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Todos os Direitos Reservados. Copyright 1981 para a língua portuguesa da
Casa Publicadora das Assembléias de Deus.
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Almeida, Abraão Pereira de, 1939-
A444s O Sábado, a lei e a graça / Abraão de Almeida. - Rio de
Janeiro : Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1981.
Bibliografia
1. Sábado - Ensinamentos bíblicos I. Título
CDD - 263
81-0166 CDU - 263
Código para Pedidos: CV-402
Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal, 331
20001 Rio de Janeiro, RJ, Brasil
6ª Edição/1996
DEDICO
Aos meus pais Antonio e Maria:
À minha esposa Lúcia;
Aos meus filhos
Elaine,
Elaíse,
Elida e
Júnior;
Aos meus irmãos
Clara,
Manoel,
Carmem,
Elisa,
Iolanda,
Moisés,
Irani,
Irene,
Ananias,
Marina.
ÍNDICE
Prefácio à primeira edição 7
Prefácio à segunda edição 13
1. Religião divina e religiões humanas 15
2. Fé, a força do cristão 25
3. Obras mortas e obras vivas 31
4. A lei é santa43
5. Os dez mandamentos e o sábado 51
6. Sinal da besta: sábado ou domingo? 63
7. Quem não guarda o sábado não é de Deus?! 69
8. Diálogo com um sabatista 77
9. Privados da verdade 85
10. Liberdade cristã ou servidão legalista? 91
11. O evangelho da graça de Deus 101
12. Respostas bíblicas a diversas questões sabatistas ..115
Notas 131
Prefácio
à primeira edição
Convidados que fomos a prefaciar esta obra, oferecemos a nossa
sincera opinião. O Sábado, a Lei, e a Graça c o título do novo livro do
escritor evangélico Abraão de Almeida.
Abraão de Almeida não necessita de apresentações: está consagrado
pelas suas obras e por elas se faz conhecido como autor evangélico de
renome, mas é bom lembrar que formou-se em teologia pela Faculdade
Evangélica de Teologia "Seminário Unido", do Rio de Janeiro. É professor
de diversas matérias teológicas.
Dos seus muitos livros publicados, destaca-se o "best sei ler" Israel,
Gogue e o Anticristo, obra prima no assunto, que recebeu diversas edições
no Brasil, nos Estados l In idos (em espanhol) e em Portugal.
Há muito os evangélicos no Brasil se ressentiam de um livro que,
baseado nas Escrituras Sagradas e na Historia da Igreja Cristã, pudesse
apontar e corrigir algumas doutrinas heréticas dos adventistas do sétimo
dia. Dizemos algumas porque nem todas o são. Há adventistas não
fanáticos, que não se apegam ao sábado como tábua de salvação, antes
buscam refúgio na graça salvadora do Senhor Jesus. Outros há (a maioria)
que estão voltados para o sábado e outros mandamentos como leis, pelos
quais pretendem justificar-se diante de Deus. Estes é que se acham em
grave perigo espiritual, pois sobre eles pesa a terrível sentença gravada em
letras de fogo na incontraditável Palavra de Deus: "Separados estais de
Cristo, vós os que vos justificais pela lei!" (G1 5,4), A esses Paulo censura
duramente dizendo: "Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de
vós que não haja trabalhado em vão para conosco!" (Gl 4.10-1 1).
O Sábado, a Lei, e a Graça vem preencher a lacuna existente. Ele
visa não somente alertar os crentes a não se deixarem levar por essas
heterodoxias tão daninhas à seara do Senhor, mas também a despertar os
adventistas sinceros a imitar os bem-aventurados bereanos, que "de bom
grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas
coisas eram assim" (At 17.1 1).
Jovem ainda, fomos levados por um dos bem apresentados livros
adventistas a aceitar a guarda do sábado como lei férrea de Deus que não
poderia ser transgredida sem que o escarmento divino se deixasse cair
sobre nós, executando a inapelável sentença de perdição eterna. Como nos
era impossível guardar o sábado por causa do serviço secular, decidimos
aguardar o dia que nos fosse possível cumprir o mandamento. Mas, alguém
enviado por Deus, nos levou a examinar nas Escrituras "se estas coisas
eram assim". Ali, na relação divina, constatamos que "estas coisas não
eram assim" e que a graça, e somente a graça nos leva a Deus, nos perdoa,
nos salva, nos batiza com o Espírito Santo, nos enche de alegria nesta
peregrinação: "Pela graça sois salvos, por meio da fé... Não vem das obras"
(Ef 2.8-9); "Ninguém vos julgue... por causa... dos sábados" (Cl 2.16).
O novo livro de Abraão de Almeida nos leva a examinar as
Escrituras. Ele é um pedagogo que deseja guiar pela mão, através da
revelação divina, de Gênesis a Apocalipse, os duvidosos e os adventistas
sinceros para que, qual peregrinos no deserto, encontrem os oásis da
verdade e bebam da água da incomensurável graça de Deus.
É preciso ler este livro. É imprescindível que se faça isso. Leiam-no
os duvidosos e desafiamo-los a duvidarem; leiam-no os adventistas
sinceros e desafiamo-los nos, todos os crentes, e aprenderemos a
“responder aos que se gloriam na aparência” (2 Co 5.12).
Ninguém melhor que Abraão de Almeida poderia ter escrito este
livro, pois, filho de pais adventistas, foi criado e educado até a adolescência
nas doutrinas sabatistas que conhece profundamente, podendo, assim,
opinar sobre elas com absoluto conhecimento de causa, com a ênfase com
que Paulo pôde falar aos gálatas sobre a lei.
O livro, em síntese, enfoca os temas a seguir.
1. Há a religião divina e as religiões humanas. A divina é a religião
"do alto para baixo". Nela Deus fala, i. e, oferece ao homem a graça
salvadora por reconhecer a incapacidade humana de produzir obras de
justiça.
A religião divina é o plano de Deus para salvar o homem caído". As
religiões humanas são "de baixo para ei ma". Nelas o homem faz, i. é,
oferece a Deus o produto de seu esforço, exigindo salvação, por não aceitar
a incapacidade humana.
As religiões humanas são todas o plano de Satanás para que o
homem caído continue caído e morra sem salvação. Aceitar a graça
oferecida é religião divina; é estar no plano de Deus. Condicionar a
salvação à guarda da lei é adotar uma religião humana; é estar no plano de
Satanás.
2. Ter fé e ter confiança em Deus. O cristão é dependente de Deus:
"Sem mim nada podeis fazer". A falta de fé é falência humana. De Deus
tudo recebemos pela fé e não em troca de obras mortas.
3. Há obras mortas e obras vivas. As obras vivas são o produto da
graça, da fé, da salvação; vêm de Deus: o homem faz porque é salvo. As
obras mortas são o produto do orgulho humano, são inspiradas por Satanás,
o grande orgulhoso: o homem faz para salvar-se. Guardar um dia como
condição imprescindível à salvação é praticar obras mortas.
4. A lei é santa, justa e boa, mas, por ser predominantemente
negativa (oito dos dez mandamentos começam por um "não!"), foi
transitória: durou até João, o Batista. A lei não conseguiu justificar
ninguém, mas conseguiu a sua finalidade: mostrar ao homem que ele é
pecador.
5. Se o cristão tem o dever de guardar o sétimo dia, que é um
mandamento da lei mosaica, ele fica obrigado a guardar toda a lei,
inclusive as suas cerimônias, pois a transgressão de uma parte da lei
importa na transgressão de toda ela.
6. O cristão que observa o domingo como o "Dia do Senhor" não tem
o sinal da besta, pois assim fizeram os cristãos dos tempos apostólicos,
como se vê no Novo Testamento e na história da Igreja cristã.
O Concilio de Laodicéia, realizado no ano 364, e apontado pelos
adventistas como o que mudou a observância do sábado para a observância
do domingo, não teve influência papal, pois o papa, então, não tinha
nenhuma autoridade sobre as igrejas do Oriente. Esse conclave não fez
mudança alguma; apenas reconheceu o que se praticava desde os tempos
apostólicos.
7. A observância do sábado é um sinal somente entre Deus e Israel.
Os apóstolos frequentavam o templo e as sinagogas dos judeus aos sábados
para aproveitar a oportunidade de falar a estes acerca de Jesus; mas, como
cristãos, reuniam-se no primeiro dia da semana. Documentos históricos
provam que os cristãos continuaram reunindo-se nesse dia nos primeiros
séculos da era cristã.
8. Interessante diálogo entre uma legalista e um cristão seguidor da
graça. Enfoca e esclarece os principais pontos apresentados pelos
defensores da guarda do sábado.
9. As seitas heréticas mudam suas doutrinas porque não têm base
bíblica. Assim aconteceu com os adventistas, que marcaram o retorno de
Jesus para nove datas consecutivas, sem que ele tenha vindo em nenhuma
delas.
10. Os defensores do neolegalismo procuram enganar os incautos
com citação de textos bíblicos isolados, os quais eles torcem em favor de
seus pontos de vista. Mas a Bíblia, inspirada pelo Espírito Santo, constitui
um iodo em si mesma. Só podemos aceitar como doutrina bíblica aquelas
que estão respaldadas em todo o contexto bíblico. E errado considerar toda
palavra "mandamento" como uma referência ao decálogo, e é errado
ensinar que Jesus cumpriu na cruz somente os mandamentos "cerimoniais".
11. Não há duas leis de Moisés, mas apenas uma, que compreende
todo o Pentateuco. A antiga aliança foi invalidada por Israel.
12. A palavra "lei", nas quatrocentas vezes em que ocorre na Bíblia,
nunca se refere a decálogo como sendo este a lei moral, nem aos demais
preceitos como sendo lei cerimonial. Toda vez que o Novo Testamento fala
de lei refere-se à lei contida no Pentateuco como um todo. Cristo nos
libertou da maldição da lei fazendo-se maldição por nós. Pelo fato de,
como cristãos, estamos libertos da lei, não significa que estamos sem lei,
pois estamos debaixo da lei de Cristo. Todos os mandamentos do decálogo
estão repetidos no Novo Testamento (exceto o quarto, que trata do sábado).
13. Jesus diferenciou o sábado dos demais mandamentos por causa
da sua natureza evidentemente cerimonial e não moral. Jesus justificou os
seus discípulos quando estes foram acusados de ter quebrado o sábado. Ele
não os justificaria se tivessem cometido adultério ou furto, mesmo por
necessidade.
Nós, os evangélicos, não estamos obrigados à guarda do domingo da
mesma maneira como os judeus guardam o sábado. Enquanto estes se
submetem aos rigores de uma lei, nós, movidos pela gratidão a Deus,
dedicamos o primeiro dia da semana a uma maior disseminação do
evangelho da graça.
São esses pontos que precisamos conhecer a fundo lendo O Sábado,
a Lei e a Graça.
Rio, novembro de 1979
Gustavo Kessler
Prefácio
à segunda edição
Depois de três lustros e de dezenas de milhares de exemplares
distribuídos entre todos os povos de fala portuguesa, tenho o prazer de
apresentar ao leitor a nova edição de O Sábado, a Lei e a Graça.
Partindo dos temas principais da obra original, ampliei nesta edição
praticamente todos eles, e os enriqueci com minhas experiências adquiridas
no estudo pessoal da Palavra de Deus e no meu ministério de ensino ao
longo de mais de trinta anos. Além disso, escrevi um capítulo extra, que
intitulei de "O Evangelho da Graça de Deus".
A edição original cumpriu vasto ministério, a julgar pelas inúmeras
cartas que tenho recebido de seus leitores, na sua maioria adeptos do
sabatismo tentando inutilmente relutar os argumentos bíblicos que
apresento. Alegra-me saber que muitos leitores honestos, ajudados por
aquela obra, afastaram-se do legalismo e se refugiaram na graça de Deus.
Ainda recentemente, enquanto preparava esta segunda edição, um obreiro
cristão da cidade de Santo André, no Estado de São Paulo, contou-me que
deu um exemplar do livro a um adventista, e este, após a sua leitura,
abandonou a seita legalista e buscou uma igreja evangélica, na qual é agora
um dinâmico obreiro.
Espero que esta nova edição, a exemplo da primeira, seja uma
bênção para a nova geração de obreiros e de estudiosos da Palavra de Deus.
Oro para que muitas vidas preciosas abandonem os pântanos venenosos do
legalismo e venham abeberar-se nas fontes cristalinas e inesgotáveis da
maravilhosa graça de Deus.
Abraão de Almeida
Hollywood, Flórida, julho de 1997
CAPÍTULO 1
Religião divina e
religiões humanas
Jesus afirma a nulidade dos esforços humanos na economia da
salvação, e Paulo enfatiza esta mesma verdade ao concluir que
somos salvos pela graça, mediante a fé, sem as obras da lei.
Livros existem que, por revelarem alguns meandros da personalidade
humana, representam claro lenitivo aos corações açoitados pelos vendavais
da vida; contudo, somente a Bíblia, qual luz capaz de penetrar até os mais
profundos recônditos da nossa alma, pode comunicar a mais perfeita e
imprescindível consolação divina.
Nos melhores tratados sobre as Escrituras Sagradas, preparadas por
pessoas reconhecidamente piedosas, somos orientados acerca do caminho
da salvação; pela Bíblia somos impelidos a entrar e a viver nesse glorioso
caminho.
Renomados autores legaram-nos alguns brilhos, apontando um bem-
estar social, superficial e terreno; humildes escritores sacros, inspirados
pelo Espírito Santo, revelam-nos o segredo da verdadeira felicidade,
presente e futura, e nos fazem participantes dela.
As mais diferentes filosofias têm-se esforçado, em todos os tempos,
por desvendar o mistério que envolve a vida e a morte havendo entre elas
muitas divergências; entretanto, o livro dos livros, em linguagem singela e
familiar, esclarece de uma vez por todas esse magno problema.
É justamente por causa de seus sublimes princípios e incontestável
veracidade que as Escrituras jamais deixaram de influenciar beneficamente
a humanidade, através dos milênios. Mas qual seria a razão de tão
assombrosa diferença entre a Bíblia e os livros comuns?
A resposta é simples. Ela é a Palavra de Deus. Portanto, divina é a
sua mensagem. Deus se revela ao homem através da Bíblia, falando-lhe ao
coração pelo seu Espírito. Quando reverentemente lemos este livro,
recebemos, do próprio Deus de amor, conselho, consolo, exortação e
orientação. As palavras divinas são Espírito e Vida, e quando descem ao
nosso coração, a nossa alma sobe jubilosa aos páramos celestiais. "[Deus]
nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.6).
Como portadora da amorosa mensagem de Deus, a Bíblia é um livro
perfeito. Suas leis, seus ensinos e seus preceitos jamais foram igualados por
qualquer obra humana. O missionário William Jones escreveu: "Todos os
outros livros orientais, por mais poéticos que sejam, necessitam de ser
transfundidos para se tornarem inteligíveis e agradáveis à mentalidade
ocidental. Uma ou outra passagem terá de ser omitida, e grande parte sofre
modificações. Por isso se torna mais curioso o fato de que esse livro
oriental, esta nossa Bíblia, quer seja levada à Islândia, Madagáscar, África
do Sul ou índia, é sempre o livro que apela para o coração e a mentalidade
daqueles que a escutam".
Como palavras de Deus, os relatos bíblicos são historicamente
infalíveis. Na medida em que prosseguem as escavações arqueológicas no
Médio Oriente e os peritos interpretam os hieroglifos exumados, os
modernos compêndios de história e geografia vão sendo utilizados com
preciosas informações de lugares e civilizações milenares até então
referidas somente na Bíblia.
Por outro lado, a vitalidade da Bíblia testifica também da sua
inspiração divina, pois ela tem transformado indivíduos, sociedades e
nações. É o meio usado por Deus para a regeneração de vidas caídas,
bastando ao pecador receber sua mensagem no coração para tornar-se unia
nova criatura, em cujo viver “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo” (2 Co 5.17).
Apontando para a justiça de Cristo
Muitas religiões estão apresentando meios antibíblicos, os mais
diversos, para justificar a criatura humana. À luz da Palavra de Deus
afirmamos que essas religiões jamais conseguirão o seu intento. Aos
homens não foi concedida por Deus autoridade alguma para justificar os
seus semelhantes. Centenas de milhões estão completamente fora do plano
divino da salvação tão-somente por procurar justificar-se segundo os planos
engendrados por Satanás. É realmente uma cena triste! Milhões e milhões,
inteiramente enganados pelas falsas religiões que saturam a sociedade
moderna, estão gastando o seu dinheiro, o seu tempo, até mesmo a sua
saúde, sem obter o menor proveito espiritual.
Existe somente um meio de justificação, e é o que está exarado na
Santa Bíblia. Mas a Bíblia, antes de tratar da nossa justificação, trata da
nossa verdadeira condição aos olhos de Deus: "Não há um justo, nem um
sequer... todos estão debaixo do pecado... todos pecaram... [e] o salário do
pecado é a morte" (Sl 14.1-3; Rm 3.9; 4.12; 6.23). Foi a luz dessas
passagens que Spurgeon escreveu:
Não imagine, ó homem mortal, que poderá ficar em pé diante de
Deus em sua moralidade, pois você não é mais do que uma carcaça
embalsamada em legalismo, um defunto mimado em finas roupas, porém
ainda corrupto na presença de Deus. E não pense, ó possuidor de uma
religião natural que poderá, pelo seu poder e força, fazer-se aceitável a
Dons. O homem, você está morto, e poderá vestir a morte tão
gloriosamente como quiser, mas ainda assim isso seria uma farsa solene.
Dessa lei divina nenhum ser humano pode se excluir. Todos pecaram
e por isso todos precisam ser libertos do pecado, precisam ser perdoados.
Nisto consiste a justificação: livramento da culpa. Tornados injustos pelo
pecado, precisamos revestir-nos de justiça. Mas onde adquirir essa preciosa
justiça?
Quando nossos primeiros pais pecaram, coseram para si ramos de
figueira, fazendo aventais que pudessem cobrir os seus corpos. Deus,
porém, substituiu essas inadequadas vestes por outras incomparavelmente
melhores, ou seja, por peles de ovelhas. Nesse simples relato vemos
esboçado em figura o plano divino da justificação, plano que tem origem
em Deus, que quer e pode justificar o homem. Este não pode justificar-se a
si mesmo, porque lhe faltam os meios necessários para tanto. Assim como
Deus não aceitou as vestes preparadas por Adão e Eva, assim também não
aceita as vestes da autojustificação, baseadas nas boas obras e sacrifícios
tolos.
Jesus deixou este assunto bem claro quando contou a parábola das
bodas reais, enfatizando que a única condição para ser admitido na festa era
estar envergando a vestimenta de núpcias fornecida gratuitamente pelo rei
para a ocasião, sem mérito algum da parte do convidado (Mt 22.1-14).
A parábola das bodas reflete o que registrou Isaías acerca da única solução
para o nosso pecado:
Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o
sangue de Jerusalém do meio dela, com o espírito de justiça e com o
espírito de ardor, criará o Senhor sobre toda a extensão do monte de Sião,
e sobre as suas congregações, uma nuvem de dia, e uma fumaça e um
resplendor de fogo chamejante de noite; sobre toda a glória haverá um
dossel. Será abrigo e sombra contra o calor do dia, e refúgio e esconderijo
contra a tempestade e a chuva... Como, pois, podemos ser salvos? Todos
nós somos como o imundo, e iodos os nossos atos de justiça como trapo da
imundícia; iodos nós caímos como a folha, e os nossos pecados como um
vento nos arrebatam. Ninguém há que invoque o teu nome, que desperte, e
te detenha; pois escondeste de nós o leu rosto, e nos consumistes por causa
das nossas iniquidades (Is 4.4-6; 64.5-7, EC).
Ao afirmar que somente Deus pode lavar e limpar o homem, a Bíblia
revela a condição imposta aos que desejam apropriar-se da justificação. Diz
o apóstolo Paulo: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem
as obras da lei" (Rm 3.28). "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso
não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas
obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.8-10).
Biblicamente, a fé salvadora não consiste na observância de dogmas,
ritos, cerimônias e mandamentos — mesmo dos Dez Mandamentos — mas
na aceitação de Cristo como Salvador pessoal, mediante a sua obra
redentora na cruz do Calvário. Cristo, diz a Bíblia, ressurgiu para a nossa
justificação. Toda a justiça de Deus foi satisfeita em Cristo, que se fez
maldição e pecado por nos. Veja estes textos bíblicos: "Pois o que era
impossível à lei, visto que estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu
Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado
na carne" (G1 3.13; Rm 8.3 2 Co 5.21; Is 53.5, EC).
A marca da religião humana
Faz parte da estratégia diabólica induzir as pessoas a realizar por si
mesmas a sua salvação. Assim, milhões aceitam como absoluta verdade
princípios religiosos como o “fora da igreja não há salvação”, dos católicos
romanos; ou o "fora da caridade não há salvação", dos espíritas, e outros
métodos similares, todos estribados nos méritos das boas obras humanas.
Dentro desse mesmo engano estão milhões de adeptos das seitas
mais diversas, como os testemunhas-de-jeová, que se empenham em
garantir a sua participação no reino vindouro mediante esforços pessoais
em espalhar ao máximo a sua doutrina; e os mórmons, de cuja história
fazem parte muitos casos de auto-sacrifício pelo fato de crerem que, para a
expiação de certos pecados, é necessário derramar o próprio sangue, uma
vez que o sangue de Jesus nada mais pode fazer.
Na longa lista das religiões estão muitas que possuem lindos e
atraentes rótulos, como "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias", "salões do reino", "Igreja da Unificação", "Ciência Cristã", "Igreja
Messiânica" etc., as quais, a despeito da sua aparência cristã, na prática
negam os eternos fundamentos do Cristianismo. São meros esforços no
sentido de reaproximar o ser humano da pessoa de seu Criador mediante
caminhos que só distanciam dEle. Em outras palavras, valendo-se dos
parcos recursos de uma mentirosa filosofia divorciada da Escritura
Sagrada, tais seitas fazem tudo o que podem dentro do falido princípio
religioso que atua sempre no sentido de baixo para cima, tentando levar o
homem a Deus. E dentro desse princípio que se agrupam todos os credos
forjados na oficina de Satanás, todos eles destinados ao obscuro e
supersticioso espírito humano, religioso por natureza.
