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Literatas
                                                                                           PROPRIEDADE DO




Director: Nelson Lineu | Editor: Eduardo Quive | Maputo, 02 de Março de 2012 | Ano II | N°20 | E-mail: r.literatas@gmail.com

Portugal

  Acordo Ortográfico entre o aceitar e o ignorar


Rita Dahl

“Escrevo
textos
Híbridos”                                                                                           Entrevista—Páginas 8 e 9




                                                                Lançado nesta sexta-feira em Luanda
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Editori@l
            Depois duma incursão pela objectiva…


                   H
                               á uma coisa que sempre nos preocupou entre nós – cá entre nós - (se
                               assim pode-se dizer): Afinal, o que se passa com a Literatura Brasilei-
                               ra?
                   Antes que entremos em saturantes linhas de reflexão, não se trata de “um pro-
                   blema” que a literatura daquele país enfrenta, mas é a sua grandeza que nos faz
                   questionar. Agora pode-se reformular a questão: que segredos norteiam a bem-
                   feição da literatura Brasileira?
   É que esses brasileiros são bons para receber prémios. Agora foi a vez do Madala (velho) Rubem
   Fonseca que arrancou (e diz-se em Changana, barrabatissou) dos outros escritores de língua por-
   tuguesa, o Prémio Casino da Póvoa, inserido no Correntes d’Escrita, edição 2012. Estamos a falar
   de um prémio que vale 20 mil euros que eram cobiçados por outros grandes cérebros da escrita,
   como Teolinda Gersão, Maria Teresa Horta e Hélia Correia.
   Perante os factos, resta-nos dizer como eles: “só falta o Prémio Nobel para o Brasil”. Uns recla-
   mam-no para Manuel Bandeira e Carlos Drumond de Andrade, outros para Jorge Amado, este
   último a ser digno de uma homenagem pelo seu centenário, iniciativa para qual a nossa revista
   também contribui. Quanto a isso, só nos vale dizer que tudo tem hora certa para acontecer. Um
   prémio não se reclama, ele nos é dado por merecer.
   Já em Angola, Roderick Nehone, lança para as ruas de Luanda ou até dos Musseques (favelas), “O
   Catador de Bufunfa”, uma necessidade imediata de se evacuar da terra a preguiça e ir-se atrás
   duma via para se ter dinheiro. Pena que Maputo só precisa de Catadores de Lixo!
   Contudo Nehone, que é jurista de profissão e exercendo actualmente o cargo de Vice-presidente
   da União dos Escritores Angolanos (UEA), está decidido a enriquecer a literatura do seu país, mas
   sem substituir “O Ano de Cão” obra que lançara em 1998 e que será posta novamente em circula-
   ção.
   Mas o grande assunto mesmo, nesta edição vigésima, é a “perturbadora” conversa com Rita Dahl.
   De Maputo, galgamos até Finlândia e com os depoimentos desta escritora, passamos a desmistifi-
   car os rótulos literários desse país onde a lusofonia se faz sentir. Uma entrevista inspiradora. É
   caso para dizer que a lusofonia é diversidade na plenitude. Na altitude. Na literacia e na tertúlia.
   Assim celebramos o retorno às edições mistas, depois duma incursão pela objectiva.
   Vem mais novidades por aí, mas vender peixe a barato não é de bom feitio, por isso, deixemos
   para as próximas páginas tais novidades. Até lá.
                                                                                      Eduardo Quive
                                                                           eduardoquive@gmail.com
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Rubem Fonseca vence Prémio Literário Casino da Póvoa
O
          brasileiro Rubem Fonseca foi distinguido com o Prémio
         Literário Correntes D’Escritas | Casino da Póvoa pelo seu
         livro Bufo & Spallanzani, uma edição Sextante. O prémio foi
entregue no sábado, 25 de Fevereiro, na Sessão de Encerramento do
evento, às 18h30. Bufo e Spallanzani é, segundo a editora, «um livro
de perfil policial com muita literatura dentro: uma mulher da alta
sociedade aparece morta, tem uma relação com um escritor que está
escrever um livro, o detective é uma espécie de Columbo e o marido
um rico mafioso. Vários suspeitos, uma história complexa, lírica e
dura».
José Rubem Fonseca nasceu a 11 de Maio de 1925 em Juiz de Fora, em
Minas Gerais.
É formado em Direito, tendo exercido várias actividades antes de dedicar-
se inteiramente à literatura. Em 2003 venceu o Prémio Camões, o mais
prestigiado galardão literário para a língua portuguesa, uma espécie
de Prémio Nobel para escritores lusófonos.

As obras de Rubem Fonseca geralmente retratam, em estilo seco e direc-
to, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassi-                               Outros vencedores
nos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam. A história através da
ficção é também uma marca de Rubem Fonseca, como nos roman-                      1.º – “O sonho do professor Jorge”, da turma SP do 4º. Ano da Séction
ces Agosto (seu livro mais famoso) em que retratou as conspirações que           Portugaise du Lycée de Saint-Germain-en-Laye – França
resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, e em O Selvagem da Ópera em            2.º – “Martinho descobre que as mãos que falam”, da turma E da EB
que retrata a vida de Carlos Gomes, ou ainda A Cavalaria Vermelha, livro         Bairro Duarte Pacheco, S. Victor, Braga
de Isaac Babel retratado em Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos.            3.º - “No Reino da Alfabetária”, da Turma B da EB1/JI Condes da Lou-
                                                                                 sã/Damaia – Amadora
Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um persona-
gem antológico: o advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral,                                        Menções Honrosas
além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi trans-
formado em série para a rede de televisão HBO, com roteiros de José              Texto: ―Um Feiticeiro Infeliz‖, da Turma 4B da Escola Comendador
Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o actor Marcos Palmeira no papel-            Ângelo Azevedo, de S. Roque – Oliveira de Azeméis
título.                                                                          Ilustração: ―Futebol Planetário‖, da Turma 4D da EB1 n.º 1 de Sines


Roderick Nehone lança “O Catador de Bufunfa”
Livro lançado Hoje as 18:30 minutos na União dos Escritores Angolanos, em Luanda. Na ocasião será
posta em circulação a nova edição de O Ano do Cão (romance de consagração, 1998), do mesmo autor.


O
         livro a ser apresentado por Sílvia Ochôa Arez e João Melo, este          Apesar de estupefacto,
        último jornalista, escritor e ensaísta, retrata a história, contada em    incrédulo, Nazaré entra, e
        primeira mão, de Nazaré dos Relâmpagos de Abril, um estafeta e            o que lá acontece faz com
autodidacta, que pede uma licença sem vencimento no órgão público em              que a sua vida mude para
que trabalha, para tentar a sua sorte como trabalhador por conta própria.         sempre.      Deixando-se
                                                                                  levar pelo sensível farejo
                                                         Semanas depois,          do seu nariz, o homem
                                                         sem conseguir um         começa a intermediar sem
                                                         novo       emprego       pruridos morais os mais
                                                         regular,    quando       esquisitos negócios até
                                                         começou a faltar         finalmente converter-se
                                                         até o pouco a que        numa pessoa que conse-
                                                         já se habituara, o       gue sustentar-se, com
                                                         homem se desespe-        confiança, sobre os seus
                                                         ra e vê não chegar       próprios dois pés, os de
                                                         luz alguma no fun-       carne e ossos e os dos
                                                         do do túnel em que       negócios.
                                                         se aventurara.
                                                                                  RODERICK         NEHO-
                                                    Decide         então          NE, pseudónimo de Fre-
                                                    tomar de assalto a            derico Manuel dos Santos
                                                    rua em busca de               e Silva Cardoso, nasceu
                                                    ideias, já que quase          em Luanda, Angola, a 26 de Março de 1965. Em 1989 concluiu a
nada tinha para vender e muito menos para comprar. Quando lhe parecia             Licenciatura em Direito na Universidad Central de Las Villas, Cuba, e
não poder agarrar sequer a última esperança ambulante na multidão, um             foi docente da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, de 1991 a
vendedor de rua mostra-lhe um lugar onde poderia encontrar as ideias que          2004. É membro da Ordem dos Advogados de Angola e Vice-
procurava.                                                                        Presidente da União dos Escritores Angolanos.
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Em Portugal

  Governo admite rever Acordo Ortográfico
Depois da decisão de Vasco Graça Moura de ignorar o Acordo Ortográfico nas comunicações do CCB,
foi ontem a vez de o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, vir olhar com cautelas
para os imperativos da nova escrita do Português. A três anos da implementação definitiva da nova
ortografia unificada às nações da Língua, Viegas diz que há trabalho a fazer para afinar as palavras.

Fonte: RTP                Com um desagrado
Foto: Lusa                pessoal ontem confes-
                          sado durante um pro-
grama da TVI face ao novo acordo ortográfico e
à forma como foi conduzida a sua implementa-
ção, o secretário de Estado da Cultura admite
que até 2015 cada um use o português escrito
como muito bem entender, dentro das possibili-
dades abertas entre a velha ortografia e o novo
acordo.

―Gosto de algumas regras, outras não. O proces-
so não foi bem encaminhado. O acordo ortográ-
fico está em discussão há 20 anos. Discutiram-
se as coisas à última da hora‖, lamentava o
governante.

Depois, defende Viegas que, sendo ―do ponto de
vista teórico (…) uma coisa artificial‖, a orto-
grafia pode ser alvo de trabalho: ―Portanto, podemos mudá-la. Até 2015                  da nossa Língua, escreverá como lhe apetecer‖, sublinhou Francisco
podemos corrigi-la, temos essa possibilidade e vamos usá-la. Nós temos que              José Viegas.
aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar. Temos três anos para o fazer‖.―O que
é bom considerar é o seguinte: do ponto de vista teórico, a ortografia é uma
                                                                           ―Vasco Graça Moura é uma das pessoas que mais refletiu sobre a ques-
coisa artificial, provavelmente, e portanto, se é artificial, nós podemos mudá
                                                                           tão do acordo ortográfico. É uma das pessoas que mais se empenhou no
-la. Mas temos uma vantagem. É que até 2015, podemos corrigi-la. Temos     combate contra o acordo, em termos pessoais. Vasco Graça Moura é um
essa possibilidade e eu acho que vamos usá-la‖.                            grande criador da nossa língua‖, acrescentou, para considerar
                                                                           ―absolutamente ridículo que várias pessoas que não têm qualquer inti-
―Temos de aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo, midade nem com a escrita, nem ortografia, nem com a nova, nem com a
temos três anos para o fazer‖                                              velha, terem vindo criticar e pedir sanções‖.
Um dos casos que nos últimos tempos voltou a colocar o acordo ortográfico
nas páginas da atualidade foi a decisão do recentemente nomeado presidente Fazendo uso da ironia, o secretário de Estado da tutela lembrou que
do CCB (Centro Cultural de Belém), Vasco Graça Moura, de mandar retirar ―todos os portugueses têm a possibilidade de escolher a sua ortografia.
o corretor ortográfico dos computadores da Fundação CCB.                   Não há uma polícia da língua, há um acordo que não implica sanções
                                                                           graves para ninguém‖.
Já se sabia a posição de Vasco Graça Moura em relação ao acordo. Agora, o Dava Viegas o exemplo do seu próprio caso, que, enquanto escritor,
presidente do CCB conta com o apoio oficial do Governo: ―Os materiais ofi- tem dúvidas e fará assim ―uso dessa possibilidade, como todos os portu-
ciais do CCB obedecem à norma geral que vigora desde 1 de Janeiro em       gueses podem fazer uso dessa possibilidade, isto é, a competência que
todos os organismo do Estado. Vasco Graça Moura, um dos grandes autores têm para escolher a sua ortografia‖.



             “Rapunzel e outros poemas da infância”
D
          epois de ―Escritos no Ônibus‖ livro lançado em 2010, o escritor Jairo         Rinaldo de Fernandes, Linaldo Guedes, Fábio Cardoso, Roberto Denser, entre
          Cézar trás para a Literatura Brasileira o seu mais recente trabalho intitu-   outros.
          lado ―Rapunzel e outros poemas da infância.                                   Segundo o autor, o livro foi concebido para ser uma ponte para outras leituras,
Programado para estar nas mãos do público a partir do dia 17 de Março, o livro a        pois provoca o leitor com poemas curtos que descrevem cenas recortadas de
ser lançado na última hora da tarde, na Livraria Leitura, no Manaíra Shopping,          histórias como Rapunzel, os Três Porquinhos, Pinóquio, A Bela e a Fera etc.
em João Pessoa, é composto por 25 poemas escritos para o público infantil e,                                                                                Biografia
aliando a alma aos interesses dos bons olhos, a obra conta com ilustrações colori-      Jairo Cézar é escritor e professor. Nasceu em João Pessoa em 1977, mas é
das de Tônio e João Baptista, por sinal, o pai do poeta.                                radicado em Sapé desde os primeiros dias de vida. Lançou, em 2010, Escritos
Assim, Jairo Cézar, reafirma o seu compromisso com a arte de escrita, trazendo a        no Ônibus, livro de poemas que levou o prémio Novos Escritos da Fundação
sua criação poética ―fingida‖ para o imaginário mundo infantil, com a apresenta-        Cultural de João Pessoa – FUNJOPE. Em 2011, foi um dos vencedores do
ção, no acto de lançamento, da professora e Crítica literária da Fundação Nacio-        Prémio Nacional Canon de poesia, pelo poema O Maestro, e integra antologia
nal do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba, Neide Medeiros.                             com mais 49 poetas de todo país. Foi o primeiro director do Memorial Augus-
A poesia de Jairo Cézar em ―Rapunzel e outros poemas da infância‖ vai desde a           to dos Anjos em Sapé, realizando trabalhos voltados à formação de leitores.
releitura de grandes clássicos infantis até aos animais que povoam o mundo fan-         Edita o blog literário http://escritosnoonibus.blogspot.com/ e mantém forte
tasioso dos pequenos e pequenas. Rapunzel tem prefácio do professor Fábio Viei-         actividade cultural através do Núcleo Literário CAIXA BAIXA, grupo de
ra e conta ainda, com depoimentos de Sérgio de Castro Pinto, Águia Mendes,              jovens escritores paraibanos, do qual é membro fundador.
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Livros & Leitores
        Nome: Chico Carneiro                                                              Hérlio da Conceição Manjate
                                                                                          Estudante: I ano do curso Física UEM
        Profissão: Cineasta
                                                                                          19 anos, residente na cidade Matola
        Está a ler: Marcha Para Oeste
        Da autoria dos irmãos Cláudio e Leonardo Villas Boas                       Actualmente lê José Craveirinha (Xigubo), o poema que
Estou a ler dois livros em simultâneo um de dia e um de noite. Um é moçambi-       mais o interessou foi “Quero ser Tambor”, para ele o livro é
cano, João Paulo Borges Coelho - sobre a Guerra em Moçambique -O Olho de           viajar no tempo e ver o mundo como era. Ao ler cada poe-
Hertzog, um livro diferente mais denso em relação a primeira obra do mesmo         ma sente uma coisa a tocar-lhe em relação a o que lê. Esse
autor que já li, refiro-me à As Visitas do Dr Valdez, comprei recentemente e       leitor, chama-se Hérlio Manjate.
estou nas primeiras 20 páginas.
Em relação a outra obra (brasileira), que na verdade estou a reler é o livro da
epopeia para quem conhece o Brasil. Foi na década de 40 quando o Brasil foi
desestranhado ou seja foi feita uma expedição para entrar Brasil adentro para
realmente se conhecer, pois nessa altura era pouco conhecido, e esses irmãos
                                                                                                                  Maputo Blues
Villas Boas que estavam a frente dessa expedição que era uma expedição feita
ou financiada pelo governo brasileiro com o objectivo principal de ocupar o bra-                                 AUTOR: Nelson                  Saúte       -
sileiro das terras brasileiras, e também conhecer o que tinha dentro das mesmas.                                 Moçambique
Estou a falar da floresta Amazónica que na altura era completamente desconhe-
cida, e as tribos indígenas que viviam naquela região, a expedição demorou                                       “Maputo Blues é uma notícia sem
vários anos, a chamada expedição Muka do xingu, e foi registada num livro                                   dúvida importante no cenário da
                                                                                                            poesia moçambicana (…)
pelos dois irmãos (…)
                                                                                                            A proposta de Nelson Saúte corre
                                                                                                            noutra direcção, perseguindo notas
        Géssica Cardoso, estudante de II ano do curso de tradu-                                             capazes de combinar a marrabenta
        ção em Francês na Universidade Eduardo Mondlane, 21                                                 de Fanny Mpfumo com o jazz de
        anos, residente da cidade de Maputo                                                                 Billie Holiday , fazendo da escrita
                                                                                                            literária a travessia entre os muitos
Géssica Carsoso, está a ler Niketche de Paulina Chiziane, gostou da
                                                                                   pontos do planeta. E é nesse compasso que ele investe na sua
união das mulheres, mas não da relação da família do homem, com
a nora. Sublinha que o que acontece muito entre nós ao morrer o                    relação com as matrizes que compõem o que para o autor é a
chefe da família os seus familiares virem levar todos pertences do                 sua tradição literária‖
falecido.
“As pessoas deve ler Niketche de Paulina Chiziane por trazer coisas                Rita Chaves
vividas no nosso dia-a-dia, principalmente as mulheres, porque
podem aprender a conviver com estas situações”, diz Géssica.
                                                                                                                        O Útero da Casa
                             Inventário das                                                                             AUTOR:    Conceição
                             Angústias ou                                                                               Lima – São Tomé e
                                                                                                                        Príncipe
                             Apoteose do Nada
                                                                                                                         (…) «O Útero da Casa é um livro
                                                                                                                         diferente. Obra de análise íntima,
                             AUTOR:  Sangare                    Okapi         —                                          traz-nos por vezes a meia voz, atra-
                             Moçambique                                                                                  vés da saudade e da mistificação
                                                                                                                         das coisas amadas, a cor e a alma da
                                                                                                                         ilha mãe de São Tomé, a sua den-
                         ―Da leitura que fiz dos poemas, reparei que,                                                    gue beleza, sua viuvez, seus palma-
á semelhança de um Rui Knopfil, Okapi insiste numa determinada                                                           res, o cantar dos búzios, a casa (o
identidade e / ou naturalidade (…) A estratégia poética com que Oka-                                                     útero) centro do mundo, presente e
pi aborda a matéria do seu livro lembra a provocação com que Fili-                                                       futuro. Alta, perpétua claridade,
mone Meigos celebra o absurdo ate a exaustão. A filosofia de que                                                         pedra de reunião.
assuntos deprimentes poderão também ser cantados, marca que carac-                 Nestes versos em que se confrontam criaturas e lugares do outrora, que o
teriza Eduardo White, por exemplo, parece ser a filosofia adoptada                 tempo magnifica, com a nitidez do hoje, ouvimos a brisa nos canaviais,
por Okapi. Neste contexto, pode-se afirmar que Sangare Okapi pode                  sentimos o odor do café e do cacau, vemos os ibiscos e o barro verme-
ser inscrito na mesma temática e estratégia de escrita dos três autores            lho, o perfil da mesquita, a cidade morta, o mar.
                                                                                   Lê-se a mátria na terra sensual, até na luz da fruta, no sangue da lua, nas
a que me referi, ou seja, os outros <<Prometeus>> do nosso Moçam-
                                                                                   mãos de húmus e basalto.
bique (…).‖                                                                        Conceição Lima escreve-se, em ideia e corpo, na carne viva da ilha.»

