Versão integral da edição n.º 12 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 18.10.2006.
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Para além de poderem ser úteis para o público em geral, estes documentos destinam-se a apoio dos alunos que frequentam as unidades curriculares de “Arte e Técnicas de Titular”, “Laboratório de Imprensa I” e “Laboratório de Imprensa II”, leccionadas por Dinis Manuel Alves no Instituto Superior Miguel Torga (www.ismt.pt).
Para saber mais sobre a arte e as técnicas de titular na imprensa, assim como sobre a “Intertextualidade”, visite http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm (necessita de ter instalado o Java Runtime Environment), e www.youtube.com/discover747
Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa,
www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 ,
http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal
Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ ,
http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm ,
http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ ,
http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html
1. DIRECTOR J O R G E C A S T I L H O
OPINIÃO
Carlos Carranca
José d´Encarnação
Mário Martins
Renato Ávila
Varela Pècurto
PÁG. 10, 20 e 21
| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |
Autorizado a circular em invólucro
de plástico fechado (DE53742006MPC)
ANO I N.º 12 (II série) De 18 a 31 de Outubro de 2006 € 1 euro (iva incluído)
HÁ 70 ANOS A PRATICAR A ARTE DA TESOURA E DA NAVALHA
O homem que fez
a barba a Salazar
- Com 82 anos continua em actividade
PÁGINAS 4 e 5
Acidente aéreo
na primeira
pessoa PÁGINA 7
CASO ÚNICO NA EUROPA
ACONTECE NA ZONA
DA FIGUEIRA DA FOZ
“Baleia-piloto”
continua
a lutar pela vida
PÁGINA 11
D. João III / José Falcão:
um encontro de memórias PÁGINAS 8 e 9
TELEVISÃO DESPORTO ASSINE O “CENTRO”
E GANHE OBRA DE ARTE Assinantes
“Os Grandes Basquetebol do “Centro”
Portugueses” Futebol com 10%
na crónica Futsal de desconto
de Francisco Rali na compra
Amaral Tiro de livros
PÁG. 14 a 17 PÁG. 2 e 3
PÁG. 24
2. 2 DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006
EDITORIAL
Corrupção, prostituição
Jorge Castilho
jorge.castilho@zmail.pt
televisão
Na posse do novo Procurador Geral da mador ouvir falar assim, com este desassombro Todos nós, jornalistas, vamos ouvindo falar Tribunais - e para que aí as leis existentes
República, a corrupção foi a situação mais em e determinação, de um problema que vem cor- de muitas situações de alegada corrupção. sejam devidamente aplicadas.
destaque – nos discursos, bem entendido!... roendo toda a estrutura social portuguesa. Alguns de nós tentam investigar esses
Pinto Monteiro conhece bem o problema, Desde a pequeníssima corrupção que quase rumores. Mas, na maior parte dos casos, a
já que integrou a Alta Autoridade contra a todos praticam no quotidiano (por exemplo, investigação esbarra num emaranhado tão A concluir, e voltando a falar em televisão
Corrupção, presidida por Costa Brás, que dá-se um euro ao arrumador para que ele denso e complexo que não permite chegar a (aconselho a leitura da oportuna e muito
acabou por ser dissolvida (não por desnecessi- guarde o carro ou antes para que não o risque conclusões. lúcida crónica de Francisco Amaral na últi-
dade, possivelmente antes porque outros valo- ou assalte?…), até à de proporções tão gigan- E mesmo nas raras circunstâncias em que ma página), não posso deixar de referir uma
res mais altos se levantaram…). Mas, nesse tescas que – sussurram algumas vozes muito essas conclusões se conseguem obter, quase das mais caricatas “reportagens” que vi nos
momento da sua brilhante carreira, o agora credíveis –, se viessem a ser conhecidas revela- sempre faltam os meios de prova que susten- últimos tempos. Foi há dias, na RTP 1, a
sucessor de Souto Moura deverá ter ficado riam valores tão avultados, denunciariam pes- tem a denúncia pública – pelo que, avançar propósito da idade da reforma. A jornalista
com uma noção da dimensão do problema, soas tão altamente colocadas e atingiriam enti- com o processo acabaria por ter como conse- entendeu mostrar, como “espantoso” exem-
bem mais exacta do que o comum cidadão. Por dades tão respeitadas, que poderiam pôr em quência a absolvição dos corruptos e dos cor- plo, o caso de um médico que decidiu con-
isso sabe do que fala e fala do que sabe. É ani- causa a própria estrutura da Nação. ruptores, assim “lavados” de culpa; e, no míni- tinuar a atender clientes no seu consultório,
mo, o descrédito de quem ousara tentar pôr apesar de ter completado agora 65 anos de
cobro à sua criminosa actuação. idade. E para justificar esse “feito heróico”,
Desejemos, por isso, boa sorte ao conse- não achou melhor do que invocar a árvore
Blogue ao Centro lheiro Pinto Monteiro, que dela bem carece,
para que não seja “triturado” pelos mais
diversos interesses que se entrechocam nas
genealógica do clínico em causa, dizendo
que essa sua “indómita vontade de traba-
lhar” (as palavras são minhas), deveria justi-
O “Centro” tem já em fase adiantada teias da Lei. ficar-se com o facto de ter o médico como
a construção da sua edição on line, que antepassado um fidalgo que combateu ao
OS LEITORES
dentro em breve será disponibilizada ao lado de D. Afonso Henriques!...
A PARTICIPAREM
público. E, indo ainda mais longe, gostaría- Outro tema também agora novamente Não sei se mais ridícula foi a afirmação da
Trata-se de um passo coerente com a mos que os leitores tivessem uma efec- trazido à ribalta (mais adequado seria dizer à jornalista, se a posição do médico que aceitou
importância que temos vindo a dedicar tiva participação nos conteúdos de pantalha, pois quase tudo isto se faz, sobretu- aparecer a mostrar o quadro com a referida
à Internet, nomeadamente através da cada edição do “Centro”, enviando-nos do, para as televisões…) foi o da prostituição. “árvore genealógica”, se a atitude de quem
secção “Ideias Digitais”, que continua a textos e imagens que entendam terem
Que, afinal, mais não é também que uma permitiu que tamanho disparate ocupasse
merecer críticas muito positivas, já que interesse para publicação (e que edita-
outra forma de corrupção. tempo na televisão pública.
nela Inês Amaral nos indica alguns dos remos se, efectivamente, preencherem
os indispensáveis requisitos para esse O Presidente da República andou por O que sei é que nesta mesma edição do
sítios mais originais e com maior interes-
se, em áreas muito variadas deste fasci- efeito). Lisboa, a peregrinar contra a exclusão e a “Centro” falo de um barbeiro que tem 82
nante mundo virtual que é a Internet. Os textos deverão ser curtos e focar favor da inclusão. E nesse seu périplo visitou anos e continua a trabalhar, seguramente
Mas enquanto o nosso “site” não está questões de interesse geral, ou então uma instituição que acolhe prostitutas onde cansando-se muitíssimo mais e ganhando
disponível, queremos estreitar os laços casos insólitos ou relevantes. disse que não deve haver tolerância para os muitíssimo menos do que aquilo que o
com os nossos leitores através de outro Quanto às imagens, podem ser que exploram mulheres para prostituição. E médico com 65 anos aufere nas suas con-
meio de comunicação virtual que está a mesmo as captadas por telemóvel (em- confessou o Chefe de Estado: sultas privadas.
