SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 5
Downloaden Sie, um offline zu lesen
<http://thelisbongiraffe.typepad.com/diario_de_lisboa/2006/09/mitos_e_lendas__2.html> acesso em 11/12/2008

              Mitos e lendas daqui e de lá - Brasil, via África: Quibungo

É uma espécie de monstro, meio homem, meio bicho. Tem a cabeça enorme e um grande buraco
no meio das costas, que se abre e fecha conforme ele abaixa e levanta a cabeça. Come pessoas,
especialmente crianças e mulheres, abrindo o buraco e atirando-as dentro dele.

O quibungo, também chamado kibungo ou chibungo, é mito de origem africana que chegou ao
Brasil através dos bantus e se fixou no estado da Bahia. Suas histórias sempre surgem em um
conto romanceado, com trechos cantados, como é comum na literatura oral da África. Em
Angola e Congo, quibungo significa "lobo".

Curiosamente, segundo as observações de Basílio de Magalhães, as histórias do quibungo não
acompanharam o deslocamento do elemento bantu no território brasileiro, ocorrendo
exclusivamente em terras baianas. Para Luís da Câmara Cascudo, apesar da influência africana
ser determinante, "parece que o quibungo, figura de tradições africanas, elemento de contos
negros, teve entre nós outros atributos e aprendeu novas atividades".

Extremamente voraz e feio, não possui grande inteligência ou esperteza. Também é muito
vulnerável e pode ser morto facilmente a tiro, facada, paulada ou qualquer outra arma. Covarde e
medroso, morre gritando, apavorado, de forma quase inocente.
2
<http://www.jangadabrasil.com.br/maio/im90500c.htm> acesso em 11/12/2008

Todos esses contos foram recolhidos por Artur Ramos que citou as pessoas que forneceram as
versões:
RAMOS, Artur. O folclore negro do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro, Editora da Casa do Estudante
do Brasil, 1935.

                                  A menina e o quibungo
                                            (J. da Silva Campos)

Uma menina gostava muito de sair de noite. A mãe ralhava com ela, chamando-lhe a atenção
para o quibungo que pega os meninos de noite. A menina não se importou e uma noite, o
quibungo agarrou-a e ia levando-a para comer. A menina começou a cantar:

Minha mãezinha
Quibungo tererê,
Do meu coração
Quibungo tererê
Acudi-me depressa,
Quibungo tererê,
Quibungo quer me comer

Ao que a mãe da menina respondeu:

Eu bem te dizia
Quibungo tererê
Que não andasse de noite
Quibungo tererê

A menina continuou gritando, mas ninguém quis acudi-la. Mas a avó preparou um tacho com
água fervente e quando o Quibungo ia passando, sacudiu-lhe a água em cima. O Quibungo deu
um pulo e a velha acabou matando-o com um espeto em brasa, e salvando a neta.

                               O Quibungo e o homem
               (versão de Nina Rodrigues)

Quibungo é um bicho meio homem, meio animal, tendo uma cabeça muito grande e também um
grande buraco no meio das costas, que se abre, quando ele abaixa a cabeça, e fecha, quando
levanta. Come os meninos, abaixando a cabeça, abrindo o buraco e jogando dentro as crianças.

Foi um dia, um homem que tinha três filhos, saiu de casa para o trabalho, deixando os três filhos
e a mulher. Então apareceu o Quibungo que, chegando na porta, perguntou, cantando:

De que é esta casa,
auê
como gérê, como gérê,
como érá?

A mulher respondeu:

A casa é de meu marido,
auê
como gérê, como gérê,
3
com érá.

Fez a mesma pergunta em relação aos filhos e ela respondeu que eram dela. Ele então disse:

Então, quero comê-los
auê
como gérê, como gérê,
como érá?

Ela respondeu:

Pode comê-los, embora,
auê
como gérê, como gérê,
como érá.

E ele comeu todos os três, jogando-os no buraco das costas.