O cumprimento da lei é o amor
A mais gloriosa verdade bíblica, ilustradora da salvação unicamente
pela graça divina, saiu dos lábios sacrossantos de Cristo: "Sem mim nada
podeis fazer" (Jo 15.5). Com esta assertiva estava o Senhor abonando a
doutrina da graça, segundo ao qual Deus mesmo planejou e consumou na
cruz, sem quaisquer contribuições da nossa parte a não ser o exercício da fé
— a salvação eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o
seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna" (Jo 3.16).
Esta mesma verdade encontra-se também na mensagem angelical aos
pastores belemitas: "Paz na terra, boa vontade para com os homens a quem
ele quer bem" (Lc 2.14, EC).
A boa vontade desceu de Deus para os homens; não subiu dos
homens para Deus. Na entrevista com Nicodemos ensinou o Senhor a
necessidade de se nascer de novo, expressão semelhante a nascer de cima
para baixo, que foi o modo como foi rasgado o véu que separava o Lugar
Santo do Lugar Santíssimo no templo de Jerusalém. Tanto o "de novo"
como o "de alto a baixo" indicam que o novo nascimento vem do alto — do
Céu à terra (Jo 3.7; Mt 27.51).
Que participação, pois, tem o pecador na obra da redenção?
Evidentemente que não tem nenhuma. A única coisa que toca ao pecador
fazer é aceitar, como seu todo suficiente Salvador, a pessoa do Senhor
Jesus Cristo, confessá-lo diante dos homens e permanecer nEle a fim de
poder viver uma nova vida debaixo da graça. Sem Jesus, o pecador nada
pode fazer, como o próprio Salvador afirmou em João 15.5.
Cabe a nós escolher viver ou pela lei da vida ou pela “graça da vida”
(1 Pe 3.7). Como cristãos, se recusarmos a graça da vida, acabaremos
irremediavelmente debaixo da lei, e então já não seremos cristãos, mas
religiosos. Vivemos debaixo da graça quando nos entregamos sem reservas
aos processos do amor de Deus e nos deixamos governar por eles. As três
palavras-chaves são: “render-se”, “confiar” e "obedecer". Somente quando
a nossa vida mesmo insignificante, é colocada em sintonia com os
propósitos elevados da vida espiritual, é que nos sentimos redimidos e
cheios do que Jesus chamou de vida abundante.
Por outro lado, recusar-se a viver debaixo da graça é sujeitar-se à lei.
Não apenas à lei mosaica, mas qualquer lei, a própria lei da vida, a lei da
semeadura e colheita. Colhe-se o que se semeia. A vida!, então, torna-se
um dar e receber.
Assim, lei, aqui, é muito mais que uma lei específica ou um conjunto
de leis. Alguém poderá pensar imediatamente nos dez mandamentos, nas
leis do Antigo Testamento ou nos mandamentos da Nova Aliança. Jesus, ao
mudar a fraseologia de um mandamento (Dt 6.5), revelou-nos o que a lei
era realmente: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de tua
a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande
mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os
profetas" (Mt 22.37-40).
O apóstolo Paulo partiu das palavras de Jesus para escrever que "o
cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.8- 10). João também enfatizou o
amor a Deus e aos outros (1 Jo 3.1 1-24; 4.7-21). Não há dúvida de que a
lei do amor, também chamada nas Escrituras de "lei do espírito de vida em
Cristo Jesus", é o centro em torno do qual giram todas as ordenanças e
proibições da Bíblia. Sem esse princípio nenhum mandamento da Escritura
parece ter significado.
A pessoa que se sujeita a um sistema de lei como, por exemplo, o do
decálogo, tem de vigiar cada ação, pois receberá exatamente o equivalente
aos seus atos. Alguém definiu esse tipo de vida da seguinte maneira:
A vida, assim, operará como num verdadeiro "deve e haver": você
deposita o caixa de seu ato e transporta o resultado ou as consequências de
tal ato. Não haverá, pois, surpresas na vida, nem saídas para as margens do
rio da vida. Tudo será assaz justo, tudo essencialmente dependente e tudo
mais do que morto.
É este o evangelho da religião-de-mercado. Você negocia com a
vida, e esta negocia com você. E ela o deixa amarrado. Nela não há boas
novas, porque então a vida terá hórrida catadura, e você também. A religião
baseada no dar e receber não tem espontaneidade em si, não tem alegria
contagiante, nem liberdade. Ela se cansa logo, e não pode levantar vôo.
Suspira, lamenta-se por não poder cantar. E a religião do irmão mais velho:
Nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos" (Lc
15.29). E como lhe teria sido isso possível, se ele estava vivendo na base do
legalismo? Assim, quando desceu a cortina, o irmão mais velho ficou de
fora, vivendo na lei, ao passo que o mais moço estava lá dentro, vivendo
pelo amor.
CAPÍTULO 2
Fé, a força do cristão
Fé perfeita no Cristo que tem todo o poder é a única opção
para um viver vitorioso em todos os sentidos. O cristão, em virtude
de sua fé bíblica, está solidário com Cristo em tudo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, um espião inglês, fazendo-se
passar por alto empresário sueco simpático à política expansionista do III
Reich, conseguiu marcar uma audiência com o famoso Himler — o homem
de confiança do Führer — na qual tratariam de importante empreendimento
binacional do interesse da máquina de guerra hitlerista. Tão exaltadas eram
as virtudes do oficial nazista que o agente secreto teve que procurar algum
deslize na vida pregressa de Himler para certificar-se de que este era um
falível ser humano. O falso empresário achou o que buscava, o encontro
realizou-se de igual para igual e o assessor imediato de Hitler passou para a
eternidade sem saber que havia sido enganado!
A glorificação da personalidade humana, como consequência direta
de excessiva confiança depositada num ser contingente dependente, tem
sido um expediente Lusamente empregado nos regimes belicosos ou
totalitários, desde remota antiguidade, passando pela Assíria. Babilônia,
Grécia, Roma etc., até o nosso século, onde se destacaram Japão e
Alemanha. Neste último país Hitler foi quase um deus, cujo pôster milhões
de pessoas reverenciavam, enquanto na terra do sol nascente divinizava-se
o imperador.
Essa prática levou os Estados Unidos a uma campanha de
valorização do homem livre através de "heróis" cinematográficos como
Super-homem, Flash Gordon e outros, capazes de proezas sobre-humanas.
Em última análise, o objetivo era induzir a massa de seu próprio país e as
dos seus aliados, por processos subliminares, a confiarem nos cabeças de
suas nações.
A falência humana
Teologicamente, a força do homem é nada. "Que é o homem mortal
para que te lembres dele? A duração da nossa vida... passa rapidamente, e
nós voamos. Toda a glória do homem [é] como a flor da erva. Secou-se a
erva, e caiu a sua flor. Maldito o homem que confia no homem" (Sl 8.4;
90.10; 1 Pe 1.24; Jr 17.5). A história da humanidade é o melancólico relato
de seus próprios fracassos; fracassos de líderes e liderados. Já antes de
nossa era, quanto mais o mundo se aproximava do advento de Cristo, mais
se acentuava entre as nações a esperança messiânica, como a única forma
de arrancar os povos do atoleiro moral e espiritual em que se achavam.
Jesus veio na hora certa — na plenitude dos tempos (G1 4.2) — e o
Cristianismo, tal como a poderosa ação do sal na preservação dos
elementos, salvou o mundo de uma generalizada putrefação social.
Mas a solução para o inundo romano, que poderia salvar o nosso
presente século, está hoje cada vez mais relegada a um plano inferior, em
decorrência de forças deletérias, como o comunismo ateu, o sincretismo
religioso e o neopaganismo, que cegam o entendimento dos incrédulos e
preparam o terreno para o advento do Falso Profeta. Assim, as nações em
crise clamam por alguém capaz de resolver os aflitivos problemas do
mundo mas desprezam a Jesus, o Homem de Nazaré, e a solução apontada
pela Bíblia: "Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor" (Sl 33.12).
Precisamos de um homem de estatura suficiente para garantir a
liderança de todas as pessoas e para arrancar-nos do atoleiro econômico em
que estamos mergulhados", é o que dizem ter exclamado Henry Spaak, um
dos pioneiros do Mercado Comum Europeu, que acrescentou: Que enviem
um homem; seja ele Deus ou demônio, nós o receberemos".
A força do cristão
Na mesma Bíblia onde a fraqueza humana é revelada, deparamo-nos
com a afirmação positiva que a nossa força está no Todo-poderoso. "O
Senhor é a força da minha vida", confessa Davi, infelizmente não imitados
por muitos de nossos dias. O rei-poeta de Israel conhecia as limitações
humanas. E sua humildade e dependência do poder divino fizeram dele
homem segundo coração de Deus, que levou sua pátria à paz e ao progresso
tão somente em virtude de sua confiança naquele que "resiste aos soberbos,
mas dá graça aos humildes" (Sl 27.1; 1 Pe 5.5).
Mil anos mais tarde, Saulo de Tarso, outro ilustre israelita, descobre-
se a si mesmo a caminho de Damasco, no encontro com o Cristo Vivo, ao
ver cair por terra os méritos de sua religiosidade, cultura, cidadania
romana, e ascendência genealógica. "Miserável homem que eu sou!"
exclama ele. Mas ergue os olhos a seu Salvador e canta: "Graças a Deus,
que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo"; "Posso todas as coisas
naquele que me fortalece" (Rm 7.24; 1 Co 15.57; Fp 4.13; Hb 11.1).
A experiência pessoal de Davi e Paulo, bem como a de incontáveis
outros heróis da fé, é válida ainda hoje para todos os homens. Os grandes
benfeitores da humanidade revelaram-nos o segredo da sua vitória: a fé que
possuíam no Deus que tudo pode. Armados desse extraordinário recurso,
marcaram com enobrecedoras realizações sua trajetória por este mundo,
legando-nos luminoso e imorredouro exemplo.
Definindo a Fé
Apenas uma vez encontramos nas Escrituras uma definição de "fé",
embora este termo esteja escrito em quase todas as páginas do Novo
Testamento. De acordo com o autor da Epístola aos Hebreus, "fé a
substância das coisas esperadas, a prova das coisas não vistas". Alguém
definiu fé como a facilidade em condescender com o amor de Deus.
Significa esta declaração que pela fé o crente considera infalível todas as
promessas divinas, a ponto mesmo de viver dentro desta esperança. Dos
exemplos de fé tiradas do Antigo Testamento, destaca-se a de Abraão, de
quem disse Jesus: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e
alegrou-se" (Jo 8.56).
Isaías, no texto que trata das dores e da glória do Messias, usa o
verbo no passado ao descrever acontecimentos futuros, distantes setecentos
anos da sua época: "Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores levou sobre si" (Is 53.4). O mesmo poderia
se dizer de Davi que, em momento de angústia, chegou a antever os
sofrimentos de Cristo e a pronunciar, pela fé, algumas das frases que o
nosso Redentor pronunciaria na cruz.
No Novo Testamento, crer significa aceitar como verdadeiro o
Evangelho anunciado pelo Senhor Jesus, segundo o qual "Deus amou o
mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna" (Jo 3.16). Fé, então, é
confiança plena em nosso Senhor Jesus Cristo como Messias, o Salvador
do mundo, e na veracidade da sua palavra, da sua mensagem. E adesão
total à pessoa de Cristo, admitindo que sua pregação e milagres revelam
sua missão de grande Libertador.
Em suma, Cristo é o objetivo final da fé. Aos israelitas, para quem
crer em Deus era naturalíssimo, Jesus afirmou: “Crede também em mim”
(Jo 14.1).
A salvação, ou seja, a vida eterna, consiste numa fé viva e eficaz no
Pai e no Filho: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus
verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).
Em conclusão, pois, fé perfeita no Cristo que tem lodo o poder é a
única opção para um viver vitorioso em iodos os sentidos. Um viver que já
não é mais natural deste mundo, pois o cristão, em virtude de sua fé bíblica,
está solidário com Cristo em tudo. Ele morreu com Cristo, loi ressuscitado
e ressuscitou com Ele; com Ele vive e com Ele reinará. E o resultado do
que o próprio Filho de Deus afirmou: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo
15.5).
Capítulo 3
Obras mortas
e obras vivas
O crente realiza a obra de Deus por ser salvo, e não para ser salvo.
No primeiro caso, são obras vivas, de fé; no segundo, são obras mortas, da
carne, e executadas mediante o esforço humano.
Afirmam os católicos que "fora da igreja não há salvação"; os
espíritas dizem que "fora da caridade ninguém se salvará", e os cristãos
judaizantes, pregam que "sem a observância da lei (decálogo) ninguém será
salvo". A despeito de suas aparentes divergências, todos esses grupos têm
algo em comum, pois seus princípios caracterizam a religião humana,
baseada nas boas obras.
Do ponto de vista profético, cada um desses dogmas desempenha
hoje a sua parte no cumprimento da profecia bíblica: "Mas o Espírito diz
expressamente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando
ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia
de homens que falam mentiras e têm cauterizada a própria consciência, que
proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de alimentos" (1 Tm 4.1,2,
EC).
Pelas expressões "espíritos enganadores", "proíbem o casamento" e
"abstinência de alimentos", percebe-se clara alusão profética aos três
referidos movimentos religiosos.
Não é de admirar que a apostasia esteja hoje tão em evidência.
Estamos na época em que lobos devoradores se vestem de ovelhas,
infiltram-se no rebanho de Deus e ali procuram fazer suas vítimas. Jesus
preveniu-nos acerca desses falsos mestres e falsos profetas, e disse que, se
possível fora, eles enganariam até os escolhidos.
De cima para baixo
Enquanto a salvação que vem de Deus foi consumada por Jesus
Cristo no Calvário, a religião dos homens tem sido baseada no princípio
antibíblico de se fazer alguma coisa para Deus, característica mais evidente
de toda e qualquer falsa seita, rotulada ou não de Cristianismo.
A palavra de Deus é clara quando afirma: "Pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para
que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). Ao expiar Jesus no madeiro, o véu do
templo rasgou-se de "alto a baixo", expressão idêntica à que foi usada pelo
Senhor no diálogo com Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo".
"Alto a baixo" e "nascer de novo", segundo os entendidos em etimologia
bíblica, são uma mesma coisa: de cima para baixo, do Céu para a terra, de
Deus para o homem.
Jesus afirma ainda a nulidade dos esforços humanos na economia da
salvação: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5), e Paulo enfatiza esta
mesma verdade ao concluir que "Deus é o que opera em vós tanto o querer
como o efetuar" (Fp 2.13).
E. Stanley Jones menciona, numa de suas obras, que Thomas
Chalmers, antes de se tornar o grande pregador escocês, esteve pregando os
mandamentos durante oito anos, com pouco resultado. Então mudou da lei
para Cristo, ao aceitar a este como seu Salvador pessoal e Senhor. Mais
tarde, escreveu Chalmers: "A não ser depois de ter exortado meus ouvintes
a aceitar a graciosa oferta do perdão, através do sangue dc Cristo, é que
soube daquelas reformas que foram o objetivo supremo das minhas
primeiras pregações. Pregar a Cristo é o único meio efetivo de pregar
moralidade".
Foi como resultado da mudança ocorrida na vida de Chalmers, a qual
resultou na mudança da ênfase de seu ministério da lei para a graça, que ele
imprimiu a moral .obre a alma da Escócia.
O mesmo autor menciona a experiência de outro homem famoso, o
comandante Philip Wolfe Murray, que julgava poder alcançar o favor de
Deus mediante o fazer isto e aquilo, cortar aqui e acolá. A fim de agradar a
Deus, Murray abriu mão de prazeres, como o de dançar, e passou a ler a
Bíblia todos os dias. Mas o sofrido cativeiro continuou por mais sete anos.
A religião sem Cristo realmente pode ser um cativeiro muito doloroso.
Então Murray descobriu que era salvo de graça, somente pela fé em Cristo.
Escreveu ele:
Que fardo rolou de minha alma! Que alívio! Imagine! Passei
aproximadamente 11 anos — três dos quais convicto, oito procurando
agradar a Deus em oração, por auto-renúncia e boas obras — sem nunca
saber quando havia sido vitorioso. E, quando vi que Deus me salvara e que
eu nada mais precisava fazer para salvar-me, dancei de alegria em meu
quarto! Tenho dançado desde então. Não com os meus calcanhares, mas
em meu coração, louvando a Deus.
Wesley, mesmo vivendo num ambiente pastoral como clérigo
ordenado da Igreja Anglicana, missionário no estrangeiro e membro do
Clube Santo de Oxford, é outro exemplo clássico. Apesar de buscar com
devoção e boas obras a santidade pessoal, todo o seu serviço sacrificial não
lhe trazia a paz com Deus. Por isso ela chamava a si mesmo de "um quase
cristão". Então, no dia 24 de maio de 1738, ao ouvir alguém ler o prefácio
de Lutero à Epístola aos Romanos, ele descobriu a graça de Deus. Eis as
suas palavras:
Por volta dos 15 para as nove, enquanto ele descrevia a mudança
que Deus opera no coração, pela fé em Cristo, senti um estranho ardor.
Senti que realmente confiei em Cristo, em Cristo somente, para a salvação;
e foi-me dada uma certeza, a de que ele tinha removido meus pecados e
me havia livrado da lei do pecado e da morte.
A tremenda transformação ocorrida na vida de Wesley o
transformou, segundo as próprias palavras dele, num "cristão por inteiro".
Disse mais que, antes dessa experiência, ele possuía a religião de "servo",
mas que, depois do seu novo nascimento, passou a possuir a religião de
"filho", referindo-se aos dois irmãos da parábola do filho pródigo.
Como milhares de outros servos de Deus descobriram, como
aconteceu a Lutero, a Wesley e a tantos outros, o segredo da vida cristã
genuinamente bíblica e plenamente vitoriosa não está na observância de
mandamentos legalistas, mas no desaparecimento de todas as barreiras da
dúvida, do orgulho e da independência, e na permissão de que Jesus venha
e entre em nossa vida, em vez de insistirmos em ir a Ele. Quando a Bíblia
afirma que a lei de Moisés, pelo fato de nada haver aperfeiçoa¬do, é
impotente para salvar-nos, indica a pessoa de Cristo em nós como o único
meio de vivermos vitoriosamente a vida cristã. É como disse o apóstolo
Paulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo
vive em mim" (G1 2.20).
Do exposto, conclui-se, pois, que o crente realiza a obra de Deus não
para ser salvo, mas por ser salvo. No primeiro caso, são obras mortas, da
carne, executadas mediante o esforço humano; no segundo caso, são obras
vivas, de fé, realizadas por Cristo no crente mediante a ação do Espírito
Santo que produz o seu fruto na vida daquele que crê.
A obediência da fé
Inconformados com os claros ensinos das Escrituras sobre a
justificação mediante a fé, há os que torcem textos sagrados em defesa da
obediência e das obras. "A fé sem obras é morta" (Tg 2.17) é versículo
preferido de uns: "Obedecer é melhor do que sacrificar" (1 Sm 15.22)
passagem predileta de outros. Com tais citações, pseudocristãos destes
últimos tempos procuram induzir os crentes a guardar o decálogo da lei,
particularmente o sábado, ou a encarar as obras humanas como possuidoras
de algum mérito aos olhos de Deus.
Todavia, a Bíblia diz que "separados estais de Cristo, vós os que vos
justificais pela lei; da graça tendes caído" (Gl 5.4). E, em Romanos 1.5 e
16.26, o mesmo apóstolo dos gentios fala da "obediência da fé".
A expressão "obediência da fé", como tem sido n aduzida em
português, implica a necessidade da fé antes da obediência. É a fé em
Cristo que produz a obediência a verdade que esteve oculta no passado por
muitos séculos, mas que agora, por ordem do Deus eterno, "se tornou
conhecida em todas as nações, para que todos creiam e obedeçam" (BLH).
A Bíblia Viva traz: "Agora, porém, tal como os profetas predisseram e
conforme Deus ordena, esta mensagem está sendo pregada em toda a parte,
para que todo o povo ao redor do mundo tenha fé em Cristo e lhe obedeça".
A conclusão que Henriqueta C. Mears tira desse texto de Paulo não me
convenceu. Escreveu ela: Pouco podemos fazer para Deus antes de sermos
salvos pela sua graça e transformados pelo seu amor". Substituindo a
palavra "pouco" por "nada", a sentença fica correta: "Nada podemos fazer
para Deus antes de sermos salvos pela sua graça e transformados pelo seu
amor", o que é exatamente o que Jesus ensinou no texto já referido de João
5.5. E somente quando nos entregamos a Jesus Cristo e nos enchemos de
seu amor que nos dispomos a obedecer aos mandamentos dEle. Jesus
deseja de cada um de seus discípulos um "sacrifício vivo", e não um
"sacrifício morto" (Rm 12.1).
Portanto, obediência, aqui, não é à letra que mata, ou a mandamentos
legalistas já abolidos na cruz, mas à fé salvadora. O homem nascido de
novo não mais procura estabelecer uma obediência pessoal fundada sobre
as obras, mesmo que esteja em tudo imitando a pessoa perfeita de Jesus
Cristo. A obediência da fé é muito mais que isso, pois significa que quem
obedece esteja revestido da obediência do próprio Jesus Cristo. O apóstolo
Paulo explica, em Romanos 6, de que maneira as pessoas desobedientes se
tornam obedientes em Cristo. Ao ser mergulhado na morte de Jesus Cristo
pelo batismo, o velho homem desobediente morre, e a nova vida que então
recebe é a vida obediente de Cristo, a qual lhe é outorgada gratuitamente. E
como A. Lelievre escreveu:
A obediência do cristão é à fé em Jesus Cristo: a fé que, nesta troca
batismal, aceita ter por vida, não mais a que o homem poderia dar-se a si
mesmo, mas a que Deus lhe comunica em Jesus Cristo (Cl 3.3). Tudo se dá
nesta obediência da fé; mas sem ela o homem fica com sua desobediência
sob a ira de Deus (2 Ts 1.8). A obediência do cristão não é a do judeu,
regulamentada por uma lei feita de preceitos e de proibições. É ampla
como outrora no Éden... O limite no exercício da liberdade cristã,
característica da obediência da fé, é o reconhecimento da obra de Cristo no
próximo (Rm 14.13; 1 Co 8.9) e da vida de Cristo em sua própria vida
(Rm 6.3).
Assim, é impossível a uma pessoa não regenerada obedecer a Deus,
por mais que se esforce. Necessitamos, pois, em nós, da vida obediente de
Jesus, e esta só podemos receber pela fé. É mediante a fé que recebemos o
Espírito Santo, que nos guia em toda a verdade, produzindo em nós o seu
fruto (Gl 5.22, 23), prova final de que somos filhos amados de Deus, pois é
este mesmo Espírito que testifica com o nosso espírito que somos filhos de
Deus (Rm 8.16).
