depois disse: você tá fazendo cada pergunta
difícil. Não sei! Toma 1 real. Desse jeito eu estou arrasado. Disse o Seu Burro.
- Então tá! Vou dar uma chancezinha prá você. Faz uma pergunta aí. Falou a
convencida Raposa
- Tá bom! O que é que tem oito patas de manhã e quatro patas à tarde?
- A Dona Raposa pensou, coçou a cabeça, pensou, sentou e colocou a mão no
queixo e depois de um tempo disse: É... É... Não sei! ...Toma aqui os seus cem
reais.
Depois de pagar os cem reais ao burro à raposa ainda ficou pensando um
tempinho e ela não estava acreditando que ela não havia conseguido
responder a pergunta do burro. Logo dele. Ela resolveu tirar uma dúvida.
- Seu Burro! Vem cá qual é a resposta para a sua pergunta. O que era aquilo?
- Sei lá dona raposa! Eu também não sei. Ah! Eu quase ia me esquecendo:
Olha aqui o seu 1 real.
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  • 1. Alta Velocidade - Cronicas Pequenas e Divertidas Já fazia um bom tempo que aquele policial estava de olho naquele motorista apressadinho. Ele pensou: Amanhã esse malandro não vai me escapar. Vou pará-lo e lhe darei uma multa daquelas bem salgadas. O engraçadinho não perde por esperar. No dia seguinte o policial fez o sinal para que o motorista infrator parasse. O motorista atendeu prontamente e parou o veículo. Sem perder tempo o policial foi logo dizendo: - Hã!...Hã! Bonito heim! Até que enfim nos encontramos. Por acaso o senhor sabia que já faz um bom tempo que eu estava aqui a sua espera. - Puxa vida seu policial! Sinceramente, sinto muito! Eu juro que eu não sabia, só fiquei sabendo disso há alguns minutos atrás e, como o senhor mesmo viu, eu vim o mais rápido que pude... Edilson Rodrigues Silva
  • 2. Tudo vai melhorar! Cronicas Pequenas e Engraçadas Numa feira de agropecuária, um fazendeiro do Mato Grosso do Sul encontrou-se com um Fazendeiro do estado do Tocantins: O Fazendeiro do Mato Grosso do Sul perguntou: - Cumpadre, se o senhor não se importa deu perguntar, qual é o tamanho da sua fazenda? O Fazendeiro do Tocantins respondeu: - Oíacumpadre, acho que deve di dar aí uns quatrocentos hectare é piquinina. E a sua? Como o fazendeiro do Mato Grosso do Sul era daquele tipo meio arrogante e cheio de mania de grandeza ele foi logo esnobando o outro fazendeiro dizendo: - Cumpadre, o senhor sabe que eu nunca interessei de contá eu só sei que eu saio de manhã bem cedinho e quando é meio dia eu ainda nem cheguei na metade da propriedade. Respondeu o fazendeiro do Mato Grosso. O fazendeiro do Tocantins, muito comovido com a situação, deu uns tapinhas nas costas do fazendeiro do Mato Grosso e disse: - Eu sei cumpadre. É fogo mesmo! No começo eu também andava de carroça...Squenta não!...Guenta firme cumpadre! Tenho certeza que tudo vai melhorar! Edilson Rodrigues Silva
  • 3. O Boletim Escolar - Cronicas Engraçadas e Textos Engraçados Uma garota tinha que entregar oboletim escolar dela para os seus pais e, as notas ali, não eram as notas do sonho de nenhuma mãe muito menos de nenhum pai. Ela usou a criatividade para contar essa maravilhosa notícia. Oi papai! Oi mamãe! É com o coração partido, mas muito feliz da vida. Que eu digo para vocês que eu sai fora com o Dudu, ele é o homem da minha vida.Ele é tudo de bom. Estou absolutamente fascinada com as suas tatuagens, com aquele cabelo moicano, com aqueles ferros e piercings que ele coloca naquele corpinho maravilhoso. Entretanto. Tenho que lhes contar que não é só isso. O Douglas, aquele menino que vocês não gostam dele de jeito nenhum, ele está com a gente. Portanto não se preocupem comigo. Já tenho 15 anos e sei muito bem me virar sozinha tá.Com amor e carinho da sua querida filhinha. Ah! Pai, mãe, isso é só uma