1) O documento discute ambientes virtuais de aprendizagem e o desafio de criar novos caminhos no ensino na PUCRS VIRTUAL.
2) Analisa a capacitação docente para ensinar no ambiente virtual e as redes que conectam professores, alunos e conteúdos na construção de um novo paradigma educacional.
3) Destaca o Curso de Capacitação Docente em Educação a Distância da PUCRS VIRTUAL como estratégia para implantar uma cultura virtual e atualizar continuamente a prática pedagó
1. AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM:
o desafio de novos traçados na produção do
conhecimento como criação 1
Marilú Fontoura de MEDEIROS, marilu@pucrs.br 2 ; Gilberto Mucilo de MEDEIROS,
medeiros@pucrs.br ; Joyce Munarski Pernigotti, joycemp@pucrs.br;3
Rubem Mário Figueiró Vargas, rvargas@eq.pucrs.br, Anamaria Lopes Colla, acolla@pucrs.br,
Maria Bernadette Petersen Herrlein, herrlein@pucrs.br, Beatriz Tavares Franciosi, bea@inf.pucrs.br
RESUMO - O presente trabalho move-se pelo
desafio de investigar como uma universidade
brasileira de grande porte institui campos de
virtualidade em seus processos de ensinoaprendizagem, detectando as reverberações nas
práticas socialmente construídas na PUCRS
VIRTUAL. A análise dessa prática se dá em dois
grandes níveis, quais sejam (1) o da capacitação
docente que dá conta da epistemologia do virtualatual em sua singularidade, assim como (2) as redes
que operam passagens na construção do paradigma
que instiga nossa prática. A idéia de potência, o
enfrentamento de falsas premissas entre virtual,
atual, possível e real são atravessadas por ações
instituídas na cotidianidade do devir de uma cultura
do virtual como parte da singularidade do ser e da
possibilidade de grupos-sujeito. Em síntese, esses
agenciamentos promovidos pelos docentes buscam
instaurar processos de heterogênese de garantia,
também múltipla, de espaços de aprendizagem. São
espaços de autonomização, de diferença, de criação.
Palavras-chave: capacitação de professores em
EAD; Educação a Distância; ambientes de
aprendizagem;
transição
paradigmática;
virtualidades e heterogênese.
1
I.
INTRODUÇÃO
A Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul/PUCRS, em sua unidade da
PUCRS VIRTUAL insere-se como um
projeto inovador, agregador de valores ao
ensino e à aprendizagem desenvolvidos na
modalidade presencial, especialmente, ao
acoplar dimensões vinculadas ao avanço de
tecnologias da era digital que permitam a
ampliação e a socialização do conhecimento.
Abrem-se, com essa iniciativa, não só o
enfrentamento de práticas instituidoras de
novos agenciamentos e instauração de
múltiplos processos em espaços de
aprendizagem, como também oferece
múltiplas possibilidades de acesso à
informação e à formação(Medeiros, 1998[1];
Medeiros, Medeiros e Colla, 2001[2]) a
pessoas que se encontram afastadas dos pólos
tradicionais de oferta de informações e
formações acadêmicas atualizadas. Sua
constituição está marcada pela articulação
em torno de múltiplas demandas, desde as
potencialidades e condições do âmbito
acadêmico da PUCRS, a parceria pautada por
Análise de uma prática social constitutiva e a produção de singularidades e de devires na formação docente e
na produção do ser que “mais constrói mundos do que o reflete”.
2
Professora-pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Educação da PUCRS, Professora Titular e
Diretora da PUCRS VIRTUAL.
3
Professores-doutores da PUCRS VIRTUAL.
2. produções de singularidades, até
as
exigências do contexto social que impõem,
cada vez mais agilidade às organizações que
se dedicam à expansão e à construção de
novos conhecimentos e competências ao
cidadão do século XXI. Conhecimentos e
competências instaurados com base em uma
nova sensibilidade, uma sensibilidade
ressignificada,
uma
potência,
uma
possibilidade
de
afetar
e
ser
afetado(Deleuze,1997[3]).
