Suplemento cultural da OHsXXI. Integra a edição n.º 64 (ANO 2 – SÉRIE II) do quinzenário “Correio da Beira Serra”, que se publica em Oliveira do Hospital (distrito de Coimbra, Portugal). Director: Henrique Barreto. 30.09.2008.
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Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt
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Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ ,
http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ ,
http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html
1. S u p l e m e n t o C u lt u ra l d a O H s X X I
10 Tão Pouco Tempo
E Foi Há
ANOS
A 16 de Outubro de 1998, um grupo de sete jovens fundou, no Cartório Notarial de Oliveira do Hospital, a OHs.XXI
– Associação Cultural e Multimédia de Oliveira do Hospital. Dez anos depois, a OHs21 (a forma abreviada como todos
a conhecem) continua a perseguir os objectivos para que foi fundada e é responsável, entre múltiplas outras actividades,
pela edição mensal deste suplemento do Correio da Beira Serra, o S_21. Como tal, esta edição é inteiramente dedicada a
resolver o imenso puzzle formado pelas actividades dinamizadas pela OHs.XXI ao longo dos últimos 10 anos.
2. II S_21 - S u p l e m e n t o C u lt u r a l d a O H s X X I SETEMBRO / 2008 - N.º 27
4 Visões sobre a Década bámos por lá chegar: OH s.21 (assim mesmo). Não comunidade e à comunicação social. Não quería- tantos outros que quase acreditamos que fazem par-
Uma Associação Cultu- chegava… Acrescentámos: Associação Cultural e mos ser uma ficção, urgia apresentar ao público o te de nós graças à TV, aos Jornais e
ral: Estórias do Baú Multimédia de Oliveira do Hospital. Nome intrigan- programa de actividades no imediato… Convidá- à Rádio e que, desta vez sim, sem
Criar a OH S.XXI foi um processo muito agra- te, que tantas leituras – quase cabalísticas – suscitou. mos todas as associações do concelho. Foi bonito, ecrã, sem papel e sem transístor,
dável. Feito passo a passo, qual tertúlia de café ou Mas que é que aquilo quererá dizer? Lá íamos ali- sentimos a curiosidade, apesar de estranharem o estavam de facto a fazer parte de
conversa repetida em festas caseiras de amigos viando a curiosidade dos intrigados: Oliveira do Hos- nome… nós: no mesmo sítio, a respirar o
retornados à “casa-mãe”. Em simultâneo com a pital Século XXI. Só. Estava a chegar o novo século. Em Dezembro arrancámos com o Festival 24 Dias. mesmo ar e a fazer o mesmo – par-
urgência - sempre presente – de fazer nascer “coisa Amantes de certa música portuguesa, de raiz ur- Vinte e quatro dias de actividades culturais diversi- tilha de pensamentos, experiências,
nova” – irreverente sim, mas com assumido sentido bana, fomos inspirar-nos ao LP/BD Mutantes S.21 do ficadas: cinema, teatro, animação de rua, concertos convicções, dúvidas e incertezas.