brincadeirinha viu! Estou na casa da Mariana, só queria mostrar para vocês que há coisas bem piores na vida que estas notas que estão aí no boletim. Não se estressem Ok!. No ano que vem eu me recupero. Beijinhos! Resposta dos pais: Querida filhinha, Quando a sua mãe leu a sua carinhosa cartinha, ela passou muito mal e foi parar no pronto socorro. Imediatamente você foi retirada do nosso testamento e sua parte da herança será do seu irmão. Todas as coisas do seu quarto foram doadas para o pessoal do orfanato, cancelamos o seu celular e o seu cartão de crédito. Todos os seus Cd’s do NX0, do Justin Bieber, do Restart, do Cine, do Jonas Brothers, do Fiuk e do Luan Santana nós doamos para a Karina do segundo andar, aquela mesma garota que você acha insuportável. Lembra, ela é aquela garota super legal que no ano passado roubou o Rafinha, aquele seu namorado gatinho que até hoje você não esqueçe. Pode ir arrumando um bom emprego porquedinheiro daqui de casa nem em sonho viu. Enfim, espero que você seja muito feliz na sua nova vida. Nota! Filha querida, claro que tudo isso não passa de uma brincadeirinha da nossa parte. A sua mãe está aqui comigo assistindo Eu a Patroa e as Crianças e tudo está bem. Só queríamos lhe mostrar que há coisa bem piores do que passar as próximas cinco semanas sem sair de casa, sem celular, sem Internet, sem vídeo game, sem televisão e, principalmente, sem ir à casa da camila. Tudo isso por causa dessas notas ridículas e, dessa brincadeira idiota que você fez com agente. Edilson Rodrigues Silva
  • 4. Cuidado cão bravo - Histórias engraçadas À noite, aqueles dois assaltantes resolveram entrar naquela casa de praia que estava em reforma. Logo na entrada o primeiro ladrão notou um grande cartaz onde estava escrito: “Cuidado! Cão corintiano e anti-social” - Você não falou que à noite não tinha cachorro aqui. Disse o primeiro marginal. - Eu disse! Foi o que deu para perceber durante o dia. O dono trás os cães com ele e depois ele os leva de volta para a cidade. Pode ficar tranqüilo. Não tem perigo. Olha! Eu vou por aqui e você vai pelos fundos Ok! Disse o segundo bandido. - Ok! Concordou o primeiro ladrão. Assim que eles se separaram o primeiro ladrão foi até os fundos da casa e depois de uns minutos o meliante voltou correndo mais rápido que The flash. Ele passou pelo segundo ladrão e disse: - Corre mano!...Corre!...Corre! E saiu correndo mais que raio em direção a rua. O segundo bandido, atônito, e sem saber o que fazer também começou a correr na mesma direção. Depois, mais calmos, os dois marginais se encontraram: - Cara! O que foi que aconteceu? Você viu alguma coisa? Era gente? Era um cachorro? Ele te mordeu? Perguntou o segundo bandido. - Não, não era gente não. Eu sai correndo foi por causa do cachorro. Disse o primeiro meliante. - Cachorro! Você viu o cachorro? Perguntou o segundo bandido. - Sorte minha que eu não vi o cachorro não. Mano, eu vi foi o prato da fera. Cara nós tivemos muita sorte. Só pelo tamanho do prato em que ele come deu pra ver que se ele tivesse nos encontrado nós estaríamos fritos, não ia sobrar nada para contar história. Disse aliviado o primeiro ladrão. No dia seguinte, na casa em reforma: - Ôxente! Ô Juca! Cê viu o que aconteceu com a caixa de massa de cimento? Ela está cheia de marca de pé de gente. Será que entrou ladrão aqui? Perguntou um dosoperários. Edilson Rodrigues Silva
