A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
Acompanhamento e animação da pessoa idosa manual
1. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
CEF Geriatria – Escola Secundária de Mirandela
Acompanhamento e
Animação da Pessoa
Idosa
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2. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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VELHICE – CICLO VITAL
Todo o ser vivo nasce, vive, reproduz-se e morre, ou seja, o ciclo de vida começa com a
conceção e termina com a morte.
O aumento da esperança média de vida gerou um crescimento acentuado da
população idosa, o que criou problemas, devido à falta de preparação da sociedade
para esta realidade. Como se pode verificar, por exemplo, ao nível dos sectores – social
e da saúde.
Para melhor compreendermos esta realidade é importante perceber as diversas etapas
de desenvolvimento do ser humano, que se caracterizam por tarefas biopsicossociais
(são aquelas que a pessoa deve cumprir para garantir o seu desenvolvimento e
consequente ajustamento psicológico e social).
O ciclo vital é o conjunto das fases da vida onde é suposto realizar-se uma série de
transições e de superar uma série de provas e de crises. Este ciclo desenvolve-se
através do contacto com outros seres humanos e através da educação, uma criança
passa de um modo gradual por diferentes idades e estatutos, como ser capaz e
consciente nas formas de uma cultura, até enfrentar a morte como a conclusão de sua
existência pessoal.
Os indivíduos passam por diferentes etapas do ciclo de vida: a infância, a juventude, a
maturidade, a velhice. A idade vai-se modificando ao longo do tempo e é essa
modificação, concretizada em ciclos de vida, que determina estatutos e funções
diferentes para os indivíduos.
A um ciclo familiar segue-se outro. Um ciclo é o fim da jornada de uma geração, a que
se segue outra geração.
O facto de que as pessoas vivem mais tempo faz com que os idosos se tornem um
núcleo da população relevante.
A família atual entrecruza gerações.
Exemplo:
Netos (4.ª geração)
Filhos (3.ª geração)
Pais (2.ª geração)
Avós (1.ª geração)
Formação do casal
Família com filhos pequenos
Família com filhos na escola
Família com filhos adolescentes
Família com filhos adultos
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1.1 Velhice e tarefas do desenvolvimento psicológico
As tarefas são básicas em cada sequência do ciclo de vida. Há uma expectativa social
de que as pessoas em cada sequência cumpram com êxito as suas tarefas. Na última
parte do ciclo também a pessoa idosa tem tarefas de desenvolvimento a cumprir, de
modo a ser feliz e a ter qualidade na sua vida.
Infância:
Tarefa básica: Dominar a escrita e a leitura -» Servirá de instrumento para a sua
independência, para uma comunicação mais ampla e efetiva, que posteriormente
facilitarão as escolhas de formação e profissionalização, entre outras possibilidades.
Adolescência:
Tarefa básica: Formação pessoal, emancipação -» Relacionam-se com a fase anterior e
prolongam-se para o período seguinte. Permite a autonomia e independência.
Adulto:
Tarefa básica: Responsabilidades cívicas e sociais;
Estabelecer e manter um padrão económico de vida;
Ajudar os filhos a serem futuros adultos responsáveis e felizes;
Desenvolver atividades de lazer;
Relacionamento com o marido ou mulher;
Aceitar e ajustar-se às mudanças físicas da meia-idade e ajustar-se aos pais idosos.
Velhice:
Tarefa básica: Ajustar-se ao decréscimo da força e saúde;
Ajustar-se à reforma;
Ajustar-se à morte do marido ou da mulher;
Estabelecer filiação a um grupo de pessoas idosas;
Manter obrigações sociais e cívicas assim como investir no exercício físico satisfatórios
para viver bem a velhice.
Cumprir todas as tarefas é importante, como é importante também que os idosos
contem com o apoio da família, da sociedade e dos profissionais que acuam na área.
Dessa forma, ele poderá ter uma velhice bem sucedida e usufruir do prazer de ser e de
viver, contribuindo para o bem de todos…
1.2 Teorias sobre o envelhecimento psicossocial
Teoria da continuidade:
Afirma que o envelhecimento é uma parte integral e funcional do ciclo de vida.
O indivíduo idoso tem todas as possibilidades de manter todos os seus hábitos de vida,
preferências, experiências e compromissos construídos durante a vida.
Teoria da atividade:
Existe um consenso sobre a relação entre as atividades sociais e a satisfação vivida.
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A velhice deve ser bem planeada e sucedida pressupondo a descoberta de novos
papéis de modo a manter a autoestima para obter maior satisfação na vida.
Tudo isto leva a hipótese de que a sociedade deve conservar a saúde valorizando o
avançar da idade.
Teoria da desinserção:
O envelhecimento é acompanhado por um desmembrar entre o indivíduo e a
sociedade. Quando a desinserção é geral, o indivíduo modifica o seu sistema de
valores. A perda do papel que desempenha na sociedade, a perda de relações pessoais
e sociais acabam por tornar-se situações rotineiras e normais.
Verifica-se que a diminuição da satisfação da vida é proporcional à diminuição das
atividades diárias.
Fala-se do envelhecimento como se tratando de um estado tendencialmente
classificado de “terceira idade” ou ainda “quarta idade”. No entanto, o envelhecimento
não é um estado, mas sim um processo de degradação progressiva e diferencial. Ele
afeta todos os seres vivos e o seu termo natural é a morte do organismo. É, assim,
impossível datar o seu começo, porque de acordo com o nível no qual ele se situa
(biológico, psicológico ou sociológico), a sua velocidade e gravidade variam de
indivíduo para indivíduo.
1.3 Teorias psicossociais de Eric Erickson, R. Peck e Buhler
Eric Erickson (1950, 1982)
Erickson propõe uma conceção de desenvolvimento em oito estádios
psicossociais, perspetivados por sua vez em oito idades que
decorrem desde o nascimento até à morte, pertencendo as quatro
primeiras ao período de bebé e de infância, e as três últimas aos
anos adultos e à velhice.
Erickson dá especial importância ao período da adolescência, devido
ao facto ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que se
verificam acontecimentos relevantes para a personalidade adulta.
Na Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, este desenvolvimento evolui em oito
estádios. Os primeiros quatro estádios decorrem no período de bebé e da infância, e
os últimos três durante a idade adulta e a velhice.
Cada estádio contribui para a formação da personalidade total, sendo por isso todos
importantes mesmo depois de se os atravessar.
O núcleo de cada estádio é uma crise.
A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estádios.
Erickson perspetivava o desenvolvimento tendo em conta aspetos de cunho biológico,
individual e social.
A teoria psicossocial em análise enfatizava o conceito de identidade, a qual se forma
no 5º estádio, e o de crise que sem possuir um sentido dramático está presente em
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todas as idades, sendo a forma como é resolvida determinante para resolver na vida
futura os conflitos.
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1. Confiança X Desconfiança (até um ano de idade): Durante o primeiro ano de vida a
criança é substancialmente dependente das pessoas que cuidam dela, requerendo
cuidado quanto à alimentação, higiene, locomoção, aprendizado de palavras e seus
significados, bem como estimulação para perceber que existe um mundo em
movimento ao seu redor. O amadurecimento ocorrerá de forma equilibrada se a
criança sentir que tem segurança e afeto, adquirindo confiança nas pessoas e no
mundo.
2. Autonomia X Vergonha e Dúvida (segundo e terceiro ano): Neste período a criança
passa a ter controlo de suas necessidades fisiológicas e responder por sua higiene
pessoal, o que dá a ela grande autonomia, confiança e liberdade para tentar novas
coisas sem medo de errar. Se, no entanto, for criticada ou ridicularizada desenvolverá
vergonha e dúvida quanto a sua capacidade de ser autônoma, provocando uma volta
ao estágio anterior, ou seja, a dependência.
3. Iniciativa X Culpa (quarto e quinto ano): Durante este período a criança passa a
perceber as diferenças sexuais, os papéis desempenhados por mulheres e homens na
sua cultura entendendo de forma diferente o mundo que a cerca. Se a sua curiosidade
“sexual” e intelectual, natural, for reprimida e castigada poderá desenvolver
sentimento de culpa e diminuir sua iniciativa de explorar novas situações ou de buscar
novos conhecimentos.
4. Construtividade X Inferioridade (dos 6 aos 11 anos): Neste período a criança está
sendo alfabetizada e frequentando a escola, o que propicia o convívio com pessoas
que não são seus familiares, o que exigirá maior sociabilização, trabalho em conjunto,
cooperatividade, e outras habilidades necessárias. Caso tenha dificuldades o próprio
grupo irá criticá-la, passando a viver a inferioridade em vez da construtividade.
5. Identidade X Confusão de Papéis (dos 12 aos 18 anos): O quinto estádio ganha
contornos diferentes devido à crise psicossocial que nele acontece, ou seja, Identidade
Versus Confusão. Neste contexto o termo crise não possui uma aceção dramática, por
tratar-se de a algo pontual e localizado com pólos positivos e negativos.
6. Intimidade X Isolamento (jovem adulto): Nesse momento o interesse, além de
profissional, gravita em torno da construção de relações profundas e duradouras,
podendo vivenciar momentos de grande intimidade e entrega afetiva. Caso ocorra
uma deceção a tendência será o isolamento temporário ou duradouro.
7. Produtividade X Estagnação (meia idade): Pode aparecer uma dedicação à sociedade
à sua volta e realização de valiosas contribuições, ou grande preocupação com o
conforto físico e material.
8. Integridade X Desesperança (velhice): Se o envelhecimento ocorre com sentimento
de produtividade e valorização do que foi vivido, sem arrependimentos e lamentações
sobre oportunidades perdidas ou erros cometidos haverá integridade e ganhos, do
contrário, um sentimento de tempo perdido e a impossibilidade de começar de novo
trará tristeza e desesperança.
Robert Peck (1955)
Expande a teoria de Erickson, e descreve três ajustes psicológicos importantes para a
fase final da vida:
1. Definições mais amplas do eu contra uma preocupação com papéis de trabalho –
São aqueles que definiram suas vidas pelo trabalho, direcionando seu tempo à
conquista de méritos profissionais pessoais;
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2. Superioridade do corpo contra preocupação com o corpo – Aqueles para quem o
bem-estar físico é primordial à existência feliz poderá ficar mergulhadas no desespero
ao enfrentarem a diminuição progressiva da saúde, com a chegada da terceira idade, e
o surgimento das dores e limitações físicas. Peck afirma que ao longo da vida, as
pessoas precisam cultivar faculdades mentais e sociais que cresçam com a idade;
3. Superioridade do eu contra uma preocupação com o eu – Provavelmente o mais
duro e mais importante ajuste para o idoso seja a preocupação com a morte próxima.
