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Série: Segredos Que Ferem
Márcia Paiva




Série: Segredos Que Ferem




        São Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda

                                         Capa
                    Adriana Brazil - http://www.adrianabrazil.com

                                        Revisão
                                     Bianca Bione
                  Marcia Rios - http://www.apaixonadaporlivros.com


                                   Diagramação
                                  Monica Rodrigues

Esta obra é fictícia, qualquer semelhança com nomes, locais e fatos é mera coincidência.
      Todas as informações contidas no livro foram incansavelmente pesquisadas.



                CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
         SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
  ________________________________________________________________
   P169s

   Paiva, Márcia
     Sem Perdão / Marcia Paiva. - São Paulo : Baraúna, 2012.
             (Segredos que ferem, 1)

      Inclui índice
      ISBN 978-85-7923-469-9

      1. Romance brasileiro. I. Título. II. Série.

   12-0143.                       CDD: 869.93
                                  CDU: 821.134.3(81)-3

   09.01.12 11.01.12                                                        032477
  ________________________________________________________________



                                  Impresso no Brasil
                                   Printed in Brazil

      DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA
                     www.EditoraBarauna.com.br

                           Rua Januário Miraglia, 88
                CEP 04507-020 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP
                              Tel.: 11 3167.4261

                             www.editorabarauna.com.br
                             www.livrariabarauna.com.br
Agradecimentos


      Agradeço a Deus em primeiro lugar. Obrigada, Senhor!
      Ao meu marido, por sua paciência e compreensão.
Amor, sem você isso não seria possível!
      Aos meus filhos, Gustavo e Eduardo, que me viam
sentada no computador por horas a fio, sem ter muito
tempo para eles: Amo vocês!
      Obrigada por tentar ajudar a mamãe, não fazendo
muita bagunça e nem gritando. Esse livro dedico a vocês
três, que são minha vida.
      Um agradecimento especial ao meu cunhado e ami-
go Rafael Martins que foi a primeira pessoa a ler meu
livro e a me incentivar a continuar. Não poderia deixar de
agradecer às pessoas que conheci na blogosfera pelo cari-
nho e força Edmundo Spot, Van Bosso, Danilo Barbosa,
Paola Patricio, Márcia Rios, Fernanda Meireles, Nanuka
Andrade, Babih Hilha, Adriana Oliveira e muitos outros.
Obrigada a todos vocês.
Sumário


Prólogo . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 9
Uma Promessa (Maia) 10 anos mais tarde .  .  .  .  .  . 13
Um dia de cão (Guedes) . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 19
Tragédia (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 27
Flashes (Guedes) . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 35
Pacto (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 39
Onde está Maia? (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 55
Morando nas Ruas (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 67
Um fio de esperança (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 83
Última noite (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 89
Cumprindo o Pacto (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 95
Reencontro (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 103
Revelação (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 113
O que é certo? (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 125
Smille (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 135
Longe dos olhos (Guedes).  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 143
Fazer sexo e fazer Amor! (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 147
Escape (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 159
Descobrindo a verdade (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 169
Por um fio (Guedes). .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 175
Fuga por uma Noite (Maia) . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 181
Visita inesperada (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 193
De volta ao centro (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 205
Como se fosse a 1ª vez (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 219
Estela (Maia) . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 225
Antunes (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 235
Dia da Festa (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 253
Pesadelo (Guedes) . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 273
Sem Perdão (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 283
190 (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 301
Fio de vida (Maia) . .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 309
Palavras de um menino (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 323
Uma homenagem (Maia) .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 331
Uma canção para nós dois (Guedes) .  .  .  .  .  .  .  .  . 337
Epílogo .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  .  . 341
Prólogo


    Zona Leste, SP

     O suor cobria minha testa, os cachos de meus ca-
belos grudavam em meu pescoço. Estava deitada sob a
cama com a testa encostada no chão frio. Procurei a mão
do meu irmão que estava ao meu lado. Ele sorriu ten-
tando passar confiança. Entrelacei meus dedos nos dele
e senti que estavam gelados como os meus. Tentei não
demonstrar o pavor que estava sentindo, mas um soluço
involuntário saiu dos meus lábios. O som dos tiros, as
rajadas de metralhadoras eram ouvidos à distância.
     — Acha que papai vai demorar, Rafael?
     — Deve estar esperando — disse apertando leve-
mente minha mão — Assim que o confronto terminar,
ele vem para casa.
     Concordei com a cabeça voltando a deita-la no chão.
Aos poucos, os sons foram diminuindo até que o silêncio
reinou. Suspiramos aliviados, esperamos por mais alguns
minutos antes de deixarmos o esconderijo improvisado.
     — Acabou — Disse indo até a porta — Você esta
bem? — Perguntou ajudando-me a ficar em pé.
     — Sim. E você?
     Ele sorriu.



