2. Mucopolissicaridoses
As mucopolissacaridoses (MPSs) são uma família de desordens
metabólicas causadas pela deficiência de enzimas lisossomais
necessárias para a degradação do glicosaminoglicano (GAG).
O acúmulo progressivo de GAG acaba por comprometer a função de
vários tipos de células.
O local afetado irá depender da enzima deficiente, portanto a
apresentação clínica e o tratamento irá diferir de acordo com cada
tipo de MPS.
3. Mucopolissacaridose Tipo I
Doença causada pela deficiência da enzima alfa-L-iduronidase, responsável pela degradação de
dois tipos de GAG, o dermatan sulfato e o heparan sulfato, o que leva ao acúmulo dessas
substâncias nos lisossomos das células.
É dividida em três subtipos, de acordo com sua gravidade:
• Síndrome de Hurler (MPS I-H): É o subtipo mais grave, com início dos sintomas nos primeiros
meses de vida.
• Síndrome de Hurler-Scheie (MPS I-HS): Forma de gravidade intermediária, apresenta as mesmas
alterações da MPS I-H, mas o início é mais tardio e a evolução, mais lenta. O comprometimento
mental é mais leve.
• Síndrome de Scheie (MPS I-S): Forma mais branda, a estatura e inteligência geralmente são
normais, o início dos sintomas é mais tardio (por volta dos 5 anos de vida).
4. Epidemiologia
Afeta, aproximadamente, 1 criança a cada 100.000 nascimentos.
A mortalidade da doença varia de acordo com sua gravidade, podendo o
paciente falecer ainda na primeira infância em casos mais graves ou chegar à
idade adulta nos casos mais brandos. Na síndrome de Hurler, a degeneração
mental e neurológica progressiva leva o paciente ao óbito por volta dos 10 anos
de idade.
Afeta ambos os sexos e todas as raças de maneira igual.
5. Etiologia
Causada por uma mutação no gene IDUA (4p16.3), que
traduz a síntese da enzima alfa-L-iduronidase. A incapacidade
total de produção da enzima resulta na forma mais grave da
doença.
Herança autossômica recessiva.
6. Síndrome de Hurler
Apresentação Clínica
A criança nasce aparentemente normal. Os sintomas começam a surgir nos primeiros meses de vida e
afetam diversos órgãos e sistemas.
1 - Aparência Física: Características faciais grosseiras. Geralmente é a primeira anormalidade detectada.
Há um dismorfismo facial que começa a ficar aparente por volta dos 3 a 6 meses de idade.
• Escafocefalia, devido ao fechamento prematuro da sutura sagital;
• Protuberância frontal;
• Depressão da ponte nasal, com alargamento da ponta do nariz;
• Hipertelorismo
• Boca grande, com língua e lábios grossos, além de dentes afastados.
7.
8. 2- Sintomas Sistêmicos:
• SNC: Retardo mental e neurológico.
• TGI: Hepatoesplenomegalia progressiva. O acúmulo de GAG no fígado e baço causam
aumento no tamanho, sem causar, porém, disfunção dos órgãos. Hérnias umbilicais e
inguinais também são comuns, podendo estar presentes ao nascimento ou surgir nos
primeiros meses de vida, também sendo um dos primeiros sinais observados.
• Aparelho Cardiovascular: Arteriosclerose e isquemia, o que se manifesta como angina
pectoris. Disfunção valvar, hipertensão e ICC também são comuns.
•Aparelho Respiratório: Pode haver obstrução secundária das vias aéreas devido ao
crescimento anormal das tonsilas palatinas, podendo causar apneia obstrutiva do sono.
• Olho: A opacidade da córnea causada pelo acúmulo de GAGs é muito comum na
doença, o que causa significativa perda da acuidade visual, podendo levar à cegueira.
• Ouvido: Pode haver deficiência auditiva progressiva e otites médias de repetição
Apresentação Clínica
9. • Aparelho Osteoarticular: Inúmeras deformidades, que levam o nome
de disostose múltipla.