de responsabilidade: “levar a cultura às pessoas e as grupo Mão Morta para moldar um nome que seria de música, artes plásticas, … A cultura estava na rua Pensar o século vinte e um em
pessoas à cultura”, estando atentos “às novas lingua- a nossa marca. Clara apropriação Pop da cultura, e próxima das pessoas, como sempre desejámos. Encontros de conversa, sóbrios
gens culturais”. Diz assim o Manifestum OHs.XXI, que curiosamente um traço que fomos, deliciosamente, Para pagar o Festival, contámos com a generosidade e simples, sem o foguetório, fre-
ainda hoje é pertinente (re)ler. E que deu muito prazer mantendo. Os sete gostaram. e a simpatia do comércio da cidade e dos amigos. netismo ou psicadelismo que vai
redigir a várias mãos. O problema, que ainda hoje é um dos dilemas da Lá andámos de porta em porta, de loja em loja, com riscando os nossos dias; mesmo
A dita associação esteve para ser uma série de OHS.21 /OH s.XXI, é que o nome foi só verbalizado, um sorriso e um saco na mão, atrás dos performers assim houve momentos de inten-
coisas. Esteve para ser fanzine (revista cultural de a partir de uma papel que tinha comigo, e o Nuno da companhia Marimbondo, pedindo alguns cobres sidade que se deixava mostrar em
baixo custo, mas de relativamente elevado “valor” Marques nunca viu esse rascunho ou o nome escrito. para uma causa justa. afirmações arrojadas, em interpela-
cultural); esteve para ser Cine-Clube, pelo eterno E ouvindo aquela designação, encarregue das ques- Ficou desde então, e até hoje, a sensação boa de ções corajosas e em gargalhadas de
amor ao cinema e seus derivados – houve inclusive tões jurídico-legais, acabou por registar a designação sabermos que nunca deixámos de ser acarinhados e quem sabia que o melhor dos ver-
debate em volta de uns incertos estatutos e outros OH s.XXI – Associação Cultural e Multimédia de apoiados. Dez anos de oferta cultural, diversa e plu- dadeiros momentos não se guarda
estatutos que era suposto provirem de Viseu e que Oliveira do Hospital. Por inspiração somos S.21. Por ral, preocupada em estimular hábitos de cultura e em fotos ou vídeos mas sim na me-
acabaram por nunca chegar… registo S.XXI. Usamos a duas formas porque é justo captar novos públicos, estão aí para o comprovar. mória… ou em particular auxiliar
Seria Cine-Clube! Mais umas conversas, mais que assim seja. Bem-haja a todos, por terem ajudado a tornar re- como o de Marçal Grilo: «…não
umas pitadas de deslumbramento que a velocidade A sede social ficou em casa do Artur Abreu. Du- alidade esta… conversa de amigos à volta de uma deixarei de mencionar o que foi
escaldante da época permitia, e lá sai novo figurino: rante muito tempo. Com a sala de reuniões a transitar mesa de café. A OH s.XXI é vossa! esta noite em Oliveira do Hospital,
seria uma Associação Cultural. Multimédia, porque muitas vezes para casa do António Luís Vaz Pato. José Francisco Rolo no meu diário.»
pretendia ir a todos campos da cultura, e não só ao E o logótipo? O Manuel Machado tratou do “bo- Pensar o século vinte e um em
cinema ou às formas “mais tecnológicas” de cultura, neco”. Mas encontrarmos um conceito foi o cabo Encontros provocados e frequen-
que o próprio nome da coisa fazia pressupor. E teria dos trabalhos… Lá acabámos por pegar no logo dos …Os Encontros!(?) tados com gosto e por gosto por
abrangência concelhia. Mas formatada para estabe- muitos activos e badalados (naquela altura) Oasis de todos, repletos de muita vontade,
lecer – sempre – parcerias ao nível local e outras que Manchester – que, por sua vez, já era uma assumi- Quando em 2001 nos metemos no fomento dos da organização – OHs21 – dos patrocinadores, dos
ligassem vários concelhos. Cá estamos. da apropriação Pop do famoso logo da editora EMI Encontros entre pessoas, (re)conhecidas pelo que fa- convidados que “vinham de longe” e dos convida-
Seis pessoas cheias de vontade de criar e fazer, - para lançarmos a base do trabalho. Rectângulo zem e pelo que valem, pensamentos, ideias e ideais e dos que residem no Portugal que é notícia no «aque-
a que se juntou uma sétima, porque quis muito, preto, letras em fundo a branco e siga. Suponho que ainda outras pessoas, menos (re)conhecidas, mas que le querido mês de Agosto».
insistiu na vontade… e o gosto pela cultura clás- fazem e mostram o que valem por aqui, por Oliveira Pensar o século vinte e um em Encontros sem ou-
de facto merecia estar. sica levou o Manel a su- do Hospital e tudo à volta, resistimos com alguma tros fins (!!!) que não fossem os encontros e o desejo
Foram fecundos os en- gerir a coluna grega que euforia aos costumeiros anunciadores do desastre e de pensar, de modo a deixar marca no saber de cada
contros no escritório de ainda hoje vemos no lo- fomos por aí fora quatro vezes, outros tantos anos: o um constatado no regresso a casa e ao habitual: o
Nuno Marques ao final gótipo. Estatutos, nome e objectivo era comemorar, tal como a OHs21, 10 anos. antes já não era igual ao após.
