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A Peregrinação Bahá’í

ao Brasil
1919

Por Kay Zinky

Belém

Recife
Maceió
Salvador

São Paulo Rio de Janeiro
Santos

Baseado nas cartas escritas
por Martha Root
durante sua viagem à América do Sul
A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
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Titulo Original: Martha Root; Herald of the Kingdom – A Compilation. (somente traduzido a parte inicial do capítulo 4, pp 39-60.)
© 2009 copyleft
Todos os direitos em português reservados para:
Editora Bahá’í do Brasil
Caixa Postal 1085
13800-973 Mogi Mirim SP
www.editorabahaibrasil.com.br
ISBN: 978-85-320-0203-7
•	 1a Edição – 2009 (versão eletrônica)
Tradução: Bijan Ardjomand
Outra obra em português com dados sobre Martha Root: Martha Root: No Brasil, no
Mundo, na eternidade. 1a edição 1989.

Caso for imprimir o livro utilizar
papel A4: 210 x 297 mm.

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul

Prefácio
Uma vida como de Martha Root (1872-1939) é cercada de potentosos momentos, e sem
dúvida alguma um deles, para nós brasileiros, foi sua viagem ao Brasil em 1919. A certeza de
que é um marco histórico espiritual do país, pois foi a primeira vez que um bahá’í pisou em
nosso solo tropical, nos fez celebrar os 90 anos de sua passagem por aqui, com este pequeno,
porém detalhado resumo de seu diário de bordo e cartas escritos durante aquela viagem.
No futuro, historiadores levantarão os detalhes, nomes e ações, e suas repercussões junto
à sociedade brasileira, o quanto alterou as vidas e famílias das pessoas com quem Martha Root
entrou em contato; os documentos e livros doados à instituições comerciais e educacionais
brasileiras; os locais por onde passou – tudo será detalhado.
Nas palavras de ‘Abdu’l-Bahá a ela, encontramos a magnitude de sua posição:
“Tu és realmente uma arauta do Reino e precursora do Convênio, e te sacrificas. Mostras bondades para com todas as nações. Estás espargindo a semente
que a longo prazo trará milhares de colheitas. Plantas uma árvore que dará folhas,
flores e frutos até a eternidade, e cuja sombra crescerá dia a dia em magnitude.”
Editora Bahá’í do Brasil

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul

A Peregrinação Bahá’í
ao Brasil
1919
Ao perceber a urgência de ir à América do Sul para difundir a mensagem bahá’í, a srta.
Martha Root, de Cambridge Springs, Pa, levantou-se para obedecer. Na segunda noite em
Nova Iorque, numa residência em que falou sobre a Causa Bahá’í, ela encontrou-se com o
dirigente de um grupo de jornais e este lhe pediu para que lhe vendesse seus artigos a respeito
da América do Sul. Este dirigente enviou suas histórias a uma centena de jornais. Ao mesmo
tempo, como cortesia, publicou um breve artigo de trezentas palavras sobre a Revelação
Bahá’í.
Na expectativa de zarpar em 21 de junho de 1919, quando finalmente em 22 de julho
o navio iniciou a viagem, os marinheiros americanos que estavam em greve tiveram que ser
substituídos por alguns marinheiros chineses. Assim, durante oito dias o navio ficou parado
junto à Estátua da Liberdade.
Depois do grande mal-estar causado pela fadiga, a tensão da greve e a percepção de
que os passageiros tinham uma atitude espiritual diferente – fumando, bebendo e jogando
bridge e poker – por dois dias a srta. Martha Root não tentou cumprir a tarefa de transmitir
a Mensagem. Ela achava que era a pessoa menos indicada para contatar tal classe de gente.
Ela não dançava, nem jogava cartas, e tampouco era uma esportista entusiasta.
Ao ler a Palavra Criativa, parecia que cada linha era um caminho que ela deveria seguir:
“Nao deveis permitir que o convencionalismo vos faça parecer frios e antipáticos a indivíduos estranhos de outros países... Sede bondosos com estrangeiros... Ajudai-os a sentirem-se
como em suas casas... perguntando se podeis auxiliá-los em alguma coisa; tentai tornar suas
vidas um pouco mais felizes... Deixai que aqueles que se encontrarem convosco saibam, sem
proclamardes o fato, que sois realmente bahá’ís.” E ainda: “Se formos verdadeiros bahá’ís,
a linguagem não é necessária. Nossas ações adiantarão o mundo, espalhando a civilização,
contribuindo para o progresso da ciência e ocasionando o desenvolvimento das artes.... Não
é somente através do ofício religioso que os eleitos de Deus alcançam a santidade, mas sim,
por meio de sua vida paciente de serviço ativo têm eles trazido luz ao mundo.”*
	 Muitos dos amigos bahá’ís haviam dado presentes à srta. Martha Root. Esses foram
distribuídos para o conforto de outros. Os passageiros representavam habitantes da Bahia,
Argentina, Pará, Uruguai e Paraguai, e homens de negócios da Grã Bretanha, Dinamarca e
Estados Unidos. Provavelmente a terça parte era católica, e havia um bispo de uma igreja
*Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em Paris, 1911 , pp. 1-2, 74 (Mogi Mirim: Editora Bahá’í Brasil. 2005, 4ªedição)

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
protestante comissionado para usar um milhão e meio de dólares para desenvolver seu trabalho; havia quatro pessoas da Ciência Cristã e várias de outras fés; mas visivelmente a maioria
não estava interessada na vida espiritual.
	 A srta. Martha Root, após contatar todo mundo e orando por habilidade de servir melhor, de modo mais inteligente e amoroso, teve a primeira oportunidade, da seguinte maneira:
todos os homens haviam levantado dinheiro para comprar troféus para os esportes. Ela pegou
a melhor peça de seu vestuário, fez o melhor que pôde à maneira artística na qual os japoneses costumam presentear, e levou-o ao comitê esportivo para ser utilizado como prêmio. Ela
explicou ainda que não entendia muito de esportes, mas queria se juntar à “festa de família”
e participar de tudo, mas não do peso-pesado. (A srta. Martha Root era de estatura pequena
e franzina).
	 No dia seguinte, sendo o primeiro domingo a bordo, a srta. Martha Root pediu permissão ao capitão para falar sobre a Causa Bahá’í à noite. O intendente colocou um grande
aviso no quadro de avisos. Ninguém a bordo havia ouvido a respeito do Movimento Bahá’í.
Os membros do comitê esportivo foram os primeiros a entrar no salão de música, ajudaram
na divulgação e cada um convidou os outros. Todos compareceram com a exceção de uns
poucos católicos e um outro jovem.
	 Este “outro jovem” havia recebido o livreto azul** no primeiro dia. Certa vez ele
conversou durante cinco horas sobre a Causa. Tirando aquele livreto de seu bolso, ele disse: — Eu li isso não uma nem duas, mas três vezes; ele é demasiadamente utópico e jamais
funcionará.
Este homem tinha muitas pessoas sob seu comando; ele havia procurado iniciar sistemas
de igualdade, mas as pessoas sempre lhe tiravam vantagem, retribuindo com pouco trabalho;
assim ele voltou ao seu antigo rigor para com eles. Ele está tão próximo ao Reino: tão fino
nos seus modos, e agora tendo falido, desconfiava de pessoas e de diferentes pensamentos.
Ao final de cada conversa ele dizia:
— Oh, eu gostaria de poder acreditar nisso como você. Queria que as pessoas vivessem
desse modo.
	 O capitão, o intendente e vários oficiais assistiam à palestra. O navio balançava de
tal modo que Martha Root se segurava a um pilar enquanto falava. Depois da palestra de
mais de uma hora, o intendente fez um breve agradecimento. Após o término, o bispo tomou
a palavra e falou contra a Fé Bahá’í. Não que ele já tivesse ouvido a respeito antes, mas ele
disse que não se pode ser cristão e ao mesmo tempo acreditar em outras religiões. A srta.
Martha Root respondeu-lhe ponto por ponto e a partir dessa noite, eles se tornaram amigos.
O próprio argumento dele contra, atraiu pessoas para a Fé. Alguns jovens estudantes, também
começaram a fazer perguntas inteligentes. Um pequeno grupo de espectadores na discussão
disse:
— Quando vocês tiverem mais explicações interessantes como estas, podem ter a certeza
de que nós queremos participar.
Esta palestra noturna durante a viagem, imediatamente, abriu o caminho para muitas
conversas privadas no convés. No dia seguinte, uma pessoa da Ciência Cristã disse:
— Sua palestra causou uma grande impressão, até mesmo os ‘beberrões’ dizem que é
um bom tipo de religião.
A bebedeira no navio era extraordinária. Os “coveiros” e “cavalheiros beberrões” –  
*Contendo um esboço da história e dos princípios do Movimento Bahá’í.

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
como as moças os chamavam – se reuniam em volta do bar das 6 da tarde às 2 da manhã. O
fato de o quarto da srta. Martha Root ficar exatamente em frente ao bar, aliado ao fato de sua
encantadora e despreocupada companheira de quarto ter dois macacos, fez com que ela entendesse o que ‘Abdu’l-Bahá quis dizer na Sua Epístola a ela: “Que possas esquecer repouso
e tranquilidade.” Essas pessoas eram brilhantes e representavam algumas das maiores companhias comerciais do mundo; elas poderiam levar a Mensagem a mais de cinquenta milhões
de pessoas na América do Sul. Das conversas no convés percebia-se que alguns tinham pais
religiosos, um ou outro frequentou escolas ministeriais, mas abandonaram sua religião. Todos
tinham boas qualidades e manifestavam características de delicadeza.
	 O dia seguinte à palestra bahá’í, a srta. Martha Root, só de brincadeira leu a mão de
um dos passageiros. Todos ficaram agitados e queriam fazer a leitura de suas mãos. O capitão fez formar filas e levantou sua própria mão para ser lida primeiro. A leitura das mãos
continuou por todo o dia, até mesmo cada camareira teve sua vez e, finalmente, Snowball, o
jovem corneteiro de Barbados, ergueu suas rechonchudas mãos negras. Martha Root estudou
quiromancia um pouco antes de ser bahá’í, apesar de não haver nada consistente naquilo.
‘Abdu’l-Bahá disse que as linhas das mãos, sem dúvida, dizem algo a respeito do caráter do
indivíduo. De qualquer modo, isso a ajudou a rapidamente se tornar conhecida e três dias
depois, o capitão desafiou-a diante da tripulação:
— Eu aposto que não pode ler minha mão exatamente igual uma segunda vez. Se
provar que pode, eu colocarei isso nos registros do navio entre os passageiros destacados de
que você é a primeira bahá’í a navegar por essas rotas, e poderão encontrar tudo sobre o que
é ser bahá’í lendo o livro (The Bahá’í Revelation de Thornton Chase) que você deixou na
biblioteca do navio.
A srta. Martha Root aceitou seu desafio e leu sua mão, exatamente igual, numa segunda
vez.
	 Alguns dos passageiros eram agnósticos. O da Ciência Cristã disse:
— Minha crença me é tão preciosa que não a profanaria conversando a respeito dela
com pessoas que não a apreciariam.
Até mesmo a bordo desse navio, a conversa com todos os tipos de passageiros mostrou
que as pessoas estavam preparadas para ouvir. Muitas vezes, aqueles que o bahá’í espera
que aceitem, parecem voltar a dormir, e aqueles que parecem profundamente adormecidos,
despertam. Se alguém puder esquecer sua própria incapacidade e permanecer evanescente,
Bahá’u’lláh poderá falar. A oração revelada para Abul Fazl pode ser útil a outros instrutores
bahá’ís: “Eu Te suplico pela fulgência do sol de Tua beneficência e pelas ondas do mar de
Tua generosidade, que conceda às minhas palavras e pronunciamentos um traço dentre os
traços de Tua Suprema Palavra, de modo que a realidade de todas as coisas possa ser atraída
e absorvida.”*
	 Durante todos os dias da viagem, as palavras de ‘Abdu’l-Bahá nas Epístolas do Plano
Divino eram lembradas por Martha Root: “Ó se eu pudesse viajar, ainda que a pé e na máxima
pobreza, a essas regiões e, erguendo o chamado de Yá Bahá’u’l-Abhá em cidades, aldeias,
montanhas, desertos e oceanos, promover os ensinamentos divinos! Isso, infelizmente, eu
não posso fazer. Quão intensamente eu lamento! Apraza a Deus que vós o possais fazer.”†
*Não encontrada referência.
†Epístolas do Plano Divino, pp. 39-40 (Mogi Mirim: Editora Bahá’í Brasil. 2001, 1ªedição)