Em outras palavras, o Senhor não quer o nosso trabalho: Ele quer a
nós. Não exige as nossas boas obras, mas deseja habitar e viver em nós,
operando em nosso viver diário a sua boa, agradável e perfeita vontade,
pois é ele quem opera em nós tanto o querer como o efetuar.
O autor da Epístola aos Hebreus, depois de afirmar que "ainda resta
um sabatismo [repouso] para o povo de Deus", conclui: "Porque aquele que
entrou no seu repouso, ele próprio repousou das suas obras, como Deus das
suas". E pela fé em Cristo — o nosso Descanso (Mt I I 2(S) — que
abandonamos as nossas obras mortas para que Ele opere em nós as suas
obras vivas.
Não sendo uma realidade em si mesma, a graça significa o próprio
Deus misericordioso compadecendo-se de nós, relacionando-se conosco,
amando-nos e perdoando-nos. No Antigo Testamento encontramos
belíssimas definições da graça divina, como nesta passagem: "Tão-somente
o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes
deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê" (Dt 10.15, ARA).
Ainda no Antigo Testamento, a graça de Deus para os pecadores
consiste no perdão dos pecados, ou seja, num ato divino que põe fim a uma
situação infeliz criada por alguma transgressão, iniquidade, ofensa ou
blasfêmia perturbadora do relacionamento efetivo entre o homem e o seu
Criador. A graça divina é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do
justo castigo por sua livre e soberana decisão. Este atributo reconheceu-o
Moisés: "... Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em
misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que
perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o
culpado..." (Êx 34.6,7, ARA).
Davi cantou a graça de Deus em muitos salmos: "Bem- aventurado é
aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto... Confessei-te o
meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei... e tu perdoaste a
iniquidade do meu pecado"; "Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não te
esqueças de nenhum só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas
iniquidades" (SI 32.1,5; 103.2,3, ARA).
Jesus é a graça
No Novo Testamento, Deus mesmo, numa profunda manifestação da
sua graça, desce à terra na pessoa de Cristo Jesus e aproxima-se do homem
a fim de salvá-lo da sua triste condição de destituído da glória de Deus.
Jesus revela-se, portanto, como a graça de Deus, como o possuidor dessa
mesma graça e como seu distribuidor a tantos quantos dEle se aproximam
em inteireza de fé, "porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo
salvação a todos o homens, ensinando-os que, renunciando à impiedade e
às concupiscências mundanas, vivam neste presente século sóbria, justa e
piamente" (Tt 2.11,12).
O evangelista João conclui também que a graça e a verdade são
consequências da encarnação do Verbo: "A graça e a verdade vieram por
Jesus Cristo" (Jo 1.17). Graça, favor de Deus não merecido por nós, e
verdade, a revelação absoluta de Deus, significam, em outras palavras, que
todo o amor do Pai, amor doador e perdoador, e toda a revelação divina e
conhecimento espiritual estão depositados em Cristo Jesus para, por meio
deste, manifestar-se aos homens no propósito de transportá-los do reino das
trevas para o reino da sua maravilhosa luz.
Phillip traduz "graça" por "amor", e Moffat traduz verdade" por
"realidade". Então, uma expressão paralela para "graça e verdade" seria
"amor e realidade". Assim, em Cristo Jesus vieram à luz não apenas o amor
de Deus, mas a realidade das coisas outrora ocultas. Um teólogo analisou o
texto de João 1.14-17 e concluiu:
Em Jesus Cristo há uma inesgotável capacidade de dar, sem outra
medida a não ser a plenitude de Deus. A graça e a verdade, objetivos da
revelação da antiga aliança, acham-se plenamente reveladas e plenamente
concedidas a nós em Jesus Cristo. Com a presença de Jesus, o Antigo
Testamento e todo o judaísmo se apagam, dando lugar a outra religião não
imperfeita nem suscetível de ser substituída por uma melhor, pois é
verdadeira e definitiva: a religião do dom e da comunicação plena e
decisiva de Deus na pessoa do Unigênito. É esta a verdadeira graça (1 Pe
5.12), a genuína graça de Deus.
O Novo Testamento também denomina graça de Deus a lodo o
Evangelho. É o que lemos: "Para dar testemunho tio evangelho da graça de
Deus... falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à
palavra da sua graça" etc. (At 20.24; 13.43; 14.3; Cl 1.6 etc.). Todavia, o
Evangelho não possui, por si mesmo, a graça. Ela está com Cristo, e é este
quem difunde e torna poderosa a mensagem evangélica.
Fé e obras
Todos os cristãos admitem que são justificados pela fé, mas nem
todos acreditam que a fé basta para a justificação. As diferentes atitudes
decorrem de uma falsa interpretação do que a respeito registraram os
apóstolos Paulo e Tiago.
O primeiro concluiu que o "homem é justificado pela fé, sem as
obras da lei" (Rm 3.28), e o segundo afirmou: “Vedes, então, que o homem
é justificado pelas obras, e não somente pela fé... Porque, assim como o
corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tg
2.24,26).
Analisando a aparente divergência apostólica à luz do contexto
bíblico, somos levados a rejeitar qualquer participação das obras da lei no
processo da justificação. Ao dizer que Abraão foi justificado pelas obras,
Tiago está mostrando tão-somente a relação das obras com a fé. Ele não
está discutindo a questão da nossa justificação, mas afirmando que a fé
salvadora é seguida por boas obras e que, onde faltam estas, a fé está morta.
Tiago não afirma, ao tratar do oferecimento de Isaque por Abraão, que este
fora justificado por tal ato de obediência, uma vez que o patriarca já havia
sido perdoado e aceito muito tempo antes. É o que afirma a Bíblia: 'É o
caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça".
Quando ocorreu isso? Quando Isaque nem sequer havia nascido (G1 3.6;
Gn 15.6).
A respeito desta delicada questão, escreveu Wesley: "Afirmando que
a salvação é pela fé, queremos dizer: 1) que o perdão (salvação principiada)
é recebido por fé que produz obras; 2) que a santidade (salvação contínua)
é a fé operada por amor; 3) que o Céu (salvação completa) é recompensa
desta fé".
Os reformadores que, ao final da Idade Média, enfatizaram a célebre
afirmação de Habacuque: "Mas o justo viverá pela fé" (2.4, ARA), faziam
questão de sublinhar que tal fé era uma fides sola, e nunca uma fides
solitaria. Isto porque as boas obras são uma evidência da fé salvadora. O
crente pratica boas obras, não para ser salvo, mas por estar salvo. Uma vez
que sem a santificação ninguém verá o Senhor, aquele que é justificado
glorifica a Deus realizando boas obras, que são não apenas a consequência
da fé bíblica, sem a qual ninguém pode agradar ao Senhor, mas também a
parte visível, aos olhos do mundo, dessa mesma fé.
Desejo concluir este capítulo citando Agostinho, o grande pensador
cristão do quarto século. Ao concluir o seu tratado sobre o encontro de
Deus, o famoso bispo de Hipona baseia-se em passagens como Romanos
6.23, 1 Timóteo 2.5, Gaiatas 5.4, Filipenses 2.6,8, Mateus 4.23, Romanos
7.34 e outras, e afirma:
O verdadeiro Mediador, que por vossa oculta misericórdia mostras
e enviastes aos homens para que a seu exemplo aprendessem a humildade,
é Jesus Cristo, Mediador entre Deus e os homens. Apareceu como
intermediário entre os mortais pecadores e o Justo Imortal. Apareceu
mortal com os homens, e justo com Deus. Como a recompensa da Justiça é
a vida e a paz, pela justiça unida a Deus desfez a morte dos ímpios
justificados, querendo partilhá-la com eles...
Como nos amastes, ó Pai bondoso! Não perdoastes ao vosso Filho
Único! Entregaste-o à morte por nós, ímpios pecadores! Como nos
amastes! Foi por nosso amor que Ele, não considerando como rapina o ser
igual a vós, se fez por nós obediente até à morte e morte de cruz. Ele era o
único entre os mortos que estava isento da morte, o único que tinha o
poder de entregar a vida e de a reassumir de novo! Foi, diante de vós, o
nosso vencedor e vítima. Tornou-se vencedor porque foi vítima. Foi,
diante de vós, o nosso sacerdote e sacrifício. De escravos fez-nos vossos
filhos, servindo-nos apesar de ter nascido de vós.
Com razão nEle coloco toda a minha firme confiança, esperando
que curareis todas as minhas enfermidades, por intermédio daquele que,
sentado à vossa direita, intercede por nós. Doutro modo, desesperaria, pois
são muitas e grandes as minhas fraquezas! Sim, são muitas e grandes, mas
maior é o poder da vossa medicina. Poderíamos pensar que o vosso Verbo
se tinha afastado da união com o homem e desesperado de nos salvar, se
não se tivesse feito homem e habitado entre nós.
Atemorizado com os meus pecados e com o peso da minha miséria,
tinha resolvido e meditado, em meu coração, o projeto de fugir para o
ermo. Mas vós mo proibistes e me fortalecestes, dizendo: "Cristo morreu
por todos, para que os viventes não vivam para si, mas para aquele que
morreu por eles".
Capítulo 4
A lei é santa
A lei é santa porque veio de Deus; tão boa que Jesus a
cumpriu e tão justa que Cristo morreu por ela, dando assim o seu
cumprimento. A lei continua santa, boa e justa, mas não estamos
mais sujeitos a ela.
A palavra torah, como característica da lei propriamente dita, ocorre
mais de quinhentas vezes no Antigo Testamento, significando "ensino",
"instrução". Sua autoridade é indiscutível em virtude da sua emanação
superior, ou seja, do próprio Deus, como nesta passagem: "Vindo, pois,
Moisés, e contando ao povo todas as palavras do Senhor e todos os
estatutos, então, o povo respondeu a uma voz. E disseram: Todas as
palavras que o Senhor tem falado faremos" (Êx 24.3).
Pelo fato de originar-se em Deus, a lei reveste-se de santidade e
graça, assim como Deus é santo e misericordioso: "Porque povo santo és ao
Senhor, teu Deus"; e: "Mas porque o Senhor vos amava... vos tirou com
mão forte e vos resgatou da casa da servidão (Dt 7.6-15). Todo este trecho
enfatiza a bondade divina e revela que a lei não deixa de ser uma graça do
alto.
Nos tempos do Antigo Testamento, não se conhecia nenhuma divisão
entre leis profanas e religiosas, ou entre mandamentos morais e
cerimoniais. A Tora era um todo, abarcando plenamente a vida da nação e
de cada indivíduo. Para isso alternam-se os tratamentos "vós" e "tu", a
declaração como válidos e verdadeiros todos os preceitos nela contidos
tanto para o povo como para o indivíduo.
Por outro lado, a lei, como a primeira divisão das Escrituras, ou seja,
o Pentateuco, é predominantemente negativa. De suas 613 ordenanças, 365
são proibições, segundo revelam os rabinos israelitas. É o caso do
decálogo, onde oito dos dez mandamentos são iniciados por um "não".
Sua unidade
A unidade da lei aparece no Novo Testamento de forma eloquente,
mesmo quando se faz alusão à divisão tripartite das Escrituras hebraicas:
"... na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos" (Lc 24.44), onde "lei"
são os cinco primeiros livros bíblicos, escritos por Moisés. Em outras
passagens, "lei" e "lei e profetas" referem-se a todo o Antigo Testamento,
como sendo a máxima expressão da imperativa vontade divina para o seu
povo, Israel.
Em se tratando especialmente do Pentateuco, é flagrante a
impossibilidade de se distinguir duas leis — uma moral e outra cerimonial,
uma cumprida por Cristo e outra a ser cumprida por nós — sem torcer
violentamente todo o ensino neotestamentário (onde torah aparece quase
sempre no singular) e sem trair o princípio divino da justificação pela fé, tal
como Ele nos é apresentado em toda a Bíblia Sagrada. Jesus e os escritores
do Novo Testamento citam passagens de Gênesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronômio, além de outros livros do Antigo Testamento,
designando-os de "lei". Vejamos estes casos:
O apóstolo Paulo ensina que "as mulheres estejam... sujeitas, como
também ordena a lei", e aponta o livro de Gênesis (1 Co 14.34; Gn 3.16).
Aos romanos, escreve: "... se a lei não dissesse: não cobiçarás...", referindo-
se a Êxodo e Deuteronômio (Rm 7.7; Êx 20.17; Dt 5.21.5).
Jesus, ao ser interrogado acerca do grande manda¬mento da lei, citou
os livros de Levítico e Deuteronômio (Mt 22.36-39; Lv 19.18; Dt 6.5). Em
outra ocasião afir¬mou: "Não tendes lido na lei...?", referindo-se ao livro
de Números (Mt 12.5; Nm 28.8,10).
Portanto, segundo o Senhor Jesus e o apóstolo Paulo, iodos os livros
do Pentateuco são "lei", não fazendo eles nenhuma distinção entre
mandamentos cerimoniais e morais. Também não fazem, nem Jesus nem os
apóstolos, quaisquer alusões ao decálogo como sendo a parte mais
importante da lei. Se existe alguma alusão, é a que fez Jesus a Levítico e
Deuteronômio pelo fato de conterem estes livros o maior de todos os
mandamentos.
Sua santidade
As Escrituras Sagradas apresentam a lei no seu todo como sendo
santa, justa e boa. Tendo ela essas virtudes, é evidente pelo seu próprio
caráter que ela exige de cada um perfeita santidade, justiça e bondade.
Nenhum ser inteligente do Universo pode duvidar desse resultado. A lei
requer que a alma seja perfeitamente livre de pecado na presença de Deus,
e Deus, sendo santo, não deve permitir ou tolerar um só pecado. Se ele o
permitisse, a lei não seria santa nem adaptada para fazer que os homens
sejam santos.
Quanto mais santa, porém, é a lei, tanto maior convicção produzirá
ela no íntimo dos pecadores. A lei divina é totalmente abrangente em todas
as suas exigências. Se ela se estendesse somente à vida exterior, os homens
não se sentiriam culpados pelos seus maus pensamentos, desejos ou
desígnios; e se ela se estendesse somente a certas classes de pecados do
espírito, os homens não se sentiriam culpados pelos outros pecados do
espírito que ela não condenasse. Mas se a lei exige que a própria pessoa no
seu todo — no seu ego — seja plenamente santa, com todos os seus
pensamentos e sentimentos em harmonia com o amor e a retidão, então
essa pessoa fica convencida de culpa por um só ato mau que pratique,
porque, sentindo ela que a lei é santa, justa e boa, não pode deixar de
sentir-se condenada por infringir tal lei.
Desde, portanto, que Cristo apareceu, cada pessoa posta em contato
com Ele se sente imediatamente convencida de pecado. Dessa maneira,
uma de duas coisas cabe a cada pessoa fazer: ou impedir que a luz de Cristo
lhe penetre na alma, recusando-se a acreditar nas espirituais e perfeitas
exigências do Salvador, ou julgar- se a si mesma e condenar-se a si mesma
pelos preceitos da lei.
Enquanto a lei revelava o pecado e condenava o pecador à morte,
essa mesma lei não dava ao pecador nenhuma chance de cumprir as
exigências da lei. Esta, portanto, se restringiu a apontar ao pecador a norma
verdadeira, que é santa em si mesma e mantida por um Deus santo, e,
assim, condenar o transgressor e condená-lo à maldição.
Sua finalidade
Talvez em nenhuma outra passagem da Escritura o objetivo da lei
esteja tão bem explicado como na carta aos Gálatas. O apóstolo Paulo
pergunta para que é a lei, e em seguida responde: "Foi ordenada por causa
das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha
sido feita, e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro". E mais
adiante: "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo,
para que, pela fé, fôssemos justificados" (G1 3.19,24).
Do texto bíblico, e à luz de todo o contexto, percebe- se que a lei,
embora ordenada para o bem, não conseguiu justificar ninguém. Pelo
contrário, foi alvo de muitas transgressões e culpas que deveriam levar o
homem a conhecer a sua própria miséria e impotência e, partindo daí, a se
humilhar diante de Deus, arrepender-se e a ser salvo mediante a fé.
Todavia, em si mesma, a lei não tinha poder algum para levar o homem ao
Criador: "E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de
Deus, porque o justo viverá da fé" (G1 3.11).
Um teólogo britânico expressou corretamente a finalidade da lei, ao
afirmar que ela era, em certo sentido, como um instrumento perfeito,
enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Diz ele:
Se eu me puser diante de um espelho com o meu vestuário
desarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas não o põe em ordem.
Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a
tortuosidade, mas não a altera. Seu eu sair numa noite escura com uma luz,
esta revela-me iodos os obstáculos e dificuldades que se.acham no
caminho, mas não os remove. Além disso, o espelho, o prumo e a luz não
criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem os afastam,
apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: não cria o mal no
coração do homem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalível
exatidão.
A lei, portanto, serviu ao israelita, a quem foi dada, como um
pedagogo, ou aio, até que a fé viesse. Mas depois que a fé veio, não
estamos mais sujeitos ao pedagogo. Em outras palavras, o objetivo último
da lei é fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e
levá-lo, ao final, a confiar em Jesus Cristo e a recebê-lo como seu único
Salvador e Senhor, recebendo dele a salvação do pecado e da consequência
deste, a morte espiritual.
Argumenta ainda o apóstolo que a lei sinaítica, dada 430 anos depois
de Abraão, não invalidou a promessa de Deus feita àquele patriarca. "Mas a
Escritura encerrou tudo sob o domínio do pecado, a fim de que a herança
prometida fosse dada aos crentes por virtude da fé em Jesus Cristo" (3.22,
tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma).
Cristo, o único a cumprir plenamente toda a lei através de uma
obediência perfeita, tornou-se "Mediador de um novo testamento, para que,
intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do
primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da eterna herança"
(Hb 9.15, ver também Fp 2.5-8).
Servindo-se de duas palavras gregas, anti (que significa "contra"), e
nomos (que significa “lei"), Lutero inventou o termo "antinomianismo",
que quer dizer "contra a lei". Embora o reformador alemão usasse esse
neologismo em relação a outros, ele próprio nunca se considerou um
antinomianista. Lutero e outros reformadores deixaram bem claro que,
embora fôssemos salvos somente pela fé em Cristo, uma vez salvos
haveríamos de cumprir a lei. Assim, não praticamos boas obras a fim de
sermos salvos, mas porque somos salvos.
Ora, a Bíblia declara que esse é o objetivo último da lei: fazer que o
pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e levá-lo, ao final, a
confiar cm Jesus Cristo e a recebê-lo como único Salvador e Senhor,
recebendo dele a salvação do pecado e da consequência deste, a morte
espiritual.
Sua transitoriedade
Ao apresentar Cristo como o fim da lei, o Novo Testamento cumpre
uma profecia de Jeremias:
Vem dias, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa
de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus
pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito,
porque eles invalidaram a minha aliança, apesar de eu os haver desposado,
diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois
daqueles dias, diz o Senhor. Porei a minha lei no seu interior, e a
escreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão,
dizendo: Conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor
deles até o maior, diz o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nunca
mais me lembrarei dos seus pecados (Jr 31.31-34, EC).
Comentando esta profecia, o autor da Epístola de Hebreus registra:
"Dizendo nova aliança, ele tornou antiquada a primeira. Ora, aquilo que se
torna antiquado e envelhecido, perto está de desaparecer" (Hb 8.13, EC).
A antiga aliança estava sujeita a ser invalidada por nina das partes
pactuantes: Deus ou Israel. É evidente que Deus foi fiel, ao passo que os
israelitas não; eles transgrediram a aliança, a invalidaram e a violaram. Esta
verdade está registrada principalmente na Segunda Epístola aos Coríntios,
onde se afirma a transitoriedade da lei, e que "não somos como Moisés, que
punha um véu sobre a sua face para que os filhos de Israel não fitassem o
fim daquilo que desvanecia. Mas os seus sentidos foram embotados, pois
até hoje, à leitura da antiga aliança, permanece o mesmo véu. Não foi
removido, porque somente em Cristo é ele abolido. E até hoje, quando é
lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles (2 Co 2.13-15).
A nova aliança, baseada na fé em Jesus, é incomparavelmente
superior à antiga porque 1) sua religiosidade, brotando espontaneamente de
um coração perdoado e regenerado, independe de impulsos exteriores; 2) a
vontade divina, testemunhada antes em tábuas de pedra, está agora gravada
nas tábuas de carne do coração; 3) o conhecimento de Deus, diferentemente
do modo tomo era ministrado na antiga aliança, torna-se, no Novo
Testamento, uma experiência viva e profunda, magistralmente definida por
Paulo nesta frase: "Mas nós temos a mente de Cristo" (1 Co 2.16).
A aliança da lei, portanto, era transitória. Os cristãos não estavam (e
não estão) obrigados ao seu cumprimento, razão pela qual o apóstolo Paulo
adverte: "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por
causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl 2.16). A nova
lei, sob a qual estão os crentes, é a "lei do Espírito de vida, em Cristo
Jesus", que os livra "da lei do pecado e da morte" (Rm 8.2). Aos coríntios,
afirma o mesmo apóstolo, referindo-se aos gentios: "Para os que estão sem
lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas
debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei" (1 Co 9.21).
Capítulo 5
Os dez mandamentos
e o sábado
Todos os mandamentos do decálogo estão repetidos no Novo
Testamento, exceto o sábado. O cristão não rouba, não mata, não
toma o nome de Deus em vão etc., pois a nova aliança proíbe tais
pecados.
Há muitos anos o periódico The Pentecostal Evangel, órgão do
Concilio das Assembléias de Deus nos Estados Unidos, publicou excelente
artigo de autoria de Nelson E. Hinman, sob o título acima, que tomamos a
liberdade de transcrever e adaptar:
A questão do sábado tem deixado muitos cristãos evangélicos num
verdadeiro estado de confusão. Especialmente os novos na fé, que não
sabem discernir entre uma e outra dispensação, ou entre uma e outra
aliança bíblica, se tornam presa fácil dos falsos mestres legalistas que se
apresentam carregados de argumentos aparentemente irrefutáveis.