da tarde, para discutir- imagem já tinhamos. E continuar. Os Encontros deixaram o século continuar a an-
mos acaloradamente Faltava fazer a escri- O século vinte e um pensado ao vivo, em noites dar e em 2005 já não assinaram presença no registo
os objectivos e os cor- tura de constituição da de serões agitados e de muitas casas mais ou menos do pensamento em Oliveira do Hospital. A boa von-
respondentes estatutos associação. Juntámos cheias, ainda que a casa e o evento se patrocinem tade não resistiu a outras vontades mais-ou-menos
da coisa, temperados uns cobres e lá fomos os de cultura, com a caixa das ideias atormentada pela impostas pela vida e estes Encontros interrompe-
com muita gargalhada sete no dia 16 de Outu- inusitada pancada no habitual recatado mundinho ram-se. Felizmente não é possível escrever a histó-
– já dava para perceber: bro de 1998 ao Cartório do interior, majorado pelo frio e pela chuva que ini- ria dos primeiros dez anos da OHs21 sem falar de
levaríamos a cultura a Notarial do Tribunal de ciam o mostrar de garras em Outubro. Encontros.
sério, mas não de forma sisuda. Para quê? O prazer, Oliveira do Hospital tratar da papelada. Como mes- Pensar o século vinte e um em Encontros para Vitor Neves
sempre o eterno prazer de fazer coisas novas e de mo ali ao lado ficava a Foto Correia, à saída alguém pensar o que ajuda entender o país (e o resto): a justi-
nos reinventarmos. correu a chamar o fotógrafo para garantir a posteri- ça, a saúde, a economia, o desporto, os media, a arte,
Definida a proposta de estatutos, faltava um dade do momento. o ambiente etc., etc..
nome. E faltava um logótipo. Fazíamos questão que Foi há10 anos. Pensar o século vinte e um em Encontros com
Bastidores
não fosse uma coisa qualquer… Depois, realizámos uma espécie “beberete/con- personalidades como Vitorino de Almeida, João Be- Última semana de Novembro de 2002, 80 artistas,
As dores de cabeça que o nome deu. Sei lá quan- ferência de imprensa” - numa das salas da Funda- nard da Costa,. Belmiro de Azevedo, Emídio Rangel, 350 obras para expor, cerca de 40 espaços, 5 equipas
tas designações testámos. Satisfação pouca. Aca- ção Cabral Metello - para apresentar a OH s.XXI à Teresa Lago, Manuel Antunes, Artur Santos Silva e de montagem (duas não têm ferramenta – martelo),
3. SETEMBRO / 2008 - N.º 27 S u p l e m e n t o C u lt u r a l d a O H s X X I - S_21 III
o catálogo está atrasado, há placas de identificação do Hospital, o meu conceito de público alarga-se a exposição de cartazes de partidos políticos da época, anos à frente) como esteve muito melhor. Justiça aos
de exposição para fazer, os suportes dos quadros não todas as pessoas que tenha o hábito de sair à noite e alguns verdadeiras obras de arte. Foi outro concerto, músicos e aos organizadores que participaram naque-
entram na parede do espaço x. Quem monta as expo- estejam receptivas a este tipo de eventos, mesmo que novamente com os Electric Warheads, que desta vez la bela noite. Mostraram mais respeito pela obra desta
sições? Que artistas se colocam aqui ou ali? Uma cha- apenas dois gostem de Heavy Metal e eventualmen- já eram uma banda a sério, com a colaboração dos banda tão importante na história da música moderna
mada de telemóvel – o quadro x não cabe no espaço y te nenhuma goste de teatro experimental. elementos do grupo de teatro POHs Palco, fardados do que aqueles tristes indivíduos que se atreveram a
ou o proprietário do espaço y não gosta dos quadros Serve esta introdução para explicar a minha te- a rigor. Para divulgar o acontecimento distribuídos conspurcar o nome de Ian Curtis e dos Joy Division
que lá se colocaram. O que fazer? E o programa para- oria em relação às críticas a que foi sujeita a OHs.21 pelos bares e cafés de Oliveira do Hospital cerca de numa exibição parola e vaidosa a que nem Rodrigo
lelo, e a festa de abertura – os comes-e-bebes e a perfo- ao longo destes 10 anos (e que espero continue a ser) 400 cravos vermelhos. Leão conseguiu subir o nível. John Gonçalves, para ti
mance para festa – e o discurso, e o prémio… relativamente às suas escolhas, nomeadamente mu- A OHs21 esteve sempre presente na FICACOL, o meu FUCK YOU muito especial. A respeito desta
Dezembro de qualquer um destes anos que não sicais. É que, obviamente, o nosso papel é este. enquanto esta se realizou, animando a sua “barraca” noite (a nossa, pois claro!) resta-me fazer justiça a um
consigo precisar, cruzo com alguém na rua com um Felizmente existem no nosso belo concelho deze- também com música ao vivo, numa actividade que colectivo que a dada altura subiu ao palco e apresen-
livrinho que bem conheço na mão, que me mostra nas de outras associações (desportivas, recreativas e causava alguma estranheza aos transeuntes mas que tou uma versão bossa-nova do clássico Love will tear
uma das páginas com um mapa e me pergunta culturais) capazes de encher recintos com milhares terá permitido mostrar ao público (no conceito oli- us apart. Na altura chamei-lhes hereges. Uns 4 anos
“desculpe, onde fica o espaço este café?” Depois de de pessoas por um motivo qualquer, com artistas de veirense) o que éramos. Numa dessas ocasiões apre- depois aparecem os Nouvelle Vague a fazer o mesmo.