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
	 Os exemplares do livreto azul não foram entregues na noite daquele primeiro domingo. Pareceu melhor esperar que os amigos o pedissem. Uma jovem de negócios, de origem
ocidental, que ia ao Paraguai por um segundo período de trabalho de três anos, pegou vários
livros bahá’ís e um livro de esperanto que a srta. Martha Root lhe deu. Também alguns católicos da Bahia leram o livreto; um jovem de Montevidéu, Uruguai, disse que de todos os
países da América do Sul, o Uruguai foi o mais progressista, e uma das principais causas era
que as pessoas se tornaram livres pensadores. Passageiros da Bahia e de Montevidéu pediram
que ela fosse sua convidada. Todas estas almas se mostraram amigas.
	 Foi realmente uma festa em família. O camareiro chefe disse:
— Por que não conta com nossa ajuda para com esta religião?
Então, elogiou a religião. Os camareiros ouviram sobre a Causa e a Mensagem foi
enviada aos marinheiros chineses. Martha Root foi ao baile à fantasia, vestida como persa, e
o capitão lhe pediu para apresentar os prêmios.
	 O Pará – situado na foz do grande rio Amazonas e com uma população de 175.000
habitantes – foi a primeira localidade avistada da América do Sul, após uma viagem de duas
semanas. Nessa cidade, localizada sobre o Equador, chove todos os dias e as pessoas marcam todos os seus compromissos para “depois da chuva” que, geralmente, cai por volta das
3 horas da tarde. Os passageiros tiveram uma parada de um dia. Às 9 horas da manhã houve
o tradicional passeio de carro.
	Disseram-me que na América do Sul uma mulher nunca deve sair sozinha a não ser
à tarde, “depois da chuva”. Quando os outros passageiros estavam tomando o bonde para
darem um passeio pela cidade, Martha Root disse-lhes que ia à caça do escritório de algum
jornal. Achou o maior jornal do Pará. Havia quinze pessoas escrevendo. Nenhum falava inglês.
Ela foi levada a uma sala de visitas e um dos velhos editores conversou com ela em francês.
Ela tentou explicar a Fé Bahá’í e o esperanto. Ele lhe pediu que escrevesse um artigo de mil
palavras para seu jornal. Ela teve que escrevê-lo em inglês, mas logo que terminou, chegou
um homem e todos os outros ficaram agitadíssimos, pois ele falava inglês. Ele era o melhor
advogado do Pará e também o advogado da companhia marítima. Ele disse:
—	 Se você falar inglês bem pausadamente, eu responderei em meu péssimo
inglês. Sou amigo deste jornal.
Ele traduziu seu artigo sobre a Fé Bahá’í para o português para aquele jornal e levou-a
de volta para o navio em seu automóvel. Foram entregues nove livretos aos que trabalhavam
no jornal e a amizade com o advogado pôde ser causa de esplêndidas oportunidades espirituais.
Até onde sabemos, ninguém no Pará havia ouvido sobre a Revelação Bahá’í.
	 Em 11 de agosto de 1919, o navio chegou a Pernambuco, a terceira maior cidade da
América do Sul em importância comercial. A Bahia estava interditada por causa da febre
amarela, e ficava a várias centenas de milhas ao sul, a caminho do Rio de Janeiro.
	 Então, teve início o drama interior do qual seria a melhor coisa que Martha Root
poderia fazer. ‘Abdu’l-Bahá, nessas recentes Epístolas mencionou particularmente a Bahia
e que os bahá’ís deveriam viajar para lá. Por outro lado, a febre amarela vinha assolando a
Bahia e as recentes chuvas haviam somente piorado a situação. Ir à Bahia poderia implicar
em longa demora e uma quarentena fora do porto do Rio de Janeiro na sequência da viagem.
Significaria a perda da passagem do navio de Pernambuco ao Rio, e todos a aconselharam
vigorosamente a não correr o risco. Do ponto de vista comercial o período da viagem poderia
significar diversos artigos para os jornais de Nova Iorque, pois o novo cônsul-geral recémdesignado pelo governo dos Estados Unidos estava para viajar no navio. Fora isso, quatro

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
casos de febre amarela foram registrados em Pernambuco naquele dia, e ainda uma revolução
se iniciara na qual quatro pessoas foram mortas, bondes queimados, pontes bombardeadas,
de modo que a perspectiva mais segura era permanecer a bordo e viajar em segurança para
o Rio. Quatro homens de negócios, de origem americana, que pretendiam permanecer em
Pernambuco, desistiram de seus planos e retornaram ao navio. Permanecendo deitada no
beliche no camarim, por causa deste dia angustiante, através da portinhola, ela contemplou a
escuridão em que somente Júpiter brilhava refulgente, firme na sua trajetória. Ela levantou-se,
mandou levar sua bagagem para terra firme, pois ela havia feito reservas com duas companhias
marítimas, na esperança de conseguir uma passagem para Bahia em algum navio brasileiro.
Ela agarrou a chance, por mais insana que parecesse aos demais passageiros.
	 Quase não se fala inglês em Pernambuco. Ouve-se português em toda parte. Sabendo de uma mulher de negócios que se encontrava no Hotel do Parque, a srta. Martha Root
dirigiu-se para lá para tentar encontrá-la e ocupar um quarto no mesmo hotel até a chegada
de um navio. As duas pessoas da Bahia que conheceu no navio, estavam hospedadas num
barco-residência. A mulher americana estava lá. Quase imediatamente, Martha Root disse:
— Eu sou bahá’í!
E a americana perguntou:
— Já ouviu falar da minha prima Lua Getsinger?*
Através da graça do Espírito Santo, a mais de onze mil quilômetros de sua pátria, cada
uma dessas duas mulheres americanas encontrou na outra uma amiga! Esta americana de negócios, sra. Lillyan Vegas, amava Lua Getsinger com muita devoção. Eram primas favoritas
uma da outra, tinham a mesma idade, haviam brincado juntas, trabalhado juntas, mas desde
que se casaram, não haviam se encontrado muitas vezes. A sra. Vegas nunca mais havia encontrado Lua desde que esta se tornara bahá’í, mas soubera acerca desta maravilhosa nova
religião através da mãe de Lua.
A sra. Vegas havia feito dezoito viagens à América do Sul. Ela fala português, francês
e espanhol tão fluentemente quanto o inglês. Foi ela quem criou postos de abastecimento de
leite para mães e bebês pobres no Brasil; encarregou-se do suprimento durante um período
de escassez no interior do país, e na cidade de Nova Iorque foi uma das mais brilhantes palestrantes no III e IV Congressos para a Liberdade. Ela estava no Brasil como representante
de uma das maiores empresas americanas e estava hospedada no Hotel do Parque há sete
meses. Como não havia lugar no hotel, ela cedeu um espaço no seu quarto para Martha Root.
Os homens de negócios que estavam a bordo já haviam ouvido falar das habilidades dela e
quando Martha Root voltou ao navio para se despedir e lhes disse quem era sua companheira,
isso certamente impressionou-os. O capitão e outros pediram mais exemplares do livreto azul.
Alguns dos passageiros enviaram balas de fabricação americana para a sra. Vegas e acompanharam Martha Root até o hotel – passando por ruas desertas, vigiadas por soldados, em
meio ao som ensurdecedor de explosivos de dinamite, e por igrejas onde as pessoas estavam
reunidas rezando pelo término da revolução. Na manhã seguinte, a sra. Vegas recebeu um
cabograma liberando-a para que viajasse à Bahia e ao Rio pela sua empresa. Seus agentes
puderam lhe garantir passagem de navio para a Bahia em 16 de agosto.
Martha Root tivera contato com o editor do maior jornal de Pernambuco e após falar em
francês com ele, ela escreveu um artigo sobre a Fé Bahá’í e o esperanto. Na manhã seguinte,
* Lua Getsinger foi uma das primeiras bahá’ís americanas a aceitar e servir à Causa Bahá’í. Para saber mais
sobre ela, ler o livro Lua Getsinger, de William Sears e Robert Quigley.

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
a sra. Vegas levou-a a cada um dos cinco grandes jornais da cidade e explicou em detalhes a
Causa Bahá’í e o esperanto, servindo-lhe como intérprete. Os editores a ouviram com grande
interesse. Artigos foram publicados e antes de deixarem a cidade, a sra. Vegas e Martha Root
seguiram o costume de ir novamente visitar os editores para lhes agradecer e se despedir.
	 A bordo do navio brasileiro Itapuhi, partindo de Pernambuco com destino à Bahia,
em 16 de agosto, Martha Root transmitiu a Mensagem conforme segue: Ouvindo uma canção
árabe, depois ela falou aos passageiros através de um intérprete. Este senhor, ela soube depois,
viveu em ‘Akká e conheceu ‘Abdu’l-Bahá. Ele descreveu a majestosa presença do Centro
do Convênio com grande entusiasmo, sua face resplandecia enquanto falava. Ele disse que
muitas vezes fizera refeições na casa de Abbas Effendi:
— Meu pai conheceu Bahá’u’lláh, exclamou.
Este homem havia estado fora de ‘Akká por dezessete anos e iria retornar. Ele era muçulmano; recebeu o livreto azul e levou um pequeno presente de Martha Root para ‘Abdu’lBahá. Este homem sírio presenteou-a com um delicioso bolo árabe e foi muito bondoso com
ela durante a agitada viagem, quando todos estavam mareados. Comparados com os grandes
transatlânticos, os barcos são tão pequenos que flutuam como barris.
Um oficial da alfândega de Pernambuco ouviu a Mensagem, também um capitão dinamarquês, um homem de Beirute, um primeiro oficial africano, um superintendente de escolas
do Brasil, um jovem que juntamente com outros vinte e nove jovens que estavam sendo enviados pelo governo brasileiro para estudarem nos Estados Unidos por dois anos.*
Na manhã seguinte, o barco parou durante seis horas em Maceió, uma cidade de 70.000
habitantes. Um comerciante que conhecia a sra. Vegas foi levá-la juntamente com Martha
Root em um barco a vela para conhecerem sua cidade. Após um passeio de carro, ele levou-as
a todos os jornais. Um dos editores e dono do jornal de Alagoas, sr. José Magalhães Silveira,
um homem agradável disse:
— Gosto muito de conhecer um movimento que traga unidade às religiões; é muito
bom. Ele era também a favor do esperanto, dizendo que havia vários esperantistas em Maceió.
Outro editor disse que o esperanto havia florescido lá, mas que agora havia esmorecido novamente. A Mensagem foi dada a nove homens proeminentes em jornais e círculos comerciais
em Maceió. Após o café da manhã, depois de passaram na casa de uma agradável família
católica, as duas americanas retornaram ao Itapuhi.
	 Ao se aproximarem da Bahia, falava-se muito acerca da febre amarela e havia tanta
incerteza a respeito de navios indo da Bahia para o Rio de Janeiro, que a sra. Vegas decidiu
permanecer a bordo do Itapuhi e ir para o Rio. Estavam em alto mar, tiveram muitos temporais, e as pessoas ficavam enjoadas, mas quando os pequenos barcos chegaram para levar os
passageiros, havia apenas dois americanos a bordo que falavam inglês e se ofereceram para
levar Martha Root ao hotel. Ela chegou com um jovem que veio a Bahia para ser missionário
batista no interior do Brasil. Ele se encontrou com dois jovens altos e robustos, sendo um
deles médico, que também eram missionários na Bahia. Foi deveras impressionante vê-los
em lugar tão distante, onde 80 por cento dos habitantes são africanos, dando suas vidas para
melhorar as condições do local.
Martha Root estava doente por causa da tempestade e tinha febre alta. Quão vividamente
as palavras vieram à sua memória: “Que ninguém se denomine capitão até que se encontre
*Provavelmente iriam pegar um transatlântico em Salvador.

