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J o i n v i l l e                   ­                    Sexta ­f e i r a ,   9   d e   M a r ç o   d e   2 0 0 1                   ­                    Santa Catarina  ­  Brasil




                                                                                                                                                                                                                                        


                                                                                                                                                                                                                                            

                                                                                                                                                                                                                                    




            ANotícia                                                  Cultura entra, enfim,                                                                                                                   Leia também

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                                           Pouco valorizada no passado, a atividade ganha status 
                                               de alternativa socio econômica para a cidade
       Joinville 150 anos                          cultura nunca esteve tão presente nos planos da comunidade 
    Economia, turismo, 
    população
                                          A joinvilense. Eleita como alternativa socio econômica para a cidade, 
                                            vem recebendo investimentos em equipamentos, eventos e 
    Aos 150 anos, Joinville é                                                                                                                                                   Peça antiga do acervo do Museu de Sambaqui, que 
                                        profissionais. Os resultados práticos já são percebidos. É uma política 
    uma cidade de futuro.                                                                                                                                                        evidencia a existência de civilização anterior aos 
    População cresce 2,4% ao 
                                        capaz de provocar reações contraditórias, como entusiasmo e ceticismo, 
                                                                                                                                                                                                europeus na região
    ano, segundo Ibge.                  cautela e euforia, elogios e críticas. Enfim, está acompanhada de toda                                                                                                  Foto: Divulgação
    Sobram motivos para visitar         controvérsia que lhe é de direito e ­ por que não? ­ fundamental. 
    o município.  
    Aeroporto caminha para a 
                                        No âmbito da administração pública, busca­se subverter a idéia de que 
    modernização.                       cultura é mera perfumaria. Com o pragmatismo dos negociantes, o                                                                             Um olhar em direção às brumas 
                                        investimento em cultura tem por objetivo gerar emprego e renda, qualidade                                                                            do passado
    Serviço social,                     técnica e de vida. Enfim, a idéia é dar ao palco um papel parecido ao que 
    educação                            até agora se deu ao chão de fábrica, desempenhado com maestria, como 
    Joinville também se                 se sabe. O que se pretende é atingir marcas culturais que alcancem a 
                                                                                                                                                                                  Museus guardam a memória dos 150 
    sobressai na solidariedade.         projeção de uma Consul, Tupy, Tigre ou Docol.                                                                                            anos da cidade, mas retrocedem ainda 
    Cozinha comunitária é 
    receita que deu certo.              Os indícios do futuro promissor são fortes. No rastro da fama do Festival de                                                                        mais no tempo
    Aposta na indústria do              Dança, criado por Albertina Tuma, foi construído o Centreventos Cau 
    entretenimento.                     Hansen, o que possibilitou a profissionalização do evento, a vinda de 
    Novo modelo de educação 
                                                                                                                                                                                Os oito museus da cidade, juntamente com o 
    estimula o aprendizado.             grandes espetáculos e a inauguração da Escola de Balé Bolshoi. Por outro                                                                Arquivo Histórico e o Cemitério dos Imigrantes, 
    Faculdade Cenecista é a             lado, o Complexo Cultural da Antarctica pretende ser o espaço que faltava                                                               formam importante conjunto cultural. O Museu de 
    mais jovem.                         às artes plásticas, abrigando grandes exposições e criando um novo 
    Matrículas crescem 62% 
                                                                                                                                                                                Arte de Joinville (MAJ) possui um rico acervo de 
    desde 1996 na Univille.             momento para esta que já foi a vertente mais proeminente das artes locais.                                                              artistas como Flávio de Carvalho, Glauco 
    Centros de tecnologia               No setor de patrimônio histórico, destacam­se o Museu Nacional da                                                                       Rodrigues, Rebolo, Tarsila do Amaral, Juarez 
    impulsionam a economia.             Imigração e o Cemitério do Imigrante, que, tombados pelo Iphan (Instituto 
    Modelo da ETT serve a 
                                                                                                                                                                                Machado, Rodrigo de Haro, Elli Heil, Burle Marx, 
    outros institutos.                  do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional), acabam de ser                                                                        Carlos Scliar e Lygia Clark, entre outros. Abriga 
                                        restaurados. As artes cênicas que até aqui se ressentiram da ausência de                                                                exposições temporárias e do próprio acervo.
    Saúde, religião                     um espaço adequado, vão ganhar o Teatro Juarez Machado. Na música, é                                                                    O Museu Arqueológico de Sambaqui reúne mais 4 
    Medicina busca exemplo dos          grande a expectativa pela criação da Orquestra Filarmônica de Joinville, sob                                                            mil peças, incluindo acervo ósseo de animais, 
    primeiros "doutores".               regência do maestro Júlio Medaglia, como anunciado; no âmbito da                                                                        líticos e de esqueletos do homem de sambaqui, 
    Modernização mudou perfil 
                                        literatura, está em trâmite a criação de uma nova biblioteca pública, com                                                               além de administrar 42 sítios arqueológicos de até 
    do tratamento.  
    Um pioneiro no tratamento           acervo renovado e espaço para encontros e debates; para os bairros estão                                                                5 mil anos. Seu centro de pesquisas atende 
    da doença mental.                   em gestação 13 centros comunitários de cultura e convivência.                                                                           pesquisadores do Brasil e de outros países. Ainda 
    Cidade é o maior pólo 
    luterano do continente.  
                                                                                                                                                                                sob este tema, está sendo criado o Parque 
    Igreja Católica quer ampliar                                                            Perspectiva                                                                         Caieiras, com um sítio, duas oficinas líticas, trilhas 
    presença.                                                                                                                                                                   ecológicas e estrutura para passeios de barco pela 
                                                                                                                                                                                lagoa de Saguaçu.
                                        Com essa estrutura pretende­se fiar um novo tecido socio econômico para a
    Cultura                                                                                                                                                                     O Museu Nacional da Imigração possui nove 
    Cultura entra, enfim, na 
                                        cidade. A perspectiva de desenvolvimento através das artes é apontada 
                                                                                                                                                                                coleções com obras de imigrantes que vieram para 
    ordem do dia.                       também pelo presidente do Instituto 150 anos, o cônsul honorário da 
    Os cinco mestres da arte.                                                                                                                                                   Joinville ­ a maior parte alemães, mas também 
                                        Alemanha e empresário Udo Döhler. Afinal, esse investimento em cultura 
    Sem tradição, literatura é                                                                                                                                                  suíços e noruegueses. É formado por objetos 
    uma arte em emergência.  
                                        conclui uma nova infra­estrutura para a cidade, que se iniciou com a 
                                                                                                                                                                                doados pelas famílias dos primeiros imigrantes e 
    Aldeia musical reproduz mais        revitalização da área comercial através dos shoppings, melhoria do sistema 
    de mil e um estilos.                                                                                                                                                        pelo acervo da casa de administração da colônia 
                                        viário, eixos de acessos a BRs, a ampliação e melhoria da rede hoteleira e 
    Um olhar em direção às                                                                                                                                                      Dona Francisca. Incorpora ainda pinturas, desenhos 
    brumas do passado.  
                                        um sistema eficiente de transportes na malha viária urbana.
                                                                                                                                                                                e estampas; coleções de trabalho com 
    Capital da dança sem                Paralelamente, Udo percebe uma mudança qualitativa do ensino de primeiro
    talentos locais.                                                                                                                                                            equipamentos agrícolas, de artesãos, atividades 
                                        grau, com escolas reformadas e professores mais preparados. Na sua 
    O teatro fora do palco.                                                                                                                                                     comerciais, fiação, tecelagem, pecuária, maquinaria 
    Grupos underground fazem 
                                        avaliação, com estrutura urbana e eventos estão lançadas as bases 
                                                                                                                                                                                e instrumentos musicais, entre centenas de outras 
    teatro na periferia.                necessárias para a implementação do turismo cultural: "Esta é a grande 
                                                                                                                                                                                peças.
                                        avenida para a abertura de novas áreas de trabalho", afirma. Udo Döhler 
    Imprensa, Corpo de                  sustenta que este investimento em cultura fará surgir outro subproduto que, 
    Bombeiros                           até agora, não se cogitava: "Vai haver outro surto de crescimento industrial 
    Em 1852, a imprensa nascia          que ninguém esperava. Vamos atrair indústrias de tecnologia de ponta de 
    na colônia.                         centros maiores, onde as condições de trabalho estão mais 
    Uma corporação que defende 
    a cidade.                           comprometidas. A cidade, hoje, está preparada para crescer não só na 
                                        cultura e no turismo cultural, mas na indústria, o que terá peso na oferta de 
    Entidades                           novas oportunidades", analisa.
    Acij está à frente no 
    crescimento de Joinville.  
    Batalhão é parceiro da                                            Cidade vive transformação
    comunidade.  
    Univille veio com a 
                                                                                                                                                                                 Órgão que pertenceu à antiga catedral de Joinville, 
    industrialização.                   O presidente da Fundação Cultural de Joinville, Edson Busch Machado,                                                                     exposto no Museu da Colonização e da Imigração
aponta uma transformação na cidade, obtida através da provocação para                                Foto: Pena Filho

Política                           que se manifeste artisticamente. Segundo ele, a mudança é evidente desde 
Normas de convivência              o jeito de falar, pelo debate aberto e o pensamento mais perspicaz. "É uma                             .... .... ....
definidas desde o início.          transformação comportamental e há um senso crítico manifestadamente 
Livres pensadores inovam a 
                                   maior. Joinville vive um momento de transição entre a cultura dos imigrantes
cultura.  
                                   e uma cultura mais universal, mais homogênea, refletindo todas as 
                                   influências com que a cidade vem se enriquecendo nas últimas décadas", 
Lugares e 
                                   afirma. Segundo ele, o novo perfil da cidade ainda não está concluído, "mas 
personagens (1)
Tradicional cartão ­ postal 
                                   já saímos da fase do susto da contemporaneidade; é um processo que 
está revitalizado.                 precisa ter continuidade".
Abdon Baptista, o "coronel"        Para Edson, na gênese deste processo está o Festival de Dança, que 
da colônia.  
Catedral acompanha a 
                                   passou a ser uma espécie de "irmão mais velho" das outras artes. "Com 
história da cidade.                sua postura mais profissional na organização, mostrou que o processo 
O primeiro padre do                cultural está muito próximo de um empreendimento e que não há 
município.  
O "berço" da cidade.  
                                   patamares inatingíveis. Seu desenvolvimento vem ajudando a cidade a 
                                   crescer como um verdadeiro empreendimento cultural", assegura. Para                Balé Bolshoi apresenta­se na cidade: vinda da 
Albano Schmidt, o criador da 
Tupy.                              atender à periferia foi criado o projeto Caravana, coordenado pelo diretor de      escola russa revolucionou a história da dança
Rua Princesa Isabel atraiu                                                                                                           Foto: Arquivo AN 6/6/96
acontecimentos.  
                                   ação cultural da Fundação, Jair Mendes. Segundo Edson, a caravana 
Palacete Niemeyer é                oferece um palco para os valores dos bairros se manifestarem, firmando­se 
respeitado até hoje.               junto a sua comunidade, e também apresenta­lhe novos parâmetros, que                          Capital da dança
Fritz Alt, o 1 º grande artista.
De office ­ boy a dono de 
                                   servem de estímulo para despertar suas qualidades artísticas. "Busca                         sem talentos locais
empresa.                           incentivar e universalizar o artista local, ao mesmo tempo que valoriza suas 
                                   raízes", diz.
                                   Além de apresentações, a caravana leva cursos ligados à cultura artística,         Fenômeno deve ser revertido com a 
Lugares e 
personagens (2)                    como música, teatro, desenho, cerâmica, pintura, e canto coral. Jair explica     instalação da Escola do Teatro Bolshoi
Praça é homenagem a                que é feita uma discussão prévia com artistas e lideranças comunitárias 
interventor federal.               antes da passagem da caravana por um bairro, para escolher os temas e            A dança é um capítulo à parte em Joinville. Por um 
Em 1906, surge a estação 
ferroviária.  
                                   cursos a serem ministrados. Cada passagem dura duas semanas, com                 lado, é sede da Escola do Teatro Bolshoi e tem o 
Dr. Sadalla, médico e grande       cursos ministrados à tarde e à noite. No último sábado é feita a festa de        mais importante festival do País e um dos maiores 
construtor.                        confraternização, com as apresentações artísticas. Quando algum talento é        do mundo, que lhe valeu, inclusive, o codinome de 
O fundador da Consul e da 
Embraco.  