O reconhecimento do significado duradouro de tudo que fizeram ajudará a superar a
preocupação com o eu, e continuarem a contribuir para o bem-estar próprio e dos
outros.
Buhler (1935)
Estabeleceu uma diferença entre as vidas baseadas apenas na Vitalidade e
Mentalidade.
Através da sua teoria constata-se, portanto, que as pessoas se desenvolvem também
após a juventude.
“Uma pessoa permanece jovem na medida em que ainda é capaz de aprender, adquirir
novos hábitos e tolerar contradições.” (Marie von Ebner-Escherbach)
1.4 Do jovem adulto à meia-idade
O jovem adulto vai desenvolver o seu “eu” e a maneira como vê o outro. Este
desenvolvimento permite uma separação psicológica dos pais da infância e uma
relativa autossuficiência no mundo adulto. Vai facilitar a relação de reciprocidade com
os pais.
Verifica-se o desenvolvimento de amizades adultas, mais difíceis de serem mantidas,
diferentes daquelas da adolescência. Amizades com pessoas de diferentes idades e de
diferentes estatutos sociais.
Desenvolve-se a capacidade para a intimidade emocional e sexual. Aqui temos
presente a crise já falada por Erickson (intimidade vs. isolamento). O jovem adulto
poderá criar intimidade com outros. A vertente negativa é o isolamento de quem não
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consegue partilhar afetos com intimidade nas relações privilegiadas. As virtudes
básicas desta crise são o amor e a filiação.
É neste idade que se tornam pai ou mãe em termos biológicos e psicológicos, isto é
“engravidar até pode ser fácil; difícil é ser pai ou mãe).
É nesta idade que se forma uma identidade profissional adulta, encontrando um lugar
gratificante no mundo do trabalho.
Dever-se-á desenvolver formas adultas de brincar, isto é, manter-se em contacto com
“a criança de cada um de nós”. Não se deve esquecer que o brincar é a base do
inventar, do criar, do descobrir, essenciais na atividade artística e científica.
Toma-se consciência da limitação do tempo e da morte pessoal, de forma integrada.
1.5 A meia-idade e as tarefas evolutivas
Aceitação do corpo que envelhece;
Aceitação da limitação do tempo e da morte pessoal;
Manutenção da intimidade;
Reavaliação dos relacionamentos;
Relacionamentos com os filhos: deixar ir, atingir igualdade, integrar novos membros;
Relação com seus pais: inversão de papéis, morte e individuação;
Exercício do poder e posição: trabalho e papel de instrutor;
Novos significativos, habilidades e objetivos dos jogos na meia-idade;
Preparação para a velhice.
1.6 Aspetos estruturais e funcionais da meia-idade
Principais desenvolvimentos:
As mulheres entram na menopausa;
Ocorre certa deterioração da saúde física e declínio da resistência e perícia;
Sabedoria e capacidade de resolução de problemas práticos são acentuadas;
capacidade de resolver novos problemas declina;
Senso de identidade continua a desenvolver-se;
Dupla responsabilidade de cuidar dos filhos e pais idosos pode causar stress;
Partida dos filhos tipicamente deixa o ninho vazio;
Para alguns, sucesso na carreira e ganhos atingem o máximo para outros ocorre
um esgotamento profissional;
Busca do sentido da vida assume importância fundamental;
Para alguns, pode ocorrer a crise de meia-idade.
Alguns aspetos visíveis:
Rugas;
Cabelos brancos;
Redução da agilidade;
Redução da força física;
Falta de firmeza nas mãos e pernas;
Perda de sensibilidade no tato;
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Diminuição da capacidade de audição;
Diminuição da capacidade de visão;
Alterações no olfato e paladar;
Voz torna-se mais fina;
A artéria coronária com o passar dos anos tende a estreitar, tornando-se em
parte bloqueada. A inadequada circulação sanguínea no cérebro produz sérios
distúrbios da personalidade em pessoas idosas.
Mudanças no sistema nervoso.
Redução da eficiência respiratória
Com o envelhecimento o tempo de reação torna-se mais lento e o idoso sofre
algumas perdas de memória.
Envelhecimento psicológico:
No processo do envelhecimento as mudanças biológicas, causam grande
impacto no psiquismo do indivíduo, modificando-lhe a sua autoimagem e
determinando o seu ajustamento no meio envolvente.
O amor e respeito pelo mundo do indivíduo são fatores vitais para a
preservação da identidade psicológica. Estes elementos são suficientes
para o controlo das necessidades emocionais da pessoa idosa, no entanto
nem sempre estão disponíveis, originando assim um problema. Deste
modo é importante preservar um conjunto de valores na vida do idoso
para que ele saiba ultrapassar os seus problemas.
Fatores ligados ao
acontecimento de vida
Fatores ligados à história
(variam de pessoa para pessoa
Fatores ligados à idade (as (mudanças
relativamente à sua
mudanças biológicas que sociais, económicas e políticas
ocorrência ou não, à sua
ocorrem ao longo dos anos) que alteram as condições
forma e ao momento em que
concretas de vida das pessoas)
ocorrem (ex.
divórcio, reforma, doenças...)
PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
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Podemos, ainda salientar que o envelhecimento se concretiza mediante três formas.
O normal – ausência de patologia biológica e mental séria;
O patológico – afetado por doença/ patologia grave;
Envelhecimento ótimo/ bem-sucedido – sob condições favoráveis e propícias
ao desenvolvimento psicológico.
VELHICE – ASPECTOS SOCIAIS
1.7 A velhice e a sociedade
Velhice e envelhecimento: Conceitos e análise
Mitos da velhice (início da velhice e aptidões da velhice; negatividades da velhice;
isolamento e solidão na velhice)
“A velhice hoje em dia dificilmente se pode comparar com um entardecer
tranquilo.”
É perfeitamente possível hoje em dia permanecer na terceira idade e
ainda estar física e mentalmente ativo.”
O conceito de velhice remete-nos, em primeira análise, para a noção de idade
indiciando que a velhice se constitui num grupo de idade homogéneo. A idade não é
um fator que pode, por si só, medir as transformações dependentes do
envelhecimento. Acrescenta que as alterações surgidas com a idade dependem
também do estilo de vida que cada um teve ao longo do seu percurso.
As razões apontadas pela Organização Mundial de Saúde que fundamentam que a
idade dos 65 anos e mais serve para definir as pessoas como idosas, vão no sentido de
que com o avanço da idade, aumentam os riscos do sujeito, associando-os às
modificações físicas, psíquicas e sociais influenciadas por fatores intrínsecos e
extrínsecos ao sujeito.
Identificamos os variados sentidos que o conceito idade pode assumir:
- Idade cronológica como sendo a que se refere ao tempo que decorre entre o
nascimento e o momento presente. O significado aqui atribuído dá-nos indicações
sobre o período histórico vivido pela pessoa se, contudo, fornecer indicações prévias
sobre o estado de evolução da mesma;
- Idade jurídica que corresponde à necessidade social de estabelecer normas de
conduta e determinar qual a idade em que o sujeito adquire determinados direitos e
deveres perante a sociedade;
- Idade física e biológica que tem em conta o ritmo a que cada indivíduo envelhece;
- Idade psicoafectiva que reflete a personalidade e as emoções de um sujeito, não
tendo esta limites em função da idade cronológica;
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- Idade social, relacionada à sucessão de papéis que a sociedade atribui a uma pessoa e
que corresponde às suas condições socioeconómicas.
Associando os fundamentos destas definições constatamos que todas elas incluem, na
sua definição, a influência que a interação do sujeito tem com os padrões de vida que
o rodeia e socializa. O fator idade não serve para esclarecer quem é velho e quem o
não é.
Algumas expressões usadas no domínio comum da sociedade ocidental mostram a
dificuldade em romper com os preconceitos:
“Tenho rugas, estou a ficar velho…”
“Já não tenho força para nada.”
“Os anos vão passando.”
“Não fazem nada e estão a tirar o lugar aos mais novos.”
“O trabalho não anda, estão todos velhos.”
“A juventude, de hoje, não sabe nada. No nosso tempo é que era…”
De uma maneira geral, a sociedade vê a velhice como uma fase de declínio intelectual
(“a memória está fraca”, uma fase na qual a demência se instala (estado de confusão,
esquecimento e mudanças na personalidade irreversível). É uma fase na qual há uma
mudança de estatuto – a reforma. Isto significa mais tempo livre ou a adoção de novos
papéis e uma nova realidade física, económica e social.
As mudanças corporais características da velhice são:
Aparência física/ cor do cabelo cinzenta/ branca;
Órgãos dos sentidos (défice auditivo sobretudo no homem, diminuição da capacidade
de focalização dos objetos e outros);
Músculos, osso e mobilidade (diminuição do peso e tonicidade muscular, diminuição
da altura, aparecimento de osteoporose, etc.)
Órgãos internos (diminuição da capacidade de funcionamento do coração pela perda
da tonicidade muscular e ainda modificação do sistema imunitário, dado o declínio na
produção de anticorpos).
Diversos problemas cognitivos aparecem na velhice e poderão não ser reflexo da
idade, mas de fatores, tais como: depressão, inatividade, efeitos secundários de
medicação, isolamento social, pobreza, falta de motivação, falta de cuidados pessoais.
No passado eram os mais velhos que desempenhavam o papel de formadores na
transmissão de experiências e conhecimento.
Estas expressões sobre a velhice representam um fenómeno recente, associado às
transformações económicas e sociais provocadas pela Revolução Industrial com início
no séc. XVIII.
As pessoas mais velhas transmitiam a sabedoria, a experiência inerente aos modos de
produção (ensinavam um ofício aos mais novos).
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Após a Revolução Industrial, com o aumento da longevidade, associado ao
desenvolvimento científico e tecnológico, os idosos tornou-se um peso, um obstáculo
e um encargo. Com a ajuda da medicina, atualmente a terceira idade é uma parte
considerável da população.
A partir daqui a função social da família perdeu importância dando lugar ao
aparecimento de um grupo de idade – os mais velhos – reconduzindo-o para um
estatuto de inutilidade.
A velhice torna-se visível e de expressão pública. Coloca-se, assim, a questão de saber
como e quem assume a responsabilidade deste grupo etário, passando a ser encarado
como um fenómeno social passível de resposta sociais.