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
diante do exército oponente, nem se chame bahá’í até que enfrente testes.”* As palavras das
Epístolas do Plano Divino e as orações foram sua cura.
	 Bahia é uma cidade de 280.000 habitantes. A palavra Bahia significa baía (de todos os
santos). Foi fundada em 1594 por Tomé de Souza, um nobre, acompanhado por seis jesuítas.
Hoje, o homem mais popular que provavelmente será reeleito governador, dr. José Joaquim
Seabra, disse que a Bahia inicialmente irradiou civilização para o Brasil. Deus colocou nos
seus fundadores os melhores dons do espírito – e em seu solo há riquezas de todos os tipos.
O estado da Bahia – o estado e a cidade são chamados pelo mesmo nome† – é um dos mais
ricos do Brasil. Produz tudo o que os outros estados têm, mas é notável principalmente pelo
coco, tabaco, café, diamantes, açúcar e couro. No devido tempo será um dos maiores portos
do mundo por ser boa a sua enseada natural e por se encontrar mais próxima dos Estados
Unidos, da Europa e da África do que o Rio de Janeiro.
	Há 365 igrejas na cidade da Bahia. Uma pessoa que fez pesquisa sobre o Brasil disse
a Martha Root que muitos brasileiros estão mudando sua fé. Os homens das classes mais
altas não se preocupam muito com religião. A tendência entre os letrados é a de se tornarem
racionalistas, não propriamente ateus. Muitos deles foram educados na França e sua literatura consiste na filosofia e novelas francesas. Vários distintos homens públicos do Brasil são
racionalistas, mas dizem que as mulheres e as classes mais baixas são católicos devotos.
	 Para Martha Root, os “pensadores” do Brasil estão mais interessados numa religião
universal, e em nenhum lugar encontrou antagonismo. Ela visitou igrejas católicas e abordou
a Fé Bahá’í sob a perspectiva católica. Se bahá’ís forem ao Brasil, devem aprender português
(não é difícil de aprender) e conhecer os costumes desses povos latinos. Os sul-americanos se
encontram socialmente com os estrangeiros antes de fazerem qualquer negócio. “Paciência,
amanhã” é a primeira lição a ser aprendida. Brasileiros fazem tudo devagar e com cerimônia.
Os portugueses e os brasileiros são aristocráticos.
	 No Hotel Sulamericano, Martha Root conheceu o sr. Miguel P. Shelley, um americano
que nos últimos trinta anos tem feito negócios no Brasil; ele foi o melhor homem de negócios
que ela encontrou no Brasil. Ao mesmo tempo, é um pensador e autor muito querido tanto
para norte-americanos como para sul-americanos. Ela expôs com franqueza o propósito de
sua visita e como ela contatou os jornais. Ele disse: — Não há melhor maneira de trazer a
Causa Bahá’í (ele nunca havia ouvido a respeito) e o esperanto para a América do Sul do
que aquilo que exatamente vem fazendo; leve-os à consideração dos editores e publique-os
em todos os jornais. Foi também muito gentil e disse que uma mulher pode viajar sozinha
na América do Sul e que pode mostrar respeito se for uma mulher direita - é isso que os sulamericanos querem: que bons homens e boas mulheres dos Estados Unidos venham para cá
e façam negócios, foram as suas palavras.
A sra. R., uma mulher influente, ofereceu seu tempo para cada dia levar Martha Root para
ter encontro com as pessoas mais influentes da cidade portuária. O sr. Shelley acompanhou
Martha Root e a sra. R. aos escritórios dos jornais com os quais contatou previamente e foi
intérprete para ela. Primeiro, fazia-se um telefonema e então os editores faziam perguntas.
Dois dos editores foram educados na Europa e falavam inglês. Há oito jornais de circulação
*Não encontrado a referência.
†A cidade foi fundada com o nome de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, porém comumente chamavam a cidade somente de Bahia até que oficialmente a mudaram para Salvador.

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A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
diária na Bahia. É melhor ir a dois ou três dos mais importantes e dar a Mensagem e então
posteriormente telefonar ou escrever aos outros – os jornais da América do Sul, tal como os
de outros lugares, gostam de um “furo jornalístico”, isto é, publicar algo com exclusividade.
Todos os jornais publicaram bons artigos, ilustrados com fotos de Martha Root.
Um dos editores disse:
— Estou interessado nessa religião. Se você colocar um livro sobre ela na seção inglesa
de uma biblioteca pública, eu o lerei. Muitos brasileiros estão começando a estudar inglês e
eles gostam de livros em inglês.
Martha Root deixou o livro de Thornton Chase The Bahá’í Revelation na biblioteca
da cidade e prometeu mais seis livros em inglês sobre a Causa Bahá’í a serem enviados dos
Estados Unidos. O diretor da biblioteca e seu assistente foram extremamente gentis. Há um
novo e bonito prédio da biblioteca sendo completado. Se qualquer leitor desejar enviar livros
bahá’ís a essa grande biblioteca, o endereço é o seguinte: Biblioteca Pública do Estado da
Bahia, América do Sul.
	 A Causa Bahá’í foi explicada ao secretário da agricultura, dr. Joaquim Arthur Pedreira
França, a homens de negócios de vários países, a um capitão americano da Califórnia que
estava partindo para a Inglaterra, a missionários, a pessoas do interior, também a negros em
extrema pobreza. As pessoas foram extremamente gentis. O próprio fato de Martha Root estar
viajando sozinha, sem saber sua língua, tocava seus corações. Um empresário português e
sua esposa, no hotel, procuraram-na e disseram em francês:
— Nós nos oferecemos para servir sua religião. Se nos enviar literatura, nós também a
explicaremos e daremos para as pessoas lerem.
O mesmo amigo lhe ofereceu um jantar e um grande buquê de rosas e levou-a até o
navio quando da sua partida.
Martha Root não tinha qualquer ideia de quando poderia tomar um navio para deixar a
Bahia, ou quais seriam as regras de quarentena. Até mesmo o povo da Bahia ficou espantado
ao vê-la tomar o navio tão facilmente. O Itassuce, um navio brasileiro chegou inesperadamente do Rio com um carregamento. Depois de descarregar nas docas, o navio parou no porto,
submeteu os passageiros à mais rigorosa desinfecção, enquanto iam embarcando, e antes que
a desinfecção terminasse, suas bagagens também foram submetidas a desinfecção. Foi um ato
heróico – enxofre mais que suficiente para este mundo e o vindouro. Os médicos examinaram
os passageiros e um médico a bordo verificava sua temperatura todos os dias. (É importante
ter um termômetro e remédios simples). Martha Root que segundo a previsão de todos ficaria
retida na Bahia por vários meses, deixou essa cidade em segurança após uma permanência
de seis dias, cidade a respeito da qual ‘Abdu’l-Bahá disse: “Visitai especialmente a cidade
da Bahia, na costa oriental do Brasil. Em anos passados esta cidade foi batizada pelo nome
de BAHIA e isso foi, sem dúvida, através da inspiração do Espírito Santo.”*
A viagem da Bahia até o Rio foi de quatro dias. Todos os barcos eram agradáveis, mas,
de tão pequenos, agitavam-se incessantemente e alguns dos marinheiros mais experientes sofriam enjoo. Nenhuma outra mulher a bordo foi capaz de ir até o refeitório durante a viagem.
Apenas duas pessoas falavam inglês no Itassuce, mas vários deles falavam francês e com tanta
prática Martha Root agora dava a Mensagem em francês. Um homem que voltava para sua
casa em Curitiba, capital do estado do Paraná, pegou o livro Epístola de Tarázát e o colocara
na biblioteca da cidade. A Mensagem foi dada também a um homem que atua como intérprete
* Epístolas do Plano Divino, p. 106 (Mogi Mirim: Editora Bahá’í Brasil. 2001, 1ªedição.)

[11]
A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
em hotéis da América do Sul. Ele era um romeno que falava sete línguas; e também alguns
racionalistas que publicaram sete artigos nos jornais perguntaram a respeito da Causa.
A enseada do Rio de Janeiro é considerada a mais bela do mundo. Tem 29 quilômetros
de comprimento por 25 de largura – uma magnífica “concha” tendo em suas bordas montanhas
impressionantes cujos picos esbeltos são cobertos de graciosas e agitadas palmeiras, aquelas
árvores amigas que, como diz a lenda, não conseguem viver sem o som da voz humana. Nessa
concha há centenas de belas ilhas. Rio, um dos maiores espetáculos da Terra, sempre é lembrada
pelo seu cenário. Martha Root chegou na hora do glorioso pôr-do-sol. Eram seis horas do dia
27 de agosto de 1919. Ela foi a oito hotéis, encontrando-os todos lotados e no nono, um hotel
português, no qual não se falava outra língua, ocupou um quarto. No Rio, ela se orientava escrevendo seu endereço e mostrando aos guardas de trânsito ou condutores de bondes.
Ela apresentou a Mensagem Bahá’í da seguinte forma: ao entrevistar o cônsul-geral
americano, no primeiro dia, este apresentou-a ao editor do Jornal do Commercio que estava fazendo uma visita ao consulado. Este é o maior jornal do Brasil e Martha Root soube
posteriormente que é um dos jornais mais influentes do mundo; suas notícias são copiadas
por jornais em outras cidades e de pequenos municípios em todos os vinte e um estados. O
editor convidou-a a fazer uma visita ao seu escritório. Ele se interessou pela Causa Bahá’í e
em cerca de três quartos de uma coluna colocou um excelente artigo esboçando os princípios
fundamentais. Ele lhe deu também os endereços de um escritor esperantista e do presidente
da Sociedade Esperantista no Brasil.
Após essa visita, Martha Root foi a Copacabana, uma moderna e elegante área residencial de frente para o mar, para visitar a esposa do sr. Miguel Shelley, e sua irmã, sra. Bertha
Thomas – que vivem no Brasil há muitos anos. A Causa Bahá’í foi o tema de sua conversa e
a amizade espiritual mostrou-se maravilhosa. A irmã recebeu um pequeno livro de orações,
vários livretos bahá’ís e uma foto de ‘Abdu’l-Bahá. No dia seguinte ela levou Martha Root
ao segundo maior jornal, o Jornal do Brasil, e serviu de tradutora para dar a Mensagem.
Elas visitaram o dono, assim como o editor e na edição de domingo foi publicado um bom
artigo. A visita seguinte foi ao sr. Manoel Cícero, o diretor da Biblioteca do Rio de Janeiro,
localizada na avenida Rio Branco. Esta é a mais admirável biblioteca do Brasil e possui um
acervo de 400.000 volumes. O diretor recebeu Respostas a Algumas Perguntas, What went
yes out to see, Dynamic Power of the Bahá’í Revelation, um exemplar do livreto azul e uma
compilação sobre Paz e Guerra. O diretor disse que ficaria muito satisfeito em receber outros
livros sobre a Causa Bahá’í. Hoje, muitos brasileiros estudam inglês e frequentam a seção de
livros em inglês das bibliotecas, assim como fazem os americanos e britânicos. Atualmente
há mais de 500 americanos na colônia do Rio.
Extremamente agradável foi a visita aos esperantistas que Martha Root e a sra. Thomas fizeram após o almoço. Dr. Everdo Backheuser, um autor esperantista, levou-as a uma
sede social esperantista. No caminho, ela apresentou-lhe o artigo “Ciência e Religião” do sr.
Esslemont em esperanto. Martha Root apresentou a Mensagem. O presidente da Sociedade
Esperantista, sr. Alberto Couto Fernandes, conhecia o movimento bahá’í e mostrou à Martha
Root artigos em esperanto sobre Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá. O sr. Fernandes é engenheiro,
um destacado homem de negócios e um dos maiores esperantistas do mundo. Ela ensinou
esperanto a mil pessoas no Brasil e, tal como o dr. Backheuser, já escreveu vários livros em
esperanto. Ele lê um pouco inglês e fala e lê francês fluentemente. O esperanto é ensinado
no curso normal e primário nas escolas do Rio, e há aulas nos departamentos de corpo de
bombeiros e de telégrafos.

[12]
A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
A Associação Cristã de Moços do Rio tem uma aula de esperanto e uma biblioteca de
esperanto. Martha Root deixou o livro Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em Londres na biblioteca.
O Brasil Esperantista, uma revista mensal publicada no Rio, publicou um artigo sobre a Fé
Bahá’í. Jornais do Rio, não somente através de entrevistas, mas posteriormente noticiando
as reuniões e na ocasião em que os livros foram colocados na biblioteca do Rio, novamente
fizeram publicações sobre a Fé. Esses artigos são frequentemente copiados em outras cidades.
A melhor apresentação da Fé Bahá’í em qualquer lugar é através de jornais.
Martha Root falou sobre a Fé no consulado, na Embaixada Americana, em escolas brasileiras de aviação naval, no exército brasileiro, na escola de aviação, na Câmara Americana
do Comércio no Rio, a várias famílias brasileiras, a um proprietário de plantação de coco e a
homens de negócios dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França e do Brasil.
Martha Root partiu do Rio de Janeiro, em 5 de setembro às 7 horas da manhã, rumo
a São Paulo. No trem apenas duas pessoas falavam inglês, e ficaram somente por uma hora
naquele trem. Ela lhes deu a Mensagem, um deles um jovem casado de New Jersey que estava
fora havia treze anos, e a outra, uma jovem casada de Kent, Inglaterra. A pitoresca viagem é
como um percurso de doze horas no paraíso, cuja abundância ainda não foi descoberta pelo
mundo.
São Paulo é mais como a “Chicago” do Brasil, pois é onde se encontram muitas indústrias. Matérias-primas do coração do Brasil chegam a São Paulo, sendo que algumas são
manufaturadas lá e a maior parte desce até o porto de Santos e então embarcada. Ao contrário de Chicago, São Paulo nasceu desde o início com um grande amor pela beleza. Sua
Estação da Luz localiza-se ao lado de um parque. Seus blocos comerciais estão cercados de
esplêndidos jardins, suas residências “crescem em meio a palmeiras tropicais”. Pinheiros
paranaenses, rosas amarelas subindo pelos telhados de um vermelho escuro, orquídeas, lírios,
damas-da-noite e muitas das flores mais raras crescem em qualquer quintal. Martha Root assistiu a um concerto no meio da tarde num pequeno parque na movimentada área comercial
e ouviu tocarem violino num imenso mercado. O ambiente de São Paulo é ideal – comércio
combinado com beleza.
Martha Root foi a quatro hotéis até poder encontrar um lugar, e então, pagando tão caro
quanto em Nova Iorque, pegou um quarto no quinto andar, sem elevador. Os donos eram
italianos, mas sabiam falar francês, não inglês. A cidade de São Paulo, com uma população
de 500.000 habitantes tem em acomodações de hotéis o equivalente a uma cidade de 5.000
habitantes dos Estados Unidos. No entanto, está destinada a ser um dos maiores centros do
mundo comercial, talvez dentro de um século.
A caminho do maior jornal, O Estado de São Paulo, para visitar o editor e explicar
a Causa Bahá’í, Martha Root encontrou um advogado sírio do Líbano. Ele foi educado na
Universidade de Beirute e reside em São Paulo faz vinte anos. Seu nome é Assad Bechara;
seu objetivo apaixonado é a libertação de seu país e que os Estados Unidos ficassem como
“defensor de seus irmãos” até que Síria e Cuba pudessem ser independentes. Ela lhe deu a
Mensagem e o encontrava todos os dias, e como os 15.000 sírios de São Paulo, alguns dos
quais são de Beirute, tem uma biblioteca semi-pública, presenteou-os com a compilação do
sr. Dreyfus: A Revelação Bahá’í. Existem 100.000 sírios no Brasil.
O diretor da Fundação Rockfeller, dr. S. F. Darling, que vive no Brasil há cinco anos,
fazendo experimentos para o governo brasileiro, ouviu a Mensagem, e o livro Divine Philosophy foi presenteado à biblioteca da Faculdade de Medicina. Dr. Darling é uma das pessoas