O processo instaurado na PUCRS VIRTUAL
constrói uma proposta e uma arquitetura
pedagógica, constituída por ações de ponta
tecnológica e humana na múltipla rede de
construção de saberes e fazeres. Inerente às
condições e processos paradigmáticos, a
PUCRS VIRTUAL privilegia a formação de
competências, que visam
assegurar um
“saber”, um “saber-ser” e um “saber
conviver”, além de um mero “saberfazer”(Delors, 1999[4]). Isso implica,
igualmente, a formação de professores e
demais agentes envolvidos, visando instaurar
processos de construção de multiplicidades,
de novos platôs de realização exigidos pela
EAD e pela PUCRS VIRTUAL.
O desafio a que o paradigma de EAD nos
coloca é a processualização do virtual. Como
tal, acima de tudo, busca-se garantir que esse
processo constitua a entrada numa cultura
virtual e que seja, pela própria natureza
flexível e instigante, aberto a contínuas
transformações e certos de que o platô
alcançado, significa somente um espaço de
descanso na jornada, elos na complexa rede
que , diuturnamente, se abrem e se ampliam
no fazer da Educação a Distância na PUCRS
VIRTUAL(Deleuze,
1997[3],
1999[5];
Deleuze e Guattari, 1995[6], 1997[7]; Alliez,
1996[8]).
II. UM BREVE SIGNIFICADO DA
PUCRS VIRTUAL
A PUCRS VIRTUAL tem em seus
pressupostos operacionais, a constituição
de uma equipe interdisciplinar, além da
necessária instituição de uma plataforma
que lhe dê suporte(Boff e Girafa,
2001[9]). No entanto, esses supostos só
assumem sua relevância pelos processos
epistemológicos gestados na atualização
dessa realidade. Uma plataforma híbrida
(Medeiros e Medeiros, 2001[10])que
obedece a pressupostos socio-políticofilosóficos,
assim
como
sociocomunicativos
e
sociotécnicometodológico, são configurados: uma
estrutura tecnológico-pedagógica apoiada
por sistema apoiado em satélite (BRASIL
INTELSAT/B3) para geração de três
portadoras ( 2 x 256 Kbps ) de
videoconferência
e,
uma
de
teleconferência (tvro- digital com banda
de 2,5 MHtz), de conexões para
videoconferência pelo sistema Digidial
em 256 Kbps e, do apoio 24 horas por
dia, através da Internet, utilizando a RNP
e, mais recentemente, um canal exclusivo
de 1 Mbits ( Terra ), exclusivo para
acesso dos alunos da PUCRS VIRTUAL.
Além dessas facilidades de ferramentas e
serviços em EAD, há a disponibilização
do uso aberto de linha 0800 e de linhas
convencionais discada. Agregam-se às
aulas a possibilidade de acesso a fitas de
videocassete ou de CD-ROM aos alunos
impossibilitados de compartilhar das
vídeo/teleconferências,
assim
como
participar das aulas na modalidade
presencial. Há, também, um canal aberto,
em horários disponibilizados para
assessoramento e monitoramento por
parte de professores, monitores e tutores.
Seguem-se, graficamente(Figura 1), os
aportes nas duas plataformas: mediações
por vídeo/teleconferência e mediações
por computador(Medeiros e Medeiros,
2001[10]).
3. posicionamentos,
instituindo
novas
perguntas. São condições inerentes à
mudanças no operar em EAD.
Figura 1: Plataformas das mediações
tecnológicas da PUCRS VIRTUAL
Questões
preliminares
como
a
processualidade do paradigma de EAD,
contemplam o telos a que o grupo se
propõe como prática socialmente
instituída (Deleuze e Guattari, 1997[8];
Hardt, 1996[11]), a qual inclui as
demandas diretas dos processos e ações
envolvidos diretamente com professores,
alunos, monitores da PUCRS VIRTUAL
na direção de uma virtualidade, de
processos
interativos,
de
ações
cooperativas, de uso da cognição e,
especialmente, da metacognição, de
forma a ampliar as possibilidades de
promoção da autonomia em suas
concreticidade e historicidade possível.