A longevidade deve-se à melhoria da qualidade das condições económicas e sociais e
ao aumento dos níveis gerais de higiene e saúde.
Período Longevidade atual Longevidade futura
Da infância à puberdade 0 – 20 Anos 0- 30 Anos
Jovens adultos 20 – 40 Anos 30 – 60 Anos
Idade madura 40 – 60 Anos 60 – 100 Anos
Idoso A partir dos 65 anos 100 – 120 Anos
1.8 Mitos da velhice
Noções:
Estereótipo -» Os estereótipos são crenças socialmente
compartilhadas a respeito dos membros de uma
categoria social, que se referem a suposições sobre a
homogeneidade grupal e aos padrões comuns de
comportamento dos indivíduos que pertencem a um
mesmo grupo social. Sustentam-se em teorias implícitas
sobre os fatores que determinam os padrões de
conduta dos indivíduos, cuja expressão mais evidente
encontra-se na aplicação de julgamentos categóricos,
que usualmente se fundamentam em suposições sobre a existência de essências ou
traços psicológicos intercambiáveis entre os membros de uma mesma categoria social.
Estigma social -» é uma forte desaprovação de características ou crenças pessoais que
vão contra normas culturais. Estigmas sociais frequentemente levam à marginalização.
Vários mitos até hoje cercam a condição da velhice. Dentre eles:
“Mito da Senilidade" - Supõe que a velhice e a enfermidade andam juntas. A
maioria da população anciã é considerada com uma saúde incapacitada,
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associando velhice com senilidade ou deterioração mental. A velhice precisa
ser vista como parte do ciclo vital e que o envelhecimento começa logo após o
nascimento. As limitações não são enfermidades.
“Mito do Isolamento Social” - Acredita ser a exclusão, o repouso, a solidão, o
melhor para a vida do idoso. Existe aqui uma confusão que mistura o fato de
um idoso não poder mais realizar tarefas produtivas e remuneradas como se
esta fosse a única forma de interação social que se pode produzir.
“Mito da Inutilidade” - Nasce de uma sociedade capitalista onde as pessoas
valem pelo que elas produzem e pelo que elas conseguem possuir em função
disto. É um mito totalmente baseado na produção material e na ganância.
“Mito da Pouca Criatividade e da Capacidade Para Aprender” - Afirma que as
pessoas em idade avançada não têm mais capacidade. É certo que os idosos
contam com maior lentidão e não possuem mais tanta atenção, memória e
agilidade. Porém são capazes de aprender muito, o que se necessita é criar
outras formas de ensino que se voltem para as necessidades e habilidades
anciãs. Não se pode querer de um ancião que aprenda como uma criança ou
um jovem.
“Mito da Assexualidade” - nasceu de tabus culturais e de atitudes de muitos
profissionais. As pessoas velhas são julgadas como carentes de desejos sexuais
e, no caso de manifestarem este desejo, são tidas como anormais. Se julga que
a sexualidade e as relações sexuais estejam reservadas para os jovens e
geralmente sexualidade é confundida com genitália, e não vista como uma
dimensão do ser humano que está presente sempre.
Um conceito mais recente que define a velhice como uma fase do processo evolutivo,
vem substituindo na maioria das sociedades o antigo significado do envelhecer,
conceito que trazia toda uma carga de negatividade. A velhice não se constituía objeto
de preocupação social, antes, os idosos eram
tratados com atitudes filantrópicas e
benevolentes com o intento de ocultar os
valores negativos que a sociedade que se
modernizava lhe impunha. Considerava-se o
idoso como alguém que existiu no passado,
que realizou o seu percurso psicossocial e
espera o momento fatídico para sair da cena
do mundo.
Atualmente, a velhice passa a ser objeto de cuidado e atenção especiais, que eram
certamente inexistentes nos últimos dois séculos. A mudança que se observa nas
relações que a sociedade estabelece com a velhice, não se verifica apenas pela
mudança de valores, mas pelo aumento da esperança de vida devido ao progresso da
medicina que com todo o seu aparato tecnológico enfrenta as doenças crónicas
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favorecendo a longevidade e contribuindo dessa forma como um dos fatores para o
aumento significativo da população idosa, principalmente nos países jovens.
O aumento da faixa populacional considerada idosa tem exigido das sociedades e do
poder público um novo e sensível olhar sob a forma de investimento em políticas
sociais que contemplem o idoso em suas necessidades bio psicossociais.
A sociedade e o estado não podem mais ignorar o idoso, que se tornou ator na cena
política e social, redefinindo imagens estereotipadas nas quais a velhice aparece
associada à solidão, doença, viuvez e morte, enfatizando essa fase de vida como uma
condição desfavorável, muitas vezes indesejada.
Uma iniciativa que aqui, como em outros países se vem fomentando são as
Universidades Abertas da Terceira Idade, instituições públicas e privadas que têm
trazido para dentro de seus espaços um número cada vez maior de idosos que
procuram retomar o seu lugar na sociedade, participando como sujeitos de saber e
não apenas como objetos de estudo.
Vários são os preconceitos, mitos e ideias erróneas sobre o envelhecer que somados às
mudanças, perdas e incertezas que acompanham esta etapa da vida, transformam-se
em verdadeiros "Fantasmas do Envelhecer". Isso dificulta a relação das pessoas com
essa nova imagem, levando-as a rejeitar o envelhecimento como um "processo
dinâmico, gradual, natural e inevitável.
Outro preconceito que dificulta ao idoso lidar com o processo de envelhecimento é a
associação de velhice à enfermidade. Nesse sentido, é importante lembrar que o
envelhecimento é um processo individual, único, influenciado pela história
biopsicossocial do indivíduo.
Mas são poucas as enfermidades próprias do envelhecer, a pessoa que envelhece
adoece como qualquer outro. O que se recomenda é uma maior atenção à sua saúde
física e psíquica e o estímulo ao autocuidado uma vez que as suas defesas estão
diminuídas, ocorrendo maior exposição às doenças.
A ideia de enfermidade incorporada ao imaginário da pessoa que envelhece, leva-a a
perceber-se doente e incapaz, a resignar-se com este estado, negando-se a aceitar os
limites naturais e resistindo assim a descobrir formas mais saudáveis de conviver com
eles.
Na medida em que se oferece ao idoso e à sociedade em geral informações sobre o
processo natural do envelhecimento e alternativas para um envelhecer ativo, esse
imaginário vai-se modificando. Essa é uma tarefa que deve desafiar toda essa
população de idosos que ingressa nesse novo século.
Baseada nas modificações intelectuais que podem ocorrer com o envelhecimento
principalmente em relação à memória, tem-se a falsa ideia de que há uma completa
deterioração das funções cognitivas, perdendo assim, o idoso a sua capacidade de
aprendizagem. Este preconceito tem suas raízes também numa visão ainda hoje
deturpada da educação que se destina aos jovens com o objetivo de os preparar para
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competir no mercado de trabalho, isto é, para produzir. Por isso, parece tão estranho a
figura do idoso ocupando um lugar nas salas de aula, nas oficinas, disputando vagas
nas universidades e até mesmo no mercado de trabalho.
É certo, conforme mostram os estudos sobre este aspeto do envelhecimento, que a
capacidade de aprender na idade mais avançada não é a mesma que na juventude,
porém mais uma vez é preciso retomar o conceito de "diferente" ao qual nos
referimos antes para aceitar a ideia de que os idosos continuam a aprender de outra
forma, com outro ritmo, com outros interesses.
O preconceito em relação à sexualidade é um dos que mais pesam sobre a pessoa que
envelhece. Dois fatores que influenciam estas crenças:
a dificuldade em distinguir sexualidade e genitalidade;
que a sexualidade é própria para a juventude.
Uma das formas de reconhecimento do corpo relaciona-se com as primeiras
experiências de contato do bebé com a mãe o que influencia na aceitação da imagem
corporal e na perceção do corpo como fonte de prazer. Ao envelhecer a imagem desse
corpo dececiona na medida em que supõe uma desilusão no outro. Isto provoca um
trauma que é agravado ainda mais pela cultura de valorização da estética e da imagem
física como se vê atualmente. Daí a importância de resgatar outros "códigos percetivos
e sensoriais" como o código tátil e do contato com o próprio corpo e o do semelhante.
A imagem corporal desfavorável de si influencia a atividade sexual e como nos mostra
Simone de Beauvoir,
"Uma outra barreira é a pressão da opinião". A pessoa idosa dobra-se ao ideal
convencional que lhe é proposto. Teme o escândalo, ou simplesmente o ridículo. Torna-
se escrava d’ "o que vão dizer". Interioriza as obrigações de decência e de castidade
impostas pela sociedade. Seus próprios desejos a envergonham, e ela os nega "...
(Beauvoir, 1990, p.393)".
Sabemos que as modificações fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento
contribuem para a diminuição das respostas aos estímulos como a ereção do pénis, a
lubrificação da vagina e outras. O desejo, a capacidade de excitar-se e alcançar o
orgasmo mantêm-se, por toda a vida numa pessoa saudável, orgânica e
psicologicamente.
A mulher que sempre foi vítima dos mitos e ideias erróneas sobre a menstruação, a
gravidez e o parto e cuja educação rígida a impediu de viver o prazer, vê -se nessa fase
da vida, impedida, pela família e pela sociedade, de exercer o direito à sua
sexualidade. Torna-se assexuada. Embora se saiba que "biologicamente a sexualidade
da mulher é menos atingida pela velhice do que a do homem" (Beauvoir, 1990, p.425),
para elas, chegar à menopausa significa não só parar de reproduzir, mas, abdicar de
toda possibilidade de prazer.
Quanto ao homem, a quem foi dado todo o direito ao sexo, envelhecer significa
diminuir o seu poder e isto torna-se mais penoso para ele do que para a mulher. Para
ambos, sob pena de serem vistos como anormais, desejo, prazer, atividade sexual,
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estão proibidos negando a sexualidade como uma função humana que está presente
em todas as fases do desenvolvimento com características diferentes em cada uma
delas.
A aceitação das mudanças e a busca de informações sobre o envelhecimento ajudam a
diminuir a influência negativa dos preconceitos sobre a sexualidade uma vez que estes
têm mais poder de interferência do que as modificações decorrentes da idade.
Para muitas pessoas o fato de o idoso evocar as suas lembranças é sinal de que as suas
funções intelectuais estão a entrar em deterioração.