[13]
A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
mais renomadas do mundo. Ele fez a famosa descoberta sobre o ancilóstomo* (sob os auspícios
da fundação Rockfeller) na África, no Panamá, em Java, e nas Ilhas Fiji, e agora está fazendo
apresentações no Brasil. Ele disse que leria a literatura bahá’í. Esta grande nova instituição
terá um papel fundamental na profissão médica no Brasil. Os Estados Unidos ou qualquer
outra nação terá orgulho de uma instituição como a que ela será. Ela tem agora um ano e
meio, está sediada no palacete do antigo Café Baron e é servida por centenas de estudantes
de medicina que trabalham em seus laboratórios e assistem às palestras do dr. Darling. É a
instituição mais avançada que Martha Root visitou no Brasil. O governo brasileiro convidou
a Fundação Rockfeller para colaborar e os dois estão trabalhando em conjunto. Livros bahá’ís
sobre assuntos sociais seriam muito bons para esta biblioteca.
Tomando o trem de São Paulo para Santos em 10 de setembro, numa viagem de duas
horas, Martha Root provavelmente viu a mais rica via férrea de curta distância do mundo, e a
mais perfeita. Quando perguntaram ao presidente de uma estrada de ferro americana o que se
poderia fazer para melhorá-la, ele disse que nada a não ser colocar trilhos de diamante. O trem
flutua como um pássaro por entre as montanhas e a gente fica impressionada e admirada pela
grandeza de milhões de árvores silvestres por todos os lados. Onze túneis foram escavados
na rocha e há montanhas de granito. Ao chegar em Santos, ela deixou suas malas na estação
e caminhou 800 metros até o pequeno Hotel Brasileiro que era muito bom. A população de
Santos é de 200.000 habitantes. Durante os seis primeiros meses de 1919, as exportações do
Brasil foram de U$ 274.304.000, dos quais U$ 147.526.000 passaram pelo porto de Santos.
Na manhã seguinte, Martha Root procurou a biblioteca; não é uma biblioteca municipal, mas é uma para os que trabalham no mundo dos negócios em Santos. Seu nome explica:
Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio. Lá existem cinco mil volumes, jornais
e revistas de todo o Brasil. O diretor, que fala inglês, não estava, mas foi fácil dar um giro
pelos arquivos e lhes mostrar artigos sobre a Fé Bahá’í em dezenas de jornais. Pareceram
encantados com os livros que ela deixou lá: Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em Londres, e o livreto
azul. A biblioteca, embora pequena, é de atmosfera muito aprazível.
Ao anoitecer, Martha Root foi ver o editor do principal jornal, A Tribuna, e na noite
seguinte, os teosofistas ao verem o artigo bahá’í no jornal, ligaram para ela e a convidaram
para dar uma palestra na sua sociedade. Como ia viajar no dia seguinte, eles designaram uma
“comissão” para visitá-la no hotel pela manhã.
Algumas vezes os mais gloriosos acontecimentos da vida acontecem de modo surpreendente, e este foi um deles. Três homens chegaram: o presidente da sociedade Teosófica, sr.
Guido Gnocchi†, um homem que se dedica desde seu início, cinco anos antes, e outros dois
destacados teosofistas. Martha Root inicialmente lhes perguntou sobre sua sociedade e disse
que escreveria a respeito em jornais norte-americanos. O presidente, através de um intérprete
(um deles), explicou que tinha vindo para saber mais sobre a Fé Bahá’í. Ele tinha artigos em
sua casa sobre Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá e acreditava que Eles eram os Mestres do mundo
hoje, e que havia falado a respeito d’Eles numa recente Conferência dos Teosofistas em São
Paulo. Ele disse que desejava escrever a respeito d’Eles em diferentes jornais de todo o Brasil,
assim como havia feito para auxiliar a Teosofia.
* Um parasita nematóide, verme que vive no intestino delgado.
† Para saber mais sobre este importante brasileiro dos anais da Fé Bahá’í no Brasil que foi quem hospedou
Leonora quando ela veio ao Brasil como pioneira em 1921, ver p. 49 de sua autobiografia: Leonora Armstrong, Memórias e Cartas.

[14]
A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul
Martha Root tinha diversos recortes de jornais em português que explicavam a Causa
e seus princípios. Aquele jovem – italiano de nascença, um artista, um homem simples, traduziu o livreto azul em português* e levou suas ideias aos jornais do Brasil. Ele disse: — Eu
trabalharei por esta Causa Bahá’í no Brasil. Tentarei aprender inglês para propagá-la mais
e almejo imensamente viajar ao redor do mundo para difundir seus ensinamentos. Este homem jamais havia ouvido falar de instrutores viajantes bahá’ís. Havia apenas vislumbrado os
princípios, mas como Paulo, teve a visão. Eles conversaram durante quatro horas e ela lhes
deu The Bahá’í Revelation de Thornton Chase, Bahá’í Proofs de Abul Fazl, O Plano Divino
e vários livretos. Um outro deles é de Fiume, Itália, embora todos eles já estejam no Brasil
há muitos anos. Ele tinha a visão da “unicidade da humanidade”, e escreveu um livro sobre
esse assunto, o qual está em segunda edição. Ele está muito interessado na Causa Bahá’í e
sabe ler inglês.
Quando os amigos de Santos foram levar Martha Root para embarcar no navio para
Buenos Aires, o sr. Guido Gnocchi levou junto um amigo de São Paulo a quem havia falado
sobre a Fé Bahá’í. Esse homem, J. R. Gonçalves da Silva, que por muitos anos havia sido
livre pensador, ocultista e estudioso, disse que tinha ido em busca de literatura. Ele falará
sobre a Revelação Bahá’í a outros no estado e na cidade de São Paulo.
O sr. Gnocchi leu para o grupo um longo artigo que ele recém havia terminado para um
jornal brasileiro, falando sobre a história da Fé Bahá’í que seria publicado naquela semana.
Os brasileiros de classes mais altas nas cidades grandes são de visão mais ampla e muito
mais refinados do que as pessoas dos Estados Unidos imaginam. Eles não são especializados,
mas possuem muito boa cultura geral. Muitos foram educados na Europa e todos possuem
séculos de refinamento ancestral. Seus modos são tão impecáveis e agradáveis que não se
pode deixar de desejar que outros países tenham modos tão gentis e realmente polidos. Não
são apegados a credos e, a própria amplitude do movimento bahá’í exerce atração sobre eles.
Em um século haverá Mashriqu’l-Adhkárs† no Brasil. As maravilhosas almas, os bons artigos
nos jornais e os livros nas bibliotecas serão envolvidos pelas nuvens do Espírito Santo, e o
Báb, Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá, o Centro do Convênio, serão conhecidos em toda cidade
e aldeia. “Em verdade, Ele é Poderoso em tudo que deseja.”

* Tornando-se desta forma a histórica primeira publicação de material bahá’í em português.
† Templos Bahá’ís.

[15]
A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919
Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul

Adendo
Rumo a Buenos Aires
	 A bordo do navio, na viagem de seis dias de Santos a Buenos Aires, houve uma grande
tempestade. O frio, o granizo e o desconforto geral de quase todos com enjoo, fazia hesitar
em dar a Mensagem. Essas pessoas vieram juntas numa viagem de quatro semanas da França
e já tinham feito amizade antes de Martha Root embarcar. A primeira pessoa a que ela deu a
Mensagem foi um jovem de Minas Gerais que se dedicará ao comércio entre Estados Unidos e
Brasil assim que terminar seu estudo de língua. Depois de ler livros bahá’ís durante três dias,
ele disse: “Esta é a melhor de todas as religiões que conheci.” Um francês, vendo o Máximo
Nome em persa no livro O Plano Divino, perguntou o que ela estava lendo. Ele sabia árabe
e ficou atraído. Então ela explicou a Fé a um jovem francês, filho do dono da maior agência
telegráfica de Paris e que falava inglês (apenas duas pessoas falavam um pouco de inglês).

[16]
Martha Root (1872-1939) nasceu no dia 10 de agosto de 1872, em Richwood, Ohio, Estados Unidos da América. Martha tornou-se professora e jornalista. Tinha dois irmãos, que se
casaram e constituíram família. Ela foi sempre solteira.
	Seu contato com a Fé e como se tornou baha’í é uma história curiosa. Em 1908,
participava como jornalista em uma convenção religiosa cristã em Pittsburgh. No encerramento da convenção,muitos dos participantes se reuniram num restaurante para jantar.
Martha e seus amigos estavam sentados em uma mesa grande. Todo o salão estava ocupado, restando apenas um lugar na mesa ao lado da de Martha. Um famoso bahá’í da época,
o sr. ROY WI LHELM, de Nova Iorque, estava na cidade a negócios. Havia regressado
há pouco de uma visita à Terra Santa. Durante a conversa do grupo de Martha, observou o
sr. Roy a forma antidogmática com que ela se referia a assuntos de religião. Após o jantar,
contatou Martha, falando-lhe da Fé. Ela se interessou e deu a ele seu cartão de visita. De
Nova torque, e durante um ano, enviou literatura bahá’í à sua “contato” Martha Root. No
inicio, embora tivesse algum interesse pelos
livros, não queria ser vista com os mesmos.
O primeiro que recebeu deixou-o no balcão
de uma farmácia. A dona do estabelecimento encontrou o livro, leu-o e tornou-se
bahá’í.
	
Apesar de sua resistência inicial, Martha tornou-se uma investigadora séria da
Fé, estudando a fundo seus ensinamentos
e suas promessas. Mas foi através de outro
bahá’í, THORNTON CHASE, o primeiro
crente americano, em encontros em restaurantes, que Martha acabou se declarando,
em Pittsburgh, em 1909. A data precisa não
é conhecida, sabendo-se apenas que ocorreu no final da primavera naquele país, no
mês de maio.
	
Martha Root era uma mulher pequena
e frágil, de ternos olhos azuis. Vivia do que ganhava escrevendo artigos para jornais e
sempre, na mais rigorosa economia, viajava de terceira classe, comendo o mínimo para seu
sustento e vestindo-se com muita simplicidade.
	
Além da Rainha Maria da Rumânia, a mais famosa representante da realeza européia dos contatos de Martha Root, em especial por ter aceito a Fé oficialmente e sobre ela
dado tantos e tão lindos testemunhos, sua filha, a Princesa Eliana, foi outro destaque, a qual
inclusive traduziu literatura bahá’í para o idioma romeno.
	