Esses problemas-desafio
permanente geração. Tal
sementeira, constituem-se
geradores, que demandam
estão em
como uma
em campos
respostas e
Cada curso ou projeto criado na PUCRS
VIRTUAL apresenta uma construção
própria e comporta capacitação,
assessoramento e monitoramento de
professores, de monitores, de tutores e
dos próprios alunos distantes, pois
implica facilitar o trânsito e a construção
desse
paradigma
hipermidiático,
virtualizado e hipertextualizado. Essa
construção não se opera de cima para
baixo, mas em um projeto construcionista
(Montero[12], 1994; Ibañez Garcia,
1994[13]) e reconstrutivista (Deleuze e
Guattari, 1995[6]; Habermas, 1990[14],
1998[15]. Assim, cada curso, projeto,
professor encontram-se em fases e
momentos
diferenciados
dessa
construção. É essa condição que desafia e
obriga a trabalhar com o diferente e com
o múltiplo, tendo um télos que é
reconstruído cotidianamente(Medeiros et
al., 2001[16]).
As propostas se apresentam ao
usuário/professor em seus múltiplos
devires, como uma arquitetura aberta,
flexível, não hierárquica,
III. NOSSO FOCO DE ESTUDO
Nessa investigação, trabalhamos como
objeto, com os processos do Curso de
Capacitação Docente em EAD da PUCRS
VIRTUAL(CCD), curso esse que se
encontra em sua 18 versão e que já
capacitaram cerca de 400 docentes da
Universidade em modalidades de cursos
intensivos e extensivos. As primeiras
versões, cada uma delas envolvendo 110
horas, foram desenvolvidas quase que
totalmente na modalidade presencial.
Questionamo-nos dos processos que
4. permitem a atualização das virtualidades
que
demarcam
esses
cursos,
capacitacaoead@ead.pucrs.br
e
que
envolvem, em sua processualidade, ações
hipertextualizadas, hipermidiáticas, assim
como rizomáticas(Medeiros e Colla,
2001[2]). Além disso, buscamos na
construção do framework da Capacitação
Docente, a instauração de virtualidades,
como o são as propostas desse
framework ,
transformando-o
em
atualizações dessas virtualidades. Seriam
círculos que se vão estreitando,
comprimindo para produção de novas
virtualidades ou, da mesma forma,
constituem-se em círculos que se
estendem,
explodem
em
novas
virtualidades.
Essas imagens procuram traduzir o
impacto no campo do afectar (Deleuze,
1988 [17]), que nos instavam a virtualizar
o Curso de Capacitação Docente em EAD
e gerava em nós questionamentos que nos
desinstalavam de nossos próprios
domínios. Nesse processo contínuo de
busca de patamares e pontos de apoio,
éramos instados a atualizar esse campo
virtual do CCD em EAD.
Nosso questionamento se opera nos
modos de passagem do CCDs em EAD
para realidades que buscam autonomizar
o sujeito, facilitando um fazer docente
que se atualiza nas práticas sociais
discursivas.
IV. MODALIDADE DE ANÁLISE DOS
ACONTECIMENTOS
A análise da construção e de produção de
espaços singulares dos CCDs em EAD da
PUCRS VIRTUAL é engendrada
segundo um processo de síntese ativa
que, segundo Deleuze(1988 [18]), indica
um entre-tempo em que se dá a
representação do presente sob o múltiplo
aspecto da reprodução do antigo, da
reflexão do novo e da instauração de
devires, de agenciamentos que se criam
para desenhar novos mapas, realinhar os
antigos, reformatar relevos.
A presença simultânea do antigo e do
atual, não como instantes sucessivos na
linha do tempo, em um entre-tempo, na
atualização que comporta uma dimensão
a mais, mediante a qual apresenta o
antigo e também a si própria. É, portanto,
com o olhar do presente que voltamos a
nossa análise, sem, contudo, deixar de
considerar as dimensões de fundação e
de fundamento (Deleuze, 1988 [17] ;
Aliez, 2000 [18]). Ao tratar da fundação,
destacamos o modus operandi pelo que se
dá a progressiva ocupação/reocupação de
espaços em direção à virtualização/
atualização; no que tange ao fundamento,
lidamos com as condições de operação de
pressupostos, de resolutibilidade nas
dimensões do possível e do real. Assim, a
epistemologia fundante se atualiza na
ação.