"A reminiscência permite recordar pensando ou relatando fatos, atos ou vivências do
passado. É uma atividade psíquica universal, necessária na velhice porque favorece a
integração do passado ao presente, reforçando a identidade. Propicia exercitar a
memória, resignificar a vida e ajuda a manter a memória coletiva". Portanto, “recordar
é um processo vital, normal e saudável do envelhecer" diz Viguera.
Margarida Borges Pires Página 16
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Mito Fato
• Imagem negativa da velhice. • A velhice é uma etapa vital peculiar. Existem velhos
• Frequentemente associada à ativos, sadios, participantes.
doença, morte, improdutividade, dependência, decadência e • Doença, inatividade e morte pode ocorrer em qualquer faixa
solidão. etária.
• Criança para brincar, adulto para trabalhar e o velho para • Todas as idades, todas as funções. Projeto de vida não só para
descansar. "Não é para a senhora fazer nada, tem que descansar, nem para viver só por coisas fúteis. O velho pode
descansar..." brincar, trabalhar e descansar.
• A memória e a inteligência diminuem com a idade. "Demente..." • Não diminuem necessariamente, mas modificam-se. Necessidade
• O velho não aprende, é desatento, não presta atenção a nada. de exercitar a memória continuamente. Produção
"Caduco..." intelectual, artística, empresarial, social, religiosa, pessoas com
• Velho assexuado, perde o interesse e a capacidade sexual. mais de 65 anos.
"Velho depravado / velha assanhada..." • Apreendem e prestam atenção ao que lhes interessa, ao que
• Velho não tem futuro. Já deu o que tinha que dar. "Isso não é corresponde às suas necessidades, aos seus anseios. Existem
mais para mim..." velhos que ocntinuam a produzir a nível
económico, social, cultutal e artístico.
• Velho volta a ser criança. "Agora ela é que é a minha filha. É o
meu bebé..." • Relações sexuais mantidas. Ocorre redução da frequência, falta
de interesse, de parceiros.
• O velho só deve conviver com velho.
• As pessoas devem preparar-se para envelhecer, fazer planos e
• O velho vive do passado. "No meu tempo..." "Não é do meu
projetos. O projeto da vida pressupõe
tempo..."
criatividade, autonomia, educação permanente.
• O velho é uma pessoas que envelheceu, com a sua história de
vida, o seu passado, tem um presente, e é necessário construir
um futuro sem anular as outras etapas da vida. A maioria das
pessoas veem a velhice, desconsiderando toda uma história de
vida.
• Laços de amizade fazem bem ao corpo e alma. O ser humano é
um ser social. Grupos da terceira idade, grupos da igreja, centros
de convivência são importantes. Mas não deve ocorrer só entre
idosos, existe a necessidade do entrelaçamento de gerações.
• Muitas vezes o presente e o futuro não são promissores. Como
competir com a a tecnologia e o mundo globalizado? No entanto
é possível a pessoa idosa manter-se atualizada, adaptar-se a
diferentes situações.
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18. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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A qualidade de vida dos idosos sofre os efeitos de numerosos fatores, entre eles o
preconceito dos profissionais, familiares e dos próprios idosos em relação à velhice.
Há, assim, a necessidade de trabalhar esses mitos desde a infância, através dos meios
de comunicação social, nas escolas, nas famílias.
“É fundamental estimular ações que promovam educação gerontológica continuada,
visando combater a maior forma de violência: o Preconceito contra a Velhice. Só assim
será possível construir uma sociedade livre de discriminação, negligência, maus tratos,
exploração e opressão.” (Machado & Queiroz, 2002)
1.9 Representações da morte
Morte pode ser definida como sendo o cessar irreversível de:
1. do funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos;
2. do fluxo espontâneo de todos os fluídos, incluindo o ar (“último suspiro”) e o
sangue;
3. do funcionamento do coração e pulmões;
4. do funcionamento espontâneo de coração e pulmões;
5. do funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral
(morte encefálica);
6. do funcionamento completo das porções superiores do cérebro (neocórtex);
7. do funcionamento quase completo do neocórtex;
8. da capacidade corporal da consciência.
Podemos considerar a morte como a maior das crises que o homem enfrenta. Todos
nós enfrentamos crises, algumas superáveis outras não e embora estejam sempre
presentes há uma diferença que interfere na possibilidade de seu enfrentamento; na
terceira idade as perdas aceleram-se, sendo que o tempo para superá-las é menor.
Pode ocorrer, no entanto, o idoso sentir-se incapacitado ou frágil para enfrentá-las
instalando-se assim uma crise mais séria. Mesmo considerando que envelhecer e
adoecer não sejam sinónimos, não podemos ignorar que determinadas enfermidades
são mais frequentes em idosos. Existem as doenças psicossomáticas e ainda as
modificações orgânicas que não são doenças, ou seja, rugas, cabelos brancos, pós-
menopausa, postura encurvada, reflexos mais lentos, tudo isto se reflete na
autoestima. Todos os conflitos gerados por estas situações, geram a preferência pela
morte em detrimento da dor física ou psíquica. Como se não bastasse há ainda o
preconceito contra o envelhecimento, o sentimento de ser um fardo pesado a alguém.
A sensação de perdas das pessoas que se ama, da beleza, do vigor, da saúde, da
utilidade gera a imagem do “espelho quebrado”.
Aspetos sociológicos: Nas sociedades primitivas os idosos eram venerados, fonte de
sabedoria e experiência, hoje houve inversão de valores, os idosos são marginalizados
e perdem sua valorização social. A sociedade vem assistindo mudanças em relação à
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imagem do idoso. Em parte, devido ao aumento da expectativa de vida e os problemas
decorrentes do despreparo quanto a que atitudes devem ser tomadas tanto no que diz
respeito a aspetos sociais de atenção a saúde como a um sistema previdenciário que
os apoie. Atitudes preconceituosas têm feito da terceira idade um fardo aos que a
possuem. O ideal não é simplesmente prolongar a vida como a ciência tem feito, mas
que haja condições favoráveis a uma vida digna onde não haja omissão quanto às
condições do idoso. A verdade é que a velhice não é um problema social, mas a forma
com que a sociedade tem lidado com ela tem trazido problemas sociais. A
possibilidade de ações multidimensionais, tendo em vista as características da velhice
e das suas determinantes biopsicossociais assustam-nos, principalmente a partir do
momento da nossa conscientização de que também passaremos por esse processo que
nos coloca a uma pequena distância da morte, responsável por nos banir de uma
sociedade que pensamos depender de nós, mas que nos transcende. A morte biológica
significa o fim do organismo humano, mas o ser social só deixa de existir a partir do
momento em que uma série de cerimónias de despedida é realizada e a sociedade
reafirma a sua continuidade sem ele. Existe grande diferença entre conceitos pensados
como sinónimos. Envelhecimento, idoso e velhice distinguem-se quanto aos seus
aspetos. O envelhecimento é o processo que ocorre durante o curso da vida, onde há
modificações biológicas, psicológicas e sociais. O ser humano modifica-se
somaticamente do nascimento até a morte. O idoso geralmente é especificado pelo
tempo cronológico, mas existem questões físicas, funcionais, mentais e de saúde que
podem influenciar. O idoso é o resultado do processo de desenvolvimento, do seu
curso de vida. Faz parte de uma consciência coletiva. A velhice é a última fase do
processo de envelhecimento. É um conceito abstrato, sendo impossível delimitá-la em
tempo ou em características.
Cada pessoa teme mais um certo aspeto da morte. Afirma-se que se deve considerar a
morte sob duas conceções:
1. A morte do outro: o medo do abandono, envolvendo a consciência da ausência
e da separação.
2. A própria morte. A consciência da própria finitude, a fantasia de como será o
fim e quando ocorrerá.
Ao pensar a sua morte, cada pessoa pode relacioná-la a um dos seguintes aspetos:
a) Medo de morrer: Quanto à própria morte, surge o medo do sofrimento e da
indignidade pessoal. Em relação à morte do outro é difícil ver o seu sofrimento
e desintegração, o que origina sentimentos de impotência por não se poder
fazer nada.
b) Medo do que vem após a morte: Diante da própria morte existe a ameaça do
desconhecido, o medo de não ser e o medo básico da própria extinção. Em
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20. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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relação ao outro, a extinção evoca a vulnerabilidade pela sensação de
abandono.
O que parece mais temido na morte depende da época de vida de cada um e das
circunstâncias do momento como, por exemplo: o perigo eminente devido a situações
externas de guerras, crimes, violência; perturbações internas que ameaçam o sujeito,
como medos e fobias, ou mesmo a morte de alguém.
Para alguns a morte amedronta, pois é vista como fim ou como perda da consciência
idêntica ao adormecer, desmaiar ou perder o controlo. O medo da morte pode conter
também o medo da solidão, da separação de quem se ama, o medo do desconhecido,
o medo do julgamento pelos atos terrenos, o medo que possa ocorrer aos
dependentes, o medo da interrupção dos planos e fracasso em realizar os objetivos
mais importantes da pessoa. São tantos os medos, que algum sem dúvida faz parte da
nossa vida.
Os fatores que mais influenciam, no sentido de conter o medo da morte, são: a
maturidade psicológica do indivíduo, a sua capacidade de enfrentamento, a orientação
e o envolvimento religiosos que possa ter e a sua própria idade.
Resumo:
Momento trágico (viuvez, reforma, etc.)
Rutura a nível pessoal, familiar e social
Dificuldade em adaptar-se
Espera emocional negativa (desilusão com a vida, insónias, depressão)
Alteração do grupo de amigos
A velhice traz consigo a perspetiva de morte. Mesmo com o aumento da esperança
de vida é sempre um período finito. Esta finitude passa a ser mais consciente com a
chegada da velhice. A perda de amigos, familiares e de pessoas de referência social
reforça esta caraterística.
Quando existe uma doença grave, ou outra condição de saúde, incluindo aspetos
físicos, mentais e sociais que gera sofrimento, a morte passa a ser não só uma
probabilidade mas também uma alternativa.
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21. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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1.10 Problemas sociais da velhice
1.11 A pessoa idosa no final do séc. XX
O envelhecimento tornou-se uma questão social e urgente.
Nas últimas décadas, os avanços da medicina e a melhoria da qualidade de vida
contribuíram para o aumento da expectativa de vida da população. Esta situação
modificou a pirâmide etária, que se estreitou na base (infância e adolescência), e se
alargou no topo (velhice), pelo aumento da expectativa de vida e a diminuição da
mortalidade infantil.
