Juliano Spyer têm imensa experiência na área de mídias sociais. Trabalha na agência Talk Interactive especializada em estratégias de marketing digital, mídias sociais e tecnologias 2.0 para clientes de vários setores, especialmente da área institucional. A empresa tem sede em São Paulo e mantém filial em Florianópolis, Brasília e Seattle, nos EUA.
Têm três livros lançados todos elaborados de forma colaborativa. “Conectado”,”Para entender a internet” e “Tudo o que você precisa saber sobre Twitter” três manuais para aqueles que pretendem entender um pouco desse mundo dinâmico e (in)constante da internet.
Internet e redes sociais digitais como instrumento para os movimentos sociais
Entrevista Juliano Spyer
1. Juliano Spyer têm imensa experiência na área de
mídias sociais. Trabalha na agência Talk Interactive
especializada em estratégias de marketing digital,
mídias sociais e tecnologias 2.0 para clientes de
vários setores, especialmente da área institucional. A
empresa tem sede em São Paulo e mantém filial em
Florianópolis, Brasília e Seattle, nos EUA.
Têm três livros lançados todos elaborados de forma
colaborativa. “Conectado”,”Para entender a internet”
e “Tudo o que você precisa saber sobre Twitter” três
manuais para aqueles que pretendem entender um
pouco desse mundo dinâmico e (in)constante da
internet.
Aqui nessa entrevista vocês vão conhecer um pouco
desse profissional e da trajetória dele.
IQPC - Você conta um pouco da sua história no blog Não Zero, essas
palavras me chamaram a atenção: "junto com um pouco de exploração, do
uso já frequente do email, da busca por amigos perdidos, cheguei às salas de
bate-papo do UOL". Você diz que a partir desse momento resolveu ficar nos
bastidores e ajudar a fazer aquilo acontecer, por quê?
Juliano - A internet apareceu para mim como um chamado, até hoje eu
sinto dessa forma. Eu fiquei fascinado com o que eu via e também com o que
eu intuía que a internet iria nos trazer. Conheço várias pessoas que viveram
experiências parecidas, que perceberam o que estava por vir.
Nada do que existe hoje é novidade, isso existe desde o começo dos anos 70
quando começou a funcionar o primeiro programa de emails na rede
americana Arpanet.
O ponto da mudança de paradigmas foi muito bem localizado pelo Clay
Shirky. Tivemos, pela primeira vez na historia, uma ferramenta de
comunicação que simultaneamente servia para conversas e para a formação
de grupos, isso já existia naquele primeiro programa de emails: a
possibilidade de grupos conversarem.
IQPC - A internet modificou a maneira como as pessoas se relacionam. O
que ela fez com a sua vida e o que você têm feito com ela?
Juliano - Ela me deu um propósito, antes da internet, eu tinha feito historia,
não sabia bem o motivo, várias coisas me interessavam. A historia oral, por
exemplo, a tecnologia, a ciência, a cognição, as artes, mas nada me
mobilizava a ponto de me fazer pensar naquilo como um casamento
profissional. A internet chegou para a mim como uma espécie de missão. E
2. eu tenho feito isso tudo acontecer, transformado intuição em descoberta, em
conhecimento, em prática.
IQPC - A escolha da pergunta anterior foi proposital, pois ela era o título do
primeiro livro lançado por você: "Conectado, o que a internet fez com você e
o que você pode fazer com ela". Gostaria que você comentasse um pouco da
repercussão dele e se ele alcançou suas expectativas?
Juliano - Hoje eu mudaria a ordem das partes no livro, para que o leitor
começasse com os estudos de caso, que são mais saborosos, e colocaria
depois as partes mais técnicas. Acho que pensaria em um título mais prático,
menos poético, tenho a impressão que isso teria aumentado o interesse pela
obra, mas é só isso que eu faria diferente.
Tive a felicidade de ter o livro publicado pela editora brasileira que eu mais
admiro, a zahar é uma empresa diferenciada, que ao mesmo tempo busca
profissionalismo e relevância, e tem ainda um compromisso com o leitor
comum, não especialista. Nosso relacionamento não é institucional, frio, nós
trabalhamos juntos, trocamos idéias.
O prefácio é do Caio Túlio, que é uma pessoa muito diferenciada, filósofo e
também fascinado por tecnologia, é ao mesmo tempo executivo e
acadêmico, e estava lá quando a internet brasileira nascia.
O livro saiu em 2007 e marcou um momento de virada na minha vida. Eu
comecei a trabalhar profissionalmente com web em 97, mas logo de cara eu
passei quase 6 anos nos Estados Unidos. Quando voltei ao país, em 2003,
tive que me apresentar para o mercado ao mesmo tempo em que o
"evangelizava" sobre comunicação em rede, ou seja, trabalhei muito
ganhando muito pouco, só investindo. As coisas começaram a acontecer com
o lançamento do Conectado.
O livro não só me posicionou como uma referência importante no assunto,
como abriu oportunidades profissionais que têm a ver com o meu perfil. Eu
gosto de pesquisar, escrever e ensinar e isso é grande parte do que eu tenho
feito na Talk.
O conectado se tornou uma referência principalmente no meio acadêmico.