Se a Palavra de Deus nos ensina que os dez mandamentos, como os
encontramos no livro de Êxodo, são obrigatórios para o cristão, então
temos de admitir que o sábado igualmente o é. Mas a Bíblia não nos ensina
assim. Nela lemos que Cristo é mediador de uma melhor aliança, que está
firmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira aliança fosse
irrepreensível, não haveria lugar para uma segunda. Mas Deus, ao
repreender os israelitas por intermédio do profeta Jeremias, afirma: "Virão
dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá
estabelecerei uma nova aliança. Ela não será segundo a aliança que fiz com
seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito,
porque não permaneceram naquela minha aliança, e eu para eles não
atentei, diz o Senhor. Esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a
casa de Israel, diz o Senhor. Porei as minhas leis no seu entendimento, e em
seu coração as escreverei. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E
não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão,
dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor
deles até o maior. Pois serei misericordioso para com suas iniquidades, e de
seus pecados e de suas iniquidades não me lembrarei mais" (Hb 8.8-13).
Que o leitor atente para as expressões que aparecem nos versículos
anteriores aos da citação acima, como: "ministério tanto mais excelente",
"superior aliança" e "firmada em melhores promessas". As Escrituras falam
de duas distintas alianças, e afirma que a segunda destas alianças, em
relação à primeira, é não apenas diferente, mas incomparavelmente
superior.
As duas alianças
Moisés foi o mediador da primeira aliança, estabelecida no monte
Sinai, também conhecido como Horebe. Foi feito com os filhos de Israel.
Foi selado com o sangue de animais sacrificados. Era condicional da parte
do homem em obediência aos dez mandamentos.
Mas o tempo chegou, quando uma nova ordem tinha de ser
introduzida e estabelecida uma nova aliança. O profeta Jeremias foi um
daqueles que anunciou a nova aliança, conforme a citação de Hebreus,
acima. Uma das características dessa nova aliança é que ela seria gravada
no coração do crente: "Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no
seu coração.... Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu
irmão, dizendo: conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o
menor deles até o maior, diz o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, e
nunca mais me lembrarei dos seus pecados" (Jr 31.32-35, EC).
Uma nova e superior aliança seria feita com o povo de Deus e substituiria a
antiga aliança, chamada por Paulo, entre outras coisas, de transitória.
Vejamos como o apóstolo Paulo compara as duas alianças, em 2 Coríntios
3.
A primeira aliança
• Antiga, Êxodo 34.27-28.
• Mediador: Moisés, 2 Coríntios 3.7.
• Gravada em pedras, v. 7.
• Escrita com tinta, v. 3.
• Veio em glória, v. 7.
• Ministério da condenação, v. 9.
• E um jugo de servidão,
• Acaba com morte, vv. 3,6,7.
• Era transitório, vv. 7,11.
A segunda aliança
• Nova, Jeremias 31.31-34.
• Mediador: Cristo, 2 Coríntios 3.3-14; Hebreus 8.6- 9,15.
• Escrita no coração, vv. 2,3.
• Tem excelente glória, v.10.
• Ministério da justificação, Atos 13.38,39.
• Traz liberdade, 2 Coríntios 3.17.
• Vivifica, v. 6.
• E permanente, v. 11.
Os que defendem a guarda do sétimo dia geralmente não aceitam
esse argumento, dizendo que Paulo, em 2 Coríntios 3, refere-se a outra lei e
não àquela que foi gravada em pedras. Porém, comparando Deuteronômio
10.1 ("Naquele mesmo tempo me disse o Senhor: Alisa duas tábuas de
pedra, como as primeiras, e sobe a mim a este monte, e faze uma arca de
madeira") com 2 Coríntios 3.7 ("E, se o ministério da morte, gravado com
letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não
podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a
qual era transitória"), vê-se claramente que Paulo fala da lei dos dez
mandamentos. Portanto, se a antiga aliança já findou, perguntamos: Qual é
o conteúdo da nova aliança? Porventura ordena ela que observemos o
sétimo dia da semana?
Se os dez mandamentos dados na antiga aliança já passaram, vivem
então os cristãos sem eles? Podem tomar o nome de Deus em vão, matar,
roubar etc.? Por certo que não, pois que o Novo Testamento proíbe tais
pecados.
Os mandamentos da nova aliança
Examinemos os dez mandamentos em Êxodo 20, um após o outro, e
vejamos o que o Novo Testamento (ou a nova aliança) diz acerca deles:
1. O primeiro mandamento diz: "Não terás outros deuses diante de
mim". Este é um mandamento contra a idolatria, contra a adoração de
deuses falsos.
A nova aliança contém uma linguagem forte ao proibir a idolatria.
Considere as seguintes passagens: "Não vos façais idolatras... como alguns
deles"; "Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Co 10.7,14);
"Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (1 Jo 5.21). "E Jesus disse-lhe: Amarás
o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o
teu pensamento" (Mt 22.37; veja também Mc 12.30; Lc 10.27).
2. O segundo mandamento ensina: "Não farás para ti imagem de
escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em
baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra". Este mandamento é
também contra a idolatria que coloca uma imagem de Deus ou outros
objetos para adoração.
O ensino do Novo Testamento acerca deste pecado é nítido. Jesus
disse: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e cm verdade, porque o Pai procura a tais que
assim o adorem" (Jo 4.23). Os cristãos têm de adorar com o coração, não
com a formalidade. Adoração espiritual é aquela que não depende de ritos e
cerimônias, nem de pompa e formas exteriores; é a que sai do coração para
Deus em qualquer tempo e em qualquer lugar: "O Pai procura a tais que
assim o adorem".
Outros textos do Novo Testamento acerca desse mandamento: "Mas
escrever-lhes [aos gentios convertidos] que se abstenham das
contaminações dos ídolos... Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos
ídolos... Todavia, quanto aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito
e achado por bem que se guardem do que se sacrifica aos ídolos..." (At
15.20,29; 21.25). "E mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes,
e de répteis" (Rm 1.23). "Não vos façais idolatras, como alguns deles;
conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se
para Iblgar... Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Co 10.7,14). "As
obras da carne são manifestas, as quais são... idolatria" (G1 5.19,20).
"Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza,
paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria" (Cl 3.5, ARA).
"Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (I Jo 5.21).
3. O terceiro mandamento é: "Não tomarás o nome do Senhor teu
Deus em vão, pois o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome
em vão". Este mandamento proíbe profanar o santo nome de Deus. Os
cristãos têm um mandamento semelhante que vai mais além: "Eu, porém,
vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono
de Deus... Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não" (Mt 5.34,37).
"Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da
maledicência, das palavras torpes da vossa boca" (Cl 3.8).
4. O quarto mandamento diz: "Lembra-te do dia do sábado, para o
santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é
o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o
teu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teu
animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Pois em seis dias
fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, mas ao sétimo dia
descansou. Por isso abençoou o Senhor o dia de sábado, e o santificou".
Esse é o único mandamento que não se encontra repetido na nova
aliança. Esquadrinhando todo o Novo Testamento, não encontramos
nenhum ensino de Jesus ou dos apóstolos para santificarmos o dia sétimo
mais do que qualquer outro.
Todos os que ensinam que o sábado, o sétimo dia, deve ser
santificado por todos os cristãos, não guardam este dia da maneira como foi
ordenado. Os tais devem saber que a lei, ao mandar guardar ao sábado,
também diz como ele deve ser observado. Para guardar o sábado os
israelitas recebem as seguintes instruções:
1) não fazer nenhuma obra nesse dia, Êxodo 20.10;
2) trabalhar nos outros seis dias, v. 9;
3) não podiam apanhar lenha no dia de sábado; um homem achado
fazendo isso foi apedrejado até morrer, Números 15.32,36;
4) não acender fogo em casa, Êxodo 35.3;
5) sacrificar duas ovelhas em oferta de manjares todos os sábados,
Números 28.9,10.
Se os sabatistas querem insistir na guarda do sétimo dia, então terão
de guardá-lo conforme estes preceitos.
A lei exigia que toda comida fosse preparada na véspera do sábado, e
este dia era conhecido no tempo de Jesus como "o dia da preparação",
assim mencionado nos Evangelhos. Os judeus que guardam a letra da lei,
nem sequer acendem luz elétrica no sábado, porque seria acender lume. E
se nós estamos vivendo sob a lei, devemos obedecer aos mandamentos em
todos os preceitos.
Mas graças a Deus que não vivemos sob a lei, mas sob a graça da
nova aliança, e por isso não estamos obrigados a guarda um dia mais do
que outro. Em Romanos 14.5,6 o apóstolo escreve: "Um faz diferença entre
dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente
seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o
faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não
come para o Senhor não come e dá graças a Deus".
A doutrina dos que guardam o sábado corresponde com esta? Não,
porque dizem que o sábado tem de ser guardado sobre todos os outros dias.
Negam assim o privilégio de cada um decidir por si mesmo a esse respeito,
privilégio que é parte da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Muito se ensina no Novo Testamento acerca do primeiro dia, o do
Senhor, mas à luz de Romanos 14.4-6, entendemos que a questão de
guardar um dia mais do que a outro não era obrigação, mas opção na
primitiva igreja. O dia do Senhor, ou o primeiro dia, era guardado tendo
por motivo o amor, e não a lei.
Se alguém arguir que Jesus guardava o sábado de Moisés, replico:
tinha de fazer assim, visto que veio sob a lei e guardou todos os
mandamentos de seu Pai para os judeus; porém, ao estabelecer a nova
aliança, não nos deixou nenhum mandamento a respeito do sábado, exceto
o que já mencionamos em Romanos 14 e em Hebreus 10.25, onde diz:
"Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes,
admoestemo-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai
aproximando aquele Dia". Somos ensinados acerca das reuniões, mas o dia
para realizá-las fica à nossa escolha.
5. O quinto mandamento diz: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que
se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá". Este
mandamento está repetido em Efésios 6.1-4, com a diferença que na nova
aliança o mandamento foi ampliado, pois inclui a responsabilidade dos pais
de disciplinar os próprios filhos: "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais
no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o
primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito
tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas
criai-os na doutrina e admoestação do Senhor". "Vós, filhos, obedecei em
tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor" (Cl 3.20).
6. No sexto mandamento, o Senhor diz: "Não matarás". E Jesus
interpreta-o, dizendo que odiar equivale a matar. Sentimentos e palavras de
ódio são tão maus à vista de Deus como o ato de matar. O que pensará
Deus quando os homens vêm à sua presença para o adorar com os seus
corações cheios de ódio, malícia e inveja contra os irmãos?! "Que nenhum
de vós padeça como homicida" (1 Pe 4.15, ver também Mt 5.22; 1 Jo 3.15).
7. O sétimo mandamento diz: "Não adulterarás". Este mandamento
foi, como o sexto, ampliado por Jesus para incluir o desejo do coração (Mt
5.27,28). Deus acentua a vida interior, pois é ali que a luta é ganha ou
perdida. "Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás
falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo
nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Rm
13.9).
8. O oitavo mandamento afirma: "Não furtarás". O apóstolo Paulo
escreveu: "Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com
as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver
necessidade" (Ef 4.28).
9. O nono mandamento é: "Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo". E uma advertência contra o pecado de perjúrio. Paulo ensina o
mesmo mandamento na nova aliança: "Não darás falso testemunho" (Rm
13.9). "Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu
próximo; porque somos membros uns dos outros" (Ef 1.25). "Não mintais
uns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com os seus feitos"
(Cl 3.9).
10. O décimo mandamento diz: "Não cobiçarás a casa do teu
próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu escravo, nem a
sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu
próximo". O ensino da nova aliança é igual: "Porque bem sabeis isto: que
nenhum... avarento... tem herança no reino de Cristo e de Deus" (Ef 5.5).
"Nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes,
nem os roubadores herdarão o Reino de Deus" (1 Co 6.10). "Não cobiçoso
de torpe ganância" (1 Tm 3.3). E Jesus afirma: “E disse-hes: Acautelai-vos
e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na
abundância do que possui", e conta a história do rico insensato para ilustrar
o seu mandamento, Lucas 12.15-21.
Não estamos sem lei
Podemos ver, pois, que apesar de todos os mandamentos estarem
repetidos no Novo Testamento, não há ordem alguma que obrigue os
cristãos a guardar o sábado.
Argumentam os apologistas do sétimo dia que, se nos abstêmios de
adultério, mentira, idolatria, roubo, perjúrio etc., que é uma parte dos dez
mandamentos, devemos igualmente cumprir a parte da lei referente ao
sábado. A nossa resposta é: o motivo por que não praticamos aqueles
pecados é porque eles são proibidos na nova aliança, do qual o Senhor
Jesus é mediador. Não estamos sem lei, mas sob a lei de Cristo, 1 Coríntios
9.21.
Deus providenciou uma provisão para os que erraram na antiga
aliança: o sacrifício segundo a lei levítica. Deus também estabeleceu uma
provisão para os que erram na segunda aliança: a provisão de Jesus Cristo,
o Justo, que derramou o seu sangue para propiciação pelos nossos pecados
e pelos de todo o mundo. Tornando-nos culpados de desobediência contra
alguns de seus mandamentos, encontramos perdão de Deus em nome de
Jesus, se confessarmos os nossos pecados.
Os defensores do sábado alegam que esse dia era reconhecido pelos
primitivos cristãos até que o imperador Constantino, em 321, mudou o dia
de guarda de sábado para domingo; outros dizem que foi um papa que fez
isso. Mas a verdade é que os primitivos cristãos guardavam o domingo
como dia de descanso e adoração, e isso durante três séculos antes de haver
Constantino reconhecido oficialmente esse dia como o descanso cristão. E
o que vemos na história da Igreja.
Muito mais poderia ser dito sobre o assunto, mas uma palavra de
Deus em Gálatas 5.22,23 é suficiente para terminá-lo: "Mas o fruto do
Espírito é: caridade [amor], gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei".
Depois de ter registrado o fruto de uma vida cheia do Espírito, Paulo
diz: "Contra essas coisas não há lei". Nem a lei de Moisés nem a lei de
Cristo podem condenar uma vida que produz esse fruto.
A antiga aliança foi o bulbo de onde cresceu a flor da nova aliança.
Quando o bulbo cumpriu sua missão, surgiu a flor bela, independente,
capaz, mas continuou mantendo intima relação que confunde a muitos. Sou
forçado, portanto, a advertir a grande insensatez que está em preferir o
bulbo à flor, ou em forçar o bulbo a ocupar o lugar da flor. Aqui reside o
erro de tentar guardar os artigos concernentes à primeira aliança, enquanto
se pode viver sob os privilégios abençoados da segunda!
Capítulo 6
Sinal da besta:
sábado ou domingo?
Nem a Igreja Católica Romana nem o papado podem ser
identificados com qualquer das bestas, por falta absoluta de
cumprimento do que se exige no livro de Apocalipse. E perigoso
forçar a Palavra de Deus a dizer aquilo que ela não diz.
Em suas campanhas proselitistas, os adeptos da guarda do sábado
insistem em afirmar que todos os guardadores do domingo têm o sinal da
besta, estão enganados por falsos profetas e estão debaixo da ira de Deus,
conforme afirmam estes textos bíblicos:
E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e
escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na testa... também o
tal beberá do vinho da ira de Deus, preparado, sem mistura, no cálice da
sua ira. E será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e
diante do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre.
Não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua
imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome... E a besta foi presa, e
com ela o falso profeta que diante dela fizera os sinais com que enganou os
que receberam o sinal da besta, e os que adoraram a sua imagem. Estes
dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Ap
13.16; 14.10,11; 19.20).
Embora tais julgamentos não tenham nenhuma base bíblica quando
aplicados aos cristãos na era da graça, eles não deixam de assustar e
confundir os incautos, principalmente os novos convertidos ainda não
plenamente firmados na sã doutrina da Palavra de Deus.
Baseando-se em interpretações forçadas dos livros de Daniel e
Apocalipse, os sabatistas crêem que o papado é a primeira besta do
Apocalipse, e que foi ele o autor da mudança da guarda do sábado para o
domingo.
Desfazendo dúvidas
Tanto os escritores do Novo Testamento como os escritores que lhes
seguiram nos primeiros séculos da era cristã são unânimes em afirmar que
os cristãos primitivos passaram a descansar no domingo em comemoração
à ressurreição do Senhor Jesus e aos grandes eventos que se deram nesse
memorável dia. Além de haver ocorrido no primeiro dia da semana a
consumação da obra redentora — considerada mesmo maior que a da
própria criação — foi também nesse dia que Jesus apareceu diversas vezes
aos seus discípulos, dando provas de sua vitória completa sobre o pecado e
a morte (Jo 20.1-26; Mt 28.1,8- 10; Lc 24.3-15; Mc 19.9-13).
Foi também no primeiro dia da semana que Jesus abençoou seus
discípulos e deu-lhes o Espírito Santo (Jo 20.19,22). Nesse dia muitos
santos ressurgiram e também nele o Espírito Santo iniciou sua dispensação
na terra, batizando os primeiros crentes e dando-lhes poder para pregar o
evangelho da graça de Deus. Foi ainda no domingo que três mil almas se
converteram a Cristo (Mt 27.52,53; At 2.1,2,41).
Não é de admirar, portanto, que a igreja se reunisse no primeiro dia
da semana a fim de cultuar a Deus e comemorar tantos eventos gloriosos, e
passasse a chamar esse dia, no mundo latino, de domingo, que quer dizer
"dia do Senhor".
O fim do sábado
Como integrante da lei mosaica, o sábado foi cumprido por Cristo,
que o cravou na cruz, conforme afirma a Escritura: "Havendo riscado a
cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira
nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. li,
despojando os principados e as potestades, os expôs publicamente e deles
triunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo
beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl
2.14-16).
Os versículos 14 e 15 do texto acima são assim traduzidos por
Phillips:
Foi ele que perdoou todos os pecados. Por termos quebrado as leis e os
mandamentos, fomos condenados, mas Cristo riscou essa condenação que
pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a completamente e pregando-a na cruz
sobre a sua própria cabeça. E depois, retirando a força aos poderes hostis a nós,
expô-los já despedaçados, vazios e derrotados, no seu ato final glorioso e
triunfante!
Os sábados, inclusive o semanal, como é evidente, não pertence à
nova dispensação, não foi ordenado nem por Jesus nem pelos apóstolos,
pois era apenas um sinal entre Deus e Israel (Ez 20.10-12).
Acusado pelos judeus de violação do sábado, Jesus afirmou que "o
sábado foi feito por causa do homem", e que Ele "até do sábado é Senhor"
(Mc 2.27; Mt 12.8). Assim, por um lado Jesus defende o princípio moral do
quarto mandamento do decálogo, que é a necessidade humana de se
descansar um dia em cada sete, valendo para esse fim qualquer deles; e, por
outro lado, ao condenar o cerimonialismo que cercava o guarda do sábado,
revela sua autoridade divina sobre esse sétimo dia para cumpri-lo, aboli-lo
ou mudá-lo. O autor da Epístola aos Hebreus escreveu que os israelitas não
puderam entrar no repouso de Deus por causa da sua incredulidade. E
conclui: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.8).
O sábado da lei, como sombra das coisas vindouras, prefigurava o descanso
espiritual que encontramos, pela fé, em Cristo, que disse: "Vinde a mim,
todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28).
A voz da História
O pastor Ricardo Pitrowski, na obra O Sabatismo à Luz da Palavra
de Deus, relaciona testemunhos comprobatórios de que a instituição do
domingo, como dia de descanso, não partiu do papa.
Acerca do concilio de Laodicéia, realizado em 364, local e data
apontados pelo sabatismo como sendo os da mudança da guarda do sábado
para a guarda do domingo, afirma a mencionada obra que o bispo de Roma
não esteve presente nem foi representado. Apenas 32 pastores (ou bispos)
da Ásia Menor compareceram àquela reunião, cujo objetivo não foi outro
senão disciplinar pequenas questões locais.
É importante salientar aqui que nesse tempo o bispo de Roma ainda
não possuía nenhuma autoridade sobre outras igrejas, e mesmo uns
duzentos anos mais tarde sua influência ainda era nula no Oriente. E mais:
Laodicéia não é Roma, não fica na Europa e não é cidade latina!
Portanto, fazer do papa ou do papado a primeira besta e da guarda do
domingo o seu sinal é torcer violentamente tanto os fatos históricos como
os ensinamentos claros das Escrituras Sagradas.
Quem será a besta?
Quando dava os meus primeiros passos na fé cristã, em 1959, depois
de desembaraçar-me das doutrinas batistas em que fui criado até os oito
anos de idade, deparei-me com um curioso folheto espírita no qual se
procurava identificar o papa com a besta através da aplicação do número
666 aos vários títulos usados pelo pontífice romano.
Os adventistas se valem do mesmo expediente para justificar seus
ensinos, esquecendo-se de que ao longo dos séculos esse mesmo número da
besta já foi aplicado a dezenas de pessoas e instituições que perseguiram os
ristãos ou os judeus, estando entre essas pessoas Hitler e a própria co-
fundadora do sabatismo, a Sra. Ellen Gould White. Somando-se as letras
desse nome que têm valor em algarismos romanos (o "U" como "V" e o
"W" como “VV”, como se usava antigamente), obtém-se o mesmo
misterioso número 666! Se esse fato significa que também o sabatismo
entra na esfera de tudo quanto é contrário a Deus, então o sinal da besta
poderia ser a guarda do sábado, e não a do domingo!
Mas a Bíblia é muito clara em afirmar que o 666 é número de
homem e não de mulher. Por outro lado, as bestas do capítulo 13 do
Apocalipse ainda não se manifestaram, e é bem provável que elas surjam
somente depois do arrebatamento da igreja, embora já possamos vislumbrar
o seu futuro surgimento mediante a restauração do império romano na
Europa e aos progressos do movimento ecumênico liderado pelo Conselho
Mundial de Igrejas. Este último, que já conta com mais de seiscentos
milhões de adeptos, tem como objetivo principal uma só Igreja e um só
governo para o mundo.
Por outro lado, a igreja romana não foi esquecida pela Bíblia e está
descrita de maneira inconfundível no capítulo 17 de Apocalipse. E a grande
prostituta, "a mãe das abominações da terra". Nem ela nem o papado
podem ser identificados com nenhuma das duas bestas por absoluta falta de
cumprimento do que se exige em Apocalipse 13. li perigoso torcer ou
forçar a Palavra de Deus.
Capítulo 7
Quem não guarda o sábado
não é de Deus?!
Quem pensa, crê e ensina dessa forma, pensa, crê e ensina em
conformidade com os preceitos dos fariseus, e nunca de acordo com
o espírito do evangelho da graça de Deus.