Depois, perguntou de quem era a mulher, e a mulher respondeu que era de seu marido. O
Quibungo resolveu-se comê-la também, mas quando ia jogá-la no buraco, entrou o marido
armado de uma espingarda de que o Quibungo tem muito medo. Aterrado, Quibungo corre para
o centro da casa para sair pela porta do fundo, mas não achando, porque as casas dos negros só
tem uma porta, cantou:

Arrenego desta casa,
auê
Que tem uma porta só,
auê
Como gérê, como gérê,
como érá.

O homem entrou, atirou no Quibungo, matou-o e tirou os filhos pelo buraco das costas. Entrou
por uma porta, saiu por um canivete, el-rei meu senhor, que me conte sete.

                                O Quibungo e a cachorra
                                             (versão de Nina Rodrigues)

Foi um dia uma cachorra cujos filhos, todas as vezes que ela paria, eram comidos pelo
Quibungo.
Então, para poder livrar os novos filhos do Quibungo que queria comê-los, meteu-os num buraco
e ficou sentada em cima, vestida com uma saia e um colar no pescoço. Chegando o Quibungo e
vendo a cachorra assim vestida, a desconheceu e teve medo de aproximar-se. Então, passando o
cágado, ele perguntou-lhe:

Otavi, ôtavi, longôzôê
ilá ponô êfan
i vê pondêrêmun
hôtô rômen i cós
ssenta ni ananá ogan
nê sô arôrô ale nuxá.

O Cágado resondeu: "Não sei, Quibungo".
4
Passou a raposa. Quibungo fez a mesma pergunta cantando, e a raposa respondeu que não sabia.
Passou, então, o coelho e o Quibungo fez-lhe a mesma pergunta; foi quando este disse:

- Ora, Quibungo, você não conhece a cachorra vestida de saia e colar no pescoço?

Aí, o Quibungo correu atrás da cachorra para matá-la, e esta atrás do coelho. Nesta carreira
entraram pela cidade. Os homens mataram o Quibungo e a cachorra matou o coelho. Entrou por
uma porta saiu pela outra, rei meu senhor, que me conte outra.
O Quibungo e o filho Janjão

Era uma vez um Quibungo que casou com uma negra, da qual teve uma porção de filhos. Mas
ele comia todos os filhos. O último, que nasceu, a mulher escondeu num buraco, para que o
Quibungo não o comesse. Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando
o pai chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa, ele não saisse do
buraco. Que ela quando o chamava para lhe dar comidas, sempre falava com a sua voz fina de
mulher, que ele conhecia. Ora, um dia, em que o Quibungo não achou bicho nenhum para comer
no mato, nem menino para papar na cidade, onde também, às vezes, andava de noite, voltou
muito fraco para casa, onde não havia outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então,
falando com voz fina, pela fraqueza, cantou:

Toma lá curiá, meu filho!
Toma lá curiá, meu filho!

Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe trazia a comida de que ele tanto
gostava, saiu do buraco e o Quibungo o agarrou, para comê-lo.
O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava:

Minha mãe sempre me dizia
Que o Quibungo me comeria
Minha mãe sempre me dizia
Que o Quibungo me comeria..

E o Quibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto. E por isso é que o Quibungo
não tem mais mulher nem filhos.

                                O kibungo e o filho Janjão
Era uma vez um kibungo que casou com uma negra, da qual teve uma porção de filhos. Mas ele
comia todos os filhos. O último, que nasceu, a mulher escondeu num buraco, para que o kibungo
não o comesse. Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando o pai
chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa, ele não saisse do buraco.
Que ela quando o chamava para lhe dar comidas, sempre falava com a sua voz fina de mulher,
que ele conhecia. Ora, um dia, em que o kibungo não achou bicho nenhum para comer no mato,
nem menino para papar na cidade, onde também, às vezes, andava de noite, voltou muito fraco
para casa, onde não havia outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então, falando com
voz fina, pela fraqueza, cantou:

Toma lá curiá, meu filho!
Toma lá curiá, meu filho!

Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe trazia a comida de que ele tanto
gostava, saiu do buraco e o kibungo o agarrou, para comê-lo.
O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava:
5

Minha mãe sempre me dizia
Que o kibungo me comeria
Minha mãe sempre me dizia
Que o kibungo me comeria..