                                   identificado, passa a ser incentivado a prosseguir estudos na Casa da            "capital da dança". Por outro lado, esta arte é 
Colonizadora alemã é citada        Cultura.                                                                         justamente o calcanhar­de­aquiles da cultura local. 
em livro.                                                                                                           É inegável a importância do festival no 
O primeiro cemitério oficial 
da cidade.                                                           .... .... ....                                 desenvolvimento da dança no País, mas ao mesmo 
                                                                                                                    tempo não conseguiu fazer o mesmo com os 
                                                                                                                    grupos locais, não havendo nenhum nome de 
Lugares e                                             Os cinco mestres da arte                                      destaque formado aqui.
personagens (3)
Crispim Mira, o jornalista                                                                                          A maior referência na dança local é o grupo da 
assassinado.                        Juarez Machado, Luiz Henrique Schwanke, Antônio Mir,                            Escola Municipal Casa de Cultura, dirigido pelo 
Carlos Gomes, acima de tudo                                                                                         coreógrafo Marcos Sage. Com uma linguagem 
um político.  
                                      Mário Avancini e Fritz Alt são os grandes criadores
Mercado público foi palco de                                                                                        contemporânea, vem conquistando prêmios no 
conflitos.                                                                                                          festival e chamando a atenção. Para tentar reverter 
Filósofo, político e jornalista.
                                   Nas artes plásticas da cidade há algumas unanimidades: Schwanke é o 
                                                                                                                    este quadro, está se iniciando um trabalho de 
A vida heróica dos                 artista redentor; surge uma nova geração; depois de quase uma década de 
                                                                                                                    massificação da dança nas escolas junto a 
desbravadores.                     vazio, vive­se um desânimo provocado pela falta de espaço adequado para 
                                                                                                                    professores e alunos, coordenado pela professora 
                                   exposição; e, claro, o espaço Cultural da Antarctica é uma luz no fim do 
                                                                                                                    Flávia Vargas. Segundo ela, a idéia é desenvolver 
                                   túnel. O patrimônio artístico da cidade se compõe basicamente de cinco 
                                                                                                                    ensino da dança na rede municipal, como atividade 
                                   nomes: Juarez Machado, Luiz Henrique Schwanke, Antônio Mir, Mário 
                                                                                                                    extracurricular. Crianças que apresentarem aptidão 
                                   Avancini e Fritz Alt. Para além de suas obras, cada um tem sua influência e
                                                                                                                    serão preparadas para concorrer à Escola Bolshoi. 
                                   seu campo de gravitação no que vem a ser o universo artístico de Joinville.
                                                                                                                    O objetivo é atingir, numa primeira etapa, 600 
                                   Antes de qualquer incursão pelo presente, é preciso lembrar a 
                                                                                                                    alunos.
                                   efervescência dos anos 70 e 80, quando todos os nomes acima citados, 
                                                                                                                    Há vários grupos independentes que buscam 
                                   excetuando­se Fritz Alt, se fizeram, e foi criada a histórica Coletiva de 
                                                                                                                    desenvolver um trabalho próprio, mas nenhum até 
                                   Artistas. Foi uma época de inquietação e revelação onde o crítico de artes e
                                                                                                                    aqui logrou atingir um grau de excelência que o 
                                   escritor Harry Laus teve papel decisivo, colaborando para a formação de 
                                                                                                                    credencia a ser referência da cidade. Entre eles 
                                   uma massa crítica, instigando a polêmica e instilando a originalidade nos 
                                                                                                                    podem ser citados o Comdança, Andança, Solo, 
                                   artistas. As mortes de Schwanke e de Laus, em 1992, parece ter 
                                                                                                                    Perfeto, Duniá, Na Ponta dos Pés e vários de dança 
                                   mergulhado a produção das artes locais em uma crise de identidade e 
                                                                                                                    de rua. O Comdança, dirigido por Fabíola 
                                   criatividade que só agora começa a ser revertida, com a entrada em cena 
                                                                                                                    Bernardes, buscou fazer um trabalho profissional, e, 
                                   de uma nova geração de criadores de linguagem contemporânea.
                                                                                                                    depois de alguns espetáculos montados, não 
                                   Marchande por três décadas e atual diretora da Casa de Cultura de Joinville,
                                                                                                                    atingiu o êxito esperado. Os outros, prioritariamente 
                                   Marina Mosimann concorda que houve um hiato e que uma nova leva 
                                                                                                                    se preparam para participar do festival e se 
                                   começa a se destacar. A ela cabe, agora, a incumbência de dar seqüência 
                                                                                                                    apresentar em alguma festa, até porque não há 
                                   a essa história iniciada pelos veteranos. Para isso, na sua opinião, é 
                                                                                                                    locais nem público para temporadas. A maioria está 
                                   preciso trabalho e união. Desta nova e importante geração fazem parte 
                                                                                                                    ancorado em academias de ginástica ou colégios.
                                   Ricardo Kolb, Francisco Amaral, Luiz Carlos Presente, Luciano da Costa 
                                   Pereira, Linda Suzana Poll, Luiz Carlos Franzói e Jane Bruggemann.
                                   Na fotografia, foi positivo o lançamento, ano passado, do álbum "Joinville                      Profissionalismo
                                   150 Anos", com fotografias e textos de Borges de Garuva, uma tentativa de 
                                   construir uma identidade visual da cidade, mas deixa de fora o mais              Ely Diniz, diretor executivo do Instituto Festival de 
                                   importante fotógrafo artístico da cidade, Peninha Machado, que possui uma        Dança de Joinville, aponta como vantagens do 
                                   linguagem em que sobressaem composições exaustivamente estudadas,                gerenciamento profissional obtida através da 
                                   fugindo aos cliques fáceis e imagens turísticas.                                 criação do IFDJ a desburocratização normal dos 
                                                                                                                    órgãos públicos um relacionamento mais 
                                                      Para os novos artistas,                                       profissional com os patrocinadores. "Artisticamente 
                                                                                                                    o festival estava suficientemente maduro, o que 
                                                    Schwanke é o guia supremo                                       introduzimos foi o Conselho Consultivo, que traz o 
                                                                                                                    conhecimento e a experiência internacional de 
                                   Assumindo a condição que lhe é imputada com certa desconfiança, Ricardo          profissionais da dança e idéias que estão 
                                   Kolb vê nos artistas de Joinville uma postura muito bairrista. "Somos            ampliando o guarda­chuva do festival". Quanto à 
                                   centrados em nós mesmos e a qualidade fica suspeita. A relação tem de            qualidade dos grupos locais, Ely analisa que a 
                                   ser global, a gente vive num meio muito impróprio, não há uma comunidade         própria dificuldade para entrar no festival faz com 
                                   capaz de refletir sobre artes plásticas, que acaba confundida com                que busquem mais qualidade. Nesse sentido, o 
                                   decoração. Não há um foco de discussão, tudo que conseguimos obter são           instituto está "ensinando a pescar" em vez de 
                                   comentários do tipo 'que lindo seu trabalho'". Kolb também aponta a falta de     ofertar o peixe: vai contratar um diretor e coreógrafo 
um espaço adequado para exposição como fator inibidor da arte                    de renome para acompanhar os trabalhos dos 
contemporânea na cidade. "Há uma banalização, não adianta querer ter             grupos locais que pretendem concorrer no festival, o 
idéias de vanguarda num fundo de quintal. O contexto, o entorno tem que          que lhes dá maior chance de êxito na seleção. A 
ser de vanguarda; sem isso não se consegue criar uma atitude em relação          superintendente da Escola Bolshoi no Brasil, Jô 
à comunidade, pois não se reflete nada". Ele aponta ainda a total falta de       Braska Negrão, opina que Joinville vive uma 
renovação e de originalidade. "Depois do Schwanke não apareceu ninguém           renascença cultural liderada pela dança. "É possível 
com o mesmo vigor e capacidade intelectual. Não podemos viver do dito de         ser grande e ser para todos", diz.
que arte é uma inspiração, ao contrário, arte não tem que ser prazerosa, 
tem que ser suada, resultado de investigação. Arte é uma coisa rara e é 
competição", conclui.
Que ninguém se engane com a carinha de anjo barroco de Jane 
Bruggemann. Em sua obra, ela busca cutucar demônios. A exposição "Nós 
que aqui estamos por vós lamentamos", em que aborda o universo da aids, 
é um exemplo de seu dedo na ferida. Vencedora do Edital 2000, da 
Fundação Catarinense de Cultura, seu trabalho vai ser exposto em 
Florianópolis, Criciúma e Lages. Morando há apenas dois anos em Joinville, 
depois de passar por Florianópolis e Curitiba, Jane vê um cenário meio 
confuso em que os artistas precisam ir para fora para se fazer. Ela deposita 
suas fichas na abertura do Complexo Antarctica para clarear a situação. "A 
inauguração de um grande museu com o nome de Schwanke talvez                     Comdança, uma das mais tradicionais companhias 
desemboque em uma visão mais contemporânea, porque Schwanke é o                         de Joinville: o festival não é tudo
                                                                                            Foto: Carlos Alberto da Silva 22/6/96
cara. Acho que vai brotar uma bela semente só por se lembrarem e estarem
mexendo nas coisas dele. Talvez tudo acabe renascendo".
Linda Suzana Poll, reconhecido talento, inclusive internacional, ex­diretora           Festival cria novos grupos
da Casa de Cultura, diz que ser artista em Joinville é "ralar coco e se virar 
sozinho". Ela explica: "Muita pouca coisa acontece pela valorização do           O festival fez surgir grupos como o Ponta dos Pés, 
artista, que só é lembrado para tapar buraco, quando é preciso representar       dirigido por Simone Espíndola, que existe há dez 
numericamente a classe, mas não há a preocupação em apoiar a produção,           anos, ligado à escola de dança do mesmo nome. O 
preservar obras, e nem com a Coletiva de Artista, que é um termômetro das        sonho de ser bailarino e de dançar no festival é que 
artes na cidade". Linda reclama que "quando tem que ser feito os grandes         move a maioria dos cerca de 400 alunos da 
painéis, chamam os artistas de fora. Dá vontade de desistir, de ser artista      academia. Para ela, o festival popularizou muito a 
para outros lugares". Na sua opinião, a qualidade da produção reflete este       dança e estudantes da rede pública querem se 
desânimo e a falta de espaço para exposição e repercussão. "Sem isso             preparar para entrar na Escola Bolshoi, por isso 
não tem produtividade, não se produz para deixar no ateliê, e os artistas        oferecem preços reduzidos. "Este ano cinco alunas 
acabam buscando outras fontes de renda".                                         nossas passaram na audição do Bolshoi, isso 
Por sua vez, Luiz Carlos Presente lamenta a ausência do joinvilense em           engrandece nosso grupo", avalia a professora.
geral nos eventos culturais. "As pessoas aqui ainda não apreciam arte            De uns anos para cá houve um verdadeiro surto de 
como em outras cidades do Estado, como Blumenau e Florianópolis, onde            grupo praticando dança de rua, normalmente dentro 
as exposições são muito visitadas. Joinville, talvez por estar muito voltada     de colégios ou academias, que lhes oferecem certa 
para o trabalho, deixa a cultura de lado e com isso o artista tem dificuldade.   estrutura como espaço para ensaio. É o caso do 
Também faltam espaços alternativos. Faltam discussões, linhas de                 The Angels of Freedom, que existe há sete anos e, 
pensamento, grupos com objetivos ou temáticas determinados para                  desde ano passado associou­se à academia 
alavancar nomes e arejar o ambiente. Mesmo assim a cidade continua               Califórnia. Sem patrocínio e sem locais para se 
produzindo novos talentos, alguns de grande expressão com                        apresentar fora do festival, o grupo passa por 
representatividade no Estado e no País. Acho que o complexo artístico e          dificuldades, principalmente na hora de viajar. Para 
turístico da Antártica será superimportante, vai valorizar a produção, com       Cléo Medeiros da Rocha, coordenador do grupo, "o 
exposições e oficinas".                                                          joinvilense não conhece seus grupos que ficam 
O videomaker Luiz Tirotti analisa: "Hoje em dia não temos nada que unifique      trancados nas academias o ano inteiro se 
um panorama cultural em Joinville. Há muitas pessoas fazendo muitas              preparando para o festival e, no entanto, 
coisas, mas não tem uma característica única. As pessoas estão                   dependemos do público de Joinville, deveríamos 
produzindo, mas sem uma base coletiva, os grandes movimentos sempre              mostrar nosso trabalho, pois o festival não é tudo", 
têm um elo de ligação no pensamento". Ele lamenta a falta de um círculo          avalia.