Sara Jonas                                                                         (Urbano Tavares Rodrigues)
SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012                                |   LITERATAS         |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                    6


Cartas
                               Espaço aberto para debate e comentários sobre assun-
                                  tos literários. Mande-nos uma carta pelo e-mail:
                                                r.literatas@gmail.com

                                                                                                      Prezados amigos moçambicanos,
 FICHA TÉCNICA
                                                                             nova mente a revis-      fiquei muito satisfeito com a homena-
                                                Ei Am   osse, adorei receber
                                                                                ativa, como sem-      gem ao Madala José Craveirinha. Mais
                                                ta. Está muito bonita e inform                        que merecida e sempre um nome a ser
                                                                                  possa contribuir
                                                pre. Es  pero que em breve eu                         reverenciado. Foi uma ótima escolha o
                                                                                paralelo entre a
                                                 com     escrita, fazendo um                          texto da Rita Chaves, um dos melhores
                                                                               to e Paulina Chi-      de nossas ensaístas. Parabéns! Aproveito
                                                 escrita de Conceição Evaris
                                                                                   stante apertada,   para congratular o prestidigitador eméri-
Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa
Direcção e Redacção                              ziane. N esse momento estou ba                       to Eduardo Quive, que fez um belo poe-
                                                                                   um momento de
                                                           do a tese, mas espero
Centro Cultural Brasil - Mocambique
Av. 25 de Setembro, N°1728,
                                                  escreven                                            ma para o Velho Zé, assim como dignos
                                                                         é abril?
C. Postal: 1167, Maputo                           intervalo quem sabe at                              de notas os textos produzidos por Amos-
                                                                         e do Brasil.                 se Mucavele e Japone Arijuane (valeu
                                                  Um forte abraço, meu                                arriscar a espacialidade da palavra na
Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46
                                                                                                      folha em branco).
603
                                                                                                      Meu grande abraço para todos e um bom
Fax: +258 21 02 05 84
                                                                        Horizonte
E-mail: kuphaluxa@sapo.mz                         Rosália Diogo/ Belo                                 final de semana.
Blogue: literatas.blogs.sapo.mz
                                                                                                      Ricardo Riso/ Rio de Janeiro

           DIRECTOR GERAL
               Nelson Lineu
         (nelsonlineu@gmail.com)
          Cel: +258 82 27 61 184               Queiram receber antes meu abraço. Com letras.
       DIRECTOR COMERCIAL
                                               Andei um tempo sem cabeça para os outros, e sei que isso não é bom. Hoje abro meu email e
             Japone Arijuane                   vejo a vossa revista, vinda de um gesto ao qual agradeço.
         (jarijuane@gmail.com)                 Provavelmente não poderei tecer um comentário sólido sobre o que li, mas posso avançar
         Cel: +258 82 35 63 201
                                               que este desafio tem alma, uma alma que não é pequena e, quando a alma não é pequena,
                 EDITOR                        concretiza, tudo vale a pena.
              Eduardo Quive
        (eduardoquive@gmail.com)
                                               Resido agora em Inhambane, que tal uma colaboração minha! Uma coluna! Algumas coisas
          Cel: +258 82 27 17 645               sobre os poetas que andam por aqui!
                                               De grão a grão enche a galinha o papo.
        CHEFE DA REDACÇÃO
            Amosse Mucavele                    Dou-vos a maior força.
       (amosse1987@yahoo.com.br)               Abraço. Com letras.
          Cel: +258 82 57 03 750

  REPRESENTANTES PROVINCIAIS                                                               Alexandre Chaúque / Inhambane
        Dany Wambire—Sofala
     Lino Sousa Mucuruza—Niassa


       COLABORADORES FIXOS                     Projecto LITERABRINCANDO do KUPHALUXA leva o escritor e contador de estórias
Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Cata-
 rina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa —
                                                 Rafo Diaz para a Escola Comunitária Imaculada Conceição, aredores da cidade de
           Portugal), Mauro Brito.                                                  Maputo.
              COLUNISTA
          Marcelo Soriano (Brasil)

             FOTOGRAFIA
           Arquivo — Kuphaluxa


               PARCEIROS

   Centro Cultural Brasil—Mocambique

             Portal Cronopios
           www.cronopios.com.br

              Revista Blecaute

   Revista Culturas & Afectos Lusofonos
  culturaseafectoslusofonos.blogspot.com
SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012                                   |   LITERATAS            |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                                        7
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Poesia                                                    No meio da confusão
                                                          Ouviu-se Quincas dizer:                 Mukurruza—Lichinga
                                                          “- Me enterro como entender
                                                                                                               À eterna memória da Celina Sousa Mucuruza
                                                          Na hora que resolver.
                                                          Podem guardar seu caixão
                                                          Pra melhor ocasião.
                                                          Não vou deixar me prender              … almoço,          e               colho           o        nojo
                                                          Em cova rasa no chão.”                 Dopado           pelo    V
                                                                                                                                 E
                                                          E foi impossível saber                                                       N
                                                                                                                                           T
                                                          O resto de sua oração.                                                               O,       em       poesia
                                                                                                 Na divina tatuagem
                                                                                                            Tatuada              no         tempo que (colho),
Kha tembe-Moçambique
                                              Um Sonho Poético
                                                                                                                                  No          longo mar da divina
          no meu país a fome                                                                     Esperança!
              cai oblíqua                                                                        Desesperada, oh! … … … … … … V
                                                                                                                                                    E
        como um sol de dentes                Dhiogo Caetano-Brasil                                                                                      N
              desnutridos
         que faz muita sombra                Naquela noite...                                                                                                T
                                                                                                                                                                 O, que
                                             Participei de um banquete dos deuses...             rubra,
  mas o meu país de boca aberta
       tem aves na garganta                  O espírito grego romano preparou a mesa onde        Incasável      ao       sopro      eterno!
  e o céu mais limpo do mundo
                                             os mais diversos paladares estavam presentes,
                                             quando do Olímpio ouvi aos ecos o som dos
                                             meus poemas.
Senhora dos Sois                                                                                                                        Segredos do voo
                                             Dionísio pessoalmente bebeu vinho do saber,
                                             quando repetia seguidas vezes os meus versos,
                                                                                                   HIPÓTESES
                                                                                                                                       Eliseu Armando
Miriam Alves-Brasil                          poemas e letras como cânticos líricos...
Sou                                          Sarcasticamente as musas brincavam com as           Zeferino Massingue
       chama
                                                                                                                          Na escuridão
       lama                                  rimas.                                                                       duas aves
       magna moldado                                                                                                      partilham segredos
                                             Na terra os homens invocam os deuses.           Não há reajuste
               endurecido                                                                                                 concentram-se
                                             A paz, a igualdade social avassaladoramente     Senão hipóteses do Faustino partem
Sou
                                                                                             A vida de metralha na África sem destino.
                                             invadia as ruas, cidades e guetos.
      naturalidade                                                                           O destino de negro milenar
      vento esfriamento dos tempos           Os versos pairam no ar e se tornam insufladores                              Hélder Macedo-Portugal
                                             dos excessos através da história.                   Voando com o pedaço de
Esquecer                                                                                         panos                                 Tempo houve
        meu rosto                            Vejo a luz de um novo mundo, que se inspira                                               quando ainda havia tempo
                                                                                                 Um autêntico escândalo de presos
              gosto                          nos versos de libertação, amor e igualdade entre    Uma pedagogia semanal                 em que a morte estava perto
             Não posso!
                                                                                                 Mas dizem: produzimos,                porque esta longe
 Sangro                                      os irmãos.
        emvermelho                                                                               Algodão e citrinos                    podia sabê-la
         empreto                             Aquele momento era tão real, tão concreto...                                              no desconhecido
o choro de todos os dias                                                                                                               dos corpos que eu fosse
                  a dor                      Mas tudo se findou em um simples desperta...        Leite e sumo                          para não serem meus
Esquecer?                                                                                        Mal nutridos são as nossas            no sabor a mar
                                                      DEDICAÇÕES
         Não posso!                                                                              mangueiras                            dos ventres pulsando
Sou                                                                                              Nudez de palha vão vestindo            no sangue e no mostro
      o azul infinito                                                                            A roupa usada de cheiro               de qundo o deserto
Arco-Íris
          onde o grito Arroboboi risca um    J.A.S. Lopito feijóo K.-Angola                      característico                        que quase já sou
                                                                                                                                       na sombra que seja
          Sois me guiam
                                             I                                                   Hipóteses de Faustino
                                                                                                                                       do que não serei
                                             Zanzi bar de bar em bar                                                                   nos colava em rios
                                                                                                 É uma vergonha
Sou luz                                                                                                                                a fonte e a foge
        aura da incandescência rubra negra   cheiras no ar                                       De quem produz algodão
                                                                                                                                       sem morte e sem tempo
Sou pedra                                                                                        Se beneficiar de roupa usada.
         bruta gema diamante engastada na
                                             imensas noites ao luar                                                                    sem perto e nem longe
rocha sólida                                 teu sublime aspecto lunar                                                                 sem mim e sem ti
Ergui voz, cabeça, espada                                                                                                              de me para ti
A palavra basta ressoou                      embriaga minhas contas de somar                                                           de ti para me
                      estourou as paredes    Zanzibar de intensos copos ou eterna                                                      a dar a morte ao tempo
divisórias                                                                                                                             a dar tempo à morte
                                             maneira de amar!                                                                          no tempo que sobra
                                                                                                                                       do nada que é tudo
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Entrevista                                                                                                     por Eduardo Quive


Uma Poesia Híbrida
                                                                          E            screver poesia é ser mais do que si
                                                                                     própria, é ser muitas vezes algo que
                                                                               desconhece. Mas da sua palavra acredita
                                                                          que o mundo sobrevive, tal como a semente
                                                                                  que gera os frutos que saciam barrigas
                                                                                vazias. E é mesmo assim “escrevo textos
                                                                               híbridos que atravessam as fronteiras da
                                                                                 poesia”, talvez porque “acho que textos
                                                                          híbridos se relacionam também com a escri-
                                                                           ta africana”. Estamos no meio duma viagem
                                                                              literária para fora. Fora de Moçambique e
                                                                            dos países da CPLP. Transgredimos a regra
                                                                             editorial? Não. Estamos fora dos países de
                                                                           expressão portuguesa, mas estamos dentro
                                                                            da lusofonia, estamos dentro do horizonte
                                                                            de falantes do português. Uma entrevista a
                                                                                 escritora finlandesa Rita Dahl. Poetisa,
                                                                          ensaísta, contista e descrevista de embarca-
                                                                               ções. Uma viajante de múltiplas falácias.
                                                                             Fala e escreve em sete línguas e tem maior
                                                                             influência nos países de expressão portu-
                                                                          guesa. Rita Dahl é uma proposta para inspi-
                                                                                                              rar gentes.