                           9
— Sim, sem um aranhão.
      Ele tinha dezoito anos, havia uma diferença de
onze anos entre nós.
      — Gostaria de nunca mais ouvir esses sons. Eu te-
nho medo que uma bala nos acerte — reprimi um soluço
— Tenho medo que você morra — continuei sem conse-
guir conter as lágrimas — Só tenho você e o papai.
      — Ei, pequena! Não chore! — pediu me abraçan-
do — Não quero fazer promessas, mas confie em mim.
Um dia tudo vai melhorar. E não esqueça que temos,
além do papai, o Antunes.
      — Sim, ele é bom com a gente. Eu confio em
vocês, Rafael.
      Aquele foi um dos muitos confrontos que presenciei
entre traficantes e a polícia ao longo dos anos. Moráva-
mos em uma comunidade carente, na verdade um morro
que, por ser muito inclinado, era chamado de Torre de
Babel. As escadarias eram vistas da avenida. Ali imperava
a lei do silêncio. Cresci nesta lei, imposta pelo maior tra-
ficante do Estado de SP.
      A brincadeira das crianças era roubar carros e matar seus
ocupantes. Os mais velhos que já caminhavam para o tráfico,
ensinavam os mais novos o linguajar, como abordar as vítimas
e principalmente manusear armas. Nunca era permitido se
passar por policial. Essa era a primeira lição que aprendiam.
      Cinco meninos brincavam em uma carcaça de car-
ro. Eles entraram e dominaram o motorista que era um
deles. Antes que abrissem a boca, outro menino chegou
pela lateral, em sua mão havia uma arma improvisada
feita com um pequeno cabo de vassoura.


                              10
— Parado, polícia! Levantem as mãos! — Gritou ele.
      Uma sombra cobriu os cinco. Os meninos olharam
para o homem com os olhos arregalados.
      — Niko — disse o homem mansamente — Quan-
do seu pai adoeceu e sua mãe ficou impossibilitada de
trabalhar, quem colocou comida na mesa de vocês? Foi
o policial? Foi o delegado?
      — Nenhum... Nenhum dos dois — respondeu o
menino gaguejando de cabeça baixa.
      — Quem foi?
      — O senhor.
      — Quero ouvir o nome.
      — Daniel, o rei.
      — Isso, muito bem — falou passando a mão na ca-
beça do menino — Qual sua idade, Niko?
      — Cinco anos.
      — Já tem idade suficiente para começar a entender
a lei do morro. Eu dou proteção, cuido das pessoas. E
você se passa por um filho de uma puta de um policial!
— exclamou ele irritado — Nunca mais, nem por brin-
cadeira, faça isso. Entendeu?
      — Sim, senhor.
      — Ótimo! — ele sorria satisfeito — Isso vale para to-
dos. Polícia aqui não entra, nem na brincadeira de vocês.
      Estava sentada nas escadas, quando percebi que meu
irmão sentou-se ao meu lado. Olhava tudo com muita
curiosidade. “Polícia aqui não entra nem na brincadeira
de vocês” repetiu sério. Meu irmão não era um menino e
sempre soube muito bem o que queria da vida.
      — Nunca me deixei seduzir pelo dinheiro fácil deles