  • 5. O REVÓLVER DO SENADOR O Senador ainda estava na cama, lendo calmamente os jornais, e eram dez horas da manhã. Súbito ouve a voz do netinho de quatro anos de idade por detrás da folha aberta, bem junto de sua cabeça: – Vovô, eu vou te matar. Abaixou o jornal e viu, aterrorizado, que o menino empunhava com as duas mãos o revólver apanhado na gaveta da cabeceira. Sempre tivera a arma ali ao seu alcance, para qualquer eventualidade, carregada e com uma bala na agulha. Nunca essa eventualidade se dera na longa seqüência de riscos e tropeços que a política lhe proporcionara. No entanto, ali estava, agora, apanhado de surpresa, sob a mira de um revólver. O menino começou a rir de sua cara de espanto. – Eu vou te matar – repetiu, dedinho já no gatilho. O menor gesto precipitado e a arma dispararia. Pensou em estender o braço e ao menos afastar o cano de sua testa, que já começava a porejar suor. Mas temeu o susto da criança, o dedo se contraindo no gatilho... Tentou falar e de seus lábios saíram apenas sons roufenhos e mal articulados. – Não me mata não – gaguejou, afinal: – você é tão bonzinho... – Pum! Pum! – e o demônio do menino sempre a rir, só fez dar um passo para trás; que o colocou fora de seu alcance. Agora estava perdido. – Cuidado, tem bala... – deixou escapar, e a voz de novo lhe faltou. Toda uma vida que terminava ali, estupidamente nas mãos de uma criança – de que adiantara? Tudo aflição de espírito e esforço vão. Se alguém entrasse no quarto de repente, a mãe, a avó do menino... Que é isso, menino! Você mata seu avô! Com o susto... Senti o pijama já empapado de suor. Era preciso fazer alguma coisa, terminar logo com aquela agonia. Estendeu mansamente o braço trêmulo: – Me dá isso aqui... – Mãos ao alto! – berrou o menino, ameaçador, dando passo para trás, e as mãos pequeninas se firmaram ainda mais no cabo da arma. O Senador não teve outra coisa a fazer senão obedecer. E assim se compôs o quadro grotesco: o velho com os braços erguidos, o guri a dominá-lo com o revólver. De repente, porém, o telefone tocou. – Atende aí – pediu o Senador, num sopro.
  • 6. Estava salvo: o menino tomou do fone, descobrindo brinquedo novo, e abaixou o revólver. O Senador aproveitou a trégua para apoderar-se da arma. Então pôs-se a tremer, descontrolado, enquanto retirava as balas com os dedos aflitos. O menino começou a chorar: – Me dá! Me dá! A mulher do senador vinha entrando: –O que foi que você fez com ele? Está com uma cara esquisita... Que aconteceu? – Acabo de nascer de novo – explicou simplesmente. Fernando Sabino
  • 7. VIÚVA LOURA - "Viúva, 21 anos..." - Tadinha. A vida é isso. - "Loura..." - Melhorou. - "Fazendeira, rica..." - Epa, muda completamente de figura. - "Pertencente a tradicional família mineira..." - Corta essa! - "Recém-chegada do interior..." - Então, não custa sondar a barra. - "Procura companhia masculina..." - Ainda bem que é masculina. Tou às ordens. - "Que seja jovem..." - Você acha que 38 anos está na pauta? - "Bem intencionado..." - Nunca fui outra coisa na vida. - "De fino trato..." - Não é por me gabar, mas... - "Conhecedor dos pontos pitorescos do Rio..." - Que é que ela entende por pontos pitorescos? Eu prefiro pontos estratégicos. - "Para passeios e ..." - Etc., lógico. - "Futuro compromisso matrimonial..." - Corta! Corta! - É mesmo. - Aliás, eu não tenho mais de 38. Tinha, semana passada. - E rica... Rica de que? Talvez de predicados apenas. - Poxa, até parece que você está querendo a viúva pro seu bico. Pera aí, mau- caráter. - Eu? Vê lá se eu vou nessa onda de anúncio. Tou prevenindo pra você não se grilar. Viúva, mineira, loura... Se é mineira, não deve ser loura. Se é loura. É artificial. Se é artificial... - Deixa a viuvinha ser loura e mineira, deixa. - Olha, eu conheci uma loura que, além de outros negativos, era careca. - Ora, peruca resolve. - Sei não, mas tudo isso junto- mineira, viúva, loura, 21 anos, rica... - Que é que tem? - É exagero. Não precisava Ter tantas qualidades. - Foi uma graça de Deus.