Contudo, a modernidade é paradoxal: ao mesmo tempo que a expectativa de vida
aumenta, os idosos vivem num mundo estranho para eles. Além de preparar os idosos
para essa nova configuração social, a sociedade deve-se reestruturar e reeducar-se
para recebê-los.
A representação da pessoa idosa sofreu modificações através da história devido às
mudanças sociais que reivindicavam políticas sociais para a velhice e a criação de
novas categorias adaptadas à condição moral e “ética” do velho. No séc. XIX, na
França, a velhice caracterizava as pessoas que não podiam assegurar o futuro
financeiro, sendo designadas de acordo com a sua posição social: “velho” ou “velhote”
para os despossuídos que não podiam vender o seu trabalho; e “idosos” para aqueles
com prestígio e posses.
Hoje, a representação da velhice é marcada pela inserção do indivíduo de mais idade
na produção, estando vinculada à invalidez e à incapacidade de produzir. O termo
“velho”, na maioria das vezes, está carregado de conotações negativas, sendo
empregado para reforçar a exclusão social daqueles que não produzem mais dentro
dos moldes das sociedades capitalistas.
A partir dos anos 60, mudanças em França tornaram os vocábulos “velho” e “velhote”
pejorativos, sendo suprimidos dos textos oficiais e substituídos pelo termo “idoso”,
transformando a representação das pessoas mais envelhecidas.
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22. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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Surge, então, um novo vocábulo para designar o grupo: a “terceira idade”, etapa
interposta entre a reforma e a velhice. Entretanto, a colocação de todos os idosos sob
o rótulo de terceira idade tem criado novos recortes como o “velho jovem” e o “jovem
velho”. A terceira idade torna-se categoria classificatória de uma classe heterogénea,
mascarando a realidade social.
Assim, constatando-se o prolongamento da vida sem a melhoria das suas condições,
torna-se o idoso um estorvo social face à economia capitalista.
As categorias de idade são construções histórico-sociais. A “terceira idade”, por ex., é
uma criação das sociedades ocidentais contemporâneas, implicando na criação de uma
nova etapa de vida, acompanhada de agentes, instituições e mercados especializados.
Os recortes de idade trazem a associação de práticas sociais. Estabelecem direitos e
deveres, definem diferenças entre gerações, distribuem poder e privilégios, o que
pode ser percebido na idade para entrada e saída do mercado de trabalho, para votar,
para casar, para morrer (socialmente), para estudar, etc.
A idade geracional, por ex., estabelece-se culturalmente, independentemente da
estrutura biológica e dos estádios de maturidade. A ideia de gerações supõe pessoas
que vivenciaram as mesmas épocas, e a
mudança de geração implica mudanças de
comportamento, na produção de uma memória
coletiva e construção de uma tradição. Os idosos
ativos, através das suas práticas sociais,
contribuem para essa mudança de
comportamento e criação de uma memória
coletiva, a serviço da resistência à velhice e ao
estigma do “velho” improdutivo e dependente.
Numa cultura estruturada no modo produtivo, a saída do mercado de trabalho
modifica radicalmente a vida das pessoas, diminuindo-se obrigações trabalhistas e
familiares, seguindo-se mais rápido em direção à velhice social. Com a criação da
reforma, o ciclo de vida é modificado em três etapas: a infância e adolescência (tempo
de formação), a idade adulta (tempo de produção) e a velhice (tempo de repouso).
A reforma pode ser recebida de diferentes formas pelos idosos: uns aceitam-na como
recompensa pelos anos em que trabalharam, outros recebem-na de forma negativa,
associando-a ao afastamento social e à perda do papel produtivo, tornando-se um
sintoma social do envelhecimento.
Na sociedade atual, prega-se o respeito aos mais velhos enquanto se exige deles um
lugar para os jovens na produção, pois a valorização do profissional é proporcional à
sua juventude e capacidade de produção.
Afastando-se do processo produtivo, o idoso torna-se responsabilidade do Estado que
lhe paga a reforma.
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23. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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Novas estratégias para a transição para a reforma precisam de ser criadas com o
objetivo de preparar as pessoas para a mudança, de forma a se programarem para
alcançar novos projetos de vida após a reforma.
A velhice, na sociedade industrial capitalista, tem ficado à margem dos interesses
produtivos. O idoso tem sido rejeitado, e somente aqueles com prestígio social e de
classes favorecidas podem esquivar-se da marginalidade social através dos seus bens
acumulados. Ser idoso neste contexto é lutar para continuar a ser homem, para
sobreviver, sendo impedido de lembrar e ao mesmo tempo sofrendo as adversidades
de um ser que gradualmente se desagrega.
A sociedade industrial atribui à velhice a manutenção de papéis sociais do passado,
relacionados à força produtiva, e que não correspondem mais ao idoso. Nesta
sociedade, os idosos não podem errar. Deles esperamos infinita tolerância, perdão, ou
uma abnegação servil para a família. Momentos de cólera, de esquecimento, de
fraqueza são duramente cobrados aos idosos e podem ser o início do seu banimento
do grupo familiar.
Na velhice, a dificuldade de realizar tarefas fica evidente: as distâncias mais longas, as
escadas mais difíceis de subir, as ruas mais perigosas para atravessar. O mundo torna-
se uma ameaça e falhas são condenadas, tornando o idoso inseguro, com medo da
solidão e da marginalização social.
A relação dos familiares com o idoso também se modificou. Representado como frágil,
é poupado de discussões e decisões familiares. Desta forma, é-lhe negado a
possibilidade de conflito através da abdicação do diálogo. Isto contribui para que ele
reclame do abandono dos filhos e sinta-se banido e rejeitado.
Conscientizar-se de que envelhecer é um processo natural não significa aceitar a
velhice. Poucos são os idosos que conservam a jovialidade do espírito, a alegria de
estar vivo, a esperança no futuro, sem revoltar-se com a nova situação.
Os valores juvenis hoje difundidos têm feito com que o idoso se sinta inútil e
indesejado, tornando-se depressivo, ansioso, introspetivo e reflexivo, pensando no
tempo que falta viver. A velhice torna-se ruína, uma vez que não se conserva os
padrões de juventude eternamente.
Tudo isto leva à criação de estereótipos que caracterizam o envelhecimento: ser
improdutivo, incapaz de aprender, doente, exigindo cuidados, inferior ao jovem. Isto
cria um abismo e um conflito de gerações entre jovens e idosos.
O homem tende a abandonar o espaço do trabalho para o espaço doméstico, a mulher
tende a se adaptar melhor à velhice, pois não se afasta tanto da esfera privada do lar.
Elas tendem a conceber a velhice com tranquilidade, liberdade e felicidade, sem a
autoridade comum dos maridos, e sem preocupação com o espaço público. Para eles,
a velhice tende a traduzir-se pela desobrigação do trabalho, possibilidade de desfrute
e lazer.
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24. Acompanhamento e Animação da Pessoa Idosa
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Homens tendem a avaliar a sua idade pela produção no trabalho e as mudanças na
saúde, enquanto as mulheres a avaliam de acordo com as mudanças no núcleo familiar
(saída dos filhos, chegada dos netos, etc.).
Na velhice é preciso saber refletir sobre o vivido, assumindo novas posturas, como o
resgate de valores e modos de viver ainda não assumidos; o rompimento de rotinas, a
retomada de planos de vida incompletos; o resgate de desejos pessoais; o retorno às
emoções e sentimentos; e a reconstrução da identidade pessoal e social com base em
novos interesses e motivações. A vida é um “jogo de ganhos e perdas” e o problema da
velhice tem sido não saber tirar proveito desse jogo, pois ao interpretar a vida, em
compreender o outro, em ser sensível e em perceber o que é essencial, em descobrir
habilidades, e em dedicar-se ao outro. Envelhecer não é seguir um caminho já traçado
mas, pelo contrário, construí-lo permanentemente.
Em função das suas representações sociais sobre a velhice, idosos assumem práticas
sociais que valorizam ou não a si mesmos. Para uns, ser idoso é começar a adoecer,
não ver bem, esquecer tudo, deprimir-se, sentir-se inferior e perder o entusiasmo pela
vida. Para outros, é tempo de novas experiências e conquistas, de convívio com
amigos, viagens, ajuda aos outros e desenvolvimento de capacidades.
1.12 Mudanças de atitudes do idoso frente a velhice
Hoje, interesses em como viver o máximo possível, morrer dignamente, encontrar
auxílio no envelhecimento, participar de decisões da comunidade e família, e
prolongar o respeito e autoridade, são comuns e observados entre os idosos. Estes
interesses configuram uma nova postura em relação ao envelhecimento através da
participação em causas que deem significado à vida.
A década de 90 ofereceu um novo tipo de poder aos idosos. Por exemplo, os novos
valores sobre a saúde, qualidade de vida e longevidade. A velhice tornou-se um
investimento. Idosos com boa situação económica têm mais tempo livre para desfrutar
a vida, passando a encarar a velhice positivamente. Os idosos são libertados das
obrigações familiares e ocupacionais, e, por outro lado, têm oportunidades para
desfrute próprio, oportunidade de autoconstrução, de busca de independência e
melhoria da qualidade de vida.
A imagem do avô contador de histórias é cada vez menos aparente. Hoje, um homem
de 50 ou 60 anos não é idoso, pensamento comum décadas atrás. A capacidade de
ação, autonomia nos cuidados consigo mesmo, participação social e disposição para
novos projetos estão a modificar valores, e os idosos são valorizados pelas capacidades
de ação e jovialidade. A palavra de ordem é a prevenção do envelhecimento na
juventude.
Um novo estilo de vida surge entre os idosos. Eles preocupam-se com a dieta, o
vestuário, a aparência corporal e a atualização com o que acontece no mundo. Hoje
está a surgir um novo idoso. Através de uma postura mais ativa, o idoso redireciona a
vida e a procura novidades que proporcionam satisfação e o valorizam socialmente.
O grande desafio da velhice é aceitar-se a si mesmo, despojando-se de estereótipos
sociais impostos, não temendo o aparecimento dos primeiros fios de cabelos brancos,
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pois a velhice é inerente à existência. Devemos viver a nossa temporalidade, não nos
submetendo a uma cronologia medida artificialmente através dos rótulos. O homem é
um ser inevitavelmente direcionado para morrer, o que o faz atuar na sociedade de
maneira envolvente, até atingir a velhice, quando a liberdade do deixar está
plenamente desenvolvida.
1.13 Envelhecimento ativo
Noção: É a capacidade das pessoas que avançam em idade terem uma vida produtiva
na sociedade e na economia que quer dizer que possam determinar a forma como
reparam o tempo entre as atividades de aprendizagem, o trabalho, o lazer e os
cuidados a outros.