                            11
— disse na mesma noite olhando a movimentação dos
carros que paravam a meio fio das escadarias — Essa vida
nunca me atraiu. Até hoje não sabia muito bem o que
queria. Só sabia o que não queria.
      — O que mudou, Rafael? — perguntei
      — Hoje tive a certeza do que quero ser — ele se
aproximou — Vou ser policial, Maia. Vou defender a lei
e prender pessoas como o Daniel.
      — Não pode. Ele… ele
      — Ele não vai saber de nada. Só eu e você saberemos
o que sou realmente. Posso confiar meu segredo a você?
      — Claro, Rafa. Não vou abrir minha boca, nem
sob tortura.
      Ele sorriu e foi um sorriso que há muito tempo não via.
      Observar era meu passatempo preferido. Por ser crian-
ça, eles não se incomodavam com meu olhar curioso. Foi
observando que vi, ano após ano, Daniel ficar cada vez mais
rico. Traficante esperto era aquele que traficava, mas não
usava. Ele não era burro. Abastecia praticamente o Estado
inteiro embaixo do nariz da polícia. Era muito meticuloso,
nem todos os seus homens tinham livre acesso a ele. Os mais
próximos eram seus irmãos e suas mulheres. Uma delas era
minha mãe, que nos abandonou para viver com ele. Ela não
deixou lacuna nenhuma, era uma mulher fria, não demons-
trava carinho por mim e muito menos por meu irmão. Des-
de pequena, não me lembro de nenhum gesto de afeto ou
de uma palavra carinhosa. Eu preferiria ouvi-la gritando ou
esbravejando, mas se limitava a nos olhar com absoluta frie-
za, arrisco dizer até com desprezo. Definitivamente, foi um
alívio quando saiu de casa. Até meu pai suspirou aliviado.


                             12
Uma Promessa. (Maia). 10 anos
                   mais tarde


     Ouvi meu irmão me chamar.
     — Maia! Vamos! Vou sair mais cedo, tenho que
passar no banco. Faço companhia para você até a es-
cola. Saí rapidamente do quarto, peguei meu violão e
coloquei nas costas. Dei uma última olhada no espe-
lho da sala. Não era bem uma sala. Como o espaço era
mínimo, meu pai separou o cômodo em dois com um
tapume. Um ficou sendo a cozinha, o outro a sala. Era
pequeno, modesto, mas limpo.
     — Hoje vou fazer uma surpresa — Rafael levantou
a mão quando viu que eu ia interromper — Sem per-
guntas. Só à noite vou falar. Vamos embora. — Disse
pegando sua mochila que estava sobre o sofá.
     — Tudo bem. Vamos — Concordei fechando a porta.
     Descemos as vielas estreitas da favela. Onde passáva-
mos éramos cumprimentados. As crianças eram maioria.
Algumas mães desciam com seus filhos para leva-los à
escola, outras lavavam roupas em tanques improvisados
do lado de fora de suas casas. Morávamos quase no alto
do morro. Passamos por um rapaz que exibia uma sub-
metralhadora. Era um olheiro da boca. Não mexia com
os moradores e eles faziam vista grossa. Olhei de rabo de


                           13
olho para o meu irmão e vi claramente sua fisionomia de
revolta. Ninguém ali sabia da profissão dele.
     — Calma! Sozinho não fará nada.
     — Eu sei, eu sei — soltou um longo suspiro —
Queria contar a novidade mais tarde, mas vou falar agora
— parou fazendo suspense. — Maia, consegui um apar-
tamento. Vamos sair daqui.
     — Jura?
     — Sim. É um condomínio para militares — Falou
baixando o tom de voz — Vivo em constante perigo. Se
algum deles descobrir o que faço para viver…
     — Não devia ter voltado, Rafael, devia ter ficado
onde estava.
     — Só saí na época da academia. E depois papai fale-
ceu. Não podia deixar você sozinha aqui.
     — Eu sei. Mas, tinha Antunes, ele sempre olhou
por mim. E não se preocupe em ser descoberto, ninguém
sabe o que você faz nem vai saber. Lavo sua farda e a dei-
xo secar dentro da cozinha com tudo fechado.
     — Por isso quero tirar você daqui. Se corro perigo
você, também corre. Antunes mesmo andando do lado
errado sempre nos socorreu.
     — Eu sei, mas você não é o único que se esconde.
Há outros também.
     — Sim, há. Queremos mostrar que nos orgulhamos,
sou um tira, amo minha profissão. Mostrar isso aqui é pe-
dir para morrer. Que inferno! Odeio ter de me esconder.
     Entendia sua revolta, na comunidade, PM não en-
trava sem ser recebido à bala pelos traficantes. Rafael por
ser um, corria perigo de ser descoberto e as consequências