Literatas: Como é o seu processo de criação? Como surgem os textos?               não - ficção, e as vezes especialmente a minha poesia poderia ser definida
Rita Dahl (R.D) - Não há nenhuma resposta digamos ―regular‖ nessa pergunta.       como textos híbridos, que atravessam as fronteiras da poesia, prosa e ensaios.
Os textos surgem como surgem. As vezes estou inspirada pelos lugares que visi-    Por alguma razão textos híbridos, que vem bem facilmente de mim. Acho que
tei ao todo mundo da Europa até América Latina, outras vezes me fascina escre-    textos híbridos se relacionam também com a escrita africana.
ver ensaios sobre coisas bem mais vastas como poesia/política.
                                                                                  Literatas: Quais são as questões que mais procura levantar nas suas
Literatas: E como define a sua literatura?                                        obras?
R.D - A minha escrita varia. Escrevo poesia, ensaios, livros de viagem, contos,   R.D - Não há só uma única resposta nessa questão. Quero em primeiro lugar
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Entrevista                                                                                                         por Eduardo Quive
Continuação
levantar muitas questões variadas na minha obra. Até agora tem sido por exemplo paí-      Literatas: No início da sua carreira, terá escrito algo que achou não
ses lusófonos, a justiça e responsabilidade social, a liberdade da palavra, poesia/s em   ter qualidade?
línguas lusófonas (e outras línguas também, explorando principalmente as sete línguas     R.D - Bom, eu comecei a ler a literatura (Dostojevcki, T.S. Eliot) e escre-
que falo), questões sobre a minha própria poética/política e poética/politica/s pelos     ver aos 11 anos. Com certeza escrevi – e ainda escrevo – algo sem tanta
outros poetas lusófonos (exemplos do poeta brasileiro Wilmar Silva que escreve usan-      qualidade, mas eu fui desde início, ambiciosa quanto a escrita e estudos:
do na sua linguagem de amor, e poeta português Alberto Pimenta).                          quero exprimir em primeiro lugar minhas facetas várias numa maneira
                                                                                          literária.
Literatas: Será a poesia o género que mais gosta de escrever? Porquê?
R.D - Não só. Eu procuro sempre ser ―múltipla‖ como disse Walt Whitman. Vou ain-          Literatas: Qual é a sua maior preocupação antes e depois de lançar
da escrever prosa, gostaria de escrever também romance/s, publicar livro/s de ensaio/s    um livro?
                                                                                          R.D - Eu queria que o meu livro fosse lido por profissionais e que o criti-
e mais livros sobre temas sociais. Vejo se um dia chego lá.
                                                                                          cassem e pelos júris, podendo o nomear como candidato de diversos pré-
Literatas: Embora finlandesa, tem procurado se evidenciar nos países falantes de          mios (preferivelmente com prémios de dinheiro) e finalmente pelos leito-
língua portuguesa, no caso concreto de Portugal e
Brasil. O que a leva a pautar por esses caminhos?
R.D - Não só Brasil e Portugal. Tenho traduzido dois
poetas de Angola e Cabo Verde também. Bom, curto
dito, eu fiz a segunda licenciatura (Master's Thesis)
sobre heterónimos de Fernando Pessoa e por isso che-
guei a Universidade Clássica de Lisboa para estudar
linguística por um ano. A primeira licenciatura fiz sobre
Ciências Politicas. Depois tirei ainda mais alguns cur-
sos de verão, comecei a traduzir a poesia escrita na lín-
gua portuguesa, embora que tenha traduzido poesia
escrita em outros idiomas. Também organizo antologia
da poesia finlandesa em português (será lançada no
Brasil ainda este ano) e em espanhol (espero que seja
lançada pelo menos em México, talvez em Argentina
também).

Literatas: O que tem feito concretamente nesses paí-
ses?
R.D - Para além do que já tinha me referido anterior-
mente, tenho participado aos encontros (Encontro Inter-
nacional dos Poetas na Universidade de Coimbra, onde
encontrei com poeta-performer brasileiro Márcio
André, António Jacinto Pascoal, João Rasteiro e José
Luís Tavares de Cabo Verde e leituras dedicados a
minha poesia – ultimamente cantei Sibelius, Faure, em
Coimbra, uma vez que sou soprano clássica. Participei
no evento PORTUGUESIA ambos em Belo Horizonte,
Brasil, e Vila Nova de Famalicão, Portugal, neste ano.                                    res digamos ―inferiores‖. Para o livro (da poesia) chegar às mãos deles é
                                                                                          preciso se obter boa crítica.
Literatas: Entende que o que escreve carrega a universalidade?
Depende do leitor. Espero que carregue, mas também somos criadores das nossas pró-        Literatas: Quando se fala de literatura no mundo, pouco tem se des-
prias culturas: isso é inevitável. Nem podemos, nem temos que nos adoptar completa-       tacado a Finlândia. O que acha sobre isso? O que origina o anonima-
mente às outras culturas.                                                                 to da Literatura desse país?
                                                                                          R.D - Finlândia é um país com 5 milhões de habitantes. O facto do país
Literatas: Tem livros traduzidos para português?                                          ser tão pequeno pode constituir um dos motivos. Por outro lado, não
R.D - Ainda não. Espero de o tiver ainda no ano próximo. Será lançado pelo Anome          temos muitos faladores da língua portuguesa que poderiam transmitir a
Livros de Wilmar Silva. Tenho alguns poemas publicados nas revistas brasileiras,          informação e seu tempo para esta causa.
como antiga revista de Confraria do Vento.
                                                                                          Literatas: Que referências literárias tem de Moçambique?
Literatas: Dentre vários livros seus, qual você considera o mais importante da            R.D - Mia Couto, no primeiro lugar. Não conheço mais referências. Infe-
sua carreira? Porquê?                                                                     lizmente.
R.D - Gosto muito do meu livro de viagem sobre Portugal e o último sobre Brasil, por-     A literatura moçambicana é conhecida, em primeiro lugar, pelos roman-
que ambos, são bem ambiciosos, muito mais do que guias, querem entender um pouco          ces e contos de Mia Couto, que – quanto a mim – é um dos melhores,
da mentalidade da gente e levantar questões críticas sobre temas como a justiça e res-    senão o melhor, na língua portuguesa em África.
ponsabilidade social (especialmente quanto aos povos originais).
                                                                                          Literatas: Tem contacto com a Literatura Africana? O que sabe
Literatas: Quais são os autores de língua portuguesa que conhece? Com quem                dela?
tem mais contacto?                                                                        R.D - Claro que tenho contacto com a literatura africana pela leitura e
R.D - Teria que mencionar uma lista demasiado longa. Basta dizer que conheço mui-         pelas visitas a Nigéria (em Book and Art – festival no ano 2006 e na con-
tos. Tenho mais contacto com alguns poetas brasileiros e alguns portugueses. Já men-      ferência entre escritoras de Saudi-Arabia e escandinavas no ano 2008).
cionei alguns deles.                                                                      Organizei também um projecto com escritores africanos dos vários países
                                                                                          anglófonos e escritores finlandeses. Como vice-presidente de PEN Clube
Literatas: Quais foram os seus melhores momentos na vida como escritora?                  da Finlândia e presidente do comité das escritoras (2006-2009, 2005-
R.D - Ainda não posso responder essa questão. Ainda estou a espera do momento             2009) organizei um evento internacional para escritoras de Ásia Central e
melhor. O momento último.                                                                 duas antologias, uma das quais bilingue.

Literatas: O que é um escritor? O que o diferencia de outros na sociedade? O que          Literatas: O que podemos esperar da Rita nos próximos tempos?
é essencial para se ser bom escritor?                                                     R.D - Espero que um livro de poesia. A antologia da poesia portuguesa
R.D - Para mim, o escritor é alguém que escreve de obrigação interna numa maneira         editada e traduzida por mim com 10 poetas. O livro de ensaios sobre poe-
mais ambiciosa e variada do que o possível, e quer sempre encontrar mais escritores       sia e política. Perfil dum poeta conhecido finlandês. E quem sabe mais
ambiciosos que pertençam ou não ao cânon literário.                                       coisas!
SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012                                                |    LITERATAS                        |     LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                                            10

                                                                                             Filosofonias
Colunistas                                                                                                                                              Marcelo Soriano — Brasil
                                                                                                                                                        m.m.soriano@gmail.com
O passo certo

                                    no caminho errado

                                    Nelson Lineu - Maputo
                                    nelsonlineu@gmail.com



                                       A careca e a                                                                                    (Foto: Berkeley T. Compton, from http://bit.ly/yOBy53 )

                                                                                                                            Conto Poético da Loucura Infantil
                                                 barriga                                     Horizonte... Lá onde as aventuras nadam nuas... Aos olhos do peixe vermelho,
                                                                                             as pessoas vão e vêm, mergulhadas na prisão de paredes transparentes, do lado
                                                                                             de fora do aquário. É amando que se sabe. Se não sei, talvez não ame. As



H
          abitualmente prende-se pessoas são para prote- nuvens... Garças brancas a debandar sonhos... Passarinhos não choram.
          ger a sociedade, e o Fernando Paulo encontra-se Passarinhos cantam no desespero das próprias penas. Vejam! Eu posso voar!
          naquele local para se proteger daquela socieda- Fui criança!■
de. Também não era para menos, tanta gente a fazer baru-
                                                             .........................................................................................................................................
lho na sua casa, panfletos pendurados, assobios, insultos, a
                                                                                       Sobre o Fim do Mundo em 12-12-12
população queria acabar a pobreza com as suas próprias
mãos, o que não devia ser, como o fazer justiça tinha pes- Quando menino, aos sete ou oito de idade, escondia-me atrás da barra da saia da minha mãe
                                                             sempre que uma cigana batia à porta para pedir um copo d'água que, na verdade, acabava em
soas capacitadas para tal assim também devia ser com a
                                                             uma moeda de pagamento para que fosse embora, de volta ao mundo que a criou como, ao que
pobreza, era isso que defendia o chefe da polícia quando
                                                             diziam as más línguas, ladrona de meninos para transformá-los em sabão. Volto àquela idade
conversava com a população enfurecida.
                                                                                             em que eu era um reles alvo de bruxas e ciganas raptoras de crianças, porque, naquela época

Fernando Paulo que chegara no bairro há um mês, com a                                        (pelos idos de 1973), também houve este rumor de que o mundo acabaria em um prazo de sete
                                                                                             dias. Esperei escondido dentro de um roupeiro a data anunciada por nossos vizinhos que eram
sua chegada a população local sentia que o nada que justi-
                                                                                             fervorosos freqüentadores da Igreja Testemunhas de Jeová. O mundo não acabou conforme o
ficava a existência deles tinha dias contados.
                                                                                             anúncio da apocalíptica vizinhança. Depois daquilo, várias vezes, no transcorrer desta minha
Fazia-se transportar por um Mercedes que multiplicando o                                     existência, o fim do mundo foi anunciado e, já, quase um incrédulo, aguardei com um certo
salário da população daquela zona durante um ano não                                         risinho debochado no semblante. Nunca veio o tal "Fim do Mundo". Desta vez, desculpem-me

compraria, por isso comentário como esses: - a nossa histó-                                  os céticos, eu creio. Pia e cegamente, acredito que o mundo será levado a cabo em 12/12/12,

ria começará a ser escrita por uma outra cor.                                                aliás, vou mais longe... Será às doze horas, doze minutos e doze segundos. Não, não será nada
                                                                                             fantástico, apoteótico, cinematográfico... Será simples e corriqueiro. Um evento tão habitual e
Os dias foram passando a mesmice continuava, as dificul- sem graça que a humanidade adormecerá e, simplesmente, apagar-se-á da Face da Terra. O que
dades nadavam a mesma velocidade, as necessidades e as virá depois? Nada. Assim como aconteceu aos dinossauros, os homens estarão extintos e só
faltas brigavam para mais um espaço. As pessoas continua- sobrarão os ossos que, num futuro incerto, contarão de modo fragmentado a história biológica
vam a fazer barulho só que desta vez no posto policial. O deste ser que julgava-se "O Centro do Universo", mesmo depois de saber cientificamente que
homem da lei, pediu silêncio para resolver o problema ele, o Universo, não girava em torno de si, digo, o Universo sequer percebia a sua existência
depois de ouvir ambas partes, cada por sua vez, e foi sen- em meio aos bilhões de galáxias perdidas no espaço sideral. O que faremos depois que o
tenciando já com todos juntos, dizendo que o novo vizinho mundo acabar? Esta é a resposta a ser sanada. Eu, por exemplo, por via das dúvidas, já tracei
                                                           meu Plano B para o caso de, como nas oportunidades anteriores, ele nos trair e, de novo, não
era um motorista, o casaco e gravata que usava sempre era
                                                           acabar. Vejam três mensagens que estarão escritas na minha agenda no dia 13/12/12:
como ele devia apresentar-se no trabalho, a careca era
                                                           1. É. O mundo não acabou, logo, levanta e vai trabalhar, vagabundo!
natural, o mesmo acontecia com a barriga, aquele senhor
                                                           2. Postar nas redes sociais alguma piadinha infame sobre "O Mundo não Acabou, e agora?!"
não tem nada a ver com aqueles eles.
                                                                                             Ligar para a Agência Bancária pedindo, "pelo amor de Deus!", ao gerente para que aumente o
                                                                                             meu crédito, pois todos os cheques emitidos ontem, em meio à embriaguez da festa de
Pelos nossos políticos que é quase impossível distinguir                                     "saideira" do Planeta Terra precisarão ser compensados e, infelizmente, não têm fundos.
com empresários, apresentarem-se com casaco e gravata                                        Sobre o meu Plano A, caso o mundo realmente acabe em 12/12/12? Não há que se fazer

não obstante a elevada temperatura que se faz nesse canto                                    planejamento algum sobre isso, pois, como diz a sabedoria popular, "o que não tem solução,

do mundo, terem carecas e barrigas grande, as pessoas                                        solucionado está". Ou, então, como diz o Ditado Popular: " Quando o estupro é inevitável, o
                                                                                             jeito é relaxar e aproveitar!".
quando viram o Paulo naquela zona em que pessoas com
                                                                                             ....................................................................
os seus aspectos físicos e aparências só passavam de cinco
                                                                                                E TENHO DITO!
em cinco anos, os populares pensaram que as promessas
teriam saltado das gavetas.                                                                    HÁ O TRIDIMENSIONAL E O TRISTEMENSIONAL.
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                            Em Agosto de 2012

                  Maputo será a capital da Literatura



    Festival Literário de Maputo
                      Saiba como participar em:

        http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com
             festivalliterario.maputo@gmail.com


                        Para ser parceiro ligue:
                          +258 82 57 03 750
                          +258 82 35 63 201
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Personagem                                                                                                               Guiné-Bissau