Me orgulho, por exemplo, do fato dele ter se mantido atual depois de mais de
dois anos. Quando eu estava fazendo a revisão final do livro, conheci o
Twitter e o incorporei a um dos capítulos. E o Twitter foi a última grande
novidade da internet mundial. Também me orgulho por ele ter o propósito
prático de empossar o leitor, de ensiná-lo a tirar proveito da web. Meu amigo
índio brasileiro guerra Neto diz que o Conectado é o único livro que ensina na
teoria o que você só aprende na prática.
3. IQPC - Quais as principais características e efeitos que as mídias sociais
trazem à sociedade em sua opinião?
Juliano - O Yochai Benkler diz que o efeito é temporário. Toda vez que
aparece uma tecnologia "disruptiva", desorganizadora como rádio, silkscreen,
mimeógrafo, ela desarticula temporariamente a distribuição de poder dentro
da sociedade. é, por isso, uma época propensa a que ocorram mudanças.
A internet vai um pouco além porque o salto qualitativo foi grande em
função do barateamento do acesso à comunicação e, consequentemente, da
coordenação de grupos, mas a internet em si não muda nada, ela provoca,
estimula, aumenta, explicita o que já existe. se o que existe é uma sociedade
capaz de se organizar, isso se multiplica. Se for uma sociedade menos
mobilizada, o resultado será proporcionalmente menor.
Fala-se muito da internet na campanha Obama. Hoje, véspera de ano
eleitoral, todo mundo quer comprar a mágica que catapultou o senador negro
desconhecido para o topo da hierarquia de poder do mundo, mas não dá
para reproduzir isso desconsiderando o local em que isso aconteceu e
também o próprio Obama, que é um cara com uma inteligência e uma
história de vida diferenciados, além de ser muito preparado.
pouca gente abdica de uma carreira como executivo para se tornar
articulador de movimentos populares. fora a passagem dele pela escola de
direito de Harvard. a internet amplificou isso.
IQPC - É uma característica brasileira só "dar valor" as coisas depois que
elas fazem sucesso lá fora. Você acha que no Brasil temos projetos
direcionados para web de sucesso? Quais e por quê?
Acho, sim. Não sei se isso é uma regra, mas acho que isso é parte do
problema no Brasil. não sei dizer com certeza, mas tenho a impressão
também que a maneira como o nosso país funciona inibe o desenvolvimento
de ações comerciais voltadas para a web.
não acho que seja a toa que os principais projetos online que vingaram no
Brasil vieram de fora. Processos contra empresas internacionais custam
muito mais caro e, nesse contexto, o empresário brasileiro do setor fica
fragilizado. Qualquer coisa que acontece, ele acaba tendo que lidar com
processos judiciais.
IQPC - No terceiro livro que foi lançado por você o "Tudo o que você precisa
saber sobre o Twitter". Qual era o seu objetivo em fazer um livro sobre o
Twitter e como foi o processo de construção desse projeto?
Juliano- Os objetivos deste guia foram criar um produto relevante e
acessível (e grátis) para o usuário de internet brasileiro e, dessa forma,
promover o nome da Talk como uma empresa que tem expertise no campo
da comunicação digital.
4. IQPC - Um case muito bacana do Brasil foi a campanha do atual Prefeito
Gilberto Kassab, no qual você foi consultor. Podemos considerar ele o nosso
Obama? Como foi montar esse projeto, já que no Brasil nós temos muitas
restrições que a legislação brasileira impõem ao uso da internet?
Juliano- O principal dessa campanha foi que tivemos a liberdade para agir.
A grande barreira para o uso da internet não é a tecnologia, mas a cultura. A
sociedade está acostumada à esfera pública dominada por organizações. Nos
sentimos confortáveis sentados em silêncio na frente da TV. não vemos nada
de errado nisso. Achamos normal que a grande conversa da sociedade seja
conduzida por profissionais e não nos sentimos capacitados para participar
ativamente disso.
No caso da campanha, a princípio, houve uma demanda para que o blog do
kassab fosse feito por um ghostwriter - provavelmente da mesma maneira
como o da marta foi feito. Não aceitamos. Quem pensa dessa forma não lê e
nem se interessa por blogs e, naturalmente, não percebe a diferença de um
texto para outro, mas quem vive cotidianamente essa ferramenta sabe
quando o texto é ou não é escrito pela pessoa.
Para você ter idéia, fomos os únicos entre os candidatos com chances de
ganhar que respondia email. É isso. É simples assim.
Uma campanha se torna participativa na medida em que você começa a
escutar as pessoas. E daí você se surpreende, porque o que você tem em
mãos vale muito, é como se fosse uma pesquisa qualitativa contínua, em que
as pessoas te dizem o que pensam sobre você, sobre o que você fala e faz, e
o mesmo sobre os outros candidatos.
Fomos muito ajudados pelas pessoas que entravam em contato com a gente
por email para, por exemplo, denunciar irregularidades nas campanhas dos
outros candidatos.
IQPC - Qual será o maior desafio das campanhas eleitorais na web em 2010
no Brasil?
Juliano - Puxa, acho que o grande desafio será aprender a valorizar a
internet, tirando proveito do que ela tem a oferecer, sem, entretanto, cair no
problema oposto, que é acreditar que a internet é a solução para todos os
males.