responder e de me retirar ouço um “Já vimos estas, méritos reconhecidos (por alguém, eventualmente). sentou-se um colectivo de músicos de OH prestando Continuo a achar uma heresia, mas com muito mais
faltam-nos ver aquelas”. Obviamente que o nosso papel não é esse. tributo aos Velvet Underground, enquanto no palco nível do que os outros parolos. Participaram nesta ho-
Visto à distância, estes dez anos de Agirarte – os Cumprindo portanto o nosso papel, que a nós principal tocava a banda filarmónica de algum lado. menagem uma série de colectivos de músicos de OH
bastidores, para além das exposições per se e do gozo próprios nos atribuímos, com a autoridade que Cumprimos o nosso papel! e um outro de Mortágua, de nome House of Dolls que
de as ver montadas e visitadas – têm sido aquilo que nos conferimos, fomos espalhando por esse conce- Com o desaparecimento da Casa do Povo enquan- foram os responsáveis pela casa cheia porque trouxe-
considero mais interessante e o que lembro como o lho fora, do Ervedal da Beira a Alvôco de Várzeas, to sala de espectáculos disponível para o Povo, houve ram seguramente 40 amigos. Impressionante!
tempo mais bem passado, mesmo tendo em conta os ruídos, melodias e ritmos, rugidos e grunhidos, uma evolução no tipo de eventos organizados, recor- Neste registo revisitaram-se ainda, em mais
discussões, noites em branco, incidentes com obras, por vezes até belos cantos, que bem nos duas ocasiões, movimentos estéticos
críticas, proprietários e artistas desagradados, recla- apeteceu, sempre com a certeza de que importantes. Em 2003 juntou-se punk-
mações dos colegas, problemas de última hora, etc. alguém estava a assistir e a apreciar ou rock e disco-sound (novamente à frente,
O mesmo em relação às outras actividades da asso- depreciar, a espectáculos que de outra ainda os Radio 4 e os The Rapture não
ciação nas quais fui interveniente directo – além do forma nã o teriam lugar. se tinham lembrado disto) sob o título
evento em si, os bastidores são sem dúvida o que de Realço aqui alguns momentos que Os Verões Quentes de 77. Em 2004 virá-
mais interessante estas têm, não só pelos problemas vivi, como o primeiro, em 1998, que as- mo-nos para Manchester, que já existia
que criam como pela satisfação de os ver resolvidos sinalou a estreia dos Electric Warheads, antes do Ronaldo, e para as edições da
e de presenciar a sua efectiva realização. mais tarde o Pânico do Vermelho, que Factory/4AD.
Deixo aqui os meus parabéns à OHSXXI e convi- seriam apadrinhados pelos veteranos Depois, e mais ou menos regularmen-
do todos os leitores desta pequena peça a passarem Major Alvega, duas bandas com alguns te, a OHs.21 deu música a quem a quis
pelos bastidores desta ou de outras colectividades… elementos pertencentes ou colaboran- ouvir – Legendary Tiger Man e Puny,
Associem-se e participem! tes da OHs.21. Os Major Alvega eram forasteiros entre vários projectos con-
Manuel Machado uma banda com créditos firmados, no terrâneos, têm encontrado palco entre
meio undergroud pelo menos, mas que a Casa da Cultura César de Oliveira e o
à última da hora não pôde comparecer. Fui então, rendo-se a parcerias com alguns espaços nocturnos, auditório da CCAM.