Assenta na possibilidade de os indivíduos
poderem optar por manter uma atividade
remunerada ou não.
O projeto de uma vida adulta prolongada revela-
se um desafio pessoal – quem sou eu, onde
estou, para onde vou. Exige esforço, é expressão
de liberdade e de autonomia, está associado ao
conceito de progresso, tenta controlar o futuro,
altera a perceção do tempo e permite encarar a
realidade como relacional.
Foram identificados comportamentos que classificaram como mais favoráveis, quer à
reconstrução dos laços sociais, quer dos papéis e dos estatutos, com efeitos positivos
no envelhecimento e na prevenção dos riscos: riscos sociais (isolamento e solidão);
riscos ambientais (barreiras, habitação desadequada); riscos de saúde (incapacidades e
dependências). Agrupam-se em dois grandes grupos: Internos (autoestima, capacidade
de relação com os outros, satisfação pessoal) e externos (rendimentos, redes de
inserção, acesso à tecnologia, acesso aos cuidados de saúde, a serviços de
proximidade).
O envelhecimento ativo tem representado uma estratégia de governação dos sistemas
de segurança social, de forma a retardar e/ou a evitar as saídas precoces do mercado
de trabalho.
Em relação à evolução dos pensionistas de velhice, no caso português, no horizonte
1990-2020, as estimativas apontam para um aumento de cerca de 60% deste grupo, ao
mesmo tempo que os pensionistas de sobrevivência apontam 100%.
As múltiplas questões a enfrentar, decorrentes das mudanças na estrutura das
populações com alongamento da vida adulta são: emprego, financiamento das
reformas, modos de vida, relações sociais, solidariedades e cooperação entre
gerações, habitat, cobertura dos riscos de saúde, entre outras.
Melhorar os níveis de saúde, de escolarização/ qualificação e de acesso a
oportunidades de desenvolvimento pessoal ao longo da vida são fatores essenciais de
sustentabilidade de sociedades com aumentos da longevidade sem paralelo na
história.
Implementar uma política de envelhecimento obriga a um esforço decidido no sentido
da eliminação das formas de segregação pela idade.
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Políticas de emprego, de formação ao longo da vida, de rendimentos, de informação,
de acesso a cuidados de saúde (preventivos, curativos e de reabilitação) e de acesso a
serviços sociais entendem-se como estratégias de promoção da qualidade de vida de
todos os cidadãos de todas as idades.
Envelhecer de uma forma ativa deve ser entendido como um direito e um dever que a
todos congrega: indivíduos pelo incentivo à cidadania, coletivo pela assunção de
políticas integradoras, de discriminação positiva (anti exclusão), de garantia de direito
à autodeterminação e à participação na vida das comunidades e da sociedade, e bem
assim à oferta de cuidados adequados à preservação da autonomia. Todas as pessoas
idosas, mesmo em situação de dependência, devem poder envelhecer permanecendo
ativas. É necessário precavermo-nos contra o risco de privilegiar as pessoas idosas
mais jovens em detrimento das pessoas muito idosas e de ter bem presente que a
relação entre atividade e saúde (nomeadamente a estimulação mental) mantém-se
válida para as muito idosas.
O investimento na prevenção da doença, das incapacidades e da perda de
competências constituem eixos de maior importância.
Acessibilidades, adaptação ao habitat, comunicação, serviços de proximidade, são
eixos estratégicos orientados para a qualidade de vida de todos e consequentemente
do envelhecimento de todos de forma ativa, com dignidade e segurança. As condições
habitacionais não devem sabotar a situação de saúde e a autonomia das pessoas
idosas. É desejável que a habitação para as pessoas
idosas obedeça a características e normas específicas,
designadamente em termos de projeto, sistemas de
aquecimento, segurança e conforto, e ainda às
características locais, tais como serviços de proximidade
e outras facilidades num ambiente social e natural
agradável, conducente à interação de todas as pessoas
de todas as idades.
Os cuidados e os transportes têm impactos significativos na capacidade das pessoas
idosas viverem de forma independente.
A qualidade de vida de todas as pessoas depende, para além de fatores económicos,
de fatores sociais e espaciais das nossas aldeias, vilas e cidades. (ONU, Habitat II, 1999)
A qualidade da intervenção social pode medir-se pela libertação do sofrimento e do
isolamento, pela dinamização/ integração em redes de sociabilidade, pela promoção
de projetos de valorização das capacidades dos indivíduos e do seu desenvolvimento
pessoal e pelo fluxo das trocas interpessoais e intergeracionais.
A intervenção social numa estratégia de envelhecimento ativo orienta-se para o
benefício de todos ao contribuir para o reconhecimento do valor social dos que
envelhecem e para uma maior visibilidade das trocas e da partilha do património
económico, socia e cultural entre gerações.
Alguns conceitos importantes:
Autonomia é a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se
deve viver diariamente, de acordo com as suas próprias regras e preferências.
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Independência é, em geral, entendida como a habilidade de executar funções
relacionadas à vida diária – isto é, a capacidade de viver independentemente na
comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros.
Qualidade de vida é “a perceção que o indivíduo tem da sua posição na vida dentro do
contexto da sua cultura e do sistema de valores de onde vive, e em relação aos seus
objetivos, expetativas, padrões e preocupações. É um conceito muito amplo que
incorpora de uma maneira complexa a saúde física de uma pessoa, o seu estado
psicológico, o seu nível de dependência, as suas relações sociais, as suas crenças e a
sua relação com características proeminentes no ambiente” (OMS, 1994). À medida
que um indivíduo envelhece, a sua qualidade de vida é fortemente determinada pela
sua habilidade de manter autonomia e independência.
Expetativa de vida saudável é uma expressão geralmente usada como sinónimo de
“expetativa de vida sem incapacidades físicas”. O tempo de vida que as pessoas podem
esperar de cuidados especiais é extremamente importante para uma população em
processo de envelhecimento.
Os fatores determinantes do envelhecimento ativo:
Fatores determinantes transversais: a cultura e o género
A cultura modela a nossa forma de envelhecer, pois influencia todos os outros fatores
determinantes do envelhecimento ativo.
Os valores culturais e as tradições determinam muito como uma sociedade encara as
pessoas idosas e o processo de envelhecimento, elas têm menor probabilidade de
oferecer serviços de prevenção, deteção precoce e tratamento apropriado.
Nos países asiáticos, a regra cultural é a valorização de famílias ampliadas e a vida em
conjunto em lares com várias gerações da mesma família.
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Os fatores culturais também influenciam na busca de comportamentos mais saudáveis.
As políticas e os programas precisam de respeitar culturas e tradições e, ao mesmo
tempo, desmistificar estereótipos ultrapassados e informações erróneas.
O género é uma “lente” através do qual se considera a adequação de várias opções
políticas e o efeito destas sobre o bem-estar dos homens e das mulheres.
O papel tradicional das mulheres como responsáveis pelos cuidados com a família
pode conduzir ao aumento da pobreza e de problemas de saúde quando ficam mais
velhas. Por outro lado, homens jovens e adultos estão mais sujeitos a lesões
incapacitantes ou morte devido à violência, riscos ocupacionais e ao suicídio. Também
assumem comportamentos de maior risco (beber, fumar…).
Fatores comportamentais determinantes
A adoção de estilos de vida saudáveis e a participação ativa no cuidado da própria
saúde são importantes em todos os estádios da vida.
Um dos mitos do envelhecimento é que é tarde demais para se adotar esses estilos
nos últimos anos de vida. Pelo contrário, o envolvimento em atividades físicas
adequadas, alimentação saudável, a abstinência do fumo e do álcool, e fazer uso de
medicamentos corretamente podem prevenir doenças e o declínio funcional,
aumentar a longevidade e a qualidade de vida do indivíduo.
Fatores determinantes relacionados a aspetos pessoais
A biologia e a genética têm uma grande influência sobre o processo de
envelhecimento.
A razão principal dos idosos ficarem doentes com mais frequência que os jovens é que
devido à vida mais longa, foram expostos por mais tempo a fatores externos,
comportamentais e ambientais que causam doenças do que os indivíduos mais novos.
Os fatores psicológicos, que incluem a inteligência e a capacidade cognitiva, são
indícios fortes de envelhecimento ativo e longevidade. Durante o processo de
envelhecimento normal, algumas capacidades cognitivas diminuem, naturalmente,
com a idade. Entretanto, essas perdas podem ser compensadas por ganhos em
sabedoria, conhecimento e experiência.
Homens e mulheres que se preparam para a velhice e se adaptam a mudanças fazem
um melhor ajuste na sua vida depois dos 60 anos.
A maioria das pessoas fica bem-humorada à medida que envelhece e, em geral, os
idosos não diferem muito dos jovens no que se refere à capacidade de solucionar
problemas.
Fatores determinantes relacionados ao ambiente físico
Deve-se dar uma particular atenção aos idosos que moram em áreas rurais (cerca de
60% no mundo todo), onde os tipos de doença podem ser diferentes em função das
condições de ambiente da falta de serviço de ajuda disponível. A urbanização e a
migração dos jovens em busca de emprego podem deixar o idoso isolado em áreas
rurais com poucos meios de se manter, e pouco ou nenhum acesso a serviços sociais e
de saúde.
Serviços de transporte público acessíveis e baratos são necessários em áreas rurais e
urbanas. Isso é especialmente importante para os idosos com problemas de
mobilidade.
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Os perigos no ambiente físico podem causar lesões incapacitantes e dolorosas nos
idosos, e as mais frequentes são decorrentes de quedas, incêndios e batidas nos
automóveis.
Os padrões de construção devem levar em conta as necessidades de saúde e
segurança das pessoas idosas, como os obstáculos nas residências que aumentam o
risco de quedas precisam ser corrigidos ou removidos.
Fatores determinantes relacionados ao ambiente social
Apoio social, oportunidades de educação e aprendizagem permanente, paz e proteção
contra a violência e maus tratos são fatores essenciais do ambiente social que
estimulam a saúde, participação e segurança, à medida que as pessoas envelhecem.
Fatores económicos determinantes
Renda
Proteção social
Trabalho
Em todo o mundo, se mais pessoas pudessem ter, o quanto antes em sua vida,
oportunidades de trabalho digno (com remuneração adequada, em ambientes
apropriados, e protegidos contra riscos), iriam chegar à velhice ainda capazes de
participar da forca de trabalho. Assim, toda a sociedade se beneficiaria. Em todas as
partes do mundo, há um aumento do reconhecimento da necessidade de se apoiar a
contribuição ativa e produtiva que idosos podem dar e fazem no trabalho formal,
informal, nas atividades não-remuneradas em casa e em ocupações voluntárias.