V. CAPACITAÇÃO DOCENTE EM EAD
COMO ESTRATÉGIA DE CRIAÇÃO E
IMPLANTAÇÃO DE UMA CULTURA
VIRTUAL
O paradigma educacional, no sentido de
fundamento,
existe
enquanto
virtualidade, em estado de potência, e que
ao atualizar-se, na dimensão com que
Deleuze propõe, configura uma ação
educativa. Com essa interpretação, o
paradigma educacional que nos dá
suporte na PUCRS VIRTUAL pode ser
encarado como um problema a ser
resolvido, no sentido em que se está
frente a frente com um campo de
resolutibilidade, qual seja, atualizar-se no
fazer docente, e tornar-se atual. Assim,
5. uma experiência advinda do curso de
capacitação docente, promovida pela
PUCRS VIRTUAL, percorre o caminho
no sentido da atualização do paradigma.
Tal paradigma é compreendido como um
agenciamento, uma metateoria, que
orienta, nos caminhos múltiplos, a
construir e a reconstruir no cotidiano.
Novas
abordagens
emergem
(sociopolítico-filosóficas,
sociocomunicativas,
sociotécnicometodológicas),
Medeiros
et
al.
(2001[19]), que não só
desafiam e
alteram a própria configuração de
Educação a Distância na PUCRS
VIRTUAL,
mas
fundamentalmente
concorrem para o redimensionamento das
bases de constituição da subjetividade,
em
direção
a
sua
condição
socioindividual. Tendo como moldura
teórico-prática as idéias de Vygostsky
[20], Habermas [14], Deleuze e Guattari
[6] e Morin [21], além de apoios em
Lévy [22] por meio do que se pressupõe
como brechas de comunicação entre si,
busca refletir sua materialidade na criação
de
ambientes
de
aprendizagem
promotores
das
dimensões
de
interatividade
em
suas
múltiplas
dimensões, de processos cooperativos, de
ênfase no desenvolvimento da autonomia,
de ações argumentativas e de promoções
de ações cognitivas e metacognitivas.
Mantendo coerência com as teorias de
apoio, as ações em EAD são tematizadas,
construídas e reconstruídas de forma
argumentativa,
individual
e
coletivamente.
Ações de valor altamente agregador,
sejam na modalidade a distância, sejam
nas
reverberações
à
modalidade
presencial, têm sido as iniciativas da
PUCRS Virtual na área de Capacitação
Docente em EAD. Os professores se
capacitam em processos tecnológicos, de
mediações por computador e por
processos
de
teleconferência/videoconferência, além de
investimentos em habilidades vinculadas
às multimídias, encontrando-se, assim,
frente a frente com os desafios de
atualização das virtualidades das mídias
que se integram com vistas à gestão de
processos de interação, de cooperação e
de ganhos de autonomia.
No entanto, temos bem presente, que, a
apropriação dos recursos de informática
embora possa ser considerada por alguns,
como uma aprendizagem relativamente
simples, sob o pressuposto inicial de que
"basta transferir as aulas desenvolvidas
no presencial para a engenhoca
tecnológica da educação virtual, esta
ilusão logo se desfaz ao perceber, o
professor, que a amplitude da mudança
que se impõe abala totalmente o domínio
sobre o fazer docente praticado
tradicionalmente
na
modalidade
presencial.
VI. O QUE OS ACONTECIMENTOS
ENGENDRAM NOS CCDS EM EAD
A - A atualização do virtual
Atualmente, a versão do CCD contempla
quase que 70% de acontecimentos
virtuais como proposta de instituição de
ambientes atuais de aprendizagem. O que
parece se instituir como um paradoxo,
evidencia o tornar atual, real, as
experiências de uma capacitação docente
que hoje se mostra nesse espaço da Web,
como oferta de possibilidades ao docente
de construir outros contextos, além dos
apresentados. Importa nessa abordagem a
instituição de planos de ações imanentes,
de práticas que constituam o convite à
6. atualização do virtual, assim como à
novas virtualizações de um atual possível.
Seja na modalidade presencial ou a
distância, esses processos se instauram
pelo jogo de imagens-lembranças,
imagens-evocações,
imagens
essas
passíveis de atualização não-dada a
priori, mas criada. Essas ações
pressupõem a ruptura com a idéia de
modelo, de representação, de exploração
hierárquica e fechada em sua arquitetura.
É nesse sentido, que nos apropriamos das
idéias de Deleuze (1988 [17]) que
assevera ser essencial que concebamos
(...) a diferenciação como uma relação
entre o virtual e o atual, ao invés de como
um relação entre o possível e o real. (...)