10 anos de festas na véspera do concerto, à Praça da República, em os únicos com características físicas que o permitiam, Não posso deixar de referir o contributo dado e
badaladas, embaladas Coimbra, “contratar” uma banda para os substituir. nomeadamente a Toca da Raposa (Meruge) e o Lagar deixado em registo por José Valor, desaparecido em
Vieram os MC Dolls, onde militavam um baixista Val dos Amores (Ervedal da Beira). Aqui, os concertos 2004. Figura ímpar de música moderna portuguesa,
e quase sempre sem que toca agora nos BunnyRanch e um baterista que deram lugar a festas verdadeiramente multimédia, participou na única edição musical da OHs.21, até ao
baladas ficou mais conhecido como vocalista dos Parkinson, em que era possível a música estar sempre presen- momento – o CD-R editado com o #6 do saudoso 21,
É marca pessoal da OHs21, desde a sua fundação, banda sensação em Londres aqui há seis anos. Toca- te, ao vivo ou em sessões de DJ, acompanhada de boletim cultural da associação. Para esta edição, que
conforme admiravelmente descrito no Manifestum ram vestindo vestidos, foram expulsos da discoteca imagens, fotos e/ou vídeos. Houve homenagens ao apresentou 6 projectos musicais oriundos de Oliveira
que contextualizou o arranque das suas actividades, (ONU) mas deram um (peculiar) belo concerto. No movimento Beatnick e aos Joy Division, que combina- do Hospital, José Valor contribuiu com a sua própria
o conceito de que a cultura é uma palavra imensa ano seguinte, ambiciosos e com vontade de seguir ram música e literatura poética. Temas curiosamente música (sob o nome CPRB), integrou outro projecto
onde cabem todas as linguagens que servem a ex- uma bela tradição oliveirense (que entretanto mor- actuais e que me apraz recordar, por terem tido lugar (Vodka Twins), foi o responsável pela gravação de
pressão artística. reu, ao contrário das touradas de morte, que injus- nos longínquos anos de 2000 e 2001, respectivamente. um terceiro tema (dos Sawdust Hammermill) e as-
No meio social em que estamos inseridos, foi tiça) ocupámos a Casa do Povo, porque somos povo Sobre o Beatnick, foi já este ano que percorreu o país sumiu a mistura final do disco. A OHs.21 não podia
sendo dada prioridade às linguagens que, de outra e portanto ela era nossa, e enchemo-la (!) de Rock, (e não só) o espectáculo On the Road, tributo a Jack Ke- deixar de se associar à homenagem que lhe foi pres-
forma, pouca ou nenhuma atenção receberiam por em duas ocasiões. Primeiro a cobrar o concerto devi- rouac, apresentado por Tiago Gomes, poeta e editor tada em Junho de 2007 no Teatro Viriato, em Viseu,
parte dessa massa estranha que é o público. Habi- do pelos Major Alvega, acompanhados pelos Tédio da revista Bíblia (que já teve por aqui duas festas de através de dois colectivos musicais que recriaram
tualmente, o público é um conjunto de pessoas que Boys, provavelmente a melhor banda rock para ver apresentação, em 2002 e com este mesmo espectácu- temas compostos por este electro-rocker visionário
se desloca a um determinado local para apreciar um ao vivo que este país já produziu. Poucos os terão lo) e por Tó Trips, ilustre histórico do rock portuga, que nos deixou antes de tempo.
espectáculo, à partida forma uma massa mais ou me- visto no entanto, e estava ainda fresca naquela sala a actualmente guitarrista dos Dead Combo. A OHs.21 Para quem queira ouvir, apreciar, depreciar e
nos homogénea (em termos de gostos pessoais) de memória das gloriosas noites de rock “made in OH” esteve muito à frente, 8 anos à frente! Relativamente maldizer, há-de continuar a haver música, ruídos,
pessoas que sabem ao que vão, seja Heavy Metal ou dos Sons na Cidade, justiça seja feita aos organizado- aos Joy Division, foram este ano alvo de homenagem melodias e ritmos, rugidos e grunhidos, e por vezes
teatro experimental. Naturalmente num universo re- res de então. Na segunda ocasião, e noutra marca de por um colectivo musical no Festival Paredes de Cou- quem sabe, até belos cantos.