Escrevi este capítulo baseando-me em um artigo com o mesmo
título, publicado há muitos anos na revista portuguesa Novas de Alegria,
periódico em que também publiquei diversos trabalhos alusivos à guarda da
lei de Moisés e do sábado. O autor do referido artigo havia perguntado, a
um defensor da guarda do sábado, se um cristão poderia ou não ser salvo
sem a observância do sétimo dia. A resposta que ele recebeu foi: "Quem
não guarda o sábado não anda na vontade de Deus e não poderá se salvar".
Alguns fariseus disseram algo parecido a respeito do próprio Cristo:
"Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado" (Jo 9.16). Na
verdade, Jesus nunca quebrou a lei em nenhum só de seus mandamentos,
nem mesmo quanto ao sábado. Ele curou e salvou no sábado. Se Jesus
quebrou algumas das leis sociais instituídas pelos judeus, foi justamente a
fim de integrar na sociedade pessoas socialmente marginalizadas, como
cobradores de impostos, prostitutas, leprosos, coxos etc.
O que diz a Bíblia
Em nenhuma passagem do Novo Testamento encontramos outra
doutrina da salvação, além desta: "Porque pela graça sois salvos, por meio
da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que
ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). A prova da nossa salvação é o novo
nascimento, que por sua vez não deve ser confundido com o crescimento
espiritual do crente. Nunca devemos confundir salvação com perfeição.
Aquela está consumada; esta é um processo na vida de todo aquele que ama
a Jesus Cristo.
Voltemos à questão da observância do sábado. Os apologistas do
sétimo dia citam textos bíblicos segundo os quais haveria a obrigatoriedade
da guarda do sábado antes do Sinai, mas aqueles textos, quando
examinados à luz de seu contexto imediato ou distante, não confirmam tais
alegações. Vejamos:
Gênesis 2.1-3: “Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram
acabados. E, havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha
feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E
abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda
a sua obra, que Deus criara e fizera”. Este texto não contém ordenança
alguma, limitando-se a informar que o Senhor findou a criação no sétimo
dia, e que nesse dia descansou (isto é, cessou de trabalhar) e santificou o
sétimo dia.
Oséias 6.7: "Mas eles traspassaram o concerto, como Adão; eles se
portaram aleivosamente contra mim". De modo nenhum esta passagem
deve ser relacionada ao mandamento da guarda do sábado. O mandamento
que Adão transgrediu não está em Gênesis 2.1-3, mas sim em Gênesis
2.16,17: "E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do
jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela
não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamen¬te morrerás".
Os contemporâneos do profeta Oséias haviam desobedecido a Deus,
à semelhança de quando nossos primeiros pais comeram do fruto proibido.
Como poderia Adão e Eva transgredir o mandamento da guarda do sábado,
se esse mandamento não lhes havia sido dado?
Não é boa hermenêutica citar Gênesis 26.5 com a mesma intenção.
Afirma esse texto: "Porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o
meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis". O
Senhor havia ordenado várias práticas a Abraão: a circuncisão (Gn 17.10),
a saída pela fé da sua terra (Gn 12.1) e a proibição de descer ao Egito (Gn
26.2).
Quão perigosas são as idéias fixas! Quando o Senhor diz que o
patriarca "guardou o mandamento", poderia ele referir-se àquele que
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Evangélico abraão de almeida - o sábado a lei e a graça cpad

  • 1.
  • 2.
  • 3. Todos os Direitos Reservados. Copyright 1981 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. Almeida, Abraão Pereira de, 1939- A444s O Sábado, a lei e a graça / Abraão de Almeida. - Rio de Janeiro : Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1981. Bibliografia 1. Sábado - Ensinamentos bíblicos I. Título CDD - 263 81-0166 CDU - 263 Código para Pedidos: CV-402 Casa Publicadora das Assembléias de Deus Caixa Postal, 331 20001 Rio de Janeiro, RJ, Brasil 6ª Edição/1996
  • 4. DEDICO Aos meus pais Antonio e Maria: À minha esposa Lúcia; Aos meus filhos Elaine, Elaíse, Elida e Júnior; Aos meus irmãos Clara, Manoel, Carmem, Elisa, Iolanda, Moisés, Irani, Irene, Ananias, Marina.
  • 5. ÍNDICE Prefácio à primeira edição 7 Prefácio à segunda edição 13 1. Religião divina e religiões humanas 15 2. Fé, a força do cristão 25 3. Obras mortas e obras vivas 31 4. A lei é santa43 5. Os dez mandamentos e o sábado 51 6. Sinal da besta: sábado ou domingo? 63 7. Quem não guarda o sábado não é de Deus?! 69 8. Diálogo com um sabatista 77 9. Privados da verdade 85 10. Liberdade cristã ou servidão legalista? 91 11. O evangelho da graça de Deus 101 12. Respostas bíblicas a diversas questões sabatistas ..115 Notas 131
  • 6. Prefácio à primeira edição Convidados que fomos a prefaciar esta obra, oferecemos a nossa sincera opinião. O Sábado, a Lei, e a Graça c o título do novo livro do escritor evangélico Abraão de Almeida. Abraão de Almeida não necessita de apresentações: está consagrado pelas suas obras e por elas se faz conhecido como autor evangélico de renome, mas é bom lembrar que formou-se em teologia pela Faculdade Evangélica de Teologia "Seminário Unido", do Rio de Janeiro. É professor de diversas matérias teológicas. Dos seus muitos livros publicados, destaca-se o "best sei ler" Israel, Gogue e o Anticristo, obra prima no assunto, que recebeu diversas edições no Brasil, nos Estados l In idos (em espanhol) e em Portugal. Há muito os evangélicos no Brasil se ressentiam de um livro que, baseado nas Escrituras Sagradas e na Historia da Igreja Cristã, pudesse apontar e corrigir algumas doutrinas heréticas dos adventistas do sétimo dia. Dizemos algumas porque nem todas o são. Há adventistas não fanáticos, que não se apegam ao sábado como tábua de salvação, antes buscam refúgio na graça salvadora do Senhor Jesus. Outros há (a maioria) que estão voltados para o sábado e outros mandamentos como leis, pelos quais pretendem justificar-se diante de Deus. Estes é que se acham em grave perigo espiritual, pois sobre eles pesa a terrível sentença gravada em letras de fogo na incontraditável Palavra de Deus: "Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei!" (G1 5,4), A esses Paulo censura duramente dizendo: "Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós que não haja trabalhado em vão para conosco!" (Gl 4.10-1 1). O Sábado, a Lei, e a Graça vem preencher a lacuna existente. Ele visa não somente alertar os crentes a não se deixarem levar por essas heterodoxias tão daninhas à seara do Senhor, mas também a despertar os
  • 7. adventistas sinceros a imitar os bem-aventurados bereanos, que "de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim" (At 17.1 1). Jovem ainda, fomos levados por um dos bem apresentados livros adventistas a aceitar a guarda do sábado como lei férrea de Deus que não poderia ser transgredida sem que o escarmento divino se deixasse cair sobre nós, executando a inapelável sentença de perdição eterna. Como nos era impossível guardar o sábado por causa do serviço secular, decidimos aguardar o dia que nos fosse possível cumprir o mandamento. Mas, alguém enviado por Deus, nos levou a examinar nas Escrituras "se estas coisas eram assim". Ali, na relação divina, constatamos que "estas coisas não eram assim" e que a graça, e somente a graça nos leva a Deus, nos perdoa, nos salva, nos batiza com o Espírito Santo, nos enche de alegria nesta peregrinação: "Pela graça sois salvos, por meio da fé... Não vem das obras" (Ef 2.8-9); "Ninguém vos julgue... por causa... dos sábados" (Cl 2.16). O novo livro de Abraão de Almeida nos leva a examinar as Escrituras. Ele é um pedagogo que deseja guiar pela mão, através da revelação divina, de Gênesis a Apocalipse, os duvidosos e os adventistas sinceros para que, qual peregrinos no deserto, encontrem os oásis da verdade e bebam da água da incomensurável graça de Deus. É preciso ler este livro. É imprescindível que se faça isso. Leiam-no os duvidosos e desafiamo-los a duvidarem; leiam-no os adventistas sinceros e desafiamo-los nos, todos os crentes, e aprenderemos a “responder aos que se gloriam na aparência” (2 Co 5.12). Ninguém melhor que Abraão de Almeida poderia ter escrito este livro, pois, filho de pais adventistas, foi criado e educado até a adolescência nas doutrinas sabatistas que conhece profundamente, podendo, assim, opinar sobre elas com absoluto conhecimento de causa, com a ênfase com que Paulo pôde falar aos gálatas sobre a lei. O livro, em síntese, enfoca os temas a seguir. 1. Há a religião divina e as religiões humanas. A divina é a religião "do alto para baixo". Nela Deus fala, i. e, oferece ao homem a graça salvadora por reconhecer a incapacidade humana de produzir obras de justiça.
  • 8. A religião divina é o plano de Deus para salvar o homem caído". As religiões humanas são "de baixo para ei ma". Nelas o homem faz, i. é, oferece a Deus o produto de seu esforço, exigindo salvação, por não aceitar a incapacidade humana. As religiões humanas são todas o plano de Satanás para que o homem caído continue caído e morra sem salvação. Aceitar a graça oferecida é religião divina; é estar no plano de Deus. Condicionar a salvação à guarda da lei é adotar uma religião humana; é estar no plano de Satanás. 2. Ter fé e ter confiança em Deus. O cristão é dependente de Deus: "Sem mim nada podeis fazer". A falta de fé é falência humana. De Deus tudo recebemos pela fé e não em troca de obras mortas. 3. Há obras mortas e obras vivas. As obras vivas são o produto da graça, da fé, da salvação; vêm de Deus: o homem faz porque é salvo. As obras mortas são o produto do orgulho humano, são inspiradas por Satanás, o grande orgulhoso: o homem faz para salvar-se. Guardar um dia como condição imprescindível à salvação é praticar obras mortas. 4. A lei é santa, justa e boa, mas, por ser predominantemente negativa (oito dos dez mandamentos começam por um "não!"), foi transitória: durou até João, o Batista. A lei não conseguiu justificar ninguém, mas conseguiu a sua finalidade: mostrar ao homem que ele é pecador. 5. Se o cristão tem o dever de guardar o sétimo dia, que é um mandamento da lei mosaica, ele fica obrigado a guardar toda a lei, inclusive as suas cerimônias, pois a transgressão de uma parte da lei importa na transgressão de toda ela. 6. O cristão que observa o domingo como o "Dia do Senhor" não tem o sinal da besta, pois assim fizeram os cristãos dos tempos apostólicos, como se vê no Novo Testamento e na história da Igreja cristã. O Concilio de Laodicéia, realizado no ano 364, e apontado pelos adventistas como o que mudou a observância do sábado para a observância do domingo, não teve influência papal, pois o papa, então, não tinha nenhuma autoridade sobre as igrejas do Oriente. Esse conclave não fez
  • 9. mudança alguma; apenas reconheceu o que se praticava desde os tempos apostólicos. 7. A observância do sábado é um sinal somente entre Deus e Israel. Os apóstolos frequentavam o templo e as sinagogas dos judeus aos sábados para aproveitar a oportunidade de falar a estes acerca de Jesus; mas, como cristãos, reuniam-se no primeiro dia da semana. Documentos históricos provam que os cristãos continuaram reunindo-se nesse dia nos primeiros séculos da era cristã. 8. Interessante diálogo entre uma legalista e um cristão seguidor da graça. Enfoca e esclarece os principais pontos apresentados pelos defensores da guarda do sábado. 9. As seitas heréticas mudam suas doutrinas porque não têm base bíblica. Assim aconteceu com os adventistas, que marcaram o retorno de Jesus para nove datas consecutivas, sem que ele tenha vindo em nenhuma delas. 10. Os defensores do neolegalismo procuram enganar os incautos com citação de textos bíblicos isolados, os quais eles torcem em favor de seus pontos de vista. Mas a Bíblia, inspirada pelo Espírito Santo, constitui um iodo em si mesma. Só podemos aceitar como doutrina bíblica aquelas que estão respaldadas em todo o contexto bíblico. E errado considerar toda palavra "mandamento" como uma referência ao decálogo, e é errado ensinar que Jesus cumpriu na cruz somente os mandamentos "cerimoniais". 11. Não há duas leis de Moisés, mas apenas uma, que compreende todo o Pentateuco. A antiga aliança foi invalidada por Israel. 12. A palavra "lei", nas quatrocentas vezes em que ocorre na Bíblia, nunca se refere a decálogo como sendo este a lei moral, nem aos demais preceitos como sendo lei cerimonial. Toda vez que o Novo Testamento fala de lei refere-se à lei contida no Pentateuco como um todo. Cristo nos libertou da maldição da lei fazendo-se maldição por nós. Pelo fato de, como cristãos, estamos libertos da lei, não significa que estamos sem lei, pois estamos debaixo da lei de Cristo. Todos os mandamentos do decálogo estão repetidos no Novo Testamento (exceto o quarto, que trata do sábado). 13. Jesus diferenciou o sábado dos demais mandamentos por causa da sua natureza evidentemente cerimonial e não moral. Jesus justificou os
  • 10. seus discípulos quando estes foram acusados de ter quebrado o sábado. Ele não os justificaria se tivessem cometido adultério ou furto, mesmo por necessidade. Nós, os evangélicos, não estamos obrigados à guarda do domingo da mesma maneira como os judeus guardam o sábado. Enquanto estes se submetem aos rigores de uma lei, nós, movidos pela gratidão a Deus, dedicamos o primeiro dia da semana a uma maior disseminação do evangelho da graça. São esses pontos que precisamos conhecer a fundo lendo O Sábado, a Lei e a Graça. Rio, novembro de 1979 Gustavo Kessler
  • 11. Prefácio à segunda edição Depois de três lustros e de dezenas de milhares de exemplares distribuídos entre todos os povos de fala portuguesa, tenho o prazer de apresentar ao leitor a nova edição de O Sábado, a Lei e a Graça. Partindo dos temas principais da obra original, ampliei nesta edição praticamente todos eles, e os enriqueci com minhas experiências adquiridas no estudo pessoal da Palavra de Deus e no meu ministério de ensino ao longo de mais de trinta anos. Além disso, escrevi um capítulo extra, que intitulei de "O Evangelho da Graça de Deus". A edição original cumpriu vasto ministério, a julgar pelas inúmeras cartas que tenho recebido de seus leitores, na sua maioria adeptos do sabatismo tentando inutilmente relutar os argumentos bíblicos que apresento. Alegra-me saber que muitos leitores honestos, ajudados por aquela obra, afastaram-se do legalismo e se refugiaram na graça de Deus. Ainda recentemente, enquanto preparava esta segunda edição, um obreiro cristão da cidade de Santo André, no Estado de São Paulo, contou-me que deu um exemplar do livro a um adventista, e este, após a sua leitura, abandonou a seita legalista e buscou uma igreja evangélica, na qual é agora um dinâmico obreiro. Espero que esta nova edição, a exemplo da primeira, seja uma bênção para a nova geração de obreiros e de estudiosos da Palavra de Deus. Oro para que muitas vidas preciosas abandonem os pântanos venenosos do legalismo e venham abeberar-se nas fontes cristalinas e inesgotáveis da maravilhosa graça de Deus. Abraão de Almeida Hollywood, Flórida, julho de 1997
  • 12. CAPÍTULO 1 Religião divina e religiões humanas Jesus afirma a nulidade dos esforços humanos na economia da salvação, e Paulo enfatiza esta mesma verdade ao concluir que somos salvos pela graça, mediante a fé, sem as obras da lei. Livros existem que, por revelarem alguns meandros da personalidade humana, representam claro lenitivo aos corações açoitados pelos vendavais da vida; contudo, somente a Bíblia, qual luz capaz de penetrar até os mais profundos recônditos da nossa alma, pode comunicar a mais perfeita e imprescindível consolação divina. Nos melhores tratados sobre as Escrituras Sagradas, preparadas por pessoas reconhecidamente piedosas, somos orientados acerca do caminho da salvação; pela Bíblia somos impelidos a entrar e a viver nesse glorioso caminho. Renomados autores legaram-nos alguns brilhos, apontando um bem- estar social, superficial e terreno; humildes escritores sacros, inspirados pelo Espírito Santo, revelam-nos o segredo da verdadeira felicidade, presente e futura, e nos fazem participantes dela. As mais diferentes filosofias têm-se esforçado, em todos os tempos, por desvendar o mistério que envolve a vida e a morte havendo entre elas muitas divergências; entretanto, o livro dos livros, em linguagem singela e familiar, esclarece de uma vez por todas esse magno problema. É justamente por causa de seus sublimes princípios e incontestável veracidade que as Escrituras jamais deixaram de influenciar beneficamente a humanidade, através dos milênios. Mas qual seria a razão de tão assombrosa diferença entre a Bíblia e os livros comuns?
  • 13. A resposta é simples. Ela é a Palavra de Deus. Portanto, divina é a sua mensagem. Deus se revela ao homem através da Bíblia, falando-lhe ao coração pelo seu Espírito. Quando reverentemente lemos este livro, recebemos, do próprio Deus de amor, conselho, consolo, exortação e orientação. As palavras divinas são Espírito e Vida, e quando descem ao nosso coração, a nossa alma sobe jubilosa aos páramos celestiais. "[Deus] nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.6). Como portadora da amorosa mensagem de Deus, a Bíblia é um livro perfeito. Suas leis, seus ensinos e seus preceitos jamais foram igualados por qualquer obra humana. O missionário William Jones escreveu: "Todos os outros livros orientais, por mais poéticos que sejam, necessitam de ser transfundidos para se tornarem inteligíveis e agradáveis à mentalidade ocidental. Uma ou outra passagem terá de ser omitida, e grande parte sofre modificações. Por isso se torna mais curioso o fato de que esse livro oriental, esta nossa Bíblia, quer seja levada à Islândia, Madagáscar, África do Sul ou índia, é sempre o livro que apela para o coração e a mentalidade daqueles que a escutam". Como palavras de Deus, os relatos bíblicos são historicamente infalíveis. Na medida em que prosseguem as escavações arqueológicas no Médio Oriente e os peritos interpretam os hieroglifos exumados, os modernos compêndios de história e geografia vão sendo utilizados com preciosas informações de lugares e civilizações milenares até então referidas somente na Bíblia. Por outro lado, a vitalidade da Bíblia testifica também da sua inspiração divina, pois ela tem transformado indivíduos, sociedades e nações. É o meio usado por Deus para a regeneração de vidas caídas, bastando ao pecador receber sua mensagem no coração para tornar-se unia nova criatura, em cujo viver “as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). Apontando para a justiça de Cristo Muitas religiões estão apresentando meios antibíblicos, os mais diversos, para justificar a criatura humana. À luz da Palavra de Deus afirmamos que essas religiões jamais conseguirão o seu intento. Aos homens não foi concedida por Deus autoridade alguma para justificar os
  • 14. seus semelhantes. Centenas de milhões estão completamente fora do plano divino da salvação tão-somente por procurar justificar-se segundo os planos engendrados por Satanás. É realmente uma cena triste! Milhões e milhões, inteiramente enganados pelas falsas religiões que saturam a sociedade moderna, estão gastando o seu dinheiro, o seu tempo, até mesmo a sua saúde, sem obter o menor proveito espiritual. Existe somente um meio de justificação, e é o que está exarado na Santa Bíblia. Mas a Bíblia, antes de tratar da nossa justificação, trata da nossa verdadeira condição aos olhos de Deus: "Não há um justo, nem um sequer... todos estão debaixo do pecado... todos pecaram... [e] o salário do pecado é a morte" (Sl 14.1-3; Rm 3.9; 4.12; 6.23). Foi a luz dessas passagens que Spurgeon escreveu: Não imagine, ó homem mortal, que poderá ficar em pé diante de Deus em sua moralidade, pois você não é mais do que uma carcaça embalsamada em legalismo, um defunto mimado em finas roupas, porém ainda corrupto na presença de Deus. E não pense, ó possuidor de uma religião natural que poderá, pelo seu poder e força, fazer-se aceitável a Dons. O homem, você está morto, e poderá vestir a morte tão gloriosamente como quiser, mas ainda assim isso seria uma farsa solene. Dessa lei divina nenhum ser humano pode se excluir. Todos pecaram e por isso todos precisam ser libertos do pecado, precisam ser perdoados. Nisto consiste a justificação: livramento da culpa. Tornados injustos pelo pecado, precisamos revestir-nos de justiça. Mas onde adquirir essa preciosa justiça? Quando nossos primeiros pais pecaram, coseram para si ramos de figueira, fazendo aventais que pudessem cobrir os seus corpos. Deus, porém, substituiu essas inadequadas vestes por outras incomparavelmente melhores, ou seja, por peles de ovelhas. Nesse simples relato vemos esboçado em figura o plano divino da justificação, plano que tem origem em Deus, que quer e pode justificar o homem. Este não pode justificar-se a si mesmo, porque lhe faltam os meios necessários para tanto. Assim como Deus não aceitou as vestes preparadas por Adão e Eva, assim também não aceita as vestes da autojustificação, baseadas nas boas obras e sacrifícios tolos. Jesus deixou este assunto bem claro quando contou a parábola das bodas reais, enfatizando que a única condição para ser admitido na festa era
  • 15. estar envergando a vestimenta de núpcias fornecida gratuitamente pelo rei para a ocasião, sem mérito algum da parte do convidado (Mt 22.1-14). A parábola das bodas reflete o que registrou Isaías acerca da única solução para o nosso pecado: Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o sangue de Jerusalém do meio dela, com o espírito de justiça e com o espírito de ardor, criará o Senhor sobre toda a extensão do monte de Sião, e sobre as suas congregações, uma nuvem de dia, e uma fumaça e um resplendor de fogo chamejante de noite; sobre toda a glória haverá um dossel. Será abrigo e sombra contra o calor do dia, e refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva... Como, pois, podemos ser salvos? Todos nós somos como o imundo, e iodos os nossos atos de justiça como trapo da imundícia; iodos nós caímos como a folha, e os nossos pecados como um vento nos arrebatam. Ninguém há que invoque o teu nome, que desperte, e te detenha; pois escondeste de nós o leu rosto, e nos consumistes por causa das nossas iniquidades (Is 4.4-6; 64.5-7, EC). Ao afirmar que somente Deus pode lavar e limpar o homem, a Bíblia revela a condição imposta aos que desejam apropriar-se da justificação. Diz o apóstolo Paulo: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Rm 3.28). "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.8-10). Biblicamente, a fé salvadora não consiste na observância de dogmas, ritos, cerimônias e mandamentos — mesmo dos Dez Mandamentos — mas na aceitação de Cristo como Salvador pessoal, mediante a sua obra redentora na cruz do Calvário. Cristo, diz a Bíblia, ressurgiu para a nossa justificação. Toda a justiça de Deus foi satisfeita em Cristo, que se fez maldição e pecado por nos. Veja estes textos bíblicos: "Pois o que era impossível à lei, visto que estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne" (G1 3.13; Rm 8.3 2 Co 5.21; Is 53.5, EC). A marca da religião humana Faz parte da estratégia diabólica induzir as pessoas a realizar por si mesmas a sua salvação. Assim, milhões aceitam como absoluta verdade
  • 16. princípios religiosos como o “fora da igreja não há salvação”, dos católicos romanos; ou o "fora da caridade não há salvação", dos espíritas, e outros métodos similares, todos estribados nos méritos das boas obras humanas. Dentro desse mesmo engano estão milhões de adeptos das seitas mais diversas, como os testemunhas-de-jeová, que se empenham em garantir a sua participação no reino vindouro mediante esforços pessoais em espalhar ao máximo a sua doutrina; e os mórmons, de cuja história fazem parte muitos casos de auto-sacrifício pelo fato de crerem que, para a expiação de certos pecados, é necessário derramar o próprio sangue, uma vez que o sangue de Jesus nada mais pode fazer. Na longa lista das religiões estão muitas que possuem lindos e atraentes rótulos, como "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias", "salões do reino", "Igreja da Unificação", "Ciência Cristã", "Igreja Messiânica" etc., as quais, a despeito da sua aparência cristã, na prática negam os eternos fundamentos do Cristianismo. São meros esforços no sentido de reaproximar o ser humano da pessoa de seu Criador mediante caminhos que só distanciam dEle. Em outras palavras, valendo-se dos parcos recursos de uma mentirosa filosofia divorciada da Escritura Sagrada, tais seitas fazem tudo o que podem dentro do falido princípio religioso que atua sempre no sentido de baixo para cima, tentando levar o homem a Deus. E dentro desse princípio que se agrupam todos os credos forjados na oficina de Satanás, todos eles destinados ao obscuro e supersticioso espírito humano, religioso por natureza. O cumprimento da lei é o amor A mais gloriosa verdade bíblica, ilustradora da salvação unicamente pela graça divina, saiu dos lábios sacrossantos de Cristo: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5). Com esta assertiva estava o Senhor abonando a doutrina da graça, segundo ao qual Deus mesmo planejou e consumou na cruz, sem quaisquer contribuições da nossa parte a não ser o exercício da fé — a salvação eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16).