crescer e a vulgarizar-se de forma es- bora, naturalmente, seja preferível obtê- “Não conheço bem a legislação que pune E poderia falar de tantos outros casos de
pantosa: os blogues. -las com máquinas digitais ou enviá-las estes crimes. Li uns documentos que diziam verdadeiro heroísmo, de mulheres e homens
Assim, criámos um blogue, cujo en- em papel, para melhorar a qualidade da que a nossa penalização em relação a esses que já passaram mais de oitenta Invernos e
dereço é reprodução), e deverão identificar o res- exploradores de mulheres é mais fraca do que continuam a trabalhar duramente para tentar,
pectivo autor, a data e o local onde acontece noutros países europeus”. apenas, sobreviver…
http://jornalcentro.blogspot.com foram recolhidas e o que documentam. Como em muitas outras matérias, e como Seria deveras interessante que a jornalista
bem sublinhou o novo Procurador Geral no investigasse a genealogia dessa legião de
Este blogue está disponível para os O desafio aqui fica, esperando que discurso proferido na tomada de posse, o seniores obrigatoriamente atarefados!
leitores nos remeterem as suas críticas, rapidamente comece a merecer respos-
problema não é, em boa parte das situações, a Pelo menos andaria entretida até completar
mas também as suas sugestões. ta de muitos leitores.
falta de legislação, mas antes a incapacidade ou os 65 anos... E poderia então usufruir do des-
falta de vontade para que as coisas vão até aos canso assim bem merecido…
Assinantes do “Centro” com 10% de desconto
Director: Jorge Castilho
(Carteira Profissional n.º 99)
na compra de livros
No sentido de proporcionar mais em material escolar por cada filho, este Se não quiser ter esse trabalho, bastará
Propriedade: Audimprensa alguns benefícios aos assinantes deste jor- desconto que proporcionamos aos assi- ligar para o 239 854 150 para fazer a sua
Nif: 501 863 109
nal, o “Centro” acaba de estabelecer um nantes do “Centro” assume especial assinatura, ou solicitá-la através do e-mail
Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho acordo com a livraria on line “livros- significado (isto é, só com o que poupa centro.jornal@gmail.com.
net.com” (ver rodapé na última página por um filho fica pago o valor anual da São apenas 20 euros por uma assinatu-
Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930 desta edição). assinatura). ra anual – uma importância que certamen-
Para além do desconto de 10%, o assi- Mas este desconto não se cinge aos te recuperará logo na primeira encomenda
Composição e montagem: Audimprensa -
Rua da Sofia, 95, 3.º
nante do “Centro” pode ainda fazer a manuais escolares. Antes abrange todos os de livros.
3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150 encomenda dos livros de forma muito livros e produtos congéneres que estão à E, para além disso, como ao lado se
Fax: 239 854 154 cómoda, sem sair de casa, e nada terá a disposição na livraria on line “livrosnet”. indica, receberá ainda, de forma automáti-
e-mail: centro.jornal@gmail.com pagar de custos de envio dos livros enco- Aproveite esta oportunidade, se já é as- ca e completamente gratuita, uma valiosa
mendados. sinante do “Centro”. obra de arte de Zé Penicheiro – trabalho
Impressão: CIC - CORAZE
Oliveira de Azeméis
Numa altura em que se aproxima o Caso ainda não seja, preencha o boletim original simbolizando os seis distritos da
início de um novo ano lectivo, e em que que publicamos na página seguinte e Região Centro, especialmente concebido
Tiragem: 10.000 exemplares as famílias gastam, em média, 200 euros envie-o para a morada que se indica. para este jornal pelo consagrado artista.
3. DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006 COIMBRA 3
NA LIVRARIA “ALMEDINA ESTÁDIO”
Arquitectura e centralidades em debate Encontro
do Livro
“Coimbra, arquitectura, centralidades e visão e uma análise muito vivas acerca da plura- pergunta: Que posição central ocupa Coimbra?
vivências” é o tema do ciclo de quatro debates lidade de olhares que se pode ter perante uma É à volta de “provocações” destas que os Univesitário
que se iniciou na noite de ontem (terça-feira, 17 realidade concreta. Isto é, vão discorrer sobre o dois intervenientes vão debater um dos temas
de Outubr)o, na livraria Almedina Estádio. papel centralizador de Coimbra, sem deixar, mais sensíveis e estratégicos para o futuro da
À hora a que encerramos esta edição o deba- com isso, de interpelar velhos “clichés” que pro- cidade. Isto, claro, sem perder de vista a relação No âmbito do Encontro do Livro
te não se tinha ainda iniciado, mas elemento da vavelmente não fazem sentido hoje, fruto das e inserção de Coimbra no todo nacional, numa Universitário de Coimbra, a decorrer
organização deu-nos conta do que estava pre- profundas alterações que o próprio Pais prota- altura em que se viu preterida por Guimarães na Coimbra Editora (ao Arco da Al-
visto, nos seguintes termos: gonizou”. no processo de candidatura à Capital Europeia medina), desde o passado dia 11,
“A cidade e as maneiras como a pensamos E a organização acrescentou: da Cultura”. estão a ser apresentadas obras da
ou como ela se projecta e afirma perante os que “Por outras palavras, tanto José Reis como O ciclo prossegue amanhã (quinta-feira, dia mais diversa índole, desde Labirintos
a vivem, os que a utilizam ou apenas a olham, Alexandre Alves Costa vão desafiar os presen- 19) com a apresentação do “Inquérito à arqui- do Mito, de José Ribeiro Ferreira , a
são alguns dos tópicos que, sem perder de vista tes a ver Coimbra a partir do exterior e não tectura do século XX em Portugal: o Centro”, As Mulheres do Mundo Contem-
a realidade de Coimbra, vão estar em foco, em apenas, como sucede quase sempre, olhar a com José António Banderirinha. porâneo, de Irene Vaquinhas (hoje,
mais um programa organizado pelas Ideias cidade exclusivamente com as lentes interpre- A 26 de Outubro o tema é, “Obras de dia 18, pelas 18 horas), a Lições de
Concertadas para a Almedina. tativas dos que vivem no seu interior. No Coimbra na 10ª Mostra Internazionale di História da Idade Média, de João
José Reis, professor da Faculdade de fundo, aquilo que estará em causa é um deba- Architettura da Bienal de Veneza”, com a parti- Gouveia Monteiro.
Economia da Universidade de Coimbra, e o te sobre a centralidade do(s) poder(es) e o cipação dos arquitectos Camilo Cortesão, João Amanhã (quinta-feira, dia 19)
arquitecto Alexandre Alves Costa são os partici- poder de influência de Coimbra na vasta regi- Mendes Ribeiro, António Bandeirinha, e do pelas 17 horas, os professores Amíl-
pantes da primeira sessão (dia 17), em que se vai ão em que se insere. Dito de outra maneira, engenheiro João Rebelo. car Guerra (da Faculdade de Letras
debater o tema, ‘Coimbra e a centralidade, as quais os poderes de afirmação e atracção que A 31 de Outubro o ciclo encerra com o tema da Universidade de Lisboa) e Mário
centralidades de Coimbra’. Coimbra tem, no contexto de uma Europa das “Projectos”, da autoria do arquitecto Manuel Barroca (da Faculdade de Letras da
Aquilo que os dois especialistas em áreas Regiões e numa sociedade crescentemente glo- Aires Mateus, autor dos espaços das novas livra- Universidade do Porto) intervirão
muito diversas vão propor ao público é uma bal e cada vez mais competitiva? Simplificando a rias Almedina. numa mesa-redonda que terá como
tema o interesse dos monumentos
epigráficos como fonte histórica, a
Exposição de pintura propósito do livro “Epigrafia - As
Pedras que Falam”, da autoria de
de António Menano José d’Encarnação (professor da
Faculdade de Letras da Universidade
“Olhares e Sonhares” é o título de uma exposição de pintura de António de Coimbra), editado este ano pela
Menano que foi inaugurada em Coimbra, no passado sábado, na Galeria Imprensa da Universidade de Coim-
Minerva. A mostra estará patente até ao dia 6 de Novembro, na Rua de bra.
Macau, 52, em Coimbra, de segunda a sábado das 10 às 13 e das 14 às 20.