  • 8. - Você não merece tanto. - Será outra graça de Deus. - Deus não deve ser assim tão desperdiçado com suas graças. - Lá vem você querendo dar instruções ao Altíssimo. Perde essa mania. - Bom, mas você não sabe que mineiro esconde milho até de monjolo? - Continua. - "Cartas com sigilo absoluto..." - Evidente. - "Indicações pessoais..." - Minha ficha é mais limpa do que caixa d'água de edifício quanto o síndico vai ao terraço. - "E fotos..." - Arrgh! Só tenho 3x4, muito fajuta. Mas tiro de calção, frente, perfil e fundos. - "Para a portaria desse jornal, sob n° 019 834." - Pera aí. Tou anotando. 019? - 834. - Legal. 834 é o número de meu edifício, 19 é pavão, que tem a perna dourada. Lê mais. - Já li tudo, ué. - Lê outra vez. Repete. - Vai decorar? - Vou gravar melhor na nuca, vou raciocinar em bloco, vou... - Se habilitar, né? - Correto. - Calma, rapaz. Sabe lá que espécie de viúva é essa? - Vou ver pra conferir. - Pode nem ser viúva. - E daí? - Diz que tem 21 anos, mas quem garante que não é modéstia? Às vezes tem três vezes 21. - Então você admite que ela é mineira. - E que cria galinha sem ração, na base da parapsicologia? - Também sou mineiro, uai. - E nunca me confessou. Eu jurava que você fosse capixaba. - Fui. Questão de limites, minha terra passou pra banda de cá. Não espalha, sim? - Me tapeou esse tempo todo. - Esquece. - Vai ser dura a parada: mineira loura versus mineiro mascarado. - Fica em família, né? - A tradicional? - As duas. Eu na minha, ela na dela. - Agora sou eu que digo: tadinha. - Por quê? Se ela botou anúncio, quer transar. Eu transo. No figurino. - É verdade que tem muito carioca por aí, muito paulista, muito nortista, espiando maré. Talvez você chegue tarde. - Duvido. Você sabe que nessas coisas sou meio Fittipaldi. Comigo é Fórmula-1. - Mineiro contando prosa? Nunca vi isso. - Bem, mineiro é capaz de contar prosa só pra esconder que é mineiro... - Chega, amizade, você já ganhou a viuvinha com fazenda e tudo, podes crer! xz/ CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
  • 9. Vida em Manchetes Viu só? Caiu outro avião. - É. Desta vez foram 85 mortos. - Já tomei uma decisão: nunca mais entro j em avião. - Bobagem. - Bobagem é morrer. - Então não entra mais em carro, também. Proporcionalmente, morrem mais pessoas em acidentes de... - Mas não entrar em automóvel eu já tinha decidido há muito tempo! Você não notou que eu ando mais magro? É de tanto caminhar. - Você caminha por onde? - Como, por onde? Pela calçada, ué. - Dá todo dia no jornal. ―Ônibus desgovernado sobe na calçada e colhe pedestre. Vítima tinha jurado nunca mais entrar em qualquer veículo.‖ A chamada ironia do destino. - Quer dizer que calçada... - É perigosíssimo... - O negócio é não sair de casa. - E, é claro, mandar cortar a luz. - Por que cortar a luz? - Pensa num dedo molhado e distraído na tomada do banheiro. ―Caiu da escada quando trocava lâmpada. Fratura na base do crânio.‖ - Está certo. Corto a luz. - ―Tropeça no escuro e bate com a têmpora na quina da mesa. Morte instantânea.‖ E você vai cozinhar com quê? - Gás. - Escapamento. ―Visinhos sentiram cheiro de gás e forçaram a porta: era tarde.‖ Ou: "Explosão de botijão arrasa apartamento.‖ - Fogareiro a querosene. - ―Tocha humana! Morreu antes que...‖ - Comida enlatada fria. - Botulismo. - Mando comprar comida fora. - Espinha de peixe na garganta. Ossinho de galinha na traquéia. ―Comida estragada, diarréia fatal!‖ - Não preciso de comida. Vivo de injeções de vitamina... - Hepatite... - ...e oxigênio - Poluição. ―Autópsia revela: pulmão tava pior que saco de café.‖ Estrôncio 90 francês.