duzido, o conceito de público alarga-se. Em Oliveira estilo, comemorámos a Revolução de Abril com uma ra. Neste caso não só a OHs.21 esteve muito à frente (7 Nuno Santos
4. IV S_21 - S u p l e m e n t o C u lt u r a l d a O H s X X I SETEMBRO / 2008 - N.º 27
A
16 de Outubro de 1998, frente vereiro de 2007. recções até 2007 como secretário e foi direc- sugeriu o nome com que acabou por ser
ao Palácio da Justiça de Olivei- Artur Abreu – Principal impulsionador tor do Agirarte. O seu principal contributo, baptizada a então recém nascida associa-
ra do Hospital, os 7 fundadores da criação da OHs.XXI, fez a ponte entre no entanto, foi sempre ao nível criativo e ção. Actualmente é uma espécie de “dux
da OHs.XXI pousaram para a os diversos fundadores e foi presidente da do design. Quase todos os materiais grá- veteranum”, o único associado que inte-
fotografia. A maioria continua ligada à as- direcção desde a fundação até Fevereiro de ficos produzidos nos primeiros anos da grou todos os elencos da direcção, sendo
sociação, apesar dos caminhos diferentes por isso o director mais antigo. Apesar
que cada um tomou e dos diferentes níveis de ter assumido outras responsabilidades
de participação. Dez anos depois, por onde públicas continua a ser um dos rostos da
andam os que começaram esta aventura? associação.
Nuno Santos – O mais jovem elemento da
António Vaz Pato – Participou de forma facção masculina dos fundadores é tam-
entusiasta no arranque da associação e bém o único que já passou (algumas vezes
integrou as duas primeiras direcções. Foi como suplente) por todos os órgãos sociais
o primeiro a abandonar esse órgão, mas da OHs.XXI. Depois da Mesa da Assem-
continuou com outras responsabilidades bleia e do Conselho Fiscal, em Fevereiro
anda durante alguns anos, como editor do de 2007 passou a integrar a Direcção, como
Boletim 21. secretário. É também um dos mais assídu-
Nuno Marques – Poucos meses antes do os escribas do S_21.
nascimento, nenhum dos outros funda- Paula Madeira – Se a OHs.XXI teve muitos
dores o conhecia pessoalmente. Começou “pais”, teve apenas uma “mãe”. A única
por ser “recrutado” devido à sua experi- mulher que fez parte dos fundadores era
ência jurídica mas cedo se percebeu que 2007. Abandonou as lides directivas mas associação tiveram a sua assinatura. Mais a benjamim do grupo e foi também a que
estava perfeitamente sintonizado com os assumiu a edição do suplemento cultural importante ainda – foi o criador do logoti- mais cedo abandonou as lides. A vida pro-
interesses dos restantes. Presidiu à As- S_21 no início de 2008. po da OHs.XXI. fissional levou-a até Lisboa, a família au-
sembleia Geral desde a fundação até Fe- Manuel Machado – Integrou todas as di- José Francisco Rolo – Foi o criativo que mentou e… deixou de se ver.