pensante. "A arte contemporânea não tem mercado, só se mostra em                 Um dos grupos de Joinville mais bem­sucedidos na 
exposições e discussões, e não temos discussões. Dá a impressão que só           modalidade Dança de Rua é o Street Santos Anjos, 
temos obras para quermesse".                                                     único catarinense a conquistar um primeiro lugar no 
                                                                                 festival do ano passado. Já se apresentaram em 
                    Excesso de narcisismo                                        cidades como Porto Alegre, São Paulo e Rio de 
                                                                                 Janeiro. Mesmo assim, não tem a vida facilitada: "É 
                       matou a Tertúlia                                          complicado fazer dança. Mesmo estando na cidade 
                                                                                 do festival, falta patrocínio, a premiação no festival 
Criador inquieto e afinado com a linguagem contemporânea, Carlos Alberto         fica naquilo e o pessoal esquece logo", diz Nanci 
Franzói define a situação das artes plásticas na cidade como sendo "de           Rosa, coreógrafa e diretora do grupo.
intempérie", em que a ausência de espaços de exposição, cursos de 
formação, curadoria e crítica contribuem para um cenário desolador. Artista                             .... .... ....
de reconhecimento crescente, com participação em salões de Belo 
Horizonte, Rio e São Paulo, entre os quais o renomado projeto Novos 
Rumos, do Itaú Cultural , Franzói identifica uma "mídia maciça em torno de 
alguns poucos nomes", o que, para ele, compõe uma "imagem falsa da 
cidade, muito voltada para o passado. Pensa­se muito no que já se fez e 
não no que Joinville será." Também ele considera uma obrigação o resgate 
da arte de Luiz Henrique Schwanke. Outro dado desfavorável que o artista 
observa é a ênfase dada aos megaeventos, sobretudo pelo empresariado 
local. "Cultura é feita de um degrau após o outro. É necessário discutir, 
debater e incutir a arte na população, pois é daí que surgirão novos 
pensadores e novos artistas", reflete.                                            Ilaine Melo na peça "Paititi", do Grupo Unicórnio: 
Dividindo­se entre São Francisco do Sul e Espanha, onde tem sua base de                  esforço nem sempre recompensado
produção e circulação de sua obra, Antônio Mir, um dos artistas­fundadores                        Foto: Arquivo AN 25/9/99
da Coletiva, em 1970, lembra que Joinville despontou culturalmente com 
questionamento e polêmica, deixando de ser uma cidade de repasse 
cultural para produzir e exportar cultura. Ele vê a postura cultural de hoje 
                                                                                           O teatro fora do palco
como "absolutamente política, elitista e sem participação comunitária, com 
interesses claríssimos de uma cartilha que impossibilita aos produtores           Sem espaço adequado, arte dramática 
com opiniões que não coincidam com as oficiais de participarem do                   sobrevive na garra do improviso
processo ativamente". Com uma ponta de ironia, acredita que "a 
matemática celestial arrumará a atual situação".                                  A exemplo das artes plásticas, o teatro teve seu 
O pintor pontilhista Amandos Sell, que tem boa aceitação no mercado, diz          período de êxito na década de 80. A cidade chegou 
que sempre houve uma política cultural na cidade, mas ressalva: "O que            a ser referência no Estado com montagens como a 
vale é o trabalho; se for bom, a política não importa".                           legendária "Norigama", com direção de Borges de 
Antes de lavar as mãos deste capítulo de tintas, idéias e alfinetes, vale         Garuva, e "Quando as máquinas param", de Lucas 
acrescentar às críticas e autocríticas acima arroladas que a classe artística     David. Na década seguinte, salvo peças como 
de Joinville jogou fora um bilhete premiado ao deixar morrer a idéia da           "Tupac Amaru" e "O Sahy dos sonhos", ambas 
Tertúlia. Era uma iniciativa independente que tinha tudo para impulsionar um      dirigidas por Borges, veio o lento declínio que, 
novo tempo para as artes e conquistar público, mas que, por desunião e            agora, ensaia um novo alento. Afinal, o ano de 2001 
excesso de narcisismo, não decolou.                                               foi declarado como o ano do teatro em Joinville. Os 
                                                                                  artífices desta retomada são Ilaine Melo, Silvestre 
                                  .... .... ....                                  Ferreira, Nando Moraes e Marco Vasquez, entre 
                                                                                  outros. A estes nomes soma­se a construção de 
                    Sem tradição, literatura                                      um espaço próprio ao teatro, o Teatro Juarez 
                                                                                  Machado, e a organização da classe que, em 
                  é uma arte em emergência                                        dezembro último, uniu­se num fórum permanente de 
                                                                                  reflexão e propôs um manifesto em defesa da arte 
Surgimento de novos autores pode reposicionar Joinville                           local.
     no mundo das letras, do qual esteve afastado                                 Nando Moraes, diretor da Cia. Experimental de 
                                                                                  Teatro de Repertório, grupo ligado à Univille, atribui 
                                                                                  os anos de vacas magras à falta de formação de 
Em Joinville, a literatura não tem tradição. Basta dizer que o nome mais 
                                                                                  diretores, atores e artistas da área de teatro. "De 
proeminente ligado às letras locais é Alcides Buss, um emigrado de Salete 
                                                                                  uns anos para cá, de modo geral, há uma injeção 
que vive em Florianópolis há duas décadas. Tirante os nomes ainda 
                                                                                  nova com o Marco Vasquez, o Silvestre que está 
relacionados aos imigrantes como Julius Karl Parucker, Ottokar Doerffel; os 
                                                                                  saindo mais para a ativa, o Laércio (Muniz) e 
historiadores, como Carlos Ficker, Elly Herkenhoff e Adolf Bernardo 
                                                                                  também com o trabalho que fazemos na Univille", 
Schneider, os nomes se afunilam. Os escritores na ativa podem ser 
                                                                                  diz. Ele cita ainda Cristóvão Petry, Ângela Finardi, 
divididos em três grupos distintos, para um melhor entendimento. O 
                                                                                  Ana Beatriz Raposo, Glória Muniz e Robinson 
primeiro é formado por aqueles estabelecidos há alguns anos, em que se 
                                                                                  Benta.
inscrevem autores como Borges de Garuva, Ives Paz, Carlos Adauto Vieira, 
                                                                                  O segundo Encontro de Teatro, realizado na Univille 
David Gonçalves, Dúnia de Freitas, Mila Ramos e Apolinário Ternes.
                                                                                  ano passado foi um bom termômetro deste 
David Gonçalves é, em termos de público, o mais bem sucedido. Autor de 
                                                                                  renascimento da arte. O evento contou com a 
21 títulos (todos lançados pela sua própria editora, Pocket Sucesso), seus 
                                                                                  participação de Roberto Mallet, debatedor e 
livros estão entre os mais lidos nos três estados do Sul. São 13 obras 
                                                                                  oficinante que apresentou um olhar estrangeiro 
literárias e oito na área técnica de gerência, vendas e marketing. "Minha 
                                                                                  sobre a produção local. O encontro reuniu 26 
literatura é simples, fala de temas universais que não envelhecem e estou 
                                                                                  espetáculos de 16 grupos de teatro amador, de 
preocupado em transmitir uma mensagem que as pessoas entendam e seja
                                                                                  escolas e de fábricas e de igrejas, que foram vistos 
útil para suas vidas", diz o autor que está com novo livro no prelo, a 
                                                                                  por um público total de 3 mil pessoas. Em janeiro, 
coletânea de contos "Até sangrar", com lançamento marcado para este 
                                                                                  Mallet voltou a Joinville para um curso com 25 
mês. David Gonçalves calcula que já vendeu meio milhão de livros. "Terra 
                                                                                  pessoas. "Se continuarmos neste estado, em três 
brava", na 11ª edição, e "Flores que o chapadão não deu", 7ª edição, são os
                                                                                  anos, vamos fazer um teatro de muito boa 
mais vendidos.
                                                                                  qualidade, viveremos um despertar", afirma o 
Apolinário Ternes tem nas atividades de jornalista e historiador seu principal 
                                                                                  diretor. Nando aponta que, neste processo, é 
foco de atenção. De seus 18 livros até aqui lançados, apenas três não são 
                                                                                  fundamental um espaço com condições técnicas 
historiográficos: o romance "Os manuscritos de Von Klopper", a peça "A 
                                                                                  onde possa haver temporadas para o espetáculo 
última esperança" e a coletânea de poemas "O aprendiz da esperança". É 
                                                                                  amadurecer e que funcione, também, como local de 
um dos intelectuais mais atuantes de Joinville, pelo seu conhecimento 
                                                                                  encontro e referência.
histórico, literário e por seu trabalho na imprensa.
O advogado Carlos Adauto Vieira, autor de "Saborosas histórias curtas de 
Charles D'Olengér (Ed. Letradágua, 1999), entre outros, é um ativista 
literário desde os anos 70, quando integrava o grupo de artistas, jornalistas 
e intelectuais que publicava a revista "O Cordão". A confraria, que se reunia 
diariamente no Bar do Museu, foi grande incentivadora da arte em Joinville, 
e, em suas reuniões, foram gestados eventos importantes como o Festival 
de Dança e a Feira de Artesanato. Na opinião de Carlos Adauto, "não 
existe literatura joinvilense", porque os intelectuais, hoje, não se reúnem, 
não trocam idéias e não têm coragem de reeditar alguma coisa como "O 
cordão". Através da publicação, que teve seis números, nos anos de 1975 e         Diretores Borges de Garuva (E) e Silvestre Ferreira: 
76, foi iniciada uma luta pela redemocratização do país. Joinville, nesta            atividade teatral precisa reviver década de 80
época, se tornou a capital cultural do Estado e sediou o primeiro congresso           Foto: Arquivo AN 21/6/92 Original em preto e branco

da União Catarinense de Escritores.
                                                                                                         .... .... ....
                             Esvaziamento

Borges de Garuva, que participou de "O Cordão", construiu uma reputação 
com sua atuação no teatro, mas é a literatura sua musa dileta. Autor de 
vários inéditos, possui apenas uma obra publicada, "Cobaia" (edição do 
autor, 1995). Para ele, ser escritor em Joinville é uma solidão que "nasce do
esvaziamento do espaço público para a arte" e pelo esvaziamento diante da 
disputa injusta de mercado com os criadores e produtores das grandes 
capitais. Na sua opinião, esse gerenciamento equivocado das questões 
culturais ocorre não apenas no poder público, mas também no meio                   Peça "O Homem que Enganou a Morte", do grupo 
empresarial e na comunidade em geral. "Sou testemunha de trocentos                             Bytes & Parafusos
projetos abandonados ou reduzidos aos seus próprios esboços por falta de                          Foto: Pena Filho 30/3/2000
espaço político e institucional", diz.
Os integrantes do segundo grupo se caracterizam por terem estreado                Grupos underground fazem teatro 
tardiamente em livro, embora escrevam há muito mais tempo. Entre estes 
"novos" que, em sua maioria, já passou os 40/50 anos de idade, estão 
                                                                                            na periferia
Orlando Alves, Onévio Zabot, Germano Jacobs e Wilson Gelbcke. Wilson 
Gelbcke, autor da novela policial "A máscara de Capelle", (Ed. Corpo da           Marco Vasquez é o enfant terrible do teatro 
Letra) e do infanto­juvenil "Esses Duendes Tão Míopes" (Letradágua), está         joinvilesco. É um encenador marginal no que se 
com "A vindita do historiador" no prelo.                                          refere a condições de trabalho, espaço e estética. 
Para ele, escrever em Joinville é um desafio devido à falta de motivação e,       "Vou à caça do que quero, não me interessa fazer 
até pouco tempo, de uma editora que justificasse a escrita. "Como escritor,       projetos para conseguir dinheiro para fazer teatro", 
                                                                                  argumenta. A trupe que dirige, o Grupo Vozes de 
não encontrei um campo aberto, escrever sempre foi muito mais um sonho 
pessoal a ser realizado que uma resposta a um incentivo vindo de um                 Teatro, existe há dois anos e meio, nasceu na 
ambiente propício que te desafiasse. O escritor de Joinville era isolado, um        escola Estadual Olavo Bilac e tem três peças 
espírito ilhado, sem ter onde estabelecer suas pontes", relata. Para fugir          montadas, sendo "Valsa nº 6", de Nelson 
deste isolamento, Gelbcke, que é também um reconhecido aquarelista,                 Rodrigues, a mais recente, com a qual fez 26 
buscou outras praças e editou seu primeiro livro por uma editora carioca.           apresentações. Tem apenas uma atriz fixa, Paula 
                                                                                    Kornaski, e, para os demais papéis, trabalha com 
                                                                                    não­atores. 