E o kibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto. E por isso é que o kibungo não
tem mais mulher nem filhos.

                         A aranha caranguejeira e o Quibungo
                                            (J. da Silva Campos)

A aranha caranguejeira tinha que atravessar um rio muito largo, a fim de alcançar uma árvore
carregada de frutos doces e maduros. Para isso, a aranha procurou o auxílio de vários animais, o
urubu, o jacaré, enganando-os depois. Por fim, encontrou o quibungo, "macacão todo peludo,
que come crianças", que pegava os peixes no rio, e atirava-os para trás das costas. A aranha
chegou devagarinho e comeu os peixes um a um. Quando o quibungo procurou os peixes e não
os encontrou, pegou uma discussão danada com a aranha.

Afinal saíram andando e a aranha conseguiu enganar o Quibungo, amarrando-o num toco de
árvore com cipó grosso. O Quibungo ficou ali preso uma porção de tempo e quando conseguiu se
soltar, jurou vingar-se da aranha. Escondeu-se próximo do bebedouro aonde todos os bichos iam
beber água, à espera da aranha. Mas esta meteu-se num couro de veado, foi à fonte, bebeu água
sem ser reconhecida pelo Quibungo .

                      O Quibungo e o menino do saco das penas
                                            (J. da Silva Campos)

Um menino começou a juntar penas de vários animais, que ia guardando num saco. Um dia, a
família toda foi pescar num lugar onde diziam haver quibungo. De fato, ao começarem a pescaria
ouviram um ronco enorme dentro do mato. "É o quibungo!"- gritaram. Mas o menino não se
importou. Distribuiu todos em fila, entregando a cada um uma pena da asa e outra do rabo de
passarinho. Quando o quibungo chegou, que estendeu a mão para o primeiro da fila, o menino
cantou:

- Esse é meu pai,
Auê
Gangaruê, tu cai,
Não cai.

O quibungo deu um urro – exê! – encolheu a mão e procurou agarrar o segundo da fila. O
menino cantou:

Essa é a minha mãe,
Auê
Gangaruê, tu cai,
Não cai.

E assim por diante, sem que o quibungo pudesse alcançar ninguém. Quando chegou junto do
menino, este prendeu as penas de modo que todos criaram asas e saíram voando até a casa. Lá
fizeram um grande buraco e ficaram à espera do quibungo. Quando este chegou, caiu dentro do
buraco e lá o mataram.

Weitere ähnliche Inhalte

Was ist angesagt?

Desculpa por-acaso-es-uma-bruxa
Desculpa por-acaso-es-uma-bruxaDesculpa por-acaso-es-uma-bruxa
Desculpa por-acaso-es-uma-bruxapaula figueiredo
 
A lenda da Cobra Grande e Uirapuru
A lenda da Cobra Grande e UirapuruA lenda da Cobra Grande e Uirapuru
A lenda da Cobra Grande e UirapuruNute JPA
 
O casamento da dona baratinha
O casamento da dona baratinhaO casamento da dona baratinha
O casamento da dona baratinhaivonerpm
 
Histórias infantis
Histórias infantisHistórias infantis
Histórias infantisConexaoAlvim
 
A formiguinha e a neve
A formiguinha e a neveA formiguinha e a neve
A formiguinha e a neveSimone Dantas
 
O Grilo E O Sapo
O Grilo E O SapoO Grilo E O Sapo
O Grilo E O SapoRita Steter
 
La vie de Moïse pour les petits
La vie de Moïse pour les petitsLa vie de Moïse pour les petits
La vie de Moïse pour les petitskt42 catechisme
 
Caderno Pedagógico Cabo Frio
Caderno Pedagógico Cabo FrioCaderno Pedagógico Cabo Frio
Caderno Pedagógico Cabo Friojaquecgsouza
 
Projeto conhecendo os animais
Projeto conhecendo os animaisProjeto conhecendo os animais
Projeto conhecendo os animaistoniatoorcelino
 