APENAS 20 EUROS POR UMA ASSINATURA ANUAL! Jornal “CENTRO”
Rua da Sofia. 95 - 3.º
3000–390 COIMBRA
Assine o jornal “Centro” Poderá também dirigir-nos o seu pedi-
do de assinatura através de:
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e ganhe valiosa obra de arte fax 239 854 154
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Nesta campanha de lançamento do jor- nio arquitectónico, de deslumbrantes pai- manterá sempre bem informado sobre o de e-mail:
nal “Centro” temos uma aliciante propos- sagens (desde as praias magníficas até às que de mais importante vai acontecendo centro.jornal@gmail.com
ta para os nossos leitores. serras verdejantes) e, ainda, de gente hos- nesta Região, no País e no Mundo.
De facto, basta subscreverem uma assi- pitaleira e trabalhadora. Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, por Para além da obra de arte que desde já lhe
natura anual, por apenas 20 euros, para Não perca, pois, a oportunidade de re- APENAS 20 EUROS! oferecemos, estamos a preparar muitas out-
automaticamente ganharem uma valiosa ceber já, GRATUITAMENTE, esta mag- Não perca esta campanha promocional, ras regalias para os nossos assinantes, pelo
obra de arte. nífica obra de arte, que está reproduzida na e ASSINE JÁ o “Centro”. que os 20 euros da assinatura serão um
Trata-se de um belíssimo trabalho da primeira página, mas que tem dimensões Para tanto, basta cortar e preencher o excelente investimento.
autoria de Zé Penicheiro, expressamente bem maiores do que aquelas que ali apre- cupão que abaixo publicamos, e enviá-lo, O seu apoio é imprescindível para que
concebido para o jornal “Centro”, com o senta (mais exactamente 50 cm x 34 cm). acompanhado do valor de 20 euros (de o “Centro” cresça e se desenvolva, dando
cunho bem característico deste artista Para além desta oferta, passará a rece- preferência em cheque passado em nome voz a esta Região.
plástico – um dos mais prestigiados pinto- ber directamente em sua casa (ou no local de AUDIMPRENSA), para a seguinte
res portugueses, com reconhecimento que nos indicar), o jornal “Centro”, que o morada: CONTAMOS CONSIGO!
mesmo a nível internacional, estando
representado em colecções espalhadas por
vários pontos do Mundo.
Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições).
seu traço peculiar e a inconfundível utiliza-
ção de uma invulgar paleta de cores, criou Para tal envio: cheque vale de correio no valor de 20 euros.
uma obra que alia grande qualidade artísti-
ca a um profundo simbolismo.
De facto, o artista, para representar a Nome:
Região Centro, concebeu uma flor, com-
posta pelos seis distritos que integram esta Morada:
zona do País: Aveiro, Castelo Branco,
Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu. Localidade: Cód. Postal: Telefone:
Cada um destes distritos é representado
por um elemento (remetendo para respec- Profissão: e-mail:
tivo património histórico, arquitectónico
ou natural).
A flor, assim composta desta forma tão Desejo receber recibo na volta do correio N.º de contribuinte:
original, está a desabrochar, simbolizando
o crescente desenvolvimento desta Região Assinatura:
Centro de Portugal, tão rica de potenciali-
dades, de História, de Cultura, de patrimó-
4. 4 ENTREVISTA DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006
HÁ 70 ANOS A PRATICAR A ARTE DA TESOURA E DA NAVALHA
O homem que fez a
Ao longo de quase meio século
em que Salazar mandou
em Portugal, muitos houve
com desejo de “lhe fazer
a barba”, no significado
metafórico da expressão…
Mas, curiosamente, também
aconteceu que um rapazola
de verdes 18 anos, ido de Coimbra
para Santa Comba Dão,
fez mesmo a barba ao ditador,
em sentido próprio.
José Pedro, de seu nome,
hoje com 82 anos, continua
a exercer o ofício que começou
a praticar há sete décadas.
Uma vida repleta de histórias
e uma história repleta de vidas,
em conversa informal
com o “Centro”, que a seguir
se partilha com o Leitor. pode dizer que tenha sido cliente de luxo instinto e experiência feita) do proprietário- Sofia velha e o Presidente do Conselho era
(mas a desforra haveria de chegar logo 6 executivo da barbearia. José Pedro recorda: do concelho – mais exactamente do Vi-
Jorge Castilho anos depois, como adiante se lerá). O elei- “O senhor António Ribas foi o meu gran- mieiro, como José Pedro depressa saberia).
to (melhor seria dizer a vítima…) para a de mestre. Com ele aprendi não só a cortar E lá foi o rapaz, com parca bagagem e
José Marques Pedro nasceu em Coimbra, estreia do aprendiz foi o “Júlio Maluco” - cabelos e fazer barbas, mas sobretudo a ter sem outras armas que não o grande desejo
na freguesia de Santa Cruz, a 18 de Abril de um daqueles pobres dementes que em boas maneiras, a atender bem os clientes”. de vida melhor, mesmo no fio da navalha
1924. Os tempos eram outros, bem diferen- todas as épocas se encontram a vaguear por Este manual prático que lhe arribava do um pouco romba.
tes dos de hoje. Para a maior parte da miu- todas as ruas de todas as cidades. exemplo patronal foi rapidamente interiori- Para sua surpresa, o patrão barbeiro era
dagem o infantário era a rua aberta e a José Pedro não revela se o cliente ficou zado, pois José Pedro já nessa altura deve- também carcereiro da prisão local. E
infância um percurso que se fechava prema- satisfeito, mas presume-se que o penteado ria ser de natural gentileza (coisa que nele enquanto o patrão guardava os presos na
turamente. Salvo para escassos privilegia- que executou não destoaria do perfil dessa se adivinha inata e se manteve pela vida cadeia, José Pedro ia guardando os clientes
dos, o trabalho substituía a brincadeira com primeira cabeça em que lançou tesoura… fora, sem precisão de grandes aprimora- que prendia com o seu fino trato e suaves
pressa em demasia. mentos). tesouradas.
Assim foi com o José Pedro. Tinha apenas Sentindo-se já apto para mais alto voar, De tal modo conquistou a confiança da
12 anos quando o Avô entendeu que chegara voltou à Baixa, à Barbearia Ruas, na Rua da clientela, que lhe chegou do alto, inespera-
APRENDER O CORTE
a altura do gaiato ir fazer pela vida. Já tinha Sofia. Mas por pouco tempo. da e surpreendente, a desforra do “Júlio
E AS BOAS MANEIRAS
um neto barbeiro e com outro no ofício Depois de dois anos na Rua da Sofia, Maluco”. Só teve pena que o não vissem
poderia vir a arriscar-se um estabelecimento sabiamente o barbeirote decidiu evoluir e agora, tocando a mais imponente e quase
familiar. Mas primeiro era preciso que o rapaz foi para estabelecimento na Rua das Pa- omnipotente cabeça do País. Ali, às suas
DITADOR CLIENTE
aprendesse a manejar a tesoura e a navalha. deiras. Mas esta revelou-se demasiado mãos, sentado, estava Salazar. Esse mesmo,
DE BARBEIRO-CARCEREIRO
E foi por mor desta anciã decisão que o estreita para as suas ambições, já que logo A meio de uma bela manhã, tinha ele já António de Oliveira Salazar, com as botas
franganote de franzina dúzia se viu forçado decidiu subir até zona mais desafogada: o 18 experientes anos (meia dúzia de tesou- que lhe valeram alcunha a espreitar para lá
a entrar na Barbearia Ribeiro, na Rua da Calhabé, para barbearia mesmo ao lado da ras, pentes e navalhas), um cliente desafiou- do pano alvo com que, quase a medo,
Sofia, para que lhe ensinassem a arte. linha férrea. Essa passagem de nível foi o a ir até Santa Comba Dão – o que não era envolveu os ombros ditatoriais. É certo que
O miúdo pareceu jeitoso, pois poucos decisiva para o futuro profissional de José coisa pouca para a época (estava-se em não teve direito a aparar-lhe o cabelo acer-
dias depois já era posto à prova. Não se Pedro. Ali carrilou graças à pedagogia (de 1942, o Estado era Novo, a barbearia da tadinho…
No meio da equipa da Barbearia Santa Cruz Há alguns anos, na sua barbearia
5. DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006 ENTREVISTA 5
barba a Salazar
– Com 82 anos continua em actividade
Mas, em contrapartida, fez-lhe a barba! Ao longo dos 70 anos que leva de activi-
Já nessa altura, quantos não aspirariam a dade profissional, depois das lições do sr.