  • 10. - Vou viver no campo, longe da poluição, do trânsito... - Picada de cobra. Coice de Mula. Médico não chega a tempo. - Não saio mais da cama! - Está provado: 82 por cento das pessoas que morrem, morrem na cama. Não há como escapar. - Mas eu escapo. A mim eles não pegam. Tenho um jeito infalível de escapar da morte. - Qual é? - Eu vou me suicidar. Luís Fernando Veríssimo
  • 11. Duzentos tiros de garrucha A garrucha pendurada na parede não é um ornamento, mas um perigo, porque está com os dois canos carregados. ― Seu Osório, por que o senhor mantém essa garrucha pendurada aí na parede, e carregada? ― Ah, é por costume e precisão... Ninguém sabe o que pode acontecer. Bem, a garrucha está em lugar um pouco mais alto do que ele, e não ao alcance das crianças. Estas, porém, imprevisíveis e curiosas como são, podem pegar uma escada, arrastar um móvel, subir nele e pegar a arma. ― Quantos tiros o senhor já deu com esta garrucha? ― Ah, pra mais de duzentos tiros... ― E acertou todos? ― Uai, quando se atira é para acertar... E quando falha a bala de um cano, tem a outra no outro cano. Sei que ele teve muitos entreveros, muitas brigas, mas não me consta que haja matado ninguém. Ferido, sim, e respondeu a muitos processos. Agora, quase não sai de casa, fica zanzando pelo quintal e cuidando das plantas. ― O senhor sabe que é preciso registrar as armas de fogo na Delegacia de Polícia, ainda que elas só sejam mantidas dentro de casa? ― Bobagem... Que é que a polícia tem a ver com isso? Os ladrões, os bandidos, registram as suas armas de fogo? Tinha razão, na minha casa mando eu, e todo cidadão deve ter a sua arma, o cidadão faz parte de uma milícia que, quando é preciso, derruba o governo despótico. Ele, por exemplo, meteu-se em muitas revoluções, se bem que contasse depois que todas elas são traídas. ― A arma é uma mulher, é preciso saber lidar com ela. Com a arma e com a mulher. Bem tratadas, elas nunca negam fogo. Casado há mais de cinqüenta anos, a sua Lindoca ainda o admira e respeita. ― Lindoca, minha flor, traz um café e um copo dágua fresca para a nossa visita. Lindoca, ainda vaidosa, com uma flor entre os cabelos. ― Seu Osorinho, meu marido, espere que eu vou ainda moer o café. É só um instantinho. O moinho, na janela da cozinha. O café torrado ali mesmo, era ele chamado para vir dar o ponto, na peneira. Café forte. ― A garrucha é uma arma antiquada. Temos hoje as pistolas automáticas, e até as metralhadoras. ― Besteirada. O que vale não é a arma, mas o homem com a mão na arma. Esta minha garrucha aí nunca me negou fogo.