Mas foram inúmeros os reis, presidentes, membros da realeza e personalidades
importantes do mundo que receBeram essa mulher simples e humilde, para dela ouvirem
a Mensagem de Bahá’u’lláh ou receberem livros sobre a Fé, através de seus assessores
quando não podiam pessoalmente recebê-la, o que poucas vezes aconteceu.
ISBN 978-85-320-0203-7

	

9

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Martha+root

  • 1. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil 1919 Por Kay Zinky Belém Recife Maceió Salvador São Paulo Rio de Janeiro Santos Baseado nas cartas escritas por Martha Root durante sua viagem à América do Sul
  • 2. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul Termo de Uso do © Copyleft Ao adquirir este livro em versão eletrônica, você aceita a seguir os seguintes termos e condições dos nossos procedimentos privados. A Editora Bahá’í do Brasil pode revisar o Termo de Uso a qualquer tempo sem aviso prévio. Você tem permissão de fazer e usar livremente cópias deste livro eletrônico e de qualquer informação dos textos contidos neste documento/livro incluindo: imprimir, postar eletronicamente ou por correio, copiar, fazer download, transmitir e disponibilizar parte ou a totalidade de seu conteúdo seguindo as orientações abaixo: 1. 2. 3. A informação de nosso Copyright ou Copyleft deve estar anexa ao conteúdo; O conteúdo não pode ser modificado ou alterado em qualquer forma, a não ser para mudar o tipo de fonte (letra) ou o lay-out (aparência); O conteúdo somente pode ser utilizado para propósitos não-comerciais. Apesar deste anúncio permitir a reprodução do conteúdo livremente, sem qualquer permissão especial, a Editora Bahá’í do Brasil retém completa proteção do direito autoral (Copyright) sobre esta obra, a qual é aplicada a lei internacional e nacional. Para obter permissão para publicar, transmitir, expor ou outra forma de uso deste conteúdo para qualquer fim comercial, por favor contatar: administrativo@editorabahaibrasil.com.br. Titulo Original: Martha Root; Herald of the Kingdom – A Compilation. (somente traduzido a parte inicial do capítulo 4, pp 39-60.) © 2009 copyleft Todos os direitos em português reservados para: Editora Bahá’í do Brasil Caixa Postal 1085 13800-973 Mogi Mirim SP www.editorabahaibrasil.com.br ISBN: 978-85-320-0203-7 • 1a Edição – 2009 (versão eletrônica) Tradução: Bijan Ardjomand Outra obra em português com dados sobre Martha Root: Martha Root: No Brasil, no Mundo, na eternidade. 1a edição 1989. Caso for imprimir o livro utilizar papel A4: 210 x 297 mm. [2]
  • 3. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul Prefácio Uma vida como de Martha Root (1872-1939) é cercada de potentosos momentos, e sem dúvida alguma um deles, para nós brasileiros, foi sua viagem ao Brasil em 1919. A certeza de que é um marco histórico espiritual do país, pois foi a primeira vez que um bahá’í pisou em nosso solo tropical, nos fez celebrar os 90 anos de sua passagem por aqui, com este pequeno, porém detalhado resumo de seu diário de bordo e cartas escritos durante aquela viagem. No futuro, historiadores levantarão os detalhes, nomes e ações, e suas repercussões junto à sociedade brasileira, o quanto alterou as vidas e famílias das pessoas com quem Martha Root entrou em contato; os documentos e livros doados à instituições comerciais e educacionais brasileiras; os locais por onde passou – tudo será detalhado. Nas palavras de ‘Abdu’l-Bahá a ela, encontramos a magnitude de sua posição: “Tu és realmente uma arauta do Reino e precursora do Convênio, e te sacrificas. Mostras bondades para com todas as nações. Estás espargindo a semente que a longo prazo trará milhares de colheitas. Plantas uma árvore que dará folhas, flores e frutos até a eternidade, e cuja sombra crescerá dia a dia em magnitude.” Editora Bahá’í do Brasil [3]
  • 4. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul A Peregrinação Bahá’í ao Brasil 1919 Ao perceber a urgência de ir à América do Sul para difundir a mensagem bahá’í, a srta. Martha Root, de Cambridge Springs, Pa, levantou-se para obedecer. Na segunda noite em Nova Iorque, numa residência em que falou sobre a Causa Bahá’í, ela encontrou-se com o dirigente de um grupo de jornais e este lhe pediu para que lhe vendesse seus artigos a respeito da América do Sul. Este dirigente enviou suas histórias a uma centena de jornais. Ao mesmo tempo, como cortesia, publicou um breve artigo de trezentas palavras sobre a Revelação Bahá’í. Na expectativa de zarpar em 21 de junho de 1919, quando finalmente em 22 de julho o navio iniciou a viagem, os marinheiros americanos que estavam em greve tiveram que ser substituídos por alguns marinheiros chineses. Assim, durante oito dias o navio ficou parado junto à Estátua da Liberdade. Depois do grande mal-estar causado pela fadiga, a tensão da greve e a percepção de que os passageiros tinham uma atitude espiritual diferente – fumando, bebendo e jogando bridge e poker – por dois dias a srta. Martha Root não tentou cumprir a tarefa de transmitir a Mensagem. Ela achava que era a pessoa menos indicada para contatar tal classe de gente. Ela não dançava, nem jogava cartas, e tampouco era uma esportista entusiasta. Ao ler a Palavra Criativa, parecia que cada linha era um caminho que ela deveria seguir: “Nao deveis permitir que o convencionalismo vos faça parecer frios e antipáticos a indivíduos estranhos de outros países... Sede bondosos com estrangeiros... Ajudai-os a sentirem-se como em suas casas... perguntando se podeis auxiliá-los em alguma coisa; tentai tornar suas vidas um pouco mais felizes... Deixai que aqueles que se encontrarem convosco saibam, sem proclamardes o fato, que sois realmente bahá’ís.” E ainda: “Se formos verdadeiros bahá’ís, a linguagem não é necessária. Nossas ações adiantarão o mundo, espalhando a civilização, contribuindo para o progresso da ciência e ocasionando o desenvolvimento das artes.... Não é somente através do ofício religioso que os eleitos de Deus alcançam a santidade, mas sim, por meio de sua vida paciente de serviço ativo têm eles trazido luz ao mundo.”* Muitos dos amigos bahá’ís haviam dado presentes à srta. Martha Root. Esses foram distribuídos para o conforto de outros. Os passageiros representavam habitantes da Bahia, Argentina, Pará, Uruguai e Paraguai, e homens de negócios da Grã Bretanha, Dinamarca e Estados Unidos. Provavelmente a terça parte era católica, e havia um bispo de uma igreja *Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em Paris, 1911 , pp. 1-2, 74 (Mogi Mirim: Editora Bahá’í Brasil. 2005, 4ªedição) [4]
  • 5. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul protestante comissionado para usar um milhão e meio de dólares para desenvolver seu trabalho; havia quatro pessoas da Ciência Cristã e várias de outras fés; mas visivelmente a maioria não estava interessada na vida espiritual. A srta. Martha Root, após contatar todo mundo e orando por habilidade de servir melhor, de modo mais inteligente e amoroso, teve a primeira oportunidade, da seguinte maneira: todos os homens haviam levantado dinheiro para comprar troféus para os esportes. Ela pegou a melhor peça de seu vestuário, fez o melhor que pôde à maneira artística na qual os japoneses costumam presentear, e levou-o ao comitê esportivo para ser utilizado como prêmio. Ela explicou ainda que não entendia muito de esportes, mas queria se juntar à “festa de família” e participar de tudo, mas não do peso-pesado. (A srta. Martha Root era de estatura pequena e franzina). No dia seguinte, sendo o primeiro domingo a bordo, a srta. Martha Root pediu permissão ao capitão para falar sobre a Causa Bahá’í à noite. O intendente colocou um grande aviso no quadro de avisos. Ninguém a bordo havia ouvido a respeito do Movimento Bahá’í. Os membros do comitê esportivo foram os primeiros a entrar no salão de música, ajudaram na divulgação e cada um convidou os outros. Todos compareceram com a exceção de uns poucos católicos e um outro jovem. Este “outro jovem” havia recebido o livreto azul** no primeiro dia. Certa vez ele conversou durante cinco horas sobre a Causa. Tirando aquele livreto de seu bolso, ele disse: — Eu li isso não uma nem duas, mas três vezes; ele é demasiadamente utópico e jamais funcionará. Este homem tinha muitas pessoas sob seu comando; ele havia procurado iniciar sistemas de igualdade, mas as pessoas sempre lhe tiravam vantagem, retribuindo com pouco trabalho; assim ele voltou ao seu antigo rigor para com eles. Ele está tão próximo ao Reino: tão fino nos seus modos, e agora tendo falido, desconfiava de pessoas e de diferentes pensamentos. Ao final de cada conversa ele dizia: — Oh, eu gostaria de poder acreditar nisso como você. Queria que as pessoas vivessem desse modo. O capitão, o intendente e vários oficiais assistiam à palestra. O navio balançava de tal modo que Martha Root se segurava a um pilar enquanto falava. Depois da palestra de mais de uma hora, o intendente fez um breve agradecimento. Após o término, o bispo tomou a palavra e falou contra a Fé Bahá’í. Não que ele já tivesse ouvido a respeito antes, mas ele disse que não se pode ser cristão e ao mesmo tempo acreditar em outras religiões. A srta. Martha Root respondeu-lhe ponto por ponto e a partir dessa noite, eles se tornaram amigos. O próprio argumento dele contra, atraiu pessoas para a Fé. Alguns jovens estudantes, também começaram a fazer perguntas inteligentes. Um pequeno grupo de espectadores na discussão disse: — Quando vocês tiverem mais explicações interessantes como estas, podem ter a certeza de que nós queremos participar. Esta palestra noturna durante a viagem, imediatamente, abriu o caminho para muitas conversas privadas no convés. No dia seguinte, uma pessoa da Ciência Cristã disse: — Sua palestra causou uma grande impressão, até mesmo os ‘beberrões’ dizem que é um bom tipo de religião. A bebedeira no navio era extraordinária. Os “coveiros” e “cavalheiros beberrões” – *Contendo um esboço da história e dos princípios do Movimento Bahá’í. [5]
  • 6. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul como as moças os chamavam – se reuniam em volta do bar das 6 da tarde às 2 da manhã. O fato de o quarto da srta. Martha Root ficar exatamente em frente ao bar, aliado ao fato de sua encantadora e despreocupada companheira de quarto ter dois macacos, fez com que ela entendesse o que ‘Abdu’l-Bahá quis dizer na Sua Epístola a ela: “Que possas esquecer repouso e tranquilidade.” Essas pessoas eram brilhantes e representavam algumas das maiores companhias comerciais do mundo; elas poderiam levar a Mensagem a mais de cinquenta milhões de pessoas na América do Sul. Das conversas no convés percebia-se que alguns tinham pais religiosos, um ou outro frequentou escolas ministeriais, mas abandonaram sua religião. Todos tinham boas qualidades e manifestavam características de delicadeza. O dia seguinte à palestra bahá’í, a srta. Martha Root, só de brincadeira leu a mão de um dos passageiros. Todos ficaram agitados e queriam fazer a leitura de suas mãos. O capitão fez formar filas e levantou sua própria mão para ser lida primeiro. A leitura das mãos continuou por todo o dia, até mesmo cada camareira teve sua vez e, finalmente, Snowball, o jovem corneteiro de Barbados, ergueu suas rechonchudas mãos negras. Martha Root estudou quiromancia um pouco antes de ser bahá’í, apesar de não haver nada consistente naquilo. ‘Abdu’l-Bahá disse que as linhas das mãos, sem dúvida, dizem algo a respeito do caráter do indivíduo. De qualquer modo, isso a ajudou a rapidamente se tornar conhecida e três dias depois, o capitão desafiou-a diante da tripulação: — Eu aposto que não pode ler minha mão exatamente igual uma segunda vez. Se provar que pode, eu colocarei isso nos registros do navio entre os passageiros destacados de que você é a primeira bahá’í a navegar por essas rotas, e poderão encontrar tudo sobre o que é ser bahá’í lendo o livro (The Bahá’í Revelation de Thornton Chase) que você deixou na biblioteca do navio. A srta. Martha Root aceitou seu desafio e leu sua mão, exatamente igual, numa segunda vez. Alguns dos passageiros eram agnósticos. O da Ciência Cristã disse: — Minha crença me é tão preciosa que não a profanaria conversando a respeito dela com pessoas que não a apreciariam. Até mesmo a bordo desse navio, a conversa com todos os tipos de passageiros mostrou que as pessoas estavam preparadas para ouvir. Muitas vezes, aqueles que o bahá’í espera que aceitem, parecem voltar a dormir, e aqueles que parecem profundamente adormecidos, despertam. Se alguém puder esquecer sua própria incapacidade e permanecer evanescente, Bahá’u’lláh poderá falar. A oração revelada para Abul Fazl pode ser útil a outros instrutores bahá’ís: “Eu Te suplico pela fulgência do sol de Tua beneficência e pelas ondas do mar de Tua generosidade, que conceda às minhas palavras e pronunciamentos um traço dentre os traços de Tua Suprema Palavra, de modo que a realidade de todas as coisas possa ser atraída e absorvida.”* Durante todos os dias da viagem, as palavras de ‘Abdu’l-Bahá nas Epístolas do Plano Divino eram lembradas por Martha Root: “Ó se eu pudesse viajar, ainda que a pé e na máxima pobreza, a essas regiões e, erguendo o chamado de Yá Bahá’u’l-Abhá em cidades, aldeias, montanhas, desertos e oceanos, promover os ensinamentos divinos! Isso, infelizmente, eu não posso fazer. Quão intensamente eu lamento! Apraza a Deus que vós o possais fazer.”† *Não encontrada referência. †Epístolas do Plano Divino, pp. 39-40 (Mogi Mirim: Editora Bahá’í Brasil. 2001, 1ªedição) [6]
