O poema descreve a paisagem e o clima do outono, com o sol se pondo, rios prateados entre canaviais, choupos nus balançando, orvalho caindo e regando a terra árida. As tardes de outubro trazem uma sensação de nostalgia e contemplação, comparadas a um sermão de lágrimas pregado pelo mar distante à luz da lua.
2. A Poesia do Outono Noitinha. O sol, qual brigue em chamas, morre Nos longes d‘ água... Ó tardes de novena! Tardes de sonho em que a poesia escorre E os bardos, a sonhar, molham a pena!
3. Ao longe, os rios de águas prateadas Por entre os verdes canaviais, esguios, São como estradas liquidas, e as estradas Ao luar, parecem verdadeiros rios!
4. Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos, O chalé pedem a quem vai passando... E nos seus leitos nupciais, os ninhos, As lavandiscas noivam piando, piando!
5. O orvalho cai do céu, como um unguento. Abrem as bocas, aparando-o, os goivos... E a laranjeira, aos repelões do vento, Deixa cair por terra a flor dos noivos.
6. E o orvalho cai... E, há falta d‘água, rega O vale sem fruto, a terra árida e nua! E o Padre-Oceano, lá de longe, prega O seu Sermão de Lágrimas, à Lua!
7. Tardes de Outono! ó tardes de novena! Outubro! Mês de Maio, na lareira! Tardes... Lá vem a Lua, gratidão plena, Do convento dos céus, a eterna freira!