estar naquela dominante posição para dei- Ribas só voltou a ter aulas do ofício quan-
xar que a navalha fugisse, impetuosa, para do surgiu a moda do “corte francês”, lá
maus caminhos… pela década de 70. Aí foi a uma acção de
Não era o caso de José Pedro, que fez formação em Lisboa, aprendeu-lhe o jeito e
rápida sabatina das lições de mestre Ribas pôs placa a condizer no vidro do estabele-
para bem escanhoar o catedrático. cimento:
Passou no exame, com distinção! “Foi um êxito! Não tínhamos mãos a
“O Doutor Salazar foi muito simpático medir!”.
comigo. Era um homem simples, conversa- Hoje a barbearia não tem tanto movi-
dor. E deve ter ficado satisfeito com o meu mento. Já não dispõe de engraxador nem
trabalho, pois voltou lá depois com o Dr. de manicure.
Pais de Sousa, que então era Ministro do Mas está ainda viva, na casa dos 90 anos,
Interior e tinha casa lá em Santa Comba. e num Lar da Rua da Sofia, a espanhola
Também lhe fiz a barba várias vezes!” – diz, Maruca, que tratou das mãos a tantos clien-
com compreensível orgulho, José Pedro. tes, enquanto ouvinte atenta e paciente de
desabafos vários, confidente involuntária
Corte francês foi um êxito
à Barbearia Santa Cruz, mesmo ao lado da que sempre tinha uma palavra de estímulo
Igreja homónima. com o característico sotaque da sua terra.
NO DIA DA ESPIGA
“Um belo estabelecimento, com sete cadei-
ARRANJOU RAPARIGA
A verdade é que José Pedro depressa se ras e muita freguesia” – lembra José Pedro.
convenceu que não era com a episódica E se é certo que os Reis repousavam
NEM A DOENÇA O IMPEDE
honraria salazarista que ganhava o futuro. mesmo ali ao lado, por mais que ele se can-
DE ATENDER OS CLIENTES
Santa Comba Dão fora apenas mais um sasse a trabalhar não conseguia encher os Quanto ao sr. José Pedro, leva já 82 anos
passo, mas era pouca terra para descarrilar. bolsos: dois cortes de cabelo davam cinco de vencida. Podia – e merecia! – reformar-se.
E tinha saudades de Coimbra. mil reis (25 tostões por cabeça), a barba Mas não quer, por causa dos clientes fiéis,
Por isso voltou à cidade universitária, já custava 5 tostões. Coisa pouca, mesmo para que mais do que isso se tornaram amigos.
“doutorado” em ciências capilares e técni- a época. Ainda há escassos dias foi submetido a
cas barbeirísticas. Por isso se abalançou a mais uma aven- uma intervenção cirúrgica (uma hérnia que
Regressado às margens do Mondego, tura: concretizar o sonho do Avô e abrir a o incomodava há vários anos), e já está de
empregou-se na Rua Corpo de Deus, na bar- sua própria barbearia. volta a atender os que se habituaram à sua
bearia do Zé d’Almeida, ensaiador da divinal Achou que o Terreiro da Erva, apesar de voz calma e macia como a tesoura com que
arte de Talma na FNAT – Fundação Nacional ser local de não muito beleza, era sítio onde afaga os cabelos, quase a pedir-lhes perdão
para a Alegria no Trabalho, hoje INATEL (na os potenciais clientes estacionavam os car- por ter de os cortar.
época nem os tempos eram livres…). ros. Encontrou uma casa que lhe pareceu Não sei quantos o terão ido ver ao
Tinha o destino traçado: adequada, desafiou um colega, o sr. Alcides Hospital. Mas sei que ele, ao longo dos
“Numa Quinta-Feira da Ascensão fui até (com quem mantém sociedade até hoje). Só tempos, sempre tem ido visitar os seus cli-
Coselhas, à apanha da espiga. E o que lá faltava arranjar dinheiro para compor a entes internados, para lhes fazer a barba ou
apanhei foi esta rapariga” – diz, com os casa e comprar bom equipamento. cortar o cabelo.
olhos a apontarem ternura para a Rosa que “Fui ao Banco Lisboa & Açores pedir E quando estes lhe perguntam quanto
lhe perfuma a existência há 57 anos que um empréstimo, mas o gerente recusou, devem, ele responde, invariavelmente:
levam de casados. dizendo que o banco não estava interessa- “Nada! Vim cá ver o amigo, não o cliente!”.
E a sr.ª D. Rosa Cardoso de Almeida, sor- do em ficar com uma barbearia – isto é, Estes gestos de generosidade e nobreza
ridente, chega-se à conversa. Lembra que tra- insinuando que eu não ia conseguir pagar. são hoje coisa rara.
balhava então na fábrica de camisas do sr. Vim-me embora revoltado, e desabafei o (Curiosamente, mesmo ali ao lado da bar-
Alvoeiro, e pagavam-lhe à peça. Quanto mais caso enquanto fazia a barba a um cliente, o bearia há outro que se lhe assemelha em ter-
cosia, mais ganhava. Naquela quinta-feira sr. Girão, que tinha uns talhos no Mercado. mos de amizade fraterna, que também é José,
ganhou um namorado, quando só esperava E ele logo me disse para ir a outro banco, e que toda a cidade conhece por Zé Reis. O
trazer espigas e papoilas. Casaram, D. Rosa que ficaria como fiador. Assim fiz, conse- Terreiro, como se pode ver, tem carros em
comprou uma máquina de costura e conti- gui o empréstimo no Banco Nacional vez de erva, mas também gente invulgar).
nuou, em casa, a alinhavar camisas para o sr. Ultramarino e quando já tinha pago todas Por tudo quanto atrás tentei dizer, mais
Alvoeiro (e assim ganhava mais do que os 5 as ‘letras’ voltei ao Lisboa & Açores só para do que cliente do sr. José Pedro desde a
tostões por semana que lhe pagavam antes, as mostrar ao tal gerente que me recusara o minha meninice, congratulo-me por ser um
como ajudante de costura). Desta Rosa sem dinheiro!”. dos seus muitos amigos.
espinhos desfolhou o sr. José Pedro dois fil- Mas não foi essa circunstância que moti-
hos, pétalas que até hoje lhe amaciam a exis- vou este texto e estas imagens.
tência, como confessam ambos ao mostrar, Mesmo que o não conhecesse tão de
QUANDO O “CORTE FRANCÊS”
embevecidos, as fotografias onde se vêem perto, acharia que a sua vida é um exemplo
ERA A GRANDE MODA
também quatro netos já adultos, mas que A barbearia abriu no dia 28 de Maio de de profissionalismo, de dedicação ao ofício
continuam a receber semanada que o Avô 1965, 29 anos depois do sr. José Pedro ter que pratica há 70 anos e, sobretudo, de
faz questão de lhes enviar, mesmo insistindo cortado o cabelo ao “Júlio Maluco”. De saber estar e fazer, sem artifícios.
eles que dela não precisem. então para cá, pelo Terreiro da Erva têm Por isso esta singela homenagem, que
passado clientes ilustres (que seria cansati- certamente será partilhada pelos Leitores.
vo enumerar, mas cujos nomes ele vai des- Oxalá mais alguém se lembre, como
fiando) e outros que, mesmo não o sendo, seria de justiça, que o senhor José Pedro é,
DE SANTA CRUZ
têm tratamento semelhante: simpático, não só talvez o mais veterano barbeiro do
PARA O TERREIRO DA ERVA
Como em Corpo de Deus não havia delicado, acolhedor e com a preocupação País, mas também um homem de que
milagres, José Pedro veio em romagem até de satisfazer o gosto de cada um deles. Coimbra deve orgulhar-se. Três imagens de outras tantas épocas
6. 6 OPINIÃO DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006
dos Unidos, 65,7% na China (!) e 74,8% no cinhas), a catadupa de legislação escolar em que deu-nos tudo. Só não nos deu governantes.