  • 7. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul Os exemplares do livreto azul não foram entregues na noite daquele primeiro domingo. Pareceu melhor esperar que os amigos o pedissem. Uma jovem de negócios, de origem ocidental, que ia ao Paraguai por um segundo período de trabalho de três anos, pegou vários livros bahá’ís e um livro de esperanto que a srta. Martha Root lhe deu. Também alguns católicos da Bahia leram o livreto; um jovem de Montevidéu, Uruguai, disse que de todos os países da América do Sul, o Uruguai foi o mais progressista, e uma das principais causas era que as pessoas se tornaram livres pensadores. Passageiros da Bahia e de Montevidéu pediram que ela fosse sua convidada. Todas estas almas se mostraram amigas. Foi realmente uma festa em família. O camareiro chefe disse: — Por que não conta com nossa ajuda para com esta religião? Então, elogiou a religião. Os camareiros ouviram sobre a Causa e a Mensagem foi enviada aos marinheiros chineses. Martha Root foi ao baile à fantasia, vestida como persa, e o capitão lhe pediu para apresentar os prêmios. O Pará – situado na foz do grande rio Amazonas e com uma população de 175.000 habitantes – foi a primeira localidade avistada da América do Sul, após uma viagem de duas semanas. Nessa cidade, localizada sobre o Equador, chove todos os dias e as pessoas marcam todos os seus compromissos para “depois da chuva” que, geralmente, cai por volta das 3 horas da tarde. Os passageiros tiveram uma parada de um dia. Às 9 horas da manhã houve o tradicional passeio de carro. Disseram-me que na América do Sul uma mulher nunca deve sair sozinha a não ser à tarde, “depois da chuva”. Quando os outros passageiros estavam tomando o bonde para darem um passeio pela cidade, Martha Root disse-lhes que ia à caça do escritório de algum jornal. Achou o maior jornal do Pará. Havia quinze pessoas escrevendo. Nenhum falava inglês. Ela foi levada a uma sala de visitas e um dos velhos editores conversou com ela em francês. Ela tentou explicar a Fé Bahá’í e o esperanto. Ele lhe pediu que escrevesse um artigo de mil palavras para seu jornal. Ela teve que escrevê-lo em inglês, mas logo que terminou, chegou um homem e todos os outros ficaram agitadíssimos, pois ele falava inglês. Ele era o melhor advogado do Pará e também o advogado da companhia marítima. Ele disse: — Se você falar inglês bem pausadamente, eu responderei em meu péssimo inglês. Sou amigo deste jornal. Ele traduziu seu artigo sobre a Fé Bahá’í para o português para aquele jornal e levou-a de volta para o navio em seu automóvel. Foram entregues nove livretos aos que trabalhavam no jornal e a amizade com o advogado pôde ser causa de esplêndidas oportunidades espirituais. Até onde sabemos, ninguém no Pará havia ouvido sobre a Revelação Bahá’í. Em 11 de agosto de 1919, o navio chegou a Pernambuco, a terceira maior cidade da América do Sul em importância comercial. A Bahia estava interditada por causa da febre amarela, e ficava a várias centenas de milhas ao sul, a caminho do Rio de Janeiro. Então, teve início o drama interior do qual seria a melhor coisa que Martha Root poderia fazer. ‘Abdu’l-Bahá, nessas recentes Epístolas mencionou particularmente a Bahia e que os bahá’ís deveriam viajar para lá. Por outro lado, a febre amarela vinha assolando a Bahia e as recentes chuvas haviam somente piorado a situação. Ir à Bahia poderia implicar em longa demora e uma quarentena fora do porto do Rio de Janeiro na sequência da viagem. Significaria a perda da passagem do navio de Pernambuco ao Rio, e todos a aconselharam vigorosamente a não correr o risco. Do ponto de vista comercial o período da viagem poderia significar diversos artigos para os jornais de Nova Iorque, pois o novo cônsul-geral recémdesignado pelo governo dos Estados Unidos estava para viajar no navio. Fora isso, quatro [7]
  • 8. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul casos de febre amarela foram registrados em Pernambuco naquele dia, e ainda uma revolução se iniciara na qual quatro pessoas foram mortas, bondes queimados, pontes bombardeadas, de modo que a perspectiva mais segura era permanecer a bordo e viajar em segurança para o Rio. Quatro homens de negócios, de origem americana, que pretendiam permanecer em Pernambuco, desistiram de seus planos e retornaram ao navio. Permanecendo deitada no beliche no camarim, por causa deste dia angustiante, através da portinhola, ela contemplou a escuridão em que somente Júpiter brilhava refulgente, firme na sua trajetória. Ela levantou-se, mandou levar sua bagagem para terra firme, pois ela havia feito reservas com duas companhias marítimas, na esperança de conseguir uma passagem para Bahia em algum navio brasileiro. Ela agarrou a chance, por mais insana que parecesse aos demais passageiros. Quase não se fala inglês em Pernambuco. Ouve-se português em toda parte. Sabendo de uma mulher de negócios que se encontrava no Hotel do Parque, a srta. Martha Root dirigiu-se para lá para tentar encontrá-la e ocupar um quarto no mesmo hotel até a chegada de um navio. As duas pessoas da Bahia que conheceu no navio, estavam hospedadas num barco-residência. A mulher americana estava lá. Quase imediatamente, Martha Root disse: — Eu sou bahá’í! E a americana perguntou: — Já ouviu falar da minha prima Lua Getsinger?* Através da graça do Espírito Santo, a mais de onze mil quilômetros de sua pátria, cada uma dessas duas mulheres americanas encontrou na outra uma amiga! Esta americana de negócios, sra. Lillyan Vegas, amava Lua Getsinger com muita devoção. Eram primas favoritas uma da outra, tinham a mesma idade, haviam brincado juntas, trabalhado juntas, mas desde que se casaram, não haviam se encontrado muitas vezes. A sra. Vegas nunca mais havia encontrado Lua desde que esta se tornara bahá’í, mas soubera acerca desta maravilhosa nova religião através da mãe de Lua. A sra. Vegas havia feito dezoito viagens à América do Sul. Ela fala português, francês e espanhol tão fluentemente quanto o inglês. Foi ela quem criou postos de abastecimento de leite para mães e bebês pobres no Brasil; encarregou-se do suprimento durante um período de escassez no interior do país, e na cidade de Nova Iorque foi uma das mais brilhantes palestrantes no III e IV Congressos para a Liberdade. Ela estava no Brasil como representante de uma das maiores empresas americanas e estava hospedada no Hotel do Parque há sete meses. Como não havia lugar no hotel, ela cedeu um espaço no seu quarto para Martha Root. Os homens de negócios que estavam a bordo já haviam ouvido falar das habilidades dela e quando Martha Root voltou ao navio para se despedir e lhes disse quem era sua companheira, isso certamente impressionou-os. O capitão e outros pediram mais exemplares do livreto azul. Alguns dos passageiros enviaram balas de fabricação americana para a sra. Vegas e acompanharam Martha Root até o hotel – passando por ruas desertas, vigiadas por soldados, em meio ao som ensurdecedor de explosivos de dinamite, e por igrejas onde as pessoas estavam reunidas rezando pelo término da revolução. Na manhã seguinte, a sra. Vegas recebeu um cabograma liberando-a para que viajasse à Bahia e ao Rio pela sua empresa. Seus agentes puderam lhe garantir passagem de navio para a Bahia em 16 de agosto. Martha Root tivera contato com o editor do maior jornal de Pernambuco e após falar em francês com ele, ela escreveu um artigo sobre a Fé Bahá’í e o esperanto. Na manhã seguinte, * Lua Getsinger foi uma das primeiras bahá’ís americanas a aceitar e servir à Causa Bahá’í. Para saber mais sobre ela, ler o livro Lua Getsinger, de William Sears e Robert Quigley. [8]
  • 9. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul a sra. Vegas levou-a a cada um dos cinco grandes jornais da cidade e explicou em detalhes a Causa Bahá’í e o esperanto, servindo-lhe como intérprete. Os editores a ouviram com grande interesse. Artigos foram publicados e antes de deixarem a cidade, a sra. Vegas e Martha Root seguiram o costume de ir novamente visitar os editores para lhes agradecer e se despedir. A bordo do navio brasileiro Itapuhi, partindo de Pernambuco com destino à Bahia, em 16 de agosto, Martha Root transmitiu a Mensagem conforme segue: Ouvindo uma canção árabe, depois ela falou aos passageiros através de um intérprete. Este senhor, ela soube depois, viveu em ‘Akká e conheceu ‘Abdu’l-Bahá. Ele descreveu a majestosa presença do Centro do Convênio com grande entusiasmo, sua face resplandecia enquanto falava. Ele disse que muitas vezes fizera refeições na casa de Abbas Effendi: — Meu pai conheceu Bahá’u’lláh, exclamou. Este homem havia estado fora de ‘Akká por dezessete anos e iria retornar. Ele era muçulmano; recebeu o livreto azul e levou um pequeno presente de Martha Root para ‘Abdu’lBahá. Este homem sírio presenteou-a com um delicioso bolo árabe e foi muito bondoso com ela durante a agitada viagem, quando todos estavam mareados. Comparados com os grandes transatlânticos, os barcos são tão pequenos que flutuam como barris. Um oficial da alfândega de Pernambuco ouviu a Mensagem, também um capitão dinamarquês, um homem de Beirute, um primeiro oficial africano, um superintendente de escolas do Brasil, um jovem que juntamente com outros vinte e nove jovens que estavam sendo enviados pelo governo brasileiro para estudarem nos Estados Unidos por dois anos.* Na manhã seguinte, o barco parou durante seis horas em Maceió, uma cidade de 70.000 habitantes. Um comerciante que conhecia a sra. Vegas foi levá-la juntamente com Martha Root em um barco a vela para conhecerem sua cidade. Após um passeio de carro, ele levou-as a todos os jornais. Um dos editores e dono do jornal de Alagoas, sr. José Magalhães Silveira, um homem agradável disse: — Gosto muito de conhecer um movimento que traga unidade às religiões; é muito bom. Ele era também a favor do esperanto, dizendo que havia vários esperantistas em Maceió. Outro editor disse que o esperanto havia florescido lá, mas que agora havia esmorecido novamente. A Mensagem foi dada a nove homens proeminentes em jornais e círculos comerciais em Maceió. Após o café da manhã, depois de passaram na casa de uma agradável família católica, as duas americanas retornaram ao Itapuhi. Ao se aproximarem da Bahia, falava-se muito acerca da febre amarela e havia tanta incerteza a respeito de navios indo da Bahia para o Rio de Janeiro, que a sra. Vegas decidiu permanecer a bordo do Itapuhi e ir para o Rio. Estavam em alto mar, tiveram muitos temporais, e as pessoas ficavam enjoadas, mas quando os pequenos barcos chegaram para levar os passageiros, havia apenas dois americanos a bordo que falavam inglês e se ofereceram para levar Martha Root ao hotel. Ela chegou com um jovem que veio a Bahia para ser missionário batista no interior do Brasil. Ele se encontrou com dois jovens altos e robustos, sendo um deles médico, que também eram missionários na Bahia. Foi deveras impressionante vê-los em lugar tão distante, onde 80 por cento dos habitantes são africanos, dando suas vidas para melhorar as condições do local. Martha Root estava doente por causa da tempestade e tinha febre alta. Quão vividamente as palavras vieram à sua memória: “Que ninguém se denomine capitão até que se encontre *Provavelmente iriam pegar um transatlântico em Salvador. [9]