                            14
disso seriam terríveis, para nós dois. Sacudi levemente a
cabeça tentando afastar os pensamentos. Todos viviam
em constante vigilância. Quando ouvíamos os estouros
dos fogos, corríamos para dentro de casa sabendo que
mais um confronto estava para acontecer. Eram horas de
pânico. Olhei para ele e segurei sua mão. Ele tinha 28
anos, alto, musculoso, olhos verdes, seus cabelos eram
castanho-escuros. Era um homem bonito.
      — Promete uma coisa, Maia?
      — Claro.
      — Se qualquer coisa sair errada a primeira coisa que
vai fazer é sair daqui — parou fazendo-me parar também
–— Sair, Maia, sem olhar para trás.
      — Por que está dizendo isso? — Perguntei com a
impressão que ele sabia algo e não queria revelar.
      — Ouvi coisas. Não quero preocupar você. Só me
prometa.
      Estranhei a ênfase com que ele fazia o pedido, mas
concordei.
      — Ótimo, e não deixe de estudar, continue nas au-
las de violão. Promete?
      — Para com isso! — pedi com irritação — Nada vai
dar errado. E está pedindo três coisas.
      — Sim, eu sei. Mas promete?
      — E as crianças, Rafael? Vou abandoná-las? A custo
consegui fazer algumas se interessarem pelas aulas de violão.
      — Eu sei, mas tem que pensar em você também. Da-
niel está fechando o cerco sobre você. Sei que Marta colo-
cou você a par da situação — ele me parou — Ela falou
aquilo para te proteger. Acho que foi uma maneira de se


                             15
redimir. Mas duvido disso — disse com amargura — E
pelo que sei Carlos, também ajuda no centro comunitário.
     Mãe era um nome que ele não usava, por isso ao
invés de chama-la de mãe, quando falávamos dela –— o
que era raro — a chamávamos pelo nome: Marta. Tínha-
mos muita mágoa. Eu também não queria pensar no as-
sunto, voltei meus pensamentos para as crianças. Ele es-
tava certo, se eu saísse, elas não ficariam sozinhas. Carlos
era um dos moradores que também ensinavam no centro
comunitário, dava aula de computação e eu de violão.
     — Estou esperando. Promete?
     — Tá! Venceu! Eu prometo.
     — Ótimo. Olha — disse enfiando a mão no bolso
do jeans tirou algumas notas colocando em minha mão
—, isso é para você. Compre algo bem bonito e não que-
ro recusas — terminou fechando minha mão.
     Fiquei sem ação, não queria aceitar o dinheiro, ele já
pagava minhas aulas além de manter a casa.
     — Rafael...
     — É seu, use com você — me cortou — Como
vão as aulas?
     — Obrigada — agradeci guardando no bolso — As
aulas estão cada dia melhor. Obrigado por pagar por elas.
     — Você nasceu para isso. Nasceu para cantar! Maia,
um dia vai ser famosa, você tem talento.
     — Não quero ser famosa, só gosto de cantar e tocar,
isso me basta. Quero ajudar as pessoas, Rafa.
     — Ajudar?
     — É — suspirei e olhei em volta — Só não sei ainda
em que área. O vestibular está ai, tenho que decidir.


                            16
— Pensa com calma, se mais tarde sentir que errou,
é só mudar. E sabe que vou pagar a sua faculdade.
      — Eu sei, mas vou procurar um trabalho.
      Olhou-me com carinho sorrindo levemente.
      — Só se for para trabalhar de madrugada, você não
tem tempo para nada. — Suspirei, ele tinha razão.
      — Não se preocupe com isso por enquanto. Tudo
vai se resolver.
      — Parece decepcionado, Rafa. — observei vendo a
sua fisionomia triste.
      Ficou calado por alguns minutos, continuamos a
descer as escadarias que pareciam intermináveis.
      — Quando se é jovem fantasiamos que podemos
fazer a diferença. Hoje vejo que não é bem assim.
      — O que aconteceu? Para mim você faz a diferença,
sem você…
      — Falo do sonho... — ele me interrompeu — Do so-
nho de melhorar a vida das pessoas. Sou um só, sou correto
e honesto. Amo minha profissão, mas esperava muito mais
— disse lançando um olhar para outro menino armado.
      — Rafael, está exigindo muito de você. Segue a
lei faz o que pode. Acho que conseguiu tantas coisas.
Só o fato de estar no caminho correto já é uma vitória.
Lembra-se do Niko?
      — Sim.
      — Ele é um dos homens do chefe. Homem, não! É
só um menino, tem 15 anos, já responde por latrocínio.
É triste ver a infância perdida. Orgulho-me de você.
      — Obrigado, Maia. Eu também me orgulho e
muito de você.