Japão. Portugal tem investido muitos dos seus têm de se especializar, as alterações muitas vezes De facto, julgo que não há ninguém, portu-
recursos na I&D que se realiza nas Univer- absurdas das orientações científicas caídas do guês ou chinês, que não se encante com aquele
sidades e em algumas outras instituições do parnaso ministerial. Muitas vezes, aliás, por país, com aquele povo.
Estado, ao contrário da generalidade dos países culpa do Ministério (que vive a desconfiar dos Paquete de Oliveira
desenvolvidos, em que os Governos apoiam professores) eles não têm meios para reagir nem JN 05/10/06
mais as empresas para investigarem e inovarem. à indisciplina, nem ao insucesso escolar, nem às
itações
Muito tem de ser feito para que Portugal se salas frias de escolas públicas onde falta gás para DIMENSÃO EUROPEIA
torne mais competitivo através da inovação, aquecimento, nem aos manuais escolares de Os jovens europeus devem ser levados a
desde a valorização dos métodos de aprendiza- qualidade confrangedora que o ministério auto- compreender que pertencem a um complexo
gem da criatividade em todos os níveis de ensi- riza a circular, nem aos - repito - génios certa- civilizacional comum, do qual decorre a diversi-
no, até ao desenvolvimento de uma cultura de mente carregados de talento que, depois de dade das culturas e das identidades nacionais e
responsabilização das nossas crianças e dos nos- requisitados às escolas, se ocupam de reformar uma especial projecção da Europa no mundo.
sos jovens, que lhes permita valorizar perma- periodicamente os programas e a gramática das Mas não basta a compreensão, com toda a
nentemente a sua capacidade de construção de suas directivas. Se alguém se ocupar, durante informação que tem de estar-lhe subjacente. O
um futuro melhor para si e para os outros. alguns dias, a analisar grande parte dos docu- ideal seria promover as condições de uma inte-
Luís Portela mentos de natureza pedagógica e ideológica que riorização desse sentimento de pertença...
JN 11/10/06 emanam do ministério da educação acerca de Alguns elementos dessa dimensão europeia
REGIONALISMOS coisas tão díspares como matemática, portu-
“O Governo, através do primeiro-ministro, saltam à vista: a História, a geografia humana e a
José Sócrates, e do ministro da Ciência e do En- “PELAS BARBAS guês ou disciplina na sala de aula, fica com a geografia física, a herança cultural e artística, nas
impressão de que um grupo de esquizofrénicos
sino Superior, vem ligar a assinatura do protoco- DO PROFETA!” se entretém a punir professores e alunos com
suas vertentes materiais e imateriais, as línguas
lo com o MIT (assachusetts Institute Of Te- Que Bento XVI ande a tentar deitar água na europeias. Os elementos nacionais ligados a
uma gramática desconhecida e absurda. Este é esses aspectos têm muitas vezes prolongamen-
chnology) ao lançamento da primeira pedra para fervura do extremismo islâmico ainda aceito apenas um exemplo, mas haveria muitos. Leiam
a grande reforma da Universidade portuguesa. A que seja um acto diplomático, pois o Papa é tos e parentescos, osmoses, variações morfológi-
os materiais de apoio e rejubilem. cas e semânticas, bem como inevitáveis antago-
expressão é minha, mas o sentido simbólico de chefe de um Estado, por minúsculo que seja. Francisco José Viegas
todo o cerimonial de ontem no Centro Cultural Que a Ópera de Berlim retire Mozart do car- nismos e conflitualidades de que a História dá
JN 09/10/06 abundante testemunho, decorrentes das relações
de Belém e dos discursos no acto é esse. So- taz... – só se considerar que se tratou de uma me-
bretudo foi clara essa mensagem na intervenção dida preventiva tão idiota como as da segurança de vizinhança nas suas múltiplas vertentes e, por
de Mariano Gago no Fórum da TSF. dos aeroportos, onde nos apreendem corta- NAS CALMAS aí, organizam-se desde logo em manchas que
Trata-se, efectivamente, de um momento unhas, pastas de Colgate e garrafinhas de água. Num tranquilo regresso à República, depois transcendem as fronteiras de cada país.
importante e de um acordo de enorme signifi- Mas o que sucedeu em Valência (Espanha) já de todos estes acontecimentos monárquicos em Hoje, superados muitos desses antagonis-
cado para a internacionalização da investigação passa das marcas. Duas aldeias cortaram do que a vizinha espanhola é useira e nós apenas mos por uma integração pacífica, evolutiva, e
produzida em Portugal. Mas se a reforma da programa dos festejos a destruição de giganto- viseira. Quem quer ser ibérico, como presunto? bem sucedida em muitos aspectos, a questão da
Universidade portuguesa começa aqui, ou é nes representando Maomé, pois, alegaram, quot;tal Em vida, claro, que para infelicidade já basta a dimensão europeia nos conteúdos escolares
posta em causa aqui, é o que se vai ver. como agora estão os ânimos, convém andar dos hermanos que naufragaram aqui mesmo ganha um novo relevo, a despeito do princípio
Está fora de dúvida ou de qualquer suspeita com pés de lãquot;. Nunca ninguém ouviu falar de em frente, despedaçados contra os rochedos de da subsidiariedade, cuja aplicação leva a que as
a categoria mundial e global do MIT. Importa, tais aldeias, o que não impede os seus habitan- Ulisses que ao longo dos anos já ceifaram umas matérias relativas aos programas de educação
porém, ter em conta que o MIT não é uma uni- tes de recear ser incluídos no mapa da vingança muitas vidas; ao lado, o porto de Leixões. sejam da competência dos Estados membros.
versidade, nem é um instituto público, é um ins- fundamentalista. Verifico que, tal como a gripe Diz que é um dos mais caros da Europa e A verdade é que inúmeros programas, pro-
tituto privado. Porém, está classificado entre os das aves nasceu no Extremo Oriente mas se vai por isso os barcos fundeiam ao largo para pou- cessos e actividades (Sócrates, Erasmus, Come-
dez melhores do mundo. Tudo o que se passou, aproximando cada vez mais da Europa, lançan- par no estacionamento; por isso também, a nius, aprendizagem ao longo da vida, Bolonha,
no terreno político, e no campo universitário, do-a no pânico, também a paranóia da retalia- ponte móvel que nos separa da lota de etc., etc.) vão fazendo avançar as coisas no senti-
para se chegar à assinatura do acordo, pôs a nu, ção muçulmana se vai aproximando cada vez Matosinhos abre e fecha aleatoriamente, quan- do de se ultrapassar gradual e quase insensivel-
os sintomas de autofagia com que se debate a mais do extremo ocidental europeu. Portugal do menos se espera e menos convém é uma mente essa limitação. E já há mesmo casos con-
Universidade portuguesa. A turbulência existen- talvez não faça mal em seguir o exemplo espa- ponte divertida, atravessada por peões, bicicletas cretos em que, bilateralmente, se vai na mesma
te entre as diversas e muitas universidades do nhol. Pelo sim, pelo não, tomemos algumas pre- e mesmo carroças. direcção. Por exemplo, o manual de História
universo lusitano foi grande. cauções. Dantes, no liceu, líamos quot;Os Lusíadasquot; Rui Reininho Moderna Franco-Alemã, preparado por um
Cada universidade portuguesa está montada expurgados do canto IX, pois aquelas indecên- JN 07/10/06 grupo de especialistas dos dois países, há poucos
sobre o seu próprio umbigo. Para cada um dos cias na Ilha dos Amores não podiam chegar aos meses neles adoptado oficialmente para o ensi-
seus agentes a melhor instituição é sempre a sua. olhos pudicos dos meninos e das meninas da RÉ PÚBLICA no secundário e que representa um passo muito
As outras são sempre menores na particular hie- Mocidade Portuguesa. Agora, censuremos, por Se tivesse que usar um rótulo ideológico na importante nesse sentido (ocorre-me, de resto,
rarquia gradual dos rankings. Fora da universi- exemplo, o canto I, onde Camões não hesitou cabeça, escrevia quot;Libertário já idoso, nacionalis- que há décadas existe uma comissão com objec-
dade, na lógica conceptual da universidade por- em escrever este horror quot;a malina gente que ta-revolucionário, católico...e republicanoquot;. tivos semelhantes para uma História Luso--
tuguesa, não existe academia. Fora da universi- segue o torpe Mahamedequot;. Também será con- Sou republicano, muito mais por convicção Espanhola, que não me consta tenha já chegado
dade não há instituto que se preze, investigação veniente retirar do dicionário e proibir o uso de do que por tradição. Na minha família, nunca a quaisquer resultados concretos).