  • 17. Esta mesma verdade encontra-se também na mensagem angelical aos pastores belemitas: "Paz na terra, boa vontade para com os homens a quem ele quer bem" (Lc 2.14, EC). A boa vontade desceu de Deus para os homens; não subiu dos homens para Deus. Na entrevista com Nicodemos ensinou o Senhor a necessidade de se nascer de novo, expressão semelhante a nascer de cima para baixo, que foi o modo como foi rasgado o véu que separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo no templo de Jerusalém. Tanto o "de novo" como o "de alto a baixo" indicam que o novo nascimento vem do alto — do Céu à terra (Jo 3.7; Mt 27.51). Que participação, pois, tem o pecador na obra da redenção? Evidentemente que não tem nenhuma. A única coisa que toca ao pecador fazer é aceitar, como seu todo suficiente Salvador, a pessoa do Senhor Jesus Cristo, confessá-lo diante dos homens e permanecer nEle a fim de poder viver uma nova vida debaixo da graça. Sem Jesus, o pecador nada pode fazer, como o próprio Salvador afirmou em João 15.5. Cabe a nós escolher viver ou pela lei da vida ou pela “graça da vida” (1 Pe 3.7). Como cristãos, se recusarmos a graça da vida, acabaremos irremediavelmente debaixo da lei, e então já não seremos cristãos, mas religiosos. Vivemos debaixo da graça quando nos entregamos sem reservas aos processos do amor de Deus e nos deixamos governar por eles. As três palavras-chaves são: “render-se”, “confiar” e "obedecer". Somente quando a nossa vida mesmo insignificante, é colocada em sintonia com os propósitos elevados da vida espiritual, é que nos sentimos redimidos e cheios do que Jesus chamou de vida abundante. Por outro lado, recusar-se a viver debaixo da graça é sujeitar-se à lei. Não apenas à lei mosaica, mas qualquer lei, a própria lei da vida, a lei da semeadura e colheita. Colhe-se o que se semeia. A vida!, então, torna-se um dar e receber. Assim, lei, aqui, é muito mais que uma lei específica ou um conjunto de leis. Alguém poderá pensar imediatamente nos dez mandamentos, nas leis do Antigo Testamento ou nos mandamentos da Nova Aliança. Jesus, ao mudar a fraseologia de um mandamento (Dt 6.5), revelou-nos o que a lei era realmente: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de tua a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande
  • 18. mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas" (Mt 22.37-40). O apóstolo Paulo partiu das palavras de Jesus para escrever que "o cumprimento da lei é o amor" (Rm 13.8- 10). João também enfatizou o amor a Deus e aos outros (1 Jo 3.1 1-24; 4.7-21). Não há dúvida de que a lei do amor, também chamada nas Escrituras de "lei do espírito de vida em Cristo Jesus", é o centro em torno do qual giram todas as ordenanças e proibições da Bíblia. Sem esse princípio nenhum mandamento da Escritura parece ter significado. A pessoa que se sujeita a um sistema de lei como, por exemplo, o do decálogo, tem de vigiar cada ação, pois receberá exatamente o equivalente aos seus atos. Alguém definiu esse tipo de vida da seguinte maneira: A vida, assim, operará como num verdadeiro "deve e haver": você deposita o caixa de seu ato e transporta o resultado ou as consequências de tal ato. Não haverá, pois, surpresas na vida, nem saídas para as margens do rio da vida. Tudo será assaz justo, tudo essencialmente dependente e tudo mais do que morto. É este o evangelho da religião-de-mercado. Você negocia com a vida, e esta negocia com você. E ela o deixa amarrado. Nela não há boas novas, porque então a vida terá hórrida catadura, e você também. A religião baseada no dar e receber não tem espontaneidade em si, não tem alegria contagiante, nem liberdade. Ela se cansa logo, e não pode levantar vôo. Suspira, lamenta-se por não poder cantar. E a religião do irmão mais velho: Nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos" (Lc 15.29). E como lhe teria sido isso possível, se ele estava vivendo na base do legalismo? Assim, quando desceu a cortina, o irmão mais velho ficou de fora, vivendo na lei, ao passo que o mais moço estava lá dentro, vivendo pelo amor.
  • 19. CAPÍTULO 2 Fé, a força do cristão Fé perfeita no Cristo que tem todo o poder é a única opção para um viver vitorioso em todos os sentidos. O cristão, em virtude de sua fé bíblica, está solidário com Cristo em tudo. Durante a Segunda Guerra Mundial, um espião inglês, fazendo-se passar por alto empresário sueco simpático à política expansionista do III Reich, conseguiu marcar uma audiência com o famoso Himler — o homem de confiança do Führer — na qual tratariam de importante empreendimento binacional do interesse da máquina de guerra hitlerista. Tão exaltadas eram as virtudes do oficial nazista que o agente secreto teve que procurar algum deslize na vida pregressa de Himler para certificar-se de que este era um falível ser humano. O falso empresário achou o que buscava, o encontro realizou-se de igual para igual e o assessor imediato de Hitler passou para a eternidade sem saber que havia sido enganado! A glorificação da personalidade humana, como consequência direta de excessiva confiança depositada num ser contingente dependente, tem sido um expediente Lusamente empregado nos regimes belicosos ou totalitários, desde remota antiguidade, passando pela Assíria. Babilônia, Grécia, Roma etc., até o nosso século, onde se destacaram Japão e Alemanha. Neste último país Hitler foi quase um deus, cujo pôster milhões de pessoas reverenciavam, enquanto na terra do sol nascente divinizava-se o imperador. Essa prática levou os Estados Unidos a uma campanha de valorização do homem livre através de "heróis" cinematográficos como Super-homem, Flash Gordon e outros, capazes de proezas sobre-humanas. Em última análise, o objetivo era induzir a massa de seu próprio país e as dos seus aliados, por processos subliminares, a confiarem nos cabeças de suas nações.
  • 20. A falência humana Teologicamente, a força do homem é nada. "Que é o homem mortal para que te lembres dele? A duração da nossa vida... passa rapidamente, e nós voamos. Toda a glória do homem [é] como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor. Maldito o homem que confia no homem" (Sl 8.4; 90.10; 1 Pe 1.24; Jr 17.5). A história da humanidade é o melancólico relato de seus próprios fracassos; fracassos de líderes e liderados. Já antes de nossa era, quanto mais o mundo se aproximava do advento de Cristo, mais se acentuava entre as nações a esperança messiânica, como a única forma de arrancar os povos do atoleiro moral e espiritual em que se achavam. Jesus veio na hora certa — na plenitude dos tempos (G1 4.2) — e o Cristianismo, tal como a poderosa ação do sal na preservação dos elementos, salvou o mundo de uma generalizada putrefação social. Mas a solução para o inundo romano, que poderia salvar o nosso presente século, está hoje cada vez mais relegada a um plano inferior, em decorrência de forças deletérias, como o comunismo ateu, o sincretismo religioso e o neopaganismo, que cegam o entendimento dos incrédulos e preparam o terreno para o advento do Falso Profeta. Assim, as nações em crise clamam por alguém capaz de resolver os aflitivos problemas do mundo mas desprezam a Jesus, o Homem de Nazaré, e a solução apontada pela Bíblia: "Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor" (Sl 33.12). Precisamos de um homem de estatura suficiente para garantir a liderança de todas as pessoas e para arrancar-nos do atoleiro econômico em que estamos mergulhados", é o que dizem ter exclamado Henry Spaak, um dos pioneiros do Mercado Comum Europeu, que acrescentou: Que enviem um homem; seja ele Deus ou demônio, nós o receberemos". A força do cristão Na mesma Bíblia onde a fraqueza humana é revelada, deparamo-nos com a afirmação positiva que a nossa força está no Todo-poderoso. "O Senhor é a força da minha vida", confessa Davi, infelizmente não imitados por muitos de nossos dias. O rei-poeta de Israel conhecia as limitações humanas. E sua humildade e dependência do poder divino fizeram dele homem segundo coração de Deus, que levou sua pátria à paz e ao progresso
  • 21. tão somente em virtude de sua confiança naquele que "resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (Sl 27.1; 1 Pe 5.5). Mil anos mais tarde, Saulo de Tarso, outro ilustre israelita, descobre- se a si mesmo a caminho de Damasco, no encontro com o Cristo Vivo, ao ver cair por terra os méritos de sua religiosidade, cultura, cidadania romana, e ascendência genealógica. "Miserável homem que eu sou!" exclama ele. Mas ergue os olhos a seu Salvador e canta: "Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo"; "Posso todas as coisas naquele que me fortalece" (Rm 7.24; 1 Co 15.57; Fp 4.13; Hb 11.1). A experiência pessoal de Davi e Paulo, bem como a de incontáveis outros heróis da fé, é válida ainda hoje para todos os homens. Os grandes benfeitores da humanidade revelaram-nos o segredo da sua vitória: a fé que possuíam no Deus que tudo pode. Armados desse extraordinário recurso, marcaram com enobrecedoras realizações sua trajetória por este mundo, legando-nos luminoso e imorredouro exemplo. Definindo a Fé Apenas uma vez encontramos nas Escrituras uma definição de "fé", embora este termo esteja escrito em quase todas as páginas do Novo Testamento. De acordo com o autor da Epístola aos Hebreus, "fé a substância das coisas esperadas, a prova das coisas não vistas". Alguém definiu fé como a facilidade em condescender com o amor de Deus. Significa esta declaração que pela fé o crente considera infalível todas as promessas divinas, a ponto mesmo de viver dentro desta esperança. Dos exemplos de fé tiradas do Antigo Testamento, destaca-se a de Abraão, de quem disse Jesus: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se" (Jo 8.56). Isaías, no texto que trata das dores e da glória do Messias, usa o verbo no passado ao descrever acontecimentos futuros, distantes setecentos anos da sua época: "Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si" (Is 53.4). O mesmo poderia se dizer de Davi que, em momento de angústia, chegou a antever os sofrimentos de Cristo e a pronunciar, pela fé, algumas das frases que o nosso Redentor pronunciaria na cruz.
  • 22. No Novo Testamento, crer significa aceitar como verdadeiro o Evangelho anunciado pelo Senhor Jesus, segundo o qual "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna" (Jo 3.16). Fé, então, é confiança plena em nosso Senhor Jesus Cristo como Messias, o Salvador do mundo, e na veracidade da sua palavra, da sua mensagem. E adesão total à pessoa de Cristo, admitindo que sua pregação e milagres revelam sua missão de grande Libertador. Em suma, Cristo é o objetivo final da fé. Aos israelitas, para quem crer em Deus era naturalíssimo, Jesus afirmou: “Crede também em mim” (Jo 14.1). A salvação, ou seja, a vida eterna, consiste numa fé viva e eficaz no Pai e no Filho: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). Em conclusão, pois, fé perfeita no Cristo que tem lodo o poder é a única opção para um viver vitorioso em iodos os sentidos. Um viver que já não é mais natural deste mundo, pois o cristão, em virtude de sua fé bíblica, está solidário com Cristo em tudo. Ele morreu com Cristo, loi ressuscitado e ressuscitou com Ele; com Ele vive e com Ele reinará. E o resultado do que o próprio Filho de Deus afirmou: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).
  • 23. Capítulo 3 Obras mortas e obras vivas O crente realiza a obra de Deus por ser salvo, e não para ser salvo. No primeiro caso, são obras vivas, de fé; no segundo, são obras mortas, da carne, e executadas mediante o esforço humano. Afirmam os católicos que "fora da igreja não há salvação"; os espíritas dizem que "fora da caridade ninguém se salvará", e os cristãos judaizantes, pregam que "sem a observância da lei (decálogo) ninguém será salvo". A despeito de suas aparentes divergências, todos esses grupos têm algo em comum, pois seus princípios caracterizam a religião humana, baseada nas boas obras. Do ponto de vista profético, cada um desses dogmas desempenha hoje a sua parte no cumprimento da profecia bíblica: "Mas o Espírito diz expressamente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm cauterizada a própria consciência, que proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de alimentos" (1 Tm 4.1,2, EC). Pelas expressões "espíritos enganadores", "proíbem o casamento" e "abstinência de alimentos", percebe-se clara alusão profética aos três referidos movimentos religiosos. Não é de admirar que a apostasia esteja hoje tão em evidência. Estamos na época em que lobos devoradores se vestem de ovelhas, infiltram-se no rebanho de Deus e ali procuram fazer suas vítimas. Jesus preveniu-nos acerca desses falsos mestres e falsos profetas, e disse que, se possível fora, eles enganariam até os escolhidos.
  • 24. De cima para baixo Enquanto a salvação que vem de Deus foi consumada por Jesus Cristo no Calvário, a religião dos homens tem sido baseada no princípio antibíblico de se fazer alguma coisa para Deus, característica mais evidente de toda e qualquer falsa seita, rotulada ou não de Cristianismo. A palavra de Deus é clara quando afirma: "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). Ao expiar Jesus no madeiro, o véu do templo rasgou-se de "alto a baixo", expressão idêntica à que foi usada pelo Senhor no diálogo com Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo". "Alto a baixo" e "nascer de novo", segundo os entendidos em etimologia bíblica, são uma mesma coisa: de cima para baixo, do Céu para a terra, de Deus para o homem. Jesus afirma ainda a nulidade dos esforços humanos na economia da salvação: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5), e Paulo enfatiza esta mesma verdade ao concluir que "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar" (Fp 2.13). E. Stanley Jones menciona, numa de suas obras, que Thomas Chalmers, antes de se tornar o grande pregador escocês, esteve pregando os mandamentos durante oito anos, com pouco resultado. Então mudou da lei para Cristo, ao aceitar a este como seu Salvador pessoal e Senhor. Mais tarde, escreveu Chalmers: "A não ser depois de ter exortado meus ouvintes a aceitar a graciosa oferta do perdão, através do sangue dc Cristo, é que soube daquelas reformas que foram o objetivo supremo das minhas primeiras pregações. Pregar a Cristo é o único meio efetivo de pregar moralidade". Foi como resultado da mudança ocorrida na vida de Chalmers, a qual resultou na mudança da ênfase de seu ministério da lei para a graça, que ele imprimiu a moral .obre a alma da Escócia. O mesmo autor menciona a experiência de outro homem famoso, o comandante Philip Wolfe Murray, que julgava poder alcançar o favor de Deus mediante o fazer isto e aquilo, cortar aqui e acolá. A fim de agradar a Deus, Murray abriu mão de prazeres, como o de dançar, e passou a ler a Bíblia todos os dias. Mas o sofrido cativeiro continuou por mais sete anos.
  • 25. A religião sem Cristo realmente pode ser um cativeiro muito doloroso. Então Murray descobriu que era salvo de graça, somente pela fé em Cristo. Escreveu ele: Que fardo rolou de minha alma! Que alívio! Imagine! Passei aproximadamente 11 anos — três dos quais convicto, oito procurando agradar a Deus em oração, por auto-renúncia e boas obras — sem nunca saber quando havia sido vitorioso. E, quando vi que Deus me salvara e que eu nada mais precisava fazer para salvar-me, dancei de alegria em meu quarto! Tenho dançado desde então. Não com os meus calcanhares, mas em meu coração, louvando a Deus. Wesley, mesmo vivendo num ambiente pastoral como clérigo ordenado da Igreja Anglicana, missionário no estrangeiro e membro do Clube Santo de Oxford, é outro exemplo clássico. Apesar de buscar com devoção e boas obras a santidade pessoal, todo o seu serviço sacrificial não lhe trazia a paz com Deus. Por isso ela chamava a si mesmo de "um quase cristão". Então, no dia 24 de maio de 1738, ao ouvir alguém ler o prefácio de Lutero à Epístola aos Romanos, ele descobriu a graça de Deus. Eis as suas palavras: Por volta dos 15 para as nove, enquanto ele descrevia a mudança que Deus opera no coração, pela fé em Cristo, senti um estranho ardor. Senti que realmente confiei em Cristo, em Cristo somente, para a salvação; e foi-me dada uma certeza, a de que ele tinha removido meus pecados e me havia livrado da lei do pecado e da morte. A tremenda transformação ocorrida na vida de Wesley o transformou, segundo as próprias palavras dele, num "cristão por inteiro". Disse mais que, antes dessa experiência, ele possuía a religião de "servo", mas que, depois do seu novo nascimento, passou a possuir a religião de "filho", referindo-se aos dois irmãos da parábola do filho pródigo. Como milhares de outros servos de Deus descobriram, como aconteceu a Lutero, a Wesley e a tantos outros, o segredo da vida cristã genuinamente bíblica e plenamente vitoriosa não está na observância de mandamentos legalistas, mas no desaparecimento de todas as barreiras da dúvida, do orgulho e da independência, e na permissão de que Jesus venha e entre em nossa vida, em vez de insistirmos em ir a Ele. Quando a Bíblia afirma que a lei de Moisés, pelo fato de nada haver aperfeiçoa¬do, é impotente para salvar-nos, indica a pessoa de Cristo em nós como o único
  • 26. meio de vivermos vitoriosamente a vida cristã. É como disse o apóstolo Paulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim" (G1 2.20). Do exposto, conclui-se, pois, que o crente realiza a obra de Deus não para ser salvo, mas por ser salvo. No primeiro caso, são obras mortas, da carne, executadas mediante o esforço humano; no segundo caso, são obras vivas, de fé, realizadas por Cristo no crente mediante a ação do Espírito Santo que produz o seu fruto na vida daquele que crê. A obediência da fé Inconformados com os claros ensinos das Escrituras sobre a justificação mediante a fé, há os que torcem textos sagrados em defesa da obediência e das obras. "A fé sem obras é morta" (Tg 2.17) é versículo preferido de uns: "Obedecer é melhor do que sacrificar" (1 Sm 15.22) passagem predileta de outros. Com tais citações, pseudocristãos destes últimos tempos procuram induzir os crentes a guardar o decálogo da lei, particularmente o sábado, ou a encarar as obras humanas como possuidoras de algum mérito aos olhos de Deus. Todavia, a Bíblia diz que "separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído" (Gl 5.4). E, em Romanos 1.5 e 16.26, o mesmo apóstolo dos gentios fala da "obediência da fé". A expressão "obediência da fé", como tem sido n aduzida em português, implica a necessidade da fé antes da obediência. É a fé em Cristo que produz a obediência a verdade que esteve oculta no passado por muitos séculos, mas que agora, por ordem do Deus eterno, "se tornou conhecida em todas as nações, para que todos creiam e obedeçam" (BLH). A Bíblia Viva traz: "Agora, porém, tal como os profetas predisseram e conforme Deus ordena, esta mensagem está sendo pregada em toda a parte, para que todo o povo ao redor do mundo tenha fé em Cristo e lhe obedeça". A conclusão que Henriqueta C. Mears tira desse texto de Paulo não me convenceu. Escreveu ela: Pouco podemos fazer para Deus antes de sermos salvos pela sua graça e transformados pelo seu amor". Substituindo a palavra "pouco" por "nada", a sentença fica correta: "Nada podemos fazer para Deus antes de sermos salvos pela sua graça e transformados pelo seu amor", o que é exatamente o que Jesus ensinou no texto já referido de João
  • 27. 5.5. E somente quando nos entregamos a Jesus Cristo e nos enchemos de seu amor que nos dispomos a obedecer aos mandamentos dEle. Jesus deseja de cada um de seus discípulos um "sacrifício vivo", e não um "sacrifício morto" (Rm 12.1). Portanto, obediência, aqui, não é à letra que mata, ou a mandamentos legalistas já abolidos na cruz, mas à fé salvadora. O homem nascido de novo não mais procura estabelecer uma obediência pessoal fundada sobre as obras, mesmo que esteja em tudo imitando a pessoa perfeita de Jesus Cristo. A obediência da fé é muito mais que isso, pois significa que quem obedece esteja revestido da obediência do próprio Jesus Cristo. O apóstolo Paulo explica, em Romanos 6, de que maneira as pessoas desobedientes se tornam obedientes em Cristo. Ao ser mergulhado na morte de Jesus Cristo pelo batismo, o velho homem desobediente morre, e a nova vida que então recebe é a vida obediente de Cristo, a qual lhe é outorgada gratuitamente. E como A. Lelievre escreveu: A obediência do cristão é à fé em Jesus Cristo: a fé que, nesta troca batismal, aceita ter por vida, não mais a que o homem poderia dar-se a si mesmo, mas a que Deus lhe comunica em Jesus Cristo (Cl 3.3). Tudo se dá nesta obediência da fé; mas sem ela o homem fica com sua desobediência sob a ira de Deus (2 Ts 1.8). A obediência do cristão não é a do judeu, regulamentada por uma lei feita de preceitos e de proibições. É ampla como outrora no Éden... O limite no exercício da liberdade cristã, característica da obediência da fé, é o reconhecimento da obra de Cristo no próximo (Rm 14.13; 1 Co 8.9) e da vida de Cristo em sua própria vida (Rm 6.3). Assim, é impossível a uma pessoa não regenerada obedecer a Deus, por mais que se esforce. Necessitamos, pois, em nós, da vida obediente de Jesus, e esta só podemos receber pela fé. É mediante a fé que recebemos o Espírito Santo, que nos guia em toda a verdade, produzindo em nós o seu fruto (Gl 5.22, 23), prova final de que somos filhos amados de Deus, pois é este mesmo Espírito que testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16). Em outras palavras, o Senhor não quer o nosso trabalho: Ele quer a nós. Não exige as nossas boas obras, mas deseja habitar e viver em nós, operando em nosso viver diário a sua boa, agradável e perfeita vontade, pois é ele quem opera em nós tanto o querer como o efetuar.