                           17
Pegamos o ônibus, antes de chegar ao meu ponto dei
um beijo nele. Ele segurou em minha mão, abraçando-
-me. Senti meus olhos arderem. Não gostei da sensação
que senti, tive vontade de chorar não soube explicar por
quê. Desci quase em frente à escola de música. Ele ficou
em pé, virando-se em minha direção, me olhou com um
sorriso, levantou à mão acenando, fiz o mesmo. Fiquei
olhando até o ônibus sumir de vista.




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Cap1

  • 2.
  • 3. Márcia Paiva Série: Segredos Que Ferem São Paulo 2012
  • 4. Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Adriana Brazil - http://www.adrianabrazil.com Revisão Bianca Bione Marcia Rios - http://www.apaixonadaporlivros.com Diagramação Monica Rodrigues Esta obra é fictícia, qualquer semelhança com nomes, locais e fatos é mera coincidência. Todas as informações contidas no livro foram incansavelmente pesquisadas. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ P169s Paiva, Márcia Sem Perdão / Marcia Paiva. - São Paulo : Baraúna, 2012. (Segredos que ferem, 1) Inclui índice ISBN 978-85-7923-469-9 1. Romance brasileiro. I. Título. II. Série. 12-0143. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 09.01.12 11.01.12 032477 ________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04507-020 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br
  • 5. Agradecimentos Agradeço a Deus em primeiro lugar. Obrigada, Senhor! Ao meu marido, por sua paciência e compreensão. Amor, sem você isso não seria possível! Aos meus filhos, Gustavo e Eduardo, que me viam sentada no computador por horas a fio, sem ter muito tempo para eles: Amo vocês! Obrigada por tentar ajudar a mamãe, não fazendo muita bagunça e nem gritando. Esse livro dedico a vocês três, que são minha vida. Um agradecimento especial ao meu cunhado e ami- go Rafael Martins que foi a primeira pessoa a ler meu livro e a me incentivar a continuar. Não poderia deixar de agradecer às pessoas que conheci na blogosfera pelo cari- nho e força Edmundo Spot, Van Bosso, Danilo Barbosa, Paola Patricio, Márcia Rios, Fernanda Meireles, Nanuka Andrade, Babih Hilha, Adriana Oliveira e muitos outros. Obrigada a todos vocês.
  • 6.
  • 7. Sumário Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Uma Promessa (Maia) 10 anos mais tarde . . . . . . 13 Um dia de cão (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Tragédia (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 Flashes (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Pacto (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Onde está Maia? (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Morando nas Ruas (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 Um fio de esperança (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . 83 Última noite (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 Cumprindo o Pacto (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 Reencontro (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 Revelação (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 O que é certo? (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Smille (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 Longe dos olhos (Guedes). . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Fazer sexo e fazer Amor! (Maia) . . . . . . . . . . . . 147 Escape (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Descobrindo a verdade (Maia) . . . . . . . . . . . . . 169 Por um fio (Guedes). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
  • 8. Fuga por uma Noite (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . 181 Visita inesperada (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . 193 De volta ao centro (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 Como se fosse a 1ª vez (Guedes) . . . . . . . . . . . 219 Estela (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225 Antunes (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 235 Dia da Festa (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 Pesadelo (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273 Sem Perdão (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 283 190 (Guedes) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301 Fio de vida (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309 Palavras de um menino (Guedes) . . . . . . . . . . . 323 Uma homenagem (Maia) . . . . . . . . . . . . . . . . . 331 Uma canção para nós dois (Guedes) . . . . . . . . . 337 Epílogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341