que preste. Mesmo no caso daqueles que lhes termos agressivos como quot;mata-mourosquot;, quot;tra- houve um casus belli a esse respeito. A república Vasco Graça Moura
trazem nome, prestígio. Os politécnicos são os balhar como um mouroquot; e -- sobretudo este! - ficou assim na minha cabeça, não por um princí- DN 11/10/06
polichinelos do sistema. Foi esta matriz centrí- quot;anda mouro na costaquot;. E banir expressões pio de infalibilidade paterna, ou de imposição tri-
peda da universidade que fez crescer como vagamente literárias, como quot;perro de Mafoma!quot; bal, mas pela certeza (tanto quanto há certeza em A MADEIRA
cogumelos tantas outras unidades fora do siste- ou quot;Pelas barbas do Profeta!quot;. política) de que é, apesar de tudo, o melhor regi- ESTÁ FORA DA LEI?
ma. Hoje, é difícil a racionalização de um parque Sérgio de Andrade me. O melhor regime, em modo comparativo, e A impunidade chegou a um ponto tal que a
tão prolífero e desajustado que se está a esvair a JN 10/10/06 o melhor regime, por virtudes próprias. Se a nomenclatura madeirense não se preocupa se-
si próprio. Ninguém quer juntar-se a ninguém, Cidade-Estado é coisa de uma comunidade, deve quer em esconder-se atrás de qualquer manto
porque estamos num campo em que há os da SOBRE A MÁ FAMA ser esta a pronunciar-se sobre os seus rumos, no diáfano, antes se compraz numa exibição osten-
tribo e os gentios. Não admira, por isso, que DOS PROFESSORES respeito por legados, e no cuidado de não danifi- sivamente hardcore e à luz do dia. Basta seguir as
tenha sido tão difícil chegar a um entendimento Há duas realidades essenciais ligadas aos pro- car sonhos futuros. As repúblicas menos doentes pistas deixadas pelos sucessivos mas inconse-
entre tantas instituições. Subsistia a ideia quot;ou só blemas do ensino em Portugal em primeiro lugar, fazem isso melhor do que as monarquias mais quentes relatórios do Tribunal de Contas, verifi-
nós, ou nenhumquot;. Ironicamente conseguir um a ministra da educação tem razão na absoluta mai- saudáveis. Por outro lado, há, no mérito de cada car as situações sistemáticas de concursos públi-
acordo destes é quase um contra naturam . Faço oria das medidas adoptada (contesto fortemente modelo, uma diferença importante de orientação, cos feitos à medida dos protegidos do poder,
votos para que a quot;primeira pedraquot; não seja mais o papel despropositado concedido aos pais e e preocupação. Na sua forma depurada, a constatar como políticos-empresários votam e
um calhau a decompor a articulação na gestão encarregados de educação na avaliação dos pro- República é o domínio da quot;coisa públicaquot;, dos aprovam disposições em seu próprio benefício,
de projecto(s) comum (uns) por onde tem de fessores, que terá consequências muito perigosas interesses comuns, da utilidade geral, sobre as pai- em especial quando estão em jogo os interesses
passar a revolução da Universidade”. na estabilidade das escolas); em segundo lugar, se xões privadas, os egoísmos dos clãs e a visão do poderoso lóbi do betão que tem massacrado
Paquete de Oliveira há culpas a atribuir pelo estado calamitoso de que umbilical das linhagens de sangue. A Monarquia, literalmente a paisagem madeirense. A Madeira é
JN 12/10/06 se revestem alguns aspectos do ensino em também em abstracto, coloca o acento tónico no uma vistosa vitrina dos meandros da corrupção
Portugal, elas cabem – por maioria – aos técnicos princípio do poder conduzido, desconfiando de à portuguesa, a tal que nos acostumámos a ver
CONHECIMENTO E VALOR do próprio ministério e à burocracia quot;pedagógica algo mais do que a solidão do trono, no momen- com maior nitidez no universo do futebol, do
Em Lisboa, em 2000, a Europa decidiu e ideológicaquot; que se instala periodicamente na to da decisão última. poder local e das lavagens de dinheiro e financia-
apostar no conhecimento e na inovação, para se Avenida 5 de Outubro (sindicatos incluídos). Nuno Rogeiro mentos partidários por baixo da mesa. Aliás, é
tornar mais competitiva, face aos desafios da Neste complexo, os professores - os que JN 06/10/06 simplesmente inexplicável - ou talvez não... -
globalização. Segundo o Eurostat, em 2004 a estão instalados no terreno - são o elo mais como é que, até hoje, nunca houve uma efectiva
Europa investiu em Investigação e Desenvolvi- fraco de uma cadeia de comando em que, fre- BRASIL curiosidade judicial pelo funcionamento dessa
mento 1,9% do PIB, muito longe dos 3% colo- quentemente, têm sido cobaias de vários génios, Cheio de pobres, o Brasil é um dos países gigantesca máquina patrimonial do poder jardi-
cados como objectivo para 2010. Os Estados certamente talentosos, que, à distância, quot;imagi- mais ricos do Mundo. E dizem os estudos de nista que é a Fundação Social Democrata. Quem
Unidos investiram nesse ano 2,6% e o Japão namquot; o ensino em Portugal. Quando falo no prospectiva que tem condições para vir a ser financia e como é financiada essa Fundação, cujas
3,2%! A própria China já está a investir 1,3%. quot;terrenoquot;, quero dizer quot;as escolasquot;, quero dizer uma das grandes potências na economia global. proporções superam, de longe, as das suas outras
E, ainda em 2004, Portugal investiu apenas os problemas de indisciplina com que têm de Quando se visita o Brasil, é comum ouvir-se congéneres nacionais, e que, no entanto, funcio-
0,8%, sendo que a percentagem do sector em- lidar permanentemente, os contactos com os aos taxistas Temos tudo. Uma mãe natureza na sem qualquer escrutínio público?
presarial nesse investimento foi de 31,7%, con- pais, a realidade fatal das agressões nos corredo- riquíssima. Mulheres lindíssimas. Samba. Pe- Vicente Jorge Silva
tra 53,7% na Europa dos 25, 63,7% nos Esta- res e nos gabinetes (por alunos e pais das crian- tróleo. Aviões. Energia. Um povo único. Deus DN 11/10/06
7. DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006 REPORTAGEM 7
Acidente aéreo na primeira pessoa
espera de cerca de uma hora a mais do que estava casa? O medo era muito, mas a ansiedade de
previsto. Na altura, não soube o motivo do atraso, regressar a casa era maior.
nem houve qualquer explicação. Afinal, já estáva- A pressão a que ficámos sujeitos foi tão grande,
mos em propriedade chinesa, num avião da China que, muito mais tarde, os médicos disseram que
Airlines, mais concretamente, Mandarim Airlines. sofremos de stresse pós-traumático, idêntico ao
E, aqui, a cultura e a organização é bem diferente da stresse de guerra. Estávamos e estamos condena-
nossa. dos a sofrer dum drama que afecta, e de que manei-
A viagem lá seguiu, duma forma normal, apesar ra, muitos milhares de pessoas.