Ele ressuscitou - Livro para colorir
Ele ressuscitou - Livro para colorirEle ressuscitou - Livro para colorir
Ele ressuscitou - Livro para colorirFreekidstories
 
Papá por favor apanha-me a lua...
Papá por favor apanha-me a lua...Papá por favor apanha-me a lua...
Papá por favor apanha-me a lua...labeques
 
A Formiga E A Neve
A Formiga E A NeveA Formiga E A Neve
A Formiga E A Neveguest288cbe
 

Was ist angesagt? (20)

O peixinho dourado
O peixinho douradoO peixinho dourado
O peixinho dourado
 
Desculpa por-acaso-es-uma-bruxa
Desculpa por-acaso-es-uma-bruxaDesculpa por-acaso-es-uma-bruxa
Desculpa por-acaso-es-uma-bruxa
 
Gato das botas
Gato das botasGato das botas
Gato das botas
 
A lenda da Cobra Grande e Uirapuru
A lenda da Cobra Grande e UirapuruA lenda da Cobra Grande e Uirapuru
A lenda da Cobra Grande e Uirapuru
 
O casamento da dona baratinha
O casamento da dona baratinhaO casamento da dona baratinha
O casamento da dona baratinha
 
Histórias infantis
Histórias infantisHistórias infantis
Histórias infantis
 
A formiguinha e a neve
A formiguinha e a neveA formiguinha e a neve
A formiguinha e a neve
 
Contos africanos
Contos africanosContos africanos
Contos africanos
 
A ilha do Tesouro
A ilha do TesouroA ilha do Tesouro
A ilha do Tesouro
 
O Grilo E O Sapo
O Grilo E O SapoO Grilo E O Sapo
O Grilo E O Sapo
 
Texto completo - O Grufalão
Texto completo - O GrufalãoTexto completo - O Grufalão
Texto completo - O Grufalão
 
A bela adormecida
A bela adormecida A bela adormecida
A bela adormecida
 
Monstro rosa
Monstro rosaMonstro rosa
Monstro rosa
 
La vie de Moïse pour les petits
La vie de Moïse pour les petitsLa vie de Moïse pour les petits
La vie de Moïse pour les petits
 
Caderno Pedagógico Cabo Frio
Caderno Pedagógico Cabo FrioCaderno Pedagógico Cabo Frio
Caderno Pedagógico Cabo Frio
 
Projeto conhecendo os animais
Projeto conhecendo os animaisProjeto conhecendo os animais
Projeto conhecendo os animais
 
Ele ressuscitou - Livro para colorir
Ele ressuscitou - Livro para colorirEle ressuscitou - Livro para colorir
Ele ressuscitou - Livro para colorir
 
A princesa e a sapo
A princesa e a sapoA princesa e a sapo
A princesa e a sapo
 
Papá por favor apanha-me a lua...
Papá por favor apanha-me a lua...Papá por favor apanha-me a lua...
Papá por favor apanha-me a lua...
 
A Formiga E A Neve
A Formiga E A NeveA Formiga E A Neve
A Formiga E A Neve
 

Ähnlich wie Contos quibungo

Ähnlich wie Contos quibungo (20)

O capuchinho vermelho (adaptação)
O capuchinho vermelho (adaptação)O capuchinho vermelho (adaptação)
O capuchinho vermelho (adaptação)
 
História corre, corre, cabacinha
História   corre, corre, cabacinhaHistória   corre, corre, cabacinha
História corre, corre, cabacinha
 
Livro das Histórias Populares
Livro das Histórias PopularesLivro das Histórias Populares
Livro das Histórias Populares
 
2 contos populares portugueses
2 contos populares portugueses2 contos populares portugueses
2 contos populares portugueses
 
A águia e a coruja
A águia e a corujaA águia e a coruja
A águia e a coruja
 
Letras com rugas
Letras com rugasLetras com rugas
Letras com rugas
 
4C
4C4C
4C
 
Três Contos Populares Portugueses
Três Contos Populares PortuguesesTrês Contos Populares Portugueses
Três Contos Populares Portugueses
 