  • 28. O autor da Epístola aos Hebreus, depois de afirmar que "ainda resta um sabatismo [repouso] para o povo de Deus", conclui: "Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou das suas obras, como Deus das suas". E pela fé em Cristo — o nosso Descanso (Mt I I 2(S) — que abandonamos as nossas obras mortas para que Ele opere em nós as suas obras vivas. Não sendo uma realidade em si mesma, a graça significa o próprio Deus misericordioso compadecendo-se de nós, relacionando-se conosco, amando-nos e perdoando-nos. No Antigo Testamento encontramos belíssimas definições da graça divina, como nesta passagem: "Tão-somente o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê" (Dt 10.15, ARA). Ainda no Antigo Testamento, a graça de Deus para os pecadores consiste no perdão dos pecados, ou seja, num ato divino que põe fim a uma situação infeliz criada por alguma transgressão, iniquidade, ofensa ou blasfêmia perturbadora do relacionamento efetivo entre o homem e o seu Criador. A graça divina é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e soberana decisão. Este atributo reconheceu-o Moisés: "... Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado..." (Êx 34.6,7, ARA). Davi cantou a graça de Deus em muitos salmos: "Bem- aventurado é aquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto... Confessei-te o meu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei... e tu perdoaste a iniquidade do meu pecado"; "Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não te esqueças de nenhum só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuas iniquidades" (SI 32.1,5; 103.2,3, ARA). Jesus é a graça No Novo Testamento, Deus mesmo, numa profunda manifestação da sua graça, desce à terra na pessoa de Cristo Jesus e aproxima-se do homem a fim de salvá-lo da sua triste condição de destituído da glória de Deus. Jesus revela-se, portanto, como a graça de Deus, como o possuidor dessa mesma graça e como seu distribuidor a tantos quantos dEle se aproximam
  • 29. em inteireza de fé, "porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos o homens, ensinando-os que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivam neste presente século sóbria, justa e piamente" (Tt 2.11,12). O evangelista João conclui também que a graça e a verdade são consequências da encarnação do Verbo: "A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo" (Jo 1.17). Graça, favor de Deus não merecido por nós, e verdade, a revelação absoluta de Deus, significam, em outras palavras, que todo o amor do Pai, amor doador e perdoador, e toda a revelação divina e conhecimento espiritual estão depositados em Cristo Jesus para, por meio deste, manifestar-se aos homens no propósito de transportá-los do reino das trevas para o reino da sua maravilhosa luz. Phillip traduz "graça" por "amor", e Moffat traduz verdade" por "realidade". Então, uma expressão paralela para "graça e verdade" seria "amor e realidade". Assim, em Cristo Jesus vieram à luz não apenas o amor de Deus, mas a realidade das coisas outrora ocultas. Um teólogo analisou o texto de João 1.14-17 e concluiu: Em Jesus Cristo há uma inesgotável capacidade de dar, sem outra medida a não ser a plenitude de Deus. A graça e a verdade, objetivos da revelação da antiga aliança, acham-se plenamente reveladas e plenamente concedidas a nós em Jesus Cristo. Com a presença de Jesus, o Antigo Testamento e todo o judaísmo se apagam, dando lugar a outra religião não imperfeita nem suscetível de ser substituída por uma melhor, pois é verdadeira e definitiva: a religião do dom e da comunicação plena e decisiva de Deus na pessoa do Unigênito. É esta a verdadeira graça (1 Pe 5.12), a genuína graça de Deus. O Novo Testamento também denomina graça de Deus a lodo o Evangelho. É o que lemos: "Para dar testemunho tio evangelho da graça de Deus... falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça" etc. (At 20.24; 13.43; 14.3; Cl 1.6 etc.). Todavia, o Evangelho não possui, por si mesmo, a graça. Ela está com Cristo, e é este quem difunde e torna poderosa a mensagem evangélica. Fé e obras Todos os cristãos admitem que são justificados pela fé, mas nem todos acreditam que a fé basta para a justificação. As diferentes atitudes
  • 30. decorrem de uma falsa interpretação do que a respeito registraram os apóstolos Paulo e Tiago. O primeiro concluiu que o "homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Rm 3.28), e o segundo afirmou: “Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé... Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tg 2.24,26). Analisando a aparente divergência apostólica à luz do contexto bíblico, somos levados a rejeitar qualquer participação das obras da lei no processo da justificação. Ao dizer que Abraão foi justificado pelas obras, Tiago está mostrando tão-somente a relação das obras com a fé. Ele não está discutindo a questão da nossa justificação, mas afirmando que a fé salvadora é seguida por boas obras e que, onde faltam estas, a fé está morta. Tiago não afirma, ao tratar do oferecimento de Isaque por Abraão, que este fora justificado por tal ato de obediência, uma vez que o patriarca já havia sido perdoado e aceito muito tempo antes. É o que afirma a Bíblia: 'É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça". Quando ocorreu isso? Quando Isaque nem sequer havia nascido (G1 3.6; Gn 15.6). A respeito desta delicada questão, escreveu Wesley: "Afirmando que a salvação é pela fé, queremos dizer: 1) que o perdão (salvação principiada) é recebido por fé que produz obras; 2) que a santidade (salvação contínua) é a fé operada por amor; 3) que o Céu (salvação completa) é recompensa desta fé". Os reformadores que, ao final da Idade Média, enfatizaram a célebre afirmação de Habacuque: "Mas o justo viverá pela fé" (2.4, ARA), faziam questão de sublinhar que tal fé era uma fides sola, e nunca uma fides solitaria. Isto porque as boas obras são uma evidência da fé salvadora. O crente pratica boas obras, não para ser salvo, mas por estar salvo. Uma vez que sem a santificação ninguém verá o Senhor, aquele que é justificado glorifica a Deus realizando boas obras, que são não apenas a consequência da fé bíblica, sem a qual ninguém pode agradar ao Senhor, mas também a parte visível, aos olhos do mundo, dessa mesma fé. Desejo concluir este capítulo citando Agostinho, o grande pensador cristão do quarto século. Ao concluir o seu tratado sobre o encontro de
  • 31. Deus, o famoso bispo de Hipona baseia-se em passagens como Romanos 6.23, 1 Timóteo 2.5, Gaiatas 5.4, Filipenses 2.6,8, Mateus 4.23, Romanos 7.34 e outras, e afirma: O verdadeiro Mediador, que por vossa oculta misericórdia mostras e enviastes aos homens para que a seu exemplo aprendessem a humildade, é Jesus Cristo, Mediador entre Deus e os homens. Apareceu como intermediário entre os mortais pecadores e o Justo Imortal. Apareceu mortal com os homens, e justo com Deus. Como a recompensa da Justiça é a vida e a paz, pela justiça unida a Deus desfez a morte dos ímpios justificados, querendo partilhá-la com eles... Como nos amastes, ó Pai bondoso! Não perdoastes ao vosso Filho Único! Entregaste-o à morte por nós, ímpios pecadores! Como nos amastes! Foi por nosso amor que Ele, não considerando como rapina o ser igual a vós, se fez por nós obediente até à morte e morte de cruz. Ele era o único entre os mortos que estava isento da morte, o único que tinha o poder de entregar a vida e de a reassumir de novo! Foi, diante de vós, o nosso vencedor e vítima. Tornou-se vencedor porque foi vítima. Foi, diante de vós, o nosso sacerdote e sacrifício. De escravos fez-nos vossos filhos, servindo-nos apesar de ter nascido de vós. Com razão nEle coloco toda a minha firme confiança, esperando que curareis todas as minhas enfermidades, por intermédio daquele que, sentado à vossa direita, intercede por nós. Doutro modo, desesperaria, pois são muitas e grandes as minhas fraquezas! Sim, são muitas e grandes, mas maior é o poder da vossa medicina. Poderíamos pensar que o vosso Verbo se tinha afastado da união com o homem e desesperado de nos salvar, se não se tivesse feito homem e habitado entre nós. Atemorizado com os meus pecados e com o peso da minha miséria, tinha resolvido e meditado, em meu coração, o projeto de fugir para o ermo. Mas vós mo proibistes e me fortalecestes, dizendo: "Cristo morreu por todos, para que os viventes não vivam para si, mas para aquele que morreu por eles".
  • 32. Capítulo 4 A lei é santa A lei é santa porque veio de Deus; tão boa que Jesus a cumpriu e tão justa que Cristo morreu por ela, dando assim o seu cumprimento. A lei continua santa, boa e justa, mas não estamos mais sujeitos a ela. A palavra torah, como característica da lei propriamente dita, ocorre mais de quinhentas vezes no Antigo Testamento, significando "ensino", "instrução". Sua autoridade é indiscutível em virtude da sua emanação superior, ou seja, do próprio Deus, como nesta passagem: "Vindo, pois, Moisés, e contando ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos, então, o povo respondeu a uma voz. E disseram: Todas as palavras que o Senhor tem falado faremos" (Êx 24.3). Pelo fato de originar-se em Deus, a lei reveste-se de santidade e graça, assim como Deus é santo e misericordioso: "Porque povo santo és ao Senhor, teu Deus"; e: "Mas porque o Senhor vos amava... vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão (Dt 7.6-15). Todo este trecho enfatiza a bondade divina e revela que a lei não deixa de ser uma graça do alto. Nos tempos do Antigo Testamento, não se conhecia nenhuma divisão entre leis profanas e religiosas, ou entre mandamentos morais e cerimoniais. A Tora era um todo, abarcando plenamente a vida da nação e de cada indivíduo. Para isso alternam-se os tratamentos "vós" e "tu", a declaração como válidos e verdadeiros todos os preceitos nela contidos tanto para o povo como para o indivíduo. Por outro lado, a lei, como a primeira divisão das Escrituras, ou seja, o Pentateuco, é predominantemente negativa. De suas 613 ordenanças, 365 são proibições, segundo revelam os rabinos israelitas. É o caso do decálogo, onde oito dos dez mandamentos são iniciados por um "não".
  • 33. Sua unidade A unidade da lei aparece no Novo Testamento de forma eloquente, mesmo quando se faz alusão à divisão tripartite das Escrituras hebraicas: "... na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos" (Lc 24.44), onde "lei" são os cinco primeiros livros bíblicos, escritos por Moisés. Em outras passagens, "lei" e "lei e profetas" referem-se a todo o Antigo Testamento, como sendo a máxima expressão da imperativa vontade divina para o seu povo, Israel. Em se tratando especialmente do Pentateuco, é flagrante a impossibilidade de se distinguir duas leis — uma moral e outra cerimonial, uma cumprida por Cristo e outra a ser cumprida por nós — sem torcer violentamente todo o ensino neotestamentário (onde torah aparece quase sempre no singular) e sem trair o princípio divino da justificação pela fé, tal como Ele nos é apresentado em toda a Bíblia Sagrada. Jesus e os escritores do Novo Testamento citam passagens de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, além de outros livros do Antigo Testamento, designando-os de "lei". Vejamos estes casos: O apóstolo Paulo ensina que "as mulheres estejam... sujeitas, como também ordena a lei", e aponta o livro de Gênesis (1 Co 14.34; Gn 3.16). Aos romanos, escreve: "... se a lei não dissesse: não cobiçarás...", referindo- se a Êxodo e Deuteronômio (Rm 7.7; Êx 20.17; Dt 5.21.5). Jesus, ao ser interrogado acerca do grande manda¬mento da lei, citou os livros de Levítico e Deuteronômio (Mt 22.36-39; Lv 19.18; Dt 6.5). Em outra ocasião afir¬mou: "Não tendes lido na lei...?", referindo-se ao livro de Números (Mt 12.5; Nm 28.8,10). Portanto, segundo o Senhor Jesus e o apóstolo Paulo, iodos os livros do Pentateuco são "lei", não fazendo eles nenhuma distinção entre mandamentos cerimoniais e morais. Também não fazem, nem Jesus nem os apóstolos, quaisquer alusões ao decálogo como sendo a parte mais importante da lei. Se existe alguma alusão, é a que fez Jesus a Levítico e Deuteronômio pelo fato de conterem estes livros o maior de todos os mandamentos.
  • 34. Sua santidade As Escrituras Sagradas apresentam a lei no seu todo como sendo santa, justa e boa. Tendo ela essas virtudes, é evidente pelo seu próprio caráter que ela exige de cada um perfeita santidade, justiça e bondade. Nenhum ser inteligente do Universo pode duvidar desse resultado. A lei requer que a alma seja perfeitamente livre de pecado na presença de Deus, e Deus, sendo santo, não deve permitir ou tolerar um só pecado. Se ele o permitisse, a lei não seria santa nem adaptada para fazer que os homens sejam santos. Quanto mais santa, porém, é a lei, tanto maior convicção produzirá ela no íntimo dos pecadores. A lei divina é totalmente abrangente em todas as suas exigências. Se ela se estendesse somente à vida exterior, os homens não se sentiriam culpados pelos seus maus pensamentos, desejos ou desígnios; e se ela se estendesse somente a certas classes de pecados do espírito, os homens não se sentiriam culpados pelos outros pecados do espírito que ela não condenasse. Mas se a lei exige que a própria pessoa no seu todo — no seu ego — seja plenamente santa, com todos os seus pensamentos e sentimentos em harmonia com o amor e a retidão, então essa pessoa fica convencida de culpa por um só ato mau que pratique, porque, sentindo ela que a lei é santa, justa e boa, não pode deixar de sentir-se condenada por infringir tal lei. Desde, portanto, que Cristo apareceu, cada pessoa posta em contato com Ele se sente imediatamente convencida de pecado. Dessa maneira, uma de duas coisas cabe a cada pessoa fazer: ou impedir que a luz de Cristo lhe penetre na alma, recusando-se a acreditar nas espirituais e perfeitas exigências do Salvador, ou julgar- se a si mesma e condenar-se a si mesma pelos preceitos da lei. Enquanto a lei revelava o pecado e condenava o pecador à morte, essa mesma lei não dava ao pecador nenhuma chance de cumprir as exigências da lei. Esta, portanto, se restringiu a apontar ao pecador a norma verdadeira, que é santa em si mesma e mantida por um Deus santo, e, assim, condenar o transgressor e condená-lo à maldição.
  • 35. Sua finalidade Talvez em nenhuma outra passagem da Escritura o objetivo da lei esteja tão bem explicado como na carta aos Gálatas. O apóstolo Paulo pergunta para que é a lei, e em seguida responde: "Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita, e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro". E mais adiante: "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados" (G1 3.19,24). Do texto bíblico, e à luz de todo o contexto, percebe- se que a lei, embora ordenada para o bem, não conseguiu justificar ninguém. Pelo contrário, foi alvo de muitas transgressões e culpas que deveriam levar o homem a conhecer a sua própria miséria e impotência e, partindo daí, a se humilhar diante de Deus, arrepender-se e a ser salvo mediante a fé. Todavia, em si mesma, a lei não tinha poder algum para levar o homem ao Criador: "E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé" (G1 3.11). Um teólogo britânico expressou corretamente a finalidade da lei, ao afirmar que ela era, em certo sentido, como um instrumento perfeito, enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Diz ele: Se eu me puser diante de um espelho com o meu vestuário desarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas não o põe em ordem. Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra a tortuosidade, mas não a altera. Seu eu sair numa noite escura com uma luz, esta revela-me iodos os obstáculos e dificuldades que se.acham no caminho, mas não os remove. Além disso, o espelho, o prumo e a luz não criam os males que revelam distintamente: nem os criam nem os afastam, apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: não cria o mal no coração do homem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalível exatidão. A lei, portanto, serviu ao israelita, a quem foi dada, como um pedagogo, ou aio, até que a fé viesse. Mas depois que a fé veio, não estamos mais sujeitos ao pedagogo. Em outras palavras, o objetivo último da lei é fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e levá-lo, ao final, a confiar em Jesus Cristo e a recebê-lo como seu único Salvador e Senhor, recebendo dele a salvação do pecado e da consequência deste, a morte espiritual.
  • 36. Argumenta ainda o apóstolo que a lei sinaítica, dada 430 anos depois de Abraão, não invalidou a promessa de Deus feita àquele patriarca. "Mas a Escritura encerrou tudo sob o domínio do pecado, a fim de que a herança prometida fosse dada aos crentes por virtude da fé em Jesus Cristo" (3.22, tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma). Cristo, o único a cumprir plenamente toda a lei através de uma obediência perfeita, tornou-se "Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da eterna herança" (Hb 9.15, ver também Fp 2.5-8). Servindo-se de duas palavras gregas, anti (que significa "contra"), e nomos (que significa “lei"), Lutero inventou o termo "antinomianismo", que quer dizer "contra a lei". Embora o reformador alemão usasse esse neologismo em relação a outros, ele próprio nunca se considerou um antinomianista. Lutero e outros reformadores deixaram bem claro que, embora fôssemos salvos somente pela fé em Cristo, uma vez salvos haveríamos de cumprir a lei. Assim, não praticamos boas obras a fim de sermos salvos, mas porque somos salvos. Ora, a Bíblia declara que esse é o objetivo último da lei: fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e levá-lo, ao final, a confiar cm Jesus Cristo e a recebê-lo como único Salvador e Senhor, recebendo dele a salvação do pecado e da consequência deste, a morte espiritual. Sua transitoriedade Ao apresentar Cristo como o fim da lei, o Novo Testamento cumpre uma profecia de Jeremias: Vem dias, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porque eles invalidaram a minha aliança, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor. Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor
  • 37. deles até o maior, diz o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados (Jr 31.31-34, EC). Comentando esta profecia, o autor da Epístola de Hebreus registra: "Dizendo nova aliança, ele tornou antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido, perto está de desaparecer" (Hb 8.13, EC). A antiga aliança estava sujeita a ser invalidada por nina das partes pactuantes: Deus ou Israel. É evidente que Deus foi fiel, ao passo que os israelitas não; eles transgrediram a aliança, a invalidaram e a violaram. Esta verdade está registrada principalmente na Segunda Epístola aos Coríntios, onde se afirma a transitoriedade da lei, e que "não somos como Moisés, que punha um véu sobre a sua face para que os filhos de Israel não fitassem o fim daquilo que desvanecia. Mas os seus sentidos foram embotados, pois até hoje, à leitura da antiga aliança, permanece o mesmo véu. Não foi removido, porque somente em Cristo é ele abolido. E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles (2 Co 2.13-15). A nova aliança, baseada na fé em Jesus, é incomparavelmente superior à antiga porque 1) sua religiosidade, brotando espontaneamente de um coração perdoado e regenerado, independe de impulsos exteriores; 2) a vontade divina, testemunhada antes em tábuas de pedra, está agora gravada nas tábuas de carne do coração; 3) o conhecimento de Deus, diferentemente do modo tomo era ministrado na antiga aliança, torna-se, no Novo Testamento, uma experiência viva e profunda, magistralmente definida por Paulo nesta frase: "Mas nós temos a mente de Cristo" (1 Co 2.16). A aliança da lei, portanto, era transitória. Os cristãos não estavam (e não estão) obrigados ao seu cumprimento, razão pela qual o apóstolo Paulo adverte: "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl 2.16). A nova lei, sob a qual estão os crentes, é a "lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus", que os livra "da lei do pecado e da morte" (Rm 8.2). Aos coríntios, afirma o mesmo apóstolo, referindo-se aos gentios: "Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei" (1 Co 9.21).
  • 38. Capítulo 5 Os dez mandamentos e o sábado Todos os mandamentos do decálogo estão repetidos no Novo Testamento, exceto o sábado. O cristão não rouba, não mata, não toma o nome de Deus em vão etc., pois a nova aliança proíbe tais pecados. Há muitos anos o periódico The Pentecostal Evangel, órgão do Concilio das Assembléias de Deus nos Estados Unidos, publicou excelente artigo de autoria de Nelson E. Hinman, sob o título acima, que tomamos a liberdade de transcrever e adaptar: A questão do sábado tem deixado muitos cristãos evangélicos num verdadeiro estado de confusão. Especialmente os novos na fé, que não sabem discernir entre uma e outra dispensação, ou entre uma e outra aliança bíblica, se tornam presa fácil dos falsos mestres legalistas que se apresentam carregados de argumentos aparentemente irrefutáveis. Se a Palavra de Deus nos ensina que os dez mandamentos, como os encontramos no livro de Êxodo, são obrigatórios para o cristão, então temos de admitir que o sábado igualmente o é. Mas a Bíblia não nos ensina assim. Nela lemos que Cristo é mediador de uma melhor aliança, que está firmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira aliança fosse irrepreensível, não haveria lugar para uma segunda. Mas Deus, ao repreender os israelitas por intermédio do profeta Jeremias, afirma: "Virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança. Ela não será segundo a aliança que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porque não permaneceram naquela minha aliança, e eu para eles não atentei, diz o Senhor. Esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor. Porei as minhas leis no seu entendimento, e em
  • 39. seu coração as escreverei. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. E não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior. Pois serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas iniquidades não me lembrarei mais" (Hb 8.8-13). Que o leitor atente para as expressões que aparecem nos versículos anteriores aos da citação acima, como: "ministério tanto mais excelente", "superior aliança" e "firmada em melhores promessas". As Escrituras falam de duas distintas alianças, e afirma que a segunda destas alianças, em relação à primeira, é não apenas diferente, mas incomparavelmente superior. As duas alianças Moisés foi o mediador da primeira aliança, estabelecida no monte Sinai, também conhecido como Horebe. Foi feito com os filhos de Israel. Foi selado com o sangue de animais sacrificados. Era condicional da parte do homem em obediência aos dez mandamentos. Mas o tempo chegou, quando uma nova ordem tinha de ser introduzida e estabelecida uma nova aliança. O profeta Jeremias foi um daqueles que anunciou a nova aliança, conforme a citação de Hebreus, acima. Uma das características dessa nova aliança é que ela seria gravada no coração do crente: "Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração.... Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão, dizendo: conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados" (Jr 31.32-35, EC). Uma nova e superior aliança seria feita com o povo de Deus e substituiria a antiga aliança, chamada por Paulo, entre outras coisas, de transitória. Vejamos como o apóstolo Paulo compara as duas alianças, em 2 Coríntios 3. A primeira aliança • Antiga, Êxodo 34.27-28. • Mediador: Moisés, 2 Coríntios 3.7.