José Soares do mau tempo existente na zona. A chegada ao A viagem de regresso foi, para o grupo de 77
jose.soares@mail.pt aeroporto internacional de Hong Kong adivinhava- sobreviventes portugueses, uma mistura de medo,
se difícil, dada a turbulência que o avião sofria, à ansiedade e alegria. Era um turbilhão de emoções,
Desafiado pelo Director do CENTRO, o meu medida que nos aproximávamos do aeroporto. difíceis de gerir.
amigo Jorge Castilho, a relatar a situação anormal Como sempre fazia, tentava filmar a aterragem. não tínhamos aterrado no mar. Um bombeiro Depois de regressar a Lisboa, já fiz várias via-
porque passei, sobreviver à queda de um avião, A turbulência era cada vez maior. Durante muito segurava a criança que eu tinha ajudado a sair dos gens de avião, mas sempre com alguma/muita pre-
acedi com gosto, embora depois de muito pensar. tempo, só se viam nuvens. De repente, aparecem as destroços e já não o larguei mais. Apesar de serem ocupação. Já nada será como dantes. Outros,
É sempre doloroso expor a minha história publica- luzes do aeroporto. Com uma rapidez impressio- só 18 horas, estava de noite e não se via nada. O porém, nunca mais conseguiram viajar. Há quem
mente, com tanto detalhe, relembrando o horror nante, estávamos quase a aterrar e a alta velocidade. sangue, as dores, a cegueira, o traumatismo crania- pense que têm de deixar passar alguns anos, para
porque passei. Para o Jornal, espero que seja um A descida foi tão rápida que o trem de aterragem no, os cheiros e os ventos na casa dos 150/180 voltarem a viajar. O tempo irá ajudar. Puro engano!
documento histórico; dos leitores, espero simples- traseiro parte, a asa direita bate no chão, incendian- km/h, é tudo muito coisa para um homem só. O medo é igual, quer viajem agora ou daqui a
mente que leiam até ao fim. do-se, e o avião descontrola-se acabando mesmo Embora não seja dos que desistem, não estava a ser cinco/dez anos. Se perdermos um ente querido, o
Após sete maravilhosos dias na Tailândia, está por capotar. Exactamente. Capotou, tal e qual um fácil lidar com a situação. Afinal, estávamos no meio tempo vai ajudar a sarar a saudade e o sofrimento.
na altura de prosseguir a viagem até Macau. automóvel. do Tufão “Sam”. Afinal, esse familiar ou amigo nunca mais vai mor-
Estamos a 22 de Agosto de 1999. Levanto-me Tudo se descontrola. O avião, a tripulação e os Ao chegar à ambulância que já estava na pista, rer. Na viagem de avião, não! A possibilidade de se
cedo, de modo a ter tempo de preparar tudo com passageiros. Os que iam a dormir, rapidamente tento arranjar um telemóvel para ligar para casa, repetir o acidente, por muito remota que possa ser
calma. Como líder do grupo, tento acautelar a via- acordam. O pânico apodera-se da maioria dos pas- dado ter feito a viagem sozinho, em termos familia- (em termos estatísticos, e só nesses), estará agora e
gem das 119 pessoas. Destas, 41 vão directamente sageiros. Pessoalmente, tenho a ideia que aterrámos res. Embora não tivesse nenhuma informação, a sempre presente.
para Macau; as outras 78, esperava-as um dia que no mar, dado ter ficado com a cabeça debaixo de situação era demasiado grave e seria notícia interna- É nestas alturas que sabemos quem está ou não
nunca mais irão esquecer, dado que foram para o água, depois de ter sido cuspido. Nos segundos cional. Tinha que avisar a família. Assim o fiz, falan- connosco. Institucionalmente, fui contactado pelo
aeroporto Chek Lap Kok de Hong Kong, no fatí- imediatos à paragem do avião, parece que só tenho do com a minha filha, de modo a que avisasse o assessor do presidente Câmara Municipal de Coim-
dico voo 642, da China Airlines. Embarcariam num uma de duas alternativas: ou morro afogado ou resto da família, para não se preocuparem. A minha bra, a transmitir-me a solidariedade daquele órgão
avião McDonnell Douglas MD-11, com 315 passa- morro queimado. A morte, qualquer que ela fosse, frieza e autocontrolo voltaram, e pedi-lhe para me autárquico. Com o mesmo objectivo, também fui
geiros. estava terrivelmente garantida. Apesar de tudo, guardar tudo o que viesse na Imprensa (televisão e contacto, entre muitos outros, por duas pessoas que
O tempo está a piorar e sabe-se que naquela mantenho-me incrivelmente calmo. Impressionan- jornais) durante uma semana, porque poderia vir a exerciam cargos institucionais: Dr. Fausto Correia
época há sempre monções na região. Mas ninguém temente calmo. precisar mais tarde dessas informações, o que veio (Secretário de Estado) e Prof. José Humberto Paiva
pensa no pior, nem existe nenhuma informação Dentro do avião ouvem-se gritos por tudo a acontecer para o longo processo judicial. de Carvalho (Director dos HUC). Refira-se, no
para cuidados especiais. Passo parte do dia no hotel, quanto é sítio, apesar de algumas zonas estarem Finalmente, chego ao Hospital Princesa Mar- entanto, que estes contactos foram feitos exclusiva-
a aguardar a hora da viagem de avião que me leva- mais calmas. Lá fora, os bombeiros começam a aju- garida. Fiz a primeira intervenção cirúrgica na testa. mente a título particular, dada a ligação de amizade
rá, a mim e a mais 77 portugueses, até ao aeropor- dar as pessoas a sair. Com o avião a arder, o medo Só depois é que me fizeram uma TAC. Dado o que tenho com ambos. Quem o deveria fazer a títu-
to internacional de Hong Kong. de explosão apodera-se de todos. Cego de um dos meu traumatismo craniano, fui internado na lo oficial e não fez, devia ser o Dr. José Lello, na altu-
Aproveito o tempo livre para escrever um pos- olhos por causa do acidente e com um grande corte Neurocirurgia. Estranhamente, não me deixaram ra Secretário de Estado das Comunidades. Embora
tal ao DNA. Nunca mais me esqueci da frase que na testa, jorrando sangue em quantidade apreciável, tirar a roupa durante dois dias. Nunca percebi por- o grupo não lhe perdoe, temos que ser compreen-
escrevi nesse postal: “É com vontade de ficar, que ainda vi um casal asiático com uma criança, presos quê. Trataram-me e meteram-me numa cama de sivos. Afinal também ele passava um grande mo-
vou partir.” Que verdade esta frase encerra em si às bagagens, bancos e destroços difíceis de descre- hospital, com a roupa encharcada do acidente. mento de ansiedade, com o risco de poder vir a não
própria. Mal sabia do que me esperava. ver. Ajudo-os a sair dali, não sabendo muito bem Os momentos seguintes ainda eram muito ser eleito deputado. Por isso, qualquer pessoa enten-
Embora não acredite muito em coisas do desti- para quê, dado que morte estava bem presente e angustiantes. Mudava para outro tipo de preo- de (só os sobreviventes é que não), que entre espe-
no, a verdade é que esta viagem parecia predestina- garantida para todos. De facto, não é herói quem cupações. Como é que estaria a minha família, rar no aeroporto os 77 portugueses sobreviventes
da. No dia da partida de Lisboa para Bangkok quer, mas sim quem está à hora certa e no sítio sabendo que eu tinha tido um acidente de ou ir com o chefe António Guterres a uma festa-
(Tailândia), não pude embarcar, porque tinha o meu certo. Perdão: na hora errada e no sítio errado. avião e não me podiam visitar? E os meus -comício do PS em Caminha, ele tenha optado pela
passaporte caducado. Ironia das ironias, fui eu a Pela primeira vez, sinto medo a sério. Vejo um companheiros de viagem? Como estariam? E festa. Afinal, a crise dos empregos estáveis não é só
confirmar se todos os outros passaportes estariam grande incêndio e um buraco no avião onde ante- saberiam eles como eu estava? Foram momen- de agora e temos de compreender estas angústias…
em ordem. Só me esqueci de conferir o meu. riormente tinha existido uma porta e tento reagir tos dramáticos. Nos três hospitais de apoio ao Desta experiência tirei um ensinamento: dou
Parecia que algo me queria dizer para não viajar. depressa. Grito por João e Antonino (amigos que acidente, entraram e saíram muitos portugues- muito mais valor à vida. Passei a valorizar o que de
As horas foram passando e aproximava-se a iam ao meu lado) e nenhum me responde. Corro es, tendo doze deles ficado internados. Depois facto interessa e desvalorizo o que não tem qual-
hora do transfer para o aeroporto. Tínhamos que para o referido buraco e atiro-me para fora do avião, de tudo o que se passou, havia uma outra gran- quer interesse e que anteriormente me preocupava.