Tony Tcheka (António Soares Lopes)
N
            os primeiros momentos da independência da Guiné-Bissau, a
            cultura apresentava-se com contornos de autêntico suporte da
            Nação a construir. Casa da Cultura, Instituto do Livro e do
Disco, Escola de Musica, Ateliers de pintura, tudo acontecia numa agenda
recheada de frenesim nacionalista que tinha por meta a incontornável
reconstrução nacional.
É neste contexto que pela vez primeira, um grupo de jovens (14) identifi-
cados com o movimento de libertação nacional, viu os seus textos poéti-
cos editados pelo Conselho Nacional de Cultura, sob o titulo ―mantenhas
para quem luta‖. Numa terra sem tradição editorial e pouco habituada a
ver os seus filhos a tratar dos seus assuntos sob forma literária, a dimensão
e o impacto do evento foram enormes e sem dúvidas marcou para sempre
a literatura do país das bolanhas e dos poilões sagrados .
Uma obra colectiva dos ―Meninos da Hora de Pindjiguiti‖ (assim chamou Durante três anos foi funcionário da UNICEF para Comunicação Social e Advo-
Mário Pinto de Andrade aos jovens poetas autores do Mantenhas para cacy. Na Swedish Save The Children – Radda Barnen, trabalhou como respon-
                                                                                sável de Programas e Projectos e Representante Nacional. Foi ―Focal Point‖ da
quem Luta).
                                                                                IRIN (ONU) na Guiné Bissau e pertenceu à Comissão Nacional da UNESCO.
Tony Tcheka, natural de Bissau, poeta e jornalista, considerado por alguns
                                                                                Hoje é colunista da revista LUSOGRAFIAS, comentador da RTP, Freelancer,
especialistas da literatura guineense como um dos nomes que tem marca-
                                                                                funções que acumula com as de consultor para projectos de desenvolvimento e
do a poesia que faz no seu país, era um dos meninos... e pode ser lido em
                                                                                formador de jornalistas.
todas as antologias produzidas na Guiné-Bissau.                                                                           CANTO À GUINÉ
Autor de ―Noites de Insónia na Terra Adormecida‖ (1987), foi coordena-
                                                                                        POVO ADORMECIDO
                                                                                                                          Guiné
dor de três antologias poéticas editadas na Guiné-Bissau (Mantenhas para
                                                                                                                           sou eu
quem Luta; Antologia da Poesia Moderna Guineense; Eco do Pranto) inte-                  Há chuvas                            até depois da esperança
                                                                                        que o meu povo não canta
gra diferentes antologias publicadas em várias partes do mundo:                         Há chuvas                         Guiné
―Anthologie Littéraire de l´Afrique de l´Ouest‖ Paris-França); Antologia                que o meu povo não ri               és tu
                                                                                                                             camponês de Bedanda teimosa-
Brasileira ―No Ritmo dos Tantãs‖; ―Na Liberdade (Lisboa Portugal);                      Perdeu a alma                     mente
                                                                                        na parede alta do macaréu
―Rumos dos Ventos‖ (Fundão-Portugal); ―Anna‖ (Alemanha); Poesia da                                                           procurando a bianda na bolanha
                                                                                                                             que só encontra água na mágoa
Guiné – Bissau (Grã Bretanha) e é citado no ―Dicionário temático da                     Fala calado                       da tua
                                                                                        e canta magoado                   lágrima
Lusofonia‖ (Lisboa-Portugal) e no ―Além-Mar‖ (Lisboa-Portugal)
Entre prémios e distinções que lhe foram atribuídos destaca-se: Diploma                 Vinga-se no tambor                Guiné
                                                                                        na palma e no caju                  és tu
de Honra concedido pelo ISCE – Instituto Superior das Ciências da Edu-                  mas o ritmo não sai                   criança sem tempo de ser
cação de Lisboa, pelo conjunto das suas obras; ―Diploma de Mérito Grau                                                    menino
                                                                                        Dobra-se sob o sikó
de Engenheiro de Almas atribuído pela Sociedade de Autores Guineenses                   como o guerreiro vergado          Guiné
(SGA) pela contribuição dada à literatura guineense; Ainda do “SGA”                     cala o sofrimento no peito         és tu
                                                                                                                              mulher-bidera
recebeu mais três Diplomas na área de Jornalismo (televisão, rádio e                    O meu povo                               em filas de insónia
imprensa escrita).                                                                      chora no canto                               noites di kumpra pon
                                                                                        canta no choro                                          (mafé di aos)
Enquanto jornalista fez parte do primeiro grupo de jornalistas que traba-               e fala na garganta do bombolon
lhou e lançou os alicerces da Rádio nacional (RDN) como Redactor-                                                         Guiné
                                                                                        Grei silêncio
Produtor e mais tarde seu director. Foi Chefe de Redacção e Director do                 quebrado                           é um grito
                                                                                        nas gargalhadas de Kussilintra       saído de mil ais
Jornal Nô Pintcha. Foi durante muitos anos correspondente da BBC de
                                                                                        em quedas de água                      que se acolhe n calcanhar
Londres, da TSF de Lisboa; Analista e comentador da Voz da América,                     moldando pedras                   da terra adormecida
                                                                                        esfriando corpos
BBC, Voz da Alemanha e RDP África. Na área da imprensa escrita, foi                     esculpidos                        Mas
correspondente do Público; LUSA, Tanjug; ANOP, NP… Em Lisboa                            no corpo do bissilão

durante três anos foi editor da Revista África Lusófona. Na Televisão foi                                                 Guiné somos todos mesmo depois
                                                                                                                          da
produtor e apresentador do programa Fórum-RTP.                                                                            esperança
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Ensaio                                                                  Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco - UFRJ

Conceição Lima: a Vigília e um outro Olhar sobre a História

M
           aria da Conceição Costa de Deus Lima nasceu na Ilha de São Tomé em                 submerso na memória histórica. É um ser cindido, que se debate entre as
           1961, trinta e cinco anos depois de D. Alda que poderia ser sua mãe.               reminiscências do outrora e a fratura do presente. Nos primeiros poemas, conforme
           Pertence, portanto, a uma geração poética bem mais jovem, tendo                    palavras de Inocência Mata no prefácio ao livro, há a procura "de um lugar matricial
escrito e publicado após a independência. Estudou jornalismo em Portugal e                    em que assenta a busca da utopia e do sonho" ( O Útero da casa, p. 12). No entanto,
                                                                                              a utopia e o sonho, no universo poético de Conceição Lima, não mais apresentam as
licenciou-se em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King´s College de
                                                                                              conotações encontradas nos poemas de Alda do Espírito Santo. Na poiesis de
Londres. É mestre em Estudos Africanos pela School of Oriental and African                    Conceição, há o pleno conhecimento de que o templo mátrio se transformou num
Studies. Atualmente, trabalha na BBC de Londres em programas que dizem                        castelo melancólico (O Útero da casa, p.18), de que as quimeras sociais foram
respeito à Língua Portuguesa. Tem muitos poemas em antologias, jornais e                      interrompidas e se encontram soterradas, sob as ruínas da História. Há, portanto,
revistas. Até o presente momento, possui apenas dois livros de poesia publicados              absoluta consciência de que tudo, atualmente, é fugaz, transitório, não havendo mais
pela Editora Caminho de Lisboa: O Útero da casa (2004) e A Dolorosa raiz do                   crenças proféticas no futuro, nem certezas em relação a projetos acabados. Como
micondó ( 2006).                                                                              tecelã do precário, a voz enunciadora vai tecendo o poema e a reescrita da casa,
Nossa análise privilegiará O Útero da casa, cujo lirismo intimista não impede,                permeada por forte sentimento de inconclusão.
contudo, um olhar vigilante sobre o passado e o presente do país. Nesse livro, a
voz lírica enunciadora dos poemas, situada na encruzilhada de esgarçadas                      Sobre os escombros da cidade morta
                                                                                              Projectei a minha casa
lembranças pessoais e coletivas, tem plena consciência tanto do outrora histórico,
                                                                                              Recortada contra o mar.
como do atual contexto político-social de São Tomé, onde os antigos sonhos se                 Aqui.
encontram desfigurados. Após o ardor da independência, Conceição Lima procura                 Sonho ainda o pilar
reabitar, com lucidez, não só a casa, metáfora da mátria e da nação3, mas                     Uma rectidão de torre, de altar.
também o poema, espaço discursivo sobredeterminado, onde a linguagem se faz                   Ouço murmúrios de barcos
morada do ser e reflexão sobre a História.                                                    Na varanda azul.
                                                                                              E reinvento em cada rosto fio
Após o ardor da reconquista                                                                   A fio
não caíram manás sobre os nossos campos                                                       As linhas inacabadas do projecto.

E na dura travessia do deserto                                                                                                                             ( O Útero da casa, p. 20).
aprendemos que a terra prometida era aqui
                                                                                              Em A Dolorosa raiz do micondó, publicado em 2006, Conceição Lima continua na
Ainda aqui e sempre aqui.                                                                     senda de revisitar criticamente a história de São Tomé e Príncipe. Contudo, como
Duas ilhas indómitas a desbravar.                                                             "uma aracne4 dos tempos atuais", conhece a própria limitação de sua tecelagem:
O padrão a ser erguido
pela nudez insepulta dos nossos punhos.                                                       Eu e a minha tábua de conjugações lentas
                                                                                              Este avaro, inconstruído agora
                                                (Apud: Sonha Mamana África, p.227-228)        Eu e a constante inconclusão do meu porvir

Depois da euforia provocada logo a seguir à libertação de São Tomé e Príncipe do jugo                                                           (A Dolorosa raiz do micondó, p. 13)
colonial, a poética de Conceição Lima emerge com forte singularidade, apresentando um
olhar vigilante, cujo compromisso se estabelece, em primeiro plano, com a reescrita da        A proposta de um olhar corrosivo em relação à História5, presente desde O Útero da
terra natal, "duas ilhas indómitas a desbravar", segundo versos da própria autora. Para que   casa, se mantém e é aprofundada no segundo livro de Conceição Lima, onde um dos
a capacidade de sonhar não se perca totalmente, a poetisa usa a consciência crítica. Sabe     poemas reescreve poeticamente o massacre ocorrido, em 1953, nas Ilhas de São
que, no litoral da aurora da liberdade de seu país, há ainda muitas pedras amargas. Por       Tomé e Príncipe, quando o governador Carlos de Sousa Gorgulho reprimiu
isso, um clima de melancolia envolve seus poemas. A transitoriedade percorre a obra da        violentamente as populações rebeldes, tendo provocado muitas mortes. A dolorosa
autora, onde, em vários de seus textos, os sujeitos líricos se assumem peregrinos, buscando   raiz do micondó é uma alegoria das dores vividas pelos habitantes das Ilhas em
a transparência dos tempos ancestrais, anteriores ao colonialismo e à luta armada. Esses      decorrência da opressão colonial; alude a uma árvore da flora local que viu chegarem
sujeitos poéticos exorcizam a memória da violência vivenciada por São Tomé e Príncipe         ao Arquipélago, em 1470, João de Santarém e Pedro Escobar, mas que resistiu
através dos séculos. Procuram livrar-se, dessa forma, do sangue das palavras para que o       através dos séculos.
país e os poemas possam ser reabitados.

Emergiremos do canto                                                                          Em O Útero da casa, a par da corrosiva vigília na reescrita da História, há um
como do chão emerge o milho jovem                                                             profundo lirismo na captação de lembranças e paisagens do presente e do outrora das
e nús, inteiros, recuperaremos                                                                Ilhas. Um forte erotismo sinestésico domina a memória que vai evocando ruídos e
a transparência do tempo inicial                                                              odores característicos do Arquipélago: a beleza das praias e a limpidez das águas do
Puros reabitaremos o poema e a claridade                                                      mar, o canto dos pássaros (mesmo que, atualmente, em pânico, atormentados), a cor
Para que a palavra amanheça e o sonho não se perca.                                           vermelha do barro e dos ibiscos, o marulho das ondas, o aroma desprendido das
                                                                                              plantações de café e cacau, o zunido da brisa fazendo farfalhar as folhas das
                                                (Apud: Sonha Mamana África, p.227-228)        palmeiras e das canas-de-açúcar. Uma profunda sensualidade impulsiona os sujeitos
                                                                                              líricos dos poemas em direção ao útero das Ilhas, metáfora, por excelência, do centro
Memória e linguagem se instituem como instâncias privilegiadas em O Útero da casa.            das raízes culturais santomenses. Há um intenso desejo de reabitar a terra, a cultura, a
Segundo Ecléa Bosi, a linguagem é o elemento socializador da memória; é ela que               História. Porém, a voz lírica enunciadora pressente que, para tal, é preciso,
"unifica, reduz e aproxima o sonho, a imagem lembrada, as imagens da vigília                  primeiramente, reabitar o poema. Não aquele que se revestiu de euforia e alimentou o
atual" (BOSI, Eclea. Memória e sociedade, p.18). Ora, é, desse modo, por seu intermédio,      sonho libertário de jovens inocentes (cf. O Útero da casa, p. 24), mas o que é agora
que o reabitar da casa, na poesia de Conceição Lima, ganha corpo. É pelo intercâmbio          tecido, na fratura dos sonhos, no entrelugar da paixão e da vigília das palavras.
criativo entre o discurso poético e o processo evocativo que se erige a construção da casa-   Depreende-se, então, nos poemas um percurso rumo ao seio da linguagem, a um
nação e da casa-poema, ambas intimamente relacionadas ao útero das Ilhas, local               espaço metapoético que, uterinamente, repensa o antigo ethos umbilical com as Ilhas,
placentário das origens identitárias.                                                         reavaliando, de dentro, as estereotipadas visões exóticas e/ou paradisíacas que a
                                                                                              colonização sempre imputou a São Tomé e Príncipe.
Quero-me desperta
Se ao útero da casa retorno                                                                   Sempre desperto, insone, em permanente vigília, o sujeito lírico de O Útero da casa
Para tactear a diurna penumbra                                                                efetua um profundo e consciente mergulho no passado, revendo "a herança saquea-
Das paredes                                                                                   da", "o sangue da lua e as línguas decepadas", as figuras heróicas forjadas pelo colo-
Na pele dos dedos reviver a maciez                                                            nialismo. Questiona esses vultos históricos e denuncia São Tomé como uma nação
Dos dias subterrâneos                                                                         ainda sedenta de heróis (O Útero da casa, p. 31). Poeticamente rasura as memórias
Os momentos idos                                                                              dolorosas das roças - dos cacauzais, canaviais e cafezais -, onde o sangue de escravos
                                                                                              e contratados deixou nódoas que impregnaram o solo das Ilhas. Surreais imagens de
                                                                 ( O Útero da casa, p. 17)    raízes e pétalas de cacaueiros sangrando das unhas dos mortos (O Útero da casa, p.
                                                                                              30) se apresentam como alegorias de releitura crítica e corrosiva da história de São
Logo de saída, a voz lírica, no feminino, se quer desperta, optando por um estado de          Tomé. Fantasmas do outrora assombram a memória poética que faz a catarse das
vigília da linguagem, por meio da qual vai, acordada, reocupando as entranhas da casa         dores sofridas por seu povo durante mais de quatro séculos.
para traçar uma nova geografia das Ilhas. Seu intento é passar a limpo o que se encontra
SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012                               |   LITERATAS             |   LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ |                        14


Concursos
    Prêmio Literário Valdeck será em homenagem a Jorge Amado

                                          E




                                                                                                                                                      FOTO: Ampliar
FONTE: Radar Notícias                            stão abertas, até o dia 30 de
                                                 maio de 2012, as inscrições
                                                 para a oitava edição do
―Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus‖, o qual faz homenagem ao
escritor Jorge Amado, que completaria 100 anos em 10 de agosto de 2012.
Autor de dezenas de obras traduzidas pelo mundo todo, Amado é o autor
baiano mais famoso e lido por pessoas de todas as idades. O Núcleo Baiano
da União Brasileira de Escritores (UBE), na pessoa do coordenador Carlos
Souza, se junta a esta ação, com o objetivo de fortalecer a literatura do esta-
do da Bahia e prestar um tributo a Jorge Amado, um dos fundadores da
União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro.

