O documento discute o conceito de política, definindo-a como um processo através do qual interesses são transformados em objetivos e objetivos são conduzidos à tomada de decisões que afetam a coletividade. A política está presente em todas as estruturas sociais e influencia todos os aspectos da vida das pessoas, mesmo quando elas não percebem. Ser político não é opcional, e a indiferença política só beneficia aqueles no poder.
1. O que é Política?
Reflexões do texto de João Ubaldo Ribeiro
Advogado, escritor, jornalista, roteirista e
professor brasileiro, membro da Academia
Brasileira de Letras.
2. Que coisa é a Política?
• O termo política refere-se ao exercício de
alguma forma de poder e suas múltiplas
consequências.
• Toda a maneira pela qual o poder é exercido se
reveste de grande complexidade. Por exemplo, a
criação de um imposto que desencadeia inter-
relações entre a fonte de poder (a que criou o
imposto) e os submetidos a esse poder (os que
direta ou indiretamente são afetados).
• Basta pensar um pouco para perceber como
todo ato de poder é complexo. E é este o
terreno da política.
3. • O que significa “ter poder”? Ter um cargo não
significa ter poder, ter carisma, magnetismo ou
dinheiro tampouco.
• A tarefa de tentar entender o que realmente é o
poder deve ser deixado ao cargo os filósofos e
teóricos que examinam a realidade além dos
interesses imediatos das pessoas
Contudo, definir a Política
apenas como algo relacionado ao
poder não é satisfatório, pois
existem inúmeras dificuldades
para se definir o que é o poder.
4. • Entretanto, é inútil em termos práticos
discutir sobre o que é o poder, pois este só
se torna visível ao manifestar-se. Ou seja, é
em ação que se analisa o poder. É no
processo, na inter-relação, não na
elaboração intelectual abstrata.
• Os norte-americanos dizem que “o poder é
a capacidade de influenciar o
comportamento das pessoas”. Então se a
política tem a ver com o poder e se o poder
visa alterar o comportamento das pessoas,
é evidente que o ato político possui dois
aspectos: a) um interesse, b) uma decisão.
5. • a) se alguém deseja influenciar ou
modificar o comportamento das pessoas,
esse alguém tem um interesse que deseja
ver corporificado pela modificação
pretendida, seja ele ditado por
conveniências pessoais, de grupo,
religiosas, morais, etc.
• b) o objetivo configurado pelo interesse só
pode ser conseguido por uma decisão que
efetivamente venha a alterar o
comportamento das pessoas. Seja esta
decisão imposta, consensual, de maioria,
etc
6. A política passa, neste caso, a ser
entendida como um processo através do
qual interesses são transformados em
objetivos e os objetivos são conduzidos à
formulação e tomada de decisões
efetivas
A política tem a ver com quem
manda, por que manda, como
manda. Afinal, mandar é
decidir, é conseguir aprovação,
apoio ou até submissão. Não se
tratando, portanto de um
processo simples.
7. • Em toda as sociedades existem estruturas
de mando. Alguém, de alguma forma,
manda em outrem, normalmente uma
minoria mandando na maioria. Este fato
está no centro da coisa política.
8. • A política fica então vista como o estudo e a prática
da canalização de interesses com a finalidade de
conseguir decisões.
• A política já foi chamada e com razão, de arte,
ciência e filosofia. Além de ser uma profissão, pois,
afinal, é por meio dela que nos governamos, que
ordenamos nossa vida coletiva.
• Nenhum homem pode assumir sua humanidade
fora de uma estrutura social. E nenhuma estrutura
social pode existir sem alguma forma de processo
político. Assim a política tornou-se profissão, a
profissão dos que se dedicam a influenciar a
coletividade
9. • Enfim, a política nos rodeia e é impossível que
fujamos dela. É possível sim, que desliguemos a
televisão quando aparece um político dizendo
algo que não estamos interessados em ouvir.
Isto, porém não nos torna “apolíticos”, mas
somente indiferentes, o que só beneficia o
homem da televisão já que ao desligarmos a Tv
não nos opomos a ele.
11. • Em alguns momentos é fácil percebermos o
poder agindo sobre nós. Como no caso dos
brasileiros que são obrigados a se alistar no
serviço militar aos 18 anos. Em outros
casos é bem mais difícil visualizar a ação do
poder.
• Como por exemplo, agimos ou pensamos
de uma maneira que achamos natural e
que na realidade não é, como no caso do
preconceito. A existência do preconceito
não é natural. O homem não nasce
preconceituoso e fica claro a ação da
influência sobre ele.
12. • Quando saímos para trabalhar de ônibus,
enquanto outro melhor situado vai de
carro com motorista, não estamos
pensando em política, mas tudo está
rodeado de política.
• É o processo político que dita às
condições para a acumulação de uma
poupança por exemplo. Se o mesmo
processo político não dá oportunidade de
educação para uns, é evidente que estes
são prejudicados o que paralelamente
beneficia e privilegia outros.
13. • Queiramos ou não, estamos imersos num
processo político que penetra todas as
nossas atitudes, toda a nossa maneira de
agir, até mesmo porque a educação, tanto
a doméstica quanto a pública, é também
uma formação política.
• Quando alguém diz: - Não ligo para a
política! – Ele não está sendo apolítico,
mas somente um político conservador, que
não vê necessidade de mudanças.
14. A política, o jogo de poder está em toda
parte, na conduta humana. Quando um
casal vai gradualmente marcando os papéis
dentro do lar (eu mando aqui, você manda
ali), estamos diante de um mini-processo
político decisório, como um exemplo simples
15. • A política não se ocupa de todos os
processos de formulação e tomada de
decisões, mas somente daqueles que
afetem, de alguma forma, a coletividade.
• A política não é apenas uma coisa que
envolve discursos, promessas, eleições e
muita sujeira. Não é uma coisa distante de
nós. É a condução de nossa própria
existência coletiva, com reflexos imediatos
sobre nossa existência individual, nossa
prosperidade ou pobreza, nossa educação
ou falta dela, nossa felicidade ou
infelicidade.
17. • O pior analfabeto, é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa dos
acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha
Do aluguel, do sapato e do remédio
Depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que
Se orgulha e estufa o peito dizendo que
odeia política.
Não sabe o imbecil,
Que da sua ignorância nasce a prostituta,
O menor abandonado,
O assaltante e o pior de todos os bandidos
Que é o político vigarista,
Pilantra, o corrupto e o espoliador
Das empresas nacionais e multinacionais.
Bertold Brecht