27 folclore
27 folclore27 folclore
27 folclore
 
ADIVINHE O QUE É... FOLCLORE ( Fundação Educar)
ADIVINHE O QUE É... FOLCLORE ( Fundação Educar)ADIVINHE O QUE É... FOLCLORE ( Fundação Educar)
ADIVINHE O QUE É... FOLCLORE ( Fundação Educar)
 
Beto brrasil em adivinhe o que é... folclore
Beto brrasil em adivinhe o que é... folcloreBeto brrasil em adivinhe o que é... folclore
Beto brrasil em adivinhe o que é... folclore
 
F. educar adivinhe o que é... folclore
F. educar   adivinhe o que é... folcloreF. educar   adivinhe o que é... folclore
F. educar adivinhe o que é... folclore
 
27 folclore
27 folclore27 folclore
27 folclore
 
Apresentação2
Apresentação2Apresentação2
Apresentação2
 
Interpretaçao de texto pip hoz malepon viuh echer ou o caçador
Interpretaçao de texto pip hoz malepon viuh echer ou o caçadorInterpretaçao de texto pip hoz malepon viuh echer ou o caçador
Interpretaçao de texto pip hoz malepon viuh echer ou o caçador
 
Conto joao.pe.feijao bevans
Conto joao.pe.feijao bevansConto joao.pe.feijao bevans
Conto joao.pe.feijao bevans
 
O pequeno polegar
O pequeno polegarO pequeno polegar
O pequeno polegar
 
Nx zero e chapeuzinho[1]
Nx zero e chapeuzinho[1]Nx zero e chapeuzinho[1]
Nx zero e chapeuzinho[1]
 
Cplp miolo contos
Cplp miolo contosCplp miolo contos
Cplp miolo contos
 
Projeto Folclore
Projeto FolcloreProjeto Folclore
Projeto Folclore
 

Mehr von Mara Virginia

Abordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidadeAbordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidadeMara Virginia
 
Abordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidadeAbordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidadeMara Virginia
 
Dancas brasileiras de_matriz_africana
Dancas brasileiras de_matriz_africanaDancas brasileiras de_matriz_africana
Dancas brasileiras de_matriz_africanaMara Virginia
 
Luis fernando verissimo o santinho (doc) (rev)
Luis fernando verissimo   o santinho (doc) (rev)Luis fernando verissimo   o santinho (doc) (rev)
Luis fernando verissimo o santinho (doc) (rev)Mara Virginia
 
Modernismo em portugal
Modernismo em portugalModernismo em portugal
Modernismo em portugalMara Virginia
 
Predicação nominal
Predicação nominalPredicação nominal
Predicação nominalMara Virginia
 
Frase, oração e período
Frase, oração e períodoFrase, oração e período
Frase, oração e períodoMara Virginia
 
Orações subordinadas adverbiais
Orações subordinadas adverbiaisOrações subordinadas adverbiais
Orações subordinadas adverbiaisMara Virginia
 
Orações subordinadas
Orações subordinadasOrações subordinadas
Orações subordinadasMara Virginia
 
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)Mara Virginia
 
Termos Integrantes Da OraçãO
Termos Integrantes Da OraçãOTermos Integrantes Da OraçãO
Termos Integrantes Da OraçãOMara Virginia
 
Figuras De Linguagem
Figuras De LinguagemFiguras De Linguagem
Figuras De LinguagemMara Virginia
 

Mehr von Mara Virginia (20)

Abordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidadeAbordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidade
 
Abordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidadeAbordagem da pesquisa em contabilidade
Abordagem da pesquisa em contabilidade
 
A arte na história
A arte na históriaA arte na história
A arte na história
 
Dancas brasileiras de_matriz_africana
Dancas brasileiras de_matriz_africanaDancas brasileiras de_matriz_africana
Dancas brasileiras de_matriz_africana
 
Luis fernando verissimo o santinho (doc) (rev)
Luis fernando verissimo   o santinho (doc) (rev)Luis fernando verissimo   o santinho (doc) (rev)
Luis fernando verissimo o santinho (doc) (rev)
 