Neste ano, serão aceitos textos inéditos (artigos, crônicas ou resenhas) ou já
publicadas sobre a vida e/ou obra de Jorge Amado ou de escritores e poetas
de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portu-
gal, São
Tomé e
Príncipe                                                                       bol de 2014 e sobre escritores de outras partes do mundo, desde que os
e Timor-                                                                       textos sejam escritos em língua portuguesa.
Leste.
Outros                                                                         O concurso literário promovido pelo jornalista Valdeck Almeida de
temas                                                                          Jesus é uma iniciativa divulgada no Eixo 4 do Plano Nacional do Livro
serão                                                                          e Leitura, do Ministério da Cultura e já publicou quase 1100 poetas do
aceitos                                                                        mundo todo, desde 2005.
como:
redações                                                                       As inscrições - Para participar, os interessados deverão enviar seus tex-
sobre                                                                          tos de até 50 linhas; minibiografia de no máximo cinco linhas; endere-
assuntos                                                                       ço completo, com CEP e telefone de contato e DDD para o e-
africa-                                                                        mail valdeck2007@gmail.com. Os trabalhos devem vir dentro do cor-
nos,      Em 2012, comemora-se o centenário do nascimento de Jorge              po do e-mail e anexados em formato Word. Inscrições incompletas
Copa do                                                                         serão desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão
          Amado e passam 110 anos do nascimento de Drummond de
Mundo                                                                           aceitas inscrições pelos correios.
          Andrade. No Brasil, prepara-se um filme, exposições e novas edições
de Fute-

Antologia:Brazilians Days

Divulgado e lançado na Expo-America em New York – EUA
                             Regulamento                                          Paper: OFF SET
                                                                                  1.7. A presente antologia será confeccionada pela Editora Literarte, será
               Prazo para envio dos textos: 03 de abril de 2012
                                                                                  registrada , receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar
                                                                                  suas obras, a antologia tem como finalidade estimular a produção de
DA PARTICIPAÇÃO
                                                                                  contos, formação e divulgação de novos autores.
1.1. A presente antologia é promovida pela Literarte- Associação Internacio-
nal de escritores e artistas .                                                    2)DA ACEITAÇÃO DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS
                                                                                  2.1. Serão aceitos apenas contos , crônicas e poesias em língua portu-
1.2. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18
                                                                                  guesa, de temática pertinente a antologia, com limite de cinco mil
anos, ou menores com permissão do responsável, residentes legais no Brasil,
                                                                                  caracteres por texto com espaços, em formato A4, espaços de 1,5 entre
bem como brasileiros residentes no exterior. Também poderão participar da
                                                                                  linhas, fontes times ou arial tamanho 12, acompanhados dos dados de
Antologia escritores de outras nacionalidades, desde que a língua mantida
                                                                                  inscrição que constam no parágrafo 5.5 desse regulamento.
seja a língua portuguesa.
                                                                                  2.2. Não serão aceitos fanfics nem contos que pertençam ao universo de
1.3. Das características da antologia: A Antologia , receberá única e exclusi-
                                                                                  personagens já existentes criados por outro autor.
vamente contos, poesias, trovas, haikais,sonetos e crônicas, sendo que a
                                                                                  2.3. Os contos devidamente formatados deverão ser enviados para o
criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho. 1.4.
                                                                                  email:literarte@grupoliterarte.com.br ou atendimento@grupoliterarte.c
Poderão participar da antologia autores com menos de vinte e um
                                                                                  om.br ou enviados diretamente pelo
anos,mediante autorização por escrito de um responsável legal, acompanha-
                                                                                  site: www.grupoliterarte.com.br Assunto: Antologia New York , junto
da de fotocópia do original de documento de identidade do mesmo para con-
                                                                                  com os dados de inscrição e demais documentos de autorização.
ferência e registro de inscrição.
                                                                                  2.4. Os contos inscritos deverão contemplar, obrigatoriamente, os
1.5. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá
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proceder ao pagamento da seguinte forma:
                                                                                  soa; (b) O tratamento dado ao tema será de exclusividade de cada autor.
 Cada autor pagará o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) que podem ser
                                                                                  2.5. Caso o autor deseje que seu conto tenha mais do que o espaço
pagos em duas parcelas, por cota de publicação com o primeiro pagamento
                                                                                  reservado de ele terá a opção de adquirir o valor de duas cotas, assim
até 10 de abril e o segundo até 10 de maio.·
                                                                                  podendo ampliar seu espaço na antologia. Os procedimentos são os
 (Caso receba notificação que seu texto foi aprovado)·
                                                                                  mesmo citados no item 1.5 desse regulamento, caso haja espaço na
1.6 Os participantes receberão um total de 12 exemplares da Antologia por
                                                                                  antologia liberaremos alguns autores que excedam sem custo extra.
participação.
                                                                                  5.2. Sobre este concurso pode-se obter informacoes no site
Título;
                                                                                  www.grupoliterarte.com.br .
Formato: 230 X 160 mm (fechado)
Literatas Nº 20 - 2012