  • 10. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul diante do exército oponente, nem se chame bahá’í até que enfrente testes.”* As palavras das Epístolas do Plano Divino e as orações foram sua cura. Bahia é uma cidade de 280.000 habitantes. A palavra Bahia significa baía (de todos os santos). Foi fundada em 1594 por Tomé de Souza, um nobre, acompanhado por seis jesuítas. Hoje, o homem mais popular que provavelmente será reeleito governador, dr. José Joaquim Seabra, disse que a Bahia inicialmente irradiou civilização para o Brasil. Deus colocou nos seus fundadores os melhores dons do espírito – e em seu solo há riquezas de todos os tipos. O estado da Bahia – o estado e a cidade são chamados pelo mesmo nome† – é um dos mais ricos do Brasil. Produz tudo o que os outros estados têm, mas é notável principalmente pelo coco, tabaco, café, diamantes, açúcar e couro. No devido tempo será um dos maiores portos do mundo por ser boa a sua enseada natural e por se encontrar mais próxima dos Estados Unidos, da Europa e da África do que o Rio de Janeiro. Há 365 igrejas na cidade da Bahia. Uma pessoa que fez pesquisa sobre o Brasil disse a Martha Root que muitos brasileiros estão mudando sua fé. Os homens das classes mais altas não se preocupam muito com religião. A tendência entre os letrados é a de se tornarem racionalistas, não propriamente ateus. Muitos deles foram educados na França e sua literatura consiste na filosofia e novelas francesas. Vários distintos homens públicos do Brasil são racionalistas, mas dizem que as mulheres e as classes mais baixas são católicos devotos. Para Martha Root, os “pensadores” do Brasil estão mais interessados numa religião universal, e em nenhum lugar encontrou antagonismo. Ela visitou igrejas católicas e abordou a Fé Bahá’í sob a perspectiva católica. Se bahá’ís forem ao Brasil, devem aprender português (não é difícil de aprender) e conhecer os costumes desses povos latinos. Os sul-americanos se encontram socialmente com os estrangeiros antes de fazerem qualquer negócio. “Paciência, amanhã” é a primeira lição a ser aprendida. Brasileiros fazem tudo devagar e com cerimônia. Os portugueses e os brasileiros são aristocráticos. No Hotel Sulamericano, Martha Root conheceu o sr. Miguel P. Shelley, um americano que nos últimos trinta anos tem feito negócios no Brasil; ele foi o melhor homem de negócios que ela encontrou no Brasil. Ao mesmo tempo, é um pensador e autor muito querido tanto para norte-americanos como para sul-americanos. Ela expôs com franqueza o propósito de sua visita e como ela contatou os jornais. Ele disse: — Não há melhor maneira de trazer a Causa Bahá’í (ele nunca havia ouvido a respeito) e o esperanto para a América do Sul do que aquilo que exatamente vem fazendo; leve-os à consideração dos editores e publique-os em todos os jornais. Foi também muito gentil e disse que uma mulher pode viajar sozinha na América do Sul e que pode mostrar respeito se for uma mulher direita - é isso que os sulamericanos querem: que bons homens e boas mulheres dos Estados Unidos venham para cá e façam negócios, foram as suas palavras. A sra. R., uma mulher influente, ofereceu seu tempo para cada dia levar Martha Root para ter encontro com as pessoas mais influentes da cidade portuária. O sr. Shelley acompanhou Martha Root e a sra. R. aos escritórios dos jornais com os quais contatou previamente e foi intérprete para ela. Primeiro, fazia-se um telefonema e então os editores faziam perguntas. Dois dos editores foram educados na Europa e falavam inglês. Há oito jornais de circulação *Não encontrado a referência. †A cidade foi fundada com o nome de São Salvador da Bahia de Todos os Santos, porém comumente chamavam a cidade somente de Bahia até que oficialmente a mudaram para Salvador. [10]
  • 11. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul diária na Bahia. É melhor ir a dois ou três dos mais importantes e dar a Mensagem e então posteriormente telefonar ou escrever aos outros – os jornais da América do Sul, tal como os de outros lugares, gostam de um “furo jornalístico”, isto é, publicar algo com exclusividade. Todos os jornais publicaram bons artigos, ilustrados com fotos de Martha Root. Um dos editores disse: — Estou interessado nessa religião. Se você colocar um livro sobre ela na seção inglesa de uma biblioteca pública, eu o lerei. Muitos brasileiros estão começando a estudar inglês e eles gostam de livros em inglês. Martha Root deixou o livro de Thornton Chase The Bahá’í Revelation na biblioteca da cidade e prometeu mais seis livros em inglês sobre a Causa Bahá’í a serem enviados dos Estados Unidos. O diretor da biblioteca e seu assistente foram extremamente gentis. Há um novo e bonito prédio da biblioteca sendo completado. Se qualquer leitor desejar enviar livros bahá’ís a essa grande biblioteca, o endereço é o seguinte: Biblioteca Pública do Estado da Bahia, América do Sul. A Causa Bahá’í foi explicada ao secretário da agricultura, dr. Joaquim Arthur Pedreira França, a homens de negócios de vários países, a um capitão americano da Califórnia que estava partindo para a Inglaterra, a missionários, a pessoas do interior, também a negros em extrema pobreza. As pessoas foram extremamente gentis. O próprio fato de Martha Root estar viajando sozinha, sem saber sua língua, tocava seus corações. Um empresário português e sua esposa, no hotel, procuraram-na e disseram em francês: — Nós nos oferecemos para servir sua religião. Se nos enviar literatura, nós também a explicaremos e daremos para as pessoas lerem. O mesmo amigo lhe ofereceu um jantar e um grande buquê de rosas e levou-a até o navio quando da sua partida. Martha Root não tinha qualquer ideia de quando poderia tomar um navio para deixar a Bahia, ou quais seriam as regras de quarentena. Até mesmo o povo da Bahia ficou espantado ao vê-la tomar o navio tão facilmente. O Itassuce, um navio brasileiro chegou inesperadamente do Rio com um carregamento. Depois de descarregar nas docas, o navio parou no porto, submeteu os passageiros à mais rigorosa desinfecção, enquanto iam embarcando, e antes que a desinfecção terminasse, suas bagagens também foram submetidas a desinfecção. Foi um ato heróico – enxofre mais que suficiente para este mundo e o vindouro. Os médicos examinaram os passageiros e um médico a bordo verificava sua temperatura todos os dias. (É importante ter um termômetro e remédios simples). Martha Root que segundo a previsão de todos ficaria retida na Bahia por vários meses, deixou essa cidade em segurança após uma permanência de seis dias, cidade a respeito da qual ‘Abdu’l-Bahá disse: “Visitai especialmente a cidade da Bahia, na costa oriental do Brasil. Em anos passados esta cidade foi batizada pelo nome de BAHIA e isso foi, sem dúvida, através da inspiração do Espírito Santo.”* A viagem da Bahia até o Rio foi de quatro dias. Todos os barcos eram agradáveis, mas, de tão pequenos, agitavam-se incessantemente e alguns dos marinheiros mais experientes sofriam enjoo. Nenhuma outra mulher a bordo foi capaz de ir até o refeitório durante a viagem. Apenas duas pessoas falavam inglês no Itassuce, mas vários deles falavam francês e com tanta prática Martha Root agora dava a Mensagem em francês. Um homem que voltava para sua casa em Curitiba, capital do estado do Paraná, pegou o livro Epístola de Tarázát e o colocara na biblioteca da cidade. A Mensagem foi dada também a um homem que atua como intérprete * Epístolas do Plano Divino, p. 106 (Mogi Mirim: Editora Bahá’í Brasil. 2001, 1ªedição.) [11]
  • 12. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul em hotéis da América do Sul. Ele era um romeno que falava sete línguas; e também alguns racionalistas que publicaram sete artigos nos jornais perguntaram a respeito da Causa. A enseada do Rio de Janeiro é considerada a mais bela do mundo. Tem 29 quilômetros de comprimento por 25 de largura – uma magnífica “concha” tendo em suas bordas montanhas impressionantes cujos picos esbeltos são cobertos de graciosas e agitadas palmeiras, aquelas árvores amigas que, como diz a lenda, não conseguem viver sem o som da voz humana. Nessa concha há centenas de belas ilhas. Rio, um dos maiores espetáculos da Terra, sempre é lembrada pelo seu cenário. Martha Root chegou na hora do glorioso pôr-do-sol. Eram seis horas do dia 27 de agosto de 1919. Ela foi a oito hotéis, encontrando-os todos lotados e no nono, um hotel português, no qual não se falava outra língua, ocupou um quarto. No Rio, ela se orientava escrevendo seu endereço e mostrando aos guardas de trânsito ou condutores de bondes. Ela apresentou a Mensagem Bahá’í da seguinte forma: ao entrevistar o cônsul-geral americano, no primeiro dia, este apresentou-a ao editor do Jornal do Commercio que estava fazendo uma visita ao consulado. Este é o maior jornal do Brasil e Martha Root soube posteriormente que é um dos jornais mais influentes do mundo; suas notícias são copiadas por jornais em outras cidades e de pequenos municípios em todos os vinte e um estados. O editor convidou-a a fazer uma visita ao seu escritório. Ele se interessou pela Causa Bahá’í e em cerca de três quartos de uma coluna colocou um excelente artigo esboçando os princípios fundamentais. Ele lhe deu também os endereços de um escritor esperantista e do presidente da Sociedade Esperantista no Brasil. Após essa visita, Martha Root foi a Copacabana, uma moderna e elegante área residencial de frente para o mar, para visitar a esposa do sr. Miguel Shelley, e sua irmã, sra. Bertha Thomas – que vivem no Brasil há muitos anos. A Causa Bahá’í foi o tema de sua conversa e a amizade espiritual mostrou-se maravilhosa. A irmã recebeu um pequeno livro de orações, vários livretos bahá’ís e uma foto de ‘Abdu’l-Bahá. No dia seguinte ela levou Martha Root ao segundo maior jornal, o Jornal do Brasil, e serviu de tradutora para dar a Mensagem. Elas visitaram o dono, assim como o editor e na edição de domingo foi publicado um bom artigo. A visita seguinte foi ao sr. Manoel Cícero, o diretor da Biblioteca do Rio de Janeiro, localizada na avenida Rio Branco. Esta é a mais admirável biblioteca do Brasil e possui um acervo de 400.000 volumes. O diretor recebeu Respostas a Algumas Perguntas, What went yes out to see, Dynamic Power of the Bahá’í Revelation, um exemplar do livreto azul e uma compilação sobre Paz e Guerra. O diretor disse que ficaria muito satisfeito em receber outros livros sobre a Causa Bahá’í. Hoje, muitos brasileiros estudam inglês e frequentam a seção de livros em inglês das bibliotecas, assim como fazem os americanos e britânicos. Atualmente há mais de 500 americanos na colônia do Rio. Extremamente agradável foi a visita aos esperantistas que Martha Root e a sra. Thomas fizeram após o almoço. Dr. Everdo Backheuser, um autor esperantista, levou-as a uma sede social esperantista. No caminho, ela apresentou-lhe o artigo “Ciência e Religião” do sr. Esslemont em esperanto. Martha Root apresentou a Mensagem. O presidente da Sociedade Esperantista, sr. Alberto Couto Fernandes, conhecia o movimento bahá’í e mostrou à Martha Root artigos em esperanto sobre Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá. O sr. Fernandes é engenheiro, um destacado homem de negócios e um dos maiores esperantistas do mundo. Ela ensinou esperanto a mil pessoas no Brasil e, tal como o dr. Backheuser, já escreveu vários livros em esperanto. Ele lê um pouco inglês e fala e lê francês fluentemente. O esperanto é ensinado no curso normal e primário nas escolas do Rio, e há aulas nos departamentos de corpo de bombeiros e de telégrafos. [12]