Modernismo em portugal
Modernismo em portugalModernismo em portugal
Modernismo em portugal
 
Surgimento da arte
Surgimento da arteSurgimento da arte
Surgimento da arte
 
Pré modernismo
Pré modernismoPré modernismo
Pré modernismo
 
Predicação nominal
Predicação nominalPredicação nominal
Predicação nominal
 
Frase, oração e período
Frase, oração e períodoFrase, oração e período
Frase, oração e período
 
Predicação verbal
Predicação verbalPredicação verbal
Predicação verbal
 
Orações subordinadas adverbiais
Orações subordinadas adverbiaisOrações subordinadas adverbiais
Orações subordinadas adverbiais
 
Orações subordinadas
Orações subordinadasOrações subordinadas
Orações subordinadas
 
Produçao De Texto
Produçao  De TextoProduçao  De Texto
Produçao De Texto
 
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)Luis Fernando Verissimo   O Santinho (Doc) (Rev)
Luis Fernando Verissimo O Santinho (Doc) (Rev)
 
AdvéRbios
AdvéRbiosAdvéRbios
AdvéRbios
 
Termos Integrantes Da OraçãO
Termos Integrantes Da OraçãOTermos Integrantes Da OraçãO
Termos Integrantes Da OraçãO
 
Vozes Do Verbo
Vozes Do VerboVozes Do Verbo
Vozes Do Verbo
 
Figuras De Linguagem
Figuras De LinguagemFiguras De Linguagem
Figuras De Linguagem
 