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Literatas Nº 20 - 2012

  • 1. Literatas PROPRIEDADE DO Director: Nelson Lineu | Editor: Eduardo Quive | Maputo, 02 de Março de 2012 | Ano II | N°20 | E-mail: r.literatas@gmail.com Portugal Acordo Ortográfico entre o aceitar e o ignorar Rita Dahl “Escrevo textos Híbridos” Entrevista—Páginas 8 e 9 Lançado nesta sexta-feira em Luanda
  • 2. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 2 Editori@l Depois duma incursão pela objectiva… H á uma coisa que sempre nos preocupou entre nós – cá entre nós - (se assim pode-se dizer): Afinal, o que se passa com a Literatura Brasilei- ra? Antes que entremos em saturantes linhas de reflexão, não se trata de “um pro- blema” que a literatura daquele país enfrenta, mas é a sua grandeza que nos faz questionar. Agora pode-se reformular a questão: que segredos norteiam a bem- feição da literatura Brasileira? É que esses brasileiros são bons para receber prémios. Agora foi a vez do Madala (velho) Rubem Fonseca que arrancou (e diz-se em Changana, barrabatissou) dos outros escritores de língua por- tuguesa, o Prémio Casino da Póvoa, inserido no Correntes d’Escrita, edição 2012. Estamos a falar de um prémio que vale 20 mil euros que eram cobiçados por outros grandes cérebros da escrita, como Teolinda Gersão, Maria Teresa Horta e Hélia Correia. Perante os factos, resta-nos dizer como eles: “só falta o Prémio Nobel para o Brasil”. Uns recla- mam-no para Manuel Bandeira e Carlos Drumond de Andrade, outros para Jorge Amado, este último a ser digno de uma homenagem pelo seu centenário, iniciativa para qual a nossa revista também contribui. Quanto a isso, só nos vale dizer que tudo tem hora certa para acontecer. Um prémio não se reclama, ele nos é dado por merecer. Já em Angola, Roderick Nehone, lança para as ruas de Luanda ou até dos Musseques (favelas), “O Catador de Bufunfa”, uma necessidade imediata de se evacuar da terra a preguiça e ir-se atrás duma via para se ter dinheiro. Pena que Maputo só precisa de Catadores de Lixo! Contudo Nehone, que é jurista de profissão e exercendo actualmente o cargo de Vice-presidente da União dos Escritores Angolanos (UEA), está decidido a enriquecer a literatura do seu país, mas sem substituir “O Ano de Cão” obra que lançara em 1998 e que será posta novamente em circula- ção. Mas o grande assunto mesmo, nesta edição vigésima, é a “perturbadora” conversa com Rita Dahl. De Maputo, galgamos até Finlândia e com os depoimentos desta escritora, passamos a desmistifi- car os rótulos literários desse país onde a lusofonia se faz sentir. Uma entrevista inspiradora. É caso para dizer que a lusofonia é diversidade na plenitude. Na altitude. Na literacia e na tertúlia. Assim celebramos o retorno às edições mistas, depois duma incursão pela objectiva. Vem mais novidades por aí, mas vender peixe a barato não é de bom feitio, por isso, deixemos para as próximas páginas tais novidades. Até lá. Eduardo Quive eduardoquive@gmail.com
  • 3. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 3 Destaque Notícias Rubem Fonseca vence Prémio Literário Casino da Póvoa O brasileiro Rubem Fonseca foi distinguido com o Prémio Literário Correntes D’Escritas | Casino da Póvoa pelo seu livro Bufo & Spallanzani, uma edição Sextante. O prémio foi entregue no sábado, 25 de Fevereiro, na Sessão de Encerramento do evento, às 18h30. Bufo e Spallanzani é, segundo a editora, «um livro de perfil policial com muita literatura dentro: uma mulher da alta sociedade aparece morta, tem uma relação com um escritor que está escrever um livro, o detective é uma espécie de Columbo e o marido um rico mafioso. Vários suspeitos, uma história complexa, lírica e dura». José Rubem Fonseca nasceu a 11 de Maio de 1925 em Juiz de Fora, em Minas Gerais. É formado em Direito, tendo exercido várias actividades antes de dedicar- se inteiramente à literatura. Em 2003 venceu o Prémio Camões, o mais prestigiado galardão literário para a língua portuguesa, uma espécie de Prémio Nobel para escritores lusófonos. As obras de Rubem Fonseca geralmente retratam, em estilo seco e direc- to, a luxúria e a violência urbana, em um mundo onde marginais, assassi- Outros vencedores nos, prostitutas, miseráveis e delegados se misturam. A história através da ficção é também uma marca de Rubem Fonseca, como nos roman- 1.º – “O sonho do professor Jorge”, da turma SP do 4º. Ano da Séction ces Agosto (seu livro mais famoso) em que retratou as conspirações que Portugaise du Lycée de Saint-Germain-en-Laye – França resultaram no suicídio de Getúlio Vargas, e em O Selvagem da Ópera em 2.º – “Martinho descobre que as mãos que falam”, da turma E da EB que retrata a vida de Carlos Gomes, ou ainda A Cavalaria Vermelha, livro Bairro Duarte Pacheco, S. Victor, Braga de Isaac Babel retratado em Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos. 3.º - “No Reino da Alfabetária”, da Turma B da EB1/JI Condes da Lou- sã/Damaia – Amadora Criou, para protagonizar alguns de seus contos e romances, um persona- gem antológico: o advogado Mandrake, mulherengo, cínico e imoral, Menções Honrosas além de profundo conhecedor do submundo carioca. Mandrake foi trans- formado em série para a rede de televisão HBO, com roteiros de José Texto: ―Um Feiticeiro Infeliz‖, da Turma 4B da Escola Comendador Henrique Fonseca, filho de Rubem, e o actor Marcos Palmeira no papel- Ângelo Azevedo, de S. Roque – Oliveira de Azeméis título. Ilustração: ―Futebol Planetário‖, da Turma 4D da EB1 n.º 1 de Sines Roderick Nehone lança “O Catador de Bufunfa” Livro lançado Hoje as 18:30 minutos na União dos Escritores Angolanos, em Luanda. Na ocasião será posta em circulação a nova edição de O Ano do Cão (romance de consagração, 1998), do mesmo autor. O livro a ser apresentado por Sílvia Ochôa Arez e João Melo, este Apesar de estupefacto, último jornalista, escritor e ensaísta, retrata a história, contada em incrédulo, Nazaré entra, e primeira mão, de Nazaré dos Relâmpagos de Abril, um estafeta e o que lá acontece faz com autodidacta, que pede uma licença sem vencimento no órgão público em que a sua vida mude para que trabalha, para tentar a sua sorte como trabalhador por conta própria. sempre. Deixando-se levar pelo sensível farejo Semanas depois, do seu nariz, o homem sem conseguir um começa a intermediar sem novo emprego pruridos morais os mais regular, quando esquisitos negócios até começou a faltar finalmente converter-se até o pouco a que numa pessoa que conse- já se habituara, o gue sustentar-se, com homem se desespe- confiança, sobre os seus ra e vê não chegar próprios dois pés, os de luz alguma no fun- carne e ossos e os dos do do túnel em que negócios. se aventurara. RODERICK NEHO- Decide então NE, pseudónimo de Fre- tomar de assalto a derico Manuel dos Santos rua em busca de e Silva Cardoso, nasceu ideias, já que quase em Luanda, Angola, a 26 de Março de 1965. Em 1989 concluiu a nada tinha para vender e muito menos para comprar. Quando lhe parecia Licenciatura em Direito na Universidad Central de Las Villas, Cuba, e não poder agarrar sequer a última esperança ambulante na multidão, um foi docente da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, de 1991 a vendedor de rua mostra-lhe um lugar onde poderia encontrar as ideias que 2004. É membro da Ordem dos Advogados de Angola e Vice- procurava. Presidente da União dos Escritores Angolanos.
  • 4. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 4 Destaque Notícias Em Portugal Governo admite rever Acordo Ortográfico Depois da decisão de Vasco Graça Moura de ignorar o Acordo Ortográfico nas comunicações do CCB, foi ontem a vez de o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, vir olhar com cautelas para os imperativos da nova escrita do Português. A três anos da implementação definitiva da nova ortografia unificada às nações da Língua, Viegas diz que há trabalho a fazer para afinar as palavras. Fonte: RTP Com um desagrado Foto: Lusa pessoal ontem confes- sado durante um pro- grama da TVI face ao novo acordo ortográfico e à forma como foi conduzida a sua implementa- ção, o secretário de Estado da Cultura admite que até 2015 cada um use o português escrito como muito bem entender, dentro das possibili- dades abertas entre a velha ortografia e o novo acordo. ―Gosto de algumas regras, outras não. O proces- so não foi bem encaminhado. O acordo ortográ- fico está em discussão há 20 anos. Discutiram- se as coisas à última da hora‖, lamentava o governante. Depois, defende Viegas que, sendo ―do ponto de vista teórico (…) uma coisa artificial‖, a orto- grafia pode ser alvo de trabalho: ―Portanto, podemos mudá-la. Até 2015 da nossa Língua, escreverá como lhe apetecer‖, sublinhou Francisco podemos corrigi-la, temos essa possibilidade e vamos usá-la. Nós temos que José Viegas. aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar. Temos três anos para o fazer‖.―O que é bom considerar é o seguinte: do ponto de vista teórico, a ortografia é uma ―Vasco Graça Moura é uma das pessoas que mais refletiu sobre a ques- coisa artificial, provavelmente, e portanto, se é artificial, nós podemos mudá tão do acordo ortográfico. É uma das pessoas que mais se empenhou no -la. Mas temos uma vantagem. É que até 2015, podemos corrigi-la. Temos combate contra o acordo, em termos pessoais. Vasco Graça Moura é um essa possibilidade e eu acho que vamos usá-la‖. grande criador da nossa língua‖, acrescentou, para considerar ―absolutamente ridículo que várias pessoas que não têm qualquer inti- ―Temos de aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo, midade nem com a escrita, nem ortografia, nem com a nova, nem com a temos três anos para o fazer‖ velha, terem vindo criticar e pedir sanções‖. Um dos casos que nos últimos tempos voltou a colocar o acordo ortográfico nas páginas da atualidade foi a decisão do recentemente nomeado presidente Fazendo uso da ironia, o secretário de Estado da tutela lembrou que do CCB (Centro Cultural de Belém), Vasco Graça Moura, de mandar retirar ―todos os portugueses têm a possibilidade de escolher a sua ortografia. o corretor ortográfico dos computadores da Fundação CCB. Não há uma polícia da língua, há um acordo que não implica sanções graves para ninguém‖. Já se sabia a posição de Vasco Graça Moura em relação ao acordo. Agora, o Dava Viegas o exemplo do seu próprio caso, que, enquanto escritor, presidente do CCB conta com o apoio oficial do Governo: ―Os materiais ofi- tem dúvidas e fará assim ―uso dessa possibilidade, como todos os portu- ciais do CCB obedecem à norma geral que vigora desde 1 de Janeiro em gueses podem fazer uso dessa possibilidade, isto é, a competência que todos os organismo do Estado. Vasco Graça Moura, um dos grandes autores têm para escolher a sua ortografia‖. “Rapunzel e outros poemas da infância” D epois de ―Escritos no Ônibus‖ livro lançado em 2010, o escritor Jairo Rinaldo de Fernandes, Linaldo Guedes, Fábio Cardoso, Roberto Denser, entre Cézar trás para a Literatura Brasileira o seu mais recente trabalho intitu- outros. lado ―Rapunzel e outros poemas da infância. Segundo o autor, o livro foi concebido para ser uma ponte para outras leituras, Programado para estar nas mãos do público a partir do dia 17 de Março, o livro a pois provoca o leitor com poemas curtos que descrevem cenas recortadas de ser lançado na última hora da tarde, na Livraria Leitura, no Manaíra Shopping, histórias como Rapunzel, os Três Porquinhos, Pinóquio, A Bela e a Fera etc. em João Pessoa, é composto por 25 poemas escritos para o público infantil e, Biografia aliando a alma aos interesses dos bons olhos, a obra conta com ilustrações colori- Jairo Cézar é escritor e professor. Nasceu em João Pessoa em 1977, mas é das de Tônio e João Baptista, por sinal, o pai do poeta. radicado em Sapé desde os primeiros dias de vida. Lançou, em 2010, Escritos Assim, Jairo Cézar, reafirma o seu compromisso com a arte de escrita, trazendo a no Ônibus, livro de poemas que levou o prémio Novos Escritos da Fundação sua criação poética ―fingida‖ para o imaginário mundo infantil, com a apresenta- Cultural de João Pessoa – FUNJOPE. Em 2011, foi um dos vencedores do ção, no acto de lançamento, da professora e Crítica literária da Fundação Nacio- Prémio Nacional Canon de poesia, pelo poema O Maestro, e integra antologia nal do Livro Infantil e Juvenil na Paraíba, Neide Medeiros. com mais 49 poetas de todo país. Foi o primeiro director do Memorial Augus- A poesia de Jairo Cézar em ―Rapunzel e outros poemas da infância‖ vai desde a to dos Anjos em Sapé, realizando trabalhos voltados à formação de leitores. releitura de grandes clássicos infantis até aos animais que povoam o mundo fan- Edita o blog literário http://escritosnoonibus.blogspot.com/ e mantém forte tasioso dos pequenos e pequenas. Rapunzel tem prefácio do professor Fábio Viei- actividade cultural através do Núcleo Literário CAIXA BAIXA, grupo de ra e conta ainda, com depoimentos de Sérgio de Castro Pinto, Águia Mendes, jovens escritores paraibanos, do qual é membro fundador.
  • 5. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 5 Livros & Leitores Nome: Chico Carneiro Hérlio da Conceição Manjate Estudante: I ano do curso Física UEM Profissão: Cineasta 19 anos, residente na cidade Matola Está a ler: Marcha Para Oeste Da autoria dos irmãos Cláudio e Leonardo Villas Boas Actualmente lê José Craveirinha (Xigubo), o poema que Estou a ler dois livros em simultâneo um de dia e um de noite. Um é moçambi- mais o interessou foi “Quero ser Tambor”, para ele o livro é cano, João Paulo Borges Coelho - sobre a Guerra em Moçambique -O Olho de viajar no tempo e ver o mundo como era. Ao ler cada poe- Hertzog, um livro diferente mais denso em relação a primeira obra do mesmo ma sente uma coisa a tocar-lhe em relação a o que lê. Esse autor que já li, refiro-me à As Visitas do Dr Valdez, comprei recentemente e leitor, chama-se Hérlio Manjate. estou nas primeiras 20 páginas. Em relação a outra obra (brasileira), que na verdade estou a reler é o livro da epopeia para quem conhece o Brasil. Foi na década de 40 quando o Brasil foi desestranhado ou seja foi feita uma expedição para entrar Brasil adentro para realmente se conhecer, pois nessa altura era pouco conhecido, e esses irmãos Maputo Blues Villas Boas que estavam a frente dessa expedição que era uma expedição feita ou financiada pelo governo brasileiro com o objectivo principal de ocupar o bra- AUTOR: Nelson Saúte - sileiro das terras brasileiras, e também conhecer o que tinha dentro das mesmas. Moçambique Estou a falar da floresta Amazónica que na altura era completamente desconhe- cida, e as tribos indígenas que viviam naquela região, a expedição demorou “Maputo Blues é uma notícia sem vários anos, a chamada expedição Muka do xingu, e foi registada num livro dúvida importante no cenário da poesia moçambicana (…) pelos dois irmãos (…) A proposta de Nelson Saúte corre noutra direcção, perseguindo notas Géssica Cardoso, estudante de II ano do curso de tradu- capazes de combinar a marrabenta ção em Francês na Universidade Eduardo Mondlane, 21 de Fanny Mpfumo com o jazz de anos, residente da cidade de Maputo Billie Holiday , fazendo da escrita literária a travessia entre os muitos Géssica Carsoso, está a ler Niketche de Paulina Chiziane, gostou da pontos do planeta. E é nesse compasso que ele investe na sua união das mulheres, mas não da relação da família do homem, com a nora. Sublinha que o que acontece muito entre nós ao morrer o relação com as matrizes que compõem o que para o autor é a chefe da família os seus familiares virem levar todos pertences do sua tradição literária‖ falecido. “As pessoas deve ler Niketche de Paulina Chiziane por trazer coisas Rita Chaves vividas no nosso dia-a-dia, principalmente as mulheres, porque podem aprender a conviver com estas situações”, diz Géssica. O Útero da Casa Inventário das AUTOR: Conceição Angústias ou Lima – São Tomé e Príncipe Apoteose do Nada (…) «O Útero da Casa é um livro diferente. Obra de análise íntima, AUTOR: Sangare Okapi — traz-nos por vezes a meia voz, atra- Moçambique vés da saudade e da mistificação das coisas amadas, a cor e a alma da ilha mãe de São Tomé, a sua den- ―Da leitura que fiz dos poemas, reparei que, gue beleza, sua viuvez, seus palma- á semelhança de um Rui Knopfil, Okapi insiste numa determinada res, o cantar dos búzios, a casa (o identidade e / ou naturalidade (…) A estratégia poética com que Oka- útero) centro do mundo, presente e pi aborda a matéria do seu livro lembra a provocação com que Fili- futuro. Alta, perpétua claridade, mone Meigos celebra o absurdo ate a exaustão. A filosofia de que pedra de reunião. assuntos deprimentes poderão também ser cantados, marca que carac- Nestes versos em que se confrontam criaturas e lugares do outrora, que o teriza Eduardo White, por exemplo, parece ser a filosofia adoptada tempo magnifica, com a nitidez do hoje, ouvimos a brisa nos canaviais, por Okapi. Neste contexto, pode-se afirmar que Sangare Okapi pode sentimos o odor do café e do cacau, vemos os ibiscos e o barro verme- ser inscrito na mesma temática e estratégia de escrita dos três autores lho, o perfil da mesquita, a cidade morta, o mar. Lê-se a mátria na terra sensual, até na luz da fruta, no sangue da lua, nas a que me referi, ou seja, os outros <<Prometeus>> do nosso Moçam- mãos de húmus e basalto. bique (…).‖ Conceição Lima escreve-se, em ideia e corpo, na carne viva da ilha.» Sara Jonas (Urbano Tavares Rodrigues)
  • 6. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 6 Cartas Espaço aberto para debate e comentários sobre assun- tos literários. Mande-nos uma carta pelo e-mail: r.literatas@gmail.com Prezados amigos moçambicanos, FICHA TÉCNICA nova mente a revis- fiquei muito satisfeito com a homena- Ei Am osse, adorei receber ativa, como sem- gem ao Madala José Craveirinha. Mais ta. Está muito bonita e inform que merecida e sempre um nome a ser possa contribuir pre. Es pero que em breve eu reverenciado. Foi uma ótima escolha o paralelo entre a com escrita, fazendo um texto da Rita Chaves, um dos melhores to e Paulina Chi- de nossas ensaístas. Parabéns! Aproveito escrita de Conceição Evaris stante apertada, para congratular o prestidigitador eméri- Propriedade do Movimento Literário Kuphaluxa Direcção e Redacção ziane. N esse momento estou ba to Eduardo Quive, que fez um belo poe- um momento de do a tese, mas espero Centro Cultural Brasil - Mocambique Av. 25 de Setembro, N°1728, escreven ma para o Velho Zé, assim como dignos é abril? C. Postal: 1167, Maputo intervalo quem sabe at de notas os textos produzidos por Amos- e do Brasil. se Mucavele e Japone Arijuane (valeu Um forte abraço, meu arriscar a espacialidade da palavra na Tel: +258 82 27 17 645 / +258 84 07 46 folha em branco). 603 Meu grande abraço para todos e um bom Fax: +258 21 02 05 84 Horizonte E-mail: kuphaluxa@sapo.mz Rosália Diogo/ Belo final de semana. Blogue: literatas.blogs.sapo.mz Ricardo Riso/ Rio de Janeiro DIRECTOR GERAL Nelson Lineu (nelsonlineu@gmail.com) Cel: +258 82 27 61 184 Queiram receber antes meu abraço. Com letras. DIRECTOR COMERCIAL Andei um tempo sem cabeça para os outros, e sei que isso não é bom. Hoje abro meu email e Japone Arijuane vejo a vossa revista, vinda de um gesto ao qual agradeço. (jarijuane@gmail.com) Provavelmente não poderei tecer um comentário sólido sobre o que li, mas posso avançar Cel: +258 82 35 63 201 que este desafio tem alma, uma alma que não é pequena e, quando a alma não é pequena, EDITOR concretiza, tudo vale a pena. Eduardo Quive (eduardoquive@gmail.com) Resido agora em Inhambane, que tal uma colaboração minha! Uma coluna! Algumas coisas Cel: +258 82 27 17 645 sobre os poetas que andam por aqui! De grão a grão enche a galinha o papo. CHEFE DA REDACÇÃO Amosse Mucavele Dou-vos a maior força. (amosse1987@yahoo.com.br) Abraço. Com letras. Cel: +258 82 57 03 750 REPRESENTANTES PROVINCIAIS Alexandre Chaúque / Inhambane Dany Wambire—Sofala Lino Sousa Mucuruza—Niassa COLABORADORES FIXOS Projecto LITERABRINCANDO do KUPHALUXA leva o escritor e contador de estórias Izidine Jaime, Pedro Do Bois (Saranta Cata- rina-Brasil) , Victor Eustáquio (Lisboa — Rafo Diaz para a Escola Comunitária Imaculada Conceição, aredores da cidade de Portugal), Mauro Brito. Maputo. COLUNISTA Marcelo Soriano (Brasil) FOTOGRAFIA Arquivo — Kuphaluxa PARCEIROS Centro Cultural Brasil—Mocambique Portal Cronopios www.cronopios.com.br Revista Blecaute Revista Culturas & Afectos Lusofonos culturaseafectoslusofonos.blogspot.com