  • 13. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul A Associação Cristã de Moços do Rio tem uma aula de esperanto e uma biblioteca de esperanto. Martha Root deixou o livro Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em Londres na biblioteca. O Brasil Esperantista, uma revista mensal publicada no Rio, publicou um artigo sobre a Fé Bahá’í. Jornais do Rio, não somente através de entrevistas, mas posteriormente noticiando as reuniões e na ocasião em que os livros foram colocados na biblioteca do Rio, novamente fizeram publicações sobre a Fé. Esses artigos são frequentemente copiados em outras cidades. A melhor apresentação da Fé Bahá’í em qualquer lugar é através de jornais. Martha Root falou sobre a Fé no consulado, na Embaixada Americana, em escolas brasileiras de aviação naval, no exército brasileiro, na escola de aviação, na Câmara Americana do Comércio no Rio, a várias famílias brasileiras, a um proprietário de plantação de coco e a homens de negócios dos Estados Unidos, da Inglaterra, da França e do Brasil. Martha Root partiu do Rio de Janeiro, em 5 de setembro às 7 horas da manhã, rumo a São Paulo. No trem apenas duas pessoas falavam inglês, e ficaram somente por uma hora naquele trem. Ela lhes deu a Mensagem, um deles um jovem casado de New Jersey que estava fora havia treze anos, e a outra, uma jovem casada de Kent, Inglaterra. A pitoresca viagem é como um percurso de doze horas no paraíso, cuja abundância ainda não foi descoberta pelo mundo. São Paulo é mais como a “Chicago” do Brasil, pois é onde se encontram muitas indústrias. Matérias-primas do coração do Brasil chegam a São Paulo, sendo que algumas são manufaturadas lá e a maior parte desce até o porto de Santos e então embarcada. Ao contrário de Chicago, São Paulo nasceu desde o início com um grande amor pela beleza. Sua Estação da Luz localiza-se ao lado de um parque. Seus blocos comerciais estão cercados de esplêndidos jardins, suas residências “crescem em meio a palmeiras tropicais”. Pinheiros paranaenses, rosas amarelas subindo pelos telhados de um vermelho escuro, orquídeas, lírios, damas-da-noite e muitas das flores mais raras crescem em qualquer quintal. Martha Root assistiu a um concerto no meio da tarde num pequeno parque na movimentada área comercial e ouviu tocarem violino num imenso mercado. O ambiente de São Paulo é ideal – comércio combinado com beleza. Martha Root foi a quatro hotéis até poder encontrar um lugar, e então, pagando tão caro quanto em Nova Iorque, pegou um quarto no quinto andar, sem elevador. Os donos eram italianos, mas sabiam falar francês, não inglês. A cidade de São Paulo, com uma população de 500.000 habitantes tem em acomodações de hotéis o equivalente a uma cidade de 5.000 habitantes dos Estados Unidos. No entanto, está destinada a ser um dos maiores centros do mundo comercial, talvez dentro de um século. A caminho do maior jornal, O Estado de São Paulo, para visitar o editor e explicar a Causa Bahá’í, Martha Root encontrou um advogado sírio do Líbano. Ele foi educado na Universidade de Beirute e reside em São Paulo faz vinte anos. Seu nome é Assad Bechara; seu objetivo apaixonado é a libertação de seu país e que os Estados Unidos ficassem como “defensor de seus irmãos” até que Síria e Cuba pudessem ser independentes. Ela lhe deu a Mensagem e o encontrava todos os dias, e como os 15.000 sírios de São Paulo, alguns dos quais são de Beirute, tem uma biblioteca semi-pública, presenteou-os com a compilação do sr. Dreyfus: A Revelação Bahá’í. Existem 100.000 sírios no Brasil. O diretor da Fundação Rockfeller, dr. S. F. Darling, que vive no Brasil há cinco anos, fazendo experimentos para o governo brasileiro, ouviu a Mensagem, e o livro Divine Philosophy foi presenteado à biblioteca da Faculdade de Medicina. Dr. Darling é uma das pessoas [13]
  • 14. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul mais renomadas do mundo. Ele fez a famosa descoberta sobre o ancilóstomo* (sob os auspícios da fundação Rockfeller) na África, no Panamá, em Java, e nas Ilhas Fiji, e agora está fazendo apresentações no Brasil. Ele disse que leria a literatura bahá’í. Esta grande nova instituição terá um papel fundamental na profissão médica no Brasil. Os Estados Unidos ou qualquer outra nação terá orgulho de uma instituição como a que ela será. Ela tem agora um ano e meio, está sediada no palacete do antigo Café Baron e é servida por centenas de estudantes de medicina que trabalham em seus laboratórios e assistem às palestras do dr. Darling. É a instituição mais avançada que Martha Root visitou no Brasil. O governo brasileiro convidou a Fundação Rockfeller para colaborar e os dois estão trabalhando em conjunto. Livros bahá’ís sobre assuntos sociais seriam muito bons para esta biblioteca. Tomando o trem de São Paulo para Santos em 10 de setembro, numa viagem de duas horas, Martha Root provavelmente viu a mais rica via férrea de curta distância do mundo, e a mais perfeita. Quando perguntaram ao presidente de uma estrada de ferro americana o que se poderia fazer para melhorá-la, ele disse que nada a não ser colocar trilhos de diamante. O trem flutua como um pássaro por entre as montanhas e a gente fica impressionada e admirada pela grandeza de milhões de árvores silvestres por todos os lados. Onze túneis foram escavados na rocha e há montanhas de granito. Ao chegar em Santos, ela deixou suas malas na estação e caminhou 800 metros até o pequeno Hotel Brasileiro que era muito bom. A população de Santos é de 200.000 habitantes. Durante os seis primeiros meses de 1919, as exportações do Brasil foram de U$ 274.304.000, dos quais U$ 147.526.000 passaram pelo porto de Santos. Na manhã seguinte, Martha Root procurou a biblioteca; não é uma biblioteca municipal, mas é uma para os que trabalham no mundo dos negócios em Santos. Seu nome explica: Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio. Lá existem cinco mil volumes, jornais e revistas de todo o Brasil. O diretor, que fala inglês, não estava, mas foi fácil dar um giro pelos arquivos e lhes mostrar artigos sobre a Fé Bahá’í em dezenas de jornais. Pareceram encantados com os livros que ela deixou lá: Palestras de ‘Abdu’l-Bahá em Londres, e o livreto azul. A biblioteca, embora pequena, é de atmosfera muito aprazível. Ao anoitecer, Martha Root foi ver o editor do principal jornal, A Tribuna, e na noite seguinte, os teosofistas ao verem o artigo bahá’í no jornal, ligaram para ela e a convidaram para dar uma palestra na sua sociedade. Como ia viajar no dia seguinte, eles designaram uma “comissão” para visitá-la no hotel pela manhã. Algumas vezes os mais gloriosos acontecimentos da vida acontecem de modo surpreendente, e este foi um deles. Três homens chegaram: o presidente da sociedade Teosófica, sr. Guido Gnocchi†, um homem que se dedica desde seu início, cinco anos antes, e outros dois destacados teosofistas. Martha Root inicialmente lhes perguntou sobre sua sociedade e disse que escreveria a respeito em jornais norte-americanos. O presidente, através de um intérprete (um deles), explicou que tinha vindo para saber mais sobre a Fé Bahá’í. Ele tinha artigos em sua casa sobre Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá e acreditava que Eles eram os Mestres do mundo hoje, e que havia falado a respeito d’Eles numa recente Conferência dos Teosofistas em São Paulo. Ele disse que desejava escrever a respeito d’Eles em diferentes jornais de todo o Brasil, assim como havia feito para auxiliar a Teosofia. * Um parasita nematóide, verme que vive no intestino delgado. † Para saber mais sobre este importante brasileiro dos anais da Fé Bahá’í no Brasil que foi quem hospedou Leonora quando ela veio ao Brasil como pioneira em 1921, ver p. 49 de sua autobiografia: Leonora Armstrong, Memórias e Cartas. [14]
  • 15. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul Martha Root tinha diversos recortes de jornais em português que explicavam a Causa e seus princípios. Aquele jovem – italiano de nascença, um artista, um homem simples, traduziu o livreto azul em português* e levou suas ideias aos jornais do Brasil. Ele disse: — Eu trabalharei por esta Causa Bahá’í no Brasil. Tentarei aprender inglês para propagá-la mais e almejo imensamente viajar ao redor do mundo para difundir seus ensinamentos. Este homem jamais havia ouvido falar de instrutores viajantes bahá’ís. Havia apenas vislumbrado os princípios, mas como Paulo, teve a visão. Eles conversaram durante quatro horas e ela lhes deu The Bahá’í Revelation de Thornton Chase, Bahá’í Proofs de Abul Fazl, O Plano Divino e vários livretos. Um outro deles é de Fiume, Itália, embora todos eles já estejam no Brasil há muitos anos. Ele tinha a visão da “unicidade da humanidade”, e escreveu um livro sobre esse assunto, o qual está em segunda edição. Ele está muito interessado na Causa Bahá’í e sabe ler inglês. Quando os amigos de Santos foram levar Martha Root para embarcar no navio para Buenos Aires, o sr. Guido Gnocchi levou junto um amigo de São Paulo a quem havia falado sobre a Fé Bahá’í. Esse homem, J. R. Gonçalves da Silva, que por muitos anos havia sido livre pensador, ocultista e estudioso, disse que tinha ido em busca de literatura. Ele falará sobre a Revelação Bahá’í a outros no estado e na cidade de São Paulo. O sr. Gnocchi leu para o grupo um longo artigo que ele recém havia terminado para um jornal brasileiro, falando sobre a história da Fé Bahá’í que seria publicado naquela semana. Os brasileiros de classes mais altas nas cidades grandes são de visão mais ampla e muito mais refinados do que as pessoas dos Estados Unidos imaginam. Eles não são especializados, mas possuem muito boa cultura geral. Muitos foram educados na Europa e todos possuem séculos de refinamento ancestral. Seus modos são tão impecáveis e agradáveis que não se pode deixar de desejar que outros países tenham modos tão gentis e realmente polidos. Não são apegados a credos e, a própria amplitude do movimento bahá’í exerce atração sobre eles. Em um século haverá Mashriqu’l-Adhkárs† no Brasil. As maravilhosas almas, os bons artigos nos jornais e os livros nas bibliotecas serão envolvidos pelas nuvens do Espírito Santo, e o Báb, Bahá’u’lláh e ‘Abdu’l-Bahá, o Centro do Convênio, serão conhecidos em toda cidade e aldeia. “Em verdade, Ele é Poderoso em tudo que deseja.” * Tornando-se desta forma a histórica primeira publicação de material bahá’í em português. † Templos Bahá’ís. [15]
  • 16. A Peregrinação Bahá’í ao Brasil, 1919 Baseado nas cartas escritas por Martha Root Durante sua Viagem à América do Sul Adendo Rumo a Buenos Aires A bordo do navio, na viagem de seis dias de Santos a Buenos Aires, houve uma grande tempestade. O frio, o granizo e o desconforto geral de quase todos com enjoo, fazia hesitar em dar a Mensagem. Essas pessoas vieram juntas numa viagem de quatro semanas da França e já tinham feito amizade antes de Martha Root embarcar. A primeira pessoa a que ela deu a Mensagem foi um jovem de Minas Gerais que se dedicará ao comércio entre Estados Unidos e Brasil assim que terminar seu estudo de língua. Depois de ler livros bahá’ís durante três dias, ele disse: “Esta é a melhor de todas as religiões que conheci.” Um francês, vendo o Máximo Nome em persa no livro O Plano Divino, perguntou o que ela estava lendo. Ele sabia árabe e ficou atraído. Então ela explicou a Fé a um jovem francês, filho do dono da maior agência telegráfica de Paris e que falava inglês (apenas duas pessoas falavam um pouco de inglês). [16]
  • 17. Martha Root (1872-1939) nasceu no dia 10 de agosto de 1872, em Richwood, Ohio, Estados Unidos da América. Martha tornou-se professora e jornalista. Tinha dois irmãos, que se casaram e constituíram família. Ela foi sempre solteira. Seu contato com a Fé e como se tornou baha’í é uma história curiosa. Em 1908, participava como jornalista em uma convenção religiosa cristã em Pittsburgh. No encerramento da convenção,muitos dos participantes se reuniram num restaurante para jantar. Martha e seus amigos estavam sentados em uma mesa grande. Todo o salão estava ocupado, restando apenas um lugar na mesa ao lado da de Martha. Um famoso bahá’í da época, o sr. ROY WI LHELM, de Nova Iorque, estava na cidade a negócios. Havia regressado há pouco de uma visita à Terra Santa. Durante a conversa do grupo de Martha, observou o sr. Roy a forma antidogmática com que ela se referia a assuntos de religião. Após o jantar, contatou Martha, falando-lhe da Fé. Ela se interessou e deu a ele seu cartão de visita. De Nova torque, e durante um ano, enviou literatura bahá’í à sua “contato” Martha Root. No inicio, embora tivesse algum interesse pelos livros, não queria ser vista com os mesmos. O primeiro que recebeu deixou-o no balcão de uma farmácia. A dona do estabelecimento encontrou o livro, leu-o e tornou-se bahá’í. Apesar de sua resistência inicial, Martha tornou-se uma investigadora séria da Fé, estudando a fundo seus ensinamentos e suas promessas. Mas foi através de outro bahá’í, THORNTON CHASE, o primeiro crente americano, em encontros em restaurantes, que Martha acabou se declarando, em Pittsburgh, em 1909. A data precisa não é conhecida, sabendo-se apenas que ocorreu no final da primavera naquele país, no mês de maio. Martha Root era uma mulher pequena e frágil, de ternos olhos azuis. Vivia do que ganhava escrevendo artigos para jornais e sempre, na mais rigorosa economia, viajava de terceira classe, comendo o mínimo para seu sustento e vestindo-se com muita simplicidade. Além da Rainha Maria da Rumânia, a mais famosa representante da realeza européia dos contatos de Martha Root, em especial por ter aceito a Fé oficialmente e sobre ela dado tantos e tão lindos testemunhos, sua filha, a Princesa Eliana, foi outro destaque, a qual inclusive traduziu literatura bahá’í para o idioma romeno. Mas foram inúmeros os reis, presidentes, membros da realeza e personalidades importantes do mundo que receBeram essa mulher simples e humilde, para dela ouvirem a Mensagem de Bahá’u’lláh ou receberem livros sobre a Fé, através de seus assessores quando não podiam pessoalmente recebê-la, o que poucas vezes aconteceu. ISBN 978-85-320-0203-7 9 www.editorabahaibrasil.com.br 788532 002037