10 Actividades que deixaram marcas
1998/99 – A animação de rua 2000 – O Boletim 21 surgiu 2001 – Durante a primeira 2001 – Em Outubro abriu-se 2002 – A revista Bíblia (“mais
foi uma das vertentes de expres- como forma de, simultaneamen- metade da sua primeira década, um espaço que, durante quatro lida do que a outra”, dizia a pu-
são cultural em que apostou a te, fazer o diário de actividades a OHs.XXI albergou o grupo de anos, permitiu ao público debater blicidade) vinha precedida de
recém-nascida associação como desenvolvidas pela OHs.XXI e di- teatro POHS Palco, que ence- em directo temas de interesse ge- grande fama como edição do
forma de divulgação. O espa- vulgar novos autores e propostas nou diversos textos, a maioria ral – Justiça, Educação, Economia, circuito alternativo dedicada
lhafatoso Robô-Copos integrou culturais, servindo ainda de espa- das quais de inspiração infan- Saúde, Cultura – com alguns dos à divulgação de novos autores
o programa 24 Dias com que a ço privilegiado para a reflexão e til. De entre estes destacou-se o protagonistas da sociedade portu- e ao experimentalismo gráfico
OHs.XXI se apresentou ao pú- debate. A paginação de cada nú- clássico de Prokofiev Pedro e o guesa. A primeira edição dos En- e escrito. O número 14 da pu-
blico de Oliveira do Hospital. mero foi entregue a um designer Lobo, uma peça de marionetas contros Pensar Século XXI foi vista blicação dinamizada por Tiago
Um ano depois, após uma bem diferente, sendo ela própria um que completou 12 apresenta- por 800 pessoas. Nos anos seguin- Gomes teve uma grande festa
sucedida acção de formação em objecto de intervenção cultural. ções até ao final de 2002 e per- tes, nomes como os de Daniel de lançamento no bar Toca da
Teatro dinamizada por Jon Be- O n.º 1 foi lançado em Agosto de correu diversos concelhos do Bessa, Moita Flores, Marçal Grilo, Raposa, acompanhada por uma
edell, foram já os Mimos OHs. 2000. Até 2005 saíram mais 6 nú- distrito de Coimbra. Marinho Pinto, Francisco Ferreira exposição de trabalhos originais
XXI que animaram o Natal da meros, alguns dos quais de orien- ou Vítor Serpa tornaram-se habi- publicados nos 13 números an-
cidade. tação temática. tuais dos serões oliveirenses. teriores.
2002 – Pensado como um estí- 2002 – A actividade mais antiga 2004 – A divulgação do livro 2004 – A 1ª Mostra de Curtas- 2006 – Desde 2001 que os ci-
mulo dirigido a todos os autores – o Agirarte – atingiu o seu zénite e a promoção da leitura tive- metragens de Oliveira do Hospital clos de cinema se tornaram uma
que “escrevem para a gaveta”, em 2002. Constituiu o momento ram um momento icónico com decorreu numa tarde ao longo marca anual incontornável das
em 2001 foi lançado um concur- logisticamente mais complicado da o arranque de 30 Dias, 30 Livros, da qual foram projectadas mais actividades da OHs.XXI. Em
so literário que permitisse dar história da OHs.XXI, exigindo um Todos os Dias, actividade desen- de três dezenas de pequenos 2006, o ciclo dedicado à Intole-
visibilidade a novos poetas de enorme esforço para instalar 74 ex- volvida em parceria com a Rádio filmes, agrupados em blocos de rância constituiu um marco pela
alguma forma ligados a Oliveira posições em 40 locais diferentes de Boa Nova e que levou 30 convi- uma hora. Retrospectivas de An- pertinência, coerência e quali-
do Hospital. O lançamento da 12 freguesias. Foi a única vez que se dados a escolherem e lerem aos tónio Ferreira e da Lux Records dade cinematográfica das obras
colectânea de poesia 32 Estímulos optou por montar um significativo microfones um minuto de uma e dois filmes de Tiago Guedes escolhidas. Boa Noite e Boa Sorte,
ocorreu no ano seguinte, na que núcleo central, nas instalações dos das suas obras preferidas. A ini- marcaram uma actividade que A Caminho de Guantanamo, Brisa
foi a primeira edição com o selo Bombeiros Voluntários. Desde daí, ciativa teve continuidade nos juntou dezenas de cinéfilos em de Mudança e O Paraíso, Agora
OHs.XXI. Anos depois, o con- a mostra de artes plásticas ema- anos seguintes e foi adaptada busca de novas propostas cine- mostraram diversas faces de
to e a banda desenhada seriam greceu, mas abriu novas vertentes, para outros protagonistas e por matográficas. uma das maiores pragas da his-
também objectos de concurso e como a atribuição do Prémio Muni- outros promotores. tória da humanidade.
edição. cípio de Oliveira do Hospital.
Director: Henrique Barreto Editor: Artur Abreu Redacção: Ana Sales, João Lourenço, José Fr ancisco Rolo, Luís Antero, Nuno Santos
Col abor am nesta edição: Manuel Machado e Vitor Neves Críticas / Sugestões – s.21.ohs@gmail.com