  • 7. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 7 18 (Dezoito) Poesia No meio da confusão Ouviu-se Quincas dizer: Mukurruza—Lichinga “- Me enterro como entender À eterna memória da Celina Sousa Mucuruza Na hora que resolver. Podem guardar seu caixão Pra melhor ocasião. Não vou deixar me prender … almoço, e colho o nojo Em cova rasa no chão.” Dopado pelo V E E foi impossível saber N T O resto de sua oração. O, em poesia Na divina tatuagem Tatuada no tempo que (colho), Kha tembe-Moçambique Um Sonho Poético No longo mar da divina no meu país a fome Esperança! cai oblíqua Desesperada, oh! … … … … … … V E como um sol de dentes Dhiogo Caetano-Brasil N desnutridos que faz muita sombra Naquela noite... T O, que Participei de um banquete dos deuses... rubra, mas o meu país de boca aberta tem aves na garganta O espírito grego romano preparou a mesa onde Incasável ao sopro eterno! e o céu mais limpo do mundo os mais diversos paladares estavam presentes, quando do Olímpio ouvi aos ecos o som dos meus poemas. Senhora dos Sois Segredos do voo Dionísio pessoalmente bebeu vinho do saber, quando repetia seguidas vezes os meus versos, HIPÓTESES Eliseu Armando Miriam Alves-Brasil poemas e letras como cânticos líricos... Sou Sarcasticamente as musas brincavam com as Zeferino Massingue chama Na escuridão lama rimas. duas aves magna moldado partilham segredos Na terra os homens invocam os deuses. Não há reajuste endurecido concentram-se A paz, a igualdade social avassaladoramente Senão hipóteses do Faustino partem Sou A vida de metralha na África sem destino. invadia as ruas, cidades e guetos. naturalidade O destino de negro milenar vento esfriamento dos tempos Os versos pairam no ar e se tornam insufladores Hélder Macedo-Portugal dos excessos através da história. Voando com o pedaço de Esquecer panos Tempo houve meu rosto Vejo a luz de um novo mundo, que se inspira quando ainda havia tempo Um autêntico escândalo de presos gosto nos versos de libertação, amor e igualdade entre Uma pedagogia semanal em que a morte estava perto Não posso! Mas dizem: produzimos, porque esta longe Sangro os irmãos. emvermelho Algodão e citrinos podia sabê-la empreto Aquele momento era tão real, tão concreto... no desconhecido o choro de todos os dias dos corpos que eu fosse a dor Mas tudo se findou em um simples desperta... Leite e sumo para não serem meus Esquecer? Mal nutridos são as nossas no sabor a mar DEDICAÇÕES Não posso! mangueiras dos ventres pulsando Sou Nudez de palha vão vestindo no sangue e no mostro o azul infinito A roupa usada de cheiro de qundo o deserto Arco-Íris onde o grito Arroboboi risca um J.A.S. Lopito feijóo K.-Angola característico que quase já sou na sombra que seja Sois me guiam I Hipóteses de Faustino do que não serei Zanzi bar de bar em bar nos colava em rios É uma vergonha Sou luz a fonte e a foge aura da incandescência rubra negra cheiras no ar De quem produz algodão sem morte e sem tempo Sou pedra Se beneficiar de roupa usada. bruta gema diamante engastada na imensas noites ao luar sem perto e nem longe rocha sólida teu sublime aspecto lunar sem mim e sem ti Ergui voz, cabeça, espada de me para ti A palavra basta ressoou embriaga minhas contas de somar de ti para me estourou as paredes Zanzibar de intensos copos ou eterna a dar a morte ao tempo divisórias a dar tempo à morte maneira de amar! no tempo que sobra do nada que é tudo
  • 8. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 8 Entrevista por Eduardo Quive Uma Poesia Híbrida E screver poesia é ser mais do que si própria, é ser muitas vezes algo que desconhece. Mas da sua palavra acredita que o mundo sobrevive, tal como a semente que gera os frutos que saciam barrigas vazias. E é mesmo assim “escrevo textos híbridos que atravessam as fronteiras da poesia”, talvez porque “acho que textos híbridos se relacionam também com a escri- ta africana”. Estamos no meio duma viagem literária para fora. Fora de Moçambique e dos países da CPLP. Transgredimos a regra editorial? Não. Estamos fora dos países de expressão portuguesa, mas estamos dentro da lusofonia, estamos dentro do horizonte de falantes do português. Uma entrevista a escritora finlandesa Rita Dahl. Poetisa, ensaísta, contista e descrevista de embarca- ções. Uma viajante de múltiplas falácias. Fala e escreve em sete línguas e tem maior influência nos países de expressão portu- guesa. Rita Dahl é uma proposta para inspi- rar gentes. Literatas: Como é o seu processo de criação? Como surgem os textos? não - ficção, e as vezes especialmente a minha poesia poderia ser definida Rita Dahl (R.D) - Não há nenhuma resposta digamos ―regular‖ nessa pergunta. como textos híbridos, que atravessam as fronteiras da poesia, prosa e ensaios. Os textos surgem como surgem. As vezes estou inspirada pelos lugares que visi- Por alguma razão textos híbridos, que vem bem facilmente de mim. Acho que tei ao todo mundo da Europa até América Latina, outras vezes me fascina escre- textos híbridos se relacionam também com a escrita africana. ver ensaios sobre coisas bem mais vastas como poesia/política. Literatas: Quais são as questões que mais procura levantar nas suas Literatas: E como define a sua literatura? obras? R.D - A minha escrita varia. Escrevo poesia, ensaios, livros de viagem, contos, R.D - Não há só uma única resposta nessa questão. Quero em primeiro lugar
  • 9. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 9 Entrevista por Eduardo Quive Continuação levantar muitas questões variadas na minha obra. Até agora tem sido por exemplo paí- Literatas: No início da sua carreira, terá escrito algo que achou não ses lusófonos, a justiça e responsabilidade social, a liberdade da palavra, poesia/s em ter qualidade? línguas lusófonas (e outras línguas também, explorando principalmente as sete línguas R.D - Bom, eu comecei a ler a literatura (Dostojevcki, T.S. Eliot) e escre- que falo), questões sobre a minha própria poética/política e poética/politica/s pelos ver aos 11 anos. Com certeza escrevi – e ainda escrevo – algo sem tanta outros poetas lusófonos (exemplos do poeta brasileiro Wilmar Silva que escreve usan- qualidade, mas eu fui desde início, ambiciosa quanto a escrita e estudos: do na sua linguagem de amor, e poeta português Alberto Pimenta). quero exprimir em primeiro lugar minhas facetas várias numa maneira literária. Literatas: Será a poesia o género que mais gosta de escrever? Porquê? R.D - Não só. Eu procuro sempre ser ―múltipla‖ como disse Walt Whitman. Vou ain- Literatas: Qual é a sua maior preocupação antes e depois de lançar da escrever prosa, gostaria de escrever também romance/s, publicar livro/s de ensaio/s um livro? R.D - Eu queria que o meu livro fosse lido por profissionais e que o criti- e mais livros sobre temas sociais. Vejo se um dia chego lá. cassem e pelos júris, podendo o nomear como candidato de diversos pré- Literatas: Embora finlandesa, tem procurado se evidenciar nos países falantes de mios (preferivelmente com prémios de dinheiro) e finalmente pelos leito- língua portuguesa, no caso concreto de Portugal e Brasil. O que a leva a pautar por esses caminhos? R.D - Não só Brasil e Portugal. Tenho traduzido dois poetas de Angola e Cabo Verde também. Bom, curto dito, eu fiz a segunda licenciatura (Master's Thesis) sobre heterónimos de Fernando Pessoa e por isso che- guei a Universidade Clássica de Lisboa para estudar linguística por um ano. A primeira licenciatura fiz sobre Ciências Politicas. Depois tirei ainda mais alguns cur- sos de verão, comecei a traduzir a poesia escrita na lín- gua portuguesa, embora que tenha traduzido poesia escrita em outros idiomas. Também organizo antologia da poesia finlandesa em português (será lançada no Brasil ainda este ano) e em espanhol (espero que seja lançada pelo menos em México, talvez em Argentina também). Literatas: O que tem feito concretamente nesses paí- ses? R.D - Para além do que já tinha me referido anterior- mente, tenho participado aos encontros (Encontro Inter- nacional dos Poetas na Universidade de Coimbra, onde encontrei com poeta-performer brasileiro Márcio André, António Jacinto Pascoal, João Rasteiro e José Luís Tavares de Cabo Verde e leituras dedicados a minha poesia – ultimamente cantei Sibelius, Faure, em Coimbra, uma vez que sou soprano clássica. Participei no evento PORTUGUESIA ambos em Belo Horizonte, Brasil, e Vila Nova de Famalicão, Portugal, neste ano. res digamos ―inferiores‖. Para o livro (da poesia) chegar às mãos deles é preciso se obter boa crítica. Literatas: Entende que o que escreve carrega a universalidade? Depende do leitor. Espero que carregue, mas também somos criadores das nossas pró- Literatas: Quando se fala de literatura no mundo, pouco tem se des- prias culturas: isso é inevitável. Nem podemos, nem temos que nos adoptar completa- tacado a Finlândia. O que acha sobre isso? O que origina o anonima- mente às outras culturas. to da Literatura desse país? R.D - Finlândia é um país com 5 milhões de habitantes. O facto do país Literatas: Tem livros traduzidos para português? ser tão pequeno pode constituir um dos motivos. Por outro lado, não R.D - Ainda não. Espero de o tiver ainda no ano próximo. Será lançado pelo Anome temos muitos faladores da língua portuguesa que poderiam transmitir a Livros de Wilmar Silva. Tenho alguns poemas publicados nas revistas brasileiras, informação e seu tempo para esta causa. como antiga revista de Confraria do Vento. Literatas: Que referências literárias tem de Moçambique? Literatas: Dentre vários livros seus, qual você considera o mais importante da R.D - Mia Couto, no primeiro lugar. Não conheço mais referências. Infe- sua carreira? Porquê? lizmente. R.D - Gosto muito do meu livro de viagem sobre Portugal e o último sobre Brasil, por- A literatura moçambicana é conhecida, em primeiro lugar, pelos roman- que ambos, são bem ambiciosos, muito mais do que guias, querem entender um pouco ces e contos de Mia Couto, que – quanto a mim – é um dos melhores, da mentalidade da gente e levantar questões críticas sobre temas como a justiça e res- senão o melhor, na língua portuguesa em África. ponsabilidade social (especialmente quanto aos povos originais). Literatas: Tem contacto com a Literatura Africana? O que sabe Literatas: Quais são os autores de língua portuguesa que conhece? Com quem dela? tem mais contacto? R.D - Claro que tenho contacto com a literatura africana pela leitura e R.D - Teria que mencionar uma lista demasiado longa. Basta dizer que conheço mui- pelas visitas a Nigéria (em Book and Art – festival no ano 2006 e na con- tos. Tenho mais contacto com alguns poetas brasileiros e alguns portugueses. Já men- ferência entre escritoras de Saudi-Arabia e escandinavas no ano 2008). cionei alguns deles. Organizei também um projecto com escritores africanos dos vários países anglófonos e escritores finlandeses. Como vice-presidente de PEN Clube Literatas: Quais foram os seus melhores momentos na vida como escritora? da Finlândia e presidente do comité das escritoras (2006-2009, 2005- R.D - Ainda não posso responder essa questão. Ainda estou a espera do momento 2009) organizei um evento internacional para escritoras de Ásia Central e melhor. O momento último. duas antologias, uma das quais bilingue. Literatas: O que é um escritor? O que o diferencia de outros na sociedade? O que Literatas: O que podemos esperar da Rita nos próximos tempos? é essencial para se ser bom escritor? R.D - Espero que um livro de poesia. A antologia da poesia portuguesa R.D - Para mim, o escritor é alguém que escreve de obrigação interna numa maneira editada e traduzida por mim com 10 poetas. O livro de ensaios sobre poe- mais ambiciosa e variada do que o possível, e quer sempre encontrar mais escritores sia e política. Perfil dum poeta conhecido finlandês. E quem sabe mais ambiciosos que pertençam ou não ao cânon literário. coisas!
  • 10. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 10 Filosofonias Colunistas Marcelo Soriano — Brasil m.m.soriano@gmail.com O passo certo no caminho errado Nelson Lineu - Maputo nelsonlineu@gmail.com A careca e a (Foto: Berkeley T. Compton, from http://bit.ly/yOBy53 ) Conto Poético da Loucura Infantil barriga Horizonte... Lá onde as aventuras nadam nuas... Aos olhos do peixe vermelho, as pessoas vão e vêm, mergulhadas na prisão de paredes transparentes, do lado de fora do aquário. É amando que se sabe. Se não sei, talvez não ame. As H abitualmente prende-se pessoas são para prote- nuvens... Garças brancas a debandar sonhos... Passarinhos não choram. ger a sociedade, e o Fernando Paulo encontra-se Passarinhos cantam no desespero das próprias penas. Vejam! Eu posso voar! naquele local para se proteger daquela socieda- Fui criança!■ de. Também não era para menos, tanta gente a fazer baru- ......................................................................................................................................... lho na sua casa, panfletos pendurados, assobios, insultos, a Sobre o Fim do Mundo em 12-12-12 população queria acabar a pobreza com as suas próprias mãos, o que não devia ser, como o fazer justiça tinha pes- Quando menino, aos sete ou oito de idade, escondia-me atrás da barra da saia da minha mãe sempre que uma cigana batia à porta para pedir um copo d'água que, na verdade, acabava em soas capacitadas para tal assim também devia ser com a uma moeda de pagamento para que fosse embora, de volta ao mundo que a criou como, ao que pobreza, era isso que defendia o chefe da polícia quando diziam as más línguas, ladrona de meninos para transformá-los em sabão. Volto àquela idade conversava com a população enfurecida. em que eu era um reles alvo de bruxas e ciganas raptoras de crianças, porque, naquela época Fernando Paulo que chegara no bairro há um mês, com a (pelos idos de 1973), também houve este rumor de que o mundo acabaria em um prazo de sete dias. Esperei escondido dentro de um roupeiro a data anunciada por nossos vizinhos que eram sua chegada a população local sentia que o nada que justi- fervorosos freqüentadores da Igreja Testemunhas de Jeová. O mundo não acabou conforme o ficava a existência deles tinha dias contados. anúncio da apocalíptica vizinhança. Depois daquilo, várias vezes, no transcorrer desta minha Fazia-se transportar por um Mercedes que multiplicando o existência, o fim do mundo foi anunciado e, já, quase um incrédulo, aguardei com um certo salário da população daquela zona durante um ano não risinho debochado no semblante. Nunca veio o tal "Fim do Mundo". Desta vez, desculpem-me compraria, por isso comentário como esses: - a nossa histó- os céticos, eu creio. Pia e cegamente, acredito que o mundo será levado a cabo em 12/12/12, ria começará a ser escrita por uma outra cor. aliás, vou mais longe... Será às doze horas, doze minutos e doze segundos. Não, não será nada fantástico, apoteótico, cinematográfico... Será simples e corriqueiro. Um evento tão habitual e Os dias foram passando a mesmice continuava, as dificul- sem graça que a humanidade adormecerá e, simplesmente, apagar-se-á da Face da Terra. O que dades nadavam a mesma velocidade, as necessidades e as virá depois? Nada. Assim como aconteceu aos dinossauros, os homens estarão extintos e só faltas brigavam para mais um espaço. As pessoas continua- sobrarão os ossos que, num futuro incerto, contarão de modo fragmentado a história biológica vam a fazer barulho só que desta vez no posto policial. O deste ser que julgava-se "O Centro do Universo", mesmo depois de saber cientificamente que homem da lei, pediu silêncio para resolver o problema ele, o Universo, não girava em torno de si, digo, o Universo sequer percebia a sua existência depois de ouvir ambas partes, cada por sua vez, e foi sen- em meio aos bilhões de galáxias perdidas no espaço sideral. O que faremos depois que o tenciando já com todos juntos, dizendo que o novo vizinho mundo acabar? Esta é a resposta a ser sanada. Eu, por exemplo, por via das dúvidas, já tracei meu Plano B para o caso de, como nas oportunidades anteriores, ele nos trair e, de novo, não era um motorista, o casaco e gravata que usava sempre era acabar. Vejam três mensagens que estarão escritas na minha agenda no dia 13/12/12: como ele devia apresentar-se no trabalho, a careca era 1. É. O mundo não acabou, logo, levanta e vai trabalhar, vagabundo! natural, o mesmo acontecia com a barriga, aquele senhor 2. Postar nas redes sociais alguma piadinha infame sobre "O Mundo não Acabou, e agora?!" não tem nada a ver com aqueles eles. Ligar para a Agência Bancária pedindo, "pelo amor de Deus!", ao gerente para que aumente o meu crédito, pois todos os cheques emitidos ontem, em meio à embriaguez da festa de Pelos nossos políticos que é quase impossível distinguir "saideira" do Planeta Terra precisarão ser compensados e, infelizmente, não têm fundos. com empresários, apresentarem-se com casaco e gravata Sobre o meu Plano A, caso o mundo realmente acabe em 12/12/12? Não há que se fazer não obstante a elevada temperatura que se faz nesse canto planejamento algum sobre isso, pois, como diz a sabedoria popular, "o que não tem solução, do mundo, terem carecas e barrigas grande, as pessoas solucionado está". Ou, então, como diz o Ditado Popular: " Quando o estupro é inevitável, o jeito é relaxar e aproveitar!". quando viram o Paulo naquela zona em que pessoas com .................................................................... os seus aspectos físicos e aparências só passavam de cinco E TENHO DITO! em cinco anos, os populares pensaram que as promessas teriam saltado das gavetas. HÁ O TRIDIMENSIONAL E O TRISTEMENSIONAL.