  • 12. Punhal e garrucha. Armas para serem usadas de perto, quase no corpo a corpo. Ele conserva a sua garrucha azeitada e polido o punhal dentro da bainha. ― O senhor não tem medo da morte, seu Osório? ― Tenho não. Quando comparecer diante do Criador, vou armado com a minha garrucha. E ele me perguntará: ―Para que essa garrucha, seu Osorinho? No céu não se usa arma‖. E eu lhe responderei: ―Usa sim, senhor meu bom Deus. Como foi que o senhor e os seus anjos fiéis expulsaram daqui o Diabo? Foi com raios e trovões. E ele teve de se escafeder‖. E o meu Deus me dirá: ―Pois então entre, seu Osorinho, alma cândida e valente‖. A garrucha de seu Osório vai continuar pendurada na parede. Para o que der e vier. Anníbal Augusto Gama
  • 13. O velho, o menino e a mulinha O velho chamou o filho e disse: - Vá ao pasto, pegue a mulinha e apronte-se para irmos à cidade, que quero vendê-la. O menino foi e trouxe a mula. Passou-lhe a raspadeira, escovou-a e partiram os dois a pé, puxando-a pelo cabresto. Queriam que ela chegasse descansada para melhor impressionar os compradores. De repente: - Esta é boa! - exclamou um visitante ao avistá-los. - O animal vazio e o pobre velho a pé! Que despropósito! Será promessa, penitência ou caduquice?... E lá se foi, a rir. O velho achou que o viajante tinha razão e ordenou ao menino: - Puxa a mula, meu filho! Eu vou montado e assim tapo a boca do mundo. Tapar a boca do mundo, que bobagem! O velho compreendeu isso logo adiante, ao passar por um bando de lavadeiras ocupadas em bater roupa num córrego. - Que graça! - exclamaram ela. - O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre do menino a pé... Há cada pai malvado por este mundo de Cristo... Credo!... O velho danou-se e, sem dizer palavra, fez sinal ao filho para que subisse à garupa. - Quero só ver o que dizem agora... Viu logo. O Izé Biriba, estafeta do correio, cruzou com eles e exclamou: - Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez... Assim, meu velho, o que chega à cidade não é mais a mulinha; é a sobra da mulinha... - Ele tem toda razão, meu filho; precisamos não judiar do animal. Eu apeio e você, que é levezinho, vai montado. Assim fizeram, e caminharam em paz um quilômetro, até o encontro dum sujeito que tirou o chapéu e saudou o pequeno respeitosamente. - Bom dia, príncipe! - Porque prícipe? - indagou o menino. - É boa! Porque só príncipes andam assim de lacaio à rédea... - Lacaio, eu? - esbravejou o velho. - Que desaforo! Desce, desce, meu filho e carreguemos o burro às costas. Talvez isso contente o mundo... Nem assim. Um grupo de rapazes, vendo a estranha cavalgada, acudiu em tumulto com vaias: - Hu! Hu! Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber
  • 14. qual dos três é o mais burro... - Sou eu! - replicou o velho, arriando a carga. - Sou eu, porque venho há uma hora fazendo não que quero mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já que vi que morre doido quem procura contentar toda gente... Monteiro Lobato