Nos países desenvolvidos, o ganho potencial do incentivo para as pessoas mais velhas
trabalharem mais tempo não está sendo bem entendido. Mas quando o índice de
desemprego está alto, há frequentemente uma tendência a reduzir o número de
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trabalhadores mais velhos como meio de se criar empregos para os jovens. Contudo, a
experiência mostrou que a aposentadoria antecipada usada para dar espaço a novos
empregos para os desempregados não foi uma solução eficaz.
Nos países menos desenvolvidos, os idosos tendem a se manter economicamente
ativos na velhice pela necessidade. No entanto, industrialização, adoção de novas
tecnologias e mobilidade do mercado de trabalho estão ameaçando muito do trabalho
tradicional dos idosos, especialmente nas áreas rurais. Os projetos de
desenvolvimento precisam garantir que idosos sejam qualificados para esquemas de
crédito e plena participação nas oportunidades de geração de renda.
Tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, os idosos algumas
vezes responsabilizam-se pela administração do lar e pelo cuidado com crianças, de
forma que os adultos jovens possam trabalhar fora de casa.
Em todos os países, os idosos qualificados e experientes atuam como voluntários em
escolas, comunidades, instituições religiosas, negócios e organizações políticas e de
saúde. O trabalho voluntário beneficia os idosos ao aumentar os contatos sociais e o
bem-estar psicológico e, ao mesmo tempo, oferece uma relevante contribuição para as
comunidades e nações.
1.14 Desafios de uma população em processo de envelhecimento
Os desafios de uma população em processo de envelhecimento são globais, nacionais
e locais. Superar esses desafios requer um planeamento inovador e reformas políticas
substanciais tanto em países desenvolvidos como em países em transição.
1.º Desafio: A carga dupla de doenças
À medida que as nações se industrializam, mudanças nos padrões de vida e trabalho
são inevitavelmente acompanhadas por uma transformação nos padrões das doenças.
Essas transformações apresentam maior impacto nos países em desenvolvimento.
Ainda lutando contra doenças infeciosas, desnutrição e complicações puerperais, esses
países enfrentam um rápido crescimento das doenças não transmissíveis. Esta “carga
dupla de doenças” reduz os recursos já escassos ao seu limite.
Esta mudança no padrão de doenças transmissíveis para as não transmissíveis está
ocorrendo rapidamente na maioria dos países desenvolvidos, onde as doenças
crónicas, como cardiopatias, cancro e depressão estão cada vez mais se tornando as
principais causas de morte e invalidez. Esta tendência irá crescer nas próximas
décadas.
2.ºDesafio: O maior risco de deficiência
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, as doenças crónicas são causas
importantes e dispendiosas de deficiência e pior qualidade de vida. A independência
de pessoas mais velhas é ameaçada quando deficiências físicas ou mentais dificultam a
execução de atividades quotidianas.
Com o passar dos anos, os portadores de deficiências tendem a encontrar mais
obstáculos relacionados ao processo de envelhecimento.
Diversas pessoas desenvolvem alguma deficiência mais tarde, que se relaciona ao
desgaste do processo de envelhecimento (por exemplo, artrite) ou ao início de uma
doença crónica, que poderia ter sido evitada (ex: cancro de pulmão, diabete e doença
vascular periférica), ou uma doença degenerativa (ex: demência).
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A probabilidade de sofrer sérias deficiências cognitivas e físicas aumenta
dramaticamente em pessoas de idade muito avançada.
Entretanto, as doenças associadas ao processo de envelhecimento e o início de
doenças crónicas podem ser prevenidas ou adiadas.
Algumas mudanças na comunidade são importantes, tanto na prevenção de
deficiências como na redução das restrições que pessoas com incapacidade
geralmente enfrentam. Observou-se um progresso impressionante no tratamento a
longo prazo de doenças crónicas como hipertensão e artrite, incluindo novas técnicas
para diagnóstico e tratamento precoces. Os estudos recentes enfatizaram que o
aumento do uso de acessórios – desde simples acessórios pessoais, como bengala,
andarilho e corrimão, até tecnologias desejadas por toda a população como telefones
– podem reduzir a dependência entre portadores de deficiência.
Outras deficiências relacionadas à idade incluem perda de visão e audição. As mais
frequentes causas de cegueira e deficiência visual relacionadas à idade incluem
catarata (quase 50% de todos os tipos de cegueira), glaucoma, degeneração macular e
retinopatia diabética.
A perda auditiva leva a uma das deficiências mais difundidas, especialmente entre
pessoas idosas. Essa perda pode causar dificuldades de comunicação, o que por sua
vez pode levar à frustração, baixa autoestima, reclusão e isolamento social.
Como as populações do mundo todo vivem por mais tempo, há uma necessidade
premente de políticas e programas que ajudem a prevenir e reduzir a carga de
deficiências na velhice tanto em países desenvolvidos como naqueles em
desenvolvimento.
3º Desafio: Provisão de cuidado para populações em processo de envelhecimento
À medida que as populações envelhecem, um dos maiores desafios da política de
saúde é alcançar um equilíbrio entre o apoio ao “autocuidado” (pessoas que cuidam
de si mesmas), apoio informal (cuidado por familiares e amigos) e cuidado formal
(serviço social e de saúde). Os cuidados formais incluem cuidados de saúde primários
(prestados principalmente na comunidade) e cuidados institucionais (em hospitais ou
casas de repousos).
Uma boa parte dos cuidados que os indivíduos necessitam pode ser proporcionada por
eles mesmos ou pelos cuidadores informais, e a maioria dos países aplica seus recursos
financeiros de uma forma inversa, ou seja, a maior parcela das despesas é utilizada
com cuidados institucionais.
Em todo o mundo, os familiares, amigos e vizinhos (a maioria composta por mulheres)
dão mais apoio e assistência para os mais velhos que necessitam de cuidados. Alguns
legisladores temem que se propiciarem mais cuidado formal, as famílias se envolvam
menos, mas alguns estudos demonstraram que não é bem assim. Quando há provisão
de cuidados formais adequados, a assistência informal permanece como o principal
aliado.
A maioria das pessoas idosas que necessitam de cuidados prefere ser atendida na sua
própria casa. Como a proporção de idosos aumenta em todos os países, viver em casa
até uma idade mais avançada e com a ajuda de familiares irá se tornar cada vez mais
comum.
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As informações e instruções sobre o envelhecimento ativo precisam ser incorporados
ao currículo e aos programas de treinamento para todos os trabalhadores das áreas
sociais, de saúde, de recreação, planeamento urbano e arquitetura.
4.º Desafio: A feminização do envelhecimento
As mulheres vivem mais do que os homens em quase todos os lugares. Este fato
reflete-se na maior taxa de mulheres por homens em grupos etários mais velhos.
As mulheres têm a vantagem da longevidade, mas são vítimas mais frequentes da
violência doméstica e de discriminação no acesso à educação, salário, alimentação,
trabalho significativo, assistência à saúde, heranças, medidas de seguro social e poder
político. Essas desvantagens cumulativas significam que as mulheres, mais que os
homens, tendem a ser mais pobres e a apresentar mais deficiência em idades mais
avançadas.
Por causa de sua posição de cidadãs de segunda-classe, a saúde das mulheres mais
idosas é geralmente negligenciada ou ignorada. Além disto, muitas mulheres possuem
pouca ou nenhuma renda devido aos anos de trabalho não remunerado. O cuidado
familiar é frequentemente suprido em detrimento da segurança econômica e da boa
saúde na idade mais avançada.
5.º Desafio: Ética e iniquidades
Alguns avanços científicos e a medicina moderna suscitaram várias questões éticas.
Em todas as culturas, os consumidores precisam estar bem informados sobre as falsas
declarações de produtos anti envelhecimento e os programas que são ineficazes ou
mesmo prejudiciais.
As sociedades que valorizam a justiça social devem lutar para assegurar que todas as
políticas e práticas sejam mantidas e para garantir os direitos de todas as pessoas,
independente da idade.
A idade avançada frequentemente exacerba outras desigualdades pré-existentes
associadas à raça, etnia ou ao gênero.
Para as pessoas idosas e pobres, as consequências dessas experiências anteriores são
agravadas através de outras exclusões de serviços de saúde, esquemas de crédito,
atividades geradoras de renda e processos decisórios. As desigualdades quanto à
atenção à saúde ocorrem quando porções de populações pequenas e
comparativamente prósperas e em processo de envelhecimento, especialmente em
países desenvolvidos, consomem um montante desproporcional dos recursos públicos
para seus cuidados.
6.º Desafio: A economia de uma população em processo de envelhecimento
Nota-se um aumento de custos resultantes da explosão do envelhecimento nos vários
países.
7.º Desafio: A criação de um novo paradigma (modelo)
A terceira idade foi tradicionalmente associada à aposentadoria, doença e
dependência. Mas estas ideias não são a realidade, pois muitos idosos ainda se
encontram no ativo.
É o momento de termos um novo paradigma, que perceba os idosos como
participantes ativos de uma sociedade com integração de idade, contribuintes ativos, e
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beneficiários do desenvolvimento. Reconhece a importância das relações e do apoio
entre familiares e diferentes gerações.
Requer programas que apoiem o aprendizado em todas as idades e permitam às
pessoas entrar e sair do mercado de trabalho para assumir o papel de cuidadores em
diferentes momentos.
Essa abordagem apoia a solidariedade entre as gerações e fornece maior segurança
para crianças, pais e pessoas idosas.
Educar os jovens sobre o envelhecimento e cuidar da manutenção dos direitos das
pessoas mais velhas irão ajudar a reduzir e eliminar a discriminação e o abuso.
1.15 Ser velho hoje, no meio rural e no meio urbano
Em primeiro lugar, devemos distinguir o idoso rural do idoso urbano.
Em segundo lugar, devemos olhar o idoso no contexto da família, incluindo filhos e
netos.
Finalmente, deverão ser analisadas as relações sociais complexas fora da família.
Assim, o idoso, no meio rural, era uma figura privilegiada no seio da comunidade. À
sua figura estava ligada toda a história familiar e patrimonial; fossem ricas ou pobres,
as famílias mantinham no seu seio o idoso. O seu património constituía como que uma
garantia de assistência á velhice. Embora a divisão do património resultasse de um
sistema de desigualdades no seio das comunidades, a verdade é que idoso, através do
seu património, estava presente na família e geria os seus bens até ao dia em que
morria. Na família, o idoso era uma ponte de ligação ou relacionamento com a geração
seguinte.