viajar de Pattaya (para onde tínhamos ido passar 3 não sabendo muito bem para onde. Felizmente, a de barreira a ultrapassar – como é que íamos O meu lema de vida é agora o seguinte: Viver
dias) até ao aeroporto de Bangkok. Aqui, tivemos a água não tinha mais de meio metro de altura. Afinal, entrar novamente num avião, para regressar a intensamente cada dia, como se fosse o último.
Encontro de sobreviventes de acidente aéreo
Alguns dos sobreviventes do acidente aéreo ocorrido em Hong mente morreria do coração”, disse Antonino Neves ao “Centro”.
Kong em 1999, encontraram-se no passado sábado (dia 14 de Quem também marca sempre presença nestes encontros é João
Outubro), na Quinta da Lagoa, em Mira, para comemorarem mais Cunha, director-geral da “Mondego, Viagens e Turismo”, agência que
uma vez o facto de “estarem vivos”. assegurou a acidentada viagem. Também ele é um sobrevivente e con-
Nas palavras do principal organizador, José Soares, de Coimbra tinua muito ligado ao “Grupo de Sobreviventes”, com quem mantém
(autor do impressionante relato que acima publicamos), “estes encon- uma boa relação de amizade.
tros servem para nós como ‘terapia de grupo’, dado que há psiquia- Segundo apurou o “Centro”, estes encontros devem-se muito à
tras que dizem que sofremos de stress pós-traumático”. Afirmando determinação e empenhamento de José Soares e, este ano, os pre-
não ser fácil reviver a desgraça porque passaram, acrescenta que, “por sentes fizeram-lhe o público reconhecimento. Nas suas próprias
isso, alguns dos sobreviventes nunca participaram nestas reuniões, palavras, “são pessoas minhas amigas e por isso exageraram nos elo-
porque evitam falar sobre o acidente, que ainda é o tema principal dos gios. Eu também tenho uma grande estima por todos eles”.
nossos encontros”. Por outro lado, uma boa parte faz questão de Apesar dos sobreviventes evitarem falar sobre o assunto, o
nunca faltar, dado que “é a única altura do ano em que podem fazer “Centro” soube que as questões indemnizatórias que estavam pen-
a sua catarse com gente que entende, sem críticas, porque estão com dentes já foram resolvidas com a maioria das vítimas deste acidente que cada um tem uma história muito diferente de todos os outros”.
pessoas que passaram pelo mesmo”. aéreo, estando somente por solucionar o caso dos chamados “mais Foi notório o companheirismo e boa disposição de todo o grupo,
Igualmente de Coimbra é Antonino Neves, outro dos sobre- feridos do grupo”. José Soares confirmou-nos que a maioria já pelo que os seus membros manifestaram aos organizadores a vontade
viventes e também ele organizador da fatídica viagem, e destes encon- chegou a acordo com a companhia de seguros, mas ainda há um de continuarem a participar neste encontros. Estes sobreviventes vêm
tros/convívio. Ao contrário de José Soares, que continua a viajar, pequeno grupo que nada recebeu, onde ele próprio se inclui. de muitos pontos do país, dado que era uma viagem nacional. “Há
Antonino Neves não vê a hipótese de voltar a entrar num avião: “Se Como nos diz José Soares, “se pedirem a cada um para contar a pessoas que chegam a andar mais de 600 quilómetros para partici-
voltasse a viajar, podia não morrer de desastre aéreo, mas possivel- sua experiência, vai parecer que estivemos em aviões distintos, dado parem nestes convívios”, referiu José Soares ao nosso jornal.
8. 8 REPORTAGEM DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006
LICEU D. JOÃO III / ESCOLA JOSÉ FALCÃO
Convívio de antigos e actuais alu
“Pautado ou quadriculado? É a dois tostões almoço de convívio integrado no programa ma, os exames feitos em centenas das clás- palavras, aqui ficam as imagens, sobretudo
cada folha”. das comemorações dos 170 anos da criação sicas carteiras de madeira espalhadas até para que possam ser apreciadas pelos lar-
do Liceu de Coimbra e os 70 anos do edifí- pelas galerias, ou mesmo os jogos de bas- gos milhares de antigos alunos, professores
Esta a lenga-lenga que o sr. Pinheiro, cio do Liceu D. João III, actual Escola quetebol (com destaque para um Aca- e funcionários que não estiveram presentes,
contínuo do Liceu D. João III, repetiu Secundária de José Falcão. démica-Benfica, nos anos 60, que acabou mas que decerto nelas descobrirão caras
milhares de vezes ao longo de algumas A confraternização juntou largas deze- antes do tempo, com cadeiras enfiadas nos que vão identificar, assim evocando os feli-
gerações de estudantes que o procuravam nas de pessoas com idades muito diversas cestos das tabelas e cenas de pugilato que zes anos de juventude e as memórias que
para adquirir as folhas timbradas (só o pre- (desde, pelo menos, duas senhoras já na se estenderam desde o recinto do jogo até deles permanecem.
ço foi aumentando…) onde obrigatoria- casa dos 90, com invejável memória e boa às galerias).
mente se faziam os exercícios escritos das dispoição, até antigos alunos ainda na fres- Evocaram-se muitos dos carismáticos (Na próxima edição iremos aqui traçar a
diversas disciplinas. Hoje com 84 anos, mas cura dos vinte, passando por todas as gera- professores que fizeram daquele escola história notável deste estabelecimento de
ainda com boa memória, o próprio sr. Pi- ções intermédias). uma das mais prestigiadas do País, recorda- ensino)
nheiro recordou esta sua função de déca- Naquele (ainda magnífico) ginásio onde ram-se episódios de juventude, reencontra-
das, no passado sábado (dia 14), com vários se efectuou o almoço, recordaram-se não ram-se antigos colegas que se não viam há Jorge Castilho
antigos alunos que se reuniram a antigos e só as aulas de educação física, mas também dezenas de anos. (antigo aluno do Liceu Nacional D. João III,
actuais professores e funcionários para um os bailes de gala e chás dançantes da Quei- Mas, mais eloquentes do que quaisquer antigo professor da Escola Secundária José Falcão)
9. DE 18 A 31 DE OUTUBRO DE 2006 REPORTAGEM 9
nos, professores e funcionários