  • 9. Prólogo Zona Leste, SP O suor cobria minha testa, os cachos de meus ca- belos grudavam em meu pescoço. Estava deitada sob a cama com a testa encostada no chão frio. Procurei a mão do meu irmão que estava ao meu lado. Ele sorriu ten- tando passar confiança. Entrelacei meus dedos nos dele e senti que estavam gelados como os meus. Tentei não demonstrar o pavor que estava sentindo, mas um soluço involuntário saiu dos meus lábios. O som dos tiros, as rajadas de metralhadoras eram ouvidos à distância. — Acha que papai vai demorar, Rafael? — Deve estar esperando — disse apertando leve- mente minha mão — Assim que o confronto terminar, ele vem para casa. Concordei com a cabeça voltando a deita-la no chão. Aos poucos, os sons foram diminuindo até que o silêncio reinou. Suspiramos aliviados, esperamos por mais alguns minutos antes de deixarmos o esconderijo improvisado. — Acabou — Disse indo até a porta — Você esta bem? — Perguntou ajudando-me a ficar em pé. — Sim. E você? Ele sorriu. 9
  • 10. — Sim, sem um aranhão. Ele tinha dezoito anos, havia uma diferença de onze anos entre nós. — Gostaria de nunca mais ouvir esses sons. Eu te- nho medo que uma bala nos acerte — reprimi um soluço — Tenho medo que você morra — continuei sem conse- guir conter as lágrimas — Só tenho você e o papai. — Ei, pequena! Não chore! — pediu me abraçan- do — Não quero fazer promessas, mas confie em mim. Um dia tudo vai melhorar. E não esqueça que temos, além do papai, o Antunes. — Sim, ele é bom com a gente. Eu confio em vocês, Rafael. Aquele foi um dos muitos confrontos que presenciei entre traficantes e a polícia ao longo dos anos. Moráva- mos em uma comunidade carente, na verdade um morro que, por ser muito inclinado, era chamado de Torre de Babel. As escadarias eram vistas da avenida. Ali imperava a lei do silêncio. Cresci nesta lei, imposta pelo maior tra- ficante do Estado de SP. A brincadeira das crianças era roubar carros e matar seus ocupantes. Os mais velhos que já caminhavam para o tráfico, ensinavam os mais novos o linguajar, como abordar as vítimas e principalmente manusear armas. Nunca era permitido se passar por policial. Essa era a primeira lição que aprendiam. Cinco meninos brincavam em uma carcaça de car- ro. Eles entraram e dominaram o motorista que era um deles. Antes que abrissem a boca, outro menino chegou pela lateral, em sua mão havia uma arma improvisada feita com um pequeno cabo de vassoura. 10
  • 11. — Parado, polícia! Levantem as mãos! — Gritou ele. Uma sombra cobriu os cinco. Os meninos olharam para o homem com os olhos arregalados. — Niko — disse o homem mansamente — Quan- do seu pai adoeceu e sua mãe ficou impossibilitada de trabalhar, quem colocou comida na mesa de vocês? Foi o policial? Foi o delegado? — Nenhum... Nenhum dos dois — respondeu o menino gaguejando de cabeça baixa. — Quem foi? — O senhor. — Quero ouvir o nome. — Daniel, o rei. — Isso, muito bem — falou passando a mão na ca- beça do menino — Qual sua idade, Niko? — Cinco anos. — Já tem idade suficiente para começar a entender a lei do morro. Eu dou proteção, cuido das pessoas. E você se passa por um filho de uma puta de um policial! — exclamou ele irritado — Nunca mais, nem por brin- cadeira, faça isso. Entendeu? — Sim, senhor. — Ótimo! — ele sorria satisfeito — Isso vale para to- dos. Polícia aqui não entra, nem na brincadeira de vocês. Estava sentada nas escadas, quando percebi que meu irmão sentou-se ao meu lado. Olhava tudo com muita curiosidade. “Polícia aqui não entra nem na brincadeira de vocês” repetiu sério. Meu irmão não era um menino e sempre soube muito bem o que queria da vida. — Nunca me deixei seduzir pelo dinheiro fácil deles 11