Este modelo rural começou a ser alterado há dois séculos através da industrialização e
consequente crescimento das sociedades urbanas, e a maior parte dos idosos de hoje
já fogem ao perfil anterior e enquadram-se no perfil do que chamamos de idoso
urbano. O idoso urbano defronta-se com vários problemas resultantes de viver na
cidade moderna, o maior dos quais é a solidão.
A solidão é mais do que o resultado do abandono a que alguns filhos votam os pais. A
fuga dos jovens para as periferias na procura de uma melhor qualidade de vida e de
sucesso material a todo o custo, retira-lhes tempo para outras ocupações,
nomeadamente para o convívio com a família. O idoso é o elo mais fraco da família, e
por isso o primeiro a ser posto no fim da cadeia de relações familiares.
A isto há que juntar o envelhecimento da população urbana. O envelhecimento da
população urbana é um fenómeno relativamente recente e muito intenso, que resulta
da ida das novas gerações para bairros novos. Na cidade ficam os idosos.
Esta situação deverá ser mudada: a solução está na alteração da fisionomia das
cidades, e na mudança de atitude perante os idosos. Os cidadãos, nas suas respostas
sociais, têm de aceitar que a sociedade tem um dever de gratidão a cumprir com
aqueles que protagonizaram o êxodo rural da década de 60 e que fizeram crescer as
cidades. No caso dos centros históricos, a solução está na sua renovação urbana, de
modo a que os jovens se fixem lá.
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1.16 Respostas institucionais
1.17 Pensar novas respostas
Cada vez mais, torna-se fundamental manter a pessoa idosa no seu meio social tendo
em vista o seu bem-estar físico, psíquico e emocional. Desta forma, questiona-se cada
vez mais a institucionalização da pessoa idosa como resposta social prevalente,
verificando-se uma tendência para a atuação conjunta dos vários organismos
institucionais, quer a nível nacional como a nível local no sentido de criar respostas
alternativas à institucionalização do idoso. Criaram-se nos últimos anos respostas tais
como: os serviços de apoio domiciliário, centros de dia e de convívio, e até mesmo os
serviços de acolhimento domiciliário. A nível nacional, as respostas sociais
institucionais existentes podem caracterizar-se segundo dois tipos: o acolhimento
permanente que engloba os equipamentos de colocação institucional de idosos, tais
como: os lares, as residências e famílias de acolhimento; o acolhimento temporário, de
carácter não institucional, reúne os serviços de apoio e acompanhamento local dos
idosos, tais como: os serviços de apoio domiciliário.
Cada vez mais, as instituições tentam oferecer serviços que promovam um
envelhecimento bem-sucedido, que potenciem a conservação do empenhamento
social e do bem-estar subjetivo, conceitos estes difundidos pelos especialistas nesta
matéria.
Nos últimos anos têm vindo a realizar-se vários estudos no sentido de se saber quais os
fatores que mais contribuem para a melhoria da qualidade e diversidade das respostas
sociais que permitam uma maior satisfação das necessidades da pessoa idosa, quer
esteja ou não institucionalizada. Um dos estudos mais ambiciosos neste domínio foi
conduzido por Cameron (1975) que refere que os sentimentos de felicidade, de
tristeza, e de bem-estar subjetivo não se degradam com a idade e que os idosos não
têm uma satisfação de viver inferior à dos jovens. A variabilidade entre os indivíduos
parecem, pelo contrário, aumentar com o envelhecimento, neste sentido fala-se cada
vez mais de velhices e não de velhice, não existindo assim a velhice, mas antes dando
ênfase à existência da heterogeneidade com que cada idoso vive o seu próprio
processo de envelhecimento, sendo este, altamente influenciado pelo suporte social
de que dispõe, permitindo ao mesmo tempo a manutenção da sua participação social,
tanto quanto possível.
Desde as investigações de Durkheim (1987), que o isolamento e a ausência das
relações com os outros são fatores de predição dos comportamentos suicidas, que
foram também ao encontro dos estudos feitos com idosos. Neste sentido, os
equipamentos sociais têm de basear todas as suas resposta fazendo com que as
pessoas percebam o seu potencial, promovendo o seu bem-estar físico, social e mental
ao longo do curso da sua vida, o que inclui uma participação ativa dos seniores nos
mais variados domínios da sociedade, intervindo nas questões económicas, espirituais,
culturais, cívicas e até mesmo ao nível da participação das políticas sociais.
Donald (1997) formulou algumas classes gerais que podem servir de referência às
respostas sociais, tais como:
O bem-estar físico, em que se destacam os aspetos materiais, saúde, higiene e
segurança;
As relações interpessoais, que pode incluir a família, amigos e participação na
comunidade;
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O desenvolvimento pessoal, que representa as oportunidades de
desenvolvimento intelectual, e autoexpressão;
As atividades recreativas que podem subdividir-se em três partes: Socialização,
entretenimento, passivo ou ativo;
As atividades de carácter espiritual, em que estão envolvidas, a atividade
simbólica, religiosa e o autoconhecimento.
Muitos estudos vêm referir que a qualidade de vida, ou falta desta nos idosos,
depende em grande medida do facto dos idosos possuírem autonomia para executar
as atividades do dia-a-dia, manter uma relação familiar ou com pessoas significativas
para si, ter recursos económicos suficientes e desenvolver/participar em atividades
lúdicas e recreativas continuamente.
Segundo Jacob (2002), as respostas sociais tendem a evoluir, sendo que os estudos
apontam para:
O aumento da procura deste tipo de serviços, havendo um elevado nível de
procura expressa não satisfeita (lista de espera) nas valências para idosos;
Que os atuais centros de convívio poderão evoluir para as chamadas
universidades de terceira idade, tornando-se assim mais dinâmicos, e com uma
maior adesão por parte dos idosos, sendo mais ativos;
Para que os Centros de Dia funcionem todos os dias da semana (fins de semana
e férias) e em horário mais alargado;
Que os serviços de apoio domiciliário tenderão a aumentar, assim como os
serviços tenderão a funcionar todos os dias, mesmo no horário noturno;
Que os lares tenderão a diminuir, tornando-se cada vez mais especializados em
grandes dependentes e idosos com demências;
Que irão surgir mais residências, versões mais reduzidas (até 25 utentes) e
melhorados os lares;
Que o trabalho com idosos irá ser cada vez mais especializado e exigente;
Para que exista um aumento bastante significativo de atividades de animação
para sénior.
Tendo em conta os estudos realizados nesta área que vieram contribuir para encarar
de forma diferente o processo do envelhecimento, bem como, as problemáticas que se
colocam, a necessidade de uma formação específica e contínua dos recursos humanos
destas instituições e equipamentos sociais, quer ao nível das chefias, quer ao nível dos
seus colaboradores, tornam-se fundamentais. Essa formação deve ser específica e
contínua, uma vez que, numa sociedade em constante mudança vão surgindo novas
realidades e novas problemáticas que este tipo de serviços deverá dar resposta. Assim,
é necessário que as instituições e equipamentos sociais tenham um espírito de
abertura suficiente face ao exterior, no sentido de estarem em pleno contacto com o
meio, sendo capazes das necessárias adaptações, quer ao nível das políticas sociais,
quer ao nível das respostas que efetivamente prestam. Assim, e só assim, este tipo de
serviços e equipamentos sociais poderão colocar o utente, o cliente no centro de toda
a sua atuação, sendo este o princípio primordial de toda e qualquer resposta social, de
acordo com as novas orientações.
Embora os apoios sociais e financeiros dirigidos aos idosos se continuem a revelar
insuficientes no nosso país, parece-nos relevante salientar algumas formas de
equipamentos disponíveis, nomeadamente:
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Lares de Idosos – equipamentos coletivos de alojamento permanente ou
temporário, destinados a fornecer respostas a idosos que se encontrem em
risco, com perda de independência e/ou autonomia.
A insuficiência de lares de idosos estatais tem dado origem a uma verdadeira
proliferação de lares privados (que visam essencialmente fins lucrativos), que
muitas vezes funcionam clandestinamente e sem as condições que confiram
aos idosos o mínimo de dignidade.
Lares para Cidadãos Dependentes – constituem respostas residenciais a idosos,
que apresentam um maior grau de dependência (acamados).
Centros de Dia – constituem um tipo de apoio dado através da prestação de um
conjunto de serviços dirigidos a idosos da comunidade, cujo objetivo
fundamental é desenvolver atividades que proporcionem a manutenção dos
idosos no seu meio sociofamiliar.
Centros de Convívio – são centros a nível local, que pretendem apoiar o
desenvolvimento de um conjunto de atividades sócio recreativas e culturais
destinadas aos idosos de uma determinada comunidade.
Apesar das respostas sociais nem sempre corresponderem ao desejável, vai-se
notando uma crescente preocupação em implementar respostas inovadoras,
destacando-se recentemente:
O Apoio Domiciliário – consiste na prestação de serviços, por ajudantes e/ou
familiares no domicílio dos utentes, quando estes, por motivo de doença ou
outro tipo de dependência, sejam incapazes de assegurar temporária ou
permanentemente a satisfação das suas necessidades básicas e/ou realizar as
suas atividades diárias. É um tipo de apoio que conquistou muitos adeptos, na
medida em que se caracteriza pela prestação de um serviço de proximidade
com cuidados individualizados e personalizados. Além disso, é preservada a
família e a casa que constituem para o idoso um quadro referencial muito
importante para a sua identidade social.
Acolhimento Familiar – consiste em apoios dados por famílias consideradas
idóneas que acolhem temporariamente idosos, quando estes não têm família
natural ou tendo-a não reúne estas condições que proporcionem um bom
desempenho das suas funções.
As Colónias de Férias e o Turismo Sénior – são prestações sociais em
equipamentos ou não, que comportam um conjunto de atividades que
pretendem satisfazer as necessidades de lazer e quebrar a rotina,
proporcionando ao idoso um equilíbrio físico, psíquico, emocional e social.
O Termalismo – é uma medida que visa permitir aos idosos em férias
tratamentos naturais, reduzindo assim o consumo de medicamentos.
Proporciona também a deslocação temporária da sua residência habitual,
permitindo deste modo o contacto com um meio social diferente, promovendo
a troca de experiências, que quebram ou reduzem o frequente isolamento
social.
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