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Professor PDE: Maxwel Lima
CONTEXTO E SENTIDOS
Em 1964, o governo Norte
Americano, em conluio com
setores da burguesia, da política e
das forças armadas brasileiras
desferem um golpe fatal à
democracia no Brasil ao deporem,
em um Golpe Militar, o Presidente
João Goulart, como cita o filme
documentário “O dia que durou 21
anos”, de Camilo Tavares.
Como não aconteceu a resistência
que se esperava, o Golpe
conseguiu manter as aparências,
o Congresso permaneceu aberto,
se bem que enfraquecido. No
entanto a “Caixa de Pandora”
havia sido aberta e, a contragotas os golpistas vão se
revelando.
Em 1965 com a promulgação do AI-2
os partidos políticos são extintos e
com eles as eleições diretas para
presidente da República; em 1966
com o AI-3 o Congresso é fechado e,
finalmente em 1968 com a
promulgação do AI-5 o regime se
mostra por inteiro –DITADURA
MILITAR- começa a censura, e as
perseguições.
No ano de 1968, a juventude do Mundo
se rebela contra a ordem
estabelecida, surge o movimento de
contracultura com manifestações por
uma sociedade mais justa e
democrática: Na França, “O Maio de
68”, na Tchecoslováquia “A
Primavera de Praga”, nos EUA, as
passeatas contra a Guerra do Vietnã.
O Brasil, apesar de ser um país,
à época, predominantemente
rural, com a população, de
maioria analfabeta, com meios
de comunicação de massa
muito precários, em uma
época em que o veiculo mais
moderno era a televisão,
que dava seus primeiros passos, e era
artigo de luxo, acessível a poucas e
abastadas famílias das principais
cidades, época em que ainda não
existiam satélites, estações
repetidoras e nem se quer o vídeo
tape, o radio era o meio mais rápido
de comunicação, mas estava
fortemente censurado.
Devido à censura ou
autocensura- imposta aos
meios de comunicação,
prisões, mortes e exílio
aconteceram sem que a
população ficasse sabendo.
Mesmo assim a juventude,
politizada, não se calou e,
apesar da forte repressão,
saiu às ruas em protesto
contra a ditadura, alguns
“Quixotescamente” pegaram
em armas.
Contraditoriamente, com o advento dos
festivais da canção, nas principais
emissoras de TV como Excelsior, Record
e Globo, a música popular brasileira vivia
um grande momento de criação e
repercussão, autores como Geraldo
Vandré, Chico Buarque entre outros viram
uma maneira de ludibriar a censura e
servir à Nação como instrumento de
divulgação e resistência ao regime militar.
Foram vários os festivais da
canção que fizeram sucesso
durante os “anos de chumbo”,
suas estruturas narrativas
mexiam com os sentimentos
dos telespectadores,
como o do bom moço, do rebelde e
a heroína, como revela a Chico
Buarque, o repórter do
documentário “Uma noite em 67”
citando Paulinho Machado de
Carvalho, diretor da TV Record. É
nesse contexto histórico que
surgem as canções que
analisaremos.
Para esclarecer o percurso que
seguiremos, análises aqui
propostas, consideramos que os
festivais da canção foram mais do
que um mero suporte ao gênero
canção, tornaram-se eles
próprios, também enunciadores,
produzindo seu próprio gênero
discursivo -programas de TV.
Para tanto as emissoras
criaram argumentos que
dividiam as platéias como
torcidas de futebol, a favor
ou contra essa ou aquela
canção.
No argumento criado pela tv, o
compositor Chico Buarque era o
bom moço, branco, jovem, bonito,
“olhos claros”, filho de uma
família de intelectuais do calibre
de um Sérgio Buarque de
Holanda, seu pai, e sobrinho de
Aurélio Buarque de Holanda.
Chico era o “queridinho do Brasil”,
compositor da canção “A Banda"
que fazia enorme sucesso, em
todas faixas etárias e classes
sociais; os militares quiseram
usá-la para uma campanha de
alistamento militar, a proposta foi
recusada pelo artista.
Os militares nunca o perdoram
e começou aí seu martirio,
como o artista mais censurado
pela ditadura.
Contudo o compositor resistiu e,
produzindo uma obra recheada
de metáforas e efeitos de sentido,
ludibriou a censura e, serviu
como um alto falante que
denunciou os crimes cometidos
pelos usurpadores da Pátria.
Sua bagagem intelectual e
conhecimento do discurso
foram os passaporte que
fez com que sua obra
sobrevivesse para além do
regime.
Fato esse que não ocorreu com
Geraldo Vandré, artista contestador
desempenhou o papel do revoltado
no argumento montado pela televisão
e, ao se opor ao regime, com seus
discursos diretos, conclamando a
juventude à resistência e luta,
despertou a ira dos orgãos de
repressão.
