O documento discute o que é literatura, definindo-a como a arte das palavras e como um instrumento de comunicação e expressão cultural. A literatura utiliza a linguagem de forma plurissignificativa, recriando a realidade e transmitindo mensagens através de símbolos e metáforas. Além disso, literatura está ligada à sociedade e à imaginação do leitor, podendo ter função social de crítica, e proporcionar prazer estético.
1. O que é Literatura?
É a arte de compor escritos artísticos; o exercício
da eloqüência e da poesia; conjunto de produções
literárias de um país ou de uma época; carreira das
letras. Literatura é simplesmente a arte das
palavras. Como diz Carlos Drummond de
Andrade em um de seus poemas:
“Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.”
A Literatura enquanto arte exige do escritor, técnicas,
conhecimentos, sensibilidade e paciência.
2. Literatura e Comunicação
A literatura assim como a língua que ela utiliza, é
um instrumento de comunicação e de interação
social e, por isso, cumpre também o papel social
de transmitir os conhecimentos e a cultura de uma
comunidade.
Ela não é presa a língua que utiliza, apesar de estar
vinculada a ela, chegando às vezes a subverter
algumas de suas regras e o sentido comum de suas
palavras.
3. Literatura e Plurissignificação
“Literatura é uma linguagem carregada de significado.”
Observe os sentidos que envolvem a palavra flor nestes versos de
Drummond:
A flor e a náusea Os versos de Drummond, se
lidos em seu sentido puramente
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. denotativo, seriam ilógicos e
Uma flor ainda desbotada perderiam muito de seu
ilude a polícia, rompe o asfalto. significado.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
A palavra flor é empregada
conotativamente, se seu sentido
Sua cor não se percebe. fosse puramente denotativo seu
Suas pétalas não se abrem. sentido seria ilógico e perderia
Seu nome não está nos livros. o seu sentido.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Retratando o período de 1945,
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da de ditadura militar, a flor pode
tarde ter um sentido político,
e lentamente passo a mão nessa forma insegura. revolucionário ou corresponde a
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se. uma metáfora da própria poesia,
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em
pânico. o que demonstra uma
É Feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o linguagem plurissignificativa.
ódio.
4. Literatura e sociedade
A literatura está vinculada à sociedade em que
se origina.
O artista recria ou transcria a realidade, dando
origem a uma supra-realidade, ou a uma
realidade ficcional.
A obra literária é resultado das relações
dinâmicas entre escritor, público e sociedade.
Por vezes, a literatura assume formas de
denúncia social, crítica à realidade que a cerca.
5. Literatura e Imaginação
Como transcrição da realidade a literatura não tem que estar presa a ela, assim tanto
o leitor quanto o escritor podem fazer uso da imaginação para recriar a realidade
escrita e a criada pelo leitor.
Atualmente a leitura do texto literário não é considerada passiva, o leitor tem sido
visto como participante porque usa a imaginação para recriá-lo, como já havia sido
considerado na poesia de Fernando Pessoa:
O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que Finge que é dor
A dor que deveras sente
E os que lêem o que escreve ,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não têm
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão
Este comboio de corda
Que se chama coração
6. Literatura e Prazer
Para os gregos a arte tem como princípio uma função hedonística,
isto é, causar prazer, retratando o belo, este belo deveria
assemelhar-se à verdade ou a natureza.
Modernamente, esses conceitos desapareceram, mas a arte ainda
cumpre o papel de proporcionar prazer.
O prazer é ocasionado pelo jogo de palavras, ritmos, sons e
imagens, conduzindo o leitor a mundos imaginários.
A repetição de sons /r/, /p/ e /b/ e as imagens destes versos do
“Soneto de Separação”, de Vinícius de Morais, nos faz perceber
como esses efeitos causam prazer à nossa sensibilidade:
De repente do riso fez-se o pranto
Silenciosamente e branco como a bruma
E das boca unidas fez-se a espuma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.