  • 15. O Leão e o Rato Depois que o Leão desistiu de comer o rato porque o rato estava com espinho no pé (ou por desprezo, mas dá no mesmo), e, posteriormente, o rato, tendo encontrado o Leão emvolvido numa rede de caça, roeu a rede e salvou o Leão ( por gratidão ou mineirice, já que tinha que continuar a viver na mesma floresta), os dois, rato e Leão, passaram a andar sempre juntos, para estranheza dos outros habitantes da floresta ( e das fábulas). E como os tempos são tão duros nas florestas quanto nas cidades, e como a poluição já devastou até mesmo as mais virgens das matas, eis que os dois se encontraram, em certo momento, sem ter comido durante vários dias. Disse o Leão: - Nem um boi. Nem ao menos um paca. Nem sequer uma lebre. Nem mesmo uma borboleta, como hors-d'oeuvres de uma futura refeição. Caiu estatelado no chão, irado ao mais fundo de sua alma leonina. E, do chão onde estava, lançou um olhar ao rato que o fez estremecer até a medula. " A amizade resistiria à fome?" - pensou ele. E, sem ousar responder à própria pergunta, esgueirou-se pé ante pé e sumiu da frente do amigo ( ? ) faminto. Sumiu durante muito tempo. Quando voltou, o Leão passeava em circulos, deitando fogo pelas narinas, com ódio da humanidade. Mas o rato vinha com algo capaz de aplacar a fome do ditador das selvas: um enorme pedaço de queijo Gorgonzola que ninguém jamais poderá explicar onde conseguiu ( fábulas!). O Leão, ao ver o queijo, embora não fosse animal queijífero, lambeu os beiços e exclamou: - Maravilhoso, amigo, maravilhoso! Você é uma das sete maravilhas! Comamos, comamos! Mas, antes, vamos repartir o queijo com equanimidade. E como tenho receio de não resistir à minha natural prepotência, e sendo ao mesmo tempo um democrata nato e confirmado, deixo a você a tarefa ingrata de controlar o queijo com seus próprios e famélicos instintos. Vamos, divida você, meu irmão! A parte do rato para o rato; para O Leão, a parte do Leão. A expressão ainda não existia naquela época, mas o rato percebeu que ela passaria a ter uma validade que os tempos não mais apagariam. E dividiu o queijo como o Leão queria: uma parte do rato, outra parte do Leão. Isto é: deu o queijo todo ao Leão e ficou apenas com os buracos. O Leão segurou com as patas o queijo todo e abocanhou um pedaço enorme, não sem antes elogiar o rato pelo seu alto critério: - Muito bem, meu amigo. Isso é que se chama partilha. Isso é que se chama justiça. Quando eu voltar ao poder, entregarei sempre a você a partilha dos meus bens que me couberem no litígio com os súbditos. Você é um verdadeiro e egrégio merítissimo! Não
  • 16. vai se arrenpender! E o ratinho, morto de fome, riu o riso menos amarelo que podia, e ainda lambeu o ar para o Leão pensar que lambia os buracos do queijo, E enquanto lambia o ar, gritava, no mais forte que podiam seus fracos pulmões: - Longa vida ao Rei Leão ! Longa vida ao Rei Leão! MORAL : Os ratos são iguaizinhos aos homens. Millôr Fernandes
  • 17. A bola O pai deu uma bola de presente ao filho. Lembrando o prazer que sentira ao ganhar a sua primeira bola do pai. Uma número 5 sem tento oficial de couro. Agora não era mais de couro, era de plástico. Mas era uma bola. O garoto agradeceu, desembrulhou a bola e disse ―Legal!‖. Ou o que os garotos dizem hoje em dia quando gostam do presente ou não querem magoar o velho. Depois começou a girar a bola, à procura de alguma coisa. - Como é que liga? – perguntou. - Como, como é que liga? Não se liga. O garoto procurou dentro do papel de embrulho. - Não tem manual de instrução? O pai começou a desanimar e a pensar que os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros. - Não precisa manual de instrução? - O que é que ela faz? - Ela não faz nada. Você é que faz coisas com ela. - O quê? - Controla, chuta… - Ah, então é uma bola. - Claro que é uma bola. - Uma bola, bola. Uma bola mesmo. - Você pensou que fosse o quê? - Nada, não.