  • 12. — disse na mesma noite olhando a movimentação dos carros que paravam a meio fio das escadarias — Essa vida nunca me atraiu. Até hoje não sabia muito bem o que queria. Só sabia o que não queria. — O que mudou, Rafael? — perguntei — Hoje tive a certeza do que quero ser — ele se aproximou — Vou ser policial, Maia. Vou defender a lei e prender pessoas como o Daniel. — Não pode. Ele… ele — Ele não vai saber de nada. Só eu e você saberemos o que sou realmente. Posso confiar meu segredo a você? — Claro, Rafa. Não vou abrir minha boca, nem sob tortura. Ele sorriu e foi um sorriso que há muito tempo não via. Observar era meu passatempo preferido. Por ser crian- ça, eles não se incomodavam com meu olhar curioso. Foi observando que vi, ano após ano, Daniel ficar cada vez mais rico. Traficante esperto era aquele que traficava, mas não usava. Ele não era burro. Abastecia praticamente o Estado inteiro embaixo do nariz da polícia. Era muito meticuloso, nem todos os seus homens tinham livre acesso a ele. Os mais próximos eram seus irmãos e suas mulheres. Uma delas era minha mãe, que nos abandonou para viver com ele. Ela não deixou lacuna nenhuma, era uma mulher fria, não demons- trava carinho por mim e muito menos por meu irmão. Des- de pequena, não me lembro de nenhum gesto de afeto ou de uma palavra carinhosa. Eu preferiria ouvi-la gritando ou esbravejando, mas se limitava a nos olhar com absoluta frie- za, arrisco dizer até com desprezo. Definitivamente, foi um alívio quando saiu de casa. Até meu pai suspirou aliviado. 12
  • 13. Uma Promessa. (Maia). 10 anos mais tarde Ouvi meu irmão me chamar. — Maia! Vamos! Vou sair mais cedo, tenho que passar no banco. Faço companhia para você até a es- cola. Saí rapidamente do quarto, peguei meu violão e coloquei nas costas. Dei uma última olhada no espe- lho da sala. Não era bem uma sala. Como o espaço era mínimo, meu pai separou o cômodo em dois com um tapume. Um ficou sendo a cozinha, o outro a sala. Era pequeno, modesto, mas limpo. — Hoje vou fazer uma surpresa — Rafael levantou a mão quando viu que eu ia interromper — Sem per- guntas. Só à noite vou falar. Vamos embora. — Disse pegando sua mochila que estava sobre o sofá. — Tudo bem. Vamos — Concordei fechando a porta. Descemos as vielas estreitas da favela. Onde passáva- mos éramos cumprimentados. As crianças eram maioria. Algumas mães desciam com seus filhos para leva-los à escola, outras lavavam roupas em tanques improvisados do lado de fora de suas casas. Morávamos quase no alto do morro. Passamos por um rapaz que exibia uma sub- metralhadora. Era um olheiro da boca. Não mexia com os moradores e eles faziam vista grossa. Olhei de rabo de 13
  • 14. olho para o meu irmão e vi claramente sua fisionomia de revolta. Ninguém ali sabia da profissão dele. — Calma! Sozinho não fará nada. — Eu sei, eu sei — soltou um longo suspiro — Queria contar a novidade mais tarde, mas vou falar agora — parou fazendo suspense. — Maia, consegui um apar- tamento. Vamos sair daqui. — Jura? — Sim. É um condomínio para militares — Falou baixando o tom de voz — Vivo em constante perigo. Se algum deles descobrir o que faço para viver… — Não devia ter voltado, Rafael, devia ter ficado onde estava. — Só saí na época da academia. E depois papai fale- ceu. Não podia deixar você sozinha aqui. — Eu sei. Mas, tinha Antunes, ele sempre olhou por mim. E não se preocupe em ser descoberto, ninguém sabe o que você faz nem vai saber. Lavo sua farda e a dei- xo secar dentro da cozinha com tudo fechado. — Por isso quero tirar você daqui. Se corro perigo você, também corre. Antunes mesmo andando do lado errado sempre nos socorreu. — Eu sei, mas você não é o único que se esconde. Há outros também. — Sim, há. Queremos mostrar que nos orgulhamos, sou um tira, amo minha profissão. Mostrar isso aqui é pe- dir para morrer. Que inferno! Odeio ter de me esconder. Entendia sua revolta, na comunidade, PM não en- trava sem ser recebido à bala pelos traficantes. Rafael por ser um, corria perigo de ser descoberto e as consequências 14