O possível nunca é real, embora possa ser
atual; contudo, enquanto o virtual pode
não ser atual, é não obstante real. Assim,
ao contrário da idéia de modelo, de cópia,
o professor constrói e atualiza sua prática,
criando outras possibilidades para as
virtualidades ali instituídas.
B - O paradigma como um substrato da
vontade de potência e do fundamento
O paradigma EAD da PUCRS VIRTUAL
existe enquanto virtualidade, e, portanto
tem a sua realidade em estado de
potência, que busca sempre uma
atualização. Ao atualizar-se, no sentido
como Deleuze propõe, configura ações
educativas reais. Essas, supostamente são
instigadas pela potência de afetação dos
cursos de capacitação. A criação de
espaços-tempo de problematização das
práticas educativas usuais dos docentes,
gerada pelo CCD, afeta o sujeitoprofessor enquanto consciência. Desse
modo, a vontade de potência desses
sujeitos se abre em múltiplas direções,
duplica os movimentos e migrações,
criando novas cartografias nas quais o
paradigma se presentifica em
diferenças e em suas intensidades.
suas
Situações gestadas no CCD em EAD
espelham essa potencialidade. Ora, são
produções,
mais
que
isso,
são
acontecimentos que
condensam as
singularidades, geralmente para a criação
de outros platôs, outros mapas, outros
campos. Mesmo aqueles nos quais os
professores buscam se instituir como os
mesmos,
tendendo a negá-lo, esse
mesmo é diferente, seja em sua
intensidade, seja em seu mapeamento.
Uma imagem da atualização desses
espaços de construção é ilustrada a seguir
por práticas de docentes capacitados no
CCD. Por exemplo, na área do ensino de
Química, a atualização do paradigma
efetuada pelo professor extrapolou a
dimensão dos usos em EAD e de sua
própria disciplina, propondo ações
destinadas aos alunos do ensino
presencial , que atingem toda a formação
básica em Química, espraiada para outras
unidades da Universidade. A organização
de um Laboratório de Química Virtual e o
Projeto 00100 – com o mote, zero de
repetência, zero de evasão e 100% de
aprovação, atualizam de forma criativa e
inovadora as TICs apresentadas no curso
de capacitação, bem como o fundamento
da proposta educativa da PUCRS
VIRTUAL. Ações como essa reverberam
no ambiente docente e da própria
Universidade, criando novos movimentos
singulares, que se constituem em outros
nós
numa
construção
rizomática,
polissêmica, polifásica.
Na área de gestão da aprendizagem,
ainda em sua dimensão administrativa de
monitoramento, cerca de 3000 alunos de
diferentes unidades acadêmicas, têm se
beneficiado de um processo de registro,
acompanhamento e interação a qualquer
7. tempo e lugar. Ao invés de operar com as
datas e horários previstos e circunscritos
na modalidade presencial, a partir da
afecção positiva dos professores com a
experiência no webCT, emerge o pathos
de sensibilidade, de convívio com um
software de autoria empregado para
gerenciamento de ambientes
de
aprendizagem. Aos alunos está sendo
ofertada a possibilidade, muito maior do
que o professor tem consciência, de
convidar ao professor a compartilhar
idéias, argumentar e contra-argumentar
em
bate-papos,
em
fóruns.
Paradoxalmente,
o
monitoramento
permite e insta à maior transparência nas
dimensões de avaliação.
C - O rizoma hipertexto como uma
realização do possível
Os acontecimentos gerados nos CCDs em
EAD e expressos no fazer docente trazem
em si o desmanche do jogo entre virtual e
real, virtual e possível.
Assim, no jogo de análise das práticas
presentes dos CCDs em EAD, buscamos
evidenciar que “o virtual não é uma
degradação do ser – não é a limitação ou
cópia do ideal no real [opondo-se ao
platonismo] – mas, ao contrário, a
atualização de Bergson é a produção
positiva da realidade e multiplicidade do
mundo, (...) como uma atualização no
tempo (...) oferecendo uma crítica
adequada da noção de possível (Hardt,
1996, [23] p. 46-48).
Com essa
perspectiva, o virtual tem a realidade de
uma tarefa a ser cumprida e a partir da
qual a existência é produzida num tempo
e num espaço especial.