Romance
RomanceRomance
Romance
 

Contos quibungo

  • 1. <http://thelisbongiraffe.typepad.com/diario_de_lisboa/2006/09/mitos_e_lendas__2.html> acesso em 11/12/2008 Mitos e lendas daqui e de lá - Brasil, via África: Quibungo É uma espécie de monstro, meio homem, meio bicho. Tem a cabeça enorme e um grande buraco no meio das costas, que se abre e fecha conforme ele abaixa e levanta a cabeça. Come pessoas, especialmente crianças e mulheres, abrindo o buraco e atirando-as dentro dele. O quibungo, também chamado kibungo ou chibungo, é mito de origem africana que chegou ao Brasil através dos bantus e se fixou no estado da Bahia. Suas histórias sempre surgem em um conto romanceado, com trechos cantados, como é comum na literatura oral da África. Em Angola e Congo, quibungo significa "lobo". Curiosamente, segundo as observações de Basílio de Magalhães, as histórias do quibungo não acompanharam o deslocamento do elemento bantu no território brasileiro, ocorrendo exclusivamente em terras baianas. Para Luís da Câmara Cascudo, apesar da influência africana ser determinante, "parece que o quibungo, figura de tradições africanas, elemento de contos negros, teve entre nós outros atributos e aprendeu novas atividades". Extremamente voraz e feio, não possui grande inteligência ou esperteza. Também é muito vulnerável e pode ser morto facilmente a tiro, facada, paulada ou qualquer outra arma. Covarde e medroso, morre gritando, apavorado, de forma quase inocente.
  • 2. 2 <http://www.jangadabrasil.com.br/maio/im90500c.htm> acesso em 11/12/2008 Todos esses contos foram recolhidos por Artur Ramos que citou as pessoas que forneceram as versões: RAMOS, Artur. O folclore negro do Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro, Editora da Casa do Estudante do Brasil, 1935. A menina e o quibungo (J. da Silva Campos) Uma menina gostava muito de sair de noite. A mãe ralhava com ela, chamando-lhe a atenção para o quibungo que pega os meninos de noite. A menina não se importou e uma noite, o quibungo agarrou-a e ia levando-a para comer. A menina começou a cantar: Minha mãezinha Quibungo tererê, Do meu coração Quibungo tererê Acudi-me depressa, Quibungo tererê, Quibungo quer me comer Ao que a mãe da menina respondeu: Eu bem te dizia Quibungo tererê Que não andasse de noite Quibungo tererê A menina continuou gritando, mas ninguém quis acudi-la. Mas a avó preparou um tacho com água fervente e quando o Quibungo ia passando, sacudiu-lhe a água em cima. O Quibungo deu um pulo e a velha acabou matando-o com um espeto em brasa, e salvando a neta. O Quibungo e o homem (versão de Nina Rodrigues) Quibungo é um bicho meio homem, meio animal, tendo uma cabeça muito grande e também um grande buraco no meio das costas, que se abre, quando ele abaixa a cabeça, e fecha, quando levanta. Come os meninos, abaixando a cabeça, abrindo o buraco e jogando dentro as crianças. Foi um dia, um homem que tinha três filhos, saiu de casa para o trabalho, deixando os três filhos e a mulher. Então apareceu o Quibungo que, chegando na porta, perguntou, cantando: De que é esta casa, auê como gérê, como gérê, como érá? A mulher respondeu: A casa é de meu marido, auê como gérê, como gérê,
  • 3. 3 com érá. Fez a mesma pergunta em relação aos filhos e ela respondeu que eram dela. Ele então disse: Então, quero comê-los auê como gérê, como gérê, como érá? Ela respondeu: Pode comê-los, embora, auê como gérê, como gérê, como érá. E ele comeu todos os três, jogando-os no buraco das costas. Depois, perguntou de quem era a mulher, e a mulher respondeu que era de seu marido. O Quibungo resolveu-se comê-la também, mas quando ia jogá-la no buraco, entrou o marido armado de uma espingarda de que o Quibungo tem muito medo. Aterrado, Quibungo corre para o centro da casa para sair pela porta do fundo, mas não achando, porque as casas dos negros só tem uma porta, cantou: Arrenego desta casa, auê Que tem uma porta só, auê Como gérê, como gérê, como érá. O homem entrou, atirou no Quibungo, matou-o e tirou os filhos pelo buraco das costas. Entrou por uma porta, saiu por um canivete, el-rei meu senhor, que me conte sete. O Quibungo e a cachorra (versão de Nina Rodrigues) Foi um dia uma cachorra cujos filhos, todas as vezes que ela paria, eram comidos pelo Quibungo. Então, para poder livrar os novos filhos do Quibungo que queria comê-los, meteu-os num buraco e ficou sentada em cima, vestida com uma saia e um colar no pescoço. Chegando o Quibungo e vendo a cachorra assim vestida, a desconheceu e teve medo de aproximar-se. Então, passando o cágado, ele perguntou-lhe: Otavi, ôtavi, longôzôê ilá ponô êfan i vê pondêrêmun hôtô rômen i cós ssenta ni ananá ogan nê sô arôrô ale nuxá. O Cágado resondeu: "Não sei, Quibungo".