  • 40. • Gravada em pedras, v. 7. • Escrita com tinta, v. 3. • Veio em glória, v. 7. • Ministério da condenação, v. 9. • E um jugo de servidão, • Acaba com morte, vv. 3,6,7. • Era transitório, vv. 7,11. A segunda aliança • Nova, Jeremias 31.31-34. • Mediador: Cristo, 2 Coríntios 3.3-14; Hebreus 8.6- 9,15. • Escrita no coração, vv. 2,3. • Tem excelente glória, v.10. • Ministério da justificação, Atos 13.38,39. • Traz liberdade, 2 Coríntios 3.17. • Vivifica, v. 6. • E permanente, v. 11. Os que defendem a guarda do sétimo dia geralmente não aceitam esse argumento, dizendo que Paulo, em 2 Coríntios 3, refere-se a outra lei e não àquela que foi gravada em pedras. Porém, comparando Deuteronômio 10.1 ("Naquele mesmo tempo me disse o Senhor: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a mim a este monte, e faze uma arca de madeira") com 2 Coríntios 3.7 ("E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória"), vê-se claramente que Paulo fala da lei dos dez mandamentos. Portanto, se a antiga aliança já findou, perguntamos: Qual é o conteúdo da nova aliança? Porventura ordena ela que observemos o sétimo dia da semana?
  • 41. Se os dez mandamentos dados na antiga aliança já passaram, vivem então os cristãos sem eles? Podem tomar o nome de Deus em vão, matar, roubar etc.? Por certo que não, pois que o Novo Testamento proíbe tais pecados. Os mandamentos da nova aliança Examinemos os dez mandamentos em Êxodo 20, um após o outro, e vejamos o que o Novo Testamento (ou a nova aliança) diz acerca deles: 1. O primeiro mandamento diz: "Não terás outros deuses diante de mim". Este é um mandamento contra a idolatria, contra a adoração de deuses falsos. A nova aliança contém uma linguagem forte ao proibir a idolatria. Considere as seguintes passagens: "Não vos façais idolatras... como alguns deles"; "Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Co 10.7,14); "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (1 Jo 5.21). "E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento" (Mt 22.37; veja também Mc 12.30; Lc 10.27). 2. O segundo mandamento ensina: "Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra". Este mandamento é também contra a idolatria que coloca uma imagem de Deus ou outros objetos para adoração. O ensino do Novo Testamento acerca deste pecado é nítido. Jesus disse: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e cm verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem" (Jo 4.23). Os cristãos têm de adorar com o coração, não com a formalidade. Adoração espiritual é aquela que não depende de ritos e cerimônias, nem de pompa e formas exteriores; é a que sai do coração para Deus em qualquer tempo e em qualquer lugar: "O Pai procura a tais que assim o adorem". Outros textos do Novo Testamento acerca desse mandamento: "Mas escrever-lhes [aos gentios convertidos] que se abstenham das contaminações dos ídolos... Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos... Todavia, quanto aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito
  • 42. e achado por bem que se guardem do que se sacrifica aos ídolos..." (At 15.20,29; 21.25). "E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis" (Rm 1.23). "Não vos façais idolatras, como alguns deles; conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para Iblgar... Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Co 10.7,14). "As obras da carne são manifestas, as quais são... idolatria" (G1 5.19,20). "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria" (Cl 3.5, ARA). "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (I Jo 5.21). 3. O terceiro mandamento é: "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, pois o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão". Este mandamento proíbe profanar o santo nome de Deus. Os cristãos têm um mandamento semelhante que vai mais além: "Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus... Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não" (Mt 5.34,37). "Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, da maledicência, das palavras torpes da vossa boca" (Cl 3.8). 4. O quarto mandamento diz: "Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Pois em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, mas ao sétimo dia descansou. Por isso abençoou o Senhor o dia de sábado, e o santificou". Esse é o único mandamento que não se encontra repetido na nova aliança. Esquadrinhando todo o Novo Testamento, não encontramos nenhum ensino de Jesus ou dos apóstolos para santificarmos o dia sétimo mais do que qualquer outro. Todos os que ensinam que o sábado, o sétimo dia, deve ser santificado por todos os cristãos, não guardam este dia da maneira como foi ordenado. Os tais devem saber que a lei, ao mandar guardar ao sábado, também diz como ele deve ser observado. Para guardar o sábado os israelitas recebem as seguintes instruções: 1) não fazer nenhuma obra nesse dia, Êxodo 20.10;
  • 43. 2) trabalhar nos outros seis dias, v. 9; 3) não podiam apanhar lenha no dia de sábado; um homem achado fazendo isso foi apedrejado até morrer, Números 15.32,36; 4) não acender fogo em casa, Êxodo 35.3; 5) sacrificar duas ovelhas em oferta de manjares todos os sábados, Números 28.9,10. Se os sabatistas querem insistir na guarda do sétimo dia, então terão de guardá-lo conforme estes preceitos. A lei exigia que toda comida fosse preparada na véspera do sábado, e este dia era conhecido no tempo de Jesus como "o dia da preparação", assim mencionado nos Evangelhos. Os judeus que guardam a letra da lei, nem sequer acendem luz elétrica no sábado, porque seria acender lume. E se nós estamos vivendo sob a lei, devemos obedecer aos mandamentos em todos os preceitos. Mas graças a Deus que não vivemos sob a lei, mas sob a graça da nova aliança, e por isso não estamos obrigados a guarda um dia mais do que outro. Em Romanos 14.5,6 o apóstolo escreve: "Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus". A doutrina dos que guardam o sábado corresponde com esta? Não, porque dizem que o sábado tem de ser guardado sobre todos os outros dias. Negam assim o privilégio de cada um decidir por si mesmo a esse respeito, privilégio que é parte da gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Muito se ensina no Novo Testamento acerca do primeiro dia, o do Senhor, mas à luz de Romanos 14.4-6, entendemos que a questão de guardar um dia mais do que a outro não era obrigação, mas opção na primitiva igreja. O dia do Senhor, ou o primeiro dia, era guardado tendo por motivo o amor, e não a lei. Se alguém arguir que Jesus guardava o sábado de Moisés, replico: tinha de fazer assim, visto que veio sob a lei e guardou todos os mandamentos de seu Pai para os judeus; porém, ao estabelecer a nova
  • 44. aliança, não nos deixou nenhum mandamento a respeito do sábado, exceto o que já mencionamos em Romanos 14 e em Hebreus 10.25, onde diz: "Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestemo-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia". Somos ensinados acerca das reuniões, mas o dia para realizá-las fica à nossa escolha. 5. O quinto mandamento diz: "Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá". Este mandamento está repetido em Efésios 6.1-4, com a diferença que na nova aliança o mandamento foi ampliado, pois inclui a responsabilidade dos pais de disciplinar os próprios filhos: "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor". "Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor" (Cl 3.20). 6. No sexto mandamento, o Senhor diz: "Não matarás". E Jesus interpreta-o, dizendo que odiar equivale a matar. Sentimentos e palavras de ódio são tão maus à vista de Deus como o ato de matar. O que pensará Deus quando os homens vêm à sua presença para o adorar com os seus corações cheios de ódio, malícia e inveja contra os irmãos?! "Que nenhum de vós padeça como homicida" (1 Pe 4.15, ver também Mt 5.22; 1 Jo 3.15). 7. O sétimo mandamento diz: "Não adulterarás". Este mandamento foi, como o sexto, ampliado por Jesus para incluir o desejo do coração (Mt 5.27,28). Deus acentua a vida interior, pois é ali que a luta é ganha ou perdida. "Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Rm 13.9). 8. O oitavo mandamento afirma: "Não furtarás". O apóstolo Paulo escreveu: "Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade" (Ef 4.28). 9. O nono mandamento é: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo". E uma advertência contra o pecado de perjúrio. Paulo ensina o
  • 45. mesmo mandamento na nova aliança: "Não darás falso testemunho" (Rm 13.9). "Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros" (Ef 1.25). "Não mintais uns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com os seus feitos" (Cl 3.9). 10. O décimo mandamento diz: "Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo". O ensino da nova aliança é igual: "Porque bem sabeis isto: que nenhum... avarento... tem herança no reino de Cristo e de Deus" (Ef 5.5). "Nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus" (1 Co 6.10). "Não cobiçoso de torpe ganância" (1 Tm 3.3). E Jesus afirma: “E disse-hes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui", e conta a história do rico insensato para ilustrar o seu mandamento, Lucas 12.15-21. Não estamos sem lei Podemos ver, pois, que apesar de todos os mandamentos estarem repetidos no Novo Testamento, não há ordem alguma que obrigue os cristãos a guardar o sábado. Argumentam os apologistas do sétimo dia que, se nos abstêmios de adultério, mentira, idolatria, roubo, perjúrio etc., que é uma parte dos dez mandamentos, devemos igualmente cumprir a parte da lei referente ao sábado. A nossa resposta é: o motivo por que não praticamos aqueles pecados é porque eles são proibidos na nova aliança, do qual o Senhor Jesus é mediador. Não estamos sem lei, mas sob a lei de Cristo, 1 Coríntios 9.21. Deus providenciou uma provisão para os que erraram na antiga aliança: o sacrifício segundo a lei levítica. Deus também estabeleceu uma provisão para os que erram na segunda aliança: a provisão de Jesus Cristo, o Justo, que derramou o seu sangue para propiciação pelos nossos pecados e pelos de todo o mundo. Tornando-nos culpados de desobediência contra alguns de seus mandamentos, encontramos perdão de Deus em nome de Jesus, se confessarmos os nossos pecados.
  • 46. Os defensores do sábado alegam que esse dia era reconhecido pelos primitivos cristãos até que o imperador Constantino, em 321, mudou o dia de guarda de sábado para domingo; outros dizem que foi um papa que fez isso. Mas a verdade é que os primitivos cristãos guardavam o domingo como dia de descanso e adoração, e isso durante três séculos antes de haver Constantino reconhecido oficialmente esse dia como o descanso cristão. E o que vemos na história da Igreja. Muito mais poderia ser dito sobre o assunto, mas uma palavra de Deus em Gálatas 5.22,23 é suficiente para terminá-lo: "Mas o fruto do Espírito é: caridade [amor], gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei". Depois de ter registrado o fruto de uma vida cheia do Espírito, Paulo diz: "Contra essas coisas não há lei". Nem a lei de Moisés nem a lei de Cristo podem condenar uma vida que produz esse fruto. A antiga aliança foi o bulbo de onde cresceu a flor da nova aliança. Quando o bulbo cumpriu sua missão, surgiu a flor bela, independente, capaz, mas continuou mantendo intima relação que confunde a muitos. Sou forçado, portanto, a advertir a grande insensatez que está em preferir o bulbo à flor, ou em forçar o bulbo a ocupar o lugar da flor. Aqui reside o erro de tentar guardar os artigos concernentes à primeira aliança, enquanto se pode viver sob os privilégios abençoados da segunda!
  • 47. Capítulo 6 Sinal da besta: sábado ou domingo? Nem a Igreja Católica Romana nem o papado podem ser identificados com qualquer das bestas, por falta absoluta de cumprimento do que se exige no livro de Apocalipse. E perigoso forçar a Palavra de Deus a dizer aquilo que ela não diz. Em suas campanhas proselitistas, os adeptos da guarda do sábado insistem em afirmar que todos os guardadores do domingo têm o sinal da besta, estão enganados por falsos profetas e estão debaixo da ira de Deus, conforme afirmam estes textos bíblicos: E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na testa... também o tal beberá do vinho da ira de Deus, preparado, sem mistura, no cálice da sua ira. E será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre. Não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome... E a besta foi presa, e com ela o falso profeta que diante dela fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta, e os que adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Ap 13.16; 14.10,11; 19.20). Embora tais julgamentos não tenham nenhuma base bíblica quando aplicados aos cristãos na era da graça, eles não deixam de assustar e confundir os incautos, principalmente os novos convertidos ainda não plenamente firmados na sã doutrina da Palavra de Deus. Baseando-se em interpretações forçadas dos livros de Daniel e Apocalipse, os sabatistas crêem que o papado é a primeira besta do Apocalipse, e que foi ele o autor da mudança da guarda do sábado para o domingo.
  • 48. Desfazendo dúvidas Tanto os escritores do Novo Testamento como os escritores que lhes seguiram nos primeiros séculos da era cristã são unânimes em afirmar que os cristãos primitivos passaram a descansar no domingo em comemoração à ressurreição do Senhor Jesus e aos grandes eventos que se deram nesse memorável dia. Além de haver ocorrido no primeiro dia da semana a consumação da obra redentora — considerada mesmo maior que a da própria criação — foi também nesse dia que Jesus apareceu diversas vezes aos seus discípulos, dando provas de sua vitória completa sobre o pecado e a morte (Jo 20.1-26; Mt 28.1,8- 10; Lc 24.3-15; Mc 19.9-13). Foi também no primeiro dia da semana que Jesus abençoou seus discípulos e deu-lhes o Espírito Santo (Jo 20.19,22). Nesse dia muitos santos ressurgiram e também nele o Espírito Santo iniciou sua dispensação na terra, batizando os primeiros crentes e dando-lhes poder para pregar o evangelho da graça de Deus. Foi ainda no domingo que três mil almas se converteram a Cristo (Mt 27.52,53; At 2.1,2,41). Não é de admirar, portanto, que a igreja se reunisse no primeiro dia da semana a fim de cultuar a Deus e comemorar tantos eventos gloriosos, e passasse a chamar esse dia, no mundo latino, de domingo, que quer dizer "dia do Senhor". O fim do sábado Como integrante da lei mosaica, o sábado foi cumprido por Cristo, que o cravou na cruz, conforme afirma a Escritura: "Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. li, despojando os principados e as potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl 2.14-16). Os versículos 14 e 15 do texto acima são assim traduzidos por Phillips: Foi ele que perdoou todos os pecados. Por termos quebrado as leis e os mandamentos, fomos condenados, mas Cristo riscou essa condenação que
  • 49. pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a completamente e pregando-a na cruz sobre a sua própria cabeça. E depois, retirando a força aos poderes hostis a nós, expô-los já despedaçados, vazios e derrotados, no seu ato final glorioso e triunfante! Os sábados, inclusive o semanal, como é evidente, não pertence à nova dispensação, não foi ordenado nem por Jesus nem pelos apóstolos, pois era apenas um sinal entre Deus e Israel (Ez 20.10-12). Acusado pelos judeus de violação do sábado, Jesus afirmou que "o sábado foi feito por causa do homem", e que Ele "até do sábado é Senhor" (Mc 2.27; Mt 12.8). Assim, por um lado Jesus defende o princípio moral do quarto mandamento do decálogo, que é a necessidade humana de se descansar um dia em cada sete, valendo para esse fim qualquer deles; e, por outro lado, ao condenar o cerimonialismo que cercava o guarda do sábado, revela sua autoridade divina sobre esse sétimo dia para cumpri-lo, aboli-lo ou mudá-lo. O autor da Epístola aos Hebreus escreveu que os israelitas não puderam entrar no repouso de Deus por causa da sua incredulidade. E conclui: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.8). O sábado da lei, como sombra das coisas vindouras, prefigurava o descanso espiritual que encontramos, pela fé, em Cristo, que disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). A voz da História O pastor Ricardo Pitrowski, na obra O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus, relaciona testemunhos comprobatórios de que a instituição do domingo, como dia de descanso, não partiu do papa. Acerca do concilio de Laodicéia, realizado em 364, local e data apontados pelo sabatismo como sendo os da mudança da guarda do sábado para a guarda do domingo, afirma a mencionada obra que o bispo de Roma não esteve presente nem foi representado. Apenas 32 pastores (ou bispos) da Ásia Menor compareceram àquela reunião, cujo objetivo não foi outro senão disciplinar pequenas questões locais. É importante salientar aqui que nesse tempo o bispo de Roma ainda não possuía nenhuma autoridade sobre outras igrejas, e mesmo uns duzentos anos mais tarde sua influência ainda era nula no Oriente. E mais: Laodicéia não é Roma, não fica na Europa e não é cidade latina!
  • 50. Portanto, fazer do papa ou do papado a primeira besta e da guarda do domingo o seu sinal é torcer violentamente tanto os fatos históricos como os ensinamentos claros das Escrituras Sagradas. Quem será a besta? Quando dava os meus primeiros passos na fé cristã, em 1959, depois de desembaraçar-me das doutrinas batistas em que fui criado até os oito anos de idade, deparei-me com um curioso folheto espírita no qual se procurava identificar o papa com a besta através da aplicação do número 666 aos vários títulos usados pelo pontífice romano. Os adventistas se valem do mesmo expediente para justificar seus ensinos, esquecendo-se de que ao longo dos séculos esse mesmo número da besta já foi aplicado a dezenas de pessoas e instituições que perseguiram os ristãos ou os judeus, estando entre essas pessoas Hitler e a própria co- fundadora do sabatismo, a Sra. Ellen Gould White. Somando-se as letras desse nome que têm valor em algarismos romanos (o "U" como "V" e o "W" como “VV”, como se usava antigamente), obtém-se o mesmo misterioso número 666! Se esse fato significa que também o sabatismo entra na esfera de tudo quanto é contrário a Deus, então o sinal da besta poderia ser a guarda do sábado, e não a do domingo! Mas a Bíblia é muito clara em afirmar que o 666 é número de homem e não de mulher. Por outro lado, as bestas do capítulo 13 do Apocalipse ainda não se manifestaram, e é bem provável que elas surjam somente depois do arrebatamento da igreja, embora já possamos vislumbrar o seu futuro surgimento mediante a restauração do império romano na Europa e aos progressos do movimento ecumênico liderado pelo Conselho Mundial de Igrejas. Este último, que já conta com mais de seiscentos milhões de adeptos, tem como objetivo principal uma só Igreja e um só governo para o mundo. Por outro lado, a igreja romana não foi esquecida pela Bíblia e está descrita de maneira inconfundível no capítulo 17 de Apocalipse. E a grande prostituta, "a mãe das abominações da terra". Nem ela nem o papado podem ser identificados com nenhuma das duas bestas por absoluta falta de cumprimento do que se exige em Apocalipse 13. li perigoso torcer ou forçar a Palavra de Deus.
  • 51. Capítulo 7 Quem não guarda o sábado não é de Deus?! Quem pensa, crê e ensina dessa forma, pensa, crê e ensina em conformidade com os preceitos dos fariseus, e nunca de acordo com o espírito do evangelho da graça de Deus. Escrevi este capítulo baseando-me em um artigo com o mesmo título, publicado há muitos anos na revista portuguesa Novas de Alegria, periódico em que também publiquei diversos trabalhos alusivos à guarda da lei de Moisés e do sábado. O autor do referido artigo havia perguntado, a um defensor da guarda do sábado, se um cristão poderia ou não ser salvo sem a observância do sétimo dia. A resposta que ele recebeu foi: "Quem não guarda o sábado não anda na vontade de Deus e não poderá se salvar". Alguns fariseus disseram algo parecido a respeito do próprio Cristo: "Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado" (Jo 9.16). Na verdade, Jesus nunca quebrou a lei em nenhum só de seus mandamentos, nem mesmo quanto ao sábado. Ele curou e salvou no sábado. Se Jesus quebrou algumas das leis sociais instituídas pelos judeus, foi justamente a fim de integrar na sociedade pessoas socialmente marginalizadas, como cobradores de impostos, prostitutas, leprosos, coxos etc. O que diz a Bíblia Em nenhuma passagem do Novo Testamento encontramos outra doutrina da salvação, além desta: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). A prova da nossa salvação é o novo nascimento, que por sua vez não deve ser confundido com o crescimento espiritual do crente. Nunca devemos confundir salvação com perfeição.
  • 52. Aquela está consumada; esta é um processo na vida de todo aquele que ama a Jesus Cristo. Voltemos à questão da observância do sábado. Os apologistas do sétimo dia citam textos bíblicos segundo os quais haveria a obrigatoriedade da guarda do sábado antes do Sinai, mas aqueles textos, quando examinados à luz de seu contexto imediato ou distante, não confirmam tais alegações. Vejamos: Gênesis 2.1-3: “Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foram acabados. E, havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra, que Deus criara e fizera”. Este texto não contém ordenança alguma, limitando-se a informar que o Senhor findou a criação no sétimo dia, e que nesse dia descansou (isto é, cessou de trabalhar) e santificou o sétimo dia. Oséias 6.7: "Mas eles traspassaram o concerto, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim". De modo nenhum esta passagem deve ser relacionada ao mandamento da guarda do sábado. O mandamento que Adão transgrediu não está em Gênesis 2.1-3, mas sim em Gênesis 2.16,17: "E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamen¬te morrerás". Os contemporâneos do profeta Oséias haviam desobedecido a Deus, à semelhança de quando nossos primeiros pais comeram do fruto proibido. Como poderia Adão e Eva transgredir o mandamento da guarda do sábado, se esse mandamento não lhes havia sido dado? Não é boa hermenêutica citar Gênesis 26.5 com a mesma intenção. Afirma esse texto: "Porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis". O Senhor havia ordenado várias práticas a Abraão: a circuncisão (Gn 17.10), a saída pela fé da sua terra (Gn 12.1) e a proibição de descer ao Egito (Gn 26.2). Quão perigosas são as idéias fixas! Quando o Senhor diz que o patriarca "guardou o mandamento", poderia ele referir-se àquele que