A construção da noção de hipertexto, em
desenvolvimento no CCD em EAD,
assume a forma de um tutorial
hipertextualizado que, além de colocar o
aluno como centro do processo de
aprendizagem,
provoca
concomitantemente a reflexão sobre sua
forma e conteúdo. Cada sujeito da
aprendizagem reconstroi seu caminho ou
seus múltiplos caminhos, gerando
multiplicidades. Nesse caso, assim como
em muitas experiências vividas no CCD,
o virtual passa, assim, de uma região a
outra, sem jamais se esgotar, criando,
em cada lugar, não apenas novidades de
contexto, mas também novidades que se
repetem ou variam segundo sua
relevância em outros contextos ou com
outros objetos (Rajchmann, 2000 [24]).
Dessa maneira, o possível, dentro de suas
multiplicidades com relação a forma de
abordar o hipertexto, processualizou-se na
realização de um tutorial, ao passo que,
simultaneamente, representa a atualização
do paradigma, dentro de uma de suas
possíveis ondas de imanência virtuais,
determinada dentro da subjetividade do
autor, atravessada por estes conceitos,
assim como pela natureza da abordagem
proposta ou da forma como esses
processos rebatem e têm ressonância no
sujeito. É algo do afetar e ser afetado,
que Deleuze retoma de Nietzsche e
Espinosa(Hardt, 1996[23]).
Na figura 2 apresentamos, com a
limitações que o papel impresso nos
impõe, uma imagem do tutorial que
aponta tão somente alguns dos
desdobramentos propostos. A atualização
do paradigma, não como um espaço de
repetição, mas de diferenciação e criação
fica exposta desde a página inicial,
quando o remetimento à proposição de
navegação se organiza de modo não
linear,
hierárquico, mas rizomático.
Trata-se de uma atualização, na medida
em que o campo de possibilidades que se
descortina ao navegador/aluno não
pressupõe um único caminho, nem uma
8. hierarquia na navegação, mas, ao
contrário, se vale e potencializa pela
imagem
e
sentido,
da
multiplicidade(Deleuze
e
Guattari,
1995[6]).
O professor/navegador/aluno, em outras
palavras, tem diversas possibilidades
contemporâneas(atuais), algumas das
quais podem ser realizadas no futuro; em
contraste, as virtualidades são sempre
reais(no passado remoto e presente, na
memória) e podem tornar-se atualizadas
no presente dependendo da modalidade
de exploração, do sentido, significado
atribuído à sua atualização.
Trata-se de um tutorial hipertextualizado
que abre
ao professor/navegador à
possibilidade de pensar a construção de
hipertextos,
assim
como
ações
rizomáticas,
múltiplas,
conectivas,
disruptivas em sua natureza e abordagem.
Figura 1: Figura expandida do tutorial de hipertexto
9. D - A própria Capacitação Docente como
uma produção de outros agenciamentos
Nossa experiência de concretização com
o CCD e com a construção da PUCRS
VIRTUAL se dá a partir de criações.
Criações
essas
que
engendram
acontecimentos,
provocam fluxos,
atualizam ações. Esses fluxos
são
gestados em função das virtualidades
criadas e da forma como criamos as
possibilidades de atualização dessas
virtualidades. Por sua vez, esse desafio,
que não é relativo
somente às
experiências
desenvolvidas
na
modalidade a distância, mas também
estão presentes na experiência presencial,
implica tanto a uma modalidade como a
outra a lidar com a condição de afetar e
de ser afetado (Hardt, 1996[11]).
Um dos desafios a que nos colocamos foi
o de romper com essa idéia de ajuste ao
modelo, de cópia, de instrumentalização,
mesmo com uma tecnologia de ponta, de
altíssimo nível e complexidade. O que
polarizava nossa atenção era o processo
de instituição de subjetividades a partir de
experiências no campo da virtualidade,
fossem elas presenciais ou não
presenciais.
Para tanto, fomos buscar nas leiturasexperiência de Deleuze em Nietzsche e
Espinosa,
as
condições,
os
acontecimentos que nos permitiriam gerar
fluxos, inclusive em nós mesmos, fluxos
esses geradores de novos acontecimentos.
Acontecimentos que evidenciassem nossa
vontade de potência, assim como nossa
condição de ser afetado, relacionado ao
poder de agir, de atualizar. Não nos
interessava operar somente com a idéia de
cópia; interessava sim, a dimensão de
criação e de recriação a partir de nós
mesmos, não só como avalistas do
processo; mais pelo sentir e deixar-se
afetar para validar o construído.