  • 18. O garoto agradeceu, disse ―Legal‖ de novo, e dali a pouco o pai o encontrou na frente da tevê, com a bola nova do lado, manejando os controles de um videogame. Algo chamado Monsters Ball, em que times de monstrinhos disputavam a posse de uma bola em forma de blipeletrônico na tela ao mesmo tempo que tentavam se destruir mutuamente. O garoto era bom no jogo. Tinha coordenação e raciocínio rápido. Estava ganhando da máquina. O pai pegou a bola nova e ensaiou algumas embaixadas. Conseguiu equilibrar a bola no paito do pé, como antigamente, e chamou o garoto. - Filho, olha. O garoto disse ―Legal‖ mas não desviou os olhos da tela. O pai segurou a bola com as mão as e a cheirou, tentando recapturar mentalmente o cheiro de couro. A bola cheirava a nada. Talvez um manual de instrução fosse uma boa idéia, pensou. Mas em inglês, para a garotada se interessar. Luis Fernando Veríssimo
  • 19. A Velha Contrabandista Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da velhinha. Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela: - Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco? A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu: - É areia! Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás. Mas o fiscal desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia. Diz que foi aí que o fiscal se chateou: - Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista. - Mas no saco só tem areia! - insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs: - Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias? - O senhor promete que não "espáia"? - quis saber a velhinha. - Juro - respondeu o fiscal. - É lambreta. Stanislaw Ponte Preta
  • 20. Assalto a Banco Alô? Quem tá falando? — Aqui é o ladrão. — Desculpe, a telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí? — Não, os funcionário tá tudo refém. — Há, eu entendo. Afinal, eles trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um deles? — Impossível. Eles tá tudo amordaçado. — Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Não haverá, então, algum chefe por aí? — Claro que não mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar mais seguro pra se comandar assalto! — Bom... Sabe o que que é? Eu tenho uma conta... — Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero! — Não, isso eu já sabia. Eu sou professor! O que eu queria mesmo era uma informação sobre juro. — Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a banco, vez ou outra um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pra Brasília. — Sei, sei. O senhor ta na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando por um voto hoje em dia... mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa. — Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto! — Longe de mim pensar que o senhor está de brincadeira! Que é um assalto eu sei perfeitamente; ninguém no mundo cobra os juros que cobram no Brasil. Mas queria saber o número preciso: seis por cento, sete por cento? — Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da intimidação e da chantagem, saca? — Ah, já tava esperando. Você vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né? — Não...já falei...eu sou... Peraí bacana... hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho. (um minuto depois) — Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês. — Puxa, que incrível!
  • 21. — Incrivepor que? Tu achava que era menos? — Não, achava que era mais ou menos isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, eu consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço pelo telefone em menos de meia hora e sem ouvir 'Pour Elise'. — Quer saber? Fui com a tua cara. Acabei de dar umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado? — Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco? — Nadica de nada, já ta tudo acertado! — Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa... (De repente, ouvem-se tiros, gritos) — Ih, sujou! Puliça! — Polícia? Que polícia? Alô? Alô?(sinal de ocupado) — Droga! Maldito Estado: quando o negócio começa a funcionar, entra o Governo e estraga tudo! Luís Fernando Veríssimo
  • 22. A Dona Raposa e o Burro O Raposa e o Burro estão fazendo uma brincadeira, cujas regras são:Cada um faz uma pergunta ao outro, se o Burro não souber a resposta, ele deve pagar 1 real para a Raposa. Se a Raposa não souber a resposta ela deve pagar 100 reais para o Burro. Como a Dona Raposa era a tal, a mais esperta, a sabichona. Era justo! A Raposa começou: - O que é que tem duas patas, cacareja e é cheia de penas? - Não sei. Toma 1 real. Respondeu o Burro. - O que é que tem 4 patas, fica cheirando tudo e faz Au! Au! Esse Burro é dos Bons. Vou encher os bolsos de dinheiro. pensou a esperta raposa. - o Burro pensou, pensou. E depois disse: você tá fazendo cada pergunta difícil. Não sei! Toma 1 real. Desse jeito eu estou arrasado. Disse o Seu Burro. - Então tá! Vou dar uma chancezinha prá você. Faz uma pergunta aí. Falou a convencida Raposa - Tá bom! O que é que tem oito patas de manhã e quatro patas à tarde? - A Dona Raposa pensou, coçou a cabeça, pensou, sentou e colocou a mão no queixo e depois de um tempo disse: É... É... Não sei! ...Toma aqui os seus cem reais. Depois de pagar os cem reais ao burro à raposa ainda ficou pensando um tempinho e ela não estava acreditando que ela não havia conseguido responder a pergunta do burro. Logo dele. Ela resolveu tirar uma dúvida. - Seu Burro! Vem cá qual é a resposta para a sua pergunta. O que era aquilo? - Sei lá dona raposa! Eu também não sei. Ah! Eu quase ia me esquecendo: Olha aqui o seu 1 real.