  • 11. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 11 Publicidade Em Agosto de 2012 Maputo será a capital da Literatura Festival Literário de Maputo Saiba como participar em: http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com festivalliterario.maputo@gmail.com Para ser parceiro ligue: +258 82 57 03 750 +258 82 35 63 201
  • 12. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 12 Personagem Guiné-Bissau Tony Tcheka (António Soares Lopes) N os primeiros momentos da independência da Guiné-Bissau, a cultura apresentava-se com contornos de autêntico suporte da Nação a construir. Casa da Cultura, Instituto do Livro e do Disco, Escola de Musica, Ateliers de pintura, tudo acontecia numa agenda recheada de frenesim nacionalista que tinha por meta a incontornável reconstrução nacional. É neste contexto que pela vez primeira, um grupo de jovens (14) identifi- cados com o movimento de libertação nacional, viu os seus textos poéti- cos editados pelo Conselho Nacional de Cultura, sob o titulo ―mantenhas para quem luta‖. Numa terra sem tradição editorial e pouco habituada a ver os seus filhos a tratar dos seus assuntos sob forma literária, a dimensão e o impacto do evento foram enormes e sem dúvidas marcou para sempre a literatura do país das bolanhas e dos poilões sagrados . Uma obra colectiva dos ―Meninos da Hora de Pindjiguiti‖ (assim chamou Durante três anos foi funcionário da UNICEF para Comunicação Social e Advo- Mário Pinto de Andrade aos jovens poetas autores do Mantenhas para cacy. Na Swedish Save The Children – Radda Barnen, trabalhou como respon- sável de Programas e Projectos e Representante Nacional. Foi ―Focal Point‖ da quem Luta). IRIN (ONU) na Guiné Bissau e pertenceu à Comissão Nacional da UNESCO. Tony Tcheka, natural de Bissau, poeta e jornalista, considerado por alguns Hoje é colunista da revista LUSOGRAFIAS, comentador da RTP, Freelancer, especialistas da literatura guineense como um dos nomes que tem marca- funções que acumula com as de consultor para projectos de desenvolvimento e do a poesia que faz no seu país, era um dos meninos... e pode ser lido em formador de jornalistas. todas as antologias produzidas na Guiné-Bissau. CANTO À GUINÉ Autor de ―Noites de Insónia na Terra Adormecida‖ (1987), foi coordena- POVO ADORMECIDO Guiné dor de três antologias poéticas editadas na Guiné-Bissau (Mantenhas para sou eu quem Luta; Antologia da Poesia Moderna Guineense; Eco do Pranto) inte- Há chuvas até depois da esperança que o meu povo não canta gra diferentes antologias publicadas em várias partes do mundo: Há chuvas Guiné ―Anthologie Littéraire de l´Afrique de l´Ouest‖ Paris-França); Antologia que o meu povo não ri és tu camponês de Bedanda teimosa- Brasileira ―No Ritmo dos Tantãs‖; ―Na Liberdade (Lisboa Portugal); Perdeu a alma mente na parede alta do macaréu ―Rumos dos Ventos‖ (Fundão-Portugal); ―Anna‖ (Alemanha); Poesia da procurando a bianda na bolanha que só encontra água na mágoa Guiné – Bissau (Grã Bretanha) e é citado no ―Dicionário temático da Fala calado da tua e canta magoado lágrima Lusofonia‖ (Lisboa-Portugal) e no ―Além-Mar‖ (Lisboa-Portugal) Entre prémios e distinções que lhe foram atribuídos destaca-se: Diploma Vinga-se no tambor Guiné na palma e no caju és tu de Honra concedido pelo ISCE – Instituto Superior das Ciências da Edu- mas o ritmo não sai criança sem tempo de ser cação de Lisboa, pelo conjunto das suas obras; ―Diploma de Mérito Grau menino Dobra-se sob o sikó de Engenheiro de Almas atribuído pela Sociedade de Autores Guineenses como o guerreiro vergado Guiné (SGA) pela contribuição dada à literatura guineense; Ainda do “SGA” cala o sofrimento no peito és tu mulher-bidera recebeu mais três Diplomas na área de Jornalismo (televisão, rádio e O meu povo em filas de insónia imprensa escrita). chora no canto noites di kumpra pon canta no choro (mafé di aos) Enquanto jornalista fez parte do primeiro grupo de jornalistas que traba- e fala na garganta do bombolon lhou e lançou os alicerces da Rádio nacional (RDN) como Redactor- Guiné Grei silêncio Produtor e mais tarde seu director. Foi Chefe de Redacção e Director do quebrado é um grito nas gargalhadas de Kussilintra saído de mil ais Jornal Nô Pintcha. Foi durante muitos anos correspondente da BBC de em quedas de água que se acolhe n calcanhar Londres, da TSF de Lisboa; Analista e comentador da Voz da América, moldando pedras da terra adormecida esfriando corpos BBC, Voz da Alemanha e RDP África. Na área da imprensa escrita, foi esculpidos Mas correspondente do Público; LUSA, Tanjug; ANOP, NP… Em Lisboa no corpo do bissilão durante três anos foi editor da Revista África Lusófona. Na Televisão foi Guiné somos todos mesmo depois da produtor e apresentador do programa Fórum-RTP. esperança
  • 13. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 13 Ensaio Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco - UFRJ Conceição Lima: a Vigília e um outro Olhar sobre a História M aria da Conceição Costa de Deus Lima nasceu na Ilha de São Tomé em submerso na memória histórica. É um ser cindido, que se debate entre as 1961, trinta e cinco anos depois de D. Alda que poderia ser sua mãe. reminiscências do outrora e a fratura do presente. Nos primeiros poemas, conforme Pertence, portanto, a uma geração poética bem mais jovem, tendo palavras de Inocência Mata no prefácio ao livro, há a procura "de um lugar matricial escrito e publicado após a independência. Estudou jornalismo em Portugal e em que assenta a busca da utopia e do sonho" ( O Útero da casa, p. 12). No entanto, a utopia e o sonho, no universo poético de Conceição Lima, não mais apresentam as licenciou-se em Estudos Afro-Portugueses e Brasileiros pelo King´s College de conotações encontradas nos poemas de Alda do Espírito Santo. Na poiesis de Londres. É mestre em Estudos Africanos pela School of Oriental and African Conceição, há o pleno conhecimento de que o templo mátrio se transformou num Studies. Atualmente, trabalha na BBC de Londres em programas que dizem castelo melancólico (O Útero da casa, p.18), de que as quimeras sociais foram respeito à Língua Portuguesa. Tem muitos poemas em antologias, jornais e interrompidas e se encontram soterradas, sob as ruínas da História. Há, portanto, revistas. Até o presente momento, possui apenas dois livros de poesia publicados absoluta consciência de que tudo, atualmente, é fugaz, transitório, não havendo mais pela Editora Caminho de Lisboa: O Útero da casa (2004) e A Dolorosa raiz do crenças proféticas no futuro, nem certezas em relação a projetos acabados. Como micondó ( 2006). tecelã do precário, a voz enunciadora vai tecendo o poema e a reescrita da casa, Nossa análise privilegiará O Útero da casa, cujo lirismo intimista não impede, permeada por forte sentimento de inconclusão. contudo, um olhar vigilante sobre o passado e o presente do país. Nesse livro, a voz lírica enunciadora dos poemas, situada na encruzilhada de esgarçadas Sobre os escombros da cidade morta Projectei a minha casa lembranças pessoais e coletivas, tem plena consciência tanto do outrora histórico, Recortada contra o mar. como do atual contexto político-social de São Tomé, onde os antigos sonhos se Aqui. encontram desfigurados. Após o ardor da independência, Conceição Lima procura Sonho ainda o pilar reabitar, com lucidez, não só a casa, metáfora da mátria e da nação3, mas Uma rectidão de torre, de altar. também o poema, espaço discursivo sobredeterminado, onde a linguagem se faz Ouço murmúrios de barcos morada do ser e reflexão sobre a História. Na varanda azul. E reinvento em cada rosto fio Após o ardor da reconquista A fio não caíram manás sobre os nossos campos As linhas inacabadas do projecto. E na dura travessia do deserto ( O Útero da casa, p. 20). aprendemos que a terra prometida era aqui Em A Dolorosa raiz do micondó, publicado em 2006, Conceição Lima continua na Ainda aqui e sempre aqui. senda de revisitar criticamente a história de São Tomé e Príncipe. Contudo, como Duas ilhas indómitas a desbravar. "uma aracne4 dos tempos atuais", conhece a própria limitação de sua tecelagem: O padrão a ser erguido pela nudez insepulta dos nossos punhos. Eu e a minha tábua de conjugações lentas Este avaro, inconstruído agora (Apud: Sonha Mamana África, p.227-228) Eu e a constante inconclusão do meu porvir Depois da euforia provocada logo a seguir à libertação de São Tomé e Príncipe do jugo (A Dolorosa raiz do micondó, p. 13) colonial, a poética de Conceição Lima emerge com forte singularidade, apresentando um olhar vigilante, cujo compromisso se estabelece, em primeiro plano, com a reescrita da A proposta de um olhar corrosivo em relação à História5, presente desde O Útero da terra natal, "duas ilhas indómitas a desbravar", segundo versos da própria autora. Para que casa, se mantém e é aprofundada no segundo livro de Conceição Lima, onde um dos a capacidade de sonhar não se perca totalmente, a poetisa usa a consciência crítica. Sabe poemas reescreve poeticamente o massacre ocorrido, em 1953, nas Ilhas de São que, no litoral da aurora da liberdade de seu país, há ainda muitas pedras amargas. Por Tomé e Príncipe, quando o governador Carlos de Sousa Gorgulho reprimiu isso, um clima de melancolia envolve seus poemas. A transitoriedade percorre a obra da violentamente as populações rebeldes, tendo provocado muitas mortes. A dolorosa autora, onde, em vários de seus textos, os sujeitos líricos se assumem peregrinos, buscando raiz do micondó é uma alegoria das dores vividas pelos habitantes das Ilhas em a transparência dos tempos ancestrais, anteriores ao colonialismo e à luta armada. Esses decorrência da opressão colonial; alude a uma árvore da flora local que viu chegarem sujeitos poéticos exorcizam a memória da violência vivenciada por São Tomé e Príncipe ao Arquipélago, em 1470, João de Santarém e Pedro Escobar, mas que resistiu através dos séculos. Procuram livrar-se, dessa forma, do sangue das palavras para que o através dos séculos. país e os poemas possam ser reabitados. Emergiremos do canto Em O Útero da casa, a par da corrosiva vigília na reescrita da História, há um como do chão emerge o milho jovem profundo lirismo na captação de lembranças e paisagens do presente e do outrora das e nús, inteiros, recuperaremos Ilhas. Um forte erotismo sinestésico domina a memória que vai evocando ruídos e a transparência do tempo inicial odores característicos do Arquipélago: a beleza das praias e a limpidez das águas do Puros reabitaremos o poema e a claridade mar, o canto dos pássaros (mesmo que, atualmente, em pânico, atormentados), a cor Para que a palavra amanheça e o sonho não se perca. vermelha do barro e dos ibiscos, o marulho das ondas, o aroma desprendido das plantações de café e cacau, o zunido da brisa fazendo farfalhar as folhas das (Apud: Sonha Mamana África, p.227-228) palmeiras e das canas-de-açúcar. Uma profunda sensualidade impulsiona os sujeitos líricos dos poemas em direção ao útero das Ilhas, metáfora, por excelência, do centro Memória e linguagem se instituem como instâncias privilegiadas em O Útero da casa. das raízes culturais santomenses. Há um intenso desejo de reabitar a terra, a cultura, a Segundo Ecléa Bosi, a linguagem é o elemento socializador da memória; é ela que História. Porém, a voz lírica enunciadora pressente que, para tal, é preciso, "unifica, reduz e aproxima o sonho, a imagem lembrada, as imagens da vigília primeiramente, reabitar o poema. Não aquele que se revestiu de euforia e alimentou o atual" (BOSI, Eclea. Memória e sociedade, p.18). Ora, é, desse modo, por seu intermédio, sonho libertário de jovens inocentes (cf. O Útero da casa, p. 24), mas o que é agora que o reabitar da casa, na poesia de Conceição Lima, ganha corpo. É pelo intercâmbio tecido, na fratura dos sonhos, no entrelugar da paixão e da vigília das palavras. criativo entre o discurso poético e o processo evocativo que se erige a construção da casa- Depreende-se, então, nos poemas um percurso rumo ao seio da linguagem, a um nação e da casa-poema, ambas intimamente relacionadas ao útero das Ilhas, local espaço metapoético que, uterinamente, repensa o antigo ethos umbilical com as Ilhas, placentário das origens identitárias. reavaliando, de dentro, as estereotipadas visões exóticas e/ou paradisíacas que a colonização sempre imputou a São Tomé e Príncipe. Quero-me desperta Se ao útero da casa retorno Sempre desperto, insone, em permanente vigília, o sujeito lírico de O Útero da casa Para tactear a diurna penumbra efetua um profundo e consciente mergulho no passado, revendo "a herança saquea- Das paredes da", "o sangue da lua e as línguas decepadas", as figuras heróicas forjadas pelo colo- Na pele dos dedos reviver a maciez nialismo. Questiona esses vultos históricos e denuncia São Tomé como uma nação Dos dias subterrâneos ainda sedenta de heróis (O Útero da casa, p. 31). Poeticamente rasura as memórias Os momentos idos dolorosas das roças - dos cacauzais, canaviais e cafezais -, onde o sangue de escravos e contratados deixou nódoas que impregnaram o solo das Ilhas. Surreais imagens de ( O Útero da casa, p. 17) raízes e pétalas de cacaueiros sangrando das unhas dos mortos (O Útero da casa, p. 30) se apresentam como alegorias de releitura crítica e corrosiva da história de São Logo de saída, a voz lírica, no feminino, se quer desperta, optando por um estado de Tomé. Fantasmas do outrora assombram a memória poética que faz a catarse das vigília da linguagem, por meio da qual vai, acordada, reocupando as entranhas da casa dores sofridas por seu povo durante mais de quatro séculos. para traçar uma nova geografia das Ilhas. Seu intento é passar a limpo o que se encontra
  • 14. SEXTA-FEIRA, 02 DE MARÇO DE 2012 | LITERATAS | LITERATAS.BLOGS.SAPO.MZ | 14 Concursos Prêmio Literário Valdeck será em homenagem a Jorge Amado E FOTO: Ampliar FONTE: Radar Notícias stão abertas, até o dia 30 de maio de 2012, as inscrições para a oitava edição do ―Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus‖, o qual faz homenagem ao escritor Jorge Amado, que completaria 100 anos em 10 de agosto de 2012. Autor de dezenas de obras traduzidas pelo mundo todo, Amado é o autor baiano mais famoso e lido por pessoas de todas as idades. O Núcleo Baiano da União Brasileira de Escritores (UBE), na pessoa do coordenador Carlos Souza, se junta a esta ação, com o objetivo de fortalecer a literatura do esta- do da Bahia e prestar um tributo a Jorge Amado, um dos fundadores da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro. Neste ano, serão aceitos textos inéditos (artigos, crônicas ou resenhas) ou já publicadas sobre a vida e/ou obra de Jorge Amado ou de escritores e poetas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portu- gal, São Tomé e Príncipe bol de 2014 e sobre escritores de outras partes do mundo, desde que os e Timor- textos sejam escritos em língua portuguesa. Leste. Outros O concurso literário promovido pelo jornalista Valdeck Almeida de temas Jesus é uma iniciativa divulgada no Eixo 4 do Plano Nacional do Livro serão e Leitura, do Ministério da Cultura e já publicou quase 1100 poetas do aceitos mundo todo, desde 2005. como: redações As inscrições - Para participar, os interessados deverão enviar seus tex- sobre tos de até 50 linhas; minibiografia de no máximo cinco linhas; endere- assuntos ço completo, com CEP e telefone de contato e DDD para o e- africa- mail valdeck2007@gmail.com. Os trabalhos devem vir dentro do cor- nos, Em 2012, comemora-se o centenário do nascimento de Jorge po do e-mail e anexados em formato Word. Inscrições incompletas Copa do serão desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão Amado e passam 110 anos do nascimento de Drummond de Mundo aceitas inscrições pelos correios. Andrade. No Brasil, prepara-se um filme, exposições e novas edições de Fute- Antologia:Brazilians Days Divulgado e lançado na Expo-America em New York – EUA Regulamento Paper: OFF SET 1.7. A presente antologia será confeccionada pela Editora Literarte, será Prazo para envio dos textos: 03 de abril de 2012 registrada , receberá ISBN , mas cada autor é responsável por registrar suas obras, a antologia tem como finalidade estimular a produção de DA PARTICIPAÇÃO contos, formação e divulgação de novos autores. 1.1. A presente antologia é promovida pela Literarte- Associação Internacio- nal de escritores e artistas . 2)DA ACEITAÇÃO DOS CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS 2.1. Serão aceitos apenas contos , crônicas e poesias em língua portu- 1.2. Poderão participar da antologia todas as pessoas físicas maiores de 18 guesa, de temática pertinente a antologia, com limite de cinco mil anos, ou menores com permissão do responsável, residentes legais no Brasil, caracteres por texto com espaços, em formato A4, espaços de 1,5 entre bem como brasileiros residentes no exterior. Também poderão participar da linhas, fontes times ou arial tamanho 12, acompanhados dos dados de Antologia escritores de outras nacionalidades, desde que a língua mantida inscrição que constam no parágrafo 5.5 desse regulamento. seja a língua portuguesa. 2.2. Não serão aceitos fanfics nem contos que pertençam ao universo de 1.3. Das características da antologia: A Antologia , receberá única e exclusi- personagens já existentes criados por outro autor. vamente contos, poesias, trovas, haikais,sonetos e crônicas, sendo que a 2.3. Os contos devidamente formatados deverão ser enviados para o criatividade e imaginação do escritor darão o toque e estilo ao trabalho. 1.4. email:literarte@grupoliterarte.com.br ou atendimento@grupoliterarte.c Poderão participar da antologia autores com menos de vinte e um om.br ou enviados diretamente pelo anos,mediante autorização por escrito de um responsável legal, acompanha- site: www.grupoliterarte.com.br Assunto: Antologia New York , junto da de fotocópia do original de documento de identidade do mesmo para con- com os dados de inscrição e demais documentos de autorização. ferência e registro de inscrição. 2.4. Os contos inscritos deverão contemplar, obrigatoriamente, os 1.5. A participação se dará no sistema de cotas, sendo que cada autor deverá seguintes elementos: (a) narrativa em primeira pessoa ou terceira pes- proceder ao pagamento da seguinte forma: soa; (b) O tratamento dado ao tema será de exclusividade de cada autor. Cada autor pagará o valor de R$ 500,00 (quinhentos reais) que podem ser 2.5. Caso o autor deseje que seu conto tenha mais do que o espaço pagos em duas parcelas, por cota de publicação com o primeiro pagamento reservado de ele terá a opção de adquirir o valor de duas cotas, assim até 10 de abril e o segundo até 10 de maio.· podendo ampliar seu espaço na antologia. Os procedimentos são os (Caso receba notificação que seu texto foi aprovado)· mesmo citados no item 1.5 desse regulamento, caso haja espaço na 1.6 Os participantes receberão um total de 12 exemplares da Antologia por antologia liberaremos alguns autores que excedam sem custo extra. participação. 5.2. Sobre este concurso pode-se obter informacoes no site Título; www.grupoliterarte.com.br . Formato: 230 X 160 mm (fechado)