Precisamos, nesse processo, ter claro a
condição de que tal afetamento só se daria
em relação aos outros corpos, corpos de
nossos colegas-professores, corpos de
nossos colegas-alunos.
Mais, que esse afetar como vontade de
potência, como poder de ser afetado,
define
“a receptividade de um corpo não como
passividade, mas como uma ‘afetividade,
uma sensibilidade, uma sensação’
a
afetividade é um atributo da potência do
corpo. Em Nietzsche, como em Espinosa,
então o pathos não envolve um corpo
“sofrendo” paixões; ao contrário, o pathos
envolve as afecções que marcam a
atividade de um corpo, a criação que é
alegria”(Hardt, 1996, p.97-98[11]).
VII.
À
GUISA
DE
CONCLUSÃO PROVISÓRIA
UMA
Ei-nos, nesse momento, na condição de
dar um ponto final em algo que é parte de
um processo por natureza flexível e
instigante,
aberto
a
contínuas
transformações, certos de que o platô
alcançado, significa somente um espaço
de descanso na jornada, elos na
complexa rede que , diuturnamente, se
abrem e se ampliam no fazer da
Educação a Distância na PUCRS
VIRTUAL. Esses pressupostos declaram
a pertença e a propriedade da ocupação
desse espaço de autoria e de criação, que
se constitui na construção da proposta de
EAD da PUCRS VIRTUAL.
As
dimensões de contemporaneidade, de
coexistência e pré-existência do passado é
que nos animam a tecer correlações na
permanente
atualização
da
idéia,
10. enquanto espaço virtual, e dos campos de
resolutibilidade, nas dimensões do
possível e do real.
Embora a capacitação docente em EAD
seja considerada por nós, uma estratégia
vital para o sucesso dessa modalidade ela
não é portadora de soluções definitivas,
pois em suas implicações há componentes
não só técnicos, mas também ideológicos,
sociais e econômicos de várias ordens que
estão, ainda, para serem esclarecidos.
Diferentemente das inovações anteriores,
a natureza da mudança, que a inserção
dos
meios
infotelecomunicaionais
promovem no campo do fazer docente,
afeta não só o professor mas também o
aluno. Este passa a ser solicitado a
interagir com diferentes meios e sujeitos e
a compartilhar o conhecimento, para
construir novas relações, fazendo e
desfazendo as informações dadas,
reconstruindo-a em novos espaços, em
diferenciados significados e novas formas
de organização.
A proposta educativa, exigida como um
desafio em EAD, envolve uma mudança
radical, não só nos modos como se ensina
e como se aprende, mas também na
maneira como se pensa o conhecimento.
Alteram-se dimensões já dominadas no
campo da prática docente, como a
distribuição de tempos e do espaços
especiais, agora associados ao uso de
estratégias educativas com suporte em
ferramentas tecnológicas que alteram e
amplificam as dimensões de eficiência e
de qualidade nos processos educativos;
todavia, temos presente que essas
mediações, se entendidas em seus fins,
não são suficientes à instauração de
transformações de fundo, assim como do
“dar
conta” das possibilidades de
aprendizagem (Moran, 2000[24]).
Isto implica criar condições propícias ao
cultivo de uma cultura virtual, buscando a
superação
da
matriz
identitária
individualista por meio de ações não
isoladas, seja do ponto de vista das
mídias, das interações, das construções,
no qual, respeitadas as partes, o trabalho
vem do todo, com o todo e para o todo,
(Medeiros,2000). Envolve, também, a
crença
em
uma
construção
da
subjetividade,
da
intersubjetividade
crítica e reflexiva por meio de uma
dupla/múltipla comunicação. Há muito a
fazer neste campo de trabalho docente.
Vale enfatizar que para uma mudança na
cultura educativa, a ação do professor
assim como a do aluno mudam
radicalmente. Não se trata de um
mecanismo técnico do tipo: "o professor
entra por uma porta tradicional e sai por
um portal virtual."
Finalizamos,
com
Deleuze(1999,
p.78[5]), “Para atualizar-se, o virtual não
pode proceder por limitação, mas deve
criar próprias linhas de atualização em
atos positivos.”
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