Contexto e sentidos

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Contexto e sentidos

  • 2. CONTEXTO E SENTIDOS Em 1964, o governo Norte Americano, em conluio com setores da burguesia, da política e das forças armadas brasileiras desferem um golpe fatal à democracia no Brasil ao deporem, em um Golpe Militar, o Presidente João Goulart, como cita o filme documentário “O dia que durou 21 anos”, de Camilo Tavares.
  • 3. Como não aconteceu a resistência que se esperava, o Golpe conseguiu manter as aparências, o Congresso permaneceu aberto, se bem que enfraquecido. No entanto a “Caixa de Pandora” havia sido aberta e, a contragotas os golpistas vão se revelando.
  • 4. Em 1965 com a promulgação do AI-2 os partidos políticos são extintos e com eles as eleições diretas para presidente da República; em 1966 com o AI-3 o Congresso é fechado e, finalmente em 1968 com a promulgação do AI-5 o regime se mostra por inteiro –DITADURA MILITAR- começa a censura, e as perseguições.
  • 5. No ano de 1968, a juventude do Mundo se rebela contra a ordem estabelecida, surge o movimento de contracultura com manifestações por uma sociedade mais justa e democrática: Na França, “O Maio de 68”, na Tchecoslováquia “A Primavera de Praga”, nos EUA, as passeatas contra a Guerra do Vietnã.
  • 6. O Brasil, apesar de ser um país, à época, predominantemente rural, com a população, de maioria analfabeta, com meios de comunicação de massa muito precários, em uma época em que o veiculo mais moderno era a televisão,
  • 7. que dava seus primeiros passos, e era artigo de luxo, acessível a poucas e abastadas famílias das principais cidades, época em que ainda não existiam satélites, estações repetidoras e nem se quer o vídeo tape, o radio era o meio mais rápido de comunicação, mas estava fortemente censurado.
  • 8. Devido à censura ou autocensura- imposta aos meios de comunicação, prisões, mortes e exílio aconteceram sem que a população ficasse sabendo.
  • 9. Mesmo assim a juventude, politizada, não se calou e, apesar da forte repressão, saiu às ruas em protesto contra a ditadura, alguns “Quixotescamente” pegaram em armas.
  • 10. Contraditoriamente, com o advento dos festivais da canção, nas principais emissoras de TV como Excelsior, Record e Globo, a música popular brasileira vivia um grande momento de criação e repercussão, autores como Geraldo Vandré, Chico Buarque entre outros viram uma maneira de ludibriar a censura e servir à Nação como instrumento de divulgação e resistência ao regime militar.
  • 11. Foram vários os festivais da canção que fizeram sucesso durante os “anos de chumbo”, suas estruturas narrativas mexiam com os sentimentos dos telespectadores,
  • 12. como o do bom moço, do rebelde e a heroína, como revela a Chico Buarque, o repórter do documentário “Uma noite em 67” citando Paulinho Machado de Carvalho, diretor da TV Record. É nesse contexto histórico que surgem as canções que analisaremos.
  • 13. Para esclarecer o percurso que seguiremos, análises aqui propostas, consideramos que os festivais da canção foram mais do que um mero suporte ao gênero canção, tornaram-se eles próprios, também enunciadores, produzindo seu próprio gênero discursivo -programas de TV.
  • 14. Para tanto as emissoras criaram argumentos que dividiam as platéias como torcidas de futebol, a favor ou contra essa ou aquela canção.
  • 15. No argumento criado pela tv, o compositor Chico Buarque era o bom moço, branco, jovem, bonito, “olhos claros”, filho de uma família de intelectuais do calibre de um Sérgio Buarque de Holanda, seu pai, e sobrinho de Aurélio Buarque de Holanda.
  • 16. Chico era o “queridinho do Brasil”, compositor da canção “A Banda" que fazia enorme sucesso, em todas faixas etárias e classes sociais; os militares quiseram usá-la para uma campanha de alistamento militar, a proposta foi recusada pelo artista.
  • 17. Os militares nunca o perdoram e começou aí seu martirio, como o artista mais censurado pela ditadura.
  • 18. Contudo o compositor resistiu e, produzindo uma obra recheada de metáforas e efeitos de sentido, ludibriou a censura e, serviu como um alto falante que denunciou os crimes cometidos pelos usurpadores da Pátria.
  • 19. Sua bagagem intelectual e conhecimento do discurso foram os passaporte que fez com que sua obra sobrevivesse para além do regime.
  • 20. Fato esse que não ocorreu com Geraldo Vandré, artista contestador desempenhou o papel do revoltado no argumento montado pela televisão e, ao se opor ao regime, com seus discursos diretos, conclamando a juventude à resistência e luta, despertou a ira dos orgãos de repressão.