  • 4. 4 Passou a raposa. Quibungo fez a mesma pergunta cantando, e a raposa respondeu que não sabia. Passou, então, o coelho e o Quibungo fez-lhe a mesma pergunta; foi quando este disse: - Ora, Quibungo, você não conhece a cachorra vestida de saia e colar no pescoço? Aí, o Quibungo correu atrás da cachorra para matá-la, e esta atrás do coelho. Nesta carreira entraram pela cidade. Os homens mataram o Quibungo e a cachorra matou o coelho. Entrou por uma porta saiu pela outra, rei meu senhor, que me conte outra. O Quibungo e o filho Janjão Era uma vez um Quibungo que casou com uma negra, da qual teve uma porção de filhos. Mas ele comia todos os filhos. O último, que nasceu, a mulher escondeu num buraco, para que o Quibungo não o comesse. Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando o pai chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa, ele não saisse do buraco. Que ela quando o chamava para lhe dar comidas, sempre falava com a sua voz fina de mulher, que ele conhecia. Ora, um dia, em que o Quibungo não achou bicho nenhum para comer no mato, nem menino para papar na cidade, onde também, às vezes, andava de noite, voltou muito fraco para casa, onde não havia outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então, falando com voz fina, pela fraqueza, cantou: Toma lá curiá, meu filho! Toma lá curiá, meu filho! Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe trazia a comida de que ele tanto gostava, saiu do buraco e o Quibungo o agarrou, para comê-lo. O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava: Minha mãe sempre me dizia Que o Quibungo me comeria Minha mãe sempre me dizia Que o Quibungo me comeria.. E o Quibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto. E por isso é que o Quibungo não tem mais mulher nem filhos. O kibungo e o filho Janjão Era uma vez um kibungo que casou com uma negra, da qual teve uma porção de filhos. Mas ele comia todos os filhos. O último, que nasceu, a mulher escondeu num buraco, para que o kibungo não o comesse. Tinha o nome de Janjão, e a mãe recomendou muito a ele que, quando o pai chegasse do mato e chamasse por ele, falando em voz muito grossa, ele não saisse do buraco. Que ela quando o chamava para lhe dar comidas, sempre falava com a sua voz fina de mulher, que ele conhecia. Ora, um dia, em que o kibungo não achou bicho nenhum para comer no mato, nem menino para papar na cidade, onde também, às vezes, andava de noite, voltou muito fraco para casa, onde não havia outra carne senão a do filho, que estava escondido. Então, falando com voz fina, pela fraqueza, cantou: Toma lá curiá, meu filho! Toma lá curiá, meu filho! Janjão, pensando que era a mãe, que voltava da cidade e lhe trazia a comida de que ele tanto gostava, saiu do buraco e o kibungo o agarrou, para comê-lo. O pobrezinho do Janjão, chorando, cantava:
  • 5. 5 Minha mãe sempre me dizia Que o kibungo me comeria Minha mãe sempre me dizia Que o kibungo me comeria.. E o kibungo comeu o último filho e a mulher morreu de desgosto. E por isso é que o kibungo não tem mais mulher nem filhos. A aranha caranguejeira e o Quibungo (J. da Silva Campos) A aranha caranguejeira tinha que atravessar um rio muito largo, a fim de alcançar uma árvore carregada de frutos doces e maduros. Para isso, a aranha procurou o auxílio de vários animais, o urubu, o jacaré, enganando-os depois. Por fim, encontrou o quibungo, "macacão todo peludo, que come crianças", que pegava os peixes no rio, e atirava-os para trás das costas. A aranha chegou devagarinho e comeu os peixes um a um. Quando o quibungo procurou os peixes e não os encontrou, pegou uma discussão danada com a aranha. Afinal saíram andando e a aranha conseguiu enganar o Quibungo, amarrando-o num toco de árvore com cipó grosso. O Quibungo ficou ali preso uma porção de tempo e quando conseguiu se soltar, jurou vingar-se da aranha. Escondeu-se próximo do bebedouro aonde todos os bichos iam beber água, à espera da aranha. Mas esta meteu-se num couro de veado, foi à fonte, bebeu água sem ser reconhecida pelo Quibungo . O Quibungo e o menino do saco das penas (J. da Silva Campos) Um menino começou a juntar penas de vários animais, que ia guardando num saco. Um dia, a família toda foi pescar num lugar onde diziam haver quibungo. De fato, ao começarem a pescaria ouviram um ronco enorme dentro do mato. "É o quibungo!"- gritaram. Mas o menino não se importou. Distribuiu todos em fila, entregando a cada um uma pena da asa e outra do rabo de passarinho. Quando o quibungo chegou, que estendeu a mão para o primeiro da fila, o menino cantou: - Esse é meu pai, Auê Gangaruê, tu cai, Não cai. O quibungo deu um urro – exê! – encolheu a mão e procurou agarrar o segundo da fila. O menino cantou: Essa é a minha mãe, Auê Gangaruê, tu cai, Não cai. E assim por diante, sem que o quibungo pudesse alcançar ninguém. Quando chegou junto do menino, este prendeu as penas de modo que todos criaram asas e saíram voando até a casa. Lá fizeram um grande buraco e ficaram à espera do quibungo. Quando este chegou, caiu dentro do buraco e lá o mataram.