                        Dos prêmios oficiais                                        Atualmente, o grupo ensaia em Pirabeiraba, num 
                         à guerrilha poética                                        velho galpão cedido pela igreja luterana local. Na 
                                                                                    hora de analisar a cena teatral da cidade, Vasquez 
Germano Jacobs, autor do livro de contos "Virgínia" (Ed. Bernúncia,                 tem a desenvoltura dos não­compromissados: "Pra 
Florianópolis, 1998) está preparando seu primeiro romance, "Tempos de               mim, o teatro em Joinville está sendo tratado como 
Guerra", em que narra as agruras dos imigrantes durante a Segunda Guerra            indústria de entretenimento, e, ligada ao poder, é 
Mundial, na região de Brusque e de Itajaí. Onévio Zabot entrou para a cena          um teatro de encomenda. O teatro sobrevive 
literária no ano passado, com o livro de poemas "Arco de pedra" (Ed.                parcamente nas escolas particulares que 
Letradágua). Orlando Alves dedica­se, há anos, à artesania de contos,               sustentam os grupos. Grupo independente, 
minicontos e relatos de uma intrincada tessitura, em que sobressai uma              underground, não há. Se houvesse 19 garagens de 
linguagem inusual. Mas o seu discurso também pode ser satírico, na                  casa sendo ocupadas com teatro a manifestação 
criação de personagens impagáveis ou ternos em crônicas do cotidiano.               aconteceria de forma mais vibrante. Ligar o teatro 
Sua estréia no formato livro se deu em 1999, com "Na gare da estação                ao poder é transformá­lo numa extensão da 
primavera" (Ed. Letradágua).                                                        televisão e acaba representando uma classe que 
Correndo por fora, "desenquadrados" estão os poetas Fernando José Karl e            sempre manipula os grupos".
Caco de Oliveira. Caco, filósofo de formação, é um autor de textos mínimos,         Buscando posicionar­se fora desse foco, o Grupo 
exercendo hai­kais, tankas e epigramas, modalidades que estuda com                  Vozes se apresenta nos lugares mais inusitados, 
afinco. Seu maior mérito é a capacidade incansável de incentivar novos              de galpões vazios a garagens alternativas, para 
leitores, escritores e poetas. Verdadeiro guerrilheiro literário, seus poemas       reforçar a idéia de que Joinville tem teatro 
não estão publicados em livros mas carimbados ou mesmo manuscritos em               (espetáculos) mas não tem teatro (estrutura física). 
pequenos pedaços de papel reaproveitados e distribuídos em bares e                  "É lógico que recursos e referencial teatral são 
festas.                                                                             importantes, mas a arte pode existir sem um 
Fernando Karl é, de fato e de direito, a grande figura da literatura joinvilense.   espaço profissional, este não é o ponto 
Embora não tendo o reconhecimento oficial merecido na sua própria aldeia,           fundamental. Não sou contra quem faz teatro nas 
sua obra é conhecida e respeitada por críticos, escritores e uma legião de          empresas e nas escolas, mas esta não pode ser a 
admiradores. Possui oito títulos publicados, dentre os quais se destacam            forma teatral predominante nem podemos chamar 
"Esquina, China" (Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1996),                      de brechtiniano o teatro feito para apaziguar 
"Travesseiro de pedra" (2000, Prêmio Cruz e Souza, FCC), "Desenhos                  trabalhadores", diz.
mínimos de rios" (1997, Prêmio Helena Kolody do Paraná) e "Diário                   A atriz Ilaine Melo, do Unicórnio, grupo com mais 
estrangeiro" (1998, Prêmio Cruz e Souza, FCC). É o mais premiado poeta              de 200 apresentações por ano do Rio de Janeiro ao 
da terra (inclua­se, na lista acima, o Prêmio Minas de Literatura).                 Rio Grande do Sul, destaca que a grande conquista 
Para fechar este capítulo, é preciso incluir dois historiadores. Elly               da classe foi a instituição do Fórum Permanente, 
Herkenhoff, pelo inestimável trabalho de tradução de documentos no Arquivo          que vai proporcionar a discussão do fazer teatral. 
Histórico e pela autoria de dois livros fundamentais "Era uma vez um                Um dos grandes problemas na cidade, em sua 
simples caminho", que, além das informações históricas, é uma deleitável            opinião, é o fato de não existirem locais públicos 
leitura pelo seu estilo; e "História da imprensa em Joinville". Adolf Bernardo      para espetáculos em temporada, sem a 
Schneider, nos seus três volumes de memória, traz um relato pessoal e               preocupação em ter que bancar as despesas com a 
pitoresco de que como se vivia em Joinville no início do século.                    bilheteria.
                                                                                    A construção de um espaço adequado, na sua 
                                                                                    opinião, vai absorver o trabalho dos cerca de 18 
                                   .... .... ....
                                                                                    grupos que mantêm produção constante em 
                                                                                    Joinville, sendo que três deles (Persona, Unicórnio 
                    Aldeia musical reproduz                                         e Dionisos) são profissionais e vivem do fazer 
                    mais de mil e um estilos                                        teatral. "Se tivéssemos um espaço, hoje, 
                                                                                    poderíamos manter uma agenda todos os finais de 
                                                                                    semana para formar platéia, pois os grupos têm 
Há grupos para todas as sonoridades possíveis tocando                               repertórios prontos", aponta. Ilaine diz que há um 
           nos palcos e garagens da cidade                                          grande potencial prestes a aflorar, com muitas 
                                                                                    pessoas com vários anos de pesquisa e trabalho 
Joinville não tem tradição no campo da música. Houve, no passado, um tal            em teatro. Não são grupos que, de repente, 
de Janguito do Rosário, cantor da zona do Bucarein, que fez carreira e              resolveram fazer teatro; todos têm vários anos de 
angariou fama em Curitiba, mas que por aqui ninguém tomou                           estrada. Ela cita o "Itinerante", grupo de Cristóvão 
conhecimento. Nossa glória musical de antanho foram os grupos vocais e              Petry, com um trabalho comunitário no bairro Itinga 
instrumentistas reunidos em torno de sociedades como a Lírica e a                   muito interessante, e Guido Almeida, do grupo 
Harmonia­Lyra. Ficaram os espaços, mas os artistas não.                             independente Círculo, que desenvolve uma linha de 
No entanto, o panorama musical atual se mostra múltiplo e, quiçá,                   teatro antropológico.
promissor. Entre bandas de rock, de garagem, alternativas, conjuntos pops, 
grupos vocais, instrumentais, pagodeiros e profissionais, há em Joinville em 
torno de 40 bandas. Toca­se pop, rock, black metal, grunge, sambanejo, 
MPB e música erudita.
A grande promessa musical de Joinville é a criação da Orquestra Sinfônica 
Municipal, com regência do renomado maestro Júlio Medaglia, cujas 
tratativas se encontram bastante adiantados. O maestro e professor da 
Escola Villa­Lobos da Casa de Cultura, Voldis Eleazar Sprogis, diz que há 
uma ânsia de toda região Norte, incluindo as cidades de Blumenau, São 
Bento do Sul, Jaraguá do Sul e Itajaí, pela criação da orquestra, pois                 Apresentação do espetáculo "O Segredo do 
garantirá trabalho e maior aperfeiçoamento para os músicos.                                  Curumim", do grupo Unicórnio
A criação da orquestra foi o sonho não realizado do maestro Tibor Reisner,                     Foto: Divulgação Luciano Fusinato
morto em 1999, que dirigiu a Escola Villa­Lobos e dedicou sua vida à 
consolidação de uma cultura musical clássica na cidade. Tibor regeu 
dezenas de concertos em Joinville, inclusive com composições próprias, e 
deixou uma vasta obra inédita.
A Escola de Música Villa­Lobos possui em torno de 500 alunos e a maioria 
de seus 30 professores possui curso superior em música. Segundo Voldis, 
                                                                                                                             
a função da Villa­Lobos é dar formação e descobrir talentos. "É uma escola 
pública com formação básica para comunidade", diz. Os cursos duram em 
média de seis a oito anos, vão da iniciação musical à especialização em 
a função da Villa­Lobos é dar formação e descobrir talentos. "É uma escola 
pública com formação básica para comunidade", diz. Os cursos duram em 
média de seis a oito anos, vão da iniciação musical à especialização em 
instrumentos.
                                                                                 
                            Voz operística

O barítono Douglas Hahn estudou canto lírico na Casa de Cultura e fez 
curso de aperfeiçoamento com Neide Thomas e Rio Novello, professores 
internacionais de Curitiba. Desde 1997 desenvolve carreira nacional, com 
apresentações em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, 
Recife, Manaus. Entre outras obras, participou da montagem das óperas "O
Guarani", de Carlos Gomes; "La Boheme", de Puccini; "La Traviata", de 
Verdi; "Elixir do Amor", de Donizetti; e "Carmina Burana", de Karl Orff; e 
tem participado de inúmeros concertos e recitais, inclusive no festival de 
inverno de Campos do Jordão. Douglas diz que é quase impossível 
sobreviver do canto lírico em Joinville, a não ser se der aula, e, mesmo 
assim, são poucos os alunos. Ele apenas vive em Joinville e trabalha para 
teatros de outras capitais. A única apresentação que fez na cidade foi na 
inauguração da Escola Bolshoi, em março de 2000.
Ainda na música erudita, pode­se perceber um crescimento com a 
fundação de vários grupos como o Vocal Madrigal, formado por professores 
e alunos da Casa da Cultura, com 16 vozes, e a Camerata A5, com seis 
instrumentistas, também de professores e alunos da Escola Villa­Lobos. 
Vale citar ainda o trabalho do violonista e produtor Ananias Alves de 
Almeida, que está gravando seu primeiro CD. Entre 1990 e 1997, ele 
promoveu 39 concertos com os maiores violonistas do País. Outra 
importante produtora é Albertina Tuma.


                    A fauna das bandas
                abrange todas as tendências
As bandas de rock compõem uma fauna bastante variada. As de maior 
destaque são Butt Spencer, Sanchez e Vacine. Os entendidos no assunto 
afirmam que elas tocam músicas próprias com qualidade tão boa quanto 
uma banda de primeiro time americana. Com um repertório de surf music e 
ska (mistura de rock com reggae), se apresentam em festas e organizam 
os próprios shows.
Butt Spencer têm participação em um compacto vinil da Monstro Discos, 
uma das mais importantes gravadoras independente do País, mesmo selo 
que está por lançar o primeiro CD profissional do Sanchez. Vacine tem um 
CD single esgotado, pela Holliday Record. Neste mesmo caminho está um 
grupo de bandas que ainda não se firmou, como Buzzgang, Medíocres, 
Simples, Fel, Os Cara de Marte entre outras. Esta categoria teve como 
precursora a finada The Power of de Bira.
Uma outra categoria pode ser aberta para abrigar aquelas bandas que 
buscam o sucesso sem se preocupar com o que tocam: o importante é 
agradar a galera. São bandas preponderantemente de cover com algumas 
composições próprias, como Gata Parida, Núcleo Sul, Razor Back, Tree 
Back, com estilos bem definidos em figurinos e comportamento. A Canela 
Preta, com um estilo anos 80, gravou um CD, caiu na estrada e abriu 
importante espaço na mídia.
A Núcleo Sul faz shows em várias cidades do Estado. Sua música "Deixe o
amor entrar em seu coração", gravada em CD, está tocando nas três FMs 
de Joinville. A Identidade Secreta existe há dez anos, tem participações no 
CD "Canta Joinville" e no CD do 2º Festival Latino­americano da Canção, de 
Itajaí, venceu o Belko Music Festival, na etapa rock e prepara um CD 
single.
Entre as bandas de metal se destacam Flash Grinder, que toca metal 
splatter versando sobre enciclopédia médica. Estes caras tem uma legião 
de verdadeiros fãs pela sua linhagem, tipo pestes, enfermidades e termos 
fisiológicos, de uma morbidez que beira à necrologia. Com dois discos 
lançados pela Lofty Storn, visando o mercado internacional, pelo visto têm 
se dado bem embora não tenham obtido muita repercussão aqui na 
terrinha.
O movimento de bandas em Joinville foi impulsionado pelo Curupira Rock 
Club, de Guaramirim, que, a partir de 1993 passou a promover um encontro 
anual de bandas e cultura alternativa. As principais bandas do País 
passaram por lá, inclusive a Utopia, que depois virou Os Mamonas 
Assassinas. O público desse pessoal é formado por jovens com formação 
musical pós­Nirvana, grunges, skatistas, que sabem muito bem a atitude 
que desejam tomar em relação a roupa, o que beber, ouvir e pensar sobre o 
mundo. Usuária de tatuagens, piercings e outros badulaques mais, é uma 
galera plugada no planeta via internet e MTV.
Por mais que o estilo soe postiço, não se pode fazer ouvidos moucos para 
o sucesso alcançado pelos grupos de pagode Koisaboa, que representa 
uma linha mais original, e o Koskarke, que faz o estilo mauricinho. Ambos, 
na levado de cavacos, reúnem um público expressivo em shows e festas.
Finalizando, é indispensável citar o cavaquinista Bera, músico de grande 
talento, que chegou a fazer carreira no Rio de Janeiro, e conquistou uma 
legião de admiradores com o seu Regional, em Joinville e região. Ficaram 
famosas as manhãs e tardes de sábado do Mercado Municipal onde tocou. 
A tradição é mantida ainda hoje, depois de sua morte, reunindo até 15 
músicos e dezenas de amantes do choro, serestas, samba­canção. Entre 
                                            os remanescentes do grupo, a dupla Gauchão & Gauchinho já gravou CD 
                                            na Europa.


                                                                             Aniversário de Joinville
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Cultura entra como alternativa socioeconômica em Joinville

  • 1. J o i n v i l l e                   ­                    Sexta ­f e i r a ,   9   d e   M a r ç o   d e   2 0 0 1                   ­                    Santa Catarina  ­  Brasil           ANotícia     Cultura entra, enfim, Leia também na ordem do dia Pouco valorizada no passado, a atividade ganha status  de alternativa socio econômica para a cidade Joinville 150 anos cultura nunca esteve tão presente nos planos da comunidade  Economia, turismo,  população A joinvilense. Eleita como alternativa socio econômica para a cidade,  vem recebendo investimentos em equipamentos, eventos e  Aos 150 anos, Joinville é  Peça antiga do acervo do Museu de Sambaqui, que  profissionais. Os resultados práticos já são percebidos. É uma política  uma cidade de futuro.   evidencia a existência de civilização anterior aos  População cresce 2,4% ao  capaz de provocar reações contraditórias, como entusiasmo e ceticismo,  europeus na região ano, segundo Ibge.   cautela e euforia, elogios e críticas. Enfim, está acompanhada de toda  Foto: Divulgação Sobram motivos para visitar  controvérsia que lhe é de direito e ­ por que não? ­ fundamental.  o município.   Aeroporto caminha para a  No âmbito da administração pública, busca­se subverter a idéia de que  modernização.   cultura é mera perfumaria. Com o pragmatismo dos negociantes, o  Um olhar em direção às brumas  investimento em cultura tem por objetivo gerar emprego e renda, qualidade  do passado Serviço social,  técnica e de vida. Enfim, a idéia é dar ao palco um papel parecido ao que  educação até agora se deu ao chão de fábrica, desempenhado com maestria, como  Joinville também se  se sabe. O que se pretende é atingir marcas culturais que alcancem a  Museus guardam a memória dos 150  sobressai na solidariedade.   projeção de uma Consul, Tupy, Tigre ou Docol. anos da cidade, mas retrocedem ainda  Cozinha comunitária é  receita que deu certo.   Os indícios do futuro promissor são fortes. No rastro da fama do Festival de  mais no tempo Aposta na indústria do  Dança, criado por Albertina Tuma, foi construído o Centreventos Cau  entretenimento.   Hansen, o que possibilitou a profissionalização do evento, a vinda de  Novo modelo de educação  Os oito museus da cidade, juntamente com o  estimula o aprendizado.   grandes espetáculos e a inauguração da Escola de Balé Bolshoi. Por outro  Arquivo Histórico e o Cemitério dos Imigrantes,  Faculdade Cenecista é a  lado, o Complexo Cultural da Antarctica pretende ser o espaço que faltava  formam importante conjunto cultural. O Museu de  mais jovem.   às artes plásticas, abrigando grandes exposições e criando um novo  Matrículas crescem 62%  Arte de Joinville (MAJ) possui um rico acervo de  desde 1996 na Univille.   momento para esta que já foi a vertente mais proeminente das artes locais.  artistas como Flávio de Carvalho, Glauco  Centros de tecnologia  No setor de patrimônio histórico, destacam­se o Museu Nacional da  Rodrigues, Rebolo, Tarsila do Amaral, Juarez  impulsionam a economia.   Imigração e o Cemitério do Imigrante, que, tombados pelo Iphan (Instituto  Modelo da ETT serve a  Machado, Rodrigo de Haro, Elli Heil, Burle Marx,  outros institutos.   do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional), acabam de ser  Carlos Scliar e Lygia Clark, entre outros. Abriga  restaurados. As artes cênicas que até aqui se ressentiram da ausência de  exposições temporárias e do próprio acervo. Saúde, religião um espaço adequado, vão ganhar o Teatro Juarez Machado. Na música, é  O Museu Arqueológico de Sambaqui reúne mais 4  Medicina busca exemplo dos  grande a expectativa pela criação da Orquestra Filarmônica de Joinville, sob  mil peças, incluindo acervo ósseo de animais,  primeiros "doutores".   regência do maestro Júlio Medaglia, como anunciado; no âmbito da  líticos e de esqueletos do homem de sambaqui,  Modernização mudou perfil  literatura, está em trâmite a criação de uma nova biblioteca pública, com  além de administrar 42 sítios arqueológicos de até  do tratamento.   Um pioneiro no tratamento  acervo renovado e espaço para encontros e debates; para os bairros estão  5 mil anos. Seu centro de pesquisas atende  da doença mental.   em gestação 13 centros comunitários de cultura e convivência. pesquisadores do Brasil e de outros países. Ainda  Cidade é o maior pólo  luterano do continente.   sob este tema, está sendo criado o Parque  Igreja Católica quer ampliar  Perspectiva Caieiras, com um sítio, duas oficinas líticas, trilhas  presença.   ecológicas e estrutura para passeios de barco pela  lagoa de Saguaçu. Com essa estrutura pretende­se fiar um novo tecido socio econômico para a Cultura O Museu Nacional da Imigração possui nove  Cultura entra, enfim, na  cidade. A perspectiva de desenvolvimento através das artes é apontada  coleções com obras de imigrantes que vieram para  ordem do dia.   também pelo presidente do Instituto 150 anos, o cônsul honorário da  Os cinco mestres da arte.   Joinville ­ a maior parte alemães, mas também  Alemanha e empresário Udo Döhler. Afinal, esse investimento em cultura  Sem tradição, literatura é  suíços e noruegueses. É formado por objetos  uma arte em emergência.   conclui uma nova infra­estrutura para a cidade, que se iniciou com a  doados pelas famílias dos primeiros imigrantes e  Aldeia musical reproduz mais revitalização da área comercial através dos shoppings, melhoria do sistema  de mil e um estilos.   pelo acervo da casa de administração da colônia  viário, eixos de acessos a BRs, a ampliação e melhoria da rede hoteleira e  Um olhar em direção às  Dona Francisca. Incorpora ainda pinturas, desenhos  brumas do passado.   um sistema eficiente de transportes na malha viária urbana. e estampas; coleções de trabalho com  Capital da dança sem  Paralelamente, Udo percebe uma mudança qualitativa do ensino de primeiro talentos locais.   equipamentos agrícolas, de artesãos, atividades  grau, com escolas reformadas e professores mais preparados. Na sua  O teatro fora do palco.   comerciais, fiação, tecelagem, pecuária, maquinaria  Grupos underground fazem  avaliação, com estrutura urbana e eventos estão lançadas as bases  e instrumentos musicais, entre centenas de outras  teatro na periferia.   necessárias para a implementação do turismo cultural: "Esta é a grande  peças. avenida para a abertura de novas áreas de trabalho", afirma. Udo Döhler  Imprensa, Corpo de  sustenta que este investimento em cultura fará surgir outro subproduto que,  Bombeiros até agora, não se cogitava: "Vai haver outro surto de crescimento industrial  Em 1852, a imprensa nascia  que ninguém esperava. Vamos atrair indústrias de tecnologia de ponta de  na colônia.   centros maiores, onde as condições de trabalho estão mais  Uma corporação que defende  a cidade.   comprometidas. A cidade, hoje, está preparada para crescer não só na  cultura e no turismo cultural, mas na indústria, o que terá peso na oferta de  Entidades novas oportunidades", analisa. Acij está à frente no  crescimento de Joinville.   Batalhão é parceiro da  Cidade vive transformação comunidade.   Univille veio com a  Órgão que pertenceu à antiga catedral de Joinville,  industrialização.   O presidente da Fundação Cultural de Joinville, Edson Busch Machado,  exposto no Museu da Colonização e da Imigração
  • 2. aponta uma transformação na cidade, obtida através da provocação para  Foto: Pena Filho Política que se manifeste artisticamente. Segundo ele, a mudança é evidente desde  Normas de convivência  o jeito de falar, pelo debate aberto e o pensamento mais perspicaz. "É uma  .... .... .... definidas desde o início.   transformação comportamental e há um senso crítico manifestadamente  Livres pensadores inovam a  maior. Joinville vive um momento de transição entre a cultura dos imigrantes cultura.   e uma cultura mais universal, mais homogênea, refletindo todas as  influências com que a cidade vem se enriquecendo nas últimas décadas",  Lugares e  afirma. Segundo ele, o novo perfil da cidade ainda não está concluído, "mas  personagens (1) Tradicional cartão ­ postal  já saímos da fase do susto da contemporaneidade; é um processo que  está revitalizado.   precisa ter continuidade". Abdon Baptista, o "coronel"  Para Edson, na gênese deste processo está o Festival de Dança, que  da colônia.   Catedral acompanha a  passou a ser uma espécie de "irmão mais velho" das outras artes. "Com  história da cidade.   sua postura mais profissional na organização, mostrou que o processo  O primeiro padre do  cultural está muito próximo de um empreendimento e que não há  município.   O "berço" da cidade.   patamares inatingíveis. Seu desenvolvimento vem ajudando a cidade a  crescer como um verdadeiro empreendimento cultural", assegura. Para  Balé Bolshoi apresenta­se na cidade: vinda da  Albano Schmidt, o criador da  Tupy.   atender à periferia foi criado o projeto Caravana, coordenado pelo diretor de  escola russa revolucionou a história da dança Rua Princesa Isabel atraiu  Foto: Arquivo AN 6/6/96 acontecimentos.   ação cultural da Fundação, Jair Mendes. Segundo Edson, a caravana  Palacete Niemeyer é  oferece um palco para os valores dos bairros se manifestarem, firmando­se  respeitado até hoje.   junto a sua comunidade, e também apresenta­lhe novos parâmetros, que  Capital da dança Fritz Alt, o 1 º grande artista. De office ­ boy a dono de  servem de estímulo para despertar suas qualidades artísticas. "Busca  sem talentos locais empresa.   incentivar e universalizar o artista local, ao mesmo tempo que valoriza suas  raízes", diz. Além de apresentações, a caravana leva cursos ligados à cultura artística,  Fenômeno deve ser revertido com a  Lugares e  personagens (2) como música, teatro, desenho, cerâmica, pintura, e canto coral. Jair explica instalação da Escola do Teatro Bolshoi Praça é homenagem a  que é feita uma discussão prévia com artistas e lideranças comunitárias  interventor federal.   antes da passagem da caravana por um bairro, para escolher os temas e  A dança é um capítulo à parte em Joinville. Por um  Em 1906, surge a estação  ferroviária.   cursos a serem ministrados. Cada passagem dura duas semanas, com  lado, é sede da Escola do Teatro Bolshoi e tem o  Dr. Sadalla, médico e grande  cursos ministrados à tarde e à noite. No último sábado é feita a festa de  mais importante festival do País e um dos maiores  construtor.   confraternização, com as apresentações artísticas. Quando algum talento é  do mundo, que lhe valeu, inclusive, o codinome de  O fundador da Consul e da  Embraco.   identificado, passa a ser incentivado a prosseguir estudos na Casa da  "capital da dança". Por outro lado, esta arte é  Colonizadora alemã é citada  Cultura. justamente o calcanhar­de­aquiles da cultura local.  em livro.   É inegável a importância do festival no  O primeiro cemitério oficial  da cidade.   .... .... .... desenvolvimento da dança no País, mas ao mesmo  tempo não conseguiu fazer o mesmo com os  grupos locais, não havendo nenhum nome de  Lugares e  Os cinco mestres da arte destaque formado aqui. personagens (3) Crispim Mira, o jornalista  A maior referência na dança local é o grupo da  assassinado.   Juarez Machado, Luiz Henrique Schwanke, Antônio Mir,  Escola Municipal Casa de Cultura, dirigido pelo  Carlos Gomes, acima de tudo coreógrafo Marcos Sage. Com uma linguagem  um político.   Mário Avancini e Fritz Alt são os grandes criadores Mercado público foi palco de  contemporânea, vem conquistando prêmios no  conflitos.   festival e chamando a atenção. Para tentar reverter  Filósofo, político e jornalista. Nas artes plásticas da cidade há algumas unanimidades: Schwanke é o  este quadro, está se iniciando um trabalho de  A vida heróica dos  artista redentor; surge uma nova geração; depois de quase uma década de  massificação da dança nas escolas junto a  desbravadores.    vazio, vive­se um desânimo provocado pela falta de espaço adequado para  professores e alunos, coordenado pela professora  exposição; e, claro, o espaço Cultural da Antarctica é uma luz no fim do  Flávia Vargas. Segundo ela, a idéia é desenvolver  túnel. O patrimônio artístico da cidade se compõe basicamente de cinco  ensino da dança na rede municipal, como atividade  nomes: Juarez Machado, Luiz Henrique Schwanke, Antônio Mir, Mário  extracurricular. Crianças que apresentarem aptidão  Avancini e Fritz Alt. Para além de suas obras, cada um tem sua influência e serão preparadas para concorrer à Escola Bolshoi.  seu campo de gravitação no que vem a ser o universo artístico de Joinville. O objetivo é atingir, numa primeira etapa, 600  Antes de qualquer incursão pelo presente, é preciso lembrar a  alunos. efervescência dos anos 70 e 80, quando todos os nomes acima citados,  Há vários grupos independentes que buscam  excetuando­se Fritz Alt, se fizeram, e foi criada a histórica Coletiva de  desenvolver um trabalho próprio, mas nenhum até  Artistas. Foi uma época de inquietação e revelação onde o crítico de artes e aqui logrou atingir um grau de excelência que o  escritor Harry Laus teve papel decisivo, colaborando para a formação de  credencia a ser referência da cidade. Entre eles  uma massa crítica, instigando a polêmica e instilando a originalidade nos  podem ser citados o Comdança, Andança, Solo,  artistas. As mortes de Schwanke e de Laus, em 1992, parece ter  Perfeto, Duniá, Na Ponta dos Pés e vários de dança  mergulhado a produção das artes locais em uma crise de identidade e  de rua. O Comdança, dirigido por Fabíola  criatividade que só agora começa a ser revertida, com a entrada em cena  Bernardes, buscou fazer um trabalho profissional, e,  de uma nova geração de criadores de linguagem contemporânea. depois de alguns espetáculos montados, não  Marchande por três décadas e atual diretora da Casa de Cultura de Joinville, atingiu o êxito esperado. Os outros, prioritariamente  Marina Mosimann concorda que houve um hiato e que uma nova leva  se preparam para participar do festival e se  começa a se destacar. A ela cabe, agora, a incumbência de dar seqüência  apresentar em alguma festa, até porque não há  a essa história iniciada pelos veteranos. Para isso, na sua opinião, é  locais nem público para temporadas. A maioria está  preciso trabalho e união. Desta nova e importante geração fazem parte  ancorado em academias de ginástica ou colégios. Ricardo Kolb, Francisco Amaral, Luiz Carlos Presente, Luciano da Costa  Pereira, Linda Suzana Poll, Luiz Carlos Franzói e Jane Bruggemann. Na fotografia, foi positivo o lançamento, ano passado, do álbum "Joinville  Profissionalismo 150 Anos", com fotografias e textos de Borges de Garuva, uma tentativa de  construir uma identidade visual da cidade, mas deixa de fora o mais  Ely Diniz, diretor executivo do Instituto Festival de  importante fotógrafo artístico da cidade, Peninha Machado, que possui uma  Dança de Joinville, aponta como vantagens do  linguagem em que sobressaem composições exaustivamente estudadas,  gerenciamento profissional obtida através da  fugindo aos cliques fáceis e imagens turísticas. criação do IFDJ a desburocratização normal dos  órgãos públicos um relacionamento mais  Para os novos artistas, profissional com os patrocinadores. "Artisticamente  o festival estava suficientemente maduro, o que  Schwanke é o guia supremo introduzimos foi o Conselho Consultivo, que traz o  conhecimento e a experiência internacional de  Assumindo a condição que lhe é imputada com certa desconfiança, Ricardo profissionais da dança e idéias que estão  Kolb vê nos artistas de Joinville uma postura muito bairrista. "Somos  ampliando o guarda­chuva do festival". Quanto à  centrados em nós mesmos e a qualidade fica suspeita. A relação tem de  qualidade dos grupos locais, Ely analisa que a  ser global, a gente vive num meio muito impróprio, não há uma comunidade  própria dificuldade para entrar no festival faz com  capaz de refletir sobre artes plásticas, que acaba confundida com  que busquem mais qualidade. Nesse sentido, o  decoração. Não há um foco de discussão, tudo que conseguimos obter são  instituto está "ensinando a pescar" em vez de  comentários do tipo 'que lindo seu trabalho'". Kolb também aponta a falta de ofertar o peixe: vai contratar um diretor e coreógrafo 
  • 3. um espaço adequado para exposição como fator inibidor da arte  de renome para acompanhar os trabalhos dos  contemporânea na cidade. "Há uma banalização, não adianta querer ter  grupos locais que pretendem concorrer no festival, o  idéias de vanguarda num fundo de quintal. O contexto, o entorno tem que  que lhes dá maior chance de êxito na seleção. A  ser de vanguarda; sem isso não se consegue criar uma atitude em relação  superintendente da Escola Bolshoi no Brasil, Jô  à comunidade, pois não se reflete nada". Ele aponta ainda a total falta de  Braska Negrão, opina que Joinville vive uma  renovação e de originalidade. "Depois do Schwanke não apareceu ninguém  renascença cultural liderada pela dança. "É possível  com o mesmo vigor e capacidade intelectual. Não podemos viver do dito de  ser grande e ser para todos", diz. que arte é uma inspiração, ao contrário, arte não tem que ser prazerosa,  tem que ser suada, resultado de investigação. Arte é uma coisa rara e é  competição", conclui. Que ninguém se engane com a carinha de anjo barroco de Jane  Bruggemann. Em sua obra, ela busca cutucar demônios. A exposição "Nós  que aqui estamos por vós lamentamos", em que aborda o universo da aids,  é um exemplo de seu dedo na ferida. Vencedora do Edital 2000, da  Fundação Catarinense de Cultura, seu trabalho vai ser exposto em  Florianópolis, Criciúma e Lages. Morando há apenas dois anos em Joinville,  depois de passar por Florianópolis e Curitiba, Jane vê um cenário meio  confuso em que os artistas precisam ir para fora para se fazer. Ela deposita  suas fichas na abertura do Complexo Antarctica para clarear a situação. "A  inauguração de um grande museu com o nome de Schwanke talvez  Comdança, uma das mais tradicionais companhias  desemboque em uma visão mais contemporânea, porque Schwanke é o  de Joinville: o festival não é tudo Foto: Carlos Alberto da Silva 22/6/96 cara. Acho que vai brotar uma bela semente só por se lembrarem e estarem mexendo nas coisas dele. Talvez tudo acabe renascendo". Linda Suzana Poll, reconhecido talento, inclusive internacional, ex­diretora  Festival cria novos grupos da Casa de Cultura, diz que ser artista em Joinville é "ralar coco e se virar  sozinho". Ela explica: "Muita pouca coisa acontece pela valorização do  O festival fez surgir grupos como o Ponta dos Pés,  artista, que só é lembrado para tapar buraco, quando é preciso representar  dirigido por Simone Espíndola, que existe há dez  numericamente a classe, mas não há a preocupação em apoiar a produção, anos, ligado à escola de dança do mesmo nome. O  preservar obras, e nem com a Coletiva de Artista, que é um termômetro das  sonho de ser bailarino e de dançar no festival é que  artes na cidade". Linda reclama que "quando tem que ser feito os grandes  move a maioria dos cerca de 400 alunos da  painéis, chamam os artistas de fora. Dá vontade de desistir, de ser artista  academia. Para ela, o festival popularizou muito a  para outros lugares". Na sua opinião, a qualidade da produção reflete este  dança e estudantes da rede pública querem se  desânimo e a falta de espaço para exposição e repercussão. "Sem isso  preparar para entrar na Escola Bolshoi, por isso  não tem produtividade, não se produz para deixar no ateliê, e os artistas  oferecem preços reduzidos. "Este ano cinco alunas  acabam buscando outras fontes de renda". nossas passaram na audição do Bolshoi, isso  Por sua vez, Luiz Carlos Presente lamenta a ausência do joinvilense em  engrandece nosso grupo", avalia a professora. geral nos eventos culturais. "As pessoas aqui ainda não apreciam arte  De uns anos para cá houve um verdadeiro surto de  como em outras cidades do Estado, como Blumenau e Florianópolis, onde  grupo praticando dança de rua, normalmente dentro  as exposições são muito visitadas. Joinville, talvez por estar muito voltada  de colégios ou academias, que lhes oferecem certa  para o trabalho, deixa a cultura de lado e com isso o artista tem dificuldade. estrutura como espaço para ensaio. É o caso do  Também faltam espaços alternativos. Faltam discussões, linhas de  The Angels of Freedom, que existe há sete anos e,  pensamento, grupos com objetivos ou temáticas determinados para  desde ano passado associou­se à academia  alavancar nomes e arejar o ambiente. Mesmo assim a cidade continua  Califórnia. Sem patrocínio e sem locais para se  produzindo novos talentos, alguns de grande expressão com  apresentar fora do festival, o grupo passa por  representatividade no Estado e no País. Acho que o complexo artístico e  dificuldades, principalmente na hora de viajar. Para  turístico da Antártica será superimportante, vai valorizar a produção, com  Cléo Medeiros da Rocha, coordenador do grupo, "o  exposições e oficinas". joinvilense não conhece seus grupos que ficam  O videomaker Luiz Tirotti analisa: "Hoje em dia não temos nada que unifique trancados nas academias o ano inteiro se  um panorama cultural em Joinville. Há muitas pessoas fazendo muitas  preparando para o festival e, no entanto,  coisas, mas não tem uma característica única. As pessoas estão  dependemos do público de Joinville, deveríamos  produzindo, mas sem uma base coletiva, os grandes movimentos sempre  mostrar nosso trabalho, pois o festival não é tudo",  têm um elo de ligação no pensamento". Ele lamenta a falta de um círculo  avalia. pensante. "A arte contemporânea não tem mercado, só se mostra em  Um dos grupos de Joinville mais bem­sucedidos na  exposições e discussões, e não temos discussões. Dá a impressão que só modalidade Dança de Rua é o Street Santos Anjos,  temos obras para quermesse". único catarinense a conquistar um primeiro lugar no  festival do ano passado. Já se apresentaram em  Excesso de narcisismo cidades como Porto Alegre, São Paulo e Rio de  Janeiro. Mesmo assim, não tem a vida facilitada: "É  matou a Tertúlia complicado fazer dança. Mesmo estando na cidade  do festival, falta patrocínio, a premiação no festival  Criador inquieto e afinado com a linguagem contemporânea, Carlos Alberto  fica naquilo e o pessoal esquece logo", diz Nanci  Franzói define a situação das artes plásticas na cidade como sendo "de  Rosa, coreógrafa e diretora do grupo. intempérie", em que a ausência de espaços de exposição, cursos de  formação, curadoria e crítica contribuem para um cenário desolador. Artista  .... .... .... de reconhecimento crescente, com participação em salões de Belo  Horizonte, Rio e São Paulo, entre os quais o renomado projeto Novos  Rumos, do Itaú Cultural , Franzói identifica uma "mídia maciça em torno de  alguns poucos nomes", o que, para ele, compõe uma "imagem falsa da  cidade, muito voltada para o passado. Pensa­se muito no que já se fez e  não no que Joinville será." Também ele considera uma obrigação o resgate  da arte de Luiz Henrique Schwanke. Outro dado desfavorável que o artista  observa é a ênfase dada aos megaeventos, sobretudo pelo empresariado  local. "Cultura é feita de um degrau após o outro. É necessário discutir,  debater e incutir a arte na população, pois é daí que surgirão novos  pensadores e novos artistas", reflete. Ilaine Melo na peça "Paititi", do Grupo Unicórnio:  Dividindo­se entre São Francisco do Sul e Espanha, onde tem sua base de  esforço nem sempre recompensado produção e circulação de sua obra, Antônio Mir, um dos artistas­fundadores  Foto: Arquivo AN 25/9/99 da Coletiva, em 1970, lembra que Joinville despontou culturalmente com  questionamento e polêmica, deixando de ser uma cidade de repasse  cultural para produzir e exportar cultura. Ele vê a postura cultural de hoje  O teatro fora do palco como "absolutamente política, elitista e sem participação comunitária, com  interesses claríssimos de uma cartilha que impossibilita aos produtores  Sem espaço adequado, arte dramática  com opiniões que não coincidam com as oficiais de participarem do  sobrevive na garra do improviso processo ativamente". Com uma ponta de ironia, acredita que "a 
  • 4. matemática celestial arrumará a atual situação". A exemplo das artes plásticas, o teatro teve seu  O pintor pontilhista Amandos Sell, que tem boa aceitação no mercado, diz  período de êxito na década de 80. A cidade chegou  que sempre houve uma política cultural na cidade, mas ressalva: "O que  a ser referência no Estado com montagens como a  vale é o trabalho; se for bom, a política não importa". legendária "Norigama", com direção de Borges de  Antes de lavar as mãos deste capítulo de tintas, idéias e alfinetes, vale  Garuva, e "Quando as máquinas param", de Lucas  acrescentar às críticas e autocríticas acima arroladas que a classe artística  David. Na década seguinte, salvo peças como  de Joinville jogou fora um bilhete premiado ao deixar morrer a idéia da  "Tupac Amaru" e "O Sahy dos sonhos", ambas  Tertúlia. Era uma iniciativa independente que tinha tudo para impulsionar um dirigidas por Borges, veio o lento declínio que,  novo tempo para as artes e conquistar público, mas que, por desunião e  agora, ensaia um novo alento. Afinal, o ano de 2001  excesso de narcisismo, não decolou. foi declarado como o ano do teatro em Joinville. Os  artífices desta retomada são Ilaine Melo, Silvestre  .... .... .... Ferreira, Nando Moraes e Marco Vasquez, entre  outros. A estes nomes soma­se a construção de  Sem tradição, literatura um espaço próprio ao teatro, o Teatro Juarez  Machado, e a organização da classe que, em  é uma arte em emergência dezembro último, uniu­se num fórum permanente de  reflexão e propôs um manifesto em defesa da arte  Surgimento de novos autores pode reposicionar Joinville  local. no mundo das letras, do qual esteve afastado Nando Moraes, diretor da Cia. Experimental de  Teatro de Repertório, grupo ligado à Univille, atribui  os anos de vacas magras à falta de formação de  Em Joinville, a literatura não tem tradição. Basta dizer que o nome mais  diretores, atores e artistas da área de teatro. "De  proeminente ligado às letras locais é Alcides Buss, um emigrado de Salete  uns anos para cá, de modo geral, há uma injeção  que vive em Florianópolis há duas décadas. Tirante os nomes ainda  nova com o Marco Vasquez, o Silvestre que está  relacionados aos imigrantes como Julius Karl Parucker, Ottokar Doerffel; os  saindo mais para a ativa, o Laércio (Muniz) e  historiadores, como Carlos Ficker, Elly Herkenhoff e Adolf Bernardo  também com o trabalho que fazemos na Univille",  Schneider, os nomes se afunilam. Os escritores na ativa podem ser  diz. Ele cita ainda Cristóvão Petry, Ângela Finardi,  divididos em três grupos distintos, para um melhor entendimento. O  Ana Beatriz Raposo, Glória Muniz e Robinson  primeiro é formado por aqueles estabelecidos há alguns anos, em que se  Benta. inscrevem autores como Borges de Garuva, Ives Paz, Carlos Adauto Vieira,  O segundo Encontro de Teatro, realizado na Univille  David Gonçalves, Dúnia de Freitas, Mila Ramos e Apolinário Ternes. ano passado foi um bom termômetro deste  David Gonçalves é, em termos de público, o mais bem sucedido. Autor de  renascimento da arte. O evento contou com a  21 títulos (todos lançados pela sua própria editora, Pocket Sucesso), seus  participação de Roberto Mallet, debatedor e  livros estão entre os mais lidos nos três estados do Sul. São 13 obras  oficinante que apresentou um olhar estrangeiro  literárias e oito na área técnica de gerência, vendas e marketing. "Minha  sobre a produção local. O encontro reuniu 26  literatura é simples, fala de temas universais que não envelhecem e estou  espetáculos de 16 grupos de teatro amador, de  preocupado em transmitir uma mensagem que as pessoas entendam e seja escolas e de fábricas e de igrejas, que foram vistos  útil para suas vidas", diz o autor que está com novo livro no prelo, a  por um público total de 3 mil pessoas. Em janeiro,  coletânea de contos "Até sangrar", com lançamento marcado para este  Mallet voltou a Joinville para um curso com 25  mês. David Gonçalves calcula que já vendeu meio milhão de livros. "Terra  pessoas. "Se continuarmos neste estado, em três  brava", na 11ª edição, e "Flores que o chapadão não deu", 7ª edição, são os anos, vamos fazer um teatro de muito boa  mais vendidos. qualidade, viveremos um despertar", afirma o  Apolinário Ternes tem nas atividades de jornalista e historiador seu principal  diretor. Nando aponta que, neste processo, é  foco de atenção. De seus 18 livros até aqui lançados, apenas três não são  fundamental um espaço com condições técnicas  historiográficos: o romance "Os manuscritos de Von Klopper", a peça "A  onde possa haver temporadas para o espetáculo  última esperança" e a coletânea de poemas "O aprendiz da esperança". É  amadurecer e que funcione, também, como local de  um dos intelectuais mais atuantes de Joinville, pelo seu conhecimento  encontro e referência. histórico, literário e por seu trabalho na imprensa. O advogado Carlos Adauto Vieira, autor de "Saborosas histórias curtas de  Charles D'Olengér (Ed. Letradágua, 1999), entre outros, é um ativista  literário desde os anos 70, quando integrava o grupo de artistas, jornalistas  e intelectuais que publicava a revista "O Cordão". A confraria, que se reunia  diariamente no Bar do Museu, foi grande incentivadora da arte em Joinville,  e, em suas reuniões, foram gestados eventos importantes como o Festival  de Dança e a Feira de Artesanato. Na opinião de Carlos Adauto, "não  existe literatura joinvilense", porque os intelectuais, hoje, não se reúnem,  não trocam idéias e não têm coragem de reeditar alguma coisa como "O  cordão". Através da publicação, que teve seis números, nos anos de 1975 e Diretores Borges de Garuva (E) e Silvestre Ferreira:  76, foi iniciada uma luta pela redemocratização do país. Joinville, nesta  atividade teatral precisa reviver década de 80 época, se tornou a capital cultural do Estado e sediou o primeiro congresso  Foto: Arquivo AN 21/6/92 Original em preto e branco da União Catarinense de Escritores. .... .... .... Esvaziamento Borges de Garuva, que participou de "O Cordão", construiu uma reputação  com sua atuação no teatro, mas é a literatura sua musa dileta. Autor de  vários inéditos, possui apenas uma obra publicada, "Cobaia" (edição do  autor, 1995). Para ele, ser escritor em Joinville é uma solidão que "nasce do esvaziamento do espaço público para a arte" e pelo esvaziamento diante da  disputa injusta de mercado com os criadores e produtores das grandes  capitais. Na sua opinião, esse gerenciamento equivocado das questões  culturais ocorre não apenas no poder público, mas também no meio  Peça "O Homem que Enganou a Morte", do grupo  empresarial e na comunidade em geral. "Sou testemunha de trocentos  Bytes & Parafusos projetos abandonados ou reduzidos aos seus próprios esboços por falta de  Foto: Pena Filho 30/3/2000 espaço político e institucional", diz. Os integrantes do segundo grupo se caracterizam por terem estreado  Grupos underground fazem teatro  tardiamente em livro, embora escrevam há muito mais tempo. Entre estes  "novos" que, em sua maioria, já passou os 40/50 anos de idade, estão  na periferia Orlando Alves, Onévio Zabot, Germano Jacobs e Wilson Gelbcke. Wilson  Gelbcke, autor da novela policial "A máscara de Capelle", (Ed. Corpo da  Marco Vasquez é o enfant terrible do teatro  Letra) e do infanto­juvenil "Esses Duendes Tão Míopes" (Letradágua), está  joinvilesco. É um encenador marginal no que se  com "A vindita do historiador" no prelo. refere a condições de trabalho, espaço e estética.  Para ele, escrever em Joinville é um desafio devido à falta de motivação e,  "Vou à caça do que quero, não me interessa fazer  até pouco tempo, de uma editora que justificasse a escrita. "Como escritor,  projetos para conseguir dinheiro para fazer teatro",  argumenta. A trupe que dirige, o Grupo Vozes de 
  • 5. não encontrei um campo aberto, escrever sempre foi muito mais um sonho  pessoal a ser realizado que uma resposta a um incentivo vindo de um  Teatro, existe há dois anos e meio, nasceu na  ambiente propício que te desafiasse. O escritor de Joinville era isolado, um  escola Estadual Olavo Bilac e tem três peças  espírito ilhado, sem ter onde estabelecer suas pontes", relata. Para fugir  montadas, sendo "Valsa nº 6", de Nelson  deste isolamento, Gelbcke, que é também um reconhecido aquarelista,  Rodrigues, a mais recente, com a qual fez 26  buscou outras praças e editou seu primeiro livro por uma editora carioca. apresentações. Tem apenas uma atriz fixa, Paula  Kornaski, e, para os demais papéis, trabalha com  não­atores.  Dos prêmios oficiais Atualmente, o grupo ensaia em Pirabeiraba, num  à guerrilha poética velho galpão cedido pela igreja luterana local. Na  hora de analisar a cena teatral da cidade, Vasquez  Germano Jacobs, autor do livro de contos "Virgínia" (Ed. Bernúncia,  tem a desenvoltura dos não­compromissados: "Pra  Florianópolis, 1998) está preparando seu primeiro romance, "Tempos de  mim, o teatro em Joinville está sendo tratado como  Guerra", em que narra as agruras dos imigrantes durante a Segunda Guerra  indústria de entretenimento, e, ligada ao poder, é  Mundial, na região de Brusque e de Itajaí. Onévio Zabot entrou para a cena  um teatro de encomenda. O teatro sobrevive  literária no ano passado, com o livro de poemas "Arco de pedra" (Ed.  parcamente nas escolas particulares que  Letradágua). Orlando Alves dedica­se, há anos, à artesania de contos,  sustentam os grupos. Grupo independente,  minicontos e relatos de uma intrincada tessitura, em que sobressai uma  underground, não há. Se houvesse 19 garagens de  linguagem inusual. Mas o seu discurso também pode ser satírico, na  casa sendo ocupadas com teatro a manifestação  criação de personagens impagáveis ou ternos em crônicas do cotidiano.  aconteceria de forma mais vibrante. Ligar o teatro  Sua estréia no formato livro se deu em 1999, com "Na gare da estação  ao poder é transformá­lo numa extensão da  primavera" (Ed. Letradágua). televisão e acaba representando uma classe que  Correndo por fora, "desenquadrados" estão os poetas Fernando José Karl e  sempre manipula os grupos". Caco de Oliveira. Caco, filósofo de formação, é um autor de textos mínimos, Buscando posicionar­se fora desse foco, o Grupo  exercendo hai­kais, tankas e epigramas, modalidades que estuda com  Vozes se apresenta nos lugares mais inusitados,  afinco. Seu maior mérito é a capacidade incansável de incentivar novos  de galpões vazios a garagens alternativas, para  leitores, escritores e poetas. Verdadeiro guerrilheiro literário, seus poemas  reforçar a idéia de que Joinville tem teatro  não estão publicados em livros mas carimbados ou mesmo manuscritos em (espetáculos) mas não tem teatro (estrutura física).  pequenos pedaços de papel reaproveitados e distribuídos em bares e  "É lógico que recursos e referencial teatral são  festas. importantes, mas a arte pode existir sem um  Fernando Karl é, de fato e de direito, a grande figura da literatura joinvilense. espaço profissional, este não é o ponto  Embora não tendo o reconhecimento oficial merecido na sua própria aldeia,  fundamental. Não sou contra quem faz teatro nas  sua obra é conhecida e respeitada por críticos, escritores e uma legião de  empresas e nas escolas, mas esta não pode ser a  admiradores. Possui oito títulos publicados, dentre os quais se destacam  forma teatral predominante nem podemos chamar  "Esquina, China" (Letras Contemporâneas, Florianópolis, 1996),  de brechtiniano o teatro feito para apaziguar  "Travesseiro de pedra" (2000, Prêmio Cruz e Souza, FCC), "Desenhos  trabalhadores", diz. mínimos de rios" (1997, Prêmio Helena Kolody do Paraná) e "Diário  A atriz Ilaine Melo, do Unicórnio, grupo com mais  estrangeiro" (1998, Prêmio Cruz e Souza, FCC). É o mais premiado poeta  de 200 apresentações por ano do Rio de Janeiro ao  da terra (inclua­se, na lista acima, o Prêmio Minas de Literatura).  Rio Grande do Sul, destaca que a grande conquista  Para fechar este capítulo, é preciso incluir dois historiadores. Elly  da classe foi a instituição do Fórum Permanente,  Herkenhoff, pelo inestimável trabalho de tradução de documentos no Arquivo que vai proporcionar a discussão do fazer teatral.  Histórico e pela autoria de dois livros fundamentais "Era uma vez um  Um dos grandes problemas na cidade, em sua  simples caminho", que, além das informações históricas, é uma deleitável  opinião, é o fato de não existirem locais públicos  leitura pelo seu estilo; e "História da imprensa em Joinville". Adolf Bernardo  para espetáculos em temporada, sem a  Schneider, nos seus três volumes de memória, traz um relato pessoal e  preocupação em ter que bancar as despesas com a  pitoresco de que como se vivia em Joinville no início do século. bilheteria. A construção de um espaço adequado, na sua  opinião, vai absorver o trabalho dos cerca de 18  .... .... .... grupos que mantêm produção constante em  Joinville, sendo que três deles (Persona, Unicórnio  Aldeia musical reproduz e Dionisos) são profissionais e vivem do fazer  mais de mil e um estilos teatral. "Se tivéssemos um espaço, hoje,  poderíamos manter uma agenda todos os finais de  semana para formar platéia, pois os grupos têm  Há grupos para todas as sonoridades possíveis tocando  repertórios prontos", aponta. Ilaine diz que há um  nos palcos e garagens da cidade grande potencial prestes a aflorar, com muitas  pessoas com vários anos de pesquisa e trabalho  Joinville não tem tradição no campo da música. Houve, no passado, um tal  em teatro. Não são grupos que, de repente,  de Janguito do Rosário, cantor da zona do Bucarein, que fez carreira e  resolveram fazer teatro; todos têm vários anos de  angariou fama em Curitiba, mas que por aqui ninguém tomou  estrada. Ela cita o "Itinerante", grupo de Cristóvão  conhecimento. Nossa glória musical de antanho foram os grupos vocais e  Petry, com um trabalho comunitário no bairro Itinga  instrumentistas reunidos em torno de sociedades como a Lírica e a  muito interessante, e Guido Almeida, do grupo  Harmonia­Lyra. Ficaram os espaços, mas os artistas não.  independente Círculo, que desenvolve uma linha de  No entanto, o panorama musical atual se mostra múltiplo e, quiçá,  teatro antropológico. promissor. Entre bandas de rock, de garagem, alternativas, conjuntos pops,  grupos vocais, instrumentais, pagodeiros e profissionais, há em Joinville em  torno de 40 bandas. Toca­se pop, rock, black metal, grunge, sambanejo,  MPB e música erudita. A grande promessa musical de Joinville é a criação da Orquestra Sinfônica  Municipal, com regência do renomado maestro Júlio Medaglia, cujas  tratativas se encontram bastante adiantados. O maestro e professor da  Escola Villa­Lobos da Casa de Cultura, Voldis Eleazar Sprogis, diz que há  uma ânsia de toda região Norte, incluindo as cidades de Blumenau, São  Bento do Sul, Jaraguá do Sul e Itajaí, pela criação da orquestra, pois  Apresentação do espetáculo "O Segredo do  garantirá trabalho e maior aperfeiçoamento para os músicos. Curumim", do grupo Unicórnio A criação da orquestra foi o sonho não realizado do maestro Tibor Reisner,  Foto: Divulgação Luciano Fusinato morto em 1999, que dirigiu a Escola Villa­Lobos e dedicou sua vida à  consolidação de uma cultura musical clássica na cidade. Tibor regeu  dezenas de concertos em Joinville, inclusive com composições próprias, e  deixou uma vasta obra inédita. A Escola de Música Villa­Lobos possui em torno de 500 alunos e a maioria  de seus 30 professores possui curso superior em música. Segundo Voldis,     a função da Villa­Lobos é dar formação e descobrir talentos. "É uma escola  pública com formação básica para comunidade", diz. Os cursos duram em  média de seis a oito anos, vão da iniciação musical à especialização em 
  • 6. a função da Villa­Lobos é dar formação e descobrir talentos. "É uma escola  pública com formação básica para comunidade", diz. Os cursos duram em  média de seis a oito anos, vão da iniciação musical à especialização em  instrumentos.    Voz operística O barítono Douglas Hahn estudou canto lírico na Casa de Cultura e fez  curso de aperfeiçoamento com Neide Thomas e Rio Novello, professores  internacionais de Curitiba. Desde 1997 desenvolve carreira nacional, com  apresentações em Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre,  Recife, Manaus. Entre outras obras, participou da montagem das óperas "O Guarani", de Carlos Gomes; "La Boheme", de Puccini; "La Traviata", de  Verdi; "Elixir do Amor", de Donizetti; e "Carmina Burana", de Karl Orff; e  tem participado de inúmeros concertos e recitais, inclusive no festival de  inverno de Campos do Jordão. Douglas diz que é quase impossível  sobreviver do canto lírico em Joinville, a não ser se der aula, e, mesmo  assim, são poucos os alunos. Ele apenas vive em Joinville e trabalha para  teatros de outras capitais. A única apresentação que fez na cidade foi na  inauguração da Escola Bolshoi, em março de 2000. Ainda na música erudita, pode­se perceber um crescimento com a  fundação de vários grupos como o Vocal Madrigal, formado por professores  e alunos da Casa da Cultura, com 16 vozes, e a Camerata A5, com seis  instrumentistas, também de professores e alunos da Escola Villa­Lobos.  Vale citar ainda o trabalho do violonista e produtor Ananias Alves de  Almeida, que está gravando seu primeiro CD. Entre 1990 e 1997, ele  promoveu 39 concertos com os maiores violonistas do País. Outra  importante produtora é Albertina Tuma. A fauna das bandas abrange todas as tendências As bandas de rock compõem uma fauna bastante variada. As de maior  destaque são Butt Spencer, Sanchez e Vacine. Os entendidos no assunto  afirmam que elas tocam músicas próprias com qualidade tão boa quanto  uma banda de primeiro time americana. Com um repertório de surf music e  ska (mistura de rock com reggae), se apresentam em festas e organizam  os próprios shows. Butt Spencer têm participação em um compacto vinil da Monstro Discos,  uma das mais importantes gravadoras independente do País, mesmo selo  que está por lançar o primeiro CD profissional do Sanchez. Vacine tem um  CD single esgotado, pela Holliday Record. Neste mesmo caminho está um  grupo de bandas que ainda não se firmou, como Buzzgang, Medíocres,  Simples, Fel, Os Cara de Marte entre outras. Esta categoria teve como  precursora a finada The Power of de Bira. Uma outra categoria pode ser aberta para abrigar aquelas bandas que  buscam o sucesso sem se preocupar com o que tocam: o importante é  agradar a galera. São bandas preponderantemente de cover com algumas  composições próprias, como Gata Parida, Núcleo Sul, Razor Back, Tree  Back, com estilos bem definidos em figurinos e comportamento. A Canela  Preta, com um estilo anos 80, gravou um CD, caiu na estrada e abriu  importante espaço na mídia. A Núcleo Sul faz shows em várias cidades do Estado. Sua música "Deixe o amor entrar em seu coração", gravada em CD, está tocando nas três FMs  de Joinville. A Identidade Secreta existe há dez anos, tem participações no  CD "Canta Joinville" e no CD do 2º Festival Latino­americano da Canção, de  Itajaí, venceu o Belko Music Festival, na etapa rock e prepara um CD  single. Entre as bandas de metal se destacam Flash Grinder, que toca metal  splatter versando sobre enciclopédia médica. Estes caras tem uma legião  de verdadeiros fãs pela sua linhagem, tipo pestes, enfermidades e termos  fisiológicos, de uma morbidez que beira à necrologia. Com dois discos  lançados pela Lofty Storn, visando o mercado internacional, pelo visto têm  se dado bem embora não tenham obtido muita repercussão aqui na  terrinha. O movimento de bandas em Joinville foi impulsionado pelo Curupira Rock  Club, de Guaramirim, que, a partir de 1993 passou a promover um encontro  anual de bandas e cultura alternativa. As principais bandas do País  passaram por lá, inclusive a Utopia, que depois virou Os Mamonas  Assassinas. O público desse pessoal é formado por jovens com formação  musical pós­Nirvana, grunges, skatistas, que sabem muito bem a atitude  que desejam tomar em relação a roupa, o que beber, ouvir e pensar sobre o  mundo. Usuária de tatuagens, piercings e outros badulaques mais, é uma  galera plugada no planeta via internet e MTV. Por mais que o estilo soe postiço, não se pode fazer ouvidos moucos para  o sucesso alcançado pelos grupos de pagode Koisaboa, que representa  uma linha mais original, e o Koskarke, que faz o estilo mauricinho. Ambos,  na levado de cavacos, reúnem um público expressivo em shows e festas. Finalizando, é indispensável citar o cavaquinista Bera, músico de grande  talento, que chegou a fazer carreira no Rio de Janeiro, e conquistou uma  legião de admiradores com o seu Regional, em Joinville e região. Ficaram  famosas as manhãs e tardes de sábado do Mercado Municipal onde tocou.  A tradição é mantida ainda hoje, depois de sua morte, reunindo até 15 
  • 7. músicos e dezenas de amantes do choro, serestas, samba­canção. Entre  os remanescentes do grupo, a dupla Gauchão & Gauchinho já gravou CD  na Europa. Aniversário de Joinville Veja a cobertura dos anos anteriores 9 de março de 2000:  Joinville 149 anos 9 de março de 1999:  Joinville 148 anos 9 de março de 1998:  Joinville 147 anos 9 de março de 1997:  Joinville 146 anos A Notícia:  Capa  |  Opinião  |  Esporte  |  Economia  |  Política  |  País  |  Mundo  |  Polícia  |  Geral  |  Fórmula 1  |  Fórmula Indy  | Colunas:  Alça de Mira  |  Moacir Pereira  |  Informal  |  Raul Sartori  |  Livre Mercado  |  Espaço Virtual  |  Canal Aberto  |  Joelmir Beting  |  Na Grande Área  | Cadernos:  Anexo  |  AN Cidade  |  AN Informática  |  AN Economia  |  AN Veículos  |  AN Tevê  |  AN Turismo |  AN Verão  | Especiais:  AN Verde  |  Grandes Entrevistas  |  Cruz e Sousa  |  Joinville 149 anos  |  Festival de Dança  |  Recicle  |  Meio Ambiente  |  Ecologia  |  Anita Garibaldi  | Serviços:  AN  Agora  |  AN Pergunta  |  AN Pesquisa  |  Como anunciar  |  Classificados  |  Guia Internet  |  Assinatura  |  Mensagem  |  Loterias  |  Cinema  |  Edições 2001  |  Edições 2000  |  Edições 1999  |    Edições 1998  |  Edições 1997  | Info:  Índice  |  Expediente  |  Institucional  | AN Capital:  Capa  |  Geral  |  Última Página  |  Fala Mané  |  Ricardinho Machado  | StarMedia:  E ­ mail grátis  |    Bate ­ papo  |  Forum  |  Notícias   Copyright  ©  2000 A Notícia  ­ Fone: 055 ­0xx47 431 9000  ­ Fax: 055 ­0xx47 431 9100  ­ Rua Caçador, 112  ­ CEP 89203 ­610 ­ C. Postal: 2  ­ 89201­972 ­ Joinville  ­ SC  ­ BRASIL  ­ E X P E D I E N T E  ­ Redaç ‹o:  anoticia@an.com.br  ­ Fotografia:  foto@an.com.br  ­ Classificados:  ancla@an.com.br  ­ Comercial:  anuncio@an.com.br  ­ Circulação:  assinatura@an.com.br  ­ Web site:  internet@an.com.br   Por:  T o r q u e   C o m u n i c a ç ã o   e   I n t e r n e t