Deformidade em giba (90%)
Aumento da clavícula e costelas
Encurtamento da estatura
Encurtamento do pescoço
Mãos grossas e em forma de garra
Artropatia progressiva
Síndrome do túnel do carpo
Apresentação Clínica
10. • Crescimento e Desenvolvimento:
O crescimento é normal até os 2 anos de idade, quando
cessa. Por volta dos 3 anos a altura está abaixo do
percentil 3.
O desenvolvimento é normal até os 12-24 meses de
idade, quando seu atraso se torna evidente. Desse
momento em diante, os paciente geralmente não
progridem, mas permanecem estáveis por vários anos, e
depois apresentam um lento declínio na capacidade
intelectual.
Apresentação Clínica
11.
12. • Clínico: A apresentação clínica irá varia de acordo com a severidade da doença, porém apenas
os achados não são suficientes para confirmar o diagnóstico.
• Laboratorial:
Diagnóstico Pré-Natal: É possível avaliar a atividade da enzima em fibroblastos do líquido
amniótico;
Sangue: Análise da atividade enzimática em leucócitos do sangue periférico, em cultura de
fibroblastos ou no plasma (diagnóstico definitivo);
Urina: Presença de GAGs (dermatan sulfato e heparan sulfato) na urina;
Radiografia: Detecta anormalidades esqueléticas e é utilizada para diagnóstico de disostose
múltipla.
Diagnóstico
13. Tratamento
O tratamento deve ser multidisciplinar.
• Tratamentos de Apoio e das Complicações
Fisioterapia é fundamental para preservar as articulações e deve ser iniciada o quanto antes.
Transplante de córnea.
Substituição das valvas cardíacas.
Para controle da apneia do sono, pode-se realizar tonsilectomia ou traqueotomia, ou ainda
suporte respiratório, com pressão positiva contínua das vias aéreas e oxigênio suplementar.
Outras cirurgias podem ser necessárias para corrigir a compressão da medula cervical, a
síndrome do túnel do carpo ou para reparo das hérnias.
14. Tratamento
• Terapia de Reposição Enzimática (TRE)
Administração da enzima deficiente por via IV. Indicado para as formas mais
graves de MPS I. A meta é fornecer enzimas suficientes para que os GAGs
acumulados nos tecidos sejam catabolizados. Há uma melhora dos sintomas,
incluindo as funções pulmonares e a capacidade de deambulação do paciente, e
atrasa o aparecimento de complicações. Entretanto, ainda é um tratamento
muito caro e, como a enzima não consegue atravessar a BHE, a TRE não resolve
os sintomas neurológicos.
• Transplante de Medula Óssea e Célula Tronco Hematopoiética
O objetivo é fornecer aos pacientes células que produzam a enzima ausente,
através da medula óssea transplantada ou célula do sangue do cordão umbilical.
Estudos mostram que as terapias bem sucedidas conseguem reduzir os traços
faciais grosseiros e a hepatoesplenomegalia, além de melhorar a função auditiva.
A sobrevida aumenta em 67% em pacientes. Entretanto, não é uma terapia
curativa e não melhora as manifestações esqueléticas e valvares. Além disso, é
uma terapia de alto risco, alto custo e ainda é pouco realizada.
15. Aconselhamento Genético
Como a doença é autossômica recessiva, a família deve ser
informada sobre como ocorre sua herança.
Para ter um filho com MPS I, os pais obrigatoriamente são
heterozigotos. Assim, a chance de ter um filho normal é de 25%, a
chance de ter um filho portador assintomático é de 50% e a
chance de ter um filho afetado pela doença é de 25%.
Casais que possuam familiares com a MPS I podem fazer o
rastreio genético para saberem se possuem o gene defeituoso e
qual seria a chance de eles terem algum filho afetado pela
doença.
Além disso, pode ser feito o teste pré-natal em mulheres grávidas
em que o gene defeituoso já tenha sido identificado na família.