  • 15. disso seriam terríveis, para nós dois. Sacudi levemente a cabeça tentando afastar os pensamentos. Todos viviam em constante vigilância. Quando ouvíamos os estouros dos fogos, corríamos para dentro de casa sabendo que mais um confronto estava para acontecer. Eram horas de pânico. Olhei para ele e segurei sua mão. Ele tinha 28 anos, alto, musculoso, olhos verdes, seus cabelos eram castanho-escuros. Era um homem bonito. — Promete uma coisa, Maia? — Claro. — Se qualquer coisa sair errada a primeira coisa que vai fazer é sair daqui — parou fazendo-me parar também –— Sair, Maia, sem olhar para trás. — Por que está dizendo isso? — Perguntei com a impressão que ele sabia algo e não queria revelar. — Ouvi coisas. Não quero preocupar você. Só me prometa. Estranhei a ênfase com que ele fazia o pedido, mas concordei. — Ótimo, e não deixe de estudar, continue nas au- las de violão. Promete? — Para com isso! — pedi com irritação — Nada vai dar errado. E está pedindo três coisas. — Sim, eu sei. Mas promete? — E as crianças, Rafael? Vou abandoná-las? A custo consegui fazer algumas se interessarem pelas aulas de violão. — Eu sei, mas tem que pensar em você também. Da- niel está fechando o cerco sobre você. Sei que Marta colo- cou você a par da situação — ele me parou — Ela falou aquilo para te proteger. Acho que foi uma maneira de se 15
  • 16. redimir. Mas duvido disso — disse com amargura — E pelo que sei Carlos, também ajuda no centro comunitário. Mãe era um nome que ele não usava, por isso ao invés de chama-la de mãe, quando falávamos dela –— o que era raro — a chamávamos pelo nome: Marta. Tínha- mos muita mágoa. Eu também não queria pensar no as- sunto, voltei meus pensamentos para as crianças. Ele es- tava certo, se eu saísse, elas não ficariam sozinhas. Carlos era um dos moradores que também ensinavam no centro comunitário, dava aula de computação e eu de violão. — Estou esperando. Promete? — Tá! Venceu! Eu prometo. — Ótimo. Olha — disse enfiando a mão no bolso do jeans tirou algumas notas colocando em minha mão —, isso é para você. Compre algo bem bonito e não que- ro recusas — terminou fechando minha mão. Fiquei sem ação, não queria aceitar o dinheiro, ele já pagava minhas aulas além de manter a casa. — Rafael... — É seu, use com você — me cortou — Como vão as aulas? — Obrigada — agradeci guardando no bolso — As aulas estão cada dia melhor. Obrigado por pagar por elas. — Você nasceu para isso. Nasceu para cantar! Maia, um dia vai ser famosa, você tem talento. — Não quero ser famosa, só gosto de cantar e tocar, isso me basta. Quero ajudar as pessoas, Rafa. — Ajudar? — É — suspirei e olhei em volta — Só não sei ainda em que área. O vestibular está ai, tenho que decidir. 16
  • 17. — Pensa com calma, se mais tarde sentir que errou, é só mudar. E sabe que vou pagar a sua faculdade. — Eu sei, mas vou procurar um trabalho. Olhou-me com carinho sorrindo levemente. — Só se for para trabalhar de madrugada, você não tem tempo para nada. — Suspirei, ele tinha razão. — Não se preocupe com isso por enquanto. Tudo vai se resolver. — Parece decepcionado, Rafa. — observei vendo a sua fisionomia triste. Ficou calado por alguns minutos, continuamos a descer as escadarias que pareciam intermináveis. — Quando se é jovem fantasiamos que podemos fazer a diferença. Hoje vejo que não é bem assim. — O que aconteceu? Para mim você faz a diferença, sem você… — Falo do sonho... — ele me interrompeu — Do so- nho de melhorar a vida das pessoas. Sou um só, sou correto e honesto. Amo minha profissão, mas esperava muito mais — disse lançando um olhar para outro menino armado. — Rafael, está exigindo muito de você. Segue a lei faz o que pode. Acho que conseguiu tantas coisas. Só o fato de estar no caminho correto já é uma vitória. Lembra-se do Niko? — Sim. — Ele é um dos homens do chefe. Homem, não! É só um menino, tem 15 anos, já responde por latrocínio. É triste ver a infância perdida. Orgulho-me de você. — Obrigado, Maia. Eu também me orgulho e muito de você. 17
  • 18. Pegamos o ônibus, antes de chegar ao meu ponto dei um beijo nele. Ele segurou em minha mão, abraçando- -me. Senti meus olhos arderem. Não gostei da sensação que senti, tive vontade de chorar não soube explicar por quê. Desci quase em frente à escola de música. Ele ficou em pé, virando-se em minha direção, me olhou com um sorriso, levantou à mão acenando, fiz o mesmo. Fiquei olhando